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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL Centro de Ciências Jurídicas Disciplina de Direito Penal Professora Gisele Mendes Aluno João Manganeli Neto Diferenças entre Tentativa e Desistência Voluntária 1. TENTATIVA Crime tentado é o crime que, tendo sido iniciada sua execução, não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do agente, nos termos do artigo 14, inciso II, do Código Penal Brasileiro, conforme se lê: Art. 14 - Diz-se o crime: [...] Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Interessa em primeiro lugar, caracterizar aquilo que se chama “inter criminis” ou o caminho do crime. Não é mais do que a progressão que na generalidade dos casos acontece e que vai desde a decisão criminosa até à prática de atos preparatórios, passando pela execução do próprio crime até culminar na consumação. É perfeitamente concebível: A pessoa adotar ou afirmar uma decisão criminosa: a pessoa pensa em cometer o crime; Depois pratica atos preparatórios: que são atos que se destinam de alguma forma a facilitar a execução do crime decidido pelo agente; Até que progride para a própria execução. E consoante o agente leve a execução até ao fim ou não, consoante se tenha uma situação de execução acabada ou de execução inacabada, poder-se-á verificar se o resultado típico desejado pelo agente se verifica ou não, isto é, se desemboca essa execução numa consumação, pelo menos formal. Com que critérios e quando é que a tentativa é punível? A regra geral é a da impunidade “nuda cogitatio” ou da decisão criminosa não exteriorizada materialmente em atuações. Significa isto que o que é objeto de responsabilização jurídico-penal não são os pensamentos, não são os sentimentos das pessoas não exteriorizados materialmente, na prática. Em primeiro lugar, porque o nosso direito penal é tendencialmente um direito penal do fato e não um direito penal do agente, o direito penal responsabiliza sim os agentes, mas precisamente porque eles praticaram fatos ilícitos tipificados na lei. Por outro lado, por uma razão de política criminal, não faria sentido punir-se a mera decisão criminosa não exteriorizada na prática material de atos, porque então se a pessoa que tivesse tão só manifestado a sua intenção de cometimento do crime fosse responsabilizada, então ela nunca se impediria ou conteria, levaria mesmo o crime para a frente. Ao passo que, se de alguma forma ela sabendo que mesmo que tenha exteriorizado essa intenção tão só por palavras não é punida, pode ainda conter-se, precisamente porque essa “nuda cogitatio” não é punida. 2. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA Desistência voluntária ocorre quando o agente começa a praticar os atos executórios do tipo penal pretendido, mas voluntariamente impede a consumação do crime ao interromper sua conduta. Destaca-se que a desistência não precisa nascer do arrependimento, exigindo- se apenas que seja voluntária, no sentido de que o agente poderia prosseguir, se quisesse. Quando o impedimento for externo, haverá tentativa de crime. Por exemplo, se "A", pretendendo matar "B", dispara, sem sucesso, alguns tiros, e desiste de continuar, estaremos diante de uma desistência voluntária. Mas, se "B" fugir ou a arma deixar de funcionar, então será uma tentativa de homicídio. Define o Código Penal brasileiro a desistência voluntária no seguinte: Desistência voluntária e arrependimento eficaz Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Define-se a desistência voluntária assim: “Cessação resultante da vontade livre do agente de prosseguir nos atos de execução da infração. Pressupõe a não consumação do ilícito penal.”1 Deve ficar claro que o instituto em estudo apenas se caracteriza quando a desistência do crime não ocorra de maneira forçada, por circunstâncias alheias a vontade do agente, pois, nesse caso, estaríamos diante de uma tentativa, punida pelo artigo 14, inciso II, do Código Penal. Destaque-se, ainda, que a lei apenas exige que a desistência seja voluntária, pouco importando se espontânea ou não. Para facilitar o entendimento, vale-se analisar a seguinte fórmula para diferenciar a desistência voluntária da tentativa. No primeiro caso, o agente pode prosseguir no crime, mas não quer. Por outro lado, na tentativa o agente quer prosseguir com seu intuito criminoso, mas não pode. 3. EXEMPLOS 3.1. EXEMPLOS DE TENTATIVA 1 In: http://jb.jusbrasil.com.br/definicoes/100008990/desistencia-voluntaria Acesso em 16/11/2013. Exemplo 1 – Tentativa frustrada de assalto Jorge, idoso, dono de seu armazém – vinculado à ala de sua casa, onde residia sozinho - há pelo menos trinta anos na vizinhança, fechou seu negócio no fim da tarde como de costume. Escutando um chamado na janela lateral, percebeu um homem que aparentava ser um potencial cliente atrasado no dia e foi atendê-lo. O homem, aqui denominado Ricardo, pediu-lhe que desejava comprar cigarros e outras miudezas, e Jorge, contente por poder lucrar um pouco mais após o expediente, atendeu ao pedido, e tão logo estava de posse da mercadoria abriu a porta para entregar e receber o pagamento. Não sabia o velho comerciante que Ricardo, a quem atendia, tinha sabido de notícias na vizinhança de que ele era um velho sovina que tinha muito dinheiro escondido na casa, e qual não foi sua surpresa quando Ricardo apresentou um revólver intimidando-o, e o levando para dentro da casa, declarando-lhe que era um assalto. Porém mesmo que Ricardo fosse um adulto forte, não contava que o velho Jorge estivesse no auge de um dono de armazém fortalecido, que o rendeu, e então telefonou à polícia. Tentou assaltar e frustrou-se com a habilidade da sua vítima em reagir.2 Exemplo 2 – Tentativa mui frustrada de furto Um homem entra sorrateiramente em um apartamento no centro de Caxias do Sul, pensando não haver moradores presentes, na intenção de furtar bens de valor. Anda pela casa escolhendo o que pretendia levar, e então depara-se com a idosa dona da residência. Não consegue concluir seu furto, pois antes de recolher os bens e retirar-se do local é surpreendido por tiros disparados pela idosa que age para se defender, e então vem a falecer. Tentou furtar como objetivo de sua invasão a domicílio e não sobreviveu à tal tentativa.3 3.2. EXEMPLO DE DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA Tício, frequentador assíduo de cultos religiosos, estava caminhando pelas ruas da pacata cidade de Guaratinguetá, Estado de São Paulo, também conhecida como terra de Frei Galvão, primeiro santo brasileiro, quando, de repente, foi abordado por um indivíduo desconhecido. Tal indivíduo, mediante grave ameaça exercida por meio do emprego de uma arma de fogo, exigiu que Tício lhe entregasse a carteira e o aparelho de telefone celular. 2 Sem bibliografia. Baseado em oitiva de caso real. Atualmente o idoso real se aposentou, logo após o caso relatado e por sugestão do delegado de Eldorado do Sul, RS, para evitar represálias de possíveis comparsas criminosos do meliante que tivessem rancor de sua atitude. 3 Baseado em caso real da idosa Odete Hoffmann que alvejou o invasor de sua residência na Rua do Guia Lopes, conforme amplas notícias. Atualmente a idosa real é falecida. http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2012/06/mulher-de-87-anos-mata-homem-a-tiros-no-centro-de-caxias-do-sul-3785649.html Diante da ameaça e temeroso por sua vida, Tício, quase que por instinto, ajoelhou-se e bradou: “Meu Deus, me proteja”. Comovido com a reação da vítima, o criminoso pediu para que ele se acalmasse e o indagou sobre a sua religião. Tício, ainda muito temeroso, respondeu que era evangélico e que costumava frequentar um determinado culto. Nesse instante, ao perceber que ambos dividiam a mesma religião, o criminoso desistiu do crime e abaixou sua arma. Na sequência, ainda sem acreditar no que estava acontecendo, Tício saiu correndo e acionou a Polícia Militar. Após breve diligência pelas imediações do bairro onde os fatos ocorreram, os policiais localizaram o suspeito e o apresentaram na Delegacia de Polícia. Já sob o comando da Autoridade de Polícia Judiciária de plantão, a vítima reconheceu o detido como sendo o mesmo indivíduo que havia lhe ameaçado com uma arma de fogo. Consigne-se, todavia, que nenhuma arma foi encontrada na posse do suspeito. 4. REFERÊNCIAS ALBERTO, Octávio Manuel Gomes. Tentativa e desistência. Artigo in: http://octalberto.no.sapo.pt/tentativa_e_desistencia.htm Acesso em 16/11/2013. BRASIL. Decreto Lei nº. 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União. Brasília, DF. 31 dez. 1940. CENTRAL JURÍDICA. Crime Tentado. Artigo in: http://www.centraljuridica.com/doutrina/159/direito_penal/crime_tentado.html Acesso em 16/11/2013. NETO, Francisco Sannini. Instituto da desistência voluntária estimula a não consumação de crimes. Artigo in: Consultor Jurídico. http://www.conjur.com.br/2013-jul-27/francisco-sannini- desistencia-voluntaria-afasta-tipicidade-crime Acesso em 16/11/2013. WIKIPÉDIA. Desistência Voluntária. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Desist%C3%AAncia_volunt%C3%A1ria Acesso em: 16/11/2013.
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