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curso direito constitucional II

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Seja bem Vindo! 
 
Curso 
Direito II Constitucional 
CursosOnlineSP.com.br 
 Carga horári 60a: hs 
 
 
CONTEUDO 
 
 
 
 
Direito Constitucional: Parte Geral ............................................................................. Pág.6 
Controle de Constitucionalidade ................................................................................ Pág.19 
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 ........................................ Pág.29 
Direitos e Garantias Fundamentais ........................................................................... Pág.33 
Da Organização do Estado ......................................................................................... Pág.53 
Organização dos Poderes .......................................................................................... Pág.69 
Poder Legislativo ......................................................................................................... Pág.69 
Poder Executivo ........................................................................................................... Pág.89 
Poder Judiciário ........................................................................................................... Pág.93 
Ministério Público .......................................................................................................... Pág.108 
Do Estado de Defesa e Do Estado de Sítio ................................................................. Pág.113 
Da Ordem Econômica e Financeira ............................................................................. Pág.116 
Ordem Social ............................................................................................................... Pág.121 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. DIREITO CONSTITUCIONAL: PARTE GERAL 
 
1.1. CONSTITUCIONALISMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os movimentos constitucionalistas surgiram diante da necessidade 
de limitação do poder dos governantes. É por isso que as Constituições 
guardam normas impeditivas do poder autoritário, bem como resguardam os 
direitos e garantias fundamentais das pessoas. 
A origem do constitucionalismo é remota, podendo se apontar um 
tímido movimento com desenho constitucionalista entre os hebreus, ainda no 
estado teocrático. 
Mas, sem dúvida, o grande marco constitucionalista da Idade Média 
é a Magna Carta de 1215, na Inglaterra, enquanto que os marcos 
constitucionalistas da Idade Moderna são: as Constituições Francesa de 
1791 e a estado-unidense (norte-americana) de 1787. 
A Constituição brasileira de 1988, por sua vez, já apresenta 
elementos que a colocam dentre as Constituições da Idade Contemporânea, 
caracterizadas estas pelo totalitarismo constitucional, donde extraem-se 
normas com relevante cunho social, normas estas, em grande parte de 
caráter programático. 
 
 
1.2. NEOCONSTITUCIONALISMO 
 
Passado o tempo em que a Constituição destinava-se apenas a 
limitar o poder autoritário dos governantes e a resguardar direitos, sem 
maiores preocupações com a efetividade destes, o fenômeno 
neoconstitucionalista é aquele que visa dar eficácia real às normas 
constitucionais. 
O Direito Constitucional evolui paralelamente à sociedade. A 
Constituição, neste passo, deixa de ser vista como mero documento político 
para assumir status de norma jurídica. 
A profundidade das transformações operadas por esse novo direito 
constitucional são bem apresentadas por Luís Roberto Barroso, o qual indica 
como principais transformações: a centralidade dos direitos fundamentais, a 
força normativa da Constituição, a expansão da jurisdição constitucional e 
uma nova dogmática de interpretação da Constituição. Destes processos 
decorreu o fenômeno da constitucionalização do direito, isto é, da expansão 
normativa da Constituição sobre todos os ramos do direito. 
 
 
6 
 
1.3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
 
Matéria que merece atenção especial para o exame da OAB e 
demais concursos públicos se refere às classificações atribuídas às 
Constituições. Embora existam inúmeras classificações, verifica-se a 
incidência de questionamento apenas quanto às principais, que por isso 
serão primeiramente expostas. 
 
1) Classificação quanto à mutabilidade (ou estabilidade, ou, ainda, 
alterabilidade). 
 
A. Constituição rígida: a alteração do texto constitucional exige um 
processo legislativo mais dificultoso que o da legislação 
infraconstitucional. É rígida a Constituição brasileira de 1988, 
estando no artigo 60 a fundamentação da rigidez referida. 
 
Mas também é indicativo da rigidez constitucional: a) o quorum 
necessário para aprovação da emenda (três quintos), bem como a exigência 
de votação em dois turnos, em cada casa do Congresso Nacional; b) rol 
restrito de legitimados para apresentar iniciativa de projeto de emenda 
constitucional; c) impossibilidade de reapresentação, na mesma sessão 
legislativa, de matéria constante de projeto de emenda constitucional 
rejeitado ou havido por prejudicado; d) impossibilidade de apresentação de 
proposta de emenda constitucional tendente a modificar as matérias 
mencionadas pelo artigo 60, §4º (cláusulas pétreas). 
 
Em razão da imutabilidade de algumas matérias constitucionais 
(cláusulas pétreas), Alexandre de Moraes classifica a Constituição Federal 
de 1988 como SUPER-RÍGIDA, pois além da exigência de processo 
legislativo mais dificultoso para sua alteração, existem algumas matéria que 
não podem ser objeto de proposta de emenda quando estas pretenderem a 
abolição de algum conteúdo explicitado pelo artigo 60, §4º da CRFB/88. 
 
B.Constituição flexível: é aquela que permite a alteração de seu 
texto pelo mesmo processo legislativo utilizado para alteração 
da legislação infraconstitucional. Logo, pode-se afirmar que não 
há hierarquia entre a Constituição e a legislação 
infraconstitucional, pois no caso de contradição de uma lei nova 
com a Constituição, estar-se-á diante de hipótese de mera 
revogação. 
 
C. Constituição semi-rígida (ou semi-flexível): é a Constituição 
que exige um processo legislativo mais dificultoso quando se 
pretender a alteração de determinadas matérias que ela 
expressamente mencionar, e, para as demais, exige processo 
legislativo idêntico ao necessário para alteração da legislação 
infraconstitucional. 
 
 
7 
Pedro Lenza, em seu famoso “Direito Constitucional 
Esquematizado”, ainda elenca outras classificações, oportunas para 
concursos públicos. 
 
D. Constituição fixa: são as Constituições que somente podem 
ser alteradas por um poder idêntico ao que lhes criou, isto é, só 
há que se falar em alteração pelo constituinte originário. 
 
E. Constituição transitoriamente flexível: durante período 
determinado, a constituição pode ser alterada por um processo 
legislativo idêntico ao de alteração da legislação 
infraconstitucional. Findo esse período, a constituição apenas 
pode ser alterada por um processo mais dificultoso, passando, 
então, a ser classificada como rígida. 
 
F.Constituição imutável: é a Constituição absolutamente 
inalterável. 
 
2) Classificação quanto à origem. 
 
Atenção especial deve ser atribuída às duas primeiras. 
 
a) Constituição outorgada: é a Constituição imposta à sociedade 
por um agente ou grupo revolucionário que não recebeu do povo a 
legitimidade de representação. 
 
b) Constituição promulgada: é a Constituição elaborada por uma 
Assembléia Nacional Constituinte, eleita pelo povo e com 
legitimidade para atuar em nome dele. 
 
Novamente é de Pedro Lenza a menção a outras classificações, 
interessantes aos candidatos de concursos públicos, mas pouco relevantes 
para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil. 
 
c) Constituição cesaristaou bonapartista: é a Constituição 
formada (ratificada) por plebiscito popular sobre um projeto 
elaborado por Imperador ou Ditador. 
 
d) Constituição pactuada: é a Constituição fruto de um acordo 
entre forças políticas rivais, estabelecendo um ponto de equilíbrio 
precário, e por isso instável. É característica de determinadas 
épocas históricas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
3) Classificação quanto à forma. 
 
Esta classificação dispensa maiores delongas e é auto-explicativa. 
a) Constituição escrita (ou instrumental): todas as normas 
constitucionais estão organizadas em um único documento, como 
a Constituição Federal de 1988. 
 
b) Constituição costumeira (ou não-escrita): as normas de âmbito 
constitucional estão espalhadas pelo ordenamento jurídico, 
baseando-se em costumes e práticas jurisprudenciais. Exemplo 
típico é a Constituição inglesa. 
 
4) Classificação quanto à extensão. 
 
A Constituição Federal de 1988 é extensa, e muito. Basta recordar o artigo 
242, §2º, que estipula que permanecerá na órbita federal o Colégio Pedro II, 
situado na cidade do Rio de Janeiro/RJ. 
 
a) Constituição sintética: é a Constituição concisa, que veicula 
apenas princípios fundamentais e estruturais do Estado. 
 
b) Constituição analítica: ao oposto da sintética, a Constituição 
analítica insere no texto constitucional todos os assuntos tidos por 
fundamentais, o que estende demasiadamente seu conteúdo, tal 
como a Constituição Federal de 1988. 
 
5) Classificação quanto ao conteúdo. 
 
a) Constituição material: será considerado constitucional a norma 
que apresente conteúdo de tal natureza, independente de estar 
situada em textos esparsos. 
 
b) Constituição formal: é aquela que determina o caráter da norma 
por seu processo legislativo, como a Constituição Federal de 
1988. Assim, observados os requisitos para apresentação e 
aprovação de emenda constitucional, a norma terá o status de 
constitucional, ostente ou não matéria de tal relevância. 
Novamente pode se utilizar o Colégio Pedro II como exemplo, já 
que a disposição do artigo 242, §2º é constitucional por estar no 
bojo da Constituição Federal, pouco importando que tal dispositivo 
não seja materialmente relevante, do ponto de vista constitucional. 
 
Pedro Lenza opina que no Brasil há um sistema misto quando o 
assunto é o artigo 5º, §3º da CRFB/88. Segundo o autor, ao mesmo tempo 
em que a recepção de tratados e convenções que versem sobre direitos 
humanos apresenta características formais (exigência de quorum idêntico ao 
de aprovação de emendas constitucionais), apresenta também 
 
 
9 
 
 
características materiais, já que não basta o quorum, devendo o conteúdo (a 
matéria) do tratado ou convenção versar sobre direitos humanos. 
 
 
6) Classificação quanto ao modo de elaboração. 
 
a) Constituição dogmática: é a Constituição elaborada a partir de 
dogmas jurídicos e políticos contemporâneos, de uma só vez, por 
uma Assembléia Constituinte. 
 
b) Constituição histórica: são constituições formadas pelo decurso 
do tempo, aproximando-se das constituições costumeiras, posto 
que reflete os costumes e tradições da sociedade ao longo dos 
anos. 
 
7) Classificação quanto à dogmática. 
 
É importante não confundir a classificação quanto à dogmática (gênero) 
com Constituição dogmática (espécie, do gênero classificatório que tem por 
prisma o modo de elaboração). Mas elas não são classificações isoladas, 
vez que a presente (quanto à dogmática) decorre da classificação anterior, 
isto é, ao dizer que a Constituição Federal de 1988 se classifica como 
dogmática, quanto ao seu modo de elaboração, já que adota dogma político 
e jurídico contemporâneo (ao invés do histórico), torna-se necessário uma 
nova classificação para que se possa identificar se a Constituição se vale de 
uma única ideologia quando normativa suas matérias, ou se para uma 
mesma matéria várias ideologias são ao mesmo tempo utilizadas. Por isso a 
classificação abaixo. 
 
a) Constituição ortodoxa: é a Constituição formada por uma única 
ideologia. 
b) Constituição eclética: é a Constituição que concilia ideologias. Por 
isso se diz que a Constituição eclética se aproxima da 
compromissária, isto é, aquela que resguarda um compromisso entre 
interesses colidentes e convergentes, pautados pela parcimônia e 
tolerância de um Estado Democrático de Direito. Por exemplo, a 
CRFB/88 alberga a livre iniciativa e também a intervenção do Estado 
no domínio econômico, sem que se possa falar na adoção de apenas 
uma ideologia. Neste caso, adotados interesses divergentes, 
encontra-se na própria Constituição a necessária disciplinação da 
intensidade da incidência de um e outro, sem que se fale na 
supressão completa de qualquer deles. 
 
8) Classificação quanto à correspondência com a realidade. 
 
Esse critério de distinção dos textos constitucionais é uma criação 
de Karl Loewenstein e é apresentado por Pedro Lenza em seu “Direito 
Constitucional Esquematizado”. A presente classificação parte da ótica da 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
“correspondência entre a realidade política do Estado e o texto 
constitucional” (2009, p. 45). 
 
a) Constituição normativa: é aquela que disciplinam as relações 
políticas de forma que os agentes políticos se subordinam, 
efetivamente, às determinações do conteúdo constitucional, como 
a Constituição Federal de 1988. 
b) Constituição nominalista: é aquela que, embora apresentem 
disposições de limitação e controle das relações políticas, possui 
insuficiente concretização prática. 
c) Constituição semântica: é a que sequer possui a pretensão de 
limitar e controlar as relações políticas, servindo, na verdade, 
como mero instrumento das elites políticas para detenção de 
formal legitimidade para o exercício do poder. 
 
9) Classificação quanto ao sistema. 
 
a) Constituição principiológica: é a que possui a predominância de 
princípios no texto constitucional, dotados de alto grau de 
abstração, como a Constituição de 1988. 
b) Constituição preceitual: é aquela que possui a predominância 
de regras concretizadoras de princípios, revestidas de pouco grau 
de abstração. 
 
 
1.4. CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO 
 
Após classificar, é necessário conceituar a Constituição. Essa 
conceituação pode ser oferecida por diferentes óticas. Dentre as mais 
conhecidas estão os conceitos nos seguintes sentidos: a) sociológico, por 
Ferdinand Lassale; b) político, por Carl Schimitt; c) material e formal; d) 
jurídico; e e) culturalista. 
 
1) Constituição em sentido sociológico: é a “somatória dos 
fatores reais de poder dentro de uma sociedade”. Para 
Ferdinand Lassale, uma Constituição só seria legítima se 
representasse o efetivo poder social, como reflexo das forças 
sociais que o constituem. 
 
2) Constituição em sentido político: é a “decisão política do 
titular do poder constituinte”. Carl Shimitt distingue 
“Constituição” de “lei constitucional”, asseverando que 
Constituição só se refere à decisão política fundamental, ao 
passo que os demais dispositivos constantes do texto 
constitucional, que não contenham matéria de decisão política 
fundamental, são apenas “leis constitucionais”. 
 
 
 
11 
 
 
3) Constituição em sentido material e formal. 
 
Do ponto de vista material, o que deve ser levado em conta para 
definição da existência ou não de caráter constitucional de uma norma é o 
seu conteúdo, pouco importando a forma pela qual a mesma foi inserida no 
ordenamento jurídico. 
Do ponto de vista formal não interessa o conteúdo da norma, mas 
sim a forma pela qual a mesma foi inserida no ordenamento jurídico. 
Note-se que pelo exposto, se estuda ao mesmo tempo, o conceito 
de constituição e a classificaçãoda mesma, quanto ao seu conteúdo. 
 
4) Constituição em sentido jurídico. 
 
Hans Kelsen aloca a Constituição no mundo do dever-ser, e assim 
adota dois sentidos para o termo: a) sentido lógico-jurídico; b) sentido 
jurídico-positivo. 
No sentido lógico-jurídico, Constituição significa norma hipotética 
fundamental, a qual vale como fundamento lógico transcendental de 
validade da Constituição jurídico-positiva, sendo esta, por sua vez, o 
fundamento de validade de todas as normas infraconstitucionais, isto é, a 
Constituição em si, positivada. 
 
5) Constituição em sentido culturalista. 
 
Segundo esta conceituação, “Constituição é o produto de um fato 
cultural produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir” (LENZA, 
2009, p. 29). 
Em sentido culturalista, a Constituição é a união de fatores e valores 
de toda a sociedade, sendo ao mesmo tempo, condicionada pela cultura, e 
condicionante da mesma. As Constituições são um conjunto de normas 
fundamentais, condicionadas pela cultura total, e ao mesmo tempo 
condicionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, 
e reguladoras da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de 
exercício e limites do poder político (TEIXEIRA, apud LENZA, 2009, p. 29). 
 
 
1.5. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO 
 
Quanto aos autores que tratam dos elementos da Constituição, é de 
José Afonso da Silva, em seu “Curso de direito constitucional”, a mais 
completa classificação. As normas constitucionais albergam diversos 
valores, sendo divididas em grupos, de acordo com as finalidades que 
apresentam. Segundo o autor, os elementos da Constituição podem ser 
separados em 5 grupos: 
 
1) Elementos orgânicos: são as normas que regulam a estrutura 
do Estado e do poder. Por exemplo: Título III – Da organização do 
Estado; Título IV – Da organização dos Poderes e do Sistema de 
Governo. 
 
 
12 
 
 Elementos limitativos: são as normas que limitam a atuação 
do poder estatal. Por exemplo: Título II – Dos direitos e garantias 
fundamentais. 
 Elementos socioideológicos: são as normas que revelam o 
compromisso entre o Estado individualista e o intervencionista 
(social). Por exemplo: Título II, Capítulo II – Dos direitos sociais; 
Título VII – Da ordem econômica e financeira; Título VIII – Da 
ordem social. 
 Elementos de estabilização constitucional: são as normas 
destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, bem 
como a defesa do Estado, da Constituição e das instituições 
democráticas. Por exemplo: Artigo 102, I, “a” - Ação direta de 
inconstitucionalidade e a declaratória de constitucionalidade; Título 
III, Capítulo VI – Da intervenção; Título V, Capítulo I – Do Estado 
de Defesa e do Estado de Sítio. 
 Elementos formais de aplicabilidade: são normas que 
estabelecem regras de aplicação das constituições. Por exemplo: 
Preâmbulo, Artigo 5º, §1º e ADCT. 
 
1.6. PODER CONSTITUINTE 
 
Quando se classificou a Constituição quanto à origem, viu-se que a 
mesma pode ser outorgada, promulgada, pactuada ou cesarista (estas duas 
últimas, pouco relevantes para o exame da OAB). Qualquer que seja a forma 
pela qual a Constituição ingressa no ordenamento jurídico, ela advém de um 
poder constituinte, tenha ele a legitimidade para atuar em nome do povo ou 
não. 
Dessa forma, é originário o poder constituinte que inaugura uma 
ordem jurídica, lhe sendo características, segundo Luiz Alberto de Araújo e 
Vidal Serrano N. Júnior, a autonomia, a inicialidade (já que há inauguração 
de uma nova ordem, com a revogação da Constituição anterior e das 
normas infraconstitucionais incompatíveis com a nova Constituição), a 
ilimitação, e a incondicionalidade. 
Sabendo-se que a Constituição Federal de 1988 é fruto de 
promulgação e que a mesma foi elaborada pela Assembléia Nacional 
Constituinte (representante do povo brasileiro), ali atuou o Poder Constituinte 
Originário. 
Após a promulgação da Constituição elaborada pelo constituinte, 
extinguiu-se o poder constituinte originário e abriu-se espaço para o Poder 
Constituinte Derivado, que se subdivide em Reformador e Decorrente. O 
poder constituinte reformador é o responsável por eventuais alterações no 
texto constitucional, enquanto que o decorrente surge em razão do pacto 
federativo e é responsável pela organização dos Estados-membros, através 
de Constituições Estaduais, as quais devem guardar simetria com a 
Constituição Federal. Assim, o princípio da simetria indica que os princípios 
magnos e os padrões estruturantes do Estado, segundo a disciplina da 
Constituição Federal, sejam, tanto quanto possível, objeto de reprodução 
simétrica nos textos das Constituições estaduais (ARAUJO, 2005, p. 14,15). 
Em outras palavras, o princípio da simetria indica que as Constituições dos 
 
13 
 
 
Estados-membros devem estar atentas e reproduzir os elementos de maior 
importância, consagrados pelo constituinte de 1988. 
 
 
1.7. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
 
As normas constitucionais têm eficácia jurídica (ou formal) e social 
(ou material). Tem eficácia social a norma que efetivamente surte efeitos 
práticos, isto é, aquela que de fato passa do plano do dever-ser para o ser. 
Já a eficácia jurídica indica: a) a aptidão para produção de efeitos diante de 
situações concretas; e b) a pronta produção de efeitos (jurídicos), uma vez 
que seu simples ingresso no ordenamento já implica na revogação das 
normas incompatíveis. 
José Afonso da Silva, em sua obra “Aplicabilidade das normas 
constitucionais”, informa que a eficácia jurídica designa a qualidade de 
produzir, em maior ou menor grau, efeitos jurídicos, ao regular, desde logo, 
as situações, relações e comportamentos de que cogita. O alcance dos 
objetivos da norma constitui a efetividade. Esta é, portanto, a medida da 
extensão em que o objetivo é alcançado, relacionando-se ao produto final 
(SILVA, 1998, p. 66). 
É de José Afonso da Silva a classificação mais aceita quanto à 
aplicabilidade das normas constitucionais, estando divididas em: 
 
1) normas de eficácia plena: são as que produzem todos os 
efeitos necessários imediatamente após sua entrada em vigor. Não 
dependem de qualquer atividade legislativa infraconstitucional e não podem 
ter seu alcance restringido por ela ou pela Administração Pública. Por 
exemplo, os artigos 19 e 20 da CRFB/88. 
 
2) normas de eficácia contida: também chamadas, por Michel 
Temer, de normas de eficácia restringível, são as que produzem todos os 
efeitos necessários imediatamente após sua entrada em vigor, mas que 
podem ter seu alcance restringido pelo legislador infraconstitucional ou pela 
Administração Pública. 
Há que se estar atento de que há possibilidade de restrição do 
direito, mas não de sua supressão. Por melhor exemplo de norma de 
eficácia restringível (ou contida) tem-se o artigo 5º, inciso XIII, da CRFB/88 
(é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer) e a atual exigência do 
exame da OAB para inscrição no respectivo quadro de advogados. 
 
3) normas de eficácia limitada: são as que não produzem seus 
efeitos imediatamente, necessitando da atuação do legislador 
infraconstitucional ou da Administração Pública para que possa surtir os 
efeitos necessários. Sem a atuação do legislador infraconstitucional ou da 
Administração Pública, estas normas surtem efeitos mínimos, mas ainda 
assim podem ser utilizadas como fundamento à declaração de 
inconstitucionalidade de normas que atentem contra elas. 
 
 
 
14 
 
José Afonso da Silva divide as normas de eficácia limita em dois 
grupos: a) normas de princípio institutivo (ou organizatório); e b) normas de 
princípio programático. As primeiras indicam esboços gerais sobre 
instituições eórgãos, as quais serão organizadas definitivamente quando 
forem efetivamente implantadas. Por exemplo, o artigo 224 da CRFB/88 
(para os efeitos do disposto neste capítulo, o Congresso Nacional instituirá, 
como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da 
lei). Já as normas de princípio programático, como sugere a expressão, 
apresentam programas de atuação, em sentido amplo, permitindo a 
integração do legislador infraconstitucional quando de sua disciplinação, a 
qual deve estar sempre atenta às finalidade traçadas pelo constituinte ao 
eleger princípios de natureza programática. Por exemplo, artigos 196 (direito 
à saúde) e 205 (direito à educação), ambos da CRFB/88. 
 
 
1.8. INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
Para interpretação do texto constitucional, ao lado dos métodos 
tradicionais de interpretação de normas jurídicas, contribuem princípios 
específicos. Por métodos tradicionais entenda-se a interpretação literal, a 
sistemática, a histórica e a teleológica. Assim, ao lado destes, será 
imperiosa a utilização de princípios de índole estritamente interpretativa, 
quando o objeto de análise for o Direito Constitucional. 
 
Dentre os princípios interpretativos elencados pela doutrina, são os 
principais: 
 
1) Princípio da unidade da Constituição. 
A Constituição deve ser sempre interpretada como um todo, 
devendose afastar aparentes antinomias. O princípio da unidade deve ser 
considerado sempre que alguma tensão entre normas constitucionais se 
fizer presente, harmonizando-as dentro da unidade que compõem. 
É em razão do princípio da unidade que não se aplica às normas 
constitucionais, o elemento interpretativo de hierarquia, sendo, ademais, 
extremamente frágil tentar resolver aparentes antinomias constitucionais 
pelos critérios da cronologia (Constituinte Originário versus Constituinte 
Originário), ou da especialidade (já que a maioria das normas constitucionais 
é dotada de proposições gerais e não específicas). 
Por essa razão, não pode uma norma constitucional originária ser 
declarada inconstitucional em face doutra que possua a mesma natureza, 
mas o que não impede que uma norma constitucional reformadora (fruto da 
atuação do Constituinte Derivado) seja declarada inconstitucional em face 
doutra, fruto da atuação do Constituinte Originário, já que neste caso a 
natureza das normas é diversa (Constituinte Originário versus Constituinte 
Derivado). 
 
2) Princípio do efeito integrador. 
Na interpretação e resolução de problemas, deve-se dar preferência 
aos critérios que favoreçam a integração política e social e o reforço da 
 
 
15 
 
 
 
unidade política (em razão disso, é normal integrar o presente princípio ao 
princípio da unidade). 
O princípio do efeito integrador é decorrência de uma Constituição 
que prega uma sociedade plural, por isso deve o intérprete integrar as partes 
com interesses antagônicos, tendo em mente o presente conceito. 
 
3) Princípio da máxima efetividade (ou eficiência ou da 
interpretação efetiva). 
O sentido da norma constitucional deve ter a mais ampla 
efetividade social. 
As normas jurídicas comportam análise em três órbitas distintas: da 
existência, da validade e da eficácia. No entanto, atualmente é pacífico a 
existência de uma quarta órbita, qual seja, a da efetividade. Efetividade 
significa a realização do Direito, a atuação prática da norma, fazendo 
prevalecer no mundo dos fatos os valores e interesses por ela tutelados. É a 
aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser 
da realidade social. 
 
4) Princípio da justeza (ou da conformidade funcional). 
O intérprete máximo da Constituição (o Supremo Tribunal Federal), 
ao concretizar a norma constitucional, será responsável por estabelecer sua 
força normativa, não podendo alterar a repartição de funções 
constitucionalmente estabelecidas pelo Constituinte Originário. 
 
5) Princípio da concordância prática (ou da harmonização). 
Os bens jurídicos constitucionalizados devem coexistir de forma 
harmônica quando em colisão ou concorrência, buscando-se evitar o 
sacrifício de um em detrimento do outro, sob o fundamento de 
inexistência de hierarquia entre os princípios. 
 
6) Princípio da força normativa. 
Na solução dos problemas jurídico-constitucionais deve-se dar 
prevalência aos pontos de vista que, tendo em conta os pressupostos da 
Constituição (normativa), contribuem para a melhor eficácia da lei 
fundamental. Conseqüentemente, deve-se dar primazia às soluções 
hermenêuticas que, compreendendo a historicidade das estruturas 
constitucionais, possibilitam a atualização normativa, garantido, ao mesmo 
tempo, eficácia e permanência. 
 
7) Princípio da proporcionalidade (ou razoabilidade). 
Deriva dos idéias de justiça, equidade, prudência, bom senso, 
moderação, proibição do excesso e outros, precedendo e condicionando a 
positivação jurídica, inclusive no âmbito constitucional, e, ademais, enquanto 
princípio geral de direito, serve como regra interpretativa para todo o 
ordenamento jurídico. 
 
8) Princípio da supremacia da Constituição. 
Com a promulgação da Constituição, a soberania popular se 
converte em supremacia constitucional. A Constituição será sempre superior 
 
 
16 
 
 
 
às demais normas do sistema. O controle de constitucionalidade é o meio 
pelo qual a Constituição assegura que nenhuma outra norma lhe infringirá o 
sentido. 
 
9) Princípio da presunção de constitucionalidade das leis e 
atos normativos. 
As leis e atos normativos desfrutam de presunção de validade, isso 
porque elaboradas com base na atuação legítima de agentes públicos 
eleitos, os quais tem o dever de atuar na promoção do interesse público e no 
respeito aos princípios constitucionais. 
Essa presunção é iuris tantum, admitindo prova em sentido oposto, 
portanto. 
O Poder Judiciário não é o único que atua na interpretação da 
Constituição, embora possua a última palavra sobre a mesma. Logo, 
Legislativo e Executivo também o fazem, devendo o Judiciário considerar 
tais interpretações sem se opor (salvo, se provocado). A presunção de 
constitucionalidade é uma decorrência do princípio da separação de 
Poderes, e funciona como fator de autolimitação da atuação judicial. 
 
10) Princípio da interpretação conforme a Constituição. 
Esse princípio alberga, simultaneamente, uma técnica de 
interpretação e um mecanismo de controle de constitucionalidade. 
Diante de normas plurissignificativas ou polissêmicas (que possuem mais de 
um significado e, portanto, albergam mais de uma interpretação), deve-se 
proferir a interpretação que mais se aproxime da Constituição. 
Em resumo, a interpretação conforme a Constituição pode envolver 
a mera interpretação adequada dos valores e princípios constitucionais, a 
declaração de inconstitucionalidade de uma das interpretações possíveis de 
uma norma ou, ainda, a declaração de não-incidência da norma a 
determinada situação de fato, por importar em violação da Constituição. 
 
1.9. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL 
 
A modificação da Constituição pode ocorrer por duas vias: a) formal; 
b) informal. A via formal se manifesta por meio da reforma constitucional, por 
meio dos procedimentos previstos na própria Constituição. Já a alteração 
pela via informal ocorre pela mutação constitucional, mecanismo que permite 
a transformação do sentido e do alcance das normas da Constituição, sem 
que se opere, no entanto, qualquer modificação de seu texto. O presente 
tópico será apresentado segundo Paulo Roberto Barroso, que bem 
apresenta os mecanismos de mutação constitucional, quais sejam: 1) 
interpretação (judicial e administrativa); 2) atuação do legislador; 3) 
costumes. 
A mutação constitucional por via de interpretação consiste na 
mudança de sentido da norma, em contraste comentendimento 
preexistente. A mutação constitucional ocorrerá quando se estiver diante da 
alteração de uma interpretação previamente dada. No caso da interpretação 
judicial, haverá mutação constitucional quando, por exemplo, o STF atribuir a 
determinada norma constitucional sentido diverso do que fixara 
 
 
17 
 
 
anteriormente, seja pela mudança da realidade social, seja por uma nova 
percepção do direito. A mutação constitucional é muito mais profunda que a 
mera alteração de jurisprudência, a qual pode ocorrer com mera alteração 
do ponto de vista ou alteração na composição do tribunal. 
Haverá mutação constitucional por via legislativa quando, por ato 
normativo primário, procurar-se modificar a interpretação que tenha sido 
dada a alguma norma constitucional. A mutação terá lugar se, vigendo um 
determinado entendimento, a lei vier a alterá-lo. 
O costume como fonte do direito positivo assenta-se em uma 
prática reiterada, reconhecidamente válida e, em certos casos, até mesmo 
obrigatória. O nepotismo no Judiciário era um exemplo de costume contrário 
à Constituição, afastado por ato administrativo (Resolução n.º 7 do Conselho 
Nacional de Justiça), o qual fora declarado constitucional pelo Supremo 
Tribunal Federal (ADC n.º 12). Outra prática que pode ser apontada o 
costume como instrumento de mutação constitucional é a expansão dos 
poderes das CPI's, tendo passado a se admitir a determinação de 
providências que antes eram rejeitadas pela doutrina e jurisprudência, como 
a quebra de sigilos bancários, de dados telefônicos e fiscais. 
 
 
 
1.10. FENÔMENOS DECORRENTES DE UMA NOVA ORDEM 
CONSTITUCIONAL 
 
Com o surgimento de uma nova ordem constitucional, revoga-se a 
Constituição anterior, naturalmente. Mas qual será o tratamento quanto às 
normas infraconstitucionais? Acerca do tema serão expostos sucintamente 
os fenômenos que decorrem de um novo texto constitucional, em relação à 
legislação infraconstitucional que lhe é anterior. 
 
1) Recepção: com o surgimento de uma nova ordem constitucional 
não ocorre a revogação de toda a legislação infraconstitucional que lhe era 
anterior. Só há que se falar em revogação das normas que guardarem 
incompatibilidade com o novo texto constitucional. Por exemplo, o Código 
Tributário Nacional foi aprovado como lei ordinária sob a vigência da 
Constituição anterior, mas como era compatível com a Constituição Federal 
de 1988 foi recepcionado como se lei complementar fosse, já que a nova 
Constituição exigia esta espécie de lei para disciplinar a matéria contida no 
artigo 146 da CRFB/88. 
 
Importante frisar que quando há incompatibilidade entre a nova 
ordem constitucional e a legislação infraconstitucional estar-se-á diante de 
hipótese de revogação, não se admitindo no Brasil a chamada 
inconstitucionalidade superveniente. 
 
2) Repristinação: não é admitida no Brasil. Significa a revalidação de 
norma incompatível com a Constituição anterior, mas compatível com a 
vigente. A revalidação só é possível, no atual ordenamento jurídico 
brasileiro, com expressa previsão nesse sentido, não se operando 
automaticamente (caso em que ter-se-ia a ocorrência do fenômeno 
repristinatório, não admitido no país). 
 
18 
 
3) Desconstitucionalização: possui pouca relevância prática. 
Ocorreria a desconstitucionalização se diante de uma norma constante em 
Constituição anterior, não abordada pela nova Constituição, voltasse à 
vigência na nova ordem constitucional como lei ordinária. Na prática, a 
Constituição nova revoga completamente a Constituição anterior, ainda que 
não mencione determinadas matérias que constavam na anterior. 
 
2. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
Partindo da classificação da Constituição Federal de 1988 quando à 
mutabilidade, tem-se que a mesma é rígida, como já se teve oportunidade 
de expor. Assim sendo, e como também já se expôs, segundo o princípio da 
supremacia da Constituição, a mesma está posta no ápice da pirâmide 
normativa vigente no Brasil. 
Todo ato normativo, dessa forma, deve guardar compatibilidade 
(formal e material) com a Constituição, sob pena de ser eliminado (controle 
repressivo) do ordenamento ou de sequer ingressar nele (controle 
preventivo). 
Se diz que há compatibilidade formal com a Constituição quando o 
ato normativo respeita as regras relativas ao processo legislativo. Por 
exemplo, se uma lei complementar for aprovada mediante maioria simples, 
contrariando o artigo 69 da CRFB/88, que exige quorum de maioria absoluta, 
tal lei será inconstitucional, sendo formal a natureza da inconstitucionalidade. 
Já a compatibilidade material diz respeito ao conteúdo da norma, que deve 
observar e atender às determinações constitucionais, sob pena de ser 
taxada de inconstitucional. Por exemplo, uma lei que estipule a perda da 
nacionalidade aos brasileiros natos que forem condenados por tráfico de 
drogas será inconstitucional, sendo material a natureza da 
inconstitucionalidade, por lesão direta ao artigo 5º, XLVII, alínea “d” 
CRFB/88, que veda a pena de banimento no país. 
 
2.1 CONTROLE PREVENTIVO DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
É exercido sobre o projeto de lei (em sentido amplo), tendo por 
objetivo evitar o ingresso de norma inconstitucional no ordenamento. Pode 
ser exercido pelo Poder Legislativo, Executivo ou Judiciário. 
O Poder Legislativo exerce o controle preventivo quando analisa os 
projetos de leis em suas comissões de constituição e justiça, as quais tem 
poder para, uma vez emitido parecer pela inconstitucionalidade, gerar a 
rejeição e arquivamento definitivo do projeto inconstitucional. 
O Poder Executivo exerce o controle preventivo quando o 
Presidente da República veta projeto inconstitucional submetido à sua 
análise (para sanção ou veto). 
Por fim, o Poder Judiciário também exerce controle preventivo de 
constitucionalidade quando julga mandado de segurança, impetrado por 
parlamentar em razão, por exemplo, de projeto de emenda constitucional 
tendente a abolir cláusula pétrea. 
Possui legitimidade para impetração de mandado de segurança, 
nesta hipótese, apenas o parlamentar, faltando legitimidade ad causam 
 
19 
 
 
 
(segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal) para terceiros que 
pretendam o mesmo. 
 
2.2 CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
É exercido sobre a lei (em sentido amplo) e não mais sobre o 
projeto da mesma. Pedro Lenza menciona três formas de controle repressivo 
em seu “Direto Constitucional Esquematizado”, quais sejam: a) o político; b) 
o jurisdicional; e c) o híbrido. 
O controle político é exercido por órgão diverso dos três poderes, o 
que não acontece no Brasil, órgão este que se prestaria à garantia da 
supremacia da Constituição. 
O controle jurisdicional é método adotado pelo Brasil, segundo 
o qual cabe ao Poder Judiciário a guarda da supremacia da Constituição, 
seja pela via concentrada (através do Supremo Tribunal Federal), seja pela 
via difusa (através de qualquer juiz ou tribunal). 
Por fim, o controle híbrido, como o nome sugere, é um misto dos 
dois sistemas anteriores, garantindo-se a supremacia da Constituição por 
um órgão específico, apartado dos três poderes, bem como pelo Poder 
Judiciário. 
Em sendo relevante ao candidato do exame da OAB, bem como de 
concursos públicos, o sistema atualmente vigente no país (o de controle 
jurisdicional), cabe análise das vias desse controle. 
Antes, porém, é importante mencionar um importante princípio, alvo 
de reiteradas questões: o princípio da reserva de plenário. Segundo este 
princípio, os tribunais (inclusive o STF) somente podem declarar a 
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo pelo voto da maioria 
absoluta de seus membros ou do órgão especialmente designado para 
análise de constitucionalidade, seja pela via difusa,seja pela via 
concentrada. 
O fundamento de mencionado princípio é o artigo 97 da CRFB/88, 
mas há uma exceção, dispensada-se a reserva de plenário para declaração 
de inconstitucionalidade quando o Supremo Tribunal Federal já tenha 
declarado a inconstitucionalidade da mesma lei ou ato normativo, sendo 
indiferente se o fez pela via difusa ou pela via concentrada. 
 
2.3 CONTROLE JURISDICIONAL DE CONSTITUCIONALIDADE 
PELA VIA DIFUSA 
 
Na via difusa, o que se pretende é a resolução de um conflito, onde 
os interessados se valem do Poder Judiciário para prestação da atividade 
jurisdicional destinada à pacificação social. A declaração de 
inconstitucionalidade, nestes casos, não é o objetivo principal da parte que a 
pleiteia, mas apenas meio à obtenção da prestação pretendida. 
Qualquer via processual pode dar ensejo à pretensão de declaração 
de inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, sendo que está 
declaração deve anteceder a decisão de mérito que se pretende, posto que 
lhe é prejudicial. 
 
 
 
20 
 
Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade, nesses casos, é 
inter pars (entre as partes), decorrendo daí a explicação do motivo pelo qual 
a via difusa é comumente chamada de via de exceção, porque excepciona 
as partes envolvidas do restante da sociedade. E o restante da sociedade 
continua se submetendo a norma declarada inconstitucional, já que não 
afetada pela declaração processual de natureza inter pars. 
Qualquer juiz ou tribunal pode efetuar a declaração de 
inconstitucionalidade, e no caso de tribunal, deve-se estar atento ao princípio 
da reserva de plenário (art. 97 da CRFB/88). 
Declarada a inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal na 
via difusa, deve o mesmo comunicar tal decisão ao Senado Federal, o qual 
pode (ou não) suspender a eficácia da norma (art. 52, X da CRFB/88), 
quando então toda a sociedade será afetada, não pela decisão do processo 
em que se prolatou a primeira declaração de inconstitucionalidade, o qual 
continua possuindo apenas eficácia inter pars, mas pela Resolução do 
Senado Federal, essa sim dotada de eficácia erga omnes. 
É importante frisar, portanto, que a atuação do Senado Federal 
quando a edição de Resolução que suspenda uma lei ou ato normativo é 
discricionária, não estando vinculado a decisão do Supremo Tribunal 
Federal que declarou a inconstitucionalidade quando do julgamento de 
determinado caso concreto. 
 
2.4. CONTROLE JURISDICIONAL DE CONSTITUCIONALIDADE 
PELA VIA CONCENTRADA 
 
Na via concentrada pode-se controlar a constitucionalidade de leis e 
atos normativos através de três instrumentos: 
1) a ação declaratória de inconstitucionalidade (ADI); 
2) a ação declaratória de constitucionalidade (ADC); 
3) a ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF). 
A ADI e a ADPF foram previstas pelo constituinte originário, já a 
ADC é criação do constituinte derivado, fruto da Emenda 
Constitucional nº 3, de 17 de março de 1993. 
 
2.4.1. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INCONSTITUCIONALIDADE 
 
A ADI (ação declaratória de inconstitucionalidade) apresenta-se 
mediante três espécies: 
 
1. ADI genérica; 
2. ADI por omissão; 
3. ADI interventiva. 
 
2.4.1.1. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INCONSTITUCIONALIDADE 
GENÉRICA 
 
É processo de cunho objetivo, isto é, não apresenta a subjetividade 
característica de processos judiciais comuns, manifestada pelo interesse 
concreto e antagônico das partes sobre determinado bem ou direito. Nos 
 
21 
 
 
processos subjetivos, a lei ou ato normativo serve de fundamento à 
obtenção do bem ou direito que se pretende, sendo que eventual pretensão 
à declaração de inconstitucionalidade é apenas meio para se alcançar o 
objeto almejado. Já no processo objetivo, a pretensão é a declaração de 
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo, pura e simplesmente. Em 
sentido estrito e imediato, o objetivo da ação declaratória de 
inconstitucionalidade é a defesa da Constituição e de sua supremacia. Na 
ação direta de inconstitucionalidade se discute uma lei em tese, fora de 
hipóteses concretas, não admitindo-se desistência e restringindo-se a 
possibilidade de intervenção de terceiros. 
O artigo 7º da Lei n.º 9.868/99 (Lei que dispõe sobre o processo e 
julgamento da ADI e ADC perante o STF) estipula que não se admitirá 
intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade, 
enquanto que seu parágrafo segundo dá conta que o relator, considerando a 
relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por 
despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo 
anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades. Trata-se da figura 
conhecida como amicus curie (amigo da corte), cujo objetivo é auxiliar os 
julgadores, fornecendo elementos sobre o assunto discutido para contribuir 
no convencimento dos mesmos. A admissão do “amigo da corte” satisfaz o 
interesse constitucional de pluralidade, permitindo que experts apresentem 
diferentes opiniões sobre um mesmo assunto, visando conferir aos 
julgadores visões sob todas as óticas existentes. 
Quanto aos legitimados para ajuizamento da ADI, há divisão em 
dois grupos: os neutros (ou universais) e os interessados. 
Os legitimados interessados, para discutir a inconstitucionalidade 
de uma lei ou ato normativo, precisam demonstrar pertinência temática, 
isto é, a relação de causalidade entre as finalidades e atribuições do 
órgão/entidade com a lei ou ato normativo que se pretende seja declarado 
inconstitucional. Sem se afastar do conceito de processo objetivo, que 
discute uma lei em tese, os legitimados interessados devem demonstrar que 
há pertinência para a declaração de inconstitucionalidade que pretendem em 
relação a sua área de atuação. Assim, são legitimados interessados: 
a) Mesa da Assembléia Legislativa ou Mesa da Câmara Legislativa 
do 
Distrito Federal (art. 103, IV da CRFB/88); 
b) Governador de Estado ou Governador do Distrito Federal (art. 
103, V da CRFB/88); 
c) Partido político com representação no Congresso Nacional (art. 
103, VII da CRFB/88); 
d) Confederação sindical ou entidade de classe de âmbito 
nacional (art. 103, IX da CRFB/88). 
Doutro lado, os legitimados universais não precisam demonstrar 
qualquer pertinência temática, podendo ajuizar ADI para discussão de 
qualquer lei ou ato normativo. Dessa forma, são legitimados universais: 
a) Presidente da República (art. 103, I da CRFB/88); 
b) Mesa do Senado Federal (art. 103, II da CRFB/88); 
c) Mesa da Câmara dos Deputados (art. 103, III da CRFB/88); 
d) Procurador-Geral da República (art. 103, VI da CRFB/88); 
 
22 
 
e) Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (art. 103, 
VII da CRFB/88). 
Cabe ação declaratória de inconstitucionalidade de lei ou ato 
normativo federal, estadual ou distrital (desde que o Distrito Federal esteja 
em exercício de competência típica dos Estados-membros e não dos 
municípios). 
Estipula o artigo 102, I, “a”, da CRFB/88: compete ao Supremo 
Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe 
processar e julgar, originariamente, a ação direta de inconstitucionalidade de 
lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal. 
Fica claro, pois, que não cabe ADI de lei ou ato normativo 
municipal contestado em face da Constituição Federal. Quanto a este, cabe 
apenas o controle difuso de constitucionalidade, isto é, a discussão sobre a 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo municipal só chegará ao STF 
via recurso extraordinário, manejado em processo de natureza subjetiva. 
Observe-se que se a lei ou ato normativo municipal for questionada em 
relação a Constituição Estadual, cabe ADI, devendo ser a mesma ajuizadapela o Tribunal de Justiça local. Repise-se, não cabe ADI, seja perante o 
STF, seja perante o TJ local de lei ou ato normativo municipal questionado 
em face da Constituição Federal. 
Porém, há que se estar atento para uma questão. Se a Constituição 
Estadual apenas reproduziu dispositivo(s) da Constituição Federal, e a lei ou 
ato normativo municipal contraria mencionado(s) dispositivo(s), cabe ADI 
perante o TJ local (evidentemente, já que há contrariedade do ato municipal 
com a Constituição Estadual), e, após proferida sentença, cabe Recurso 
Extraordinário, já que a Constituição Estadual apenas reproduzia conteúdo 
expresso da Constituição Federal. Nesse caso, o STF analisará a 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo municipal em face da 
Constituição Federal, e note-se que estar-se-á diante de hipótese de 
controle concentrado de constitucionalidade, já que o recurso extraordinário 
decorre de sentença prolatada em ADI ajuizado perante o TJ local. 
Portanto, a única hipótese em que o STF analisa a 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo municipal contestado em face 
da Constituição Federal, em sede de controle concentrado de 
constitucionalidade, é aquele em que se interpõe recurso extraordinário da 
sentença prolatada em ADI ajuizada perante o TJ local, cuja Constituição 
Estadual reproduziu dispositivo da Constituição Federal. 
 
 
MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DECLARATÓRIA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE 
 
Tanto a Constituição Federal (art. 102, I, alínea “p”) como a Lei n.º 
9.868/99 admitem a concessão de decisão de natureza cautelar em sede de 
ADI. 
Para concessão de decisão dessa natureza, salvo período de 
recesso, exige-se maioria absoluta na votação. De regra, o efeito da 
decisão é ex nunc, mas pode ser ex tunc (retroativo) por expressa 
 
23 
 
 
manifestação nesse sentido. Há, ainda, importante efeito típico da decisão 
de natureza cautelar concedida em ADI, que é o retorno da aplicação da 
legislação anterior, se existente, enquanto suspensos os efeitos da lei ou ato 
normativo questionado perante o STF. Esse efeito é regra na decisão que 
concede medida de natureza cautelar em ADI e tem nítido efeito 
repristinatório (pois, se a é nula, não teve o condão de revogar a que lhe era 
anterior), mas pode ser afastado por expressa manifestação em sentido 
contrário. 
Pleiteada a declaração de inconstitucionalidade, pode o tribunal 
declará-la de forma total ou parcial. Pode-se declarar inconstitucional a 
completude de uma lei ou ato normativo, apenas um dispositivo, um inciso 
ou uma palavra. Trata-se do princípio da parcelaridade. Também pode-se 
declarar a inconstitucionalidade em uma forma de aplicação do texto, caso 
em que verificar-se-á declaração de inconstitucionalidade sem redução 
de texto, isto é, o tribunal declara que o texto é constitucional, sendo que o 
que contraria a Constituição é determinada forma de aplicação 
(interpretação) do mesmo, declarando que é esta forma de aplicação 
(interpretação) que é inconstitucional. 
Ademais, como já se mencionou quando da tratativa dos princípios 
interpretativos da Constituição, a interpretação conforme a Constituição 
permite ao STF, diante de várias interpretações aplicadas a um mesmo 
dispositivo, declarar qual delas está em consonância com Constituição 
Federal, isto é, qual é a interpretação constitucional. Luiz A. D. Araújo e 
Vidal S. N. Júnior bem salientam que essa declaração sobre qual 
interpretação é constitucional deve sempre guardar contexto com seu 
enunciado normativo, expresso pelo legislador, caso contrário o Judiciário 
ferirá o princípio da separação de poderes, pois estará atuando como 
legislador positivo, função que não lhe foi atribuída desta forma. Há que se 
lembrar que o STF, atuando no controle de constitucionalidade, tem 
legitimidade apenas para atuar como legislador negativo, isto é, nulificar 
conteúdo normativo contrário à Constituição, mas não criar novo conteúdo 
em substituição àquele, função esta do Poder Legislativo. 
A eficácia da decisão que declara a inconstitucionalidade de uma lei 
tem efeito vinculante, é erga omnes e ex tunc, via de regra, mas seus efeitos 
podem ser modulados, isto é, podem ser ex nunc ou podem ainda ter uma 
data fixada para manifestação de seus efeitos, casos em que a modulação 
deverá ser aprovada com quorum de 2/3 (dois terços), pelo Supremo 
Tribunal Federal. 
 
2.4.1.2. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INCOSTITUCIONALIDADE 
POR OMISSÃO 
 
A atividade legislativa é um dever do legislador e não uma 
faculdade. A Constituição Federal elenca diversas hipóteses que carecem de 
atuação do Poder Público para efetivamente surtirem efeito. Assim, a não-
atuação do Poder competente pode deixar o povo em situação de dano, ou 
risco de dano, daí a criação, pelo constituinte, da ADI por omissão. 
A inconstitucionalidade pode decorrer da prática de ato, isto é, da 
edição de uma lei ou ato normativo contrário a Constituição, mas também 
 
 
24 
 
 
 
pode decorrer da inércia do Poder Público. Quando o presente estudo tratou 
da eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais, apresentou-se teoria 
segundo a qual as mesmas dividem-se em: a) normas de eficácia plena; b) 
normas de eficácia contida; e c) normas de eficácia limitada. 
Recordando, normas de eficácia limitada são as que não produzem 
seus efeitos imediatamente, necessitando da atuação do legislador 
infraconstitucional ou da Administração Pública para que possa surtir os 
efeitos necessários. São estas, pois, as normas por sobre as quais recaem 
as declarações de inconstitucionalidade por omissão. 
Se a omissão for de um Poder (Executivo, Legislativo ou Judiciário), 
dar-se-á ciência ao mesmo do julgamento pela procedência da ADI por 
omissão. 
Se a omissão for de órgão administrativo, dar-se-á prazo de 30 
(trinta) dias para que o mesmo supra a omissão e atue da maneira como 
lhe determina a Constituição Federal. 
A ADI por omissão pode ser manejada quando a omissão é 
completa, isto é, quando não há qualquer atuação do Poder ou órgão 
administrativo competente, mas também pode ser manejada quando a 
omissão for parcial, isto é, embora haja disciplinação da norma 
constitucional de eficácia limitada, a mesma é insuficiente. 
Os legitimados para ajuizamento da ADI por omissão são os 
mesmos da ADI genérica, bem como o procedimento é o mesmo, salvo por 
dois pontos: 
a) não há possibilidade de concessão de medida de natureza 
cautelar; 
b) o Advogado-Geral da União não é citado, já que não há lei ou 
ato normativo para que ele defenda a constitucionalidade. 
A competência para julgamento, por fim, é privativa do Supremo 
Tribunal Federal. 
 
2.4.1.3. AÇÃO DECLARATÓRIA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA 
 
Adiantando-se tema que será tratado, tem-se que a intervenção 
pode ser classificada em espontânea (atuação de ofício pelo chefe do Poder 
Executivo) ou provocada (atuação do chefe do Executivo após solicitação do 
Poder Legislativo ou do Executivo do Estado-membro, ou, ainda, requisição 
do Poder Judiciário). 
A ADI interventiva relaciona-se com os princípios sensíveis (art. 34, 
VII da CRFB/88), quais sejam: 
a) forma republicana, sistema representativo e regime 
democrático; 
b) direitos da pessoa humana; 
c) autonomia municipal; 
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. 
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos 
estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e 
desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. 
 
 
25 
 
 
O provimento da ADI interventiva incumbe ao Supremo Tribunal 
Federal, após representação do Procurador-Geral da República (único 
legitimado para a ação declaratória de inconstitucionalidade interventiva).Na 
hipótese de intervenção federal via ação declaratória de 
inconstitucionalidade, tem-se uma requisição do Poder Judiciário dirigida ao 
chefe do Poder Executivo, o qual está obrigado a emitir decreto que 
suspenda a execução a execução do ato impugnado (art. 36, §3º da 
CRFB/88), e, se a medida não bastar ao restabelecimento da normalidade, 
aí então a decretar a intervenção com as consequências que lhe são 
inerentes. 
 
2.4.2. AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
Enquanto a ADI é criação do Constituinte Originário, a Ação 
Declaratória de Constitucionalidade é criação do Constituinte Derivado, fruto 
da Emenda Constitucional n.º 3/1993. 
Mantendo-se o que se expôs acerca de processo objetivo, quando 
do estudo da ADI genérica, a ação declaratória de constitucionalidade, 
embora semelhante (o que motiva alguns doutrinadores dizerem que são 
ações de sinais trocados), tem objeto mais restrito que a ADI. 
Diferentemente da ADI, a ação declaratória de constitucionalidade 
(ou ADC), pode ser ajuizada apenas para discussão da constitucionalidade 
de lei ou ato normativo federal em face da Constituição Federal. 
Outra relevante diferença entre a ADI e a ADC é a exigência, na 
última, da demonstração de controvérsia judicial relevante sobre a 
aplicação do enunciado normativo objeto da ADC. Essa demonstração de 
controvérsia judicial, que deve ocorrer na petição inicial da ADC, é a 
demonstração da existência de entendimentos divergentes acerca da 
interpretação do enunciado normativo questionado, por diferentes tribunais 
do país. Tal exigência é absolutamente pertinente, posto que o objetivo da 
ADC é assegurar o princípio da segurança jurídica, afastando-se quaisquer 
situações de dúvida sobre aplicação de lei ou ato normativo em relação à 
Constituição Federal. 
O rol de legitimados para ajuizamento da ADC é o mesmo da ADI, 
guardadas as mesmas peculiaridades dos legitimados universais (ou 
neutros) e dos legitimados interessados. 
Também é possível a concessão de medida de natureza cautelar 
em sede de ADC, desde que por decisão de maioria absoluta dos membros 
do STF, cujo efeito suspende os julgamentos que se relacionem à matéria 
discutida na ADC, até julgamento definitivo pelo Supremo Tribunal Federal. 
Esse julgamento pelo STF, no entanto, deve ser proferido em 180 dias, sob 
pena de perda da eficácia da medida concedida. 
Os efeitos da decisão declaratória de constitucionalidade são os 
mesmos da declaratória de inconstitucionalidade, isto é, ex tunc, via de 
regra, mas seus efeitos podem ser modulados, isto é, podem ser ex nunc ou 
podem ainda ter uma data fixada para manifestação de seus efeitos, casos 
em que a modulação deverá ser aprovada com quorum de 2/3 (dois terços), 
pelo Supremo Tribunal Federal. 
 
 
 
26 
 
2.4.3. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO 
FUNDAMENTAL 
 
A Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ou ADPF), 
assim como a ADC, foi criada pelo Constituinte Originário. 
Ao tratar da classificação das Constituições quanto ao conteúdo, 
viuse que as mesmas podem ser formais ou materiais. Normas 
constitucionais materiais são aquelas que guardam os elementos 
fundamentais à garantia de um Estado Democrático de Direito, como 
proclama-se que seja o Brasil. Toda norma que vise ao afastamento do 
autoritarismo, bem como ao resguardo dos direitos e garantias fundamentais 
são normas materialmente constitucionais. Luiz A. D. Araújo e Vidal Serrano 
Nunes Júnior lecionam que preceitos fundamentais são, pois, estas normas 
constitucionais de cunho material, identificando-as como: a) as que 
identificam a forma e a estrutura de Estado; b) o sistema de governo; c) a 
divisão e o funcionamento dos poderes; d) os princípios fundamentais; e) os 
direitos fundamentais; f) a ordem econômica; g) a ordem social (ARAUJO, 
2005, p. 57). 
A regulamentação da ADPF advém da Lei n.º 9.882/99. Inobstante 
as divergências sobre a constitucionalidade ou não, fato é que existem duas 
formas de arguir um descumprimento de preceito fundamental. A primeira 
delas é a arguição direta, principal ou autônoma, nos termos da previsão 
constitucional. A segunda, objeto de polêmica sobre sua constitucionalidade, 
é a incidental, por equivalência ou por equiparação, sendo inovação do 
legislador infraconstitucional quando da elaboração da Lei n.º 9.882/99. Em 
que pese a atual discussão sobre a constitucionalidade desta segunda 
hipótese, fato é que a lei que a instituiu tem plena vigência e pode 
perfeitamente ser questionada no exame da OAB ou em concursos públicos. 
Quanto a primeira forma de manejo da ADPF, isto é, a direta, o caput do 
artigo 1º, da Lei n.º 9.882/99 dispõe que a arguição prevista no §1º do art. 
102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal 
Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, 
resultante de ato do Poder Público. 
 
Assim, há dois objetivos na ADPF: evitar ou reparar lesão a 
preceito fundamental. O caráter da ação em comento, portanto, pode ser 
preventivo ou repressivo. 
Note-se, ademais, que o legislador fala de ato do Poder Público, o 
que dá à ADPF uma abrangência maior que a atribuída à ADI e ADC, já que 
estas podem ter por objeto apenas leis ou atos normativos, enquanto que 
aquela pode ter por objeto, além destes, atos administrativos emanados por 
quaisquer esferas do Poder Público. 
Já a segunda e polêmica possibilidade de arguição de 
descumprimento de preceito fundamental advém do parágrafo único, do 
artigo 1º da Lei n.º 9.882/99, o qual dispõe que também caberá ADPF 
quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei 
ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à 
Constituição. 
Não é objeto de um módulo preparatório para o exame da OAB e 
concursos públicos a profunda análise do dispositivo em comento, mas 
27 
 
 
notese como o legislador infraconstitucional extrapolou os limites 
constitucionais, seja ao criar hipótese de ADPF, seja ao dispor que lei ou ato 
normativo municipal, bem como federais, estaduais e municipais anteriores 
à Constituição podem ser objeto da mesma. 
Essa segunda hipótese de ADPF, chamada de incidental (ou por 
equivalência, ou por equiparação), admite sua interposição diretamente 
perante o STF, após constatar-se o descumprimento do preceito em 
qualquer processo judicial. A ADPF incidental é uma forma por meio da qual 
se pulam instâncias e se leva a controvérsia diretamente ao STF (desde que 
o autor seja legitimado, evidentemente). Importante estar atento que a 
controvérsia que vai ao STF, inobstante o trâmite de um processo judicial 
com uma discussão qualquer, é, tão somente, o descumprimento do preceito 
fundamental. O caso concreto, objeto do processo subjetivo originário, 
sequer chega ao STF por meio da ADPF. 
Para propositura de ADPF incidental exige-se, diferentemente da 
ADPF direta, demonstração de controvérsia judicial na prática da lei ou ato 
normativo ensejador do descumprimento de preceito fundamental (art. 1º, I 
da Lei n.º 9.882/99). 
Os legitimados à propositura da ADPF são os mesmos legitimados 
para ADI, com as mesmas exigências acerca da pertinência temática para os 
denominados legitimados interessados. Há, no entanto, uma peculiaridade. 
Qualquer pessoa que esteja em litígio perante o Poder Judiciário que se 
encontre diante do descumprimento de um preceito fundamental, embora 
não possa diretamente propor ADPF (por não ser legitimado ativo), pode 
apresentar representação perante o ProcuradorGeral da República e 
solicitar que o mesmo o faça. A conduta a ser tomada pelo Procurador-
Geral da República é, naturalmente, discricionária. Outro ponto que pode ser 
objeto de questionamento no que se refere à ADPF é o princípio da 
subsidiariedade, segundo o qual só cabe ADPF quando nãohouver outro 
meio eficaz capaz de sanar a lesividade (art. 4º, I, Lei n.º 9.882/99). Acerca 
do princípio em comento o STF se manifestou indicando que o mesmo deva 
ser interpretado na ordem constitucional global, isto é, o meio eficaz e capaz 
de sanar a lesividade, deve operacionalizá-lo de forma ampla, geral e 
imediata, assim como a ADPF o faria. A princípio, dessa forma, a 
possibilidade de recurso extraordinário no processo originário não exclui a 
possibilidade de propositura da ADPF, já que o recurso extraordinário não é 
dotado da amplitude, generalidade e imediatidade inerente à ADPF. 
 
É cabível a concessão de medida liminar em sede de ação de 
descumprimento de preceito fundamental, desde que por decisão de maioria 
absoluta dos membros do STF. O conteúdo da medida liminar pode 
determinar a suspensão do andamento dos processos que apresentem 
relação com a matéria objeto da ADPF. 
Como acontece na ADI e na ADC, a decisão proferida na ADPF é 
ex tunc, via de regra, mas seus efeitos podem ser modulados, isto é, podem 
ser ex nunc ou podem, ainda, ter uma data fixada para manifestação de seus 
efeitos, casos em que a modulação deverá ser aprovada com quorum de 2/3 
(dois terços), pelo Supremo Tribunal Federal. 
 
 
 
28 
 
3. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 
1988 
 
3.1 PREÂMBULO CONSTITUCIONAL 
 
O preâmbulo constitucional situa-se no âmbito político e não no 
jurídico. Também não compõe o conjunto de normas centrais da 
Constituição, mas por tratar-se de expositor das normas que estão 
espalhadas pelo texto constitucional, indubitavelmente ganha relevância, 
torna-se guia interpretativo, ao menos naquilo que coincide com as normas 
que são consagradas pela Constituição. 
Embora não seja dotado de força normativa, não sirva de 
fundamento exclusivo à declaração de inconstitucionalidade e não possa 
prevalecer em face de expresso texto constitucional, é certo que o 
preâmbulo figura como linha mestra interpretativa da Constituição, haja visto 
sua natureza, qual seja, a de prólogo exteriorizador das intenções 
ideológica, política e filosófica do constituinte de 1988. 
O debate acerca da força normativa do preâmbulo constitucional 
chegou ao Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento da ADIn 
2.076-AC22, sendo oportunas as palavras do Ministro Carlos Velloso: O que 
acontece é que o preâmbulo contém, de regra, proclamação ou exortação no 
sentido dos princípios inscritos na Carta: princípio do Estado Democrático de 
Direito, princípio republicano, princípio dos direitos e garantias, etc. Esses 
princípios, sim, inscritos na Constituição, constituem normas centrais de 
reprodução obrigatória, ou que não pode a Constituição do Estado-membro 
dispor de forma contrária, dado que, reproduzidos, ou não, na Constituição 
estadual, incidirão na ordem local. 
Pelo exposto, pode-se concluir: a) o preâmbulo constitucional não 
goza de normatividade jurídica, eis que trata-se, ab initio, de mera exortação 
política; b) não se situa dentre aquelas denominadas, “normas centrais” da 
Constituição; c) quando, porém, representam prólogo dos princípios 
constantes do bojo constitucional, transmuda-se o plano anterior de 
irrelevância, tornando-se norte interpretativo, uma vez que reflete princípios 
constitucionais e, exatamente, em função deste reflexo é que passa a 
caracterizar-se como guia interpretativo. 
 
3.2 ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS 
– ADCT 
 
Como sugere o título, o Ato das Disposições Constitucionais 
Transitórias destina-se à regulamentação do período de transição entre a 
antiga e a atual ordem constitucional, carregando normas de direito 
intertemporal, em sua maioria. 
Normas estas que possuem natureza jurídica de norma 
constitucional, e podem trazer exceções às regras estabelecidas no texto 
constitucional, portanto. 
 
 
 
 
29 
3.3 PRINCÍPIOS E OBJETIVOS FUNDAMENTAIS 
 
Para um bom desempenho em exames públicos, é fundamental a 
leitura reiterada dos dispositivos 1º a 4º, ambos da CRFB/88. 
Diante das variadas naturezas dos princípios fundamentais 
presentes da Constituição Federal de 1988, José Afonso da Silva faz o 
agrupamento dos mesmos em (SILVA, 2009, P. 94): 
a) princípio relativos à existência, forma, estrutura e tipo de 
Estado: República Federativa do Brasil, soberania, Estado Democrático de 
Direito (art. 1º); 
b) princípios relativos a forma de governo e à organização dos 
poderes: República e separação dos poderes (arts. 1º e 2º); 
c) princípios relativos à organização da sociedade: princípio da 
livre organização social, princípio de convivência justa e princípio da 
solidariedade (art. 3º, I); 
d) princípios relativos ao regime político: princípio da cidadania, 
princípio da dignidade da pessoa, princípio do pluralismo, princípio da 
soberania popular, princípio da representação política e princípio da 
participação popular direta (art. 3º, parágrafo único); 
e) princípios relativos à prestação positiva do Estado: princípio da 
independência e do desenvolvimento nacional (art. 3º, II), princípio da justiça 
social (art. 3º, III) e princípio da não discriminação (art. 3º, IV); 
f) princípios relativos à comunidade internacional: da 
independência nacional, do respeito aos direitos fundamentais da pessoa 
humana, da autodeterminação dos povos, da não-intervenção, da igualdade 
dos Estados, da solução pacífica dos conflitos e da defesa da paz, do 
repúdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperação entre os povos e o da 
integração da América Latina (art. 4º). 
É importante lembrar que o conteúdo, especialmente do artigo 
primeiro é de profundidade muito maior do que poderia indicar sua mera 
interpretação literal. O exame da OAB e os concursos públicos em geral se 
valem habitualmente dos princípios fundamentais para indagar seus 
candidatos. Em razão disso, destaque especial será conferido aos princípios 
mais recorrentes, quais sejam, o republicano, o federativo, o da separação 
de poderes e o democrático. 
 
1) Princípio Republicano: quando o artigo inaugural da Constituição 
Federal de 1988 dispõe que a República Federativa do Brasil é formada 
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, não 
está apenas a apresentar a forma de governo adotada pelo país. Muito além. 
O contexto a que foi inserto o tema demonstra que se está diante de um 
princípio orientador do Estado brasileiro. República, no contexto 
constitucional, deve ser traduzida a partir de seu mais profundo sentido e 
essência. Ao estipular que a República Federativa do Brasil se constitui 
como Estado Democrático de Direito e que tem por fundamentos a 
soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais 
do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político, o Constituinte deixou 
inequívoco que estava a tratar da res publica, verdadeiramente. No Estado 
brasileiro, portanto, a adoção do princípio republicano indica a comunidade, 
 
30 
 
 
 
a igualdade, indica que este é o ponto de partida de um Estado preocupado 
com bem-estar social, partindo daí uma ampla projeção programática, da 
limitação do autoritarismo à tutela dos direitos e garantias fundamentais. 
 
2) Princípio Federativo: a questão federativa é frequentemente 
objeto de questionamentos e exige atenção maior. O princípio federativo 
induz o bom estudo interpretativo de temas da mais variada natureza, dos 
territórios federais às comissões parlamentares de inquérito, muito pode ser 
objeto de indagação a partir do prisma federalista. 
A federação resulta da união dos Estados-membros, federação esta 
que assume personalidade jurídica autônoma em relação a cada qual e que 
exerce a soberania, mencionada no artigo 1º, inciso I, da CRFB/88 e que é 
independente internacionalmente, nos termos do artigo4º, inciso I, também 
da CRFB/88. 
É fundamental não confundir soberania com autonomia. Titular de 
soberania é a União, isto é, a pessoa jurídica de direito público externo 
formada a partir da união dos Estados-membros, enquanto que estes são 
titulares de autonomia. Segundo José Afonso da Silva, a autonomia 
federativa apresenta dois elementos básicos: (a) na existência de órgãos 
governamentais próprios, isto é, que não dependam de órgãos federais 
quanto à forma de seleção e investidura; (b) na posse de competências 
exclusivas, um mínimo, ao menos, que seja ridiculamente reduzido. 
Mas atenção, há que se lembrar que os Territórios pertencem à 
União, não são entes federativos, e por isso não são dotados de 
autonomia, não possuindo a tríplice capacidade, típica dos outros entes 
federativos (como os Estados-membros e o Distrito Federal, os Municípios e 
a própria União). A tríplice capacidade é a capacidade de se autogovernar, 
auto-administrar e de se auto-organizar, aqui incluída a capacidade 
normativa. 
É em razão do princípio federativo que a CRFB/88 repartiu as 
competências de uma forma que melhor propiciaria ao Estado o alcance dos 
objetivos almejados. Analise a seguinte questão, extraída do exame 2009.2 
da OAB, juntamente com os esclarecimentos apresentados para cada 
alternativa. Quanto ao tema Repartição de Competências, será 
oportunamente apresentado ao aluno. 
 
Considerando o sistema de repartição de competências entre os 
entes federativos, assinale a opção correta. 
a) Compete privativamente à União legislar sobre direito tributário, 
financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico. 
Alternativa incorreta: a competência para legislar sobre esses 
assuntos é concorrente à União, aos Estados e ao Distrito Federal (Art. 24, 
I, CRFB/88). 
 
b) No exercício de sua autonomia político-administrativa, cabe aos 
municípios criar, organizar e suprimir distritos, independentemente de 
qualquer disciplina legal, de âmbito estadual, sobre o tema. 
Alternativa incorreta: como componente de um Estado-membro, o 
município só poderá criar, organizar ou suprimir distritos se estiver adequado 
 
31 
 
 
às exigências legais do respectivo Estado-membro (Art. 30, IV, CRFB/88). A 
autonomia que o Estado-membro possui em razão do pacto federativo inclui 
a legislação para controle da atuação dos municípios integrantes da sua 
esfera de competências. Sobre o assunto, José Afonso da Silva explica que 
o Estado, embora aparecendo único nas relações internacionais, é 
constituído por Estados-membros dotados de autonomia, notadamente 
quanto ao exercício de capacidade normativa sobre matérias reservadas à 
sua competência (SILVA, 2009, p. 101). 
 
c) É da responsabilidade da União organizar e manter o Poder 
Judiciário, o MP e a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios. 
Alternativa CORRETA: A organização e manutenção do Poder 
Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública em Territórios e no 
Distrito Federal incumbe à União (Art. 21, XIII, CRFB/88). Deve-se estar 
atento ao texto da assertiva, que em análise superficial pode conduzir a 
raciocínio equivocado. 
 
d) Aos estados e municípios cabe exercer os poderes enumerados 
no texto constitucional, restando à União a competência dita remanescente. 
Alternativa incorreta: À União cabe exercer os poderes enumerados no texto 
constitucional, sendo a competência remanescente dos Estados-membros 
(Art. 25, §1º), uma vez que os municípios também possuem enumeração de 
suas competências no texto constitucional (Art. 30, CRFB/88). 
 
 
3) Princípio da Separação de Poderes: encontra fundamento na 
especialização funcional, necessária ao governo do Estado e exercida 
mediante a divisão de funções, por meio da qual cada órgão exerce sua 
parcela de poder. 
Ao Poder legislativo incumbe a função típica de edição das leis (em 
sentido amplo) e de fiscalização do Poder Executivo, enquanto que lhe é 
função atípica a executiva e a jurisdicional para o exercício de suas 
atribuições. 
Ao Poder Executivo cabe a função típica de gerência da coisa 
pública, com a prática dos atos necessários, além das funções atípicas de 
legislar e julgar para o bom exercício de suas atribuições. 
Por fim, ao Poder Judiciário cabe a função típica de julgar, 
aplicando a norma geral, abstrata e impessoal ao caso concreto, lhe sendo 
função atípica a legislativa e a executiva, também no interesse de suas 
atribuições. 
 
4) Princípio Democrático: resguarda uma democracia que represente 
os interesses de seu povo, vedada qualquer discriminação negativa ou 
conduta tendente a suprimir direitos ou princípios fundamentais, devendo ser 
interpretada no conceito em que posta pelo constituinte originário (art. 1º), 
isto é, em conjunto com os conceitos de soberania, cidadania, dignidade da 
pessoa humana e pluralismo político. 
Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (art. 
3º), mais que meras finalidades do Estado, constituem instrumentos que 
 
32 
 
 
 
penetram no sentido interpretativo dos princípios fundamentais para lhes 
forçar a eficácia material e evitar que os mesmos fiquem apenas dotados de 
eficácia formal. Tais objetivos devem ser perseguidos pelo legislador e 
aplicador do Direito, pois devem ser traduzidos em realidade na sociedade 
brasileira. 
 
4. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Revela-se intensa a preocupação do constituinte brasileiro com o 
resguardo dos direitos e das garantias fundamentais. Embora o Título II da 
CRFB/88 expressamente disponha acerca dos direitos e garantias 
fundamentais, verdade é que os mesmos encontram-se dispersos por todo o 
texto constitucional, como será apresentado. 
 
4.1. GERAÇÕES DE DIREITOS 
 
Historicamente, os direitos fundamentais podem ser agrupados, por 
mera finalidade acadêmica, em gerações (ou dimensões). Resumidamente: 
a) Direitos de 1ª dimensão: representam a afirmação dos direitos 
de liberdade, ou seja, “todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder 
do Estado e a reservar para o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma 
esfera de liberdade em relação ao Estado” (BOBBIO, 2004, p. 52). Com o 
afastamento da atuação estatal e concessão de ampla liberdade de atuação 
aos particulares, as classes detentoras de maior poderio econômico dele se 
valeram para, com base no direito à propriedade, estabelecerem verdadeiro 
domínio sobre as classes hipossuficientes, excluindo-as socialmente e em 
escalas cada vez maiores. 
 
b) Direitos de 2ª dimensão: com um Estado extremamente 
liberalista, emergiu a necessidade de trazer a atuação estatal novamente à 
tona, de modo a restringir tais liberdades, com vista à prestação de garantias 
mínimas de existência digna à todos do povo, sem discriminações. A 
Constituição mexicana de 1917 e a de Weimar de 1919, marcam a transição 
para a denominada segunda dimensão de direitos, na qual os direitos sociais 
assumem o papel de destaque. A atuação estatal é chamada a voltar, a 
restringir a atuação dos particulares para conferir-lhes segurança social, 
momento em que a igualdade e o bem-comum são postos no ápice dos 
objetivos a serem alcançados pelo Estado. 
 
c) Direitos de 3ª dimensão: Os direitos de terceira dimensão 
tutelam a humanidade como um todo. Fala-se, por primeira vez, da tutela 
 
33 
 
 
aos direitos transindividuais, ou seja, aqueles que ultrapassam a esfera 
individual da pessoa, consubstanciando-se nos direitos difusos, coletivos e 
individuais homogêneos (ALARCON, 2004, p. 81). Os direitos de 
solidariedade (ou fraternidade) formam o conjunto de elementos que 
propiciaram a elevação da dignidade humana a princípio-matriz da 
Constituição Federal e, por conseguinte, de todo ordenamento jurídico. A 
terceira dimensão

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