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DOI: http://dx.doi.org/10.15528/2176-4158/rcpa.v15n2p91-97 Potencialidades dos Perímetros Irrigados e Estratégias para Reduzir os Efeitos da Estacionalidade sobre a Oferta de Forragem para os Rebanhos no Nordeste Raimundo J. C. dos Reis Flho1 1 Zootecnista, mestre em produção em gado leiteiro e sócio diretor da Leite & Negócios Consultoria Resumo: A região Nordeste apresenta condições naturais favoráveis à produção de forragem, o principal alimento dos ruminantes, portanto pode-se de dizer que a região apresenta grande potencial para o desenvolvimento de atividades pecuárias, como a bovinocultura de leite e a caprinovinocultura. Apesar do potencial existente e o mercado de carne e lácteos em expansão, as atividades convivem com baixos índices de produtividade e eficiência. Como exemplo, a produção e leite por vaca/ano na região nordeste é de apenas 833 litros, abaixo da média brasileira, que é de 1.382 litros, e muito abaixo da produção da região Sul, 2.471 litros/vaca/ano. São vários os fatores que levam a essa baixa produtividade; porém, a estacionalidade na oferta de forragem aos rebanhos, principalmente nos períodos secos do ano (Julho a Janeiro), gera impacto direto em todos os indicadores zootécnicos e reprodutivos nas atividades, como produção de leite e carne, índice de parição, taxa de natalidade, mortalidade, dentre outros. Para resolver a questão é necessário que os produtores planejem melhor a atividade e adequem o suporte forrageiro nas propriedades. Porém, de forma peculiar, existe na região Nordeste vários perímetros irrigados implantados, com infraestruturas montadas e com disponibilidade hídrica, os quais apresentam áreas ociosas, podendo ser utilizadas para a produção de forragem em larga escala. Palavras-chave: estacionalidade, forragem, pecuária, produção de leite, perímetros irrigados, volumoso Potentiality of Irrigated Areas and Strategies to Reduce the Seasonality Effects of Forage Support for Livestock in the Northeast Brazil Abstract: The Northeast region has favorable natural conditions to forage production, principal base of feeding ruminants. So, it can be established that the region has great potential for the development of livestock activities such as dairy cattle, goat and sheep. Despite of the production potential and the expanding beef and dairy market these activities coexist with low levels of productivity and efficiency. As an example, the production and milk per cow/year in the Northeast is only 833 liters, below the national average - 1382 liters, and far below the production in the South region, 2471 liters/cow/year. Several factors lead to this low productivity, but seasonality in available forage to livestock, especially during dry periods of the year (July to January), generates a direct impact on all husbandry and reproductive indicators, such as milk and meat production, calving rate, birth rate, mortality, etc. To solve this problem it is necessary that breeders develop a good plan to reach a sufficient forage support. In the Northeast region there are several irrigated areas with good infrastructure and water availability that could be used for large scale forage production. Key words: seasonality, forage, livestock, milk production, irrigated area Rev. Cient. Prod. Anim., v.15, n.2, p.91-97, 2013 92 Introdução Em 2012 a pluviosidade na região nordeste foi muito abaixo da média histórica. A esperança de um inverno regular em 2013 deu lugar ao desespero pela ocorrência da pior seca dos últimos 50 anos neste ano. A situação que já era crítica em 2012 ficou ainda pior, gerando grandes prejuízos econômicos no setor agropecuário nordestino, especialmente na agricultura de sequeiro e nas atividades pecuárias. A contabilização das perdas ainda não foram oficialmente divulgadas, porém em relatórios preeliminares, a produção de grãos na região reduziu em 80%, enquanto que a captação de leite diminuiu 60% em alguns estados. Além disso, houve redução dos rebanhos bovinos e caprinos, tanto pela morte de animais, em função da falta de alimento, quanto pela venda para abate ou envio desses para outros estados brasileiros. A ocorrência de secas na região semiárida é um fenômeno cíclico e conhecido, porém, após as secas de 1997/1998, a região conviveu com certa regularidade de chuvas, fato que parece ter levado os produtores a medirem mal, ou desconsiderarem, os riscos das atividades agropecuárias, principalmente às desenvolvidas em sistemas de sequeiro. A pecuária de leite e a ovinocaprinocultura, que são atividades de grande importância para os nordestinos, foram as que mais sofreram. Diferentemente de outras atividades pecuárias, como avicultura e suinocultura, que tem os grãos (milho, soja, etc) como principal fonte alimentar, os ruminantes dependem de alimentos volumosos, os quais a sua oferta exige planejamento prévio e condições climáticas favoráveis a sua produção. O baixo nível de estoque de alimentos volumosos nas propriedades, o inverno irregular de 2012 e a severa seca em 2013, comprometeram a oferta de forragem aos rebanhos, levando a falta quase generalizada do alimento, mesmo em fazendas maiores e mais estruturadas. Diante dessa realidade ficou mais evidente a necessidade de se estruturar o suporte forrageiro nas propriedades, caso contrário a pecuária leiteira na região nordeste continuará vulnerável às intepéries climáticas. Muitos podem se perguntar, mesmo diante de dois ou três anos de seca, é possível garantir oferta de forragem aos rebanhos? Bom, é verdade que em algumas regiões o desafio é maior que outras, porém o conhecimento técnico e científico disponíveis e às tecnologias de produção de forragem existentes, permitem que os criadores minimizem os riscos. Utilizar espécies forrageiras adequadas às condições de cada propriedade e da região a qual está localizada, dimensionar o suporte forrageiro ao tamanho do rebanho e proporcionar reservas de volumoso suficientes para, pelo menos, dois anos, são algumas das alternativas para os produtores. Fazendas com disponibilidade hídrica e possibilidade de uso da irrigação garantem mais segurança aos empreendimentos, maior eficiencia e rentabilidade à atividade leiteira, sendo essa uma vantagem competitiva do Nordeste quando comparada às demais regiões brasileiras. A Produção Comercial de Forragem e Potencial dos Perímetros Irrigados Diante da seca de 2013, foi com o uso da tecnologia da irrigação em larga escala no perímetro irrigado Jaguaribe - APODI/CE que, em parte, minimizou o impacto da falta de forragem em pelos menos quatro estados: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A demanda de alimento volumoso fez com que muitos agricultores especializados na produção de soja, milho verde e outros cultivos agrícolas, passassem a produzir, em caráter de emergência, forragem para comercialização. Segundo os gestores Rev. Cient. Prod. Anim., v.15, n.2, p.91-97, 2013 93 do distrito Jaguaribe-APODI (DIJA), em 2012 foram produzidas mais de 350 mil toneladas de forragem (silagem de milho). Surgiu assim o serviço de terceirização na produção de forragem, negócio até então inimaginável. Além do surgimento de um novo negócio no setor agropecuário, a produção comercial de forragem evidenciou o potencial de produção da região Nordeste e dos perímetros irrigados, os quais, esses últimos, apresentam infra estruturas montadas, disponibilidade hídrica (em sua maioria) e dinâmica de serviços terceirizados, dentre eles, a mecanização. Os perímetros irrigados existentes na região Nordeste são administrados pela CODEVASF e o DNOCS(os federais), e os estaduais, pelos seus respectivos governos. Dos 37 perímetros irrigados de responsabilidade do DNOCS, a área total prevista dos projetos perfazem 124,2 mil hectares (Tabela 1), sendo que 72,3 mil já foram concluídos e entregues aos produtores, ou seja, 58,2% (DNOCS, 2013). Do total da área já disponibilizada, em média, menos da metade está em produção. As justificativas e os motivos para que isso esteja acontecendo são variadas, como gestão do distrito, problemas com infraestrutura, falta de água, dentre outros. Um exemplo dessa situação está no Ceará, onde existe dois perímetros construídos recentemente, Tabuleiro de Russas e Baixo Acaraú, os quais foram concebidos principalmente para a produção de frutas. Nesses perímetros existem infra estrutura pronta, disponibilidade hídrica e todas as condições necessárias ao seu uso, porém a expansão da área cultivada através da fruticultura nos últimos anos foi muito lenta, resultado do baixo crescimento no consumo desses produtos no mercado interno e externo. Em 2013 a ocupação da área desses dois projetos era de apenas 45% do total dos 19.101 hectares (Tabela 2). A fruticultura é a principal atividade explorada nesses perímetros irrigados. Apesar do potencial de produção e a disponibilidade de terra para expansão dos cultivos no estado do Ceará, esta possibilidade esbarra na limitação de mercado, sendo necessário um forte e prévio trabalho na área comercial, de resposta lenta, e que torna a expansão da fruticultura um processo que carece de muita cautela. A atividade que apresentou entre 2000 e 2008 crescimento em área plantada de 106% (8,38% ao ano) deverá desacelerar a sua expansão nos próximos anos (Reis Filho, 2010). Segundo a ADECE, entre 2009 e 2018 a expectativa de crescimento é de 4% aa. Diante dessa realidade, pode-se inferir que a ocupação das áreas desses perímetros irrigados, através apenas da expansão da fruticultura, não será suficiente para se utilizar os quase 10.500 mil hectares de terras já licitadas nestes dois perímetros e que não estão sendo exploradas. É de certa forma incoerente ver projetos da magnitude dos perímetros irrigados Tabuleiro de Russas e Baixo Acaraú sendo pouco aproveitados. Ao mesmo tempo, existem outras atividades que despontam como muito promissoras, alavancadas pelo aumento do consumo na região Nordeste e necessidade de aumento da produção local, sendo o leite o melhor exemplo a ser citado. Porém, nesses perímetros irrigados, até 2010, era vedada a implantação de projetos voltados para produção pecuária, o que impedia, até então, a exploração e, por consequência, a utilização das áreas existentes por atividades voltadas para produção animal. Estudo Mostra Viabilidade da Pecuária Leiteira nos Perímetros Irrigados Foi diante dessa realidade que a Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Ceará, ADECE, encomendou em 2009 um estudo de viabilidade econômica da exploração da pecuária de Rev. Cient. Prod. Anim., v.15, n.2, p.91-97, 2013 94 Tabela 1 - Dados das áreas dos Perímetros irrigados administrados pelo DNOCS na região Nordeste DNOCS Área irrigável Área irrigável implantada % de área implantada/área existente Área irrigável a implantar (ha)(ha) PERÍMETROS - DNOCS 124.168 72.309 58,2 51.859,12 Piauí 40.298 9.917 24,6 30.381,00 Caldeirão 459 397 86,5 62,00 Fidalgo 470 308 65,5 162,00 Gurguéia 5.929 1.974 33,3 3.955,00 Lagoas do piauí 2.440 557 22,8 1.883,00 Platôs de guadalupe 14.957 3.196 21,4 11.761,00 Tab. de são bernardo-ma 6.140 542 8,8 5.598,00 Tab. Lit. Do piauí 8.183 2.443 29,9 5.740,00 Várzea do flores-ma 1.720 500 29,1 1.220,00 Ceará 52.900 39.720 75,1 13.180,56 Araras-norte 3.243 1.625 50,1 1.618,56 Ayres de souza 1.158 615 53,1 543,00 Baixo-acaraú 12.603 8.335 66,1 4.268,00 Curu-paraipaba 3.357 3.357 100,0 - Curu-pentecoste 1.180 1.068 90,5 112,00 Ema 42 42 100,0 - Forquilha 261 218 83,5 43,00 Icó-lima campos 4.263 2.712 63,6 1.551,00 Jaguaribe-apodi 5.658 5.658 100,0 - Jaguaruana 231 231 100,0 - Morada nova 4.474 4.474 100,0 - Quixabinha 293 293 100,0 - Tabuleiros de russas 15.507 10.766 69,4 4.741,00 Várzea do boi 630 326 51,7 304,00 Pernambuco 9.233 7.128 77,2 2.104,80 Boa vista 131 131 100,0 - Cachoeira ii 210 210 100,0 - Custódia 296 296 100,0 - Moxotó 8.596 6.491 75,5 2.104,80 Bahia 10.776 6.152 57,1 4.623,84 Brumado 5.800 4.313 74,4 1.486,85 Jacurici 478 352 73,6 126,05 Vaza-barris 4.498 1.487 33,1 3.010,94 Rio grande do norte 7.363 6.435 87,4 927,78 Baixo-açu 6.000 5.168 86,1 832,05 Cruzeta 196 138 70,4 58,00 Itans 107 107 100,0 - Pau dos ferros 657 619 94,3 37,73 Sabugi 403 403 100,0 - Paraiba 3.598 2.957 82,2 641,14 Engº ARCOVERDE 279 279 100,0 - São gonçalo 3.046 2.404 78,9 641,14 Sumé 274 274 100,0 - Fonte: DNOCS, 2013 Perímetro irrigado Área irrigável total prevista* Área irrigável cocluída* Área em produção** % da área concluída/ produção Baixo Acaraú 12.603 8.335 4.000 48,0 Tabuleiro de Russas 15.507 10.766 4.600 42,7 Total 28.110 19.101 8.600 45,0 Tabela 2 - Dados de área irrigável, concluída e em produção nos perímetros Irrigados Baixo Acaraú e Tabuleiro de Russas, Ceará Fonte: DNOCS, 2012* / ADECE, 2013** Rev. Cient. Prod. Anim., v.15, n.2, p.91-97, 2013 95 leite nos perímetros irrigados. O objetivo do trabalho foi mostrar que a atividade leiteira explorada de forma tecnificada, em sistema intensivo, apresentava rentabilidade equivalente a outras culturas de alto valor agregado, como a fruticultura. Para a realização do estudo foi concebido seis propostas de projetos, diferenciadas entre si em função do tamanho da área a ser explorada (08, 16, 24, 50, 105 e 210 hectares), porém baseados no mesmo sistema de produção e tecnologias empregadas, o que permitiu avaliar coerentemente a viabilidade dos empreendimentos quando os resultados foram comparados entre si. Os dados desse estudo, que foram publicados em 2010, foram atualizados em 2012, e mostrou mais uma vez a sua viabilidade na produção de leite em áreas irrigáveis. Conforme dados da Tabela 3, os projetos estudados apresentam produção média entre 64 e 66 litros de leite/ hectare/dia, resultando em uma produção de pouco mais de 23.000 litros de leite/ha/ano. Nos seis projetos avaliados, apesar de pequenas variações, a lotação de pastagens ficou entre 9,15 e 9,6 UA/ha, sendo este um grande diferencial no sistema de produção a base de pastagem irrigada no Nordeste brasileiro. Conforme os dados da Tabela 4, em todos os tamanhos dos lotes estudados os custos de produção foram altamente competitivos, variando entre 0,6775/ litro de leite (lote de 8 hectares) e R$ 0,5500 (lote de 210 hectares). Fazendo estimativa de renda líquida da atividade leiteira nos seis diferentes empreendimentos, os resultados evidenciaram bons resultados encontrados em todos os projetos, com margem líquida/ha/ mês variando entre R$ 511,00 e R$ 787,00 (Tabela 5), sendo estas compatíveis com outras atividades desenvolvidos de alto valor agregado, como a fruticultura irrigada. Nos modelos de produção estudados, os resultados indicaram a viabilidade econômica de todos os Fonte: Reis Filho, J.C.R. Estudo de viabilidade técnica e econômica da atividade leiteira em perímetros irrigados - ADECE, 2010. Dados revisados e ajustados - Jul/2012. Indicador Tamanho da área explorada (hectares) 8 16 24 50 105 210 Produção de leite/ano (litros) 186.660 387.328 559.980 1.166.625 2.473.245 4.899.825 Participação das despesas do leite no total despesas (%) 72,1% 73,5% 72,8% 73,8% 73,8% 73,6% Preço recebido/litro de leite 0,76130,7613 0,7613 0,7613 0,7613 0,7613 Custo total - (CT) 0,6775 0,6109 0,6067 0,5862 0,5664 0,5500 Custo oportunid. capital (6%) 0,0732 0,0694 0,0666 0,0614 0,0590 0,0588 Custo operacional (CO) 0,6043 0,5415 0,5401 0,5248 0,5074 0,4912 Depreciações 0,0532 0,0497 0,0469 0,0408 0,0416 0,0381 Desembolso 0,5511 0,4918 0,4932 0,4840 0,4658 0,4531 Tabela 4 - Custo total e operacional por litro de leite produzido a partir do sexto ano do projeto, expressos em R$ Fonte: Reis Filho, J.C.R. Estudo de viabilidade técnica e econômica da atividade leiteira em perímetros irrigados - ADECE, 2010. Dados revisados e ajustados - Jul/2012. Produto Tamanho da área explorada (hectares) 8 16 24 50 105 210 Produção propriedade/dia (lts) 512 1.061 1.534 3.196 6.776 13.424 Produção de leite/ha/dia (lts) 64 66 64 64 64 64 Total de vacas no plantel 40 83 120 250 530 1060 Vacas lactação no plantel 30 62 90 188 399 790 Prod. leite vaca/lact/dia (kg) 17,0 17,0 17,0 17,0 17,0 17,0 Prod.total vaca/lactação (kg) 5.185 5.185 5.185 5.185 5.185 5.185 Total de UA 73 149 216 444 933 1.960 Tabela 3 - Índices zootécnicos e reprodutivos do rebanho e de produtividade da atividade Rev. Cient. Prod. Anim., v.15, n.2, p.91-97, 2013 96 empreendimentos, o que levou o DNOCS em 2010 a autorizar a implantação de projetos voltados para atividades pecuárias nesses perímetros. Desde a liberação feita pelo DNOCS, vários projetos voltados para a produção de leite foram implantados e outros estão em implantação, além de empreendimentos direcionados à produção de volumosos como feno, palma forrageira e silagem de milho. É importante salientar que em muitos dos perímetros irrigados, principalpmente os mais antigos, já existem áreas exploradas com atividades pecuárias, porém conduzidos com baixo nível tecnológico, o que não condiz com as condições de produção existentes nestes projetos. De acordo com o relatório anual do DNOCS, em 2012, dos perímetros irrigados administrados por este órgão, foram produzidos 13,7 milhões de litros/ ano, explorados em 2.203 hectares. Isso representa uma produtividade de apenas 6.243 litros hectare/ano, ou seja, muito aquém do potencial de produção. Produção Comercial de Forragem tem Crédito Agrícola Aprovado Com as secas de 2012 e 2013, ficou mais evidente a necessidade de estruturação das propriedades que desenvolvem atividades pecuárias, especialmente quanto ao suporte forrageiro. A produção emergencial de forragem em alguns perímetros irrigados nestes dois anos despertou o interesse de empresários em se especializarem nesses novo negócio, porém, apesar da demanda e do potencial de produção, um entrave inibia a expansão rápida das áreas cultivadas para produção de forragens: o crédito! No intuito de quebrar esta barreira, a FAEC/ ADECE/SDA e outros órgãos do estado do Ceará, pleitiaram junto ao Banco do Nordeste do Brasil/ BNB, a inclusão na linhas de financiamentos FNE Irrigação, a produção de forragem para fins comerciais. Por solicitação do BNB, foi realizado estudo de viabilidade econômica em cinco diferentes culturas: Capim Elefante, Cana de Açúcar, Palma Forrageira, Milho e Sorgo. O estudo realizado pela Leite & Negócios Consultoria em 2013, mostrou viabilidade em todas as culturas avaliadas (Tabela 6), resultado que subsidiou o BNB a tomar a decisão em financiar a produção de forragem para fins comerciais. Perspectivas de Uso das Áreas dos Perímetros Irrigados no Desenvolvimento da Pecuária Nordestina A disponibilidade de áreas em perímetros irrigados já entregues e ainda sem exploração, considerando apenas aqueles administrados pelo DNOCS, somam mais que 30 mil hectares. Tendo como parâmetro os indicadores de produção utilizados no estudo da Leite & Negócios Consultoria (Tabela 6), em uma situação Indicador Tamanho da área explorada (hectares) 8 16 24 50 105 210 Renda total (ano) 201.683 409.646 598.671 1.231.395 2.611.629 5.189.885 Desembolso (ano) 142.648 259.132 379.016 765.031 1.561.718 3.018.475 Margem bruta (MB = RT - Des) 59.035 150.515 219.655 466.364 1.049.911 2.171.410 Depreciações (ano) 9.939 19.271 26.311 47.646 103.054 186.875 Margem líquida (ML = MB - Dep) 49.096 131.244 193.344 418.718 946.857 1.984.535 Margem Líquida/mês 4.091 10.937 16.112 34.893 78.904 165.377 Margem Líquida/ha/mês 511 683 671 697 751 787 Fonte: Reis Filho, J.C.R. Estudo de viabilidade técnica e econômica da atividade leiteira em perímetros irrigados - ADECE, 2010. Dados revisados e ajustados - Jul/2012. Tabela 5 - Estimativas de renda líquida anual e mensal da atividade leiteira a partir do sexto ano do projeto, expressos em R$/ano e mês, em seis diferentes tamanhos de lotes Rev. Cient. Prod. Anim., v.15, n.2, p.91-97, 2013 97 Tabela 6 - Indicadores técnicos e econômicos da produção de cana de açúcar, capim elefante, palma forrageira, milho e sorgo em áreas irrigadas Indicadores Cana de açúcar Capim elefante Palma forrageira Milho Sorgo Financiamento Total 199.971 199.853 182.017 199.275 191.686 Custeio - 70.687 59.739 114.567 103.278 Investimento 199.971 129.166 122.278 84.708 88.408 Prazo Custeio (em meses) - 12 12 12 12 Prazo para pagamento (em meses) 96 60 72 72 72 Período de carência (Investimento) - meses 24 12 12 12 12 Taxa Interna de Retorno - TIR (%) 14,05% 17,04% 17,43% 17,70% 14,32% % de utilização mínima capac. pagamento 36,39% 47,18% 50,88% 31,15% 35,08% % de utilização máxima capac. pagamento 40,59% 51,25% 57,69% 63,28% 62,65% Período de recuperação do capital - Payback 60 38 42 40 45 Encargos 4,54% 4,54% 4,54% 4,54% 4,54% Taxa de Atratividade 1,53% 1,53% 1,53% 1,53% 1,53% DADOS DE PRODUÇÃO Indicadores Cana de açúcar Capim elefante Palma forrageira Milho Sorgo Área de produção 18,0 10,0 4,5 11,5 12,0 Produção por ciclo (ton/ha) 200 200 700 45 45 Ciclos/ ano 1,00 1,00 1,50 3,00 3,00 Produção por ha/ano 200 200 1.050 135 135 Produção total (ton/proriedade/ano) 3.600 2.000 4.725 1.553 1.620 Preço de venda (R$/ton) 55,00 50,00 35,00 120,00 110,00 Receita total (R$/ha) 11.000,00 10.000,00 36.750,00 16.200,00 14.850,00 Fonte: Reis Filho, J.C.R. Leite & Negócios Consultoria, 2013. hipotética, caso essa área fosse destinada ao cultivo de forregeiras, poderia significar uma produção de 6 milhões de toneladas de cana de açúcar ou 32,5 milhões de toneladas de palma forrageira ou 4,05 milhões de toneladas de silagem de milho/sorgo. Portanto, essas áreas poderiam garantir parte do volumoso necessários às explorações pecuárias na região Nordeste, regulando a oferta de forragem e diminuindo a vulnerabilidade dessas cadeias produtivas. Diante da instabilidade climática no Nordeste e suas incertezas quanto a pluviosidade, a existência de áreas irrigáveis disponíveis na região podem, e devem, ser utilizadas para a produção forragem ou mesmo para a exploração pecuária, especialmente a bovinocultura de leite. Para tanto é importante internalizar que essas áreas são muito nobres e que precisam ser exploradas de forma intensiva e com maior eficiência possível. Será que isso possível? Só saberemos daqui a alguns anos, porém a exemplo do estado da Califórnia/EUA, que produz feno em larga escala e o comercializa até para o Japão, porque não podemos suprir as propriedades nordestinas com forragem produzida nas áreas dos perímetros irrigados na própria região? Literatura Citada IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Pecuária Municipal. Produção de leite no Brasil, Regiões Geográficas e Estados. Disponível em <www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em Jul. 2013. Reis Filho, R.J.C. dos. Plano de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira nas Áreas Irrigáveis do Estado do Ceará. ADECE- Fortaleza - CE, 11/2010. Reis Filho, R.J.C. dos. Estudo de Viabilidade Técnico-económica da produção de forragens em áreas irrigáveis. LEITE & NEGÓCIOS CONSULTORIA, 2013 (dados não publicados). Relatório anual de acompanhamento das áreas administradas pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. DNOCS, 2013.
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