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a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 1 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 1 a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 2 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 2 Os direitos humanos não são um fenômeno particular do século XX. Há um longo processo histórico que justifica a sua emergência, evolução e consolidação. Para muitos doutrinadores a sua gênese está situada em pleno período medieval com a Carta Magna, de 1215, na Inglaterra. Outros, por sua vez, percebem o marco inicial desses direitos na modernidade, a partir dos grandes movimentos que conduziram a Europa à invasão do restante do globo. Aqui, nos interessa uma concepção contemporânea dos direitos humanos, isto é, a que veio a surgir com a Declaração Universal de 1948, reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993. Essas duas declarações são marcos obrigatórios para se compreender o tema dos direitos humanos em nossa contemporaneidade. A escolha desses marcos se dá pelo fato de que o movimento de internacionalização desses direitos humanos constitui um processo muito próximo da nossa história, vez que surge como conseqüência dos efeitos da segunda guerra mundial (1939-1945). Durante essa segunda guerra mundial, o Estado surgiu como agente capaz de violar e justificar a violação dos direitos humanos, através de meios destrutivos e banais da figura física, psíquica e cultural daqueles sujeitos compreendidos como inferiores ou descartáveis. Durante esse período ocorreu uma banalização do mal em tal intensidade que todo o restante do século XX ficou marcado pela necessidade de se impedir uma nova experiência dessa natureza. Em 10 de dezembro de 1948 é aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e se considera essa declaração como ponto de partida para a reconstrução de uma ideia de homem, de direitos humanos universais, e com práticas que obriguem inclusive e principalmente o Estado, a respeitar e garantir a existência de uma dignidade humana. Suas duas grandes características são a UNIVERSALIDADE e a INDIVISIBILIDADE. É universal porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a certeza de que a condição de pessoa é o requisito único para a dignidade e titularidade de direitos. É indivisível porque a garantia dos direitos civis e políticos é uma condição fundamental para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais, e vice-versa. Dessa forma, quando um dos direitos humanos, ou de seus elementos característicos são violados, todos os demais são, igualmente, feridos. Portanto, os direitos humanos se revestem de uma unidade indivisível, interdependente e inter-relacionada, com capacidade de conjugar, de forma indissolúvel, o rol dos direitos civis e políticos com àquele dos direitos sociais, econômicos e culturais. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 3 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 3 Assim, ATENÇÃO: “O reconhecimento integral de todos esses direitos pode assegurar a existência real de cada um deles, já que sem efetividade de gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais os direitos civis e políticos se reduzem a meras categorias formais. Inversamente, sem a realidade dos direitos civis e políticos, sem a efetividade da liberdade entendida em seu mais amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem, por sua vez, de verdadeira significação”. (ESPIELL, 1998:149) Pelo que se disse já se pode afirmar que não se pode falar em classe de direitos humanos. Todos os direitos que compõe o rol dos direitos humanos são direitos legais. Direitos sociais, econômicos e culturais são verdadeiros direitos fundamentais, nesse sentido, amplamente acionáveis, exigíveis, demandando por parte do Estado e da própria sociedade uma objetiva e responsável observância. É a Declaração Universal de 1948 um marco decisivo do movimento que aprofunda e internacionaliza os direitos humanos, vez que essa declaração torna pública a necessidade, o interesse e a responsabilidade em torno desses direitos do homem, de todo e qualquer ser humano. Assim, ATENÇÃO: “O direito internacional dos direitos humanos pressupõe como legítima e necessária a preocupação dos atores estatais e não-estatais a respeito do modo pelo qual os habitantes de outros Estados são tratados”. (SIKKINK) Importa, portanto, reforçar a ideia de que a proteção dos Direitos Humanos não pode ser limitada e restrita a um domínio reservado de um Estado político, quer dizer, a defesa desses direitos não é competência exclusiva de uma nação ou de uma jurisdição doméstica, vez que se fala em um homem que independe dos limites físicos, culturais e políticos, mas de todos os homens. Três são as consequências dessa posição: a) Revisão da noção tradicional de soberania absoluta do Estado nacional; b) Consolidação da ideia de que os indivíduos devem estar protegidos em qualquer lugar ou local, pois a sua proteção se dá numa esfera internacional; c) O homem é homem em qualquer cultura e estrutura nacional. Os direitos humanos como estão concebidos delimitam o fim de uma era: o Estado Nacional fica suscetível de sofrer um processo de relativização de sua soberania, na medida em que são possíveis e admissíveis intervenções no espaço nacional em nome da defesa e proteção dos direitos humanos. Quer dizer: é a substituição de uma ideologia que previa ao Estado Nacional tratar os seus nacionais como um problema exclusivamente interno, enfrentado apenas por uma jurisdição doméstica, pois agora, são admitidas formas de monitoramento e responsabilização internacional quando os direitos humanos foram de uma ou de outra forma violados. Com a Declaração Universal de 1948, e o tratamento que passa a dar do tema dos direitos humanos, se inicia o desenvolvimento do direito internacional desses direitos humanos, a partir da prática da adoção de variados tratados internacionais que são elaborados com o objetivo de proteger os direitos do homem. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 4 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 4 Os direitos humanos nascem, portanto, como direitos naturais universais, desenvolvendo-se como direitos positivos particulares que são incorporados por cada Constituição Nacional (na medida em que elas passam a se constituir em declarações de direitos, de reconhecimento de garantias e de normativização dos direitos fundamentais). Em face da crescente consolidação e reconhecimento desse direito positivo universal concernente aos direitos humanos, pode-se afirmar que tratados, convenções e acordos internacionais de proteção aos direitos humanos representam, sobretudo, uma consciência ética compartilhada por todos os Estados, vez que invocam um consenso internacional acerca dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, a proibição da tortura, o combate e a eliminação da discriminação de todos os tipos, a proteção à criança e ao adolescente, ao idoso, a família, ao trabalho, etc. A Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993 ratifica toda essa posição apresentada em 1948, quando em seu parágrafo 5º, destaca que: “Todos os direitos humanos são universais, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos globalmente de forma justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase”.Está, assim, a Declaração de Viena ao encontro da de 1948, vez que consagra uma tese consensual da universalidade, da indivisibilidade e uniformidade dos direitos humanos em todos os Estados Nacionais. Assim, ATENÇÃO: Os elementos constitutivos dos Direitos Humanos são: a) UNIVERSALIZAÇÃO b) INDIVISIBILIDADE c) UNIFORMIDADE Contudo, esses se justificam na medida em que trazem características internas de Multiplicação e Diversificação, que impulsionam esses elementos constitutivos dos direitos humanos a se imporem sobre as velhas ideias de uma soberania nacional e absolutamente independente quanto ao tema da violação dos direitos do homem. É importante ressaltar que os direitos humanos devem, em nosso momento histórico, ser percebidos para além da concepção já clássica da conjunção entre os direitos civis individuais e políticos e os direitos econômicos e sociais. Note-se, igualmente, que o acesso a esses direitos está em constante disputa. Isto é, a luta da qual fala Ihering1, é tanto ou mais aplicável a essa gama de direitos, uma vez que a despeito de sua conceituação teórica ser constantemente referenciada e de sua positivação ter ocorrido na ampla maioria dos países ocidentais - seja através do Direito Internacional consuetudinário, seja através de legislações próprias - sua real efetivação ainda está longe de ser alcançada de pleno. 1 ““O fim do direito é a paz, o meio de que se serve para consegui-lo é a luta”” in A Luta Pelo Direito, Rudolf von Ihering, p. 27. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 5 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 5 1.1 DA RELAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS COM A TEORIA DAS DIMENSÕES DE DIREITO O processo que permite compreender a consolidação atual dos direitos humanos veio acompanhado de uma alteração na natureza dos próprios direitos a partir de sua constitucionalização. As dimensões de direito representam esse longo caminho em direção ao reconhecimento de que no espaço social muitas são as formas de manifestação do direito e variados e distintos são os seus efeitos nos sujeitos sociais. 1.2 DA PRIMEIRA DIMENSÃO DE DIREITOS – OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS Esses são direitos voltados a uma maior atenção à vida, a liberdade, à propriedade, à segurança pública, a proibição da escravidão, a proibição da tortura, a igualdade perante a lei, a proibição da prisão arbitrária, o direito a um julgamento justo, o direito de habeas corpus, o direito à privacidade do lar e ao respeito de própria imagem pública, a garantia de direitos iguais entre homens e mulheres no casamento, o direito de religião e de livre expressão do pensamento, a liberdade de ir e vir dentro do país e entre os países, o direito de asilo político e de ter uma nacionalidade, a liberdade de imprensa e de informação, a liberdade de associação, a liberdade de participação política direta ou indireta, o princípio da soberania popular e regras básicas da democracia (liberdade de formar partidos, de votar e ser votado, etc.). São direitos marcados pelos eventos do século XIX, da consolidação do liberalismo, das transformações sócio-econômico-políticas da revolução industrial, a partir de um Estado Nacional que se propunha ser de mínima intervenção, conhecido como ‘mão invisível’. As consequências desse período fomentaram críticas de grande força ideológica, tais como as teses do marxismo e as afirmações da Igreja Católica. A partir da oposição desses dois agentes, os Estados Nacionais, fundamentalmente na Europa Ocidental, empreenderam a transformação de suas estruturas jurídicas, políticas e sócio-econômicas para aquilo que se convencionou chamar de segunda dimensão de direitos. 1.3 DA SEGUNDA DIMENSÃO DE DIREITOS – OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS Esses são os direitos voltados à seguridade social, ao direito ao trabalho e a segurança no trabalho, ao seguro contra o desemprego, ao direito a um salário justo e satisfatório, a proibição da discriminação salarial, ao direito a formar sindicatos, ao direito ao lazer a ao descanso remunerado, ao direito à proteção do Estado do Bem-Estar-Social, a proteção especial para a maternidade e a infância, ao direito à educação pública, gratuita e universal, ao direito a participar da vida cultural da comunidade e a se beneficiar do progresso científico e artístico, a proteção dos direitos autorais e das patentes científicas. Percebe-se, aqui, que os Estados Nacionais incorporaram as críticas que o marxismo e a Igreja católica vinham realizando, transformando o espaço público numa área de realização dos direitos sociais. A Constituição Mexicana de 1917, e a Constituição de Weimar em 1919, Constituição da Alemanha, são marcos dessas transformações, colocam o Estado como principal agente da defesa dos direitos sociais, esvaziando, fundamentalmente no cenário ocidental, a força revolucionária da proposta marxista e, permitindo ao espaço político, reafirmar o seu papel de principal espaço para a consagração dos valores sociais. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 6 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 6 A dificuldade enfrentada por essa dimensão de direitos não poderia ter sido prevista, pois a primeira guerra mundial, o período entre guerras e a segunda guerra mundial foram limites concretos e de grande significação que acabaram minando a legitimidade dessas transformações normativas, vez que toda essa dimensão estava centrada na figura do Estado de direito. O Estado de direito não conseguiu frear a opção em vários países ao autoritarismo e ao totalitarismo, colocando o próprio agente estatal como principal responsável pela violação aos direitos do homem. Sob o efeito do conhecimento de todos os danos sofridos pela figura humana ao longo da segunda guerra mundial, numa intensidade que permitiu, inclusive, que se cunhasse a expressão ‘banalidade do mal’, a necessidade de se recriar algum espaço consistente para a defesa dos direitos humanos levou o processo histórico-jurídico a Declaração Universal de 1948, e a uma nova dimensão de direitos a ser defendidos. Ainda, é importante reconhecer o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos como outro marco nessa defesa de Direitos Humanos. 1.4 DA TERCEIRA DIMENSÃO DE DIREITOS – UMA NOVA ORDEM INTERNACIONAL Esses são os direitos a uma ordem social e internacional em que os direitos e as liberdades estabelecidos na Declaração Universal do Homem possam ser plenamente realizados. Propugnam a defesa do direito à paz, ao desenvolvimento, ao ambiente, ao reconhecimento da existência de um direito difuso, pertencente a toda a sociedade, a fraternidade e a solidariedade. A necessidade de se alcançar novos espaços obriga ao sistema jurídico reconhecer novos institutos passíveis de defesa, uma vez que esses novos espaços, como o direito difuso, o direito ao ambiente não estão afastados e isolados da figura humana. Ao contrário, o direito à vida pressupõe uma necessária condição de dignidade do ambiente aonde essa se desenvolve. Sob o manto da Declaração Universal de 1948, uma ideia de homem em sentido lato obriga o sistema jurídico, a Constituição a reconhecer um papel decisivo para os princípios fundamentais, bem assim para os direitos humanos. E a sua melhor aplicabilidade se dá na medida em que eles são reconhecidos como universais e indivisíveis e uniformes. 1.5 DA QUARTA DIMENSÃO DE DIREITOS – UMA NOVA ERA NA TECNOLOGIA GENÉTICA E COMUNICACIONAL Esses direitos não representam a superação das outras dimensões, mas sim que se reconhece uma nova natureza de direitos que ainda estão em discussão, masque fazem parte dessa nova humanidade multimídia, sem espaços territoriais definidos e de temporalidade acelerada, e que trazem para universos biológicos e físicos preocupações quanto ao patrimônio genético de tudo aquilo que é e está em contato com o homem, bem assim quanto a nossa responsabilidade quanto às gerações futuras, quer dizer, quanto a um compromisso de se deixar o mundo em que vivemos, melhor, se for possível, ou o ‘mais possível’ ou ‘menos pior’ do que aquele que recebemos. Implica isto, uma série de políticas que envolvem todas as três gerações de direitos e a obrigatória constituição de uma nova ordem econômica, política, jurídica e ética internacional. Observe-se que existe uma controvérsia doutrinária sobre a oportunidade de se considerar como direitos “efetivos” os de terceira e quarta geração, porque para alguns não existiria, ainda, um poder que os garanta, bem assim como há divergência quanto à lista dos direitos a serem incluídos nessas categorias. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 7 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 7 Entretanto, apesar da controvérsia, ou de uma ausência de positivação de normas, esta lista crescente e ampla de direitos nos leva a reconhecer a existência de vários e multíplices aspetos dos diretos humanos: em verdade, não se tratam simplesmente de “direitos” naquele sentido mais estritamente jurídico da palavra, mas de um conjunto de “valores” humanos que implicam várias dimensões da humanidade. RELEMBRE: 1.6 DAS OUTRAS DIMENSÕES QUE ENVOLVEM OS DIREITOS HUMANOS A PARTIR DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE 1948 1.6.1 DA DIMENSÃO ÉTICA A Declaração Universal de 1948 afirma que “todas as pessoas nascem livres e iguais”, quer dizer que isto confirma o CARÁTER NATURAL dos direitos: OS DIREITOS HUMANOS são inerentes à natureza de TODO e QUALQUER ser humano, e esses estão reconhecidos na sua dignidade INTRÍNSECA. Portanto, eles se constituem em um conjunto de valores éticos universais que estão “acima” do nível estritamente jurídico e que devem orientar a legislação dos Estados, uma vez que envolvem não um sujeito nacional, mas uma condição de humanidade universal. 1.6.2 DA DIMENSÃO JURÍDICA Importa lembrar que uma vez que todos os princípios contidos na Declaração Universal de 1948 estão especificados e determinados em protocolos, tratados, convenções internacionais, eles se tornam parte do direito internacional, vez que esses tratados passam a se constituir de um valor e uma força jurídica enquanto assinados elos Estados Nacionais. Eles se ampliam na medida em que deixam, portanto, de serem apenas orientações éticas ou de direito natural, para se tornarem um conjunto de direitos positivos que vinculam as relações internas e externas dos Estados, assimilados e incorporados pelas Constituições e, através delas, pelas leis ordinárias. Essa necessária assimilação por parte das Constituições, e no caso brasileiro a partir de uma votação em dois turnos no Congresso Nacional, com a aprovação exigida a partir de uma votação de 3/5 dos membros desse poder legislativo nacional, ratifica a sua positivação interna, sem que isso signifique uma afirmação de uma soberania exclusiva ou mesmo de um ferimento em relação à soberania dos Estados Nacionais. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 8 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 8 1.6.3 DA DIMENSÃO POLÍTICA Os direitos humanos, enquanto conjunto de normas jurídicas, se tornam critérios de orientação e de implementação das políticas públicas institucionais nos vários setores da relação estado-sociedade. Isso é assim porque o Estado, enquanto agente representativo do titular do poder político, isto é, o cidadão, assume o compromisso de ser o principal promotor do conjunto dos direitos fundamentais, tanto do ponto de vista “negativo”, isto é, não interferindo na esfera das liberdades individuais dos cidadãos, quanto do ponto de vista “positivo”, quer dizer, através de um amplo processo que justifica a implementação de políticas que garantam a efetiva realização desses direitos para todos. Está nesse espaço, por exemplo, o Programa Nacional de Direitos Humanos desenvolvido pelo governo federal e que constitui um avanço na assunção de responsabilidades concretas por parte do Estado no Brasil, fazendo com que os direitos humanos se tornem parte integrante das políticas públicas, não somente como indicadores da natureza dessas políticas, mas como fins a serem alcançados pela ação dos agentes públicos. 1.6.4 DA DIMENSÃO ECONÔMICA Não se pode desvincular a dimensão econômica daquela dimensão política, ainda que se possa olhá-la por ela mesma. Essa dimensão significa que sem a existência de uma mínima satisfação de um mínimo de atendimento das necessidades humanas básicas, isto é, sem a realização dos direitos econômicos e sociais, não é possível o exercício dos direitos civis e políticos, enfim, dos direitos humanos como se afirma na Declaração Universal de 1948. Dessa forma, ao Estado, portanto, não se pode esperar que se limite, apenas, a garantia abstrata dos direitos de liberdade, mas sim, ao contrário, que ele deve igualmente agir e exercer um papel ativo na realização de programas que busquem efetivamente os direitos de igualdade, que somente podem ser percebidos em sua plena existência a partir de uma melhor capacidade econômica do indivíduo. Atuar contra as condições da desigualdade sócio-econômica são necessidades existenciais para uma maior política de defesa dos direitos humanos. E o reconhecimento dessa dimensão de direitos está no próprio texto da Constituição, conforme se podem anotar na compreensão, mais especificamente, dos artigos 1º a 3º da Constituição promulgada de 1988. 1.6.5 DA DIMENSÃO SOCIAL Mas não cabe somente ao Estado a implementação dos direitos, também a sociedade civil organizada tem um papel importante na luta pela efetivação dos direitos, através dos movimentos sociais, sindicatos, associações, centros de defesa e de educação, conselhos de direitos. É a luta pela efetivação dos direitos humanos que vai levar estes direitos no cotidiano das pessoas e vai determinar o alcance que os mesmos vão conseguir numa determinada sociedade. 1.6.6 DA DIMENSÃO CULTURAL Os direitos humanos implicam algo mais do que uma mera dimensão jurídica, isto significa que é preciso que eles encontrem um respaldo e um espaço na cultura, na história, na tradição, nos costumes de uma dada realidade social se tornem de certa forma, parte do seu corpo coletivo, isto é, de sua identidade cultural e maneira de ser. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 9 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 9 É importante que os direitos humanos integrem o MORUS (hábitos) de uma coletividade quer dizer, que se realize na cotidianidade dos sujeitos sociais, o que exige certo lapso de tempo para se afirmar e pôr raízes num determinado contexto. 1.6.7 DA DIMENSÃO EDUCATIVA Afirmar que os direitos humanos são “direitos naturais”, que as pessoas “nascem livres e iguais”, não significa afirmar que a consciência dos direitos seja algo espontâneo. O homem é um ser, ao mesmo tempo, natural e cultural que deve ser socializado pelo espaço social. A educação para a cidadania constitui, portanto, uma das dimensões fundamentais para a efetivação dos direitos, tanto na educação formal, quanto num aprendizado informal ou popular, bem assim nos meios de comunicação. A partir dessas dimensões se percebe o caráter complexo dos direitos humanos, vez que eles implicam num conjunto de espaços de direito que devem estarinterligados. Elas não podem ser vistas como espaços isolados e separados, mas a partir de uma organicidade relacional, de tal forma que uma dimensão se integra e se realiza junto com todas as outras. “Nunca è demais ressaltar a importância de uma visão integral dos direitos humanos. As tentativas de categorização de direitos, os projetos que tentaram – e ainda tentam – privilegiar certos direitos a expensas dos demais, a indemonstrável fantasia das “gerações de direitos”, têm prestado um desserviço à causa da proteção em direitos humanos. Indivisíveis são todos os direitos humanos, tomados em conjunto, como indivisível é o próprio ser humano o titular desses direitos”. (Trindade, 1998). Importa, ainda, observar como no sistema jurídico nacional a doutrina compreende os direitos humanos a partir daquelas características reconhecidas pela atual Constituição e pelos Tribunais Superiores: a) Imprescritibilidade: os direitos humanos fundamentais não se perdem pelo decurso do prazo; b) Inalienabilidade: não há possibilidade de transferência dos direitos humanos fundamentais, seja a título gratuito, seja a título oneroso; c) Inviolabilidade: os direitos humanos são impossíveis de serem violentados por desrespeito a determinações infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de responsabilização civil, administrativa e criminal; d) Universalidade: a abrangência dos direitos humanos engloba todos os homens, independente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica; e) Efetividade: a atuação do poder público estatal deve ser no sentido de garantir efetivamente a realização dos direitos e garantias previstos, com a previsão de mecanismos coercitivos para tanto, uma vez que a Constituição não se satisfaz com o simples reconhecimento abstrato; f) Interdependência: as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas, possuem diversas intersecções para atingirem suas finalidades; g) Complementaridade; os direitos humanos fundamentais não devem ser interpretados isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelo legislador constituinte. Os direitos humanos ou direitos do homem são uma terminologia muito vaga e suas definições dirigem-se a uma tautologia. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 10 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 10 Afirma Norberto Bobbio que “direitos do homem são os que cabem ao homem enquanto homem. (...) Direitos do homem são aqueles que pertencem, ou deveriam pertencer, a todos os homens, ou dos quais nenhum homem pode ser despojado.” Para a doutrina alemã, os direitos fundamentais seriam os direitos humanos positivados no sistema jurídico. Dentre estes direitos fundamentais se afirma que o princípio da dignidade da pessoa humana é o que mais se destaca na construção histórica, principalmente a partir do pensamento da doutrina alemã, desenvolvido a partir do século XVIII, quando se afirma que o homem tem um valor em si próprio. Entretanto, Não se pode falar em uma unanimidade com relação ao legado deixado pela Antiguidade a respeito dos direitos humanos. Se os direitos humanos são considerados como quaisquer direitos atribuídos a seres humanos, então, o espaço de sua presença é muito largo: já o Código de Hamurabi (Babilônia, século XVIII a.C.), o pensamento de Amenófis IV (Egito, século XIV a. C), a filosofia de Mêncio (China, século IV a.C), a influência filosófico-religiosa de Buda, basicamente sobre a igualdade de todos os homens (500 a.C.), a República de Platão (Grécia, século IV a. C.), o Direito Romano e outras contribuições de civilizações e culturas ancestrais constituir-se-iam em fontes desses direitos humanos. Sobre a presença de direitos humanos na Grécia e em Roma, manifesta-se Ricardo Schmitt: “(...) surgem na Grécia vários estudos sobre a necessidade da igualdade e liberdade do homem, destacando-se as previsões de participação política dos cidadãos (democracia direta de Péricles); a crença na existência de um direito natural, anterior e superior às leis escritas, definida no pensamento dos sofistas e estóicos (por exemplo, na obra Antígona – 441 a.C. -, Sófocles defende a existência de normas não escritas e imutáveis, superiores aos direitos escritos pelo homem). Contudo, foi o Direito romano quem estabeleceu um complexo mecanismo de interditos visando os direitos individuais em relação aos arbítrios estatais. A lei das doze tábuas pode ser considerada a origem dos textos escritos consagradores da liberdade, da propriedade e da proteção dos direitos do cidadão”. (SCHMITT, 2007, p. 175) Igualmente o cristianismo passou a estimular uma crença na igualdade de todos os homens, independentemente de sua origem, e raça, e sexo ou credo, influenciando diretamente a consagração dos direitos fundamentais, enquanto necessários à dignidade de uma pessoa humana em sentido lato. Alguns autores, por outro lado, só passam a considerar os direitos humanos, no momento em que há o balizamento do poder do Estado pela lei. Nas palavras de Fábio Konder Comparato: “Nesse sentido, deve-se reconhecer que a proto-história dos direitos humanos começa nos séculos XI e X a.C. , quando se institui, sob Davi, o reino unificado de Israel, tendo como capital Jerusalém. (...) o reino de Davi, que durou 33 anos (996 a.C. -963 a.C.), estabeleceu, pela primeira vez na história política de humanidade, a figura do rei-sacerdote, o monarca que não se proclama Deus nem se declara legislador, mas se apresenta, antes, como o delegado do Deus único e o responsável supremo pela execução da lei divina. (...) Essa experiência notável de limitação institucional do poder de governo foi retomada no século VI a.C., com a criação das primeiras instituições democráticas em Atenas, Assim, se observa que os direitos humanos, sob esta perspectiva, nascem a partir de uma mudança na relação do Estado com o cidadão. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 11 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 11 Os direitos são vistos como pertencentes aos cidadãos e não aos súditos. Dessa forma, a sociedade representa um todo que vem antes do indivíduo, diluindo o caráter individualista que está já presente antes da era moderna. Essa seria a primeira fase dos direitos humanos. Neste período, como destaca Norberto Bobbio, afirmam-se: “os direitos de liberdade, isto é, todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma esfera de liberdade em relação ao Estado.” Durante a Idade Média, a Europa Ocidental encontrava-se esfacelada em várias e individuais propriedades conhecidas como feudos. O poder era, assim, fragmentado nas mãos dos senhores feudal. Essa fragmentação começa a ser dissolvida já no século XI, quando se pode anotar uma luta para a reunificação dessas unidades auto-suficientes. O imperador Carlos Magno e o poder papal reclamavam para si essas terras européias divididas entre uma aristocracia agrária. Os reis, por sua vez, tinham o desejo de ter sob o comando da coroa os domínios que naquele momento estavam nas mãos da nobreza e do clero. Diante da luta de reconcentração e reunificação administrativo-jurídico do poder político estatal, surgem documentos como A Declaração das Cortes de Leão de 1188, na península ibérica e a Magna Carta de 1215, na Inglaterra. Importa destacar que a Magna Carta de 1215 serviu como referência para alguns direitos e liberdades civis clássicos, tais como o habeas corpus (direito de liberdade do cidadão perante o juiz, mas ainda não compreendidocomo a consagração do direito de ir e vir), o devido processo legal e a garantia inviolável da propriedade. A Petition of Right, de 1628, o Habeas Corpus Act, de 1679, o Bill of Rights, de 1689, e o Act of Seattlemente, de 1701, igualmente fazem parte dos antecedentes históricos das declarações dos direitos humanos fundamentais. Ainda na Idade Média percebe-se a primeira fase dos direitos humanos. Como destaca Fábio Konder Comparato: No embrião dos direitos humanos, portanto, despontou antes de tudo o valor da liberdade. Não, porém, a liberdade geral em benefício de todos, sem distinções de condição social, o que só viria a ser declarado ao final do século XVIII Após o período medieval, emerge na Inglaterra um sentimento de liberdade que busca reafirmar-se numa harmonia social, decorrente, sobretudo, da devastação provocada pela guerra civil e a oposição à tirania. O poder absoluto (da realeza dos reis Stuart e da ditadura republicana do Lord Protector (Oliver Cromwell) passa a representar um perigo ao que já estava consagrado pela Magna Carta. A Declaração de Direitos do povo da Virgínia, de 1776 e a própria Declaração de Independência dos Estados Unidos, no mesmo ano trazem a ideia de que todos os homens são igualmente vocacionados por suas próprias naturezas ao aperfeiçoamento constante deles mesmos. O sujeito é em si um espaço de realização de direitos. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 12 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 12 Com a Revolução Francesa, em 1789, reforçam-se os ideais de igualdade e liberdade, como se percebe na passagem a seguir: “Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos” (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, art. 1º). O que se percebe nesse momento é a evidencia de uma segunda fase dos direitos humanos, na medida em que se defende a liberdade, no sentido da autonomia, da participação dos membros da comunidade no poder político, isto é, liberdade no Estado, além da defesa dos próprios direitos econômicos. No preâmbulo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, consta: “Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a quaisquer momentos comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mesmo, mais respeitados; afim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundados em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral”. (SCHMITT) Em toda essa linha histórica é perceptível uma afirmação dos direitos humanos gradual, vez que determinada pelos eventos históricos que ora a estimulam e ora a retraem. A Constituição Francesa de 1848, por exemplo, consagrava o que já havia sido posto nas Constituições de 1791 e 1793, além de apresentar exigências econômicas e sociais, mas na visão de Fábio Konder Comparato: “a plena afirmação desses novos direitos humanos só veio a ocorrer no século XX, com a Constituição mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919.” Finalmente, A Declaração dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 representa, como já visto, uma nova fase histórica. E este documento novo não contém, apenas, os direitos individuais, de natureza civil e política ou direitos de caráter econômico e social, mas é uma novidade na medida em que afirmam novos direitos humanos, como os direitos do povo e da humanidade, além de reconhecer a fraternidade, isto é, uma ampla solidariedade. Como quer Norberto Bobbio: “(...) Somente depois da Declaração Universal é que podemos ter a certeza histórica de que a humanidade – toda humanidade – partilha alguns valores comuns; e podemos, finalmente, crer na universalidade dos valores, no único sentido em que tal crença é historicamente legítima, ou seja, no sentido em que universal significa não algo dado objetivamente, mas algo subjetivamente acolhido pelo universo dos homens. (...) Com a Declaração de 1948, tem início uma terceira e última fase, na qual a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, universal e positiva: universal no sentido de que os destinatários dos princípios nela contidos não são mais apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas todos os homens; positiva no sentido de que põe em movimento um processo em cujo final os direitos do homem deverão ser não mais apenas proclamados ou apenas idealmente reconhecidos, porém efetivamente protegidos até mesmo contra o próprio Estado que os tenha violado”. (BOBBIO, 1992, pp.28-30) a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 13 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 13 A terceira fase desses direitos consagra, portanto, os direitos sociais, a igualdade formal e material e a liberdade através ou por meio do Estado. Merecem serem registradas, em derradeiro, as considerações que levaram à proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da humanidade e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade e da paz no mundo; Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultam em atos bárbaros que ultrajam a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamando como a mais alta aspiração do homem comum; Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e opressão, se faz obrigatório realinhar um novo espaço de ingerência dos direitos humanos. Decorrido mais de meio século da proclamação da Declaração Universal de 1948 e partir do surgimento da ONU em 1945, adentra-se na era internacional dos direitos. Nessa fase, os direitos humanos solidificam-se de forma definitiva, gerando, por via de conseqüência, a adoção de inúmeros tratados internacionais, destinados a proteger os direitos fundamentais dos indivíduos. “Os direitos humanos passaram, então, com o amadurecimento evolutivo desse processo, a transcender os interesses exclusivos dos Estados, para salvaguardar, internamente, os interesses dos seres humanos protegidos”. (Valério Mazzuolli). Não há apenas direitos humanos em face do Estado, mas também direitos reclamáveis pela pessoa em face dos grupos sociais e das estruturas econômicas. E há também direitos reclamáveis por grupos humanos e nações, em nome da pessoa humana, dentro da comunidade universal. É importante analisar o Decreto n. 7037/2009, assim como o anexo desse, que tratam do Plano Nacional de Direitos Humanos. Igualmente, para melhor entendimento da matéria, deve-se analisar a Convenção America de Direitos Humanos, datada de 1969, conhecida também como Pacto de San José da Costa Rica. Outrossim, insta ressaltar a fundamentalidade de análise da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Da Resolução nº 34/169, de 17/12/1979 – Código de Conduta para os Policiais (Code of Conduct for Law Enforcement Officials): Código de Conduta para os Policiais: ARTIGO1.º: Os policiais devem cumprir, a todo o momento, o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer. ARTIGO 2.º: No cumprimento do seu dever, os policiais devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de todas as pessoas. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 14 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 14 ARTIGO 3.º: Os policiais só podem empregar a força quando tal se apresente estritamente necessário, e na medida exigida para o cumprimento do seu dever. ARTIGO 4.º: As informações de natureza confidencial em poder dos policiais devem ser mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro comportamento. ARTIGO 5.º: Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. ARTIGO 6.º: Os policiais devem assegurar a proteção da saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar medidas imediatas para assegurar a prestação de cuidados médicos sempre que tal seja necessário. ARTIGO 7.º: Os policiais não devem cometer qualquer ato de corrupção. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente a eles, e combater todos os atos desta índole. ARTIGO 8.º: Os policiais devem respeitar a lei e o presente Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se vigorosamente a quaisquer violações da lei ou do Código. Os policiais que tiverem motivos para acreditar que se produziu ou irá produzir uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades com poderes de controle ou de reparação competentes. 1.7 PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE A UTILIZAÇÃO DA FORÇA E DE ARMAS DE FOGO PELOS POLICIAIS DISPOSIÇÕES GERAIS: Princípio 1º: Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem adotar e aplicar regras sobre a utilização da força e de armas de fogo contra as pessoas, por parte dos policiais. Ao elaborarem essas regras, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem manter sob permanente avaliação as questões éticas ligadas à utilização da força e de armas de fogo. Princípio 2º: Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem desenvolver um leque de meios tão amplos quanto possível e habilitar os policiais com diversos tipos de armas e de munições, que permitam uma utilização diferenciada da força e das armas de fogo. Para o efeito, deveriam ser desenvolvidas armas neutralizadoras não letais, para uso nas situações apropriadas, tendo em vista limitar de modo crescente o recurso a meios que possam causar a morte ou lesões corporais. Para o mesmo efeito, deveria também ser possível dotar os policiais de equipamentos defensivos, tais como escudos, viseiras, coletes anti-balísticos e veículos blindados, a fim de se reduzir a necessidade de utilização de qualquer tipo de armas. Princípio 3º: O desenvolvimento e utilização de armas neutralizadoras não letais deveria ser objeto de uma avaliação cuidadosa, a fim de reduzir ao mínimo os riscos com relação a terceiros, e a utilização dessas armas deveria ser submetida a um controlo estrito. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 15 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 15 Princípio 4º: Os policiais, no exercício das suas funções, devem, na medida do possível, recorrer a meios não violentos antes de utilizarem a força ou armas de fogo. Só poderão recorrer à força ou a armas de fogo se outros meios se mostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o resultado desejado. Princípio 5º: Sempre que o uso legítimo da força ou de armas de fogo seja indispensável, os policiais devem: a) Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à gravidade da infração e ao objetivo legítimo a alcançar; b) Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e lesões e respeitarem e preservarem a vida humana; c) Assegurar a prestação de assistência e socorros médicos às pessoas feridas ou afetadas, tão rapidamente quanto possível; d) Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível. Princípio 6º: Sempre que da utilização da força ou de armas de fogo pelos policiais resultem lesões ou a morte, os responsáveis farão um relatório da ocorrência aos seus superiores, de acordo com o princípio 22. Princípio 7º: Os Governos devem garantir que a utilização arbitrária ou abusiva da força ou de armas de fogo pelos policiais seja punida como infração penal, nos termos da legislação nacional. Princípio 8º: Nenhuma circunstância excepcional, tal como a instabilidade política interna ou o estado de emergência, pode ser invocada para justificar uma derrogação dos presentes Princípio 9º: Policiais não devem usar armas contra pessoas, exceto para se defender ou defender terceiros contra iminente ameaça de morte ou lesão grave, para evitar a perpetração de um crime envolvendo grave ameaça à vida, para prender pessoa que represente tal perigo e que resista à autoridade, ou para evitar sua fuga, e apenas quando meios menos extremos forem insuficientes para atingir tais objetivos. Nesses casos, o uso intencionalmente letal de arma só poderá ser feito quando estritamente necessário para proteger a vida. Princípio 10: Nas circunstâncias referidas no princípio 09º, os policiais devem identificar-se como tal e fazer uma advertência clara da sua intenção de utilizarem armas de fogo, deixando um prazo suficiente para que o aviso possa ser respeitado, exceto se esse modo de proceder colocar indevidamente em risco a segurança daqueles responsáveis, implicar um perigo de morte ou lesão grave para outras pessoas ou se se mostrar manifestamente inadequado ou inútil, tendo em conta as circunstâncias do caso. Princípio 11: As normas e regulamentações relativas à utilização de armas de fogo pelos policiais devem incluir diretrizes que: a) Especifiquem as circunstâncias nas quais os policiais sejam autorizados a transportar armas de fogo e prescrevam os tipos de armas de fogo e munições autorizados; b) Garantam que as armas de fogo sejam utilizadas apenas nas circunstâncias adequadas e de modo a reduzir ao mínimo o risco de danos inúteis; c) Proíbam a utilização de armas de fogo e de munições que provoquem lesões desnecessárias ou representem um risco injustificado; d) Regulamentem o controle, armazenamento e distribuição de armas de fogo e prevejam procedimentos de acordo com os quais os policiais devam prestar contas de todas as armas e munições que lhes sejam distribuídas; e) Prevejam as advertências a serem efetuadas, se for o caso, quando armas de fogo forem utilizadas; a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 16 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 16 f) Prevejam um sistema de relatórios de ocorrência, sempre que os policiais utilizem armas de fogo no exercício das suas funções. Manutenção da ordem em caso de reuniões ilegais Princípio 12: Sendo a todos garantido o direito de participação em reuniões lícitas e pacíficas, de acordo com os princípios enunciados na DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Homem e no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, os Governos e as organizações policiais devem reconhecer que a força e as armas de fogo só podem ser utilizadas de acordo com os princípios 13º e 14º. Princípio 13: Os policiais devem esforçar-se por dispersar as reuniões ilegais, mas não violentas sem recorrer à força e, quando isso não for possível, devem limitar a utilização da força ao estritamente necessário. Princípio 14: Os policiais só podem utilizar armas de fogo para dispersar reuniões violentas se não for possível recorrer a meios menos perigosos, e somente nos limites do estritamente necessário. Os policiais não devem utilizar armas de fogo nesses casos, salvo nas condições estipuladas no princípio 9º. Manutenção da ordem entre pessoas detidas ou presas Princípio 15º: Os policiais não devem utilizar a força na relação com pessoas detidas ou presas, exceto se isso for indispensável para a manutenção da segurança e da ordem dentro dos estabelecimentos prisionais, ou quando a segurança das pessoas esteja ameaçada. Princípio 16: Os policiais, em suas relações com pessoas detidas ou presas, não deverão utilizar armas de fogo, exceto em caso de defesa própria ou para defesa de terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave, ou quando essa utilização for indispensável para impedir a evasão de pessoa detida ou presa representando o risco referido no princípio 09º. Princípio 17: Os princípios precedentes não prejudicam os direitos, deveres e responsabilidades dos funcionários dos estabelecimentos penitenciários, estabelecidos nas Regras Mínimas para o Tratamento de Presos, particularmente as regras 33, 34 e 54. Habilitações, formação e aconselhamento Princípio 18: Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir que todos os policiais sejam selecionados de acordo com procedimentos adequados, possuam as qualidades morais e aptidões psicológicas e físicas exigidas para o bom desempenho das suas funções e recebam uma formação profissional contínua e completa. Deve ser submetida à reapreciação periódica a sua capacidade para continuarem a desempenhar essas funções. Princípio 19: Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir que todos os policiais recebam formação e sejam submetidos a testes de acordo com normas de avaliação adequadas sobre a utilização da força. O porte de armas de fogo por policiais só deveria ser autorizado após completada formação especial para a sua utilização. Princípio 20: Na formação dos policiais, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem conceder uma atenção particular às questões de ética policial e de direitos do homem, em particular no âmbito da investigação, às alternativas para o uso da força ou de armas de fogo, incluindo a resolução pacífica de conflitos, ao conhecimento do comportamento de multidões e aos métodos de persuasão, de a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 17 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 17 negociação e mediação, bem como aos meios técnicos, visando limitar a utilização da força ou de armas de fogo. Os organismos de aplicação da lei deveriam rever o seu programa de formação e procedimentos operacionais à luz de casos concretos. Princípio 21: Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem disponibilizar aconselhamento psicológico aos policiais envolvidos em situações em que tenha sido utilizada a força e armas de fogo. Procedimentos de comunicação hierárquica e de inquérito Princípio 22: Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem estabelecer procedimentos adequados de comunicação hierárquica e de inquérito para os incidentes referidos nos princípios 06º e 11º. Para os incidentes que sejam objetos de relatório por força dos presentes Princípios, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir a possibilidade de um efetivo procedimento de controle, e que autoridades independentes (administrativas ou do Ministério Público), possam exercer a sua jurisdição nas condições adequadas. Em caso de morte, lesão grave, ou outra conseqüência grave, deve ser enviado de imediato um relatório detalhado às autoridades competentes encarregadas do inquérito administrativo ou do controle judiciário. Princípio 23: As pessoas contra as quais sejam utilizadas a força ou armas de fogo ou os seus representantes autorizados devem ter acesso a um processo independente, incluindo um processo judicial. Em caso de morte dessas pessoas, a presente disposição aplica-se aos seus dependentes. Princípio 24: Os Governos e organismos de aplicação da lei devem garantir que os funcionários superiores sejam responsabilizados se, sabendo ou devendo saber que os funcionários sob as suas ordens utilizam ou utilizaram ilicitamente a força ou armas de fogo, não tomaram as medidas ao seu alcance para impedir, fazer cessar ou comunicar este abuso. Princípio 25: Os Governos e organismos responsáveis pela aplicação da lei devem garantir que nenhuma sanção penal ou disciplinar seja tomada contra policiais que, de acordo com o Código de Conduta para os Policiais e com os presentes Princípios Básicos, se recusem cumprir uma ordem de utilização da força ou armas de fogo ou denunciem essa utilização por outros policiais. Princípio 26: A obediência a ordens superiores não pode ser invocada como meio de defesa se os policiais sabiam que a ordem de utilização da força ou de armas de fogo de que resultaram a morte ou lesões graves era manifestamente ilegal e se tinham uma possibilidade razoável de recusar-se a cumpri-la. Em qualquer caso, também será responsabilizado o superior que proferiu a ordem ilegal. O nosso país, com a CF/88 compreendeu a complexidade em torno da importância de criar mecanismos efetivos para a implementação dos direitos humanos. É com essa perspectiva que a CF/88 abre todo um capítulo sobre os direitos sociais, aprofundando a defesa de índios, criança e adolescente, família, idosos, etc. No caso destes últimos, importa destacar que o IBGE estima que nos próximos trinta anos a previsão é de que os idosos ultrapassem cinquenta milhões de pessoas, o que corresponderá a 28% da população brasileira. Para a Lei 8.842/94 (POLITICA NACIONAL DO IDOSO) e para a Lei 10.741/03(ESTATUTO DO IDOSO), são consideradas pessoas idosas toda a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Contudo, para alguns benefícios especiais, tais como aposentadoria e benefício de gratuidade nos transportes há pequenas distinções que não podem ser esquecidas: a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 18 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 18 Segundo a Constituição de 1988, para o direito à aposentadoria compulsória idosa é a pessoa com mais de 70 anos, e também é considerada idosa àquela pessoa que tem mais de 65 anos no que diz respeito ao recebimento da gratuidade dos transportes coletivos conforme o artigo 230, §2º (lembrando a exceção nos serviços seletivos especiais, quando estes são realizados paralelamente aos serviços regulares). Esta última particularidade já foi, inclusive, alvo de atenção do STF que decidiu assim: “EMENTA: Ação direta de Inconstitucionalidade. Artigo 39 de Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso), que assegura gratuidade dos transportes públicos urbanos e semiurbanos aos que têm mais de 65 (sessenta e cinco) anos. Direito Constitucional. Norma constitucional de eficácia plena e aplicabilidade imediata. Norma legal que repete a norma constitucional garantidora do direito. Improcedência da ação”. (ADI 3.768, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/09/2007, DJ de 26/10/2007). Os DireitosHumanos inerentes à população idosa no Brasil são amplamente reconhecidos, recebendo chancela atenta do constituinte originário. Buscando respeitar os limites da própria capacidade de ação do Estado, a Constituição Federal compartilha esta proteção do Idoso, pois estabelece que a família, o Estado e toda a sociedade têm o dever de amparar as pessoas idosas, realizando o possível para a defesa de sua dignidade e bem‐estar. Neste sentido, o STF já decidiu que os idosos devem ter um atendimento (lato senso) prioritário, uma vez que a sua proteção está imbuída a defesa da própria vida, bem como a solidariedade de todos com esta mesma expectativa de vida, pois como já disse Cecília Meireles em um poema de 1968, intitulado “A Velhice pede desculpas”, o Estado e a Sociedade precisam compreender a condição especial da condição de vida de um ser humano que se encontra nesta condição de idoso e assim protegê-los. Conforme a Lei 10.741/03, em seu artigo 3º, § único, são elementos constitutivos do direito de prioridade da pessoa idosa: a) O atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população (a natureza do serviço público equipara os órgãos privados aos órgãos públicos); b) A preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; c) A destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; d) A viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; e) A priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; f) A capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; g) O estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; h) A garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. São, igualmente, princípios dos idosos, conforme a concepção da dignidade humana efetivada em nosso país: Direito do sustento Direito à saúde; Gratuidade do transporte público (como já mencionado acima) Fiscalização do atendimento prestado aos idosos; Obrigações das entidades de atendimento; Prioridade na tramitação dos procedimento judiciais (A lei 10.741/03 reduziu para 60 anos a idade necessária para o benefício da prioridade na tramitação de procedimentos judiciais – artigo 1, lei 10.741/03). a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 19 DIREITO CONSTITUCIONA DIREITOS HUMANOS 19
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