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Nomeação à autoria (CPC, arts. 62 a 69)

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NOMEAÇÃO À AUTORIA 
(CPC, arts. 62 a 69)
1. Introdução ao Tema 
Denomina-se nomeação à autoria o incidente pelo qual o réu indica o verdadeiro legitimado passivo da ação, a fim de sanar possível carência de ação por falta de legitimidade do réu. 
Segundo Cândido Dinamarco, “a utilidade da nomeação à autoria consiste em antecipar soluções para a questão da legitimidade passiva, mediante incidente razoavelmente simples, em que o autor, alertado, tem oportunidade de retificar  a mira da demanda proposta.” . 
2. Cabimento
A nomeação à autoria constitui-se em dever do réu, sendo duas as hipóteses de seu cabimento.
Conforme o art. 62 do CPC, o réu que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.  
Trata-se do exemplo clássico e originário do instituto, destinado a facilitar os casos em que o autor ajuizava erroneamente a demanda contra o mero detentor da coisa. Com a nomeação do sujeito legitimado a responder a ação, superava-se a provável extinção do processo sem julgamento de mérito em face da ilegitimidade passiva do demandado. 
A segunda hipótese da nomeação, prevista no art. 63 do CPC, relaciona-se com os casos em que o réu, tendo praticado o ato em virtude de uma ordem ou cumprimento de instruções, indica o terceiro responsável pela obrigação. Cita-se, como exemplo, a hipótese do empregado que age em cumprimento de ordem do patrão e comete ato de que resulte em prejuízo. 
A nomeação à autoria tem lugar tanto nas causas de cunho real (possessórias e reivindicatórias) como nas de natureza pessoal (comodato e locação, por exemplo). [2]
O instituto é vedado tanto no procedimento sumário (art. 280, I do CPC), como nas causas submetidas aos Juizados Especiais (art. 10 da Lei 9.099/95).
3.         Rito
O prazo para a nomeação à autoria é o mesmo da apresentação da resposta do réu. É formulado por petição própria nos autos, tendo em vista que o processo poderá ser suspenso (art. 64) ou ter o prazo de defesa reaberto para o nomeante (art. 67). 
O requerimento de nomeação encontra-se sujeito ao controle prévio do juiz, que pode ou não rejeitá-lo, independentemente de audiência do autor. 
Ao deferir o pedido de nomeação, o juiz suspende o processo. O autor será  ouvido no prazo de 5 dias e poderá :
a)          aceitar a nomeação - neste caso, caberá ao autor promover a citação do nomeado (art. 65, primeira parte). Registra-se a possibilidade de aceitação tácita, no caso de silêncio do autor (art. 68, I);
b)          recusar a nomeação - caso em que será reaberto o prazo do réu nomeante para a apresentação de sua defesa (art. 67).
Aceita a nomeação pelo autor, parte-se para a questão controversa relativa ao nomeado, que devidamente citado, poderá ou não aceitá-la. A sua concordância não gera grandes dúvidas: reconhecendo a qualidade que lhe é atribuída, contra ele correrá o processo. No entanto, a segunda parte do art. 66 do CPC merece cuidadosa observação. De acordo com a literalidade da norma, verifica-se que o processo correrá contra o réu nomeante no caso de recusa do nomeado.  
Ora, a simples e livre recusa do nomeado violaria tanto o princípio da inevitabilidade da jurisdição como o do livre acesso à justiça, tendo em vista que este  poderia facilmente abster-se da sujeição processual sob a simples alegação de ilegitimidade passiva. Cumpre registrar, além disso, que o autor simplesmente poderia desistir da ação em face do nomeante e intentar outra demanda contra o nomeado recusante. 
Pertinente a solução preconizada por Ovídio Baptista da Silva : " Embora o Código faça presumir que ao terceiro nomeado será sempre livre e justa a recusa, ficando o autor e o nomeante constrangidos a persistirem em uma causa para a qual ambos resultem convencidos da completa ilegitimidade passiva do demandado originário, parece evidente que a disposição do art. 66 deverá ser entendida adequadamente, pois ninguém, no sistema processual brasileiro, poderá livrar-se da condição de réu, alegando não ser legitimado para a causa, ou não desejar responder à demanda. Cremos que não haverá outra saída para a correta exegese do artigo 66 senão atribuir ao juiz a faculdade de decidir sobre a legitimidade passiva do nomeado. Se o juiz relegar para a sentença final a decisão sobre essa preliminar, a causa prosseguirá contra ambos" . [3]
No tocante ao prazo para a manifestação do nomeado, embora a lei processual permaneça silente a respeito, Humberto Theodoro Júnior defende a obediência ao art. 185 do CPC, com a utilização do prazo de 5 dias. [4]  
Celso Barbi, no entanto, sustenta o prazo de resposta, de quinze dias. [5]   
  4.         Ônus e Responsabilidade da Nomeação 
Constituindo-se a nomeação como um dever da parte, o seu descumprimento ou mau uso enseja a responsabilização por perdas de danos.
Trata-se de responsabilidade objetiva e a indenização será devida pelo nomeado tanto ao autor (art. 69, I do CPC, no caso em que aquele deixou de nomear quando lhe competia) como ao autor e ao nomeado (art. 69, II do CPC, na hipótese de falsa nomeação).  [6]
Embora inexista previsão legal quanto à responsabilidade do nomeado na hipótese de sua falsa recusa, a doutrina tem entendido a possibilidade de ajuizamento de ação por perdas e danos. Caso o nomeado tenha recusado a indicação e a ação tenha sido extinta por ilegitimidade passiva do nomeante, o autor poderá intentar demanda cumulada com pedido de perdas e danos contra o nomeado recusante. [7]
Nomeação à autoria- CPC, arts. 62 a 69
 
Nomeação à autoria: convocação do sujeito oculto das relações de dependência, criando, a um só tempo, o meio de desagravar o sujeito dependente e indicar ao eventual lesado o verdadeiro titular do pólo passivo da relação material (Fux, 2001 ).
"É o pedido feito pelo réu, de ser excluído da relação processual por ilegitimidade ad causam, sendo sucedido por um terceiro" (Dinamarco, 2001 ).
Trata-se de hipótese de intervenção de terceiro provocada e ad excludendum. Visa a substituir o réu, parte ilegítima, por quem tenha legitimidade passiva para a causa.
Cabe:
pelo detentor, demandado em nome próprio, ao proprietário ou possuidor (art. 62, I);
por identidade de razão, ao possuidor direto, demandado em nome próprio, ao proprietário ou possuidor indireto (Fux, 2001 ; Contra: Barbi, 2002 );
ao proprietário ou titular de direito sobre a coisa, por quem alegue haver praticado o ato danoso por ordem ou em cumprimento de instruções suas (art. 63).
Se, no terceiro caso, o nomeante participou com parcela de sua vontade, não será parte ilegítima e, por isso, não poderá nomear à autoria (Dinamarco, 2001 ). Cabe a nomeação, por exemplo, se o nomeado cortou árvores ou abriu valo em terreno alheio, como simples preposto ou empregado.
Não cabe nomeação à autoria na execução, nem no monitório, porque nos embargos não há espaço nem oportunidade para providências inerentes a um processo que já superou a primeira fase; cabe em processo cautelar (Dinamarco, 2001 ).
Não se admite nomeação à autoria nos juizados especiais (Lei 9.099/95, art. 10: “Não admitirá no processo qualquer forma de intervenção de terceiro”). Também não é admissível no procedimento sumário (CPC, art. 280).
Embora não o diga a lei, a nomeação à autoria deve ser feita no prazo da contestação.
A recusa pelo nomeado colide com o princípio da inevitabilidade da jurisdição, sendo, pois, de duvidosa constitucionalidade o artigo 66, diante da garantia do acesso à justiça (Dinamarco, 2001 ). 
No caso de recusa pelo nomeado, resta para o autor a alternativa de desistir da ação e propor outra, contra o legitimado (Carneiro, 2000 ). “Não sendo aceita a nomeação, o terceiro não será atingido pela eficácia da sentença e nem pela coisa julgada, podendo opor-se à decisão que venha a ser proferida no processo, se contra ele pretender realizem-se tais efeitos” (Arruda Alvim, 1997 ).
Em sentido diverso e melhor, Maria Berenicedias: O fato de o nomeado negar a qualidade que lhe é atribuída não o desliga do processo. Ele não se safa da posição de réu pela simples negativa da qualidade que lhe é atribuída. Nesse caso, nomeante e nomeado permanecem no processo, decidindo o juiz, a final, sobre a legitimidade passiva para a causa . No mesmo sentido, Ovídio Baptista da Silva: “Embora o Código faça presumir que ao terceiro nomeado será sempre livre e justa a recusa, ficando o autor e o nomeante constrangidos a persistirem em uma causa para a qual ambos resultem convencidos da completa ilegitimidade passiva do demandado originário, parece evidente que a disposição do art. 66 deverá ser entendida adequadamente, pois ninguém, no sistema processual brasileiro, poderá livrar-se da condição de réu, alegando não ser legitimado para a causa, ou não desejar responder à demanda.  Cremos que não haverá outra saída para a correta exegese do artigo 66 senão atribuir ao juiz a faculdade de decidir sobre a legitimidade passiva do nomeado. Se o juiz relegar para a sentença final a decisão sobre essa preliminar, a causa prosseguirá contra ambos” . 
Eventuais perdas e danos serão objeto de ação autônoma (Carneiro, 2000 ).
Deferido o requerimento de nomeação à autoria, suspende-se o processo (art. 64). Indeferido o requerimento, intimado o nomeante, reabre-se o prazo para o oferecimento de contestação (Carneiro, 2003 ). 
Ao nomeante também se assina novo prazo para contestar a ação, se o autor recusa a nomeação ou o nomeado nega a qualidade que lhe é atribuída (art. 67).
Devolve-se o prazo totalmente, sob pena de nulidade, nada importando a existência de anterior contestação oferecida pelo nomeante, porque nova situação jurídica surgiu (STJ, 2001 ).
As perdas e danos, a que se refere o artigo 69, tanto podem ser do autor quanto do proprietário ou possuidor.  Serão postulados em ação indenizatória autônoma (Carneiro, 2003

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