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Direito Civil Alexander Perazo OAB 1a. Fase

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Prof. Alexander Perazo 
 
 
1 
CIVIL DIREITO 
OAB – 1ª FASE  
DIREITO CIVIL – APOSTILA 2011 
 
VISÃO GERAL DO NOVO CÓDIGO CIVIL DE 2002 
  Lei n° 10.406, de 10.01.02 – O Código Civil é a 
constituição  do  homem  comum,  pois  estabelece 
regras  de  conduta  entre  todos  os  seres  humanos, 
mesmo  antes  de  nascer  (resguarda  os  direitos  do 
nascituro) até depois de sua morte. 
  O  CC/2002  foi  apresentado  em  1972, 
convertido em Projeto de Lei em 1975 e engavetado, 
com certa prudência, à espera da nova Constituição. 
 
  Orientações da elaboração do novo Código 
  a) preservar, sempre que possível, o CC/1916 
  b) criar um novo Código e não simplesmente 
revisar o de 1916 
  c)  inclusão  de  valores  essenciais  como  a 
eticidade, a socialidade e a operabilidade 
  d)  aproveitamento  dos  trabalhos  de  revisão 
do  Código  Civil  no  que  tange  ao  Direito  das 
Obrigações em 1940 e em 1965. 
  e)  firmar  não  uma  unificação  do  Direito 
Privado, mas sim do Direito das Obrigações,  inclusive 
com  a  inclusão  de  mais  um  Livro  na  Parte  Especial 
intitulado Direito de Empresa 
  Os três princípios fundamentais  
  Eticidade  –  foi  inserido  no  Código  a 
participação de  valores  éticos. Assim, o  art.  113  e o 
422, que tratam da boa‐fé. 
  Socialidade  –  foi  retirado  o  caráter 
individualista  do  Código,  com  a  inclusão  da  função 
social  do  contrato  (art.  421)  e  adoção  da 
interpretação mais benéfica ao aderente (art. 423) 
  Operabilidade  –  procurou‐se  solucionar 
antigas discussões doutrinárias como a distinção entre 
prescrição  e  decadência,  associação  (sem  fins 
econômicos) e sociedade (com objetivo de lucro) 
 
  Direito público e privado – Direito público é o 
destinado  a  disciplinar  os  interesses  gerais  da 
coletividade. A relação é entre o Estado e o particular 
ou  entre  dois  Estados,  sendo  sempre  de 
subordinação. Direito privado, por  sua  vez,  é  aquele 
que  regula as  relações entre os homens. A  relação é 
entre indivíduos, sendo sempre de coordenação. 
 
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO 
BRASILEIRO 
  A  Lei  de  Introdução  às  Normas  do  Direito 
Brasileiro  (antiga Lei de  Introdução ao Código Civil) é 
uma  norma  de  sobredireito,  pois  representa  um 
conjunto  de  normas  sobre  normas,  disciplinando  as 
próprias normas  jurídicas, determinando o seu modo 
de aplicação e entendimento, no tempo e no espaço. 
  O seu estudo sempre foi comum na disciplina 
de Direito Civil ou de  Introdução  ao Direito Privado, 
pela  sua  posição  topográfica  preliminar  frente  ao 
Código  Civil  de  1916.  Porém,  apesar  desse 
posicionamento  topográfico,  a  antiga  LICC  (hoje 
LINDB), não constituía uma norma exclusiva do Direito 
Privado e sim aplicava‐se a todos os outros ramos do 
Direito. 
   Fontes do direito – A lei é o objeto da LICC e a 
principal  fonte  do  direito.  Pelo  art.  4º  da  Lei  de 
Introdução,  podemos  antever  que  são  fontes  do 
direito:  a  lei,  a  analogia,  o  costume  e  os  princípios 
gerais do direito.  
  Assim, o juiz, diante de um caso concreto, não 
pode  deixar  de  julgar,  alegando  não  existir  norma 
jurídica para aquela matéria (princípio do non  liquet). 
Numa  visão  clássica,  a  ordem  acima  deveria  ser 
respeitada, porém, levando‐se em conta o Direito Civil 
Constitucional, diante da força normativa e coercitiva 
dos  princípios  norteadores  da  Constituição, 
notadamente  aquele  que  definem  os  direitos 
fundamentais,  em  algumas  situações,  os  princípios 
gerais  do  direito  se  sobrepõem  à  analogia  e  aos 
costumes. 
   Analogia  –  é  a  aplicação  de  uma  norma 
próxima ou de um conjunto de normas próximas, não 
havendo  uma  norma  prevista  para  um  determinado 
 
 
 
 Prof. Alexander Perazo 
 
 
2
CIVIL DIREITO 
caso. Como exemplo da analogia podemos citar o art. 
499  que  prevê  a  licitude  da  venda  de  bens  entre 
cônjuges  quanto  aos  bens  excluídos  da  comunhão, 
aplicando‐se  –  analogicamente  –  às  pessoas  que 
vivem em união estável. 
  Costumes  –  são  práticas  e  usos  reiterados 
com conteúdo lícito e relevância jurídica, sendo que o 
desrespeito  aos  “bons  costumes”  constitui  abuso  de 
direito  (art.  187,  CC/2002).  A  existência  do  cheque 
pré‐datado  representa  uma  aplicação  dos  costumes 
no dia a dia. 
  Princípios  Gerais  do  Direito  –  são  cânones 
que  não  foram  ditados,  explicitamente,  pelo 
elaborador  da  norma,  mas  que  estão  ditados  de 
forma  imanente  no  ordenamento  jurídico.  São, 
portanto,  pensamentos  diretores  de  uma 
regulamentação  jurídica.  Como  diretrizes  gerais  e 
básicas, fundamentam e dão unidade a um sistema ou 
a uma instituição.  
  A  própria  aplicação  do  art.  5º  da  Lei  de 
Introdução representa a adoção de um princípio, pois 
o  juiz,  na  aplicação  da  lei,  deve  ser  guiado  pela  sua 
função social ou fim social e pelo objetivo de alcançar 
o bem comum.  
  A  equidade  pode  ser  considerada  (em  casos 
particulares)  como  fonte  informal  ou  indireta  do 
Direito,  pois  o  uso  do  bom  senso,  a  justiça  no  caso 
particular,  deve  ser  utilizado  mediante  a  adaptação 
razoável da lei ao caso concreto. 
  Por fim, a jurisprudência, em regra, é colocada 
como  fonte  meramente  intelectual  ou  informativa 
(não formal) do direito. Ocorre, porém, que diante da 
Emenda  Constitucional  nº  45/05,  a  alteração 
constitucional do art. 103‐A, possibilitou o surgimento 
da  Súmula  Vinculante.  Assim,  a  partir  de  então, 
apesar  de  termos  ainda  um  sistema  essencialmente 
legal,  os  precedente  jurisprudenciais  podem  ser 
enquadrados como fontes do direito. 
  LEI  –  a  palavra  lei  é  empregada  em  duas 
acepções:  em um  sentido  amplo,  como  sinônimo de 
norma  jurídica,  compreende  toda  regra  geral  de 
conduta,  emanada  por  autoridade  competente;  em 
sentido  estrito,  refere‐se,  tão  somente,  a  norma 
jurídica elaborada pelo Poder Legislativo por meio de 
processo adequado.  
  Possui como características a generalidade  (a 
lei  se  aplica  a  todos,  indistintamente),  a 
imperatividade  (impõe  deveres  e  condutas)  e  a 
permanência  (perdura  até  que  seja  revogada  por 
outra ou perca a eficácia). 
  Vigência da  lei – a vigência é uma qualidade 
temporal da norma, designa a existência específica da 
norma  em  determinada  época.  Segundo  a  LICC  em 
seu  art.  1º,  salvo  disposição  em  contrário,  a  lei 
começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias 
depois de oficialmente publicada.  
  Nos  termos  do  art.  8º,  da  LC  nº  95/98,  a 
vigência da  lei  será  indicado de  forma expressa e de 
modo a  contemplar prazo  razoável para que dela  se 
tenha  amplo  conhecimento.  A  referida  Lei 
Complementar não  revogou o art. 1º da  LINDB, pois 
não havendo prazo previsto na própria lei, continua a 
ser  aplicado  os  quarenta  e  cinco  dias  depois  de 
oficialmente publicada.  
  O intervalo entre a data de sua publicação e a 
sua entrada em vigor denomina‐se vacatio legis. 
  Assim, podemos  concluir que  a  lei passa por 
três  fases  fundamentais:  elaboração,  promulgação  e 
publicação,  Depois,  vem  o  prazo  de  vacância, 
geralmente previsto na própria norma. O Código Civil 
de 2002, v,g., previu um prazo de um ano a partir de 
sua publicação para entrar em vigor, passando a  ser 
vigente a partir do dia 11 de janeiro de 2003. 
  Se  durante  a  vacatio  legis  ocorrer  nova 
publicaçãode  seu  texto,  para  correção  de  erros 
materiais  ou  falha  de  ortografia,  o  prazo  da 
obrigatoriedade  começará  a  correr  a  partir  da  nova 
publicação (art. 1º, § 3º). Se a  lei  já entrou em vigor, 
tais correções são consideradas  lei nova, tornando‐se 
obrigatória após o decurso da vacatio. 
  Por sua vez, decretos e regulamentos tornam‐
se obrigatórios a partir de sua publicação. 
  Por derradeiro, de acordo com o art 1º, § 1º 
da  Lei  de  Introdução,  a  obrigatoriedade  da  norma 
brasileira  passa  a  vigorar,  nos  Estados  Estrangeiros, 
três meses após a publicação em nosso País. 
  Revogação da lei – cessa a vigência de uma lei 
com  a  sua  revogação,  sendo  certo  que  uma  lei,  em 
regra,  tem  caráter permanente. Assim, mantém‐se a 
lei em vigor até  ser  revogada por outra  lei  (princípio 
da continuidade da lei). 
 
 
 
 Prof. Alexander Perazo 
 
 
3 
CIVIL DIREITO 
  A revogação parcial denomina‐se derrogação, 
enquanto  que  a  revogação  total  é  chamada  de  ab‐
rogação. 
  Uma  lei revogada não adquire vigência com a 
revogação da lei que a revogou (repristinação). 
  Contudo,  excepcionalmente,  a  lei  revogada 
volta  a  viger  quando  a  lei  revogadora  for  declarada 
inconstitucional ou quando for concedida a suspensão 
cautelar da  eficácia da norma  impugnada  (art.  11,  § 
2º,  da  Lei  nº  9.868/99).  Também  voltará  a  viger 
quando, não sendo situação de inconstitucionalidade, 
o legislador assim o determinar expressamente. 
  Interpretação da  lei –  interpretar é descobrir 
o sentido e o alcance da norma  jurídica. Todas as  lei 
estão  sujeitas  a  interpretação,  não  se  aplicando  o 
brocardo  jurídico  in  claris  cessat  intepretatio  (na 
clareza dispensa‐se a interpretação).  
  Quanto  à  origem,  os  métodos  de 
interpretação podem  ser  autêntico,  jurisprudencial e 
doutrinário; quanto aos meios, a  interpretação pode 
ser  gramatical,  lógica,  sistemática,  histórica  e 
sociológica (teleológica) 
  Gramatical  –  consiste  no  exame  do  texto 
normativo sob o ponto de vista linguístico; 
  Lógica  –  procura‐se  apurar  o  sentido  e  a 
finalidade da norma 
  Sistemática – parte do pressuposto que uma 
lei não existe isoladamente, devendo ser interpretada 
em conjunto com outras; 
  Histórica  –  investiga‐se  os  antecedentes  da 
norma a fim de descobrir o seu exato significado. 
  Teleológica  –  tem  por  objetivo  adaptar  o 
sentido ou a finalidade da norma às novas exigências 
sociais, com claro abandono do individualismo. 
  Conflito de  leis no  tempo – em  regra, as  leis 
são  irretroativas.  Assim,  salvo  disposição  em 
contrário, aplica‐se a  lei nova aos  fatos pendentes e 
aos  fatos  futuros.  Quanto  aos  fatos  pendentes,  é 
possível  que  o  legislador  crie  “disposições 
transitórias”. Aduz o art. 6º da Lei de Introdução que a 
lei  não  prejudicará  o  ato  jurídico  perfeito,  o  direito 
adquirido e a coisa julgada. 
  Ato  jurídico  perfeito  –  é  a  manifestação  de 
vontade  lícita,  emanada  por  quem  esteja  em  livre 
disposição de seus direitos. Como exemplo, podemos 
citar  um  contrato  elaborado  e  que  esteja  gerando 
efeitos. 
  Direito  adquirido  –  é  o  direito  material  ou 
imaterial  incorporado no patrimônio de uma pessoa. 
Um benefício previdenciário, por exemplo. 
  Coisa  julgada – é a decisão  judicial prolatada, 
da qual não cabe mais recurso. 
  Frise‐se que a proteção de tais categorias não 
é  absoluta.  No  momento  atual  vivemos  a  fase  de 
ponderação dos princípios e valores, sobretudo os de 
índole constitucional. 
  Assim,  por  exemplo,  há  forte  tendência 
material  e  processual  em  apontar  a  relativização  da 
coisa  julgada,  principalmente  nos  casos  envolvendo 
ações  de  investigação  de  paternidade  julgadas 
improcedentes por ausência de provas em momento 
em que não existia o exame de DNA. A questão está 
sendo  resolvida  no  âmbito  do  STJ  pela  técnica  de 
ponderação,  desenvolvida  por  Robert  Alexy,  pois, 
para o caso em tela, estão em conflito a proteção da 
coisa  julgada  (art. 5º, XXXVI, da CF/88) e a dignidade 
do  suposto  filho  em  saber  quem  é  seu  pai,  o  que 
traduz no respeito à verdade biológica.   
  Estudo  das  antinomias  –  A  antinomia  é  a 
presença  de  duas  normas  conflitantes,  válidas  e 
emanadas  de  autoridade  competente,  sem  que  se 
possa  dizer  qual  delas  merecerá  aplicação  em 
determinado caso concreto (lacunas de colisão). 
  Aqui, não  se estuda a  revogação das normas 
jurídicas, mas os eventuais conflitos que podem surgir 
entre elas. As regras para a resolução das antinomias 
são as regras do conflito aparente de normas. 
  a)  critério  cronológico  –  norma  posterior 
prevalece sobre norma anterior 
  b)  critério da especialidade – norma especial 
prevalece sobre norma geral 
  c)  critério  hierárquico  –  norma  superior 
prevalece sobre norma inferior 
  Dos  critérios  acima,  o  cronológico  é  o  mais 
fraco  de  todos,  sucumbindo  diante  dos  demais.  O 
critério  da  especialidade  é  o  intermediário  e  o  da 
hierarquia  o  mais  forte  de  todos,  tendo  em  vista  a 
importância do Texto Constitucional.  
 
 
 
 Prof. Alexander Perazo 
 
 
4
CIVIL DIREITO 
  Eficácia  da  lei  no  espaço  –  a  norma  jurídica 
tem aplicação dentro do território nacional  (princípio 
da  territorialidade).  Ocorre,  porém,  que  em 
determinadas  situações,  surge  a  necessidade  de 
aplicação de outras  leis dentro do  território nacional 
(princípio  da  extraterritorialidade).  Assim,  pelo 
sistema  da  extraterritorialidade  a  norma  jurídica 
aplica‐se  em  território  de  outro  Estado,  segundo 
princípios e convenções internacionais. 
  Com  efeito,  dispõe  o  art.  7º  da  Lei  de 
Introdução que a lei do país em que for domiciliada a 
pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da 
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de 
família   
   
 DIREITO CIVIL – PARTE GERAL 
 
 PESSOA NATURAL  
  O  conceito  de  personalidade  está 
umbilicalmente  ligado  ao  conceito  de  pessoa.  Todo 
aquele que nasce com vida  torna‐se uma pessoa, ou 
seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, atributo 
do  ser  humano,  sendo  a  aptidão  genérica  para 
adquirir direitos e contrair obrigações. 
  Assim,  afirmar  que  o  homem  possui 
personalidade  é  o  mesmo  que  dizer  que  ele  tem 
capacidade  para  ser  titular  de  direitos.  Todas  as 
pessoas ao nascer adquirem a capacidade de direitos 
ou  de  gozo.  Por  outro  lado,  nem  todas  as  pessoas 
possuem a capacidade de exercício ou de fato, que é 
a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. 
Por  faltarem  a  certas  pessoas  alguns  requisitos 
materiais, como maioridade, saúde, desenvolvimento 
mental, etc, a  lei, no  intuito de protegê‐las, malgrado 
não  lhes  negue  a  capacidade  de  adquirir  direitos, 
sonega‐lhes  o  de  se  autodeterminarem,  exigindo  a 
participação de outras pessoas, que as representa ou 
assiste. 
  Capacidade  também  não  se  confunde  com 
legitimação,  sendo  esta  a  aptidão  para  a  prática  de 
determinados  atos  jurídicos  específicos.  Assim,  por 
exemplo,  o  ascendente  genericamente  capaz,  não 
estará legitimado para a venda de seus bens a outros 
descendentes, sem o consentimento dos demais (art. 
496, CC/2002).  
 
  Sujeitos da Relação Jurídica   
  O novo Código Civil, no Livro I da Parte Geral, 
dispõe sobre as pessoas como sujeitos dedireitos. As 
relações  jurídicas são todas as relações da vida social 
regulada  pelo  Direito  (fatos  jurídicos),  sempre 
somente o homem o sujeito destas relações jurídicas. 
Os  animais,  portanto,  não  são  considerados  sujeitos 
de direitos, embora mereçam proteção. 
  A ordem  jurídica  reconhece duas espécies de 
pessoas:  a  pessoa  física  (natural,  o  próprio  ser 
humano) e a pessoa jurídica (agrupamento de pessoas 
físicas,  com  o  intuito  de  alcançar  fins  comuns), 
também  denominada  de  pessoa  moral  ou  pessoa 
coletiva. 
  Note‐se  que  no  direito  brasileiro  não  existe 
incapacidade  de  direito,  pois,  como  dito,  todas  as 
pessoas  se  tornam,  ao  nascer,  capazes  de  adquirir 
direitos  (art.  1º  do  CC/2002).  Existe,  outrossim, 
incapacidade de  fato ou de exercícios, decorrente do 
reconhecimento da  inexistência, em uma pessoa, dos 
requisitos  indispensáveis  ao  exercício  dos  seus 
direitos. 
  A incapacidade de fato pode ser suprida pelos 
institutos  da  representação  ou  da  assistência, 
conforme o caso (absoluta ou relativamente capazes). 
  Desta forma, a incapacidade absoluta acarreta 
a proibição  total do exercício por  sí  só do direito. O 
negócio  somente  pode  ser  praticado  pelo 
representante do  incapaz. O  art. 3º do CC/2002 nos 
fornece as três hipóteses de incapacidade: 
“Art. 3º. São absolutamente  incapazes 
de  exercer  pessoalmente  os  atos  da 
vida civil: 
I – os menores de dezesseis anos 
II  –  os  que,  por  enfermidade  ou 
deficiência  mental,  não  tiverem  o 
necessário  discernimento  para  a 
prática desses atos 
III  –  os  que,  mesmo  por  causa 
transitória, não puderem exprimir  sua 
vontade”   
  OBS – Frise‐se que se a pessoa, ainda que por 
causa transitória, não puder exprimir a sua vontade, 
mas  acaba  exprimindo‐a,  o  ato  é  nulo  (art.  3º,  III). 
Por  sua  vez,  se  a  pessoa,  ainda  que  por  causa 
transitória,  não  exprimiu  a  vontade,  o  ato  é 
 
 
 
 Prof. Alexander Perazo 
 
 
5 
CIVIL DIREITO 
inexistente,  por  faltar  a  própria  declaração  da 
vontade 
  Por sua vez, a incapacidade pode ser somente 
relativa,  ocasião  em  que  o  incapaz  poderá  praticar 
atos  da  vida  civil,  desde  que  devidamente  assistido 
por seu representante. O art. 4º, por sua vez, traduz a 
incapacidade relativa: 
“Art. 4º. São  incapazes, relativamente 
a  certos  atos,  ou  à  maneira  de  os 
exercer: 
I – os maiores de dezesseis e menores 
de dezoito anos 
II – os ébrios habituais, os viciados em 
tóxicos,  e  os  que,  por  deficiência 
mental,  tenham  o  discernimento 
reduzido 
III  –  os  excepcionais,  sem 
desenvolvimento mental completo 
IV – os pródigos 
Parágrafo  único.  A  capacidade  dos 
índios  será  regulada  por  legislação 
especial” 
 
  A  incapacidade  (de exercício,  lembre‐se), por 
seu  turno,  cessa  com  a  maioridade,  ou  seja,  no 
primeiro  momento  do  dia  em  que  o  indivíduo 
completa dezoito anos, ou nos casos de emancipação 
previstos no p.u. do art. 5º do CC/2002; 
“Art. 5º. (...) 
Parágrafo  único.  Cessará,  para  os 
menores, a incapacidade: 
I – pela concessão dos pais, ou de um 
deles  na  falta  do  outro,  mediante 
instrumento  público, 
independentemente  de  homologação 
judicial,  ou  por  sentença  do  juiz, 
ouvido  o  tutor,  se  o  menor  tiver 
dezesseis anos completos; 
II – pelo casamento 
III – pelo exercício de emprego público 
efetivo 
IV – pela colação de grau em curso de 
ensino superior; 
V  –  pelo  estabelecimento  civil  ou 
comercial,  ou  pela  existência  de 
relação  de  emprego,  desde  que,  em 
função deles, o menor  com dezesseis 
anos  completos  tenha  economia 
própria” 
  Pelo  exposto,  podemos  concluir  que  a 
emancipação pode ser voluntária, judicial ou legal.  
  A  emancipação  voluntária  é  concedida  pelos 
pais,  se o menor  tiver dezesseis  anos  completos  (ou 
por um deles na falta do outro), mas não pode servir 
de  excludente  de  responsabilidade  dos  pais  em 
relação aos seus filhos (objetiva, diga‐se) e tampouco 
para exonerar‐se do dever de alimentar. 
  A emancipação judicial é aquela do menor sob 
tutela que  já completou dezesseis anos, dependendo 
de sentença e ouvido o tutor. 
  Por  derradeiro,  a  emancipação  legal  está 
presente  nos  demais  incisos  do  parágrafo  único  do 
art. 5º. 
 
  DIREITOS DA PERSONALIDADE 
  O Código Civil dedicou um capítulo específico 
aos  direitos  de  personalidade,  pois,  segundo Miguel 
Reale “tratando‐se de matéria de per si complexa ede 
significação ética essencial,  foi preferido o enunciado 
de  poucas  normas  dotadas  de  rigor  e  clareza,  cujos 
objetivos permitirão os naturais desenvolvimentos da 
doutrina e da jurisprudência”. 
  Assim,  os  direitos  de  personalidade  são 
direitos subjetivos que possuem como objeto os bens 
e  valores  essenciais  da  pessoa  humana,  em  seu 
aspecto  físico,  moral  e  intelectual.  São  direitos 
inalienáveis,  que  se  encontram  fora  do  comércio  e 
que merecem, sobremaneira, a proteção legal. 
  Segundo o art. 11 do Código Civil “os direitos 
da  personalidade  são  instransmissíveis  e 
irrenunciáveis,  não  podendo  o  ser  exercício  sofrer 
limitação  voluntária.  Podemos  destacar  as  seguintes 
características: 
  a)  Instransmissibilidade  e  irrenunciabilidade 
–  não  podem  seus  titulares  dispor  dos  direitos  de 
personalidade,  transferindo‐se  a  terceiros, 
renunciando  o  seu  uso  ou  simplesmente  os 
abandonando,  pois  nascem  e  se  extinguem  com  a 
própria  pessoa.  Por  óbvio  que  ninguém  pode 
desfrutar  em  nome  de  outrem  bens  como  a  vida,  a 
honra, a liberdade, etc. 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
  Alguns atributos da personalidade admitem a 
cessão de seu uso, como por exemplo, a imagem que 
pode  ser  explorada  comercialmente,  mediante 
retribuição. Permite‐se  também a  cessão gratuita de 
órgãos do corpo humano para fins terapêuticos. Assim 
a  indisponibilidade  dos  direitos  da  personalidade  e 
tida como relativa. 
  b) Absolutismo – o caráter absoluto do direito 
da  personalidade  deve‐se  ao  fato  de  o  mesmo  ser 
oponível erga omnes  
  c)  Não‐limitação  –  o  rol  dos  direitos  da 
personalidade existente no Código Civil é meramente 
exemplificativo  (numerus  apertus),  pois  é  impossível 
imaginar‐se  um  rol  exaustivo  dos  direitos  da 
personalidade.  Desta  forma,  são  direitos  da 
personalidade  o  direito  a  alimentos,  ao  meio 
ambiente saudável, à velhice digna, ao culto religioso, 
à liberdade de pensamento, etc. 
  d)  Imprescritibilidade  –  os  direitos  da 
personalidade  não  se  extinguem  pelo  decurso  do 
tempo. Malgrado o dano moral consista na lesão a um 
interesse  que  visa  a  satisfação  de  um  bem  jurídico 
extrapatrimonial  contido  nos  direitos  da 
personalidade,  a  pretensão  à  reparação  civil  está 
sujeita  aos  prazos  prescricionais,  por  ter  caráter 
patrimonial. 
  e)  Impenhorabilidade  –  se  os  direitos  da 
personalidade são indisponíveis, logicamente tornam‐
se  impenhoráveis.  Frise‐se  que  os  reflexos 
patrimoniais dos direitos da personalidade podem ser 
penhorados 
  f) Vitaliciedade – os direitos da personalidade 
são  inatos,  sou  seja,  são adquiridos no momento da 
concepção  e  acompanham  a  pessoa  por  toda  a  sua 
vida  até  sua  morte.  Aliás,  mesmo  após  a  morte  de 
uma pessoa alguns direitos são resguardados, como orespeito ao morto, sua honra ou memória, etc. 
  O  Código  Civil  disciplina  os  direitos  da 
personalidade  com os  atos de disposição do próprio 
corpo  (arts.  13  e  1),  o  direito  à  não‐submissão  a 
tratamento  médico  de  risco  (art.  15),  o  direito  ao 
nome e ao pseudônimo  (arts. 16 a 19), a proteção à 
palavra e à imagem (art. 20) e a proteção à intimidade 
(art.  21).  No  art.  52,  preceitua  que  “aplica‐se  às 
pessoas  jurídicas,  no  que  couber,  a  proteção  dos 
direitos da personalidade.” 
      
 PESSOA JURÍDICA 
  A  pessoa  jurídica,  por  sua  vez,  consiste  num 
conjunto  de  pessoas  ou  bens,  dotado  de 
personalidade  jurídica própria e constituído na forma 
da  lei,  para  a  consecução  de  fins  comuns.  A  sua 
principal  característica  é  a  de  que  atuam  na  vida 
jurídica  com personalidade diversa da dos  indivíduos 
que a compõem.  
  A  formação  da  pessoa  jurídica  exige  uma 
pluralidade de pessoas ou de bens  e uma  finalidade 
específica (elementos de ordem material), bem como 
um  ato  constitutivo  e  respectivo  registro  no  órgão 
competente  (elemento  formal), ou Registro Civil das 
Pessoas  Jurídicas  (sociedade  simples)  ou  na  Junta 
Comercial (sociedade empresária). 
  Natureza  jurídica  –  atualmente, duas  teorias 
explicam  a  existência  da  pessoa  jurídica:  teorias  da 
ficção  (ficção  legal ou  ficção doutrinária) e teoria das 
realidade (orgânica, jurídica e técnica). 
  São espécies de pessoa jurídica: 
  Pessoa jurídica de direito público 
    Externo (art. 42) 
 Países estrangeiros 
 Organismos internacionais 
    Interno (art. 41) 
 União 
 Estados 
 Municípios 
 Distrito Federal 
 Territórios 
 Autarquias,  inclusive  as 
associações públicas 
 demais  entidades  de  caráter 
público criadas por lei 
  Pessoa jurídica de direito privado 
 associações 
 sociedades 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
 fundações 
 organizações religiosas 
 partidos políticos 
   
  Neste  ponto,  faz‐se  mister  os  seguintes 
conceitos: 
  Associações – são pessoas jurídicas de direito 
privado  constituídas de pessoas que  reúnem os  seus 
esforços  para  a  realização  de  fins  não  econômicos. 
Nesse  sentido,  reza o  art.  53 que  “Constituem‐se  as 
associações pela união de pessoas que  se organizem 
para  fins  não  econômicos”.  Assim  o  traço 
característicos  das  associações  está  no  fato  de  elas 
não visarem ao lucro. 
  Sociedades  –  Celebram  contratos  de 
sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam 
a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de 
atividade  econômica  e  a  partilha,  entre  si,  dos 
resultados.  As  sociedades  podem  ser  simples  ou 
empresárias; as primeiras  são constituídas, em geral, 
por profissionais que atuam em uma mesma área ou 
por prestadores de serviços técnicos (clínicas médicas, 
escritórios  de  advocacia,  etc),  possuindo  fins 
econômicos;  as  segundas,  por  sua  vez,  possuem  em 
seu  objeto  o  exercício  de  atividade  própria  de 
empresário. 
  Fundações  –  constituem  um  acervo  de  bens 
que recebe personalidade jurídica para a realização de 
fins  determinados,  de  interesse  público,  de  modo 
permanente e estável. Nos dizeres de Clóvis Beviláqua 
“consistem  em  complexos  de  bens  (universitates 
bonorum)  dedicados  à  consecução  de  certos  fins  e, 
para  esse  efeito,  dotados  de  personalidade”.  Sua 
existência  decorre  da  vontade  de  uma  pessoa,  o 
instituidor,  e  seus  fins,  de  natureza moral,  religiosa, 
cultural ou assistencial, são imutáveis. 
    
  DESCONSIDERAÇÃO  DA  PERSONALIDADE 
JURÍDICA 
  O  ordenamento  jurídico  confere  às  pessoas 
jurídicas personalidade distinta da de seus membros. 
Eis  a  razão  de  ser  da  pessoa  jurídica.  Porém,  o  que 
fazer quando a existência da pessoa moral serve como 
instrumento  para  a  prática  de  fraudes  e  abusos  de 
direitos contra credores, acarretando‐lhes prejuízos? 
  A reação a esses abusos ocorreu em diversos 
países,  dando  origem,  através  dos  estudos  do  Prof. 
Rubens  Requião  em  nosso  país,  à  teoria  da 
desconsideração da personalidade  jurídica  (disregard 
doctrine). 
  Assim,  permite‐se  ao  juiz  que,  em  casos  de 
fraude e de má‐fé, desconsidere o princípio de que as 
pessoas  jurídicas possuem existência distinta de seus 
sócios, para atingir e vincular os bens particulares dos 
sócios  à  satisfação  das  dívidas  da  sociedade, 
erguendo‐se o véu da personalidade jurídica. 
  Atenção, trata‐se apenas e rigorosamente, de 
suspensão  episódica  da  personalidade  da  pessoa 
jurídica  não  desfazendo  seu  ato  constitutivo,  nem 
invalidando  a  sua  existência,  apenas  possibilitando 
que  certas  e  determinadas  relações  obrigacionais 
possam  ser  estendidas  aos  bens  particulares  dos 
administradores ou sócios da pessoa jurídica. 
  Desta  forma,  em  caso  de  abuso  da 
personalidade  jurídica,  caracterizado  pelo  desvio  de 
finalidade ou pela confusão patrimonial será possível, 
em tese, desconsiderara a personalidade jurídica  
 
  DOMICÍLIO 
  O domicílio da pessoa natural foi definido pelo 
Código  como  sendo  o  lugar  onde  ela,  de  modo 
definitivo,  estabelece  a  sua  residência  o  centro 
principal  de  sua  atividade.  Do  conceito  supra, 
subsume‐se duas  ideias:  a de morada  e o  centro de 
atividade; a primeira, pertinente à  família, ao  lar, ao 
ponto  onde  o  homem  se  recolhe  para  a  sua  vida 
íntima; a segunda, relativa à vida externa, às relações 
sociais. 
  O  domicílio  pode  ser  ainda  voluntário  ou 
necessário  ou  legal.  Este  último  são  exemplos  o 
incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o 
preso. 
  Já  a  pessoa  jurídica  de  direito  privado  não 
possui  residência,  mas  sede  ou  estabelecimento. 
Trata‐se  de  um  domicílio  especial  que  pode  ser 
livremente  escolhido  no  seu  estatuto  ou  atos 
constitutivos. 
 
 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
  BENS 
  Os  bens  são  coisas  que,  por  serem  úteis  e 
raras,  são  suscetíveis de  apropriação e  contêm  valor 
econômico.  Somente  interessam  ao  direito  coisas 
suscetíveis de apropriação exclusiva pelo homem. As 
que existem  em  abundância no universo,  como o  ar 
atmosférico  e  a  água  dos  oceanos,  por  exemplo, 
deixam de ser bens em sentido jurídico. 
  O  patrimônio,  por  outro  lado,  é  o  complexo 
das  relações  jurídicas  de  uma  pessoa  que  tem  valor 
econômico.  O  patrimônio  e  a  herança  constituem 
coisas  universais  (ou  universalidades)  e  como  tais 
subsistem, embora não constem de objetos materiais. 
Entende‐se que o patrimônio é composto por todo o 
ativo e por todo o passivo de um  indivíduo, de modo 
que  se  pode  encontrar  pessoa  que  tenha  um 
patrimônio negativo, como é o caso do insolvente. 
 
  CLASSIFICAÇÃO DOS BENS  
  Os bens podem ser: 
  Corpóreos  e  incorpóreos  –  corpóreos  são os 
bens físicos, com existência material; incorpóreos são 
os  bens  com  existência  abstrata,  porém  com  valor 
econômico (direito autoral, crédito, etc). 
  Móveis e  imóveis –  imóveis  são aqueles que 
não  podem  ser  transportados  de  um  lugar  para  o 
outro  sem  deterioração  ou  perda.  Podem  ser  ainda 
imóveis  por  natureza,  imóveis  por  acessão  ou  por 
disposição legal (art 80 – direitos reais sobre imóveis e 
as  ações  que  os  asseguram  e  o  direito  à  sucessão 
aberta);Bens  móveis,  por  sua  vez,  são  aqueles  que 
podem  ser  transportados de um  lugar para o outro. 
São  móveis  por  disposição  legal  as  energias,  os 
direitos  reais  sobre  objetos  móveis  e  as  ações 
correspondentes  e  os  direitos  pessoais  de  caráter 
patrimonial e suas respectivas ações. 
  Fungíveis  e  consumíveis  –  são  consumíveis 
aqueles móveis que se destroem assim que vão sendo 
usados; são  fungíveis aqueles móveis que podem ser 
substituídos por outros da mesma espécie, qualidade 
e quantidade. 
  Divisíveis  e  indivisíveis  –  divisíveis  são 
aqueles que podem ser divididos sem perderem o seu 
valor;  os  indivisíveis,  por  sua  vez,  podem  ser  por 
natureza, por determinação  legal ou por vontade das 
partes. 
  Singulares e coletivos – singulares são os bens 
individualizados;  coletivos  são  bens  agregados  num 
todo (uma biblioteca). 
  Principais  e  acessórios  –  principais  são 
aqueles  que  não  dependem  de  mais  nenhum  outro 
bem para a sua existência; acessórios são aqueles que 
se consideram decorrentes de outros. 
  Os acessórios podem ser: produtos (utilidades 
que  se  retiram  das  coisas,  diminuindo‐lhe  a 
quantidade,  porque  não  se  reproduzem 
periodicamente,  como  as  pedras,  os  metais,  etc); 
frutos  (são  as  utilidades  que  uma  coisa 
periodicamente  produz,  nascendo  e  renascendo  da 
coisa,  sem  acarretar  a  sua extinção); pertenças  (que 
não  se  constituindo  parte  integrante  da  coisa,  se 
destina, de modo duradouro ao uso, ao serviço ou ao 
aformoseamento do bem). 
  Atenção: As pertenças são acessórios que não 
seguem o principal. 
  Bens  públicos  –  são  os  bens  do  domínio 
nacional,  pertencentes  à  União,  aos  Estados  ou  aos 
Municípios. Se dividem em: 
  a) bens de uso comum  (inalienáveis): aquele 
pertencentes  ao  Poder  Público  que  podem  ser 
utilizados por todos do povo (ruas, praias, parques) 
  b)  uso  especial  (inalienáveis):  aqueles 
pertencentes ao Poder Público para a administração e 
prestação de serviços (prédios de prefeituras, escolas, 
fóruns, etc); 
  c)  dominiais  ou  dominicais  (alienáveis):  são 
os  que  compõem  o  patrimônio  da União,  Estados  e 
Municípios  como  objeto  de  direito  pessoal  ou  real 
dessas pessoas de direito público interno. 
  OBS  –  os  bens  públicos  (todos)  não  estão 
sujeitos a usucapião. (são imprescritíveis) 
   
  DOS FATOS JURÍDICOS 
  O  novo  Código  Civil  abandonou  a  expressão 
ato jurídico pela designação escorreita e específica de 
negócios  jurídicos, porque em verdade somente este 
é  rico  em  conteúdo  e  justifica  uma  pormenorizada 
regulamentação. Manteve a noção de  fatos  jurídicos, 
abrangendo,  como  veremos,  os  fato  jurídicos  em 
geral, ou  seja, os  fatos  jurídicos em  sentido amplo e 
suas espécies. 
 
 
 
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9 
CIVIL DIREITO 
  Fatos jurídicos são, na definição de Savigny os 
acontecimentos em  virtude dos quais as  relações de 
direitos  nascem  e  se  extinguem,  ou  seja,  todos  os 
acontecimentos  suscetíveis  de  produzir  alguma 
aquisição,  modificação  ou  extinção  de  direitos. 
(Teixeira de Freitas). 
Perceba que a expressão fatos jurídicos engloba todos 
aqueles  eventos  provindos  da  atividade  humana  de 
decorrentes  de  fatos  naturais,  desde  que  tenham 
influência  na  órbita  do  direito.  Assim,  nem  todo 
acontecimento  constitui  um  fato  jurídico,  sendo 
alguns  simplesmente denominados de  fatos por não 
possuírem relevância para o direito. 
Aduz Caio Mário da Silva Pereira que “a chuva que cai 
é um fato, que ocorre e continua a ocorrer, dentro da 
normal  indiferença  da  vida  jurídica. O  que  não  quer 
dizer  que,  algumas  vezes,  este  mesmo  fato  não 
repercuta  no  campo  do  direito,  para  estabelecer  ou 
alterar  relações  jurídicas.  Outros  se  passam  no 
domínio das ações humanas, também  indiferentes ao 
direito: o  indivíduo veste‐se, alimenta‐se, sai de casa, 
e a v ida jurídica se mostra alheia a estas ações, a não 
ser quando  a  locomoção, a  alimentação, o  vestuário 
provoquem a atenção do ordenamento legal”. 
Conclui‐se,  portanto,  que  todo  fato,  para  ser 
considerado  jurídico,  deve  passar  por  um  juízo  de 
valoração.  Fato  jurídico  em  sentido  amplo  é  todo 
acontecimento  da  vida  que  o  ordenamento  jurídico 
considera  relevante no campo do direito. Pode ser o 
simples  evento  natural  como  o  fato  do  animal  ou  a 
conduta  humana,  havendo  para  tanto  a 
correspondência entre o fato e a norma a ser seguida. 
Classificação  –  os  fatos  jurídicos  em  sentido  amplo 
podem ser classificados em: a) fatos naturais (ou fatos 
jurídicos  stricto  sensu);  b)  fatos  humanos  ou  atos 
jurídicos. 
Os  fatos  naturais,  por  sua  vez,  podem  ser:  a) 
ordinários,  como  o  nascimento,  a  morte,  a 
maioridade,  etc;  b)  extraordinários  que  seria  o  caso 
fortuito e a força maior. 
Os  fatos  humanos,  atos  jurídicos,  i.é,  as  ações 
humanas  que  criam,  modificam,  transferem  ou 
extinguem direitos, por sua vez, podem ser: a) lícitos; 
b) ilícitos. 
Lícitos  são  os  atos  humanos  a  que  a  lei  defere  os 
efeitos  almejados  pelo  agente.  Praticados  em 
conformidade com o ordenamento jurídico, produzem 
efeitos jurídicos voluntários, queridos pelo agente. No 
âmbito  Cível  existe  o  amplo  terreno  da  licitude,  ou 
seja, tudo o que a lei não proíbe torna‐se lícito. 
Ilícitos  são  os  atos  jurídicos  praticados  em 
desconformidade  com  o  prescrito  no  ordenamento 
jurídico.  Em  vez  de  direitos,  criam  deveres  e 
obrigações.  Importante é que hoje em dia, admite‐se 
que  os  atos  ilícitos  integrem  a  categoria  dos  atos 
jurídicos por definição do art. 186 e pelos efeitos que 
produzem, gerando a obrigação de reparar o dano, a 
teor do art. 927. 
Os atos lícitos ainda se dividem em: a) ato jurídico em 
sentido estrito ou atos meramente lícitos; b) negócios 
jurídicos  e  c)  ato‐fato  jurídico.  Nos  dois  primeiros 
exige‐se a manifestação da vontade. 
No negócio jurídico a ação humana visa diretamente a 
alcançar  um  fim  prático  permitido  na  lei,  razão  por 
que exige‐se uma vontade qualificada, sem vícios. São 
os contratos e as declarações unilaterais de vontade. 
Nos atos meramente  lícitos o efeito da manifestação 
da  vontade  já  está  predeterminado  na  lei,  como 
ocorre  com  a  notificação  que  constitui  em  mora  o 
devedor,  o  reconhecimento  de  um  filho,  a  tradição, 
não  havendo  por  isso  qualquer  dose  de  escolha  da 
categoria  jurídica.  Perceba  que  a  ação  humana  se 
baseia não numa vontade qualificada, mas em simples 
intenção como quando alguém fisga um peixe, dele se 
tornando  proprietário  graças  ao  instituto  da 
ocupação. 
No ato‐fato jurídico ressalta‐se a consequência do ato, 
o  fato  resultante,  sem  se  levar  em  consideração  a 
vontade de praticá‐lo. O efeito do ato, muitas vezes, 
não  é  buscado  nem  imaginado  pelo  agente,  mas 
decorre  de  uma  conduta  e  é  sancionado  pela  lei, 
como é o caso de uma pessoa que acha casualmente 
um  tesouro,  tornando‐se,  mesmo  sem  querer 
proprietário de  sua metade, por  força do  art. 1.264, 
mesmo  que  essa  pessoa  seja  um  absolutamente 
incapaz, por exemplo. 
A  expressão  atos‐fatos  jurídicos  foi  divulgada  por 
Pontes de Miranda referindo‐se a essas situações em 
que a lei encara os fatos sem levar em consideração a 
vontade, a  intenção ou a  consciência do agente. Por 
essa razão é válido o contrato de compra e venda de 
um bombom por uma criança absolutamente incapaz, 
por exemplo, ou um  louco que achando um  tesouro 
setornará  proprietário  de  sua  metade, 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
independentemente  de  sua  vontade  ou  de  sua 
incapacidade. 
 
NEGÓCIO  JURÍDICO  –  a  expressão  negócio  jurídico 
não é empregada no Código Civil no  sentido  comum 
de  operação  ou  transação  comercial, mas  sim  como 
uma  das  espécies  em  que  se  subdividem  os  atos 
jurídicos lícitos. 
Todos os doutrinadores são unânimes ao afirmar que 
a  expressão  negócio  jurídico  surgiu  com  o  BGB 
(Código Civil Alemão), contudo no CC/1916, Beviláqua 
ainda  optou  pela  orientação  francesa  com  a 
concepção  pelo  ato  jurídico.  Somente  no  CC/2002 
houve a adoção explícita da teoria do negócio jurídico. 
Segundo  Francisco  Amaral  “negócio  jurídico  deve‐se 
entender a declaração da vontade privada destinada a 
produzir  efeitos  que  o  agente  pretende  e  o  direito 
reconhece.  Tais  efeitos  são  a  constituição, 
modificação  ou  extinção  de  relações  jurídicas,  de 
modo  vinculante,  obrigatório  para  as  partes 
intervenientes”. Assim, o negócio  jurídico é meio de 
realização da autonomia privada, sendo o contrato o 
seu principal símbolo. 
É bem verdade que a autonomia privada  já não mais 
possui   o mesmo caráter  individualista que norteou o 
CC/1916. O novo Código possui escorreita orientação 
social,  cujos  princípios  foram  traçados  pela  CF/88, 
principalmente  no  que  tange  à  função  social  da 
propriedade  e  ao  respeito  e  dignidade  da  pessoa 
humana  (adotando  o  CC/2002  o  princípio  da  função 
social dos contratos). 
Fácil é dita percepção quando estudamos o  art. 421 
ou  o  422,  ambos  do  CC/2002,  que  diversas  vezes 
comentamos em sala de aula. 
Finalidade negocial – como dito, no negócio jurídico a 
manifestação  da  vontade  possui  finalidade  negocial 
que abrange a aquisição, conservação, modificação ou 
extinção de direitos. Assim, vejamos: 
Aquisição de direitos – ocorre a aquisição de direitos 
com  a  sua  incorporação  ao  patrimônio  do  titular. 
Pode ser originária ou derivada. 
Originária  ocorre  quando  não  existe  qualquer 
interferência do anterior  titular. Ocorre na ocupação 
de coisa sem dono, na usucapião, na avulsão, etc. 
Derivada ocorre a devida transferência de um direito 
a uma outra pessoa. Perceba que nesse caso o direito 
é  adquirido  com  todas  as qualidades ou defeitos do 
título  anterior,  pois  ninguém  pode  transferir  mais 
direitos  do  que  possui  (nemo  plus  juris  ad  alterum 
transfere potest quam ipse habet). 
A aquisição de direitos pode ser ainda a título gratuito 
(quando  só  o  adquirente  aufere  vantagens,  como  a 
sucessão) ou oneroso (quando se exige do adquirente 
uma contraprestação, como na compra e venda).  
Quanto à sua extensão pode a aquisição de direitos se 
dar  a  título  singular,  que  ocorre  no  tocante  a 
determinados  bens,  ou  a  título  universal,  quando  o 
adquirente sucede o seu antecessor na totalidade de 
seus direitos. A aquisição de direitos a título singular, 
por  sua  vez,  pode  ser  por  ato  inter  vivos  ou  causa 
mortis a depender do momento de ocorrência de seus 
efeitos. 
Os  direitos  ainda  se  diferem  entre  atuais  e  futuros. 
Atuais  são  os  completamente  adquiridos,  futuros  os 
cuja aquisição não se acabou de operar.  
Assim,  atual  é  o  direito  subjetivo  já  formado  e 
incorporado ao patrimônio de seu titular, podendo se 
por  ele  livremente  exercido.  Direito  futuro  é  o  que 
ainda  não  se  constituiu.  Dentre  os  futuros  ainda 
separamos os já deferidos dos não deferidos 
Direito  deferido  é  aquele  cuja  aquisição  depende 
somente do arbítrio do sujeito, ou seja, ainda não se 
incorporaram  ao  patrimônio  do  adquirente  porque 
ele  ainda  não  quis,  mas  poderão  incorporar‐se  a 
qualquer momento, pois depende exclusivamente de 
seu  arbítrio.  É  o  que  sucede  com  o  direito  de 
propriedade,  v.g.,  quando  a  sua  aquisição  depende 
tão somente do registro do título aquisitivo. 
Direito  não  deferido  são  direitos  futuros  que  se 
subordinam a fatos ou condições falíveis, ou seja, são 
aqueles  que  não  se  incorporara  e  talvez  nem  se 
incorporem  ao patrimônio do  adquirente por  razões 
que  são  alheias  a  sua  vontade.  A  eficácia  de  uma 
doação já realizada pode depender de um fato futuro 
falível,  como  um  casamento  do  donatário,  por 
exemplo. 
Algumas vezes, é bem verdade que o direito se forma 
de  forma  gradativa.  Assim,  haveria  uma  fase 
preliminar  em  que  há  apenas  uma  esperança  ou 
possibilidade  de  que  esse  direito  venha  a  ser 
adquirido,  a  situação  é  de  expectativa  de  direito. 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
Trata‐se  de  mera  esperança  de  vir  a  adquirir  um 
direito.  Frise‐se  como  exemplo  a mera  possibilidade 
que têm os filhos de suceder a seus pais quando estes 
morrerem. 
Quando encontra‐se ultrapassada a  fase preliminar e 
o direito se acha inicial e parcialmente formado, surge 
o  direito  eventual,  ou  seja,  já  existe  um  interesse 
ainda  que  embrionário  ou  incompleto.  É  pois  um 
direito  já  concebido,  mas  ainda  não  nascido,  pois 
falta‐lhe um elemento básico, sendo mais do que uma 
expectativa de  fato. Como exemplo podemos  citar  a 
aceitação de uma proposta de compra e venda ou o 
exercício do direito de preferência. 
OBS:  Sílvio Rodrigues  coloca  o  exemplo  acima  como 
direito  eventual  e  não  expectativa  de  direito,  pois, 
segundo  ele,  os  herdeiros,  se  tudo  ocorrer  como 
esperado, receberão a herança. 
Na  terceira  situação de  avanço para  a  concretização 
do  direito  encontramos  o  direito  condicional,  pois 
este  já  se  encontra  plenamente  constituído,  porém 
sua  eficácia  (guarde  bem  o  termo)  depende  do 
implemento  da  condição  estipulada,  de  um  evento 
futuro  e  incerto.  O  art.  130  do  CC/2002  emprega  a 
expressão  direito  eventual  no  sentido  genérico  do 
termo,  abrangendo  o  direito  condicional,  quando 
aduz que “ao titular de direito eventual, nos casos de 
condição  suspensiva  ou  resolutiva,  é  permitido 
praticar os atos destinados a conservá‐lo”. 
Conservação  de  direitos  –  para  resguardar  ou 
conservar  seus  direitos  o  titular,  às  vezes,  necessita 
tomar certas medidas preventivas ou repressivas. 
As  medidas  de  caráter  preventivo  visam  garantir  o 
direito contra futura violação. Podem ser de natureza 
extrajudicial  (garantias  pessoais  ou  reais)  e  judiciais 
(arresto, sequestro, caução, busca e apreensão, etc) 
As  medidas  de  caráter  repressivo  visam  restaurar  o 
direito violado. A pretensão é deduzida em  juízo por 
meio da ação, pois a lei não excluirá da apreciação do 
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. 
A  defesa  privada  ou  autotutela  só  é  admitida 
excepcionalmente,  pois  pode  conduzir  a  excessos.  É 
prevista  na  legítima  defesa,  no  exercício  regular  de 
um  direito,  no  estado  de  necessidade,  na  proteção 
possessória, etc. 
 
Modificação de direitos – os direitos  subjetivos nem 
sempre  conservam  as  características  iniciais  e 
permanecem  inalterados  durante  sua  existência. 
Podem sofrer mutações quanto ao seu objeto, quanto 
às  pessoas,  pois  a  manifestação  da  vontade  com 
finalidade  negocial  pode  objetivar  a  aquisição, 
conservação e também a modificação de direitos. 
A  modificação  dos  direitos  pode  ser  objetiva  ou 
subjetiva. 
É  objetiva  quandodiz  respeito  ao  seu  objeto;  será 
subjetiva  quando  concerne  à  pessoa  do  seu  titular, 
podendo  dar‐se  inter  vivos  ou  causa  mortis.  Certos 
direitos,  por  serem  personalíssimos,  constituídos 
intuitu  personae,  são  insuscetíveis  e  modificação 
subjetiva,  como  sucede  com  os  direitos  de  família 
puros. 
Extinção  de  direitos  –  o  direito  pode  extinguir‐se 
quando houver: o perecimento do objeto, alienação, 
renúncia, abandono, falecimento do titular de direito 
personalíssimo,  prescrição,  decadência,  confusão, 
implemento  de  condição  resolutiva,  escoamento  de 
prazo, perempção e desapropriação. 
Nem  todas  as  causas  apontadas  podem  ser 
consideradas  negócio  jurídico,  pois  muitas  delas 
decorrem  da  lei  e  de  fatos  alheios  à  vontade  das 
partes, como o perecimento do objeto provocado por 
um raio e a desapropriação. 
 
PRESSUPOSTOS  DE  EXISTÊNCIA  DO  NEGÓCIO 
JURÍDICO – os pressupostos de existência do negócio 
jurídico  são os  seus  elementos  estruturais. Optamos 
pelos  seguintes:  declaração  de  vontade,  a  finalidade 
negocial  e  a  idoneidade  do  objeto.  Assim,  faltando 
qualquer desses requisitos, o negócio jurídico inexiste. 
Declaração  de  vontade  –  a  vontade  é  pressuposto 
básico de todo negócio jurídico e é imprescindível que 
se  exteriorize.  A  vontade  interna,  como  a  reserva 
mental, é indiferente para o direito, pois não houve a 
sua exteriorização.  
A vontade é um elemento de caráter subjetivo, que se 
revela  através  da  declaração.  Esta,  portanto,  e  não 
aquela,  constitui  requisito  de  existência  do  negócio 
jurídico. 
Assim,  pelo  princípio  da  obrigatoriedade  dos 
contratos,  a  vontade uma  vez manifestada, obriga o 
contratante (pacta sunt servanda), significando que o 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
contrato faz lei entre as partes não podendo, em tese, 
ser  modificado  pelo  Judiciário.  Em  oposição  a  este 
princípio,  temos  a    lei  contratos  ou  da  onerosidade 
excessiva,  baseada  na  teoria  da  imprevisão  que 
autoriza o recurso ao Judiciário para se pleitear a sua 
revisão. 
A manifestação da vontade pode ser expressa,  tácita 
ou presumida. 
Expressa é a que se realiza por meio da palavra, falada 
ou escrita, e de gestos, sinais ou mímicas, sempre de 
modo  explícito,  possibilitando  o  imediato 
conhecimento do agente. 
Tácita é a declaração da  vontade que  se  revela pelo 
comportamento do agente, pois comumente se deduz 
de uma pessoa a sua intenção. É a pessoa que não diz 
se  aceita  a doação de um  carro, mas passa  a usá‐lo 
como  se  fosse  seu.  Frise‐se  que  nos  contratos  a 
manifestação  da  vontade  somente  pode  ser  tácita 
quando a lei não exigir que seja expressa. 
Presumida é quando a declaração não é realizada pelo 
agente,  mas  a  lei  deduz,  passado  certo  lapso  de 
tempo, que ela  foi emitida. Como exemplo  temos as 
presunções de pagamento previstas nos arts. 322, 323 
e  324,  ou  entendendo‐se  que,  findo  o  prazo  sem 
manifestação,  terá  o mesmo  declarado  sua  vontade 
de forma presumida. 
A  manifestação  tácita  da  presumida  diferem‐se 
porque  esta  será  sempre  estabelecida  em  lei, 
enquanto  que  aquela  será  deduzida  do 
comportamento do agente. As presunções  legais  são 
juris tantum, ou seja, admitem prova em contrário. 
O silêncio como manifestação da vontade – em regra 
o  provérbio  “quem  cala  consente”  não  se  aplica  ao 
direito,  pois  o  silêncio  nada  significa,  por  constituir 
total  ausência  de manifestação  de  vontade  e,  como 
tal,  não  produzir  efeitos.  Todavia,  em  situações 
excepcionais,  o  silêncio  poderá  possuir  algum 
significado. 
Assim,  o  art.  111  aduz  que  “o  silêncio  importa 
anuência,  quando  as  circunstâncias  e  os  usos  o 
autorizarem,  e  não  for  necessária  a  declaração  de 
vontade expressa.” 
Portanto,  o  silêncio  pode  ser  interpretado  como 
manifestação tácita de vontade quando a lei conferir a 
ele  tal efeito,  cabendo ao  juiz examinar  caso a  caso, 
para  verificar  se  o  silêncio  traduz  ou  não  a 
manifestação da vontade. 
Reserva mental – ocorre  reserva mental quando um 
dos declarantes oculta a  sua verdadeira  intenção, ou 
seja, quando não quer um efeito  jurídico que declara 
querer.  Tem  por  objetivo  enganar  o  outro 
contratante, mas  se este não  sabe da  reserva, o ato 
subsiste  e  produz  os  efeitos  que  o  declarante  não 
desejava. 
Assim, a reserva,  isto é, o que se passa na cabeça do 
declarante, é um  indiferente para o mundo  jurídico e 
irrelevante no que  se  refere à validade e eficácia do 
negócio jurídico 
Pelo  art.  110  percebe‐se  que  a  manifestação  de 
vontade  subsiste  ainda  que  o  seu  autor  haja  feito  a 
reserva mental de não querer o que manifestou, salvo 
se dela o destinatário tinha conhecimento”. 
Finalidade  negocial  –  a  finalidade  negocial  é  o 
propósito  de  adquirir,  conservar,  modificar  ou 
extinguir direitos. Sem essa  intenção, a manifestação 
de  vontade  não  caracteriza  um  negócio  jurídico, 
podendo  ser,  dependendo  do  caso,  um  ato  jurídico 
em sentido estrito. 
A  existência  de  um  negócio  jurídico,  portanto, 
consiste  no  exercício  da  autonomia  privada.  Há  um 
poder de escolha da categoria jurídica. Permite‐se que 
a  vontade  negocial  proponha,  dentre  as  espécies, 
variaçoes quanto a intensidade de cada uma. 
Idoneidade  do  objeto  –  Imagine  se  a  intenção  das 
partes é celebrar um contrato de mútuo. Diante de tal 
desiderato, é  impossível que o objeto seja  infungível, 
pois  é  da  essência  do  contrato  de  mútuo  que  o 
mesmo recaia sobre um bem fungível. 
Para a constituição de uma hipoteca, é necessário que 
o bem seja imóvel, ou se trate de um navio ou de um 
avião.  Os  demais  bens  serão  inidôneos  para  a 
celebração de tal negócio. 
Desta forma, o objeto jurídico deve ser idôneo, isto é, 
deve apresentar os requisitos ou qualidades que a  lei 
exige  para  que  o  negócio  produza  os  efeitos 
desejados. 
 
REQUISITOS DE VALIDADE DO NEGÓCIO  JURÍDICO – 
para  que  o  negócio  jurídico  produza  efeitos, 
possibilitando a aquisição, modificação, conservação e 
extinção de direitos, deve preencher certos requisitos, 
apresentados como os de sua validade. 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
Assim, são requisitos, de caráter geral, de validade do 
negócio jurídico: 
(A) agente capaz; 
(B) objeto lícito; 
(C) forma prescrita ou não defesa em lei. 
Os  requisitos  podem  ser  específicos  a  determinados 
negócio  como,  por  exemplo,  a  res,  pretius  et 
consensus na compra e venda. 
Capacidade  do  agente  –  a  capacidade  do  agente 
(condição  subjetiva)  é  a  aptidão  para  intervir  em 
negócios  jurídicos  como  declarante  ou  declaratário. 
Trata‐se  da  capacidade  de  fato  ou  de  exercício, 
necessária para que uma pessoa possa exercer, por si 
só, os atos da vida civil. 
Pelo  novo  CC/2002  a  capacidade  plena  é  adquirida 
pelo indivíduo ao completar 18 anos de idade ou com 
a emancipação (art. 5º). A  incapacidade, por sua vez, 
é a restrição legal ao exercício da vida civil e pode ser 
de duas espécies: absoluta e relativa. 
A  incapacidade absoluta acarreta a proibição total do 
exercício, por  si  só, do direito,  sob pena de nulidade 
(art. 166, I) 
A  incapacidade  relativa  acarreta  a  anulabilidade  do 
ato,  salvo  em  hipóteses  especiais  (arts.  228,  666, 
1.860,etc). 
Perceba  que  a  declaração  de  vontade  é  elemento 
necessário à existência do negócio  jurídico, enquanto 
a  capacidade é  requisito necessário à  sua validade e 
eficácia, bem como ao poder de disposição do agente. 
Objeto lícito, possível, determinado ou determinável – 
a  validade  do  negócio  jurídico  requer  ainda  objeto 
lícito,  possível  e  determinado  ou  determinável 
(condição objetiva).  
Objeto  lícito é aquele que não atenta  contra a  lei, a 
moral  ou  os  bons  costumes.  Quando  o  negócio 
jurídico  é  imoral,  os  tribunais  por  vezes  aplicam  o 
princípio do direito de que ninguém pode valer‐se de 
sua  própria  torpeza,  nemo  auditur  propiam 
turpitudinem  allegans,  ou  então  o  brocardo  in  pari 
causa  turpitudinis  cessat  repetitio, em que  se ambas 
as partes no  contrato,  agem  com  torpeza, não pode 
qualquer delas pedir a devolução do que pagou. 
O  objeto  deve,  também,  ser  possível,  pois  quando 
impossível o negócio jurídico é nulo. A impossibilidade 
do objeto pode ser física ou jurídica. 
Impossibilidade  física é  a que emana de  lei  física ou 
naturais.  A  obrigação  de  colocar  toda  a  água  do 
oceano  em  um  copo  d’água,  por  exemplo.  A 
impossibilidade  deve  ser  absoluta,  pois  em  se 
tratando  de  relativa,  ou  seja,  aquela  que  atinge 
somente  o  devedor  mas  não  outras  pessoas,  não 
constitui obstáculo ao negócio jurídico. 
A  impossibilidade  jurídica  ocorre  quando  o 
ordenamento  jurídico  proíbe,  expressamente, 
negócios  a  respeito  de  determinado  bem,  como  os 
pacta corvina (herança de pessoa viva) ou a alienação 
de bens fora do comércio. 
Por  fim,  deve  o  objeto  do  negócio  jurídico  ser 
determinado (ou ao menos determinável). 
Admite‐se,  contudo,  a  venda  de  coisa  incerta, 
indicada ao menos pelo gênero e qualidade (art. 243) 
ou  a  venda  alternativa,  cuja  indeterminação  cessa 
com a escolha ou concentração (art. 252). 
Forma  – o  terceiro  requisito de  validade do negócio 
jurídico  é  a  forma  que  é  o  meio  de  revelação  da 
vontade. 
Existem  dois  sistemas  no  que  tange  à  prova  como 
requisito  de  validade  do  negócio  jurídico:  o 
consensualismo,  da  liberdade  das  formas  e  o 
formalismo, ou de forma obrigatória. 
No direito brasileiro a forma é, em regra, livre. As 
partes podem celebrar o contrato por escrito, público 
ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em 
que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao 
negócio, exija a forma escrita, pública ou particular. 
 
REQUISITOS  DE  EFICÁCIA  DO  NEGÓCIO  JURÍDICO  – 
além  dos  elementos  estruturais  e  essenciais,  que 
constituem  requisitos  de  existência  e  validade  do 
negócio  jurídico, pode  este  conter outros  elementos 
meramente acidentais,  introduzidos  facultativamente 
pela  vontade  das  partes,  não  necessários  à  sua 
existência. Uma  vez  convencionados  (desde que não 
ofendam  a  ordem  pública)  possuem  o mesmo  valor 
dos elementos estruturais e essenciais, pois passam a 
integrá‐lo de forma indissociável. 
  São a condição, o termo e o encargo.  
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
  CONDIÇÃO  –  Condição  é  o  acontecimento 
futuro e incerto de que depende a eficácia do negócio 
jurídico. Da sua ocorrência depende o nascimento ou 
a  extinção  de  um  direito.  Seu  conceito  encontra‐se, 
hoje, no art 122 do CC. Perceba que a  lei refere‐se a 
condição  é  aquela  que  derive  exclusivamente  da 
vontade das partes, afastando as condições  impostas 
por lei (condiciones juris). 
  Elementos  da  condição  –  os  elementos  da 
condição  são:  a  voluntariedade;  a  futuridade  e  a 
incerteza. 
d) Quanto  à  voluntariedade  as  partes  devem 
querer  e  determinar  o  evento,  pois  se  a  eficácia  do 
negócio  jurídico  for determinada por  lei, não haverá 
condição, mas conditio juris. 
  Quanto  à  futuridade  perceba  que  em  se 
tratando  de  fato  passado  ou  presente,  ainda  que 
ignorado, não se considera condição. Veja o exemplo: 
prometo  determinada  quantia  se  meu  bilhete  tiver 
sido  premiado  no  sorteio  de  ontem    (não  existe 
condição,  pois  ou  o  bilhete  já  foi  premiado  e  a 
obrigação é pura e simples, ou o bilhete não o foi e a 
declaração  é  ineficaz).  São  as  erroneamente 
denominadas condições impróprias. 
  Quanto  à  incerteza  o  evento  pode, 
objetivamente, realizar‐se ou não. Exemplo: pagarei a 
dívida  se  tiver  lucro na  colheita. Assim,  se o  fato  for 
futuro,  mas  certo,  como  a  morte  por  exemplo,  não 
teremos condição, mas sim termo. 
  Negócios  jurídicos  que  não  admitem 
condição  –  as  condições  são  admitidas  em  atos  de 
natureza  patrimonial,  regra  geral,  com  algumas 
exceções,  como na aceitação e  renúncia de herança, 
mas  não  podem  integrar  os  de  caráter  patrimonial 
pessoal, como os direitos de família puros e os direito 
personalíssimos.  Assim,  não  admitem  condição,  por 
exemplo, o casamento, o reconhecimento de filhos, a 
adoção, a emancipação, etc. 
Os atos que não admitem condição são chamados de 
atos puros. São eles:  
 os  negócios  jurídicos  que,  por  sua  função, 
inadmitem incerteza; 
 os atos jurídicos em sentido estrito  
 os atos jurídicos de família 
 os  atos  referentes  ao  exercício  de  direitos 
personalíssimos 
 
  Classificação das condições  
  Quanto à licitude –  lícitas e  ilícitas (art. 122 – 
todas  as  condições  não  contrárias  à  lei,  à  ordem 
pública ou aos bons costumes são  lícitas).  Ilícitas são, 
por exemplo, a cláusula de alguém mudar de religião, 
ou de matar alguém, ou entregar‐se à prostituição. 
  O  CC  nos  artigos  122  e  123  proíbe 
expressamente  as  condições  que  privarem  de  todo 
efeito  o  negócio  jurídico  (perplexas),  as  que  o 
sujeitarem  ao  puro  arbítrio  de  uma  das  partes 
(meramente  potestativas),  as  física ou  juridicamente 
impossíveis e as incompreensíveis ou contraditórias. 
  Quanto  à  possibilidade  –  possíveis  e 
impossíveis  (art.  124  –  têm‐se  por  inexistentes  as 
condições  impossíveis,  quando  resolutivas,  e  as  de 
não fazer coisa impossível). No exemplo clássico: dar‐
te‐ei R$ 100,00 se tocares o céu com o dedo. 
  Repito:  se  a  condição  for  resolutiva,  ter‐se‐á 
como  inexistente,  somente  a  condição  e  não  o 
negócio  jurídico. Assim, se digo “o comodato se dará 
até  o  dia  em  que  tocares  o  céu  com  o  dedo”,  o 
contrato de empréstimo será válido e a condição tida 
como inexistente, por impossível. 
  Temos  também  as  condições  juridicamente 
impossíveis, ou seja, aquela que esbarra em condição 
expressa  do  ordenamento  jurídico  como,  v.g.,  a 
condição  estabelecida  em  adotar  pessoa  da  mesma 
idade (impossível por força do art. 1.619 do CC/2002). 
  As condições de não fazer coisa impossível são 
inexistentes  porque  não  prejudicam  o  negócio,  por 
falta de seriedade. Ora, se é  impossível a condição, é 
porque não posso fazê‐la. 
  Diversa  é  a  solução  do  Código  quando  as 
condições impossíveis são suspensivas, pois:   
  Art. 123.  Invalidam os negócios  jurídicos que 
lhes são subordinados: 
  I  –  as  condições  física  ou  juridicamente 
impossíveis, quando suspensivas; 
  II ‐ As condições ilícitas, ou e fazer coisa ilícita; 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
  III  –  as  condições  incompreensíveis  ou 
contraditórias. 
  Assim,  quando  a  condição  é  suspensiva  a 
eficáciado  contrao  está  a  ela  subordinada.  Se  o 
evento  é  impossível,  o  negócio  jamis  alcançará  a 
necessária eficácia. 
  Quanto à fonte de onde promanam – casuais, 
potestativas e mistas. 
Casuais são aquelas que dependem do acaso, do 
fortuito, de fato totalmente alheio à vontade das 
partes. No exemplo, entregarei a você a quantia de R$ 
1.000,00, se chover amanhã, a cláusula é casual 
  Potestativas  são  aquelas  que  decorrem  da 
vontade  ou  do  poder  de  uma  das  partes,  que  pode 
provocar  ou  impedir  a  sua  ocorrência. AS  condições 
potestativas dividem‐se em puramente potestativas e 
potestativas simples. 
  As  puramente  potestativas  são  consideradas 
ilícitas  pelo  Código  que  inclui  entre  as  condições 
defesas  aquelas que  se  sujeitem  ao puro  arbítrio de 
uma das partes (art. 122). É a denominada cláusula si 
voluero (se me aprouver). 
  As  simplesmente  potestativas  são  válidas 
porque não depende somente do arbítrio da vontade 
de  uma  das  partes,  mas  também  de  algum 
acontecimento  ou  circunstância  externa  que  escapa 
ao  seu  controle. Por exemplo: ganharás um  carro  se 
fores a Roma. Ora, o  fato de  ir a Roma não depende 
somente  da  vontade  das  partes,  mas  também  da 
obtenção de tempo e de dinheiro (principalmente). 
São  exemplos  de  condições  simplesmente 
potestativas  os  artigos  420,  505,  509  e  o  513,  por 
exemplo. 
  Mistas  são  condições  que  dependem 
simultaneamente da vontade das partes e da vontade 
de  um  terceiro.  Exemplos:  dar‐te‐ei  um  dinheiro  se 
casares  com determinadas pessoa ou  se  constituíres 
sociedade com fulano de tal. 
  Quanto  ao  modo  de  atuação  –  a  condição, 
sob esta lente, pode ser suspensiva ou resolutiva. 
  Suspensiva  é  aquela  que  impede  que  o  ato 
produza  efeitos  até  a  realização  do  evento  futuro  e 
incerto 
  Resolutiva  é  aquela  que  resolve  o  direito 
transferido pelo negócio, ocorrido o evento  futuro e 
incerto. 
  Por  fim,  as  condições  ainda  podem  ser 
consideradas  sob  três  estados:  pendentes  (quando 
ainda  não  ocorreu),  verificada  a  ocorrência  dá‐se  o 
implemento e não realizada ocorre a frustração. 
 
  TERMO – termo o dia ou o momento em que 
começa ou se extingue a eficácia do negócio  jurídico, 
podendo ter como unidade de medida a hora, o dia, o 
mês  ou  o  ano.  Termo  convencional  é,  portanto,  a 
cláusula  contratual  que  subordina  a  eficácia  do 
negócio jurídico a evento futuro e certo. 
Assim, aduz o art. 131 que o termo inicial suspende o 
exercício, mas não a aquisição do direito. Ora, o termo 
não  suspende  a  aquisição  do  direito  por  ser  evento 
futuro,  mas  dotado  de  certeza.  Difere  da  condição, 
que  subordina,  como  vimos,  a  eficácia  do  negócio  a 
evento  futuro  e  incerto  (que  pode  nem  acontecer). 
  Assim, o titular do direito a termo pode, com 
maior razão, exercer sobre ele atos conservatórios. 
  Pode ocorrer a  conjugação da  condição e do 
termo no mesmo negócio jurídico. Assim, v.g., “dou‐te 
um consultório se te formares em medicina até os 25 
anos”. 
  Determinados  negócios  não  admitem  termo, 
como a aceitação ou renúncia de herança, a adoção, a 
emancipação, etc. 
  Espécies – Termo convencional é  inserido no 
contrato pela vontade das partes; Termo de direito é 
o que decorre da  lei; Termo de graça é a dilação de 
prazo concedida ao devedor.  
  Pode  o  termo,  apesar  de  certo,  não  existir 
data  certa,  como  no  exemplo:  determinado  bem 
passará a pertencer a tal pessoa a partir da morte do 
proprietário  (perceba  que  a morte  é  certa,  porém  a 
data  incerta). Assim, pode o termo ainda ser dividido 
em certo e incerto. 
  Existe  também o  termo  inicial ou  suspensivo 
(dies a quo) e final ou resolutivo (dies ad quem). Pode 
um  contrato  de  locação  ser  celebrado  para  ter 
vigência a partir de determinada data  (termo  inicial) 
ou ser estipulado com prazo certo de término (termo 
final).  Relembre‐se  que  o  termo  inicial  suspende  o 
exercício, mas não a aquisição do direito. 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
  ENCARGO  OU  MODO  –  o  encargo  pode  ser 
definido  como uma determinação que,  imposta pelo 
autor  da  liberalidade,  a  esta  adere,  restringindo‐a. 
Trata‐se  de  cláusula  acessória  às  liberalidades 
(doação,  testamento,  etc),  pela  qual  se  impõe  uma 
obrigação  ao  beneficiário.  Não  pode  ser  aposta  em 
negócio  a  título  oneroso,  pois  equivaleria  a  uma 
contraprestação. 
São  exemplos  de  encargo  as  doações  de 
terrenos  feitas  a  um  determinado  município  com  a 
obrigação  (com o encargo) de ali ser construída uma 
creche,  ou  uma  escola,  ou  um  ginásio,  geralmente 
com o nome do doador. Outro exemplo seria a deixa 
de  alguma  herança  a  alguém  com  a  obrigação  de 
cuidar de determinada pessoa ou de algum animal. 
A  principal  característica  do  encargo  é  a  sua 
obrigatoriedade,  podendo,  inclusive,  o  seu 
cumprimento  ser  exigido  por  meio  da  ação 
cominatória, a teor do art. 553 do CC. 
  O  terceiro  porventura  beneficiado  também 
poderá exigir o cumprimento do encargo  (também o 
instituidor),  mas  não  poderá  ingressar  com  ação 
revocatória  (revogando a  liberalidade), pois esse  tipo 
de  ação  é  privativa  do  instituidor.  O  Ministério 
Público, caso haja relevância na liberalidade, também 
poderia  ingressar  com  ação  revocatória,  porém  só 
após a morte do instituidor. 
  O  encargo  difere  da  condição  suspensiva 
porque esta  impede a aquisição do direito, enquanto 
aquele não suspende a aquisição nem o exercício do 
direito.  Perceba  a  distinção:  para  a  condição 
emprega‐se a partícula se; para o encargo emprega‐se 
a expressão para que ou com a obrigação de. 
Difere também da condição resolutiva porque 
não conduz, por si só à revogação do ato. O instituidor 
do benefício poderá ou não propor ação revocatória, 
cuja sentença não terá efeito retroativo. 
  O  encargo  ilícito  ou  impossível,  salvo  se 
constituir  o  motivo  determinante  da  liberalidade, 
considera‐se não escrito (art. 137). 
  Assim,  por  exemplo,  se  a  doação  de  um 
imóvel  é  feita  para  que  o  donatário  nele mantenha 
casa  de  prostituição  (atividade  ilícita),  sendo  este  o 
motivo determinante da  liberalidade,  todo o negócio 
jurídico será invalidade.      
 
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
  Introdução  –  Já  vimos  que  a  declaração  de 
vontade  é  elemento  estrutural  ou  requisito  de 
existência do negócio jurídico.  
Após  a  análise  da  existência,  temos  que  perscrutar 
acerca da validade do negócio jurídico. Assim, para ser 
válido  é  necessário  que  a  vontade  manifestada 
(requisito de existência) seja livre e espontânea. 
Inicialmente,  vamos  analisar,  dentro  do  contexto  da 
validade, as hipóteses em que a vontade se manifesta 
com algum vício que torne o negócio jurídico anulável. 
O CC/2002 menciona e regula seis defeitos: erro, dolo, 
coação,  estado  de  perigo,  lesão  (vícios  de 
consentimento)  e  fraude  contra  credores  (vício 
social)1. 
Por  fim,  ressalte‐se  que  o  prazo  decadencial 
para pleitear‐se a anulação do negócio jurídico eivado 
pelos vícios mencionados é de quatro anos, a teor do 
art. 178, II, do CC/2002. 
  Vejamos, portanto, cada um dos vícios de per 
si. 
 
DO ERRO OU IGNORÂNCIA 
  O  erro  consiste  em  uma  falsa  representação 
da realidade, sendo que nesta modalidade o agente se 
engana só. Quando o agente é  induzido em erro pelo 
outro  contratante  o  por  terceiro,  temos  a  figura  do 
dolo. 
  Diante disso, perceba quepoucas são as ações 
anulatórias  ajuizadas  com  base  no  erro,  porque  se 
torna  difícil  penetrar  do  âmago,  no  íntimo  do  autor 
para  descobrir  o  que  se  passou  em  sua  mente  no 
momento da celebração do negócio. O dolo, por outro 
lado,  se  torna  mais  fácil,  pois  o  induzimento  foi 
exteriorizado,  ou  seja,  pode  ser  comprovado  e 
auferido objetivamente. 
  Erro é a ideia falsa da realidade; ignorância é o 
completo  desconhecimento  da  realidade.  Num  e 
noutro caso, o agente é  levado a praticar o ato ou a 
realizar  o  negócio  que  não  celebraria  por  certo,  ou 
que praticaria em circunstâncias diversas, se estivesse 
devidamente  esclarecido.  O  CC/2002  equiparou  as 
 
1 Lembrem‐se que hoje em dia o vício social da simulação torna o 
ato jurídico nulo e não mais anulável. 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
duas  expressões,  conduzido  às  mesmas 
consequências, ou seja, à anulabilidade. 
  Espécies  –  diversas  são  as  modalidades  de 
erro. Umas  levam à anulabilidade, outras não, sendo 
irrelevantes, acidentais, portanto. A mais  importante 
distinção  é  a  que  divide,  portanto,  o  erro  em 
substancial e acidental. 
  Erro substancial e erro acidental – como dito, 
não é qualquer espécie de erro que  torna anulável o 
negócio  jurídico.  Para  tanto  deve  ser  substancial, 
escusável e real. 
  Erro  substancial  é  aquele  que  recai  sobre 
circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. Deve 
ser a causa determinante, ou seja, se fosse conhecida 
a realidade o negócio não seria celebrado. 
  Acidental, por sua vez, é o erro que se refere a 
circunstâncias  de  somenos  importância  e  que  não 
acarretam prejuízo efetivo. Assim, mesmo  conhecida 
a realidade, o negócio se realizaria. 
  Pelo  CC/2002  temos  a  dicção  do  art.  143 
quando  expressamente  aduz  que  “o  erro  de  cálculo 
apenas  autoriza  a  retificação  da  declaração  da 
vontade”. Como exemplo temos quando a parte fixa o 
preço  final da venda  com base na quantia unitária e 
computa, de forma inexata, o preço global. Temos aí o 
erro de cálculo que, por ser acidental, não  invalida o 
negócio, simplesmente permite a sua retificação 
  Não deixou o legislador conceitos vagos sobre 
a  definição  do  erro  substancial.  Ao  contrário, 
enunciou‐os no art. 139, verbis: 
  “Art. 139. o erro é substancial quando: 
  I – interessa à natureza do negócio, ao objeto 
principal da declaração, ou a alguma das qualidade a 
ele essenciais; 
  II  –  concerne  à  identidade  ou  à  qualidade 
essencial da pessoa a quem se refira a declaração de 
vontade,  desde  que  tenha  influído  nesta  de  modo 
relevante; 
  III – sendo de direito e não implicando recusa 
à aplicação da  lei,  for o motivo único ou principal do 
negócio jurídico” 
  Assim, temos: 
  a) erro sobre a natureza do negócio (error  in 
negotio) – é aquele em que uma das partes manifesta 
a  sua  vontade  pretendendo  e  supondo  celebrar 
determinado  negócio  jurídico  e,  na  verdade,  realiza 
outro  diferente.  (Ex:  quer  alugar  e  escreve  vender; 
quer  vender  e  a  outra  parte  entende  que  houve 
doação, etc) 
  b) erro sobre o objeto principal da declaração 
(error  in  corpore)  –  é  aquele  que  incide  sobre  a 
identidade  do  objeto.  A  manifestação  da  vontade 
recai sobre objeto diverso daquele que o agente tinha 
em  mente.  (Ex:  o  adquirente  que  pensa  estar 
adquirindo  um  imóvel  muito  valorizado,  pois 
localizado na Rua X, quando descobre que trata‐se de 
um  imóvel  desvalorizado,  na  periferia,  na  rua  de 
mesmo  nome;  a  pessoa  que  adquire  um  quadro  de 
um  aprendiz,  pensando  tratar‐se  de  um  pintor 
famoso; a pessoa que se propõe a alugar sua casa na 
cidade e o outro contratante entende tratar‐se de sua 
casa de praia, etc). 
  c)  erro  sobre  alguma  das  qualidades 
essenciais do objeto principal (error in substantia ou 
error  in  qualitate)  –  ocorre  quando  o  motivo 
determinante  do  negócio  é  a  suposição  de  que  o 
objeto  possui  uma  determinada  qualidade  que, 
posteriormente,  verifica  não  existir. Veja  que  o  erro 
não  recai  sobre  a  identidade  do  objeto,  que  é  o 
mesmo que se encontrava no pensamento do agente, 
mas aquele objeto não possui as qualidades que este 
reputava  essenciais  e  que  influíram  na  decisão  de 
realizar  o  negócio.  (Ex:  os  famosos  candelabros 
prateados  que  o  agente  adquire  pensando  ser  de 
prata;  a  pessoa  que  adquire  um  quadro  por  alto 
preço, pensando tratar‐se de um original quando , em 
verdade,  é  mera  cópia;  o  agente  que  compra  um 
relógio  dourado  pensando  tratar‐se  de  relógio  de 
ouro, etc). 
  d)  erro quanto  à  identidade  ou  à qualidade 
da pessoa a quem se refere a declaração da vontade 
(error  in  persona)  –  são  aqueles  negócios  intuitu 
personae,  sendo  tanto  da  identidade  quanto  das 
qualidades  da  pessoa.  (Ex:  doação  ou  testamento  a 
pessoa que supõe ter salvo a sua vida; casamento de 
uma jovem de boa formação com um indivíduo que se 
sabe depois ser um desclassificado, etc) 
  OBS – para ser invalidante é necessário que o 
erro tenha influído na declaração da vontade de modo 
relevante (art. 139, II) 
  OBS2  – pelo  art.  142 o  erro de  indicação da 
pessoa  ou  da  coisa  a  que  se  referir  a  declaração  da 
vontade não  viciará o negócio  se puder  identificar  a 
 
 
 
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CIVIL DIREITO 
coisa  ou  a  pessoa  cogitada.  (Ex:  o  doador  beneficia 
seu sobrinho Antônio quando na realidade não possui 
nenhum  sobrinho,  mas  sim  um  primo  de  nome 
Antônio;  ou  a  doação  de  um  quadro,  quando  na 
verdade é uma escultura, etc).  
  e)  erro  de  direito  (error  juris)  –  é  o  falso 
conhecimento  ou  a  ignorância  da  norma  jurídica 
aplicável à situação concreta, desde que seja o motivo 
único ou principal do negócio  jurídico e não  implique 
recusa à aplicação da lei (art. 139, III). (Ex: pessoa que 
contrata  importação  de  determinada  mercadoria 
ignorando existir lei que proíba tal importação. Assim, 
como tal  ignorância foi a causa determinante do ato, 
pode  ser  alegada  para  anular  o  contrato,  sem  com 
isso se pretender que a lei seja descumprida). 
  f)  Erro  substancial  e  vício  redibitório  – 
embora  a  teoria  dos  vícios  redibitórios  ou  vícios 
ocultos (artigos 441 a 446) se assente na existência de 
um erro e guarde  semelhanças com a  teoria do erro 
quanto  às  qualidades  essenciais  do  objeto,  os  dois 
institutos não se confundem. 
  O  vício  redibitório  é  erro  objetivo  sobre  a 
coisa  que  contém  um  defeito  oculto.  O  seu 
fundamento  é  a  obrigação  que  a  lei  impõe  a  todo 
alienante, nos  contratos  comutativos, de  garantir  ao 
adquirente  o  uso  da  coisa.  Uma  vez  existente  o 
defeito  são  cabíveis  as  chamadas  ações  edilícias 
(redibitória  e  quanti  minoris  ou  estimatória),  sendo 
decadencial  e  exíguo  o  prazo  para  a  propositura  da 
ação (regra geral, 30 dias tratando‐se de bens móveis, 
um ano de imóvel). 
  O  erro  quanto  às  qualidades  essenciais  do 
objeto é subjetivo, ou seja, reside na manifestação da 
vontade do agente. Dá ensejo à anulação anulatória, 
como  já  vimos,  com  prazo  decadencial  de  04  anos. 
Assim,  se  alguém  adquire  um  relógio  que  não 
funciona,  em  virtude  da  inexistência  de  uma  peça 
interna é vício redibitório, porém

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