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Dossiê Cebri Centro Brasileiro de Relações Internacionais

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VOLUME 2 - ANO 10 - 2012
www.cebri.org.br
C E N T R O B R A S I L E I R O D E R E L A Ç Õ E S I N T E R N A C I O N A I S
D O S S I Ê
Edição Especial 
O Brasil e a Agenda Global
Dossie.indd 1 18/09/2012 10:51:07
Quem Somos
O Centro Brasileiro de Relações Internacionais - CEBRI, sediado no Rio de Janeiro, é uma OSCIP (Organização da 
Sociedade Civil de Interesse Público), independente, multidisciplinar e apartidária, formada com o objetivo de promover 
estudos e debates sobre temas prioritários da política externa brasileira e das relações internacionais em geral.
Criado em 1998 por um grupo de intelectuais, empresários, autoridades governamentais e acadêmicos, o CEBRI tornou-
se rapidamente uma referência nacional na promoção de encontros de alto nível, conferências e seminários internacionais.
O Centro atua como um think tank de políticas públicas na área externa do País. Sua Missão é criar um espaço para 
estudos e debates, onde a sociedade brasileira possa discutir temas relativos às relações internacionais e à política externa, 
com consequente influência no processo decisório governamental e na atuação brasileira em negociações internacionais.
Em recente pesquisa, a Universidade da Pensilvânia apontou o CEBRI como o 3° mais importante think tank da América 
do Sul e Central. A pesquisa distingue a capacidade do Centro de reunir prestigiosos acadêmicos e analistas; e de produzir 
conhecimento por meio da reflexão, do debate e de publicações sobre temas de política externa.
O CEBRI produz igualmente informação e conhecimento específico na área externa e propostas para a elaboração de 
políticas públicas. Linhas de pesquisa resultam em estudos, boletins, relatórios, newsletters e outros produtos específicos 
para instituições e empresas patrocinadoras.
Conselho Curador 
Presidente de Honra 
Fernando Henrique Cardoso 
Presidente 
Luiz Augusto de Castro Neves 
Vice-Presidente 
Tomas Zinner 
Vice-Presidentes Eméritos
Daniel Miguel Klabin 
José Botafogo Gonçalves 
Luiz Felipe Lampreia 
Conselheiros 
Armando Mariante 
Armínio Fraga 
Carlos Mariani Bittencourt 
Célio Borja 
Celso Lafer 
Claudio Frischtak 
Gelson Fonseca Junior 
Georges Landau 
Henrique Rzezinski 
José Aldo Rebelo Figueiredo 
José Luiz Alquéres 
José Pio Borges de Castro Filho 
Marcelo de Paiva Abreu 
Marco Aurélio Garcia 
Marcos Castrioto de Azambuja 
Marcus Vinícius Pratini de Moraes 
Maria Regina Soares de Lima 
Pedro Malan 
Roberto Abdenur 
Roberto Teixeira da Costa 
Ronaldo Veirano 
Sebastião do Rego Barros 
Vitor Hallack 
Winston Fritsch 
Diretora 
Fatima Berardinelli
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3
Aluisio de Lima-Campos 
Carlos Eduardo Freitas
Cláudio Oliveira Ribeiro
Damian Papoulo
Demétrio Magnoli
Denise Gregory
Eduarda Hamann
Equipe CEBRI
Fabio Feldmann
Georges Landau
Gustavo Piva Andrade
Henrique Rzezinski
José Botafogo Gonçalves
Ko Colijn
Luiz Augusto de Castro Neves 
Marcelo de Paiva Abreu
Marcos Castrioto de Azambuja
Maria Fatima Berardinelli Arraes de Oliveira
Natalia N. Fingermann
Odilon Marcuzzo
Paul Isbell
Ricardo Sennes
Roberto Abdenur
Roberto Teixeira da Costa
Rodrigo C. A. Lima
Rodrigo Cintra
Sandra Rios
Seth Colby
Susan Kaufman Purcell
Thomas S. Knirsch
Tomas Tomislav Antonin Zinner
Edição Especial O Brasil e a Agenda Global
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4
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5
Edição Especial O Brasil e a Agenda Global
ÍNDICE
Introdução 7
 
1 - Brazil and Predatory Currency Misalignments 8
Aluisio de Lima-Campos 
2 - O Brasil e a Crise Econômica Internacional 13
Carlos Eduardo Freitas
3 - Da Crise do Euro à Crise da União Europeia 18
Demétrio Magnoli
4 - A Importância do Uso Estratégico da Propriedade Intelectual 21
Denise Gregory
5 - A “Responsabilidade de Proteger” e “ao Proteger”: breve histórico e alguns 25 
 esclarecimentos 
Eduarda Hamann
6 - Understanding Brazil as a Global Trading Partner 29
Equipe CEBRI
7 - Avaliação da Participação Brasileira na Rio + 20 33
Fabio Feldmann 
8 - A Reforma das Instituições Multilaterais 37
Georges Landau
9 - Propriedade Industrial e Importação Paralela no Ordenamento Jurídico Brasileiro 40
Gustavo Piva Andrade
10 - Brazil and the New Geopolitics of Energy 45
Henrique Rzezinski e Damian Popolo
11 - Os Próximos Desafios da Política Externa Brasileira 49
José Botafogo Gonçalves
12 - Brazil and the Netherlands: common ground in the neo-geo world? 53
Ko Colijn
13 - Afinal, o que o Brasil quer ser no Mundo? 58
Luiz Augusto de Castro Neves 
14 - O Brasil Deve Levar a OMC a Sério 61
Marcelo de Paiva Abreu
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6
15 - O Brasil e a Ordem Internacional 65
Marcos Castrioto de Azambuja
16 - Acordo Internacional para a Proteção de Investimentos Brasileiros no Exterior 69 
Maria Fatima Berardinelli Arraes de Oliveira
17 - Brasil e África: uma parceria estratégica 73
Natalia N. Fingermann e Claudio Oliveira Ribeiro
18 - Desmatamento, Desarmamento, Não Proliferação Nuclear e Compromissos 78 
 Internacionais Assumidos 
Odilon Marcuzzo
19 - The Continuity of Pragmatism: the key to a successful Brazilian energy future 83
Paul Isbell
20 - Os BRICs e a Relativa “Desorganização” Internacional 90
Ricardo Sennes
21 - Mudando o Mapa Mental: África, América do Sul e Atlântico 96
Roberto Abdenur
22 - O Brasil e o Mundo em 2030 99
Roberto Teixeira da Costa
23 - Novo Código Florestal: agenda para o Brasil sustentável 103 
Rodrigo C. A. Lima
24 - Diplomacia Corporativa 107
Rodrigo Cintra
25 - Transição para a Economia Verde: oportunidade na agenda econômica 111 
 externa brasileira 
Sandra Rios
26 - Follow the Brazilian Leader? assessing the exportability of the country s´ 114 
 development model 
Seth Colby
27 - Brazil and the Global Agenda 117
Susan Kaufman Purcell
28 - A Glimpse at the Coming Energy Revolution 120
Thomas S. Knirsch
29 - Brasil: reforma trabalhista e competitividade internacional 125 
Tomas Tomislav Antonin Zinner
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7
Introdução
Em setembro de 2008, no bojo das comemorações dos 10 anos do CEBRI, foi lançada, pela primeira 
vez, a edição especial do Dossiê CEBRI, que condensou a opinião de Conselheiros e Colaboradores do 
CEBRI, sobre a temática “Prioridades da Política Externa Brasileira à luz do Interesse Nacional”.
A iniciativa foi mantida na comemoração do 12° aniversário desta Instituição, transformando-se 
assim em tradição. Este ano, ao completar 14 anos de existência, estamos publicando nova edição especial, 
com as visões de um grupo de especialistas sobre a instigante questão: “O Brasil e a agenda global”.
O motivo da escolha desta linha temática está claro. O Brasil, nos últimos anos, vem conquistando 
posição de maior proeminência no cenário internacional, o que tem refletido na curiosidade e interesse de 
interlocutores externos - think tanks, delegações diplomáticas, universidades e pesquisadores, centros de 
relações internacionais e, até mesmo, a imprensa estrangeira - em conhecer mais sobre o País e sua atuação 
internacional.
Também na sociedade brasileira, o estudo de questões afetas à agenda externa, ganha cada vez 
mais adeptos. É visível o surgimento de novos cursos de Relações Internacionais e a grande participação de 
estudantes e empresas, entre outros, nos eventos promovidos pelo CEBRI.
Sob tal inspiração, organizamos a presente publicação,buscando cobrir uma diversidade de aspectos 
presentes na ordem do dia no cenário internacional, tendo como elemento de ligação a análise das posições 
brasileiras nessas áreas.
As contribuições recebidas para essa edição especial vão de comentários à política externa brasileira 
a pontos de vista sobre tópicos específicos como cambio, crise na zona do euro, investimentos das empresas 
brasileiras no exterior, Organização Mundial do Comércio, energia nuclear, meio ambiente - Rio +20 e 
Código Florestal - entre outros.
Com a valiosa ajuda e expertise dos Conselheiros e Colaboradores do CEBRI, esperamos ter 
contribuído para a realização de nossa missão de promover o debate e difundir o conhecimento sobre 
Relações Internacionais em alto nível.
Fatima Berardinelli Arraes de Oliveira
Diretora
Edição Especial O Brasil e a Agenda Global
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8
1 Chairman of the ABCI Institute and adjunct professor of the Washington College of Law, American University.
Brazil and Predatory 
Currency Misalignments
Aluisio de Lima-Campos1 
Currency misalignments (CMs), as expressed by the difference between an actual exchange rate 
and its estimated equilibrium rate, are not the only problem affecting the competitiveness of Brazilian 
exports. There is widespread recognition in Brazil that other factors, such as deficient infrastructure in 
the transportation sector, high taxes and interest rates, among others, are also culprits and need to be 
addressed. These are domestic factors and their solution is dependent solely on actions by Brazilians, 
government and private sectors alike. On the other hand, misalignments of foreign currencies are beyond 
Brazil’s control and not influenced by its national policies. Although Brazil can deal with the negative 
impacts of CMs in the balance of trade through domestic policy interventions, it risks openly going 
against the multilateral trade liberalization process by doing so. Thus, a solution to the misalignment 
problem must be international or multilateral in nature.
As far as international trade is concerned, my argument is that the most predatory type of CM 
is a significant undervaluation, kept in place for an extended period of time, beyond what would be 
required to correct specific economic imbalances and unjustified by the undervaluing country’s economic 
fundamentals. Under normal foreign exchange market conditions, such undervaluations can only be 
explained by direct or indirect governmental currency manipulation. In other words, if all pertinent 
Aluisio de Lima-Campos
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9
economic indicators are positive in a particular country, this country’s currency, under normal market 
conditions, would most likely tend to appreciate overtime, not stay depreciated for a long period. In this 
case, one could say that the aim of the government’s manipulation is to improve its balance of trade 
(BOT) by both gaining unfair advantage for its exports, as if injecting steroids into an Olympic athlete 
to help him/her win the race, and increasing barriers to its imports at the same time. 
Some other definitions of what constitutes predatory undervaluation or misalignment are worth 
mentioning. According to the International Monetary Fund (IMF), a currency is misaligned when a 
persistent, sizeable and one-way intervention exists. This is too broad and does not differentiate between 
predatory and other types of CMs. Section 3004 of the Omnibus Trade and Competitiveness Act of 
1988 requires the U.S. Treasury to determine if any country with global current account and significant 
bilateral trade surpluses with the U.S. is found to be manipulating the rate of exchange between their 
currency and the dollar for the purposes of preventing effective balance of payments adjustments or 
gaining unfair competitive advantage in international trade. If the U.S. Treasury concludes in the 
affirmative, which it never does, expedited negotiations, through the IMF or bilaterally, are to be 
initiated. J. Gagnon, from The Peterson Institute of International Economics (PIIE), defines extreme 
manipulators as countries that have foreign exchange reserves that are greater than the value of six 
months of goods and services imports; have an average current account balance (as a percent of GDP) 
between 2001 and 2011 that is greater than zero and have increased their reserve stocks relative to their 
GDP over the past 10 years. There are, of course, other definitions, but yet no multilateral consensus.
The negative effects of predatory CMs on trade have been demonstrated in at least two excellent 
research studies. One is by the School of Economics of Fundação Getúlio Vargas (São Paulo - 2012), 
which demonstrates that import tariff protection levels, duly negotiated at the World Trade Organization 
(WTO), are eroded to the point of becoming negative in what I would call not-undervalued-currency 
(NUC) countries. It also shows that import tariff protection levels are increased, even beyond the limits 
of WTO bound rates, in undervalued-currency (UC) countries. Another paper by Mattoo, Mishra 
Brazil and Predatory Currency Misalignments
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10
and Subramanian (PIIE, March 2012) looks into the “spillover effect”. It suggests that, on average, a 
10 percent appreciation of China’s real exchange rate boosts a developing country’s exports of a typical 
4-digit Harmonized System (HS) product category to third markets by about 1.5 to 2 percent.
Brazil is pushing for a multilateral solution at the World Trade Organization (WTO). As proposed 
in September of 2011, the Brazilian initiative was comprised of three steps. The first was a review 
of the literature available on the subject, which was done by the WTO secretariat on October 2011 
(Staff Working Paper ERSD-2011-17). Second, a two-day seminar to discuss the subject of currency 
misalignments and trade, which was held in Geneva in March 2012. The focus of the latter, however, 
was more on “stock taking” rather than on “what can be done”, which given the political sensitivities was 
not unexpected. It was supposed to be an open meeting, with broad participation, which unfortunately 
was not, reportedly at the request of China and the U.S. Third, a discussion of proposals to tackle the 
problem, which is still to take place. A paper with Brazilian suggestions for a solution is to be presented 
in the next meeting of the WTO’s Working Group on Trade, Debt and Finance, sometime in the second 
half of 2012. The idea is to keep the discussion going at the WTO until a solution is reached. 
As demonstrated by the difficulties in the Doha Round of negotiations, any consensus on a 
negotiated solution in the WTO for the CM problem is bound to be a long-term proposition, especially 
if it involves a new agreement or changes in existing rules. If this is so, what are governments and affected 
industries to do in the meantime? Right now, in the absence of a clear guideline from the WTO on how 
to deal with this problem, NUC countries are getting creative with questionable unilateral trade barriers 
and/or currency wars, both undesirable from an economic perspective. Under these circumstances, I 
have been suggesting that a better alternative would be a complementary second track approach to take 
care of short and medium term situations that, if well designed and implemented, can even aid in a 
negotiated solution at the WTO. It calls for the use of trade remedies, specifically countervailing duties 
(CVDs).
Aluisio de Lima-Campos
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11
The proposal is laid out in detail in the article “A Case for Currency Misalignments as 
Countervailable Subsidies”(Journal of World Trade, 46:5, 2012). It advocates that predatory CMs (not 
every CM) can be treated as prohibited subsidies under the Agreement of Subsidies and Countervailing 
Measures and be subject of a petition to the Brazilian investigating authority (DECOM) at the Ministry 
of Development Industry and Trade. Predatory CMs are prohibited subsidies because they are contingent 
upon exports – the benefit only accrues to exporters if there is exportation. An injury test and a causal 
relationship between the injury and the subsidized imports would be required to impose a CVD. 
There has been resistance to this approach on what could be considered very shaky grounds. One 
is that the trade remedies agreements (antidumping and countervailing duties) of the WTO make no 
mention of currency misalignments or exchange rates, which implies that they cannot be used to deal 
with CMs. Another is that if such a case ends up in a dispute settlement panel the judges will tend to 
be very conservative, implying that a CVD based on CMs would not be acceptable by the panel. With 
regard to both of these concerns, I would cite professor Luiz Olavo Baptista, former chairman of the 
Appellate Body, who reminded everyone at a recent seminar in São Paulo, that there is very little or no 
mention in the agreements of “health”, “environment”, “dolphins” or “turtles” either, but the dispute 
settlement body was able to interpret the agreements and come up with a decision in these novel cases. 
Novel cases are riskier by nature; they are more difficult to prove. The Brazilian case against 
U.S. cotton subsidies is a good example. It was the first and only case to challenge the “peace clause”, 
which granted developed countries “carte blanche” to subsidize their agricultural products as long as 
they did not go over a predetermined value limit. At the time, this was viewed as an insurmountable 
barrier for bringing the cotton case to fruition. Even when the numbers revealed that the United States 
had subsidized beyond that limit there still was concern on the Brazilian side that a panel would decide 
against Brazil. This case turned out to be a successful one because its inherent difficulties were not 
allowed to become impediments at the end of the day. 
Brazil and Predatory Currency Misalignments
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12
There are benefits in following a two-track approach: first, a well prepared CVD case can put 
pressure on negotiators to expedite a consensus solution at the WTO; second, even the threat of a CVD 
case may remove negotiating obstacles; third, a CVD case can aid in providing ideas for a negotiated 
solution at the WTO; and fourth, if it is reviewed by a WTO panel, it narrows the focus of the analysis to 
technical issues while reducing the opportunities for political influence. In addition, NUC governments 
will have in a CVD investigation a ready legal instrument to compensate an injured domestic industry, 
under due process, which is a better alternative than “ad hoc” unilateral trade barriers that could be 
clearly challenged at the WTO. 
Aluisio de Lima-Campos
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13
1 Consultor Independente de Assuntos Econômicos em Brasília e Conselheiro Efetivo do Conselho Regional de Econo-
mia do Distrito Federal (CORECON/DF). Ex-Diretor do Banco Central na Área Externa e na Área de Liquidações e 
Desestatização. 
2 Não necessariamente as Fases se sucedem cronologicamente. Há superposições da Fase I com a II e dos momentos mais 
avançados da Fase II com a Fase III.
O Brasil e a Crise Econômica Internacional
Carlos Eduardo Freitas1
A economia mundial é impulsionada por três turbinas. Com a recidiva da crise internacional, a 
primeira e mais importante delas – a economia americana – está trabalhando a meio vapor. A turbina 
número 2, a União Europeia, está praticamente parada. A turbina número 3 – a China – que não 
enfrentou crise alguma, mas cuja potência depende das outras duas, dá sinais de perda de empuxo.
Usando o referencial da crise da dívida externa latino-americana de 1982, podem-se caracterizar 
para efeitos didáticos, três etapas nas trajetórias de recuperação dessas turbulências econômicas, como 
segue2:
a) Fase I, em que o objetivo é manter-se à tona no período agudo, isto é, não permitir que a 
crise saia de controle e a economia degringole;
b) Fase II: depois que a crise se cristaliza, trata-se de reequilibrar a economia preparando-a 
para novo ciclo de expansão;
c) Fase III: resolvida a crise, chega o momento de ganhar produtividade, voltando-se a 
pensar no crescimento econômico.
As estatísticas mostram a economia americana recuperando-se gradualmente. A dívida do governo 
cresceu muito para evitar a degringolada pós-erupção da gigantesca bolha imobiliária, e será necessário 
O Brasil e a Crise Econômica Internacional
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14
mais tempo para sua redução. Os Estados Unidos se encontram no que seria a Fase II da trajetória de 
saída da crise. A flexibilidade do sistema econômico americano, associada à vanguarda daquele país em 
matéria de ciência e tecnologia, milita a favor de uma retomada mais rápida da prosperidade econômica 
na Fase III. 
A crise europeia é mais complicada. Ainda se encontra na Fase I, pois não conseguiu, até agora, 
sair de um renitente período agudo. A zona do euro não é um estado propriamente dito, nem uma 
confederação e muito menos uma federação, o que dificulta a implementação de medidas de sustentação 
e de reequilíbrio. 
O temor de que uma reestruturação formal da dívida dos países mais afetados possa desencadear 
uma crise bancária em cadeia parece ser o fator que vem inibindo o encaminhamento de soluções do 
tipo que foi usado na América Latina em 1982/1983. Lá, os países saíam temporariamente do mercado 
financeiro e passavam a girar suas dívidas administrativamente, junto a comitês de credores, sob a 
supervisão do FMI, com apoio do Federal Reserve e do Bank of England.
Essa estratégia evitava pagamento de juros exorbitantes e abria uma janela temporal para o 
reequilíbrio das economias endividadas e para capitalização dos bancos.
No caso europeu, o reequilíbrio e a capitalização dos bancos têm de ser praticamente concomitantes 
às medidas de socorro financeiro imediato, porque se pretende que os países continuem girando suas 
dívidas em mercado. Esse giro não é feito sem dificuldades e demanda intervenções sistemáticas do 
Banco Central Europeu (BCE). Daí a percepção permanente de iminência de desastre que é transmitida 
pelo noticiário on line da mídia.
Reequilibrar uma economia em crise é exercício sempre doloroso, porque envolve reduções de 
preços – salários e margens – que se elevaram excessivamente durante a euforia. A taxa de câmbio 
real é o principal balizador desses preços. Ela precisa ser desvalorizada para trazer salários e margens 
aos respectivos níveis de equilíbrio. A experiência mostra que fazer isso mediante flutuação da taxa de 
câmbio nominal é mais simples de administrar do que conduzir uma política de redução nominal de 
Carlos Eduardo Freitas
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15
O Brasil e a Crise Econômica Internacional
salários e preços, mantendo fixa a taxa de câmbio nominal. Mas, o problema é que os países do euro 
não têm moeda própria para flutuar – tudo se passa como se operassem com uma moeda estrangeira e, 
por conseguinte, só têm um caminho para desvalorizar sua “taxa de câmbio real”, que é gerenciar uma 
política de redução nominal de salários e preços internamente.
Dolorosa que seja tal política, tudo indica ser essa a opção dos países endividados aliás, confirmada 
nas eleições gerais da Grécia de 17 de junho último.
Em resumo, a Europadeve demorar a chegar à Fase III e voltar a a crescer. E isso, abandonando-
se a hipótese apocalíptica de ruptura desordenada da zona do euro.
A economia chinesa adotou o modelo de crescimento voltado para as exportações, que, combinado 
à sua elevadíssima taxa de poupança interna, resultou em vultosa acumulação de investimentos no 
exterior (reservas internacionais de US$ 3.240 bilhões em junho/20123).
Entretanto, a estratégia está sentindo o impacto da desaceleração americana e europeia. Porém, 
a China tem espaço para substituir parte do investimento no exterior por absorção doméstica (consumo 
mais investimento interno), sustentando o nível de sua demanda agregada. Ao mesmo tempo, essa 
mudança de foco seria de todo positiva para alavancar a recuperação da economia mundial. O problema 
é se o governo chinês desejará e conseguirá fazer um movimento nesse sentido, uma vez que parte 
importante de seu parque produtivo está voltada para o mercado externo. De qualquer forma, essa 
mudança eventualmente terá de ocorrer, até por razões sócio-políticas. Porém, isso pode demorar. 
Em resumo, uma expectativa razoável seria de que a economia chinesa continuasse a ostentar 
taxas de crescimento ainda elevadas, mas, possivelmente, em patamares mais baixos que os observados 
no passado recente4. 
3 WEB, Wikipedia, List of States by Foreign Exchange Reserves, “Bloomberg China Monthly Foreign Exchange Re-
serves”, Bloomberg 2012-03-31 Retrieved 2012-07-05.
4 O FMI está prognosticando 8% e 8,5% de crescimento do PIB chinês, respectivamente, em 2012 e 2013, contra 10,4% 
e 9,2%, observados em 2010 e 2011.
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16
Disso tudo decorre a perspectiva de meia década de expansão modesta da economia mundial, 
com as turbinas 1 e 3 operando a meia força e a turbina nº 2 em baixa rotação. E este poderia ser visto, 
inclusive, como cenário otimista.
O Brasil conduziu bem a Fase I na crise de 1982 e chegou a esboçar um processo de reequilíbrio 
macroeconômico. Entretanto, a Fase II foi interrompida pela mudança do governo em 1985, e em seguida, 
totalmente paralisada pela Constituição de 1988, que estruturou um sistema econômico socialmente 
muito ambicioso, exigindo carga tributária elevada. A riqueza do país é insuficiente para conciliar os 
mandamentos da Constituição com investimento elevado, e, por conseguinte, o potencial de expansão 
do PIB diminuiu. 
Afinal, em 1994, o Brasil assinou os acordos definitivos da dívida externa oriunda da crise de 
1982, embora sem a benção do FMI, porque os fundamentos fiscais não seriam suficientemente fortes. 
De fato, o processo de reequilíbrio macroeconômico só se completou em 2002, e assim mesmo alguns 
passos ficaram faltando. Contudo, pouco pôde ser feito relativamente à Fase III, isto é, aos aumentos de 
produtividade para recuperar o potencial de crescimento econômico. 
Entretanto, embalado pelo vento de cauda da subida dos preços das commodities o PIB alcançou 
taxa média de crescimento de 4,2%a.a. no período 2006/2011. Mas, a crise europeia recrudesceu e 
registra-se, neste 1º semestre de 2012, uma desaceleração generalizada. Em consequência disso, o vento 
de cauda dos ganhos nos termos do intercâmbio deverá ser substituído por certa calmaria, se não por 
algum vento de proa. 
Assumindo nosso cenário de meia década à frente de expansão modesta da economia mundial, o 
ambiente econômico internacional deve se mostrar neutro do ponto de vista brasileiro. Pode-se esperar 
que as relações de troca se mantenham mais ou menos estáveis aos níveis atuais, o que não seria de todo 
mal, pois significaria um patamar 30% acima do que prevaleceu no período 1999/2005. Deverá haver 
liquidez internacional suficiente, e eventualmente até mais do que suficiente, para irrigar a economia 
brasileira com investimentos externos necessários à complementação da baixa poupança doméstica. 
Carlos Eduardo Freitas
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17
Entretanto, o padrão de 4,2%a.a. de média de crescimento observado nos seis anos de 2006 a 
2011 deverá reduzir-se para um potencial mais próximo de um comportamento histórico, como, por 
exemplo, o refletido na média de crescimento observada nos vinte anos de 1993 a 2012, consideradas as 
seguintes razões:
a) O período inicia-se quando ganham momentum as medidas de reequilíbrio 
macroeconômico no Brasil;
b) Alterna períodos favoráveis com quadros desfavoráveis da conjuntura internacional, 
embora ,no todo, a economia mundial tenha sido amigável à prosperidade brasileira;
c) Parece assim, uma fase da história brasileira apropriada para sugerir um potencial de 
crescimento compatível com uma economia mundial que anda de lado, e com uma economia brasileira 
que avançou bastante no processo do equilíbrio macroeconômico, mas falta um pedaço no que concerne 
a reformas de ganhos de produtividade.
A taxa média de crescimento do PIB de 1993 a 20126 foi de 3,3%a.a. Parece, assim, razoável 
se pensar em numa taxa potencial de crescimento da economia brasileira para os próximos cinco anos 
entre 3,0% e 3,5%a.a.. O FMI é mais otimista e enxerga um potencial de 3,75% a 4,25% para o 
crescimento anual do PIB. Segundo ele próprio, o Banco Central seria ainda mais otimista, colocando 
uma expectativa de expansão potencial do PIB entre 4,5% e 5,5%7.
Evidentemente, mudanças de curso no cenário mundial em relação à hipótese aqui assumida, 
como também da direção das políticas econômicas do governo brasileiro poderiam alterar a previsão.
5 Assumiu-se crescimento do PIB de 1,8% em 2012, conforme estimativa do IBRE/FGV.
6 Valor, 24/7/2012, C14. Reportagem sobre o Relatório do FMI sobre a economia brasileira (art. IV do Convênio 
Constitutivo).
O Brasil e a Crise Econômica Internacional
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1 Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia Humana, é integrante do Grupo de Análises de Conjuntura 
Internacional da USP (GACINT-USP), colunista de O Estado de S. Paulo e O Globo e comentarista de política internacional 
do Jornal das Dez da Globo News.
Da Crise do Euro à Crise da União Europeia 
Demétrio Magnoli1
A União Europeia é o fruto de dois intercâmbios entre França e Alemanha, separados por quatro 
décadas. No primeiro, em 1951, a Alemanha cedeu a supremacia sobre a siderurgia – a fonte última do 
poder militar – no altar de sua admissão ao concerto de uma Europa reinventada. No segundo, em 1991, 
a Alemanha cedeu a soberania sobre a sua moeda, compartilhando-a com a França, em nome do direito à 
reunificação. “Metade do marco para Miterrand; a Alemanha inteira para Kohl”, disseram os cínicos. O 
euro almejava dissolver o espectro da “Europa alemã” na solução da “Alemanha europeia”. Ironicamente, a 
crise do euro evidenciou a consolidação de uma “Alemanha europeia” – mas na moldura inesperada de uma 
“Europa alemã”. O arranjo instável, desequilibrado, ameaça o edifício construído por Monnet, Schuman e 
Adenauer no imediato pós-guerra.
 A crise do euro não foi um raio no céu claro. Desde a introdução da moeda única, ao longo de 
uma década, alargou-se o diferencial de produtividade entre a Alemanha e os países da periferia da Zona 
do Euro. A democracia alemã, com sua notável capacidade para produzir consensos abrangentes, restaurou 
a competitividade da “economia social de mercado”, por meio da articulação dos dois grandes partidos em 
torno de um programa de flexibilização do mercado de trabalho e de participação dos sindicatos na gestão 
das empresas. Em contraste, a França e, especialmente, os países do sul da Europa conservaram a rigidez de 
seus mercados de trabalho. A conta chegou na hora da crise financeira global, evidenciando o esgotamento 
de um modelo que ocultou as assimetrias reais sob as máscarasfinanceiras do crédito e da dívida. 
Demétrio Magnoli
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A integração assimétrica, expressa nos enormes saldos positivos de conta-corrente do intercâmbio 
da Alemanha com a Zona do Euro, serviu aos interesses de todos os participantes do sistema. Numa ponta, 
a máquina exportadora da economia alemã, vergada sob o peso da incorporação da RDA na paridade 
cambial artificial decidida por Kohl, retomou seu dinamismo graças aos mercados quase cativos da Europa. 
Na outra, os níveis de renda e consumo nos países periféricos cresceram à custa da elevação acelerada do 
endividamento público e privado. 
Não há solução estrutural para o impasse sem a restauração prévia da verdade econômica. No quadro 
restritivo da união monetária, só há dois caminhos para restaurá-la: uma deflação impiedosa nos países 
endividados ou uma inflação de rendas e preços na Alemanha. A inflexível opção do governo de Merkel 
pelo primeiro caminho reflete tanto as percepções impressionistas do eleitorado sobre o comportamento 
dos países endividados quanto o trauma histórico da hiperinflação alemã da década de 1920. Contudo, o 
resultado dessa opção é o esgarçamento do tecido político da própria União Europeia. 
Sarkozy figura como vítima mais recente de um fenômeno que devasta os sistemas políticos nacionais 
na União Europeia: por doze vezes consecutivas, os partidos no governo foram derrotados pelos partidos de 
oposição. Na Itália, um governo não-eleito escancara a crise de legitimidade. Na França, a Frente Nacional 
ameaça se converter no núcleo da oposição. Na Grécia, os dois partidos tradicionais experimentam um 
cenário próximo ao do colapso eleitoral. A perspectiva de uma prolongada depressão econômica tensiona as 
democracias, gerando forças centrífugas de extrema-esquerda e extrema-direita orientadas por plataformas 
anti-europeias.
Se, no plano nacional, a receita alemã abala os equilíbrios políticos e sociais, num plano mais amplo 
ela provoca a erosão do concerto supranacional da União Europeia. Na sua “etapa heroica”, o projeto 
europeu nutriu-se do espectro do “expansionismo soviético”. A incorporação dos países do antigo bloco 
soviético encerrou aquela etapa, o que implicou na mudança do foco da legitimidade para a promessa 
de prosperidade e bem-estar social. A saída deflacionária formulada por Merkel desmancha esse alicerce 
Da Crise do Euro à Crise da União Europeia
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político da Europa. O crescimento dos nacionalismos, nas suas versões de direita e de esquerda, é o sintoma 
mais evidente da gangrena do concerto europeu.
 O sentido voluntarista da política de Merkel foi expresso num diálogo travado entre a chanceler 
alemã e o ex-premiê grego Papandreou, no momento da imposição à Grécia do plano de austeridade. Face 
a um pedido de relaxamento dos termos do acordo, a chanceler retrucou que sua intenção era assegurar-se 
de que nenhum outro governo europeu quereria receber um resgate financeiro. Não funcionou: Irlanda e 
Portugal, mesmo a contragosto, provaram do mesmo copo envenenado, que provavelmente será servido à 
Espanha. 
O fracasso econômico da austeridade extremada já foi demonstrado na prática. Hoje, contudo, 
assiste-se ao esgotamento político do “plano Merkel”. À frente do Banco Central Europeu, Mario Draghi 
conduz um experimento de quantitative easing que ainda não envolve o resgate direto de dívidas públicas 
nacionais. Na Espanha, Rajoy ameniza, unilateralmente, o aperto financeiro definido pelo pacto fiscal 
europeu. Na França, crucialmente, Hollande exige a renegociação do pacto fiscal e um “reequilíbrio” 
político na União Europeia – uma senha de contestação da liderança hegemônica de Merkel. No círculo 
ampliado do G-8, Obama alinha-se com Hollande e proclama que as prioridades da Europa devem ser o 
“crescimento” e o “emprego”. A mudança de rumo está em curso, mas resta saber se não é tarde demais. 
Mesmo se a União Europeia conseguir evitar uma catástrofe econômica, a Europa ingressa em 
profunda recessão, que acarretará anos de estagnação. O fenômeno encerra a “etapa chinesa” da globalização, 
que se baseou no forte contraste entre o comportamento da conta-corrente da China e o do conjunto 
Europa/Estados Unidos. Efetivamente, como já se verifica, reduzem-se os mercados para as exportações 
chinesas, o que tende a produzir um recuo significativo nas taxas de crescimento da potência asiática e na 
sua demanda de commodities. 
A economia brasileira, como a de outros países emergentes, surfou durante quase uma década na 
onda de investimentos gerada, direta ou indiretamente, pela expansão da China. Agora, todo o cenário 
mudou – para pior. 
Demétrio Magnoli
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1 Diretora de Cooperação para o Desenvolvimento do INPI
A Importância do Uso Estratégico 
da Propriedade Intelectual 
Denise Gregory1
Na era da informação, do conhecimento e do crescimento vertiginoso e sem precedentes das 
trocas comerciais de bens e serviços, assume igual velocidade a demanda por direitos de Propriedade 
Intelectual (PI). Os ativos em PI: patentes, marcas, desenhos industriais e software são bens intangíveis 
que adquirem cada vez mais importância como indicadores do conhecimento e do desenvolvimento 
tecnológico dos países.
Ao se acirrar a competição entre as empresas, possui mais vantagem quem está na vanguarda 
tecnológica, quem protege seu conhecimento e quem reconhece que processos e produtos exclusivos 
agregam valor e podem gerar riqueza. Inovação não existe sem proteção! Os Direitos de PI - a propriedade 
industrial e o direito de autor- asseguram tanto posição jurídica, a titularidade, quanto posição econômica, 
a exclusividade. A proteção permite ao titular privilégio para a utilização do seu invento no país onde ele 
está protegido. Permite ao dono a exclusividade de processo industrial de produção, de comercialização de 
seu bem ou serviço, de sua marca, de signo distintivo ou de sua obra literária. A patente ou o registro confere 
ao titular, o direito de impedir que um terceiro use, produza, venda ou importe sem seu consentimento. O 
dono pode explorar seus direitos ou transferi-los a terceiros, por meio de contratos de licença, o que permite 
a construção de parcerias tecnológicas. Ativos de PI são fundamentais para a maior inserção internacional 
do país, e para a conquista de espaço no mercado global pelas empresas brasileiras.
A Importância do Uso Estratégico da Propriedade Intelectual
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O Brasil figura entre os primeiros países do mundo a regular Direitos de PI. Data de 1809 o Alvará 
de Dom João VI de concessão de exclusividade aos inventores de novas máquinas, como um beneficio a 
industria e às artes. Somos signatários dos principais instrumentos jurídicos do Direito Internacional que 
estabeleceram parâmetros contemporâneos de proteção e de respeito a esses direitos.
Cabe, igualmente, destacar o protagonismo histórico brasileiro no campo cientifico, com instituições 
seculares, como os Institutos Butantã e Manguinhos, ainda hoje na elite da pesquisa. São esplêndidos e 
conhecidos os resultados alcançados a partir das ações de estimulo à pesquisa, à produção cientifica, à 
formação de mestres e doutores (com a Capes e o CnPQ), bem como ações de financiamento e fomento 
(com as Fundações de Pesquisa e a FINEP). O Brasil ocupa a honrosa 13ª posição no mundo em número 
de artigos publicados, o que corresponde a 3% do total mundial. O mesmo, no entanto, não se verifica no 
campo patentário. O total de depósitos de patentes por residentes é muito baixo, não correspondendo ao 
desenvolvimento científico, levando-nos a afirmar que se converte pouco conhecimentoem inovação.
Em recente discurso, a Presidente Dilma Roussef destacou o número de depósitos de patentes como 
o mais relevante indicador do impacto da evolução econômica de uma nação. Ela afirmou que temos de 
medir nossa capacidade de formação e, sobretudo da nossa meritocracia, no que se refere ao processo de 
inovação e tecnologia em patentes, e não em artigos científicos apenas. Continuou afirmando que o Brasil 
tem de valorizar o cientista, o tecnólogo e o inovador, uma vez que temos de ter pessoas capazes de gerar 
patentes no país, e assumiu o compromisso de modernizar o Instituto Nacional da Propriedade Industrial 
– INPI. O Instituto é o responsável pela proteção, pela concessão dos direitos de PI e pela promoção e 
fomento à geração da PI, e vem ampliando e aperfeiçoando seus quadros e sua estrutura, com a automação 
dos seus servicos (e-marcas e e-patentes). 
Por conta do importante acervo e acesso a bases patentárias, o INPI é, por vezes, referido como o 
Banco Central do conhecimento. Estima-se que 75% do conhecimento tecnológico do mundo está contido 
apenas nos bancos de patentes. As informações ali contidas permitem conhecer o estado da técnica, fazer 
Denise Gregory
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A Importância do Uso Estratégico da Propriedade Intelectual
um mapeamento da rota tecnológica de determinado setor, verificar se a patente foi concedida no país e se 
já caiu em domínio publico; o que, por sua vez, permite encontrar oportunidades para seu uso e exploração. 
Um dos maiores desafios da Instituição é divulgar e disponibilizar essas informações à sociedade.
É bem recente a articulação no governo federal entre as políticas industrial, tecnológica e de 
comercio exterior, tendo como eixo central o fomento à inovação. O recém lançado Plano Brasil Maior, a 
nova política industrial, traz como sub-titulo “Inovar para competir. Competir para crescer”. Também cabe 
ressaltar o nível de maturidade e compreensão, a respeito da importância do uso estratégico de PI, pelo setor 
privado. A Propriedade Intelectual é o ponto número um da agenda empresarial da inovação, dentre dez 
pontos prioritários para o Brasil inovar e competir. A agenda foi lançada em 2011 pelo movimento da CNI 
conhecido como MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação). 
O crescimento do numero de pedidos de depósitos de patentes e de registros de marcas é exponencial 
em todo o mundo, o que torna a demora no exame, o chamado backlog, um problema mundial. Os números 
referentes a pedidos de patentes já ultrapassaram a casa de um milhão em 2011, nos EUA e na China. 
No Brasil, o INPI recebeu cerca de 32 mil pedidos de patentes e 155 mil pedidos de marcas. O sistema 
internacional de PI trilha um caminho de cooperação entre os escritórios nacionais responsáveis, na busca 
de alternativas de solução para o backlog e aceleração do exame de pedidos.
Os cinco mais importantes Escritórios do mundo: EUA, Europa, China, Japão e Coréia do Sul, se 
articulam no chamado IP 5, buscando entendimento de caráter operacional nos campos da classificação, 
documentação, estatística e procedimentos comuns , bem como de caráter colaborativo. Também proliferam 
arranjos regionais, a exemplo do ASEAN Group e do Vancouver Group. Mas é na América do Sul que 
avança rapidamente o projeto de integração denominado PROSUL (PROSUR), que reúne Argentina, 
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Suriname e Uruguai. O objetivo é melhorar os serviços 
prestados pelas oficinas de PI, por meio do desenvolvimento de uma plataforma comum de integração, 
um Portal Sul-Americano de Serviços de PI e de Informação Tecnológica da instituição do Registro Sul-
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Americano de Marcas e de Indicações Geográficas, bem como do Exame Colaborativo de Patentes. Está 
sendo criado um ambiente de confiança entre os examinadores de patente da região, onde o ganho é a 
utilização do trabalho já feito pelo escritório parceiro.
Denise Gregory
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1 Eduarda Passarelli Hamann é advogada, tem mestrado e doutorado em Relações Internacionais e coordena o Programa 
de Cooperação Internacional do Instituto Igarapé (www.igarape.org.br).
2 Para o Documento Final de 2005, ver A/RES/60/1 (24 out. 2005), disponível em: <www.un.org/Docs/asp/ws.asp?m=A/
RES/60/1>. O conceito de “R2P” foi criado alguns anos antes, em dezembro de 2001, com o relatório da International 
Comission on Intervention and State Sovereignty, comissão externa à ONU, integrada por 12 especialistas de diferentes 
nacionalidades e financiada pelo Canadá (disponível em <responsibilitytoprotect.org/ICISS%20Report.pdf>). Na ONU, 
as discussões avançaram em dezembro de 2004 com o Painel de Alto Nível sobre Ameaças, Desafios e Mudanças, criado 
pelo então Secretário-Geral do organismo, Kofi Annan - ver A/59/565 (02 dez. 2004), disponível em: <www.un.org/
secureworld/report.pdf>).
A “Responsabilidade de Proteger” e “ao Proteger”: 
breve histórico e alguns esclarecimentos 
Eduarda Passarelli Hamann 1
Breve histórico 
A “responsabilidade de proteger” (R2P) foi oficialmente inserida no âmbito da Organização das 
Nações Unidas (ONU) por meio do Documento Final da Cúpula Mundial de 2005 (“Documento 
Final de 2005”), aprovado por consenso por chefes de Estado e de governo2. Uma de suas principais 
contribuições é pôr fim a algumas discussões da década de 1990 acerca dos limites materiais da 
intervenção militar por motivações humanitárias. Nele, afirma-se que a R2P se refere a apenas quatro 
crimes: genocídio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e limpeza étnica. Outra importante 
contribuição diz respeito à prevenção, princípio que permeia todo o conceito – tanto a responsabilidade 
que cada Estado tem de proteger populações, como a da comunidade internacional, ao apoiar os Estados 
no exercício de sua responsabilidade.
A “Responsabilidade de Proteger” e “ao Proteger”:
breve histórico e alguns esclarecimentos 
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Coube ao Secretário-Geral da ONU (SGNU) refletir sobre a implementação da R2P em um 
relatório de 20093 que, entre outras coisas, reorganiza a discussão em três pilares. Tal relatório, além de 
detalhar o texto do Documento Final de 2005, foi relativamente bem recebido pelos Estados-membros4. 
Segundo ele, o Primeiro Pilar reforça o entendimento de que cada Estado tem a responsabilidade 
primária de proteger suas populações. O Segundo Pilar prevê que a comunidade internacional tem a 
responsabilidade de recorrer a meios diplomáticos, humanitários e outros meios pacíficos que sejam 
adequados para proteger populações em apoio aos Estados envolvidos. O Terceiro Pilar enfatiza que, 
quando as autoridades nacionais realmente fracassarem, ou quando os meios pacíficos se mostrarem 
inadequados, a comunidade internacional poderá recorrer à ação coletiva, de maneira decisiva e oportuna, 
por meio do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), de acordo com a Carta da ONU, 
analisando-se cada caso. Esses são os parâmetros previstos pelo Documento Final de 2005, reforçados 
posteriormente pelo relatório do SGNU.
A complexidade do Terceiro Pilar
O Terceiro Pilar é o mais controverso e, de maneira incorreta, tem sido frequentemente equiparado, 
em sua integridade, ao uso da força ou à intervenção militar unilateral5. Uma análise dos documentos que 
fundamentam a R2P e da própria Carta da ONU demonstra que esse pilar é muito mais abrangente, por 
pelo menos três razões. 
Primeiro, a prevenção está presente no Terceiro Pilar com a mesma intensidade que nos outros 
dois Pilares, o que abre um leque de possibilidades para ação coletiva não-coercitiva sob os Capítulos VI 
(Art. 33) e VIII (Art. 52) da Cartada ONU. Como exemplos, há missões de investigação, mediação, 
3 Ver A/63/677 (12 jan. 2009), disponível em: <www.un.org/Docs/journal/asp/ws.asp?m=a/63/677>. 
4 Alguns países em desenvolvimento, inclusive o Brasil, resistem ao uso da força sob o Terceiro Pilar e não ao Terceiro 
Pilar em sua integridade – por receio de agendas escusas.
5 ICRtoP. “Clarifying the Third Pillar of the Responsibility to Protect: Timely and Decisive Response”. 20 set. 2011. 
Disponível em: <http://responsibilitytoprotect.org/Clarifying%20the%20Third%20Pillar%20of%20the%
20Responsibility%20to%20Protect_Timely%20and%20Decisive%20Response(1).pdf>.
Eduarda Passarelli Hamann
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A “Responsabilidade de Proteger” e “ao Proteger”:
breve histórico e alguns esclarecimentos 
 
bons ofícios, meios judiciais, recurso a organismos regionais e outros arranjos pacíficos à escolha dos 
envolvidos. A autoridade para fazê-lo não se restringe ao CSNU: outros órgãos do Sistema ONU, 
organismos regionais (Cap. VIII) ou grupos de Estados podem fazê-lo. Essa abordagem mais abrangente 
é bastante defendida pelo Brasil6.
Segundo, a adoção de medidas sob o Capítulo VII não equivale ao uso da força, tal Capítulo 
também contém dispositivos como o Art. 41, que versa sobre ações coletivas “menos coercitivas”, a 
serem aprovadas pelo CSNU. Entre elas, destacam-se a ruptura das relações diplomáticas, a imposição 
de embargos econômicos e a aprovação de operações de manutenção da paz robustas. Além disso, o 
emprego de militares tampouco equivale ao uso da força. Com frequência, militares são desdobrados 
para missões de manutenção ou de consolidação da paz (Cap. VI ou VII) como assessores, analistas e 
observadores – sempre desarmados. Ou seja, a adoção de medidas não coercitivas e menos coercitivas é 
uma possibilidade real de operacionalização do Terceiro Pilar e tem sido bem aceita pelo Brasil7. 
Por fim, há a referência, no Terceiro Pilar, ao uso da força em operações de R2P, ou seja, ao 
emprego de tropas, em nome da comunidade internacional, para proteger populações dos quatro crimes 
prescritos pela R2P. Essas, sim, são ações coletivas coercitivas e estão previstas nos Capítulos VII (Art. 
42) e VIII (Art. 53) da Carta da ONU. Devem ser analisadas a cada caso e necessariamente aprovadas 
pelo CSNU, ainda que sejam executadas por um organismo regional ou coalizão. Fica evidente que o 
uso da força é apenas uma parte do Terceiro Pilar, a que se recorre somente depois de esgotadas todas 
as outras possibilidades. O Terceiro Pilar, portanto, não pode ser reduzido ao uso da força, sob pena de 
neutralizar politicamente a R2P e de dificultar o alcance do consenso em relação à sua implementação. 
Sobre este aspecto, vale destacar que nem o Documento Final de 2005 nem o Relatório do SGNU de 
6 Ver, p.ex., os seguintes discursos do Brasil, representados por Gelson Fonseca Jr. (10 jun. 1999), Henrique Valle (31 
mar.2004) e Maria Luiza Viotti (23 jul. 2010 e 12 ago. 2010), disponíveis em <www.un.int/brazil/>.
7 Ver, p.ex., os discursos de Maria Luiza Viotti em discussões sobre R2P de 23 jul. 2010, 12 ago. 2010 e 12 jul. 
2011, disponíveis em <www.un.int/brazil/>. Ver também Gelson FONSECA JR. “Dever de proteger ou nova forma de 
intervencionismo?”. Segurança Internacional: perspectivas brasileiras. Nelson Jobim, Sergio Etchegoyen e João Paulo Alsina 
(orgs.). Rio de Janeiro: FGV, 2010.175-192 (pág. 191).
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2009 versam sobre princípios e critérios para orientar ou regular o uso da força em operações de R2P. 
Coube ao Brasil, no final de 2011, dar o passo inicial nessa reflexão.
Operações de R2P sob a égide da “responsabilidade ao proteger”
A preocupação com a operacionalização do uso da força sob o Terceiro Pilar fez com que o Brasil 
apresentasse uma nova expressão à ONU em 2011. A “responsabilidade ao proteger” (RwP), que tem 
relação intrínseca com a tradição conservadora e com os valores legalistas e multilaterais da política 
externa brasileira, resgata antigos princípios, parâmetros e critérios, sobretudo da teoria da guerra justa 
e do Direito Internacional Humanitário, para orientar operações de R2P. Entre eles, destacam-se o 
“uso da força somente como último recurso”, “proporcionalidade”, “não causar dano ou instabilidade”, 
“autoridade” (CSNU) e “prestação de contas” (accountability)8. Se, por um lado, essa consideração retira 
do Brasil parte do crédito pela inserção de um suposto “novo” conceito (que não seria tão novo assim), 
por outro lado, a escolha de princípios e parâmetros já existentes facilita o consenso quanto à difícil 
implementação do uso da força em operações de R2P. 
A RwP, desde que lançada, suscitou várias discussões entre governos, organismos internacionais e 
organizações da sociedade civil internacional e está em construção. No Brasil, pouco tem sido produzido 
em termos analíticos, e o debate parece centralizado no Itamaraty, embora haja interesse por parte da 
Presidência e do Ministério da Defesa, e da sociedade civil especializada, como institutos de pesquisa e 
universidades. Independente do caminho que venha a trilhar, a reflexão sobre operações de R2P sob a 
égide da RwP representa uma visão mais sistêmica do direito internacional, como almejado pelo Brasil, 
e, com ela, o país contribui para a elaboração de novas normas que visam a regular, de maneira mais 
coerente, ética e responsável, como se deve usar a força, em nome da comunidade internacional, para 
proteger populações em pleno século XXI.
8 Ver A/66/551–S/2011/701 (11 nov. 2011), disponível em: <www.un.int/brazil/speech/Concept-Paper-%20RwP.pdf>.
Eduarda Passarelli Hamann
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1 The views expressed here are the authors’ alone and do not reflect their institution. 
2 This article is a modified version. The original one can be found in BRICS: The 2012 New Delhi Summit, edited by the 
BRICS Research Group of the University of Toronto, and published by Newsdesk. 
3 Director of Brazilian Center for International Relations
4 Executive Coordinator of the Brazilian Center for International Relations.
5 Study and Debate Coordinator of the Brazilian Center for International Relations.
6 Project Coordinator of the Brazilian Center for International Relations.
7 Assistant to Coordination of the Brazilian Center for International Relations.
Understanding Brazil as a Global Trading Partner
Understanding Brazil as a 
Global Trading Partner1 2
Maria de Fatima Berardinelli Arraes de Oliveira3
Adriana de Queiroz4
Leonardo Paz Neves5
Renata Dalaqua6
Andressa Maxnuck7 
After a few decades fighting against inflation, a combination of macroeconomic policies 
implemented since the mid-nineties put Brazil in a different track. Benefiting from a scenario of high 
international liquidity, the country succeeded well in its plans to redeem its external debt and to interrupt 
the historical booms and busts behavior of its economic growth path. It was also during this period that 
Brazil adopted measures to open its economy and liberalize trade. This new situation allowed the success 
of a sequence of innovative public policies put into practice aiming to improve social and economic 
indicators, from education to income distribution.
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In order to understand the rise of the country in economic terms, one should consider that Brazil 
has experienced both internal and external favorable momentum8. On the domestic side, Brazil has 
achieved outstanding numbers in social indicators, although it has presented worse results than other 
emerging economies, such as the ones in BRICS, in terms of GDP growth9. The country has attained 
amazing outcomesnot only in social inclusion but also in social mobility – approximately 27 million 
Brazilians were raised out of poverty and extreme poverty between 2004 and 200910 and 13 million 
joined the middle class between September 2009 and May 201111 12. Beyond that, household income 
evolution in Brazil surpasses other countries in BRICS. In result, Brazilian consumption market is 
not seen anymore as a “potential” market. It has become a reality and foreign companies have already 
realized that. 
The soundness of Brazilian financial and banking systems couldn’t be let aside when talking 
about Brazil’s economy. The several measures adopted by the government in the past years were put into 
test when the international financial crisis arose in 2008. The number of bankruptcies observed all over 
the world had little impact in the Brazilian financial system. In part due to the existence of an improved 
regulatory system, the banking and financial sector proved its solidity and consistency enhancing the 
perception of the country as a safe destiny for foreign investment. 
On the external side, Brazil has been positioning itself not only as a relevant supplier of 
commodities − mainly minerals, food and energy related products − but also of a wide range of industrial 
goods, including even aircrafts. Its highly mechanized agribusiness and outstanding productivity give 
the country an important role in world food security. 
8 This article was written in the beginning of 2012. Thus, these statements refer only to indicators up to 2011.
9 Since 1992, GDP growth indicators in China and India are far better than Brazil.
10 IPEA (2011). “Mudanças Recentes na Pobreza Brasileira”. Brasilia: Comunicados do IPEA n.111: 15 de setembro
11 Neri, M. (2010). “Os Emergentes dos Emergentes: reflexões globais e ações locais para a nova classe média brasileira”. 
Rio de Janeiro: FGV/CPS.
12 According to OECD, Brazil was the only BRICS member that obtained income inequality reduction in the last 20 
years - OECD (2011). “Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising”.
Equipe CEBRI
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31
Even though the significant increase in its exports and imports can be interpreted as a sign of 
the Brazilian economic opening process and the diversification of its trading partners, Brazil’s trade still 
represents less than 2% of world trade. Traditionally, the most important Brazilian partners have been in 
the West: US, Europe and South America. However, in 2010, for the first time, China became Brazil’s 
most important trading partner, outweighing the US situation that is valid until the present moment. 
At the same time, a continued increase in Brazil’s trading flows with non-traditional partners has been 
observed. Politically, one could say this would represent a greater independence from traditional powers 
as well as be considered as a consolidation of new political alliances.
Although one may acknowledge that Brazil is very competitive in some sectors, such as agribusiness, 
it should be said that the country still faces crucial limitations that hamper its competitiveness. Poor 
infrastructure and its consequences over the logistics costs has been historically a top constraint. 
Additionally, the complex fiscal structure and a substantial degree of uncertainty in the legal framework 
increase time and cost of doing business in the country13. 
Concerning the global rules governing international trade, the Brazilian government has a 
strong perception that a refurbishment in the regulation of the World Trade Organization (WTO), 
the appropriate forum for the discussion and support of the multilateral trade system, is necessary to 
allow trade and development opportunities to be realized to their fullest, increasing trade flows. That 
is a special concern not only of Brazil, but of Russia, India, China and South Africa, as expressed in the 
Ministerial Declaration issued by the BRICS Trade Ministers last December: In this process of buttressing 
the multilateral trade system, we underscore the pressing need to further develop its rules and structure to 
address in particular the concerns and interests of developing countries 14.
Two practices, in particular, reinforce Brazil’s understanding: the concession of prohibited subsidies 
and the misuse of exchange rates, both with protectionist purposes and resulting in trade distortion. The 
13 As an example, the Brazilian government has been criticized for undertaking some protectionist measures in the 
recent months, as a post crisis defense mechanism.
14 Ministerial Declaration of the BRICS Trade Ministers – Geneva, 14 December 2011.
Understanding Brazil as a Global Trading Partner
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Equipe CEBRI
first one, the concession of prohibited subsidies on export performance or upon the use of domestic over 
imported goods – according to the WTO Agreement on Subsidies and Countervailing Measures – is a 
known and discussed unfair trade practice. However, it is still largely exercised. Many times, it is granted 
by developed economies, particularly in agriculture, to enhance competitive gains and represents one of 
the most harmful forms of protectionism and trade distortion. The extinction of the “red box” subsidies 
is a demand of the developing countries in general – as they may generate food insecurity and deny the 
potential development or undermine the competitiveness of their agriculture sector. 
The second is not expressly forbidden by the WTO, whose generic previsions concerning the 
distortive effects of exchange rate measures to international trade give room for dubious interpretation 
and loose action15. Brazil raised the discussion on “currency war” in the WTO during 2011, suggesting a 
working program to debate the subject, being the first seminar scheduled for 201216. Under consideration 
are not only the impacts of the artificial exchange rate misalignments on trade flows but also on WTO 
rules effectiveness17. 
In the last years, Brazilian trade policy has been very much focused on these two demands – that 
is, a ban on the concession of subsidies and an end to the artificial exchange rate misalignments – and also 
on seeking the conclusion of the Doha negotiations. These priorities have, to a certain extent, weakened 
Brazil’s capacity to promote a positive bilateral or regional commercial agenda18. Symptomatically, 
Brazil has done very little recently to expand its network of free-trade agreements. Conversely, other 
countries, including its neighboring countries, have enlarged the number of trading partners and signed 
new agreements. In this sense, a revamped commercial strategy would certainly make Brazil a more 
significant trading partner as well as a more important global player.
15 Lima-Campos, A. and and Gaviria, J. (2012). “A Case for Currency Misalignments as Countervailable Subsidies”. 
Journal of World Trade, 46, Issue 5..
16 WTO (2011). Documents WT/WGTDF/W/53 and WT/WGTDF/W/56.
17 Thorstensen, V., Ramos, D., Muller, C. (2011). “The Most-Favored Nation Principle and Exchange Rate Misalignments”. 
Draft.
18 An additional constraint is related to the fact that Brazil, as a member of the Southern Common Market (MERCOSUL), 
has to abide by its rules and negotiate trade agreements together with the other MERCOSUL member states.
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1 Ex-Secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Ex-Deputado Federal e Consultor da FF Consultores.
Avaliação da Participação Brasileira na Rio + 20
Avaliação da Participação 
Brasileira na Rio + 20 
Fabio Feldmann1
“A crise ecológica planetária é muito séria para ser deixada na mão dos diplomatas”
Ainda que possam existir visões diferentessobre a Rio + 20, é inegável que os seus resultados 
foram muito aquém dos desejados. De fato, só o tempo irá fazer um balanço definitivo e, a exemplo do 
que aconteceu com a Rio + 10 – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002 
em Joanesburgo, a Rio + 20 deve entrar no rol daquelas que em pouco tempo são esquecidas.
Do ponto de vista de mobilização, a Conferência foi bem sucedida: 3.000 eventos paralelos fora 
do Riocentro, 500 eventos paralelos no Rio Centro, muitos compromissos voluntários foram assumidos 
por vários segmentos empresariais, a comunidade científica se reuniu em torno do “Earth Future – 
research for global sustainability”, a sociedade civil e movimentos sociais na denominada Cúpula dos 
Povos e as megacidades mundiais se reuniram em torno do C40 Cities – Climate Leadership Group, 
reafirmando seus compromissos.
O documento “O Futuro que Queremos” não passa de uma compilação “com gosto de comida 
requentada” de documentos anteriores, incluindo a Agenda 21 e o Plano de Implementação da 
Rio + 10. Inacreditavelmente, apresenta lacunas significativas, a começar pela exclusão do tema ”ciência”, 
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do capítulo VI – Means of implementation (Meios de implementação), havendo menção apenas à 
“tecnologia”. Temas contemplados no documento tais como oceanos, novas métricas de desenvolvimento 
e objetivos do desenvolvimento sustentável foram habilmente adiados sem qualquer certeza de que, de 
fato, venham a ser implementados.
 Também não trata da discussão recente do papel da Humanidade em relação ao planeta, valendo 
lembrar que esse tema ganhou novos contornos com a divulgação do último relatório do IPCC – Painel 
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas em 2007 e, mais recentemente, com a discussão do 
‘Antropoceno’. Esta expressão foi cunhada pelo geoquímico Paul Crutzen, que recebeu o Prêmio Nobel 
de Química em 1995, e refere-se às mudanças no planeta ocasionadas pelo homem a partir da Revolução 
Industrial. Seguindo essa linha, a Humanidade teria alcançado uma força geológica capaz de colocar o 
planeta em uma nova era. 
 Nesse sentido, os cientistas indicam que as mudanças climáticas, a erosão dos solos, as ameaças 
à biodiversidade, a acidificação dos oceanos, dentre outros, são reflexos da ação da Humanidade, o que 
faz com que essa nova era esteja sendo moldada pelo ser humano. Este assunto foi capa da prestigiada 
revista The Economist, em 2011 (28/05/2011 – 03/06/2011).
 A pergunta de difícil resposta é “qual o legado da Rio + 20?” 
É certo que o Brasil tem enorme responsabilidade pelo resultado da Conferência, não apenas pelo 
protagonismo sempre reservado ao país anfitrião, mas pelo fato de que em todo o processo negociador 
ficou claro o déficit de liderança, que na Rio 92 foi exercido, incontestavelmente, por Maurice Strong. 
Este, que já havia organizado a Conferência de Estocolmo em 1972, não poupou esforços em seu papel 
articulador com governos e chefes de Estado, bem como com a sociedade civil. 
 Acompanhei o esforço de Maurice Strong nos anos que precederam a Rio 92, buscando desanuviar 
uma certa hostilidade que existia no Brasil, em decorrência de uma a suposta conspiração contra a 
soberania brasileira na Amazônia. 
Fabio Feldmann
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 Cabe também assinalar o compromisso do ex-presidente Fernando Collor com o sucesso da Rio 
92, emprestando-lhe todo apoio político e adotando iniciativas que claramente sinalizavam a sintonia do 
país com a agenda da Conferência. Destacam-se, entre elas, a demarcação do território dos Yanomamis 
e a colocação simbólica da pá de cal no programa nuclear bélico brasileiro. 
 Às vésperas da última Conferência, o país transmitiu sinais ambíguos: a discussão sobre as 
mudanças do Código Florestal, evidenciando os riscos de retrocesso na legislação, com impactos diretos 
na conservação dos biomas brasileiros. Por outro lado, a divulgação de dados confirmando a redução 
do desmatamento na Amazônia, em uma demonstração do compromisso brasileiro de reduzir as suas 
emissões de gases do efeito estufa.
 Como reflexo de toda essa conjuntura, isto é, da falta de disposição da Presidência da República 
em assumir uma postura mais agressiva, como aconteceu em 1992, a diplomacia brasileira apegou-se a 
uma posição de extrema prudência. Assumiu que o melhor papel para o país anfitrião seria o de estar 
longe de qualquer controvérsia. Com isso, alinhou-se às posições mais conservadoras do G-77 no que 
tange ao reconhecimento da crise ambiental planetária. E, mesmo em relação à necessidade de mudanças 
na arquitetura das Nações Unidas no que tange ao PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio 
Ambiente, ou a algo que possa a vir sucedê-lo, o Itamaraty manteve-se excessivamente silencioso. 
 Esta posição de aversão total a riscos pode comprometer o capital que os negociadores brasileiros 
adquiriram ao longo dos anos, desde a preparação da Rio 92, passando especialmente pelas negociações 
no âmbito das COPs (Conferências das Partes) da Convenção do Clima e da Convenção da Diversidade 
Biológica. 
 No caso da primeira, a liderança brasileira tem sido incontestável, gerando frutos muito positivos 
como o Protocolo de Kyoto; a oferta de compromissos voluntários de redução de emissão em Copenhague 
(COP 15) e a ideia de um novo tratado em Durban (COP 17). No que se refere à biodiversidade, 
vale citar a atuação brasileira em Nagoya, resultando no Protocolo de Nagoya e na criação do IPBES 
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Fabio Feldmann
– Intergovernmental Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. Aliás, pela primeira vez, um 
brasileiro, Bráulio Dias, assumiu a secretaria geral da Convenção da Diversidade Biológica.
 É bom lembrar que o próprio Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, retratou-se 
por exigência do Brasil sobre suas críticas à pouca ambição consubstanciada no documento no início 
da Conferência. E, em resposta às críticas da sociedade civil, da comunidade científica e da mídia, as 
autoridades brasileiras responderam que a Rio + 20 não era uma Conferência de meio ambiente e sim de 
desenvolvimento sustentável. 
 Com tais afirmações, paradoxalmente, esvaziaram a grande contribuição das conferências 
anteriores, que consistiu em colocar na agenda global as temáticas ambientais.
 De positivo, devem ser assinaladas algumas inovações importantes, introduzidas nessa 
Conferência, especialmente a ideia de incorporar as vozes da sociedade civil e de personalidades no 
evento oficial: os diálogos sustentáveis. Embora a iniciativa seja louvável, a falta de algum mecanismo 
mais efetivo de incorporação dessas mensagens no documento final gerou o repúdio da sociedade civil, 
tornando a iniciativa bem intencionada, mas ineficaz. 
 Concluindo, o Brasil perdeu a oportunidade de exercer uma liderança efetiva na Rio + 20, 
assegurando que esta Conferência pudesse se tornar um ponto de inflexão incontestável na busca de 
um novo paradigma da relação da Humanidade com o planeta. Para tanto, era necessário se avançar na 
arquitetura atual das Nações Unidas, com o propósito de que esta possa exercer efetivamente um papel 
formulador de novas políticas públicas no âmbito do Desenvolvimento Sustentável. 
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1 Mestre em Economia Internacional e Direito Internacional pela Universidade de Harvard. É professor da FAAP e é 
Membro do Conselho Curador da FUNCEX e do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).
A Reforma das Instituições Multilaterais
A Reforma das Instituições Multilaterais 
Georges D. Landau1
É evidente que os organismos internacionaiscriados no imediato pós-guerra, ou pouco depois, 
ou seja, há seis décadas, carecem de modernização para adequá-las às novas realidades da convivência 
global. O caso emblemático é o do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), que reflete uma 
estrutura de poder absolutamente ultrapassada, mas que se eterniza, mercê das tremendas dificuldades 
geopolíticas para a reforma da Carta de São Francisco. Seria necessário adequar o Conselho às novas 
realidades, incluindo a participação nele de potências intermédias, como o Brasil, a Turquia, a Indonésia 
e a Nigéria. Para obviar as deficiências do CSNU, criaram-se novas instâncias multilaterais, como o 
G-20, os BRICS e a IBSA, mas nenhuma delas tem o alcance do CSNU para a governança global. O 
novo contexto, porém, é de escassez de recursos, e quaisquer novas iniciativas multilaterais devem ser 
avaliadas à luz desses parâmetros essenciais.
Dão testemunho disso as dificuldades institucionais com que nos defrontamos, na Rio + 20, 
para a criação de uma agência das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável, ou sequer para a 
consolidação de um programa já existente, o PNUMA.
Ainda no âmbito das Nações Unidas, houve intentos de modernização institucional. Deles emana 
a criação do Conselho de Direitos Humanos, reflexo da importância crescente deles no relacionamento 
multilateral. Já o ECOSOC parece excessivamente esclerosado para desincumbir-se das suas 
responsabilidades quanto à promoção do desenvolvimento sustentável, através da rede de Organismos 
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Especializados, cuja contribuição efetiva à causa do desenvolvimento é, em vários casos, pelo menos 
questionável. Um dos pontos para os quais haveria de atentar, numa eventual reforma do ECOSOC, 
seria o da função do Conselho de interagir com a sociedade civil, trazendo para o âmbito multilateral os 
anseios desta. 
No caso das instituições financeiras de Bretton Woods, vem-se verificando algum progresso, ainda 
que tímido, no sentido de torná-las mais representativas das economias emergentes, o que beneficiará 
inclusive o Brasil, que tem militado nests sentido. Entretanto, a proliferação de bancos sub-regionais 
permite inferir que subsistem, nesse nível, necessidades não satisfeitas pelos grandes bancos multilaterais 
de vocação universal. 
A convergência entre instituições de vocação universal, como as Nações Unidas, e outras de 
âmbito mais restrito ao perímetro regional ou sub-regional, merece análise mais detida. Busca-se obter 
sinergia, evitando-se a duplicação de esforços e orçamentos. Um exemplo relativamente bem sucedido de 
articulação entre um organismo mundial e outro de vocação regional é o da relação, na América Latina 
e Caribe, entre a Organização Mundial da Saúde (WHO) e a Organização Pan-americana de Saúde 
(PAHO). Talvez fosse possível institucionalizar esse modelo. 
Por outro lado, com o avanço acelerado da globalização em que as principais questões que 
preocupam os estadistas são hoje de âmbito universal, é lícito se questionar a validez, quando não a 
necessidade, de instituições de âmbito regional. Pareceria, pois, haver uma tendência à progressiva 
eliminação destas. 
Seria possível inventariar outras instâncias de colaboração entre organismos de âmbito global e 
outros com jurisdição regional. A grande dificuldade em harmonizar as suas atuações reside, porém, em 
que os mesmos governos, que participam em umas e outras, se pronunciam de modo diferente, e não 
raro antagônico, em foros distintos. Cada organismo multilateral conta com a sua própria constituency 
nacional, e cada uma delas funciona como um grupo de pressão próprio, promovendo uma rede de 
interesses criados, o que dificulta enormemente a busca pela sinergia. Se já é difícil, no seio de cada 
Georges D. Landau
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governo, harmonizar as políticas, os programas e as prioridades de diferentes ministérios, imagine-se a 
dificuldade de fazê-lo com uma plêiade de organismos internacionais formados por Estados soberanos, 
rivalizando entre si por jurisdições abrangentes e orçamentos escassos. Pode-se cogitar de dois enfoques 
convergentes: na coordenação de políticas, melhor que a existente, ao nível nacional, e uma atuação 
proativa das Nações Unidas visando a harmonizar e coordenar os esforços dos organismos multilaterais. 
Em que pese à existência de mecanismos formais de coordenação, entretanto, até agora esses esforços 
revelaram-se basicamente infrutíferos. 
Em resumo, a reforma das instituições multilaterais passa por uma manifestação dinâmica de 
vontade política no seio de organismos de governança global, como o G-20. Até agora, ests foro se 
absteve de enfocar o assunto, que constituiria um imenso desafio à sua capacidade. É de se esperar, 
porém, que em breve surgirá uma constelação de oportunidades que engendrem o necessário consenso. A 
humanidade progride graças às suas crises cósmicas, mas se poderá cogitar de um sistema com patamares 
concêntricos, geográficos e funcionais, tendo o CSNU no topo da pirâmide. 
A Reforma das Instituições Multilaterais
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1 Mestre em Direito da Propriedade Intelectual pelo Franklin Pierce Law Center e sócio do escritório Dannemann 
Siemsen. 
Propriedade Industrial e Importação Paralela no 
Ordenamento Jurídico Brasileiro 
Gustavo Piva de Andrade1
No livro “O Mundo é Plano”, o escritor Thomas Friedman apresenta a interessante teoria de 
que o planeta se achatou. Citando eventos como a queda do muro de Berlim e a criação da Internet, 
ele argumenta que diversas forças contribuíram para o desaparecimento de barreiras entre os países e 
geraram o desenvolvimento de uma verdadeira economia global. Isso possibilita, por exemplo, que um 
computador fabricado na Ásia, com componentes advindos de diversos países, seja oferecido em um 
estabelecimento da América do Norte apenas dois dias depois. Segundo Friedman, este é um dos muitos 
exemplos que denotam o encolhimento e o achatamento do mundo, reforçando a sua tese de que tudo 
está conectado. 
Essa nova ordem cria enormes desafios para o comércio internacional. Nesse contexto, torna-se 
fundamental examinar a questão da livre circulação de bens entre diferentes países, o que, no escopo 
do presente artigo, será feito à luz dos direitos de propriedade industrial e da prática conhecida como 
importação paralela.
A “importação paralela” se dá quando um produto que incorpora marcas, patentes ou desenho 
industrial alheio é introduzido em determinado país, à margem do sistema de distribuição administrado 
pelo titular do direito de propriedade industrial. Trata-se, pois, de produtos genuínos, mas que são 
Gustavo Piva de Andrade
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incorporados ao mercado daquele território sem autorização do titular do direito exclusivo ou do seu 
licenciado. A questão é se, baseado nas regras da legislação brasileira e dos tratados internacionais, o 
titular do direito de propriedade industrial pode ou não coibir esse comércio paralelo. 
Na seara da propriedade industrial, existe um importante princípio chamado “exaustão de 
direitos”. Tal princípio consagra o entendimento de que a prerrogativa do titular de impedir a circulação 
do produto que incorpora a sua marca ou patente esgota-se com a primeira venda. A partir daí, entende-
se que o titular já foi devidamente remunerado, não podendo proibir ou reivindicar participação em 
vendas subsequentes daquele exemplar específico.
Como direitos de propriedade industrial são territoriais, sua exaustão pode se dar nos âmbitos 
nacional ou internacional. Na exaustão nacional, o direito do titular da marca ou patente esgota-se 
apenas no país

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