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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ANÁLISE DO DISCURSO unidade I unidade I I unidade I I I Professora Mestre Vi lma Lúcia Ior i Franco A COMUNICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS A ANÁLISE DO DISCURSO SOB O PONTO DE VISTA DO ENUNCIATÁRIO – UMA LEITURA EFICAZ texto e contexto discurso e texto: aliados da comunicação sob o prisma do enunciatário: a leitura Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualida- de, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsa- bilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democra- tizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promo- ver a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cida- dãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas Reitor Wilson de Matos Silva palavra do reitor Direção UniceSUMar reitor Wilson de Matos Silva, Vice-reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-reitor de administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-reitor de eaD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. neaD - núcleo De eDUcação a DiStância Direção de operações Chrystiano Mincoff, coordenação de Sistemas Fabrício Ricardo Lazilha, coordenação de Polos Reginaldo Carneiro, coordenação de Pós-Graduação, extensão e Produção de Materiais Renato Dutra, coordenação de Graduação Kátia Coelho, coordenação administrativa/Serviços compartilhados Evandro Bolsoni, Gerência de inteligência de Mercado/Digital Bruno Jorge, Gerência de Marketing Harrisson Brait, Supervisão do núcleo de Produção de Materiais Nalva Aparecida da Rosa Moura, Design educacional, Diagramação José Jhonny Coelho, revisão textual Edson Dias, Fotos Shutterstock. neaD - núcleo de educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desen- volvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento aca- dêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituição univer- sitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de com- petências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão univer- sitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis- trativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a edu- cação continuada. CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância: C397 Análise do Discurso / Vilma Lúcia Iori Franco. Publicação revista e atualizada, Maringá - PR, 2014. p. “Pós-graduação Núcleo Comum - EaD”. 1. Discurso. 2. Discurso. . 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. CIP - NBR 12899 - AACR/2 Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a UNICESUMAR tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, de- mocratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da edu- cação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informa- ção e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a co- nhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas fer- ramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da UNICesumar se propõe a fazer. Pró-Reitor de EaD Willian Victor Kendrick de Matos Silva boas-vindas sobre pós-graduação a importância da pós-graduação O Brasil está passando por grandes transformações, em especial nas últimas décadas, motivadas pela estabilização e crescimento da economia, tendo como consequência o aumento da sua impor- tância e popularidade no cenário global. Esta importância tem se refletido em crescentes investimentos internacionais e nacionais nas empresas e na infraestrutura do país, fato que só não é maior devido a uma grande carência de mão de obra especializada. Nesse sentindo, as exigências do mercado de trabalho são cada vez maiores. A graduação, que no passado era um diferenciador da mão de obra, não é mais suficiente para garantir sua emprega- bilidade. É preciso o constante aperfeiçoamento e a continuidade dos estudos para quem quer crescer profissionalmente. A pós-graduação Lato Sensu a distância da UNICESUMAR conta hoje com 21 cursos de especialização e MBA nas áreas de Gestão, Educação e Meio Ambiente. Estes cursos foram planejados pensando em você, aliando conteúdo teórico e aplicação prática, trazendo informações atualizadas e alinhadas com as necessida- des deste novo Brasil. Escolhendo um curso de pós-graduação lato sensu na UNICESUMAR, você terá a oportunidade de conhecer um conjun- to de disciplinas e conteúdos mais específicos da área escolhida, fortalecendo seu arcabouço teórico, oportunizando sua aplicação no dia a dia e, desta forma, ajudando sua transformação pessoal e profissional. Professor Dr. Renato Dutra Coordenador de Pós-Graduação , Extensão e Produção de Materiais NEAD - UNICESUMAR “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” Missão apresentação do material Professora Mestre Vilma lúcia iori Franco Olá caro(a) aluno(a)! Estamos iniciando os nossos estudos sobre análise do discurso e é muito bom ter você conosco neste mundo do conhecimento sobre as formas de nós nos comunicarmos, tanto na fala e na escrita, principalmente. Ao longo de nossa carreira do magistério já há trinta anos pelos nossos estudos no curso de Letras, tivemos a oportunida- de de mergulhar com mais atenção nestemundo da leitura e composição textual, e daí não paramos mais de nos aprofundar em estudos nos quais nos firmássemos para compreender melhor esta nossa capacidade de nos comunicar. Dessa forma, tende- mos para a área da Semiótica, em Mestrado, por exemplo, na qual encontramos suporte para alicer- çarmos os nossos conceitos sobre o que vínhamos observando em nossos alunos bem como no nosso meio de atuação no que competia às informações que podíamos perceber em textos e ter acesso a elas com mais propriedade. A análise do discurso, portanto, passou a ser a ponte entre o que há e o que pode ser transmitido para que possamos nos entender melhor no dia a dia. Foi então a partir de nosso encantamento com ela que seguimos com os nossos estudos e che- gamos ao cerne da análise do discurso: mergulhar no texto e descobrir nele os processos ali articu- lados para que possamos chegar o mais próximo possível ao que o elaborador ou escritor do texto quiseram transmitir. Por isso, na primeira unidade do nosso livro, trabalhamos os conceitos de lingua- gem, língua, contexto, mensagem, entre outros, a partir do processo da comunicação. Por meio desses estudos, passamos a compreender melhor sobre os meios por nós utilizados para transmitir ao outro o que pretendemos, ou seja, aquilo que temos em mente, organizando-o de forma, é claro, mais objetivada. Na segunda unidade, por sua vez, mergulha- mos nos instrumentos estruturadores do discurso em si: enunciador, enunciado, enunciação. Veremos, assim que, conhecendo-os e identificando-os, no texto, perceberemos com mais propriedade que a articulação das ideias tem um foco estabelecido a partir do enunciador e dos mecanismos por ele se- lecionados para transmitir a ideia com mais eficácia. Por último, na unidade três, trabalhamos o discurso sob a ótica do receptor, ou seja, quais os caminhos que este pode selecionar para chegar mais rapida- mente e com propriedade ao que o texto tem a dizer. Por isso, evidenciamos três conceitos: enten- dimento, compreensão e interpretação. De posse de tais estudos, é possível a todos nós perceber que o texto assim o é quando conta com uma lógica organizada, a fim de que realmente tenhamos a comunicação, ou seja, a fim de que consigamos tornar comuns as nossas ideias que tão grandemen- te nos fazem evoluir para transformamos o mundo. Espero que você, ao final dos nossos estudos, faça do nosso olhar o seu, e passe a estar no dia a dia em contato tanto com a escrita quanto com a leitura, com mais leveza e propriedade. Bom estudo e nós nos encontramos na sequên- cia deste material. Aprecie-o com dedicação para você. su m ár io 01 12 a comunicação 24 elementos da comunicação e funções da linguagem 28 considerações finais A COMUNICAÇÃO 02 03 47 conteúdo 51 conteúdo 53 conteúdo 54 conteúdo 54 conteúdo 55 conteúdo 58 conteúdo 72 conteúdo 76 conteúdo 82 conteúdo 87 conteúdo 95 conteúdo 96 conteúdo 96 conteúdo TÍTULO TÍTULO 1 A COMUNICAÇÃO Professora Mestre Vilma Lúcia Iori Franco objetivos de aprendizagem • Refletir o conceito de comunicação na prática da manifestação e organização do pensamento no convívio social. • Internalizar outros conceitos, como o de linguagem, língua, con- texto e interlocutor enquanto elementos constitutivos da prática de uma comunicação com mais eficácia. • Distinguir linguagem de língua bem como texto de contexto para categorização da comunicação em si. • Estabelecer limites plausíveis na comunicação que a tornem mais objetiva e clara nas práticas de convívio social. • Identificar os elementos da comunicação bem como as suas funções com critério de domínio da linguagem e da realização desta. • Reconhecer os principais pontos característicos da língua falada e escrita de acordo com o contexto a serem empregadas. • Concluir que a comunicação depende muito da adequação da língua ao receptor de tal forma que resulte na prática social es- perada: o discurso em si. Plano de estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A Comunicação • Linguagem • Língua • Texto e Contexto • Interlocutor • Discurso • Elementos da Comunicação e Funções da Linguagem Caro(a) Acadêmico(a), esta é uma oportunidade que nos foi dada para falarmos com você sobre análise do discurso. Dessa forma, nesta primeira parte do livro “Análise do discurso”, vamos fixar-nos em uma breve exposição sobre o que é a comunicação. Trabalharemos conceitos de linguagem, língua, do discurso que aqui muito nos importa e contexto; pautaremos os elementos da comu- nicação bem como as funções da linguagem a eles ligadas. Com esse conhecimento, você, com certeza, entenderá melhor como lidar com o outro no dia a dia, por meio da linguagem e da língua, para que a comunicação ocorra com sucesso bem como fazer uso do discurso que permitirá que as suas ideias fluam com o objetivo pretendido. Na análise do discurso, o me- canismo do nosso estudo surge a partir de três referenciais: o primeiro é a partir do emissor; o segundo, a partir do receptor e o terceiro, do texto enquanto referencial ou assunto. São três vertentes que nascem das principais pessoas de um discur- so: primeira (emissor), segunda (receptor) e terceira o assunto (texto). Estas três pessoas do discurso nos remetem a mais três situações que os circundam: o elo, o ponto comum e o pen- samento. O elo seria o canal. O ponto comum, a língua e o pensamento, a mensagem. Nesta visão global, temos elementos circundantes da comunica- ção em si. Por isso, logo no início, vamos tratar de tais elementos, fixando-nos mais nos conceitos de linguagem e língua. Sobre isso também, falaremos com mais propriedade no nosso livro. Bom estudo a todos. Análise do Discurso 12 A necessidade de nos fazer entender trans- forma-nos, com grande probabilidade, em elementos ativos, passivos e reflexivos sobre o que nos rodeia. Dessa forma, nasce a impe- rativa de ser a escrita o resultado dos registros de nossas variadas formas de comunicação na oralidade, a fim de que o outro possa nos compreender e formar uma versão própria do que quisemos transmitir. Damos a esse proces- so o nome de perpetuação das ideias, o que, para nós, em muito, caracteriza o homem em evolução. Compreender melhor isso é funda- mental e resulta no domínio de variados textos os quais nascem da propriedade humana de nos comunicarmos pela razão, de tal modo que as diversas circunstâncias nos conduzam aos mais diferentes motivos de nos manter sintonizados com o outro e com o mundo. É esse processo que nos torna mais motivados para optá-la por formas intencionadas da veiculação das nossas ideias e fazê-las viraram marcas de uma época e de uma cultura, por exemplo. Por esse motivo, resolvemos elencar itens que vão permitir você, leitor, a mergulhar no mundo da comunicação e perceber a fonte de elementos que ela constitui para a efetivação das nossas ideologias. Mas onde isso tudo começa? Talvez não nos seja possível delimitar o onde, mas mencionar como isso começa e é por meio de uma palavra conhecida: comunicação. Para tanto, queremos compartilhar com você um con- ceito de comunicação, tão bem articulado por Blikstein (2003, p.19), em que autor diz que comunicar é “tornar comum”. A COMU- NICAÇÃO Pós-Graduação | Unicesumar 13 Vale a pena investir neste conceito, fazendo um breve relato do que Blikstein apresenta quando ele expõe uma história sob um discurso muito didático e bem articula- do, sobre duas personagens: o patrão com a secretária. O texto começa com a escrita de um bilhete pelo patrãopara a secretá- ria, mas, pela análise da escrita do bilhete, não foi mencionado com clareza o que o patrão queria que a secretária providenciasse. Isso ocorreu porque a escrita foi construí- da de uma forma muito lacônica e sem a mínima organização factual do que se de- sejava. Nasce daí todo um questionamento sobre quem errou: quem escreveu o bilhete ou quem o leu? A questão é que o resulta- do não foi o esperado. Em outras palavras, a secretária não conseguiu cumprir o que lhe fora pedido. A história prossegue com certo humor, dando leveza à explicação, deixan- do claro que grande parte da ausência de uma boa comunicação depende do emissor e o contrário também. É isso mesmo. Muito diferente do que muitos pensam ser a co- municação de maior responsabilidade do receptor, chegamos à conclusão de que ela depende realmente bem mais do emissor. Paremos, então, de pôr, exclusivamente, a culpa no outro quando este não entende o que nós desejamos, pois, muito provavel- mente, nós não fomos claros o suficiente para isso. Bem, então é oportuno aqui que mencionemos como este processo deve acontecer para que possamos transmitir o que desejamos, evitando assim a mesma falha entre o patrão e a secretária. O interes- sante é que para expor tal conceito, o autor do texto apresentou a teoria de forma mais amistosa, por meio de uma história, ou seja, ele selecionou um discurso mais leve para explicar algo, muitas vezes, considerado complexo. Percebemos, então, que, em um mesmo texto, foram usadas formas distintas de transmitir a mesma ideia. Foram usadas linguagem e línguas compreensíveis, para dar leveza à teoria. Tivemos a fala do autor, pela fala do patrão, pela fala do bilhete que fixa a intenção do autor do livro em demonstrar entre outras visões sobre o assunto a de que, muitas vezes, o emissor só se vê no próprio contexto e não se preocupa com o recep- tor. Então vamos lá. Quando quero construir uma ideia, preciso então dominar uma série de elementos bem como de estratégias que me levem a isso. Certo! Comecemos, então, por conhecer alguns desses pontos estrutu- radores da ideia, um deles a linguagem e o outro, a língua. Análise do Discurso 14 A nossa sobrevivência depende da capaci- dade de nos manter ligados uns aos outros em um mundo bastante amplo. Para isso fazemos uso da linguagem. Dessa forma, a linguagem é uma atividade humana que visa às representações do mundo pelo homem. É por isso que afirmamos ser a linguagem uma revelação de aspectos sociais, cultu- rais, históricos, por exemplo. Por isso o uso da linguagem surge da interação social e se sustenta pela pressuposição de interlocuto- res. Ora, mencionamos aqui a palavra revelar uma vez que ela é propícia para fixar o con- ceito de linguagem: expressar o que está velado, escondido, ou seja, o pensamento. Já ouvimos também que os animais irracionais têm linguagem, visto que eles se comunicam, como, por exemplo, quando as formigas se organizam em fileiras. Esse comportamento geralmente ocorre porque elas estão em busca de fonte de ali- mento. Isso, no entanto, não é linguagem, é sistema de comunicação, uma vez que sistematização tem tal nome por ser algo estabelecido, fixo, imutável, proveniente de sinais (muitos deles da própria natureza) e repetições de ação. A natureza humana vai além da sistematização, pois não ocorre somente de forma fixa nas suas manifesta- ções. Ela se molda conforme o pensamento de quem a emite e para quem a pessoa quer se fazer compreender. Por isso se constituir de formas livres de manifestação, como gestos, modalidades artísticas, símbolos diversos, conforme afirma Medeiros (1992, p.48). Essas formas vão sendo adaptadas por nós, seres humanos, capacidade esta mantida pelo ra- ciocínio, por isso a linguagem passa a ser essencialmente humana. Fica mais fácil então nos lembrarmos de linguagem não verbal e verbal. A primeira se apresenta de forma mais livre ainda, percebida nos gestos, sons, ícones. Já a verbal utiliza a palavra em si, seja ela escrita ou falada. Há também, no entanto, a junção das duas, a mista, conforme vemos muito nas figuras em quadrinhos. “Se falares a um homem numa linguagem que ele compreenda, a tua mensagem entra na sua cabeça. Se lhe falares na sua própria linguagem, a tua mensagem entra-lhe diretamente no coração.” Nelson Mandela Fonte: < http://www.citador.pt/frases/citacoes/t/comunicacao>. Acesso em: 28 jul. 2014. Linguagem Pós-Graduação | Unicesumar 15 E já que no estudo anterior falamos sobre língua, vamos fixar o conceito dela aqui para aprofundarmos nossos estudos. O que é então língua? É uma sistematização da lin- guagem verbal. Ela é um afunilamento da linguagem. Dada a amplitude desta, a língua é uma tentativa de tornar o que é comple- xo em algo mais específico. Podemos dizer que ela é também uma espécie de “filtro” da linguagem a fim de nos conduzir a uma co- municação mais imediata e eficaz. Mas há que possa questionar se a língua é somente coletiva. A nossa resposta é não. A língua é também solitária, pois podemos ser emis- sores e receptores de nós mesmos, e isso ocorre, quando já organizamos o nosso pen- samento e chegamos ao que muito comum ouvimos: “Estava falando comigo mesmo ou mesma”. Então a língua passa a ser uma regra, uma convenção também social, mas não apenas, conforme afirmam Silva e Koch (1983, p.8): Em seu relacionamento social, dispõe o ho- mem de um instrumento que lhe caracteriza a condição humana: a linguagem, seja tra- duzida por gestos, modalidades artísticas, seja por símbolos diversos, que também são meios efetivos de comunicação (...) Não há dúvidas, porém, de que entre os meios de comunicação que permitem ao homem uma vida com sucesso, predomina a linguagem oral, com logicidade e articula- ções racionais, já que o terceiro sub-cérebro: (MACLEAN; ALBUQUERQUE, 1982, p.5) “... é o complexo do neocórtex, a última e fulguran- te etapa da evolução da mente, relacionada à nossa racionalidade, à linguagem articu- lada e lógica e, que muito provavelmente permitiu ampliação do aparelho fonador para o desempenho dessas funções pela oralidade”. A linguagem, então, enquanto atividade humana é cultural. Ela se torna um fenôme- no dinâmico, condição para a existência de qualquer grupo social. Embora seja diver- sificada em sua realização concreta, é um fenômeno universal. Então, a linguagem, quando em relação ao homem, caracteriza-se como um conjunto de recursos e possibilidades de comunica- ção entre pessoas. Para a realização da lin- guagem como instrumento de comunicação e interação, a sociedade adota um conjunto de signos e de regras que, convencional- mente, são aceitos e deixam de ser arbi- trários. Exclui-se, portanto, a possibilidade de escolha de símbolos novos, estranhos ao grupo social, porque tal escolha geraria incompreensões. Para se permitir assim o exercício da linguagem, o corpo social adota a língua, um conjunto de convenções neces- sárias à prática dessa linguagem (...) Fonte: a autora. Língua Análise do Discurso 16 Ao lermos um “sistema de valores que se opõem” vale fixar que há línguas muito di- ferentes, opostas em aspectos variados. Por exemplo: a língua portuguesa segue o racio- cínio na escrita da esquerda para a direita. A hebraica, da direita para a esquerda. Temos aqui um exemplo de oposição. Por saber- mos também que não pode nem ser criada, nem modificada, precisamos entender que a língua deve se manter próxima de uma exatidão possível para que possa facilitara comunicação. Com isso, costumamos dizer que a língua é uma tentativa de tornar exato o que não é, uma vez que a nossa capacida- de de comunicação é complexa e, por isso, inexata. A língua é ao mesmo tempo um sistema de valores que se opõem uns aos outros e um conjunto de convenções necessárias adotadas por uma comunidade linguís- tica para se comunicar. Ela está depositada como produto social na mente da cada falante de uma comunidade que não pode nem criá-la, nem modificá-la. Assim de- limitada, ela é de natureza homogênea. Comunidade de Países de Língua Portuguesa: breve retrato estatístiCo A população residente no conjunto dos oito países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) estimava-se em cerca de 244 milhões de habitantes, em 2010, tendo registrado uma taxa de crescimento médio anual de 1,1%, durante o período 2003-2010. A população de Moçambique foi a que teve um crescimento mais intenso (2,7% ou mais por ano) nesse período. Todos os países africanos de língua portuguesa (à exceção de Cabo Verde) e Timor-Leste registravam uma percentagem de população jovem superior a 40% da população total. No Brasil, o peso relativo dos jovens situava-se em 24,1% e em Portugal apenas nos 15,1%. A maior percentagem de população “potencialmente ativa” (15-64 anos) vivia no Brasil (68,5%) e a menor em Angola (50,1%). Fonte: <http://www.cplp.org/Files/Filer/cplp/12CPLP_2012_201307.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2014. Pós-Graduação | Unicesumar 17 Bem, mas não paramos por aqui. Vem agora outra lembrança para os nossos estudos: no nosso caso, a língua é a portuguesa, certo? Ótimo. Mas, apesar desta comunhão da língua portuguesa, sabemos que nem sempre a articulação dela nos leva a comunicarmos bem. Como então ar- ticulá-la para chegarmos à eficácia de nos fazer compreender? Quem deve nos ensinar isso? A escola se incumbe disso? A família? A comunidade? Não nos cabe aqui responsa- bilizar alguém ou algum grupo sobre o que ensinar no que compete à língua, mas nos cabe afirmar que não é apenas dominan- do a língua portuguesa na forma culta que teremos a garantia de uma boa comunica- ção. É claro que precisamos saber a diferença entre a língua culta e inculta, visto que a elite acadêmica exige que saibamos isso. Mas é necessário também fixar que, na comuni- cação, uma não exclui a outra. Em outras palavras, precisamos das duas e, conforme a situação, poderemos fazer uso delas de forma distinta e necessária. Vamos refletir com mais detalhes em relação a isso. Antes, porém, precisamos nos lembrar de duas expressões bem distintas: a língua culta ou padrão e a língua inculta ou não padrão. A culta é a que segue a norma, as leis, ou seja, aquela que é o timbre da marca cultural de uma nação e, portanto, regrada e registrada. A inculta, também conhecida como língua não padrão, é a marcada pela coloquialidade, pela fala, com mais frequên- cia, e pelo imediatismo. Devido a isso, ela varia bastante. Infelizmente, muitos que se julgam letrados, no meio acadêmico, acabam por incorrer em uma falha grave: criticam muito quem comete deslizes na língua culta, mas se esquecem, porém, de que, dependendo da situação, talvez nem seja um deslize, seja uma adaptação ao contexto. Vale fixar então que adaptado é quem prega que devemos fazer uso sempre da norma culta só porque somos letrados, ou, no nosso caso, professo- res. Triste engano. Se uso uma língua que não está de acordo com o contexto, com quem estou falando, com o que desejo falar, não comunico. Então, perdemos o valor social, a convivên- cia, as boas relações e passamos a impulsionar os desentendimentos, as desavenças. É isto mesmo que você está pensando: muitos de nossos problemas geramos pela falta de sen- sibilidade do que devemos ou não devemos comunicar e isso inclui a língua. Ousamos mencionar então que, ao dizer que tal palavra está errada, é preciso repensar tal afirmação, pois pode ser que ela esteja inadequada, mas não errada. Vejamos o seguinte diálogo: Análise do Discurso 18 Ao observarmos o diálogo, verificamos que não houve uma comunicação eficaz devido ao uso da palavra “Atenazar”. Se quem estava trabalhando queria sossego, não seria uma situação adequada para usar um termo, embora culto, não adaptado ao interlocutor. Foi usado um vocábulo que o ouvinte não co- nhecia e isso irritou ainda mais quem estava escrevendo o livro. É interessante mencionar que o falante preza pelo culto, mas não se preocupou com que o ouvinte poderia não saber o estava sendo falado. Então a irritação se agravou pelo próprio emissor que não ve- rificou essa situação e usou um termo não adequado ao receptor. Assim procedendo, percebemos que não houve uma habilidade linguística por parte do falante para adaptar o vocabulá- rio, com uma língua mais simples e desse modo, não ocorreu a comunicação, termi- nando o diálogo sob uma forma de “falta de educação”. Então nem sempre o culto é o adequado. Por isso muitas falhas de comuni- cação ocorrem dadas também à inabilidade de uso da língua, por não estar de acordo com o contexto e com o ouvinte em si ou até mesmo, em outra situação, com o leitor. Vai aqui uma sugestão de como poderia ser a fala do “por favor”: - Por favor, pare de me incomodar. Vale fixarmos aqui que o uso da língua adequada exige um conhecimento mais meticuloso de com quem vamos nos co- municar, porque nem sempre falamos para uma, mas para várias pessoas e, neste caso, é ainda mais complicada a situação, uma vez que precisamos encontrar a língua comum para o que pretendemos transmitir o seja. Logo, não podemos usar somente a língua padrão, é óbvio, pois a língua deve ser in- terativa, comum e nunca excludente. Pelo - Olá? - Ah! Olá. - O que está fazendo? - Trabalhando. - Sim. Eu sei, Mas trabalhando em quê? - Em um livro. - Livro de quê? - Livro científico? - Ah, você virou cientista? - Por favor, pare de me atenazar? - Como? Atenaz... O quê? O que é isso? - Ai, suma daqui!!!!! (Texto estruturado pela autora) Pós-Graduação | Unicesumar 19 menos é assim que devemos pensar para que nos mantenhamos conectados, tendentes ao entendimento, nos abstendo dos mal-enten- didos e isolamento social. Assim, a língua não deve ser usada sempre da mesma forma, já que o contexto, os interlocutores e o objetivo da mensagem são algumas situações que influenciam a va- riação de tal língua. Por isso, queremos abolir os termos certo ou errado e sugerimos os termos adequado ou inadequado no que se refere ao uso da língua no dia a dia. A situação seguinte é a do cultivo à língua que não é culta, no caso uma variante na lín- gua inculta, a gíria. O emissor (no caso o réu) ficaria sem a possibilidade de julgamento adequada se não houvesse a tradução do professor Dino Preti. Aqui estamos diante da responsabilidade social da língua e o quanto o uso inadequado dela ou a falta do mínimo de conhecimento de uma lín- gua comum pode causar um transtorno no nosso dia a dia. Papo de malandro Diante dos jurados cariocas, o réu deixa claro (graças à tradução de Dino Preti, professor da USP), que nada fez. O que o malandro diz: Seu doutor, o patuá é o seguinte: depois de um gelo da coitadinha, resolvi esquiar e caçar outra cabrocha. Plantado como um poste na quebrada da rua, veio uma para- quedas se abrindo. Eu dei a dica, ela bolou... chutei. Ela bronquiou, mas foi na despista, porque, vivaldina, tinha se adernado e visto que o cargueiro estava lhe comboiando. Morando na jogada, o Zezinho aqui ficou ao largo. Procurei engrupiro pagante, mas recebi um cataplum. Aí, dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça. Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas. Papai, rápido, virou pulga e fez Dunquerque.” (Extraído do jornal Correio da Manhã, de 5/04/1959) O que ele quer dizer: Seu doutor, a conversa é a seguinte: depois que fui abandonado por minha companhei- ra, resolvi procurar uma outra. Parado na esquina, aproximou-se uma morena faceira. Eu a olhei, ela correspondeu...eu insisti. Ela achou ruim, mas foi para disfarçar, porque, muito esperta, havia olhado de lado e vira que o seu companheiro a estava seguindo. Percebendo tudo, fiquei de longe. Procurei enganar o malandro, mas, inesperadamente, fui agredido. Aí, dei-lhe um chute na altura do joelho. Ele procurou a arma, sacou-a e deu dois tiros. Eu, rápido, pulei e fugi.” (Trechos do livro A Gíria e Outros Temas, de Dino Preti) O caso é verídico bem como o fato de Dino Preti ter traduzido o texto para o juiz tam- bém ser verídico. Fonte: <http://super.abril.com.br/cultura/afinal- qual-giria-436436.shtml> >. Acesso em: 28 jul. 2014. Muito bem, durante esta nossa exposição, surgiram alguns termos que são necessá- rios para a continuidade dos nossos estudos, como contexto e interlocutor. Vamos nos atentar um pouco mais a eles. Análise do Discurso 20 O termo texto nos leva ao contexto. Então, comecemos pelo primeiro termo: texto é a organização da linguagem por meio da seleção da língua pertinente. Desse modo, ele apresenta três características distintas segundo COSTA VAL (1994, p.5). A primeira delas é o pragmatismo, ou seja, função informacional e comunicativa. A segunda é o semântico-conceitual, ou seja, o significado e a fixação dele conforme a construção particular do pensamento. Por último, a formal, em outras palavras, a concretização do conceito por meio dos elementos da língua em uma dada orga- nização. Pela ordem, o texto apresenta uma ideia a ser revelada (pragmatismo) por meio de seleção de prioridade do que a circunda (semântico-conceitual, também conhecido como coerência), concretizado pela língua (articulação do que é ade- quado e pertinente para que a ideia venha à tona), é a conhecida coesão. Estas características é que, quando sistematizadas, nos fazem chegar ao texto. O texto pode ser oral ou escrito. Quando oral, existem muitos artifícios para que o seja mais rapidamente. Já, na escrita, a situação se torna mais lenta, pois é neces- sário selecionar os elementos realizadores da ideia com o maior critério possível para que realmente o que se imagina seja explicitado a quem desconhece tal imagem ou ideia. Sejamos claros então: texto é tornar uma imagem, que é ob- viamente virtual, em algo real. Vale lembrar que ele não surge do nada. O texto nasce de um contexto uma vez que este é o conjunto das circunstâncias, sejam elas sociais, políticas, históricas, culturais e outras, a que um texto se refere. A partir dessas condições, começamos a esmiuçar algumas particularidades que refor- çam o contexto. Uma delas é o interlocutor. Texto e Contexto Interlocutor Podemos então perceber que o texto parte de uma ideia com vistas em um foco ao qual chamamos de receptor, para o qual a ideia é veiculada quando sem maiores preocupações, ou seja, com mais imediatismo. Quando a ideia é direcionada, ou seja, ela tem um propósito de atingir um elemento específico, chamamos tal elemento de interlocutor. Então, fica certo que o termo receptor é amplo e o interlocutor é específico. Por isso afirmamos que o interlocutor é uma versão contextualizada do receptor, uma vez que ser interlocutor de alguém Pós-Graduação | Unicesumar 21 ou algo consiste em ter de forma clara e precisa cada um dos participantes de um diálogo, ou seja, é o leitor ou o ouvinte em que o autor pensa no momento de elaborar o texto. Muito bem. Surge aqui outra informação que precisa ser elu- cidada: discurso. Discurso Chegamos agora à terminologia-base dos nossos estudos, o termo discurso. Trata-se do uso da língua em um determinado contexto. Exemplo. Estamos em um julgamento. Lembra-se da língua? Então, qual deve ser ela na fala, no caso, se for a de um advogado em um julgamento, por exemplo. Bem, de modo geral, culta, mas com termos próprios do âmbito jurídico, recheada por expressões re- buscadas, jargões jurídicos e palavras latinas, por exemplo. Não devemos, portanto, estranhar essa situação, pois faz parte do discurso em questão. Então o discurso seria mais comumente conhecido como a voz de um grupo social. Por isso afirmamos também que o texto liga-se diretamente ao discurso que o originou e a maneira que um texto específico manifesta certo discurso é o que representa o caráter subjetivo do texto, pois este nasce de uma forma individualizada do autor, uma vez que toma decisões particulares sobre como falar de determinado tema. Aqui entra também algo típico do discurso: o estilo. Estilo é a forma assumida pelo emissor a qual ele julga melhor, em dado contexto, para transmitir o que deseja. Por isso vale ressaltar que a liberdade do emissor nunca será total já que o estilo também vai marcar a versão de um grupo social bem como a ideologia que permeia tal grupo, enfatizando assim o discurso. Ratificando isso, afirma Koch (1984, p.21-22) que Discurso é considerado como a: Atividade comunicativa de um locutor, numa situação de comunicação determina- da, englobando não só o conjunto dos enunciados por ele produzidos, (...), como também o evento de sua enunciação. Então todo discurso constrói uma representação que age como uma memória compartilhada e mais, alimentada pelo próprio discurso. Por isso dizemos que o processamento do discurso é estratégico e realizado sempre por sujeitos ativos, isto é, implica da parte dos interlocutores, a realização de escolhas significativas entre as várias possibilidades que a língua oferece. Análise do Discurso 22 Dadas as observações sobre interlocutor e discurso, vale lembrar ainda que o texto se rege sob discursos assumidos, dispostos em duas modalidades bem conhecidas: oral e escrita. Tanto um quanto o outro assumem particularidades, porém, conforme o discurso a ser conduzido, devem obedecer a padrões que o grupo social propaga. O texto escrito, no entanto, administra mais o código, ou seja, zela por ele, e este zelo também se centra na norma culta quando o discur- so a exige. Então o texto depende da comunidade representada, do momento, da situação e do grau de compreensão do interlocutor ou emissor, para que, evi- dentemente, seja estruturado de tal forma que resulte na comunicação desejada, conforme afirma Garcez (2008, p. 3): Conhecimentos de natureza diversa são acessados para que o texto tome forma. É necessário que o redator utilize simultaneamente seus conhecimentos relativos ao assunto que quer tratar, ao gênero adequado, à situação em que o texto é produzi- do, aos possíveis leitores, à língua e suas possibilidades estilísticas. Portanto, escrever não é fácil, e principalmente escrever é incompatível com a preguiça. Por isso, o texto enquanto veiculador do discurso, no qual nós nos concentrare- mos nos estudos mais adiante, exige uma dose de paciência e observação, uma vez que o texto oral pode em muito ter a participação do ouvinte e as também expressões faciais deste, por exemplo, uma vez que tais artifícios já ajudam na confirmação ou retificação de uma ideia articulada oralmente. O escrito tem, no entanto, suas especificidades e exigências, pois acaba por ser uma comunicação a distância, sem apoio do contexto ou de expressões faciais e gestos. O texto escrito, por menos formal que seja, exige de nós uma dose mínima de sintaxe, vocabulário e até mesmoa organização do discurso e esse lidar cons- tante com o texto é que nos proporciona um efetivo conhecimento da escrita. Se observarmos toda esta exposição, verificamos que tal processo ocorre por uma visão mais cuidadosa do meio que nos circunda, incluindo nele, é claro, as pessoas, conforme reforça Brandão (2001, p.12): Eu sou na medida em que interajo com o outro. É o outro que dá a medida do que sou. A identidade se constrói nessa relação dinâmica com a alteridade. O texto encena, dramatiza essa relação. Nele o sujeito divide o seu espaço com o outro porque nenhum discurso provém de um sujeito adâmico que, num gesto inaugural, Texto Oral e Escrito Pós-Graduação | Unicesumar 23 emerge a cada vez que fala/escreve como fonte única do seu dizer. Segundo essa perspectiva, o conceito de subjetividade se desloca para um sujeito que se cinde porque átomo, partícula de um só corpo histórico-social no qual interage com outros discursos, de que se apossa ou diante dos quais se posiciona (ou é posicio- nado) para construir sua fala. Assim todas essas ações partem do conhecimento do mundo que passamos a ter antes de compor um texto, a partir do contexto e do discurso selecionado. Dessa forma, afirmamos que o texto é resultado de nossa leitura sobre aquilo que nos diz respeito ou de que necessitamos. Por isso, o texto nasce da nossa avaliação dos objetos e pessoas com os quais temos contato frequentemente e, a partir disso, montamos os nossos objetos para que evidentemente seja do nosso interesse, compreende? Conforme o meio, o texto se veste de um discur- so para se fazer entender no meio em que efetivamente se faz necessário. Veja a situação seguinte. discurso é a prática humana de construir textos, sejam eles escritos ou orais. Sendo assim, todo discurso é uma prática social. A análise de um discurso deve, portanto, considerar o contexto em que se encontra, assim como as personagens e as condições de produção do texto. Em um texto narrati- vo, o autor pode optar por três tipos de dis- curso: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre. Não necessaria- mente estes três discursos estão separados, eles podem aparecer juntos em um texto. Dependerá de quem o produziu. discurso direto: Neste tipo de discurso as personagens ganham voz. É o que ocorre normalmente em diálogos.(...) O discurso direto reproduz fielmente as falas das per- sonagens. Verbos como dizer, falar, pergun- tar, entre outros, servem para que as falas das personagens sejam introduzidas e elas ganhem vida, como em uma peça teatral. discurso indireto: O narrador conta a história e reproduz fala, e reações das personagens. É escrito normalmente em terceira pessoa. discurso indireto Livre: O texto é escri- to em terceira pessoa e o narrador conta a história, mas as personagens têm voz pró- pria, de acordo com a necessidade do autor de fazê-lo (...) FONTE: Celso Cunha in Gramática da Língua Por- tuguesa, 2ª edição. http://www.infoescola.com/ redacao/tipos-de-discurso/ Análise do Discurso 24 Veja o quadro seguinte e depois acompa- nhe conosco a nossa forma de analisar os estudos até então. Considere que a linguagem é a nossa tal capacidade de comunicação, a nossa ideia o nosso raciocínio. Vamos aproximá -la do que chamamos de ideia. O contexto (meio), no qual se enquadra o discurso (caráter da composição produzida). A língua e o texto são os instrumentalizadores desta linguagem e tudo isso parte de alguém para outro alguém. Temos aí seis situações que lembram os seis elementos da comunica- ção: mensagem, referencial, código, canal, emissor e receptor. Quando reconhece- mos esses elementos e a eles associamos as funções passamos a ter mais domínio sobre a comunicação. Vamos rever tais elemen- tos com as respectivas funções, segundo Medeiros (1992, p.58-59): ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES DA LINGUAGEM REFERENTE Função Referencial MENSAGEM Função Poética EMISSOR Função Expressiva RECEPTOR Função Conotativa CANAL (Contato) CÓDIGO Função Metalinguística FONTE: MEDEIROS, João Bosco. Comunicação escrita: a moderna prática da redação. 2 ed. São Paulo: Atlas,1992, p.58-59 Agora você pode estar diante da seguinte pergunta: mas o que são tais funções em si? Elas são o conjunto das finalidades da comunicação e de posse de tal conheci- mento, podemos construir a fala e a escrita pelas marcas pertinentes. No caso da fala, por exemplo, a entoação, e da escrita, a pontuação. Vamos a um exemplo para que essa teoria assuma um caminho mais preciso. Pós-Graduação | Unicesumar 25 Imaginemos uma pessoa que vai viajar. Ela, no primeiro momento da comunicação, é o emissor e o que ela expressa é parte de si mesma, ou seja, a emotividade. Então, a pessoa em evidência vai a uma agência de viagem e escolhe o roteiro do próprio gosto, com os lugares que lhe causarão alegria, prazer, emoção. Mas esta pessoa precisa deixar isso claro para o agente de viagem (o qual no primeiro momento, é o receptor, e a função a ele pertinente é a apelativa ou conativa). Para que o receptor entenda o emissor, este seleciona um canal pelo qual vai conduzir o que deseja. O canal seria uma voz agradável, com tom mavioso e educado, por exemplo. Ora, fez-se assim o primeiro contato por meio da fala, seguido de expressões de boa educação, como um cumprimento amável, um elogio ao meio e outros mais elogios. Temos então, neste momento, duas funções ativas: a do canal, que é fática, e a que visa ao receptor, conforme já mencionamos, e a conativa ou apelativa, um formato discursivo assumido por meio dos elogios, do cumpri- mento, dos pedidos de, ”por favor”. Estas duas funções nos fazem efetivamente reconhecer o código utilizado, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa, sob uma coloquialidade cordial, razoavelmente culta, uma vez que o domínio da língua muitas vezes já permite contextu- alizar a pessoa, facilitando ao receptor o que oferecer ao emissor e como fazê-lo. Chegamos assim ao contexto geral: agência de viagem, com belos pacotes. O emissor, querendo algo que lhe agrade; o re- ceptor, o qual proporcionará a viagem dos sonhos ao emissor. Daí resulta o esperado entre ambos, a ideia comum, a efetivação da venda e da compra do produto em questão. Essa efetivação é o tema, ou seja, foi captada a ideia do emissor e assim chegamos à função poética, aquela do plano das imagens que o emissor passa a ter da viagem, com muitas figuras de linguagem, como metáforas, me- tonímias, sinestesia, hipérboles, eufemismo Realmente, um sonho de viagem! Então, o que percebeu? Houve uma co- munhão emissor – receptor e o esquema da comunicação se fez presente semelhante a um circuito fechado, em que emissor vira receptor e receptor emissor à medida que as ideias vão se expandindo no contexto, por meio do referencial e código adequados. Ocorre a comunicação e vai tudo muito bem! O cliente sai feliz, o colaborador também e a viagem tende a acontecer! Em outras palavras, emissor vira receptor, receptor vira emissor; o canal de um se torna o do outro, o código também, tudo em um mesmo con- texto para que se chegue possivelmente à mesma ideia. Esta, valendo lembrar aqui, que nunca será igual, pela própria natureza abs- trata a que pertence, mas poderá chegar próximo do que o emissor tem em mente e assim acontecendo, haverá a comunicação, porque a ideia se tornou comum e dela nasce um produto. E daí começa tudo de novo! Bem, as funções da linguagem e os ele- mentos da comunicação nos fazem lembrar muito bem aquela expressão é dandoque se recebe. Em outras palavras, o que você faz, como faz, onde faz, para quem faz, volta para Análise do Discurso 26 você, porque você transformou a sua ideia. Filosófico ou não, é bem por aí que vai a co- municação ou o tornar comum. Fixando de forma sucinta, temos: o emissor manifesta as suas emoções a partir da seleção adequada do canal, pelo qual mantém o contato com o receptor, a fim de que este tenha uma reação ao que lhe foi proposto. Isso só ocorre, se o código se- lecionado é pertinente ao receptor e se o referencial ou a informação pertence ao contexto do receptor, pois, só assim, o que o emissor quer transmitir chegará o mais próximo possível do que o receptor conse- guiu perceber. Atingimos então a chamada ideia, cujo campo é o da abstração, prova maior de que ocorreu a comunicação. Se você analisar com mais atenção ainda, todo o processo da comunicação se preo- cupa em fazer com que o receptor chegue o mais próximo possível do que o emissor tem em mente. Desse modo, não nos equi- vocamos em dizer que a responsabilidade maior da comunicação está no emissor, em quem tudo começa e a quem cabem muitas responsabilidades na arte de se fazer compreender. Evidentemente, vale lembrar, que o emissor não o é sempre na comuni- cação. Trata-se de um processo complexo, mutante e progressivo. Se em um determi- nado momento o emissor o é, uma fração de segundos o transforma em receptor e assim se formam os sistemas de comunicação, va- riando-se os elementos, permutando-os e ampliando-os. Com isso teremos uma relação infinita de ideias que se encontram, reen- contram e desenvolvem-se. Daí, caro leitor, a comunicação ser ativa, pois parte do emissor, passiva, quando falamos do receptor e reflexi- va quando a ideia de um vai ao outro e volta para o primeiro como resultado do proces- so de se comunicar. o ruído na ComuniCação e as reLações humanas Marcos Gross* Na infância costumávamos brincar de “telefone sem fio”. André mandava uma mensagem para Carla, que a reenviava para Marcelo, que a repassava para Roberta. No final do processo a mensagem inicial era al- terada e terminava com o conteúdo original completamente deformado. Às vezes, isso acontecia porque repassávamos somente aquilo que compreendíamos; em outras ocasiões, “aumentávamos um ponto” da mensagem – de propósito – para distorcer a comunicação original. O resultado final era muita confusão. Hoje não vejo mais como brincadeira. No mundo dos adultos, o ruído de comunicação está vivo e prejudica as relações pessoais e profissionais através de comunicação falada e escrita mal elaborada. Ele afeta os resulta- dos das organizações e a qualidade de vida dos funcionários, consumindo energia dos colaboradores e causando prejuízo de mi- lhões de dólares nos processos de trabalho e gestão de equipes. Se os ruídos representam confusão, é melhor encontramos antídotos eficazes para neutralizar sua presença nas organizações e mantermos as informações fluindo com lógica e coerência. (...) http://www.dicasprofissionais.com.br/o-ruido-na- comunicacao-afeta-as-relacoes-humanas> acesso em: 30 de ago. de 2014. Pós-Graduação | Unicesumar 27 Portanto, na interação emissor/receptor, há um percurso a ser bem medido, calculado e direcionado. A comunicação não apresen- ta em si grau de importância. Ela ocorre, sim, por necessidade humana e resulta naquilo que mantém a humanidade conectada em si. Tal conexão não se dá por meros meca- nismos e interação, mas sim por organização do pensamento e manutenção dele pela di- nâmica da sua propagação de tal forma que não assuma um processo de destruição da ideia que a moveu. Mantém-se, assim a men- sagem inicial, por percursos selecionados para que ela chegue ao destino desejado, sem, portanto, deformidade ou variação que a impeçam de ser um elemento de cresci- mento e enriquecimento humano. A partir de todas as correlações por nós evidenciadas, a começar pelo conceito de comunicação até as funções dela, devemos nos lembrar de que todas as vezes que, por exemplo, formos escrever um texto, deveremos pensar primeiro nos leitores aos quais dirigiremos tal texto. Devemos também, como bons emissores, chegar a uma imagem criteriosa a qual mais pro- ximamente define o perfil dos leitores (interlocutores em si) e depois começarmos a selecionar argumentos e optar, informa- ções, dados, fatos que os sustentem bem como que atenderão com mais eficácia à finalidade do texto. Então, ousamos afirmar que não é possível escrever bons textos ou até mesmo fazer uso de um texto oral bem construído sem controlar muito bem os aspectos da comunicação por nós apre- sentados nesta primeira parte dos nossos estudos. Análise do Discurso 28 considerações finais Os estudos desta unidade tenderam a enfati- zar que o reconhecimento de elementos, como contexto, recursos discursivos e linguísticos utilizados para atingir o receptor constituem a chave da comunicação. O conjunto (língua, contexto, discurso, interlocutor, adaptação do código permite a base estável para a manifes- tação de uma fala pertinente bem como uma escrita construída a partir de adequações ne- cessárias à transmissão de ideias). A observação meticulosa de tais recursos vai facilitar a veiculação do conhecimento como fonte de registro e perpetuação da ideias, sustentando o caráter social a que a lin- guagem se propõe. A comunicação depende, portanto, do entrosamento dos elementos aqui citados bem como da habilidade do emissor em fazer uso deles em um discur- so modulado na atribuição de significados. Queremos também enfatizar a necessi- dade do acesso ao material complementar sugerido. A indicação do filme “O Sexto Sentido”, por exemplo, nos permite perceber o quanto a relação discursiva do texto com o contexto, adotados pelo filme, vai tecendo a igualdade das personagens e a identifica- ção entre elas, dadas as relações intrínsecas da linguagem estabelecidas pelas persona- gens, em um meio conturbado o qual não se preocupa com o fato em si, somente com as relações desgastadas e superficiais. Do mesmo modo, com o livro “ O Menino do Pijama Listrado”, fixamos a importância do entrosamento emissor e receptor pelo discurso comum às duas crianças, uma vez que, apesar do contexto conturbado em que as personagens Bruno e Shmuel se encon- tram, ambas passam a dominar a mesma língua: a da amizade e a da inocência. Vale a pena, portanto, investir no filme e no livro para enriquecermos nossos estudos deste primeiro momento do nosso trabalho, pois assim veremos que conseguimos nos co- municar, à medida que temos o mesmo propósito: estar em contato com o outro sempre, já que acreditamos que situações de comunicação coadjuvantes deste propó- sito acontecerão também para o resultado esperado: ser entendido, compreendido e interpretado. Vamos adiante! Pós-Graduação | Unicesumar 29 1. Com base no anúncio seguinte, reescreva-o de dois modos: 1. O primeiro, em que você deixará claro que prestará os serviços aponta- dos na placa; 2. O segundo, em que você necessitará de que alguém lhe preste tais ser- viços. Lembre-se de que a comunicação tem de ser clara, eficaz e a mais exata possível do que você necessita. Fonte: <http://www.placaserradas.com.br/images/211.jpg>. Acesso em: 28 jul. 2014. 2. Leia o texto seguinte: Parada cardíaca Essa minha secura essa falta de sentimento não tem ninguém que segure, vem de dentro. Vem da zona escura donde vem o que sinto. Sinto muito,sentir é muito lento. (Paulo Leminski) Pode-se afirmar que: I. O texto apresenta a função emotiva; II. Há presença da denotação ou função referencial, pelo uso da hipérbo- le “não tem ninguém que segure”; III. O texto se dirige ao interlocutor pela presença marcante da primeira pessoa. Então: a. Somente a I está correta. b. Somente a II está correta. c. Somente a III está correta. d. Somente a I e a II estão corretas e. Somente a II e a III estão corretas. atividades de autoestudo Análise do Discurso 30 Filme O Sexto Sentido Diretor: Manoj Nelliattu Shyamalan Ano: 1999 Sinopse: O psicólogo infantil Malcolm Crowe (Bruce Willis) abraça com dedicação o caso de Cole Sear (Haley Joel Osment). O garoto, de 8 anos, tem dificuldades de entrosamen- to no colégio e vive paralisado de medo. Malcolm, por sua vez, busca se recuperar de um trauma sofrido anos antes, quando um de seus pacientes se suicidou na sua frente. Livro Título: O Menino do Pijama Listrado Autor: John Boyne Editora: Companhia das Letras Sinopse: Bruno tem nove anos e não sabe nada sobre o Holocausto e a Solução Final contra os judeus. Também não faz ideia que seu país está em guerra com boa parte da Europa, e muito menos que sua família está envolvida no conflito. Na verdade, Bruno sabe apenas que foi obrigado a abandonar a espaçosa casa em que vivia em Berlim e a mudar-se para uma região desolada, onde ele não tem ninguém para brincar nem nada para fazer. Da janela do quarto, Bruno pode ver uma cerca, e para além dela centenas de pessoas de pijama, que sempre o deixam com frio na barriga. Em uma de suas andanças Bruno conhece Shmuel, um garoto do outro lado da cerca que curiosamente nasceu no mesmo dia que ele. Conforme a amizade dos dois se in- tensifica, Bruno vai aos poucos tentando elucidar o mistério que ronda as atividades de seu pai. O menino do pijama listrado é uma fábula sobre amizade em tempos de guerra, e sobre o que acontece quando a inocência é colocada diante de um monstro terrível e inimaginável. filme Pós-Graduação | Unicesumar 31 origem e histÓria da Linguagem Artigo por Levi Vargas Júnior - sábado, 2 de março de 2013 Há necessidade de comunicação entre os seres humanos. Há várias teorias que procu- ram explicar a origem e a história da linguagem humana. Não é fácil, porém, determinar com certeza a origem da linguagem. As primeiras tentativas de explicação da origem da linguagem são de natureza religio- sa, incluindo o relato da Torre de Babel. Na verdade, quase todas as sociedades antigas se valem de uma narrativa mítica para explicar a origem da linguagem ou a diversidade das línguas. Encontramos também explicações provenientes da filosofia, como veremos a seguir: O filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) supôs que a linguagem humana teria evoluído gradualmente, a partir da necessidade de exprimir os sentimentos, até formas mais complexas e abstratas. Para Rousseau, a primeira linguagem do homem foi o “grito da natureza”, que era usado pelos primeiros homens para implorar socorro no perigo ou como alívio de dores violentas, mas não era de uso comum. (SILVA, 2007) A linguagem propriamente dita só teria começado “quando as ideias dos homens come- çaram a estender-se e a multiplicar-se, e se estabeleceu entre eles uma comunicação mais íntima, procuraram sinais mais numerosos e uma língua mais extensa; multiplicaram as infle- xões de voz e juntaram-lhes gestos que, por sua natureza, são mais expressivos e cujo sentido depende menos de uma determinação anterior”. (ROUSSEAU, 1989, p. 35). Para outros pensadores, o gestual é anterior à linguagem falada. Com a necessidade de uma comunicação mais elaborada, a linguagem do gestual vai evoluindo para uma lin- guagem mais sofisticada. Nesse processo, a comunicação se torna possível pelo fato de os indivíduos adotarem o mesmo significado para um gesto evocando uma vivência anterior do próprio indivíduo. Segundo Mead (1967), quando o gesto chega a essa situação, converte-se no que chama- mos de “linguagem”, ou seja, um símbolo significante que representa certo significado. Com o passar do tempo, esse conjunto de gestos significantes dá lugar a formas mais elaboradas de linguagem, compondo um universo de discurso. Nesse estágio, o sentido já não é articulado apenas tendo por base a interiorização das expectativas de ação do outro. Há uma sofisticação da comunicação, que se torna possível pelo fato de os indivíduos adotarem o mesmo signifi- cado para o objeto dentro deste universo de discurso. (SILVA, 2007; cf. MEAD, 1967, p. 13-16). Alguns cientistas observam que o uso dos gestos está muito relacionado com as práticas de comunicação humana. Os gestos até mesmo nos ajudariam a desenvolver melhor o pensamento. Essas observações apontariam para a possibilidade de os gestos estarem na base da linguagem humana. Experiências feitas com chimpanzés fortaleceriam a hipótese de que os gestos ancestrais em determinados macacos poderiam fornecer uma base simbólica para a linguagem humana. Fonte: PORTAL EDUCAÇÃO - Cursos Online : Mais de 1000 cursos online com certificado. http://www. portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/36682/origem-e-historia-da-linguagem#ixzz3DG6Bx0Zi> acesso em: 12 de set. de 2014. Gestão de Negócios 32 relato de caso Em uma aula de redação, em um cursinho pré-vestibular, foi apresentada pela professora da disciplina uma proposta de composição de dissertação em até 30 linhas sob a seguinte temática: “O segredo do sucesso e os cami- nhos para chegar a ele”. Na época, um aluno muito estudioso compôs a redação, mas dado o número intenso de redações para corrigir, a professora passava o corretor gramati- cal no texto, por meio do uso da caneta vermelha, a sinalizar as principais falhas quanto à norma bem como escrevia algumas palavras-chave no que referia ao conteúdo do texto. Na redação do aluno mencionado, a professo- ra escreveu apenas a palavra “prolixo”. O aluno, por sua vez, a cada entrada da professora em sala, retirava-se. Em uma destas saídas rápidas do aluno, a professora resolveu perguntar- lhe por que ele não mais assistia às aulas de redação. Ele, de forma muito áspera, respondeu que perdera a vontade em virtude do que a professo- ra havia escrito no texto dele. Ela, não se lembrando efetivamente do que havia escrito, uma vez que eram muitos textos, pediu-lhe que, se possível, trouxesse o texto para que pudessem conversar sobre o ocorrido e, quem sabe, entrar em uma acordo e o aluno pudesse voltar às aulas. Assim ele re- solveu fazer. Ao chegar à professora com o texto em mão, mostrou-o a ela e esta, com muito cuidado, pediu que ele lesse o que ela escrevera quanto ao conteúdo. Ele então leu “prolixo” como se fosse” pro lixo”, ou seja, ele entendeu a que a professora pediu que jogasse a redação no lixo. Ela, percebendo que escre- vera uma palavra não pertencente ao contexto do aluno, com muito zelo, disse que ali estava escrito “prolixo”, com o X com som de KS, e explicou que aquela palavra significava” muitas informações que fugiam ao ponto princi- pal”. O aluno percebeu o equívoco cometido e pediu desculpas à professora e ela também o fez ao aluno. Os dois chegaram à seguinte conclusão: não conseguiram se comunicar porque ela havia usado um vocábulo muito di- ferente do contexto dele, e este, tão obcecado por julgar ter feito um bom texto, não conseguiu enxergar que o que entendera deveria ser escrito de forma, no mínimo, separada: “pro lixo”. Trata-se de uma fato que marca muitos mal-entendidos decorrentes do uso inadequado do código do receptor. Mas este caso, no entanto, teve um final feliz porque os dois cederam à língua para chegar a um entendimento. O caso é verídico e foi vivenciado pela autora.
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