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RELAÇÃO DE TRABALHO e a Nova COMPETÊNCIA PROCESSUAL TRABALHISTA

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Relação de Trabalho e a Nova Competência Processual Trabalhista: Direito Material Aplicável
No breve estudo a que nos propusemos realizar, nesta série sobre relação de trabalho e a nova competência processual trabalhista, diversas indagações surgiram, como sói acontecer em qualquer investigação científica. Doravante, outros questionamentos apresentar-se-ão, como é natural, a partir  de construção doutrinária e jurisprudencial, que, por sinal, está apenas no início (a alteração do artigo 114, da CF, tem apenas cinco anos), de modo que há longa jornada a ser percorrida. Pois bem, de todas as questões que normalmente vêm à tona ao se debater sobre essa matéria, uma delas salta aos olhos e é motivo de grande preocupação dos juristas: a ampliação da competência da Justiça do Trabalho para conhecer, além das controvérsias oriundas do contrato de emprego, relações de trabalho, em sentido amplo, impõe, por si só, aplicação automática dos direitos empregatícios aos autônomos e demais prestadores de serviços?
Questão, inclusive, de temor no meio empresarial, porque, aparentemente, estaria surgindo mais um elemento passível de aumentar encargos custeados pelo empregador, ou seja, outro “ônus”, aumento de processos, enfim, há quem esteja em polvorosa. De fato, o temor não é sobre o suposto “aumento de processos” na Justiça do Trabalho, pois, quando seus respectivos críticos levantam essa bandeira, fazem-no, a rigor, por mero discurso, eis que a questão de fundo é exatamente a preocupação com o custo. Afinal, a parafernália toda sobre o trabalho o autônomo “veio em boa hora”, como tábua de salvação para enterrar de vez o “fardo” que é pagar direitos trabalhistas. Não se aceitará, assim tão facilmente, que o feitiço vire contra o feiticeiro. Imagina-se, portanto, que "não há de se inverter" o que, de modo subjacente, sempre se pretendeu. 
Deveras, o Direito do Trabalho sempre foi o “patinho feio" do âmbito jurídico (nada pior do que o "fogo amigo"...) e, por conseguinte, da economia (no campo das ideias, porque, na prática, é o motor do país). Especialmente em razão de determinadas políticas estatais, sempre foi relegado, junto com a própria Justiça do Trabalho, a segundo plano. Não se cogita, essa que é a verdade, de garantias sociais aos prestadores de serviços que estejam fora da seara empregatícia. Até mesmo trabalhadores desta última correm o risco de não ter, daqui em diante, garantidos os direitos trabalhistas clássicos. De todo modo, a tal preocupação não tem fundamento, o menor sentido. Chega a ser surreal, mas, espelha bem o modo preconceituoso com que o Direito do Trabalho é visto no Brasil(1). Absolutamente, ao menos sob o ponto de vista empresarial, não há o que temer. Afirmamos categoricamente: não, a ampliação da competência trabalhista para conhecer de controvérsias oriundas das relações de trabalho, em sentido amplo, não impõe, por si só, aplicação automática dos direitos empregatícios aos autônomos e demais prestadores de serviços. E essa ponderação, ressalte-se, é puramente jurídica. Expliquemos:
Como se sabe, competência processual “é a medida da jurisdição”, esta que, em simples palavras, confere legitimidade ao juiz para conhecer e julgar demandas a seu cargo, conforme delimita a lei (sentido amplo). A competência em razão da matéria (“ratione materiae”), a que nos interessa, por ora, advém, como o próprio nome já diz, da matéria relacionada ao ato jurídico praticado. A competência processual nada mais é do que “especialização” do juiz para conhecer de determinadas ações, conforme lhe outorga o ordenamento jurídico.
A rigor, as regras de competência são muito mais calcadas em políticas legislativas (ou “outras políticas”) do que, propriamente, baseadas na Ciência Jurídica, como já dizia o mestre processualista Moacyr Amaral Santos. A história já o provou inúmeras vezes; foi o caso, por exemplo, das lides oriundas dos acidentes e doenças do trabalho, que, por razões "inexplicáveis", foram relegadas, por décadas, à competência da Justiça Comum Estadual.
Embora o direito material (Penal, Civil, Trabalhista, Tributário, etc.) seja o critério primordial para se criar regras de competência, não é a jurisdição, obviamente, que o determina; justamente, o contrário. O direito substantivo é causa, competência processual é consequência. Se, por exemplo, determinar o legislador que a Justiça do Trabalho terá competência para conhecer de demandas que envolvam direitos do servidor público, evidente que lhe serão aplicados respectivos Estatutos do Serviço Público e não a Consolidação das Leis do Trabalho. O mesmo ocorre com as lides oriundas da relação de trabalho, em sentido amplo. O representante comercial faz jus aos direitos previstos na Lei 4.886/65. O trabalhador autônomo comum tem direito ao previsto nos artigos 593 a 609, do Código Civil; e, assim, sucessivamente. O fato de a competência, para conhecer dessas outras relações de trabalho, ter sido remetida à Justiça do Trabalho não implica, necessariamente, na incidência do mesmo direito material para relações jurídicas diversas.  
Realmente, não há razão para se deferir direitos previstos na CLT a quem não é empregado, salvo, se a lei, expressamente, assim o determinar. A ampliação da competência da Justiça do Trabalho não atrai, em absoluto, a obrigatoriedade de se aplicar direitos típicos do empregado a qualquer outro trabalhador.
Enfim, parece-nos equivocada a ideia, que tem sido apregoada por alguns, a respeito do tema supra. É cristalino que, não sendo o trabalhador empregado, nos termos do artigo 3º, da CLT, não pode pleitear horas extras, décimo terceiro salário, férias, etc. Por outro lado, há, também, inquietação em sentido contrário, isto é, a Justiça do Trabalho, a partir dessa nova competência, poderia perder o foco, de sorte que, com o tempo, princípios norteadores da atividade dessa Justiça Especializada seriam esvaziados. Preocupação que, curiosamente, parece-nos pertinente.

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