Aula 6_A_psicologia_da_Gestalt

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A PSICOLOGIA DA GESTALT 
 
 
Você viu na aula 3 as Concepções de desenvolvimento humano e 
aprendizagem, e estudou os pressupostos e características da Teoria 
Inatista e Ambientalista. Lembra-se? Bem, a Gestalt está atrelada ao 
inatismo, cuja base metodológica é a fenomenologia, que envolve a 
percepção e as experiências vivenciadas pelo próprio sujeito. 
 
A partir de 1870 alguns pesquisadores alemães preocupados em 
compreender os processos psicológicos relacionados aos fenômenos 
perceptuais humanos, especialmente a visão, desenvolveram uma 
série de estudos que analisavam a reação do sujeito a determinados 
estímulos físicos, principalmente pela forma ou percepção gerada ao 
relacionar o fenômeno observado com a sua realidade. Estes estudos 
ficaram conhecidos como a Psicologia da Gestalt ou Psicologia da Boa 
Forma. 
 
Os estudiosos mais reconhecidos dessa teoria são Kurt Koffka, 
Wolfgang Köhler e Max Wertheimer, mas foi o psicólogo austríaco 
Christian Von Ehrenfels o primeiro a demonstrar que a forma é mais 
que a soma de suas partes. 
 
A organização perceptual... 
 
Resumidamente, percepção é a forma pela qual o indivíduo interpreta 
os estímulos do meio ambiente, por meio das suas vivências e 
necessidades. Uma boa percepção depende das experiências, 
motivação, sensibilidade aos órgãos dos sentidos e da forma que o 
sujeito integra os fenômenos com a sua individualidade. Além de 
extremamente individual, a percepção depende da sensação. São 
várias as percepções sensitivas: tátil, visual, auditiva, olfativa, 
gustativa, espacial, cinestésica. Cabe destacar que a percepção não é 
a mera combinação de várias sensações, ela requer a integração de 
estímulos recentemente armazenados na memória. Estes traços de 
memória formam totalidades isoladas chamadas de gestalts, que 
utilizamos sempre para compreender as novas situações. 
 
 
A Gestalt pode ser entendida como aquilo que fica em 
nossa memória, como resultado de nossa percepção de 
 
uma determinada estrutura, através de sua forma final, 
resultante da constituição e justaposição de suas 
partes, cuja interação estabelece um todo ou uma 
entidade autônoma, independente das partes. A Gestalt 
de uma imagem ou de um objeto, permite que ele seja 
perceptível, comunicável, instantaneamente (REDIG, 
1977, p. 20). 
 
 
 
O que é uma cadeira para você? Relação percepção e 
memória... 
 
Para alguns é um objeto com quatro pernas, um assento e um 
encosto. Uma cadeira é tudo isso, mas está presente na nossa 
memória como um símbolo de algo distinto de seus elementos. A 
cadeira tem uma função: ela serve para... sentar, subir, mas pode 
significar: castigo, trabalho, escola, descanso. Em 
outras palavras, a forma e a função do objeto está 
diretamente relacionada ao significado pessoal, a 
percepção que cada um de nós tem da cadeira. 
 
 
 
 
 
 
Na organização perceptual dois conceitos são centrais: figura e fundo, 
que em qualquer campo diferenciado, uma das partes sempre parece 
"saltar", se salientar em relação às outras. A ela damos o nome de 
figura, sendo o fundo todo o resto. Vale lembrar que, figura e fundo 
são diferenciados não só em formas visuais, mas por todas as 
experiências de percepção. Veja a imagem abaixo: o que consegue 
enxergar? 
 
 
Este é um exemplo clássico da relação figura-fundo, que demonstra o 
quanto à relação perceptiva vai depender do ângulo e do 
conhecimento anteriormente adquirido. 
 
 
 
O princípio do insight... 
 
Outro conceito fundamental da Gestalt é o insight, que depende das 
percepções e de fatores objetivos e subjetivos como a motivação, a 
necessidade, o interesse, o estado emocional, a familiaridade com a 
situação, o tipo de experiências anteriores, o nível de inteligência e as 
diferenças individuais. 
 
Imagine: O professor passou uma determinada tarefa em sala 
valendo um ponto extra na média... As primeiras interpretações, 
geralmente, são provisórias, constituindo-se em tentativas. 
Infelizmente, você e nenhum outro colega conseguem 
resolver. Vai dizer que você nunca ficou “martelando na 
cabeça” uma questão durante horas ou dias até chegar a 
resposta?!? Para os gestaltistas, à medida que o sujeito vai fazendo 
relações, analisa e critica, tende a melhorar as interpretações até 
encontrar formas mais apropriadas para compreender o fenômeno. 
 
Quanto consegue perceber todas as relações de uma situação 
problemática, forma uma estrutura... ele compreende o todo, então, 
teve um insight. Isto é, um clic... um discernimento súbito. Pronto 
você encontrou a resposta e de repente tudo fica claro e 
compreensível e se estabelecem relações entre os elementos 
da situação. Por isso, a aprendizagem por insight é um processo de 
 
construção, interpretação, integração... que requer uma série de 
experiências prévias, num processo contínuo de (re)organização da 
experiência, que permite a compreensão global da situação e a 
percepção de seus elementos mais significativos, fazendo com que 
tudo ganhe sentido e significado. 
 
Vamos ver se você está esperto... 
 
Pense rápido: Algumas crianças andam por um gramado. Duas 
crianças andam na frente de duas crianças. Duas crianças andam no 
meio de duas crianças. Duas crianças andam atrás de duas crianças. 
Quantas crianças são? 
Resposta: Se você respondeu 6 ou 8 você teve um falso insight. Se 
você respondeu 4, teve um insight. São 4 crianças, em fila indiana. 
 
As Leis da Gestalt... 
 
Os teóricos da Gestalt ao analisarem o comportamento natural do 
cérebro pela percepção humana desenvolveram algumas leis sobre as 
formas e o modo como o sujeito compreende as imagens e as idéias 
(PENNA, 1999). 
 
 
PROXIMIDADE: Os elementos são agrupados de acordo com a 
distância a que se encontram uns dos outros. Em outras palavras, os 
elementos que estão mais perto de outros numa região tendem a ser 
percebidos como um grupo, mais do que se estiverem distante de 
seus similares. 
 
 
 
SEMELHANÇA: Também conhecida como “similaridade”, esta lei 
define que os objetos similares tendem a se agrupar. A similaridade 
pode ocorrer a partir de diferentes critérios, como a cor dos objetos, 
a textura e a sensação de massa dos elementos. Estas características 
podem ser exploradas quando desejamos criar relações ou agrupar 
elementos na composição de uma figura. 
 
 
 
 
 
 
BOA CONTINUIDADE: Esta lei está relacionada à coincidência de 
direções, ou alinhamento, das formas dispostas. Se vários elementos 
de um quadro apontam para o mesmo canto, por exemplo, o 
resultado final “fluirá” mais naturalmente. Pelo ponto de vista lógico, 
os elementos harmônicos produzem um conjunto harmônico, 
facilitando a compreensão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PREGNÂNCIA: É considerada a mais relevante de todas as leis, por 
trabalhar como o princípio da simplificação natural da percepção. De 
acordo com os gestaltistas, todas as formas tendem a ser percebidas 
 
em seu caráter mais simples: uma espada e um escudo podem 
tornar-se uma reta e um círculo, e um homem pode ser um 
aglomerado de formas geométricas. Quanto mais simples, mais 
facilmente é assimilada: desta forma, a parte mais facilmente 
compreendida em um desenho é a mais regular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CLAUSURA: Conhecida também como “fechamento”, afirma que a 
boa forma se completa, se fecha sobre si mesma, formando uma 
figura delimitada. O conceito de clausura relaciona-seao fechamento 
visual, como se completássemos visualmente um objeto incompleto. 
Ocorre geralmente quando o desenho do elemento sugere alguma 
extensão lógica, como um arco de quase 360º sugere um círculo. O 
conceito de boa continuidade está ligado ao alinhamento, pois dois 
elementos alinhados passam a impressão de estarem relacionados. 
 
 
 
 
 
 
EXPERIÊNCIA PASSADA: Esta última relaciona-se com o 
pensamento pré-Gestáltico, que via nas associações o processo 
fundamental da percepção da forma. A associação aqui, sim, é 
imprescindível, pois certas formas só podem ser compreendidas se já 
a conhecermos, ou se tivermos consciência prévia de sua existência. 
Da mesma forma, a experiência passada favorece a compreensão da 
imagem: se já tivermos visto a forma inteira de um elemento, ao 
visualizarmos somente uma parte dele reproduziremos esta forma 
inteira na memória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Princípios da Gestalt... 
 
 
A psicologia Gestalt se fundamenta em três princípios que foram 
elaborados tendo por base o estudo da percepção, a saber: 
 
 
1º Princípio - Um conjunto é mais que a soma de suas partes. 
Para exemplificar: se for modificada a boca da Mona Lisa de Leonardo 
da Vincci, a Gestalt será completamente destruída - alterando-se 
uma parte altera-se o todo. Entretanto, podemos mudar o todo 
sem alterar a Gestalt, que é o que ocorre quando transpomos todas 
as notas de uma melodia para outra escala musical sem, entretanto, 
modificar a melodia. Ou ainda, uma parte em um todo é diferente 
quando tomada em separado ou quando transportada para 
outro todo. 
 
 
Vamos brincar um pouco... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Me diga, na figura 1 qual o maior retângulo? Na fig. 2 qual a 
maior reta? Qual o maior círculo central presente na fig. 3? 
 
 
 
Explicação: No exemplo da ilusão de ótica (fig.1), a excitação 
cerebral se processa em função da figura total pela relação recíproca 
das várias partes dentro do todo. Um dos retângulos nos parece 
maior que o outro, isto porque são vistos em pontos diferentes 
dentro de um ângulo. Na figura 2, a linha superior nos parece menor 
que a inferior e os dois círculos centrais embora tenham o mesmo 
tamanho, nos dão a ilusão de diâmetros diferentes (fig.3). 
 
 
 
 
2º Princípio - No processo de aprendizagem não respondemos 
aos estímulos específicos existentes no meio, mas às relações 
entre os estímulos. 
 
Neste exemplo, vemos 
um cubo em três 
dimensões (3D) em vez 
do que lá está que é uma 
figura em duas 
dimensões (2D) 
constituída por um 
conjunto de linhas 
horizontais, verticais e 
oblíquas organizadas de 
uma determinada forma. É a percepção das relações entre as linhas e 
não as linhas em si que dá a ilusão tridimensional. Isto é assim 
porque segundo a forma como orientamos o nosso olhar e as relações 
entre as linhas vão-se alterando (umas vão passando de trás para a 
frente e vice-versa) o que nos leva a percepcionar um cubo orientado 
em direções diferentes. 
 
 
3º Princípio - O terceiro princípio da psicologia gestalt é conhecido 
como princípio do efeito de campo, que apresenta várias 
propriedades do campo preceptivo como, figura e fundo, tendência à 
organização por proximidade dos elementos, por semelhança, por 
continuidade, por simetria, etc. 
 
 
 
 
 
Para saber mais: http://www.youtube.com/watch?v=nr3TaVzBSKU 
ou http://www.ilusaodeotica.com/ 
 
 
 
O Gestaltismo e o campo educacional 
 
 
 
Na Gestalt, os conceitos de aprendizagem enfatizam a percepção ao 
invés da resposta, visto que a resposta só será possível quando 
realmente houver ocorrido a aprendizagem. Nesse sentido, o "todo é 
maior do que a soma de suas partes", o aprendido é mais do que a 
soma das respostas que possa ocorrer. 
 
 
 
 
Algumas premissas da Teoria da Gestalt para a educação: 
 
 O aluno mais inteligente tende a ter mais facilidade para obter 
insights, tendo também mais sucesso com formas de 
aprendizagem mais complexas; 
 
 A organização dos estímulos facilita a percepção e os insights. 
Em outras palavras, a matéria deve ser apresentada de forma 
clara e integrada, de modo a deixar os elementos sempre 
visíveis, disponíveis no seu campo perceptivo. 
 
 Sempre valorizar a experiência passada, apesar de não garantir 
a resolução do problema, facilita a compreensão de uma nova 
situação. 
 
 Oferecer a oportunidade de ação sobre o meio para facilitar a 
organização do campo perceptivo. 
 
 Apresentar todos os elementos necessários à compreensão dos 
conceitos, dando boas explicações, caso contrário, a criança 
preencherá com fechamentos os elementos faltantes. Esses 
elementos utilizados podem ser retirados de sua fantasia e 
levar ao erro. 
 
 O professor precisa estimular os alunos a realizar insights, 
favorecendo a construção, interpretação e integração dos novos 
conceitos. 
 
 
Curiosidade... 
 
Imagine a seguinte cena: Você trabalha durante o dia e estuda à noite. 
Normalmente começa a trabalhar às 8h e chega em casa às 23h30min. Hoje 
está particularmente preocupada pois terá uma reunião amanhã às 7h30min. 
Porém, a aula termina um pouco mais cedo e chega em casa às 23h. Ao 
chegar a casa, encontra seu marido (esposa) largando o telefone. Ele (a) lhe 
diz: “Amor, chegaste mais cedo hoje!”. Ao passar pelo lado do telefone, vê um 
pedaço de papel onde está escrito Roberta (Roberto) e um número de 
telefone. O que vai pensar?!? Seja sincero (a)... 
 
 
Duas situações merecem destaque na análise das histórias: 
 
1 - Há variações pessoais na continuação da história, envolvendo a sua 
percepção e a do seu marido; 
2 - Do ponto de vista da Teoria da Gestalt, independente do desfecho, as 
histórias tendem a tomar dois elementos diferentes presentes na história 
como sendo um só. Ou seja, ao chegar em casa, vendo o marido (a esposa) 
largando o telefone e vê um pedaço de papel com um número e um nome. 
Automaticamente os dois fatos se juntam, formando uma totalidade. 
 
 
Será que os dois elementos estão necessariamente interligados? O 
telefonema que está acabando de ocorrer tem, necessariamente, 
ligação com o número anotado? 
 
Pensemos numa solução diferente, que dissocia os dois elementos: 
 
- Sabendo que chegará cansado (a), o marido (a esposa) resolve fazer uma 
surpresa e telefona para a entrega de comida. Como o tempo de entrega é de 
cerca de 30 minutos, calcula o horário de sua chegada e liga trinta minutos 
antes. Como você chega trinta minutos antes, terá de esperar pela comida. 
Eis o motivo de sua decepção, ao perceber que chegou antes. 
- O bilhete com o nome e o número do telefone se referem ao telefonema que 
ele recebeu às 20h30min. Quem ligou foi Roberta (Roberto), a secretária 
substituta do escritório onde você trabalha, que se esquecera de avisá-lo (a) 
que a reunião de amanhã às 7h30min foi cancelada. 
A maioria das histórias tende a unir os dois elementos, ao invés de 
separá-los. Por quê? Para entender essa situação, podemos recorrer ao 
conceito de totalidade, de acordo com a teoria da Gestalt. Uma das premissas 
básicas da Gestalt afirma que há uma tendência a percebermos os eventos 
como totalidades e não como partes isoladas. 
 
 
 
 
Hiperlink: 
 
Fenomenologia: A fenomenologia tem como objeto de estudo o 
próprio fenômeno, isto é, as coisas em si mesmas e não o que é ditosobre elas, assim sendo a investigação fenomenológica busca a 
consciência do sujeito através da expressão das suas experiências 
 
internas. A fenomenologia busca a interpretação do mundo através 
da consciência do sujeito formulada com base em suas experiências. 
Disponível em: 
http://www.euniverso.com.br/Oque/fenomenologia.htm 
 
 
 
 
 
 
 
Imagens: 
 
 
Christian Von Ehrenfels (1859-1932) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Kurt Koffka (1886 - 1941) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Wolfgang Köhler (1887-1967) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Max Wertheimer (1880 - 1943) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências bibliográficas 
 
PENNA, Antonio Gomes. Introdução ao gestaltismo. Rio de 
Janeiro: Imago, 1999. 
 
REDIG, J. Sobre desenho industrial. R