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TRABALHO DA MULHER = Jornada de Trabalho Diferenciada e Princípio da Igualdade

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Trabalho da Mulher: Jornada de Trabalho Diferenciada e Princípio da Igualdade
Marcante a presença da mulher no mercado de trabalho brasileiro, especialmente nos dias atuais. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em janeiro de 2008 havia aproximadamente 9,4 milhões de mulheres trabalhando em seis principais regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belo Horizonte, e Porto Alegre). Não obstante, em relação ao contingente total dos trabalhadores, nas mesmas cidades, o número de desocupadas (57,7%) ainda é proporcionalmente maior do que o correspondente à população masculina (42,3%). Quanto à forma de inserção no mercado de trabalho, elas também se encontravam em situação menos favorável. Do total dos trabalhadores com carteira de trabalho assinada apenas 40% são mulheres; entre os homens a proporção ficou próxima de 50,0%. A jornada de trabalho cumprida pelas mulheres era de 40 horas semanais, em média, recebendo R$ 956,80 mensais, rendimento correspondente a 71,3% do que auferiram os homens.  
Somente no quesito escolaridade levam vantagem; aproximadamente 60,0% das mulheres ocupadas tinham, ao menos, escolaridade relativa ao ensino médio. Mesmo assim, nas diferenças entre os mais escolarizados, homens receberam maior salário. A remuneração das mulheres com curso superior era, em média, 40% inferior a dos homens. Fenômeno, aliás, mundial. Ainda este ano, nos EUA, foi sancionada lei que prevê igualdade salarial entre homens e mulheres. Lá, as mulheres recebiam 23% a menos do que os homens, trabalhadoras de minorias raciais menos ainda. Lei que recebeu o nome de “Ato de Pagamento Igual Lilly Ledbetter”, em homenagem a Lilly, trabalhadora que se rebelou contra seu empregador ao perceber que ganhava menos do que colegas do sexo masculino (consultem: Flexibilização Trabalhista: Mito Americano – I). 
No Brasil, o quadro não é animador. Mas, já foi pior. Em 1973, apenas 30% da população economicamente ativa eram do sexo feminino. A mulher sempre participou do mercado de trabalho. Tanto que a CLT, que é de 1943, tratou especificamente do trabalho das mulheres, reservando-lhes, a tanto, o Capítulo III, artigos 372 a 401. Todavia, muitos desses artigos refletiam ranço oriundo do período patriarcal, atestando o papel secundário que a elas foi imposto[1]. A Constituição Federal de 1988, porém, afastou a possibilidade de qualquer prática discriminatória: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (…)”
Na esteira do Texto Constitucional, afora a Lei 7.855/89, que havia revogado, na CLT, diversos artigos relativos à tutela do trabalho da mulher, a Lei 10.244, de 27-5-01, revogou expressamente o artigo 376, da mesma Consolidação, que previa jornada de trabalho diferenciada. Malgrado, a mesma lei, ao menos expressamente, não revogou o artigo 384, da CLT, que assim dispõe: “Art. 384 - Em caso de prorrogação do horário normal, será obrigatório um descanso de 15 (quinze) minutos no mínimo, antes do início do período extraordinário do trabalho.” O mesmo tratamento não foi dado aos homens, pelo que, conforme vem entendendo a doutrina, incompatível com o artigo 5º, I, da CF, que determina igualdade de direitos e obrigações entre mulheres e homens. 
Medidas protetivas do labor da mulher só têm sentido em relação a situações específicas: maternidade, período de gravidez, amamentação e em condições peculiares como a impossibilidade física de levantar pesos excessivos, como bem lembra Sérgio Pinto Martins[2]. No mais, inexiste razão para diferenciação. É o caso da jornada de trabalho.
O ordenamento jurídico permite diferenciações desde que não afrontem o princípio constitucional da igualdade. A condição é que exista vínculo de correlação lógica entre o elemento diferencial objetivo e a desigualdade de tratamento. Afinal, como já ensinara Aristóteles, devemos: “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais”. Celso Antônio Bandeira de Mello[3] aponta três critérios de diferenciações que não desrespeitam o princípio da isonomia: 1) fator objetivo que a justifique; 2) correlação lógica abstrata entre o discrímen e a disparidade do tratamento jurídico diversificado; 3) respeito ao sistema constitucional (consultem Cotas para contratação de portadores de deficiência e o Princípio da Igualdade). 
No caso da diferenciação entre o trabalho da mulher e o do homem, para efeitos de intervalo prévio à realização de horas extras, conforme artigo 384, da CLT, não há respeito aos três critérios jurídicos autorizadores de diferenciação. Mesmo no caso da jornada de trabalho em geral: “A duração do trabalho da mulher é igual à de qualquer outro trabalhador: oito horas diárias e 44 horas semanais, nos termos do inciso XIII do artigo 7º da Constituição. A prorrogação deverá ser de, no máximo, 12 horas e o adicional será de, no mínimo, 50% (art. 7º, XVI, da CF). Com a revogação do art. 376 da CLT, não há mais nenhum impedimento legal para a mulher não poder fazer horas extras” [4].
Aliás, mesmo no aspecto puramente formal, não teria mais razão de ser a permanência do artigo 384, da CLT, em nosso ordenamento. Nesse sentido, a lição de Alice Monteiro de Barros [5]: "Em consequência da revogação expressa do art. 376 da CLT, pela Lei n. 10.244, de junho de 2001, está também revogado, tacitamente, o art. 384 da CLT, que prevê descanso especial para a mulher, na hipótese de prorrogação de jornada, Ambos os dispositivos conflitavam, sem dúvida, com os art. 5º, I, e art. 7º, XXX, da Constituição da República."
Repise-se que, em determinadas situações, a diferenciação é importante. Novamente, a lição de Alice Monteiro de Barros (Ibidem, mesma página): “...estudos realizados no campo da fisiologia revelam que o sistema muscular da mulher é menos desenvolvido do que o do homem. Aos 20 anos, a sua força muscular corresponde, em média, a 65% da força masculina e, aos 55 anos, decresce para 54%. Ademais, abortamentos espontâneos e partos prematuros têm sido associados ao trabalho contínuo com levantamento de cargas pesadas.”
Enfim, entendemos que o artigo 384, da CLT, foi revogado tacitamente, por manifesta incompatibilidade com o Texto Constitucional, notadamente porque inexiste fator que justifique o discrímen. Além do mais, com a revogação expressa do artigo 376, da CLT, que era espinha dorsal da antiga diferenciação de jornada entre homem e mulher, não faz mais sentido a permanência do indigitado “intervalo prévio” no ordenamento jurídico.
NOTAS 
[1] O artigo 446, da CLT, por exemplo, presumia “autorizado” o labor da mulher casada. Por sua vez, o Código Civil de 1916 considerava a mulher como “incapaz” para exercer, por sua conta, determinados atos da vida civil. 
[2] Direito do Trabalho, 21ª ed., São Paulo: Atlas, 2005, p. 593. 
[3] Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. São Paulo: Ed. Malheiros – 3ª edição, 1993, p. 17 
[4] Cf. Sérgio Pinto Martins, Comentários à CLT. 10ª ed. São Paulo : Atlas, 2006, p. 314. 
[5] Curso de direito do trabalho. – 5ª ed. rev. e ampl. – São Paulo : LTr, 2009, p. 1091 
Imagem: René Magritte, “Os Amantes”. 
Leia mais: http://www.juslaboral.net/2009/09/trabalho-da-mulher-principio-da.html#ixzz28oHfr0EA 
Não autorizamos cópia integral do artigo na Internet ou qualquer outro meio © Marcos Fernandes Gonçalves

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