Buscar

O Princípio da Precaução VARELLA; BARROS PLATIAU

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 396 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 396 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 396 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

COLEÇÃO DIREITO AMBIENTAL EM DEBATE 
MARCELO DIAS VARELLA 
ANA FLÁVIO BARROS PLATIAU 
(Organizadores) 
 
 
Princípio da Precaução 
A numeração das páginas não corresponde à versão impressa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Editora Del Rey e Escola Superior do Ministério Público da União 
 
 
 
 
Sumário 
Prefácio 
Marie-Angèle Hermitte 
 
Capítulo 1 - Os direitos e interesses das futuras gerações e o princípio da 
precaução 
Alexandre Kiss 
 
Capítulo 2 - O princípio da precaução 
Rüdiger Wolfrum 
 
Capítulo 3 - O princípio da precaução 
Philippe Sands 
 
Capítulo 4 – O Estatuto do Princípio da Precaução no Direito Internacional 
Nicolas de Sadeleer 
 
Capítulo 5 – Princípio de Precaução: uma nova postura face aos riscos e 
incertezas científicas 
Solange Teles da Silva 
 
Capítulo 6 - Avaliação dos riscos e princípio da precaução 
Marie-Angèle Hermitte e Virginie David 
 
Capítulo 7 – O princípio da precaução frente ao dilema da tradução jurídica 
das demandas sociais: Lições de método decorrentes do caso da vaca louca 
Olivier Godard 
 
Capítulo 8 – Implementando o Princípio da Precaução: Desafios e 
Oportunidades 
David Freestone e Helen Hey 
 
Capítulo 9 – Implementando Cautelosamente o Princípio da Precaução: A 
Abordagem Precautória no Acordo das Nações Unidas sobre a Conservação e 
Ordenamento de Populações de Peixes Tranzonais e de Populações de Peixes 
Altamente Migratórios 
David Freestone 
 
Capítulo 10 – Variações sobre um mesmo tema: O exemplo da implementação 
do princípio da precaução pela CIJ, OMC, CJCE e EUA 
Marcelo Dias Varella 
Capítulo 11 – A adoção do princípio da precaução pela OMC 
Hélène Ruiz Fabri 
 
Capítulo 12 – Princípio da precaução e Organização Mundial do Comércio: da 
oposição filosófica para os ajustes técnicos? 
Christine Noiville 
 
Capítulo 13 – Princípio da precaução no direito brasileiro e no direito 
internacional e comparado 
Paulo Afonso Leme Machado 
 
Capítulo 14 – O princípio da precaução e a sua aplicação na justiça brasileira: 
estudo de casos 
Aurélio Virgilio Veiga Rios 
 
Capítulo 15 – A legitimidade da governança global ambiental e o princípio da 
precaução 
Ana Flávia Barros Platiau 
 
 
 
 
 
 
Prefácio 
Marie-Angèle Hermitte 
O lançamento de uma coleção de direito ambiental, o projeto de ter a participação 
de juristas de língua francesa, assim como publicar a primeira obra que trata do princípio 
da precaução não foram decisões tomadas irrefletidamente. Não é fruto do acaso ou da 
conjuntura, mas a marca de um projeto intelectual dos diretores desta coleção. 
Antes de tudo, tem a ver com a escolha do direito ambiental; ao contrário do que 
crêem muitos juristas, este direito não pode reduzir-se a um ramo peculiar, mais ou 
menos limitado ao campo da proteção da natureza. Sua primeira função, certamente, é a 
de assegurar a proteção do meio ambiente, que é um objetivo político recente e de pouco 
consenso, politicamente falando; todavia, acumula muitas outras características 
importantes. Inicialmente, no plano teórico, observa-se que o direito ambiental está hoje 
voltado tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente stricto sensu; ora, a 
junção progressiva destes dois ramos do direito é a implementação jurídica de uma 
filosofia do homem moldado pelo ecossistema que está construindo, numa sucessão sem 
fim de causas e efeitos. É no direito ambiental que se observa a luta entre duas filosofias 
políticas: uma que fundamenta a vontade do homem em livrar-se cada vez mais das 
contingências naturais, por meio de uma moldagem tecnológica do meio ambiente; outra 
que reconhece a necessidade de uma congruência entre o homem e uma natureza que ele 
nunca poderá dominar totalmente, pois ela continua maltratando com suas reações 
inesperadas e naturalmente autônomas às modificações que lhe são impostas. Num plano 
mais prático, este amplo projeto de pesquisa da congruência conseguiu expressar-se no 
universo jurídico, mediante o princípio da integração. 
Assim, o direito ambiental tem por vocação a transformação de todos os outros 
ramos do direito: existindo para si mesmo, existirá cada vez mais para reconstruir os 
outros direitos, tendo em vista seus próprios objetivos. Todo direito aplicável à indústria 
e à agricultura terá de tolerar modificações para integrar objetivos ambientais e sanitários; 
então, mais que dele mesmo, o direito ambiental retira sua importância do conjunto da 
ordem jurídica. Enfim, observa-se que é um dos ramos mais inovadores do direito e 
inúmeras de suas inovações espalham-se no conjunto do sistema jurídico. É verdadeiro 
num nível técnico, em que novos princípios foram elaborados; mas é também verdadeiro 
num nível político, e a importância desta constatação é significativa. De fato, a 
característica do direito ambiental é de ter surgido em decorrência de uma demanda da 
sociedade civil, mais do que do universo político e, o que é muito importante, sua 
implementação ocorre sob o controle e, de certa forma, sob a pressão da sociedade civil, 
freqüentemente contra as autoridades do Estado, que são vistas como muito permissivas 
pelos vizinhos de uma fábrica ou de outro problema qualquer. É por isto que, antes de 
tudo, o direito ambiental é o molde em que se elabora o que se convencionou chamar de 
nova governança, que eu definiria como um modo de governar compartilhado entre as 
autoridades públicas tradicionais do modelo representativo e uma forma nova de 
democracia direta. 
Neste contexto, a escolha da primeira obra sobre o princípio da precaução é 
lógica. Mais uma vez, não é somente porque este princípio é novo, porque se elabora 
rapidamente e penetra o conjunto da ordem jurídica nacional e internacional. É também e 
sobretudo, por causa de sua importância para esta nova governança. De fato, insistindo 
sobre a necessidade de agir de forma racional durante as fases de incertezas cientificas e 
técnicas, até então reservadas à expectativa, o princípio da precaução tem por vocação 
reforçar a participação do público, dos leigos, no que concerne à decisão. Diante de uma 
situação de incerteza e de ignorância, o sistema abala as hierarquias tradicionais. 
Obviamente, os cientistas têm uma função peculiar, a de levar adiante as pesquisas que 
permitirão vencer essa ignorância; no entanto, eles se deparam com a necessidade de 
confessá-la, de deixar vir à tona suas controvérsias e suas hesitações muito mais que uma 
imagem fictícia de verdade e de saber; assim, cientistas e leigos estão ficando mais 
próximos uns dos outros. É evidente que serão as instituições tradicionais que tomarão 
formalmente as decisões. Todavia, num contexto de risco coletivo, de ignorância e de 
sacrifícios a serem consentidos, associar o público à decisão é um ato de prudência. Os 
princípios de informação e participação do público, que são os menos aplicados dos 
grandes princípios do direito ambiental, são também e talvez os mais importantes. 
Mostrando que as elites científicas e políticas estão desarmadas, a idéia da precaução está 
fundamentalmente ligada à renovação democrática que se tenta impor. 
Contudo, interessar-se pela doutrina francesa parecia menos evidente. Por sua 
posição geopolítica, seu tamanho, suas riquezas, a diversidade de sua população, o Brasil 
pode pretender tornar-se independente intelectualmente e, de resto, será logicamente 
atraído pela esfera americana, no sentido de um continente americano ainda por ser 
construído. É justamente no âmbito desta invenção do mundo que a doutrina francesa, 
restrita a uma audiênciabastante reduzida, em razão dos poucos conhecedores da língua 
francesa, pode apresentar interesse. Tradicionalmente ligada a inúmeros países do Sul, 
relativamente ignorante ou indiferente aos modismos intelectuais, para o melhor assim 
como para o pior, a doutrina francesa representa um pólo de diversidade cultural que 
pode ser útil de se conhecer para aumentar as possibilidades de escolhas políticas e 
jurídicas, com as quais o Brasil é confrontado. Trata-se de contrapeso, de contramoda, de 
incentivo à aliança. 
Que esta coleção provoque a aprendizagem recíproca de argumentações mais ricas 
e mais diversas. Estes são meus votos. 
Apresentação 
 
Este primeiro volume, entre três programados para a “Coleção direito ambiental 
em debate”, apresenta uma discussão sobre o princípio da precaução. A nossa maior 
intenção consiste em trazer para a literatura brasileira, grandes nomes do direito 
internacional, que atualmente são dificilmente acessíveis no Brasil. Este problema 
decorre de inúmeros fatores: em primeiro lugar, os leitores brasileiros não têm 
familiaridade com línguas estrangeiras, principalmente se não se tratar da língua inglesa, 
sobretudo em função da grande influência norte-americana sobre nossa doutrina. Este 
livro se focaliza sobretudo em grandes autores franceses, mas também alemães, 
holandeses e outros. O segundo objetivo é promover o diálogo entre os principais 
acadêmicos europeus e norte-americanos acerca da natureza do princípio da precaução e, 
principalmente, sobre os desafios de sua implementação, o que os professores David 
Freestone e Hellen Hey comentaram ser a “segunda geração” de estudos e pesquisas 
sobre o tema. O debate pretende ajudar a tecer uma malha teórica capaz de auxiliar, em 
grande medida, à parte do desenvolvimento da discussão sobre risco e precaução, a 
disseminar o tema e seus desafios decorrentes no Brasil. 
 Tomamos a liberdade de convidar alguns autores brasileiros consagrados 
como o Paulo Affonso Leme Machado e outros que estão se destacando por seus estudos 
e atividades como Solange Teles da Silva e Aurélio Rios. Tais artigos tentam esboçar os 
contornos do princípio da precaução no ordenamento jurídico brasileiro, assim como suas 
formas de concretização. A	
  disposição	
  dos	
  artigos	
  ao	
  longo	
  do	
  volume	
  naturalmente	
  respeitou	
  uma	
  seqüência	
  baseada	
  nos	
  vieses	
  dados	
  por	
  cada	
  autor	
  a	
  temas	
  ou	
  questões	
  específicas.	
  O	
  primeiro	
  grupo	
  de	
  artigos,	
  por	
  exemplo,	
  inclui	
  os	
  textos	
  dos	
  Professores	
  Alexandre	
  Kiss,	
  Rüdiger	
  Wolfrum,	
  Philippe	
  Sands,	
  Solange	
  Teles	
  da	
  Silva,	
  Marie-­‐Angèle	
  Hermitte	
  &	
  Virginie	
  David,	
  e	
  Nicolas	
  de	
  Sandeleer.	
  Estes	
  seis	
  artigos	
  possuem	
  em	
  comum	
  o	
  mesmo	
  ponto	
  de	
  partida:	
  a	
  apresentação	
  do	
  estado	
  do	
  princípio	
  da	
  precaução	
  no	
  direito	
  internacional.	
  Entretanto,	
  todos	
  possuem	
  metodologias	
  distintas,	
  apresentando	
  o	
  princípio	
  da	
  precaução	
  a	
  partir	
  de	
  diferentes	
  roupagens.	
  	
  O	
  professor	
  Alexandre	
  Kiss	
  tem	
  como	
  principal	
  alvo	
  demonstrar	
  a	
  ligação	
  entre	
  equidade	
  intergeracional	
  e	
  o	
  princípio	
  da	
  precaução,	
  tendo	
  em	
  vista	
  a	
  definição	
  de	
  o	
  princípio	
  do	
  desenvolvimento	
  sustentável.	
  O	
  artigo	
  do	
  professor	
  Rüdiger	
  Wolfrum,	
  por	
  sua	
  vez,	
  vele-­‐se	
  da	
  riqueza	
  dos	
  instrumentos	
  jurídicos	
  internacionais	
  para	
  comentar	
  a	
  evolução	
  da	
  abordagem	
  precautória,	
  levantando	
  importantes	
  pontos	
  para	
  debate	
  tal	
  como	
  a	
  construção	
  de	
  políticas	
  e	
  a	
  tomada	
  de	
  decisão	
  em	
  contextos	
  de	
  incerteza,	
  em	
  contraposição	
  à	
  necessidade	
  de	
  prova	
  de	
  impactos	
  negativos	
  sobre	
  o	
  meio	
  ambiente.	
  De	
  forma	
  análoga,	
  Philippe	
  Sands	
  desenvolve	
  uma	
  apresentação	
  do	
  status	
  do	
  princípio	
  da	
  precaução,	
  bem	
  como	
  uma	
  discussão	
  acerca	
  de	
  seu	
  significado.	
  Em	
  outras	
  palavras,	
  Sands	
  estuda	
  o	
  status	
  da	
  consolidação	
  do	
  princípio	
  da	
  precaução,	
  essencialmente	
  nas	
  cortes	
  
regionais	
  e	
  foros	
  internacionais.	
  O	
  professor	
  Nicolas	
  de	
  Sadeleer	
  assinala	
  que	
  apesar	
  da	
  dificuldade	
  própria	
  do	
  direito	
  internacional	
  do	
  meio	
  ambiente,	
  a	
  fragmentação,	
  é	
  possível	
  estabelecer	
  um	
  valor	
  jurídico	
  para	
  o	
  princípio	
  da	
  precaução	
  a	
  partir	
  das	
  fontes	
  tradicionais	
  do	
  Direito	
  Internacional,	
  aprofundando-­‐se	
  nas	
  raízes	
  deste	
  princípio,	
  construindo	
  sua	
  tipologia	
  jurídica	
  e	
  identificando	
  de	
  forma	
  precisa	
  seus	
  contornos.	
  A	
  professora	
  Solange	
  Teles	
  da	
  Silva	
  demonstra	
  a	
  ascensão	
  do	
  princípio	
  da	
  precaução	
  no	
  direito	
  internacional.	
  Finalmente,	
  o	
  texto	
  da	
  professora	
  Marie-­‐Angèle	
  Hermitte	
  e	
  de	
  Virginie	
  David	
  apresentam	
  uma	
  análise	
  clara	
  dos	
  elementos	
  de	
  difícil	
  análise	
  em	
  se	
  tratando	
  do	
  princípio	
  da	
  precaução,	
  demonstram	
  suas	
  origens	
  e	
  fecham	
  com	
  brilhantismo	
  o	
  bloco,	
  abrindo	
  os	
  olhos	
  do	
  leitor	
  para	
  abordagens	
  que	
  devem	
  ser	
  dadas	
  para	
  a	
  melhor	
  compreensão	
  do	
  princípio	
  da	
  precuação.	
  
O segundo bloco de artigos, em contraste ao primeiro que tinha na definição e 
evolução do princípio da precaução seus focos, são construídos sob dilemas decorrentes 
da epistemologia, da aplicação, interpretação, percepção e extensão da precaução. Trata-
se de um passo além, em consonância com o estado da arte do princípio no direito 
internacional. O artigo de Olivier Godard, em suas próprias palavras, propõe que “O 
dilema posto pela inscrição jurídica do princípio da precaução é de saber se ela será mais 
fiel à concepção apurada e reflexiva do princípio da precaução que as idéias brutas que 
levaram a sua aceitação pelo público.” Em seu texto, Godard utiliza o caso da vaca louca 
como ponto de partida para uma reflexão sobre o posicionamento a ser dado ao princípio 
da precaução. Já o texto de Freestone & Hey é construído sob o problema da incerteza 
versus impactos negativos significativos, quando da aplicação do princípio da precaução 
e revela bem uma visão setorial do princípio, em se tratando de direito marítimo. O artigo 
de David Freestone fundamenta-se na dicotomia interesses nacionais versus interesses 
comuns e transgeracionais, a partir de uma análise do Acordo sobre Conservação e 
Ordenamento de Populações de Peixes Tranzonais e de Populações de Peixes Altamente 
Migratórios e da Convenção sobre o Direito do Mar, que foi um dos primeiros e mais 
importantes tratados internacionais a propor uma forma de concretização do princípio da 
precaução no direito internacional. O artigo subseqüente de Marcelo Varella, por sua vez, 
põe em contraste as diferentes abordagens para o princípio da precaução em diferentes 
organizações internacionais, demonstrando o como o princípio ou abordagem precautória 
é analisado em um mesmo momento por diferentes espaços de resolução de conflitos, e 
como elementos políticos são inerentes a esta análisee podem influenciar a avaliação do 
princípio da precaução. Os artigos de Hélène Ruiz Fabri e Christine Noiville encerram o 
segundo “bloco” com um interessante aprofundamento da discussão sobre a aplicação e 
evolução da consideração do princípio da precaução na Organização Mundial do 
Comércio (OMC). 
Finalmente, o terceiro bloco de artigos inicia-se com a apresentação dos artigos 
dos professores Paulo Afonso Leme Machado e Aurélio Virgilio Veiga Rios cuja ênfase é 
o estado e a implementação do princípio da precaução no ordenamento jurídico interno 
brasileiro. A professora Ana Flávia Platiau retoma em seu artigo o ponto dos professores 
Nicolas de Sandeleer e Olivier Godard para demonstrar, a partir do papel das 
comunidades epistêmicas e da sociedade civil global em questões vinculadas à 
biotecnologia, que os ordenamentos jurídico e político caminham em ritmos distintos. 
O método de construção da obra ocorreu de modo a torná-la um conjunto 
harmônico e integrado de textos. Os professores foram convidados a escrever artigos ou a 
indicar um dos seus melhores textos sobre o tema. Em seguida, os organizadores fizeram 
críticas e retornaram os textos para os autores, em conjunto com todos os outros textos da 
obra. Assim, foi possível cada autor conhecer e discutir os demais textos, alterando seus 
próprios trabalhos. A versão final, após novas discussões, foi traduzida para o português e 
revisada pelos organizadores e pelos autores. Uma nova revisão de português então foi 
realizada, por profissionais experientes e revisada novamente pelos organizadores. 
Assim, trata-se de uma obra cuja coerência aproxima-se mais a de livro do que de uma 
simples reunião coletânea de artigos. Para tornar a obra mais compreensível, os 
organizadores adicionaram algumas notas de rodapé, explicando certos termos técnicos 
que são raramente encontrados nos textos brasileiros. Acreditamos assim, trazer ao 
público brasileiro, alguns trabalhos de qualidade sobre o princípio da precaução. 
Gostaríamos de agradecer a todos que trabalharam para que esta empreeitada 
fosse possível, aos técnicos Rafael Schleicher, Maria Edevalcy Marinho e Liziane Paixão, 
pela uniformização de notas e estilos, e ajuda nesta apresentação e traduções; aos tradutor 
Bruno Guérard. As revisoras de portugues Sandra Jacovini e especialmente à professora 
Amabile, pela contribuição indispensável para a qualidade da obra. Enfim, aos editores 
dos textos originais pela permissão concedida para a tradução. 
Um agradecimento especial vai também a Sub-Procuradora Geral da República, 
Sandra Cureau, Presidente da Escola Superior do Ministério Público da União, aos 
Diplomatas Guillaume Ernst e Laetitia Daget, do Ministério das Relações Exteriores do 
Governo Francês e ao Procurador da República Antônio Fonseca, Presidente da Fundação 
Pedro Jorge, pelo apoio financeiro para a realização dos trabalhos. 
 
Ana Flávia Platiau 
Marcelo Dias Varella 
 	
  
 
 
 
Capítulo 1 
Os Direitos e Interesses das Gerações Futuras e o Princípio da 
Precaução 
 
 Alexandre Kiss* 
 
O título deste capítulo propõe a análise de três elementos separados: direitos e 
interesses, gerações futuras e princípio da precaução. Cada um dos elementos será 
examinado separadamente, antes de uma tentativa de síntese. De qualquer modo, para 
facilitar a análise, a ordem pela qual os três serão discutidos foi modificada no sentido de 
priorizar o conceito-chave de gerações futuras. 
1. O que são gerações futuras? 
O conceito de eqüidade intergeracional surgiu nos anos 80. Sua origem está 
relacionada com a ansiedade desencadeada pelas mudanças globais que caracterizaram a 
segunda metade do século XX. O poder da humanidade de transformar as características 
físicas da Terra alcançou um nível que dificilmente poderia ser imaginado há um século. 
Ao mesmo tempo, a população mundial aumentou numa velocidade sem precedentes, 
dobrando em algumas décadas. Esse crescimento ocasionou aumento no uso dos recursos 
naturais e na conscientização sobre a escassez desses recursos.1 Como resultado, houve 
uma crescente conscientização de que as mudanças globais podem ter como efeito a 
redução da parte da riqueza global a que cada habitante do mundo tem acesso. A 
pergunta, então, é se a mudança global deve ser feita para provocar uma redução da 
parcela da riqueza global a que cada indivíduo tem direito - mesmo àqueles que vivem 
atualmente na Terra. 
Uma imagem impressionante dos anos 1970 - a Espaçonave Terra - ilustra tais 
apreensões: nós, toda a humanidade, estamos a bordo de um veículo viajando pelo 
espaço, a energia solar é o único recurso suplementar que teremos até o fim desconhecido 
 
* Professor Alexandre Kiss é diretor de pesquisas CNRS/França e professor emérito da Universidade de 
Estrasburgo, França. 
1 Os recursos naturais aqui mencionados incluem não somente minerais, água e ar, mas também a 
diversidade biológica e o espaço. 
da viagem. Assim, devemos conservar nossos recursos de forma sábia e compartilhá-los, 
sem esquecer que os que ocuparem nossos lugares a bordo, no futuro, serão ainda mais 
numerosos que nós. 
Esses interesses são acompanhados e ampliados por uma crescente inquietude 
pela situação do meio ambiente. Essas preocupações têm também uma dimensão 
temporal embora não necessariamente coincidente. A preservação do meio ambiente está 
obrigatoriamente focalizada no futuro. Uma decisão consciente para evitar o esgotamento 
dos recursos naturais globais, em vez de nos beneficiarmos ao máximo das possibilidades 
que nos são dadas hoje, envolve necessariamente pensar sobre o futuro. Entretanto, o 
futuro pode ter uma dimensão de médio ou longo prazo, enquanto a preocupação 
relacionada ao interesse das gerações futuras é necessariamente de longo prazo e, sem 
dúvida, um compromisso vago. 
Um outro aspecto motiva a preocupação com as gerações futuras. Mesmo sendo 
verdade que, desde o início, a humanidade usou recursos naturais, algumas vezes 
chegando a sua extinção, também desenvolveu uma riqueza cultural espiritual própria. 
Como afirmou o pensador francês Paul Valéry: “Nós, civilizações, agora sabemos que 
somos mortais”.2 De fato, muitas civilizações e culturas locais desapareceram no decorrer 
da história da humanidade, mas nunca o ritmo de desaparecimento foi tão rápido como no 
século atual. 
Com isso, a mudança global que está ocorrendo no momento afeta não só os 
recursos naturais, mas também os recursos culturais humanos que foram acumulados 
durante milhares de anos. Esses recursos consistem, por exemplo, de conhecimentos de 
povos indígenas, de registros científicos ou até mesmo de películas que se deterioraram 
com o passar do tempo. Fatores psicológicos e éticos explicam nossas reações a tais 
questões. Nossa primeira reação pode ser genética, instintiva. Todas as espécies vivas 
procuram instintivamente assegurar sua reprodução, e os mais desenvolvidos entre elas 
também fazem a provisão para o futuro bem-estar de seus descendentes. A história 
humana é testemunha dos constantes esforços dos seres humanos para proteger não 
somente suas próprias vidas, mas também para garantir o bem-estar e melhorar as 
 
2 VALÉRY, P.. Regards sur le monde actuel et autres essais, p. 121. 
oportunidades para sua prole. O cuidado instintivo com as crianças e netos faz parte da 
natureza humana. 
Considerações éticas reforçam e podem também expressar esses sentimentos 
instintivos. Como disse um escritor francês, nós não somos os herdeirosde nossos pais, 
mas os devedores de nossas crianças.3 Para haver justiça, a riqueza que nós herdamos das 
gerações precedentes não deve ser dissipada para nossa própria conveniência e prazer, 
mas passada adiante, na medida do possível, para aqueles que nos sucederão. Certamente, 
não há nenhuma justificativa moral em privar o outro de receber o que recebemossem 
esforço de nossa parte. O termo eqüidade intergeracional foi utilizado para representar 
este conceito.4 Expressa o reconhecimento do que devemos a nossos antepassados e 
nossa gratidão para com eles, assim como o que devemos à posteridade. 
Uma vez reconhecidas nossas obrigações quanto ao futuro, permanece ainda uma 
dificuldade maior – a definição do termo geração. Uma nota de advertência é necessária 
com relação ao que pode parecer simplesmente uma questão terminológica. O uso atual 
do termo geração serve freqüentemente para referir-se a uma série de produtos ou 
conceitos que, em razão dos desenvolvimentos tecnológicos, podem ser substituídos por 
novas séries de produtos ou conceitos. A implicação deste uso particular é que as 
gerações se substituem e a geração substituída se torna antiquada e, conseqüentemente, 
inútil. O uso do termo geração neste sentido, precisa ser tratado com cuidado. 
Por exemplo, na lei dos direitos humanos, os direitos civis e políticos são tratados 
freqüentemente como sendo direitos de primeira geração; os direitos sociais e 
econômicos, como direitos de segunda geração e o desenvolvimento e os direitos 
ambientais, como sendo direitos de terceira geração. Se o argumento anterior fosse 
aplicado à lei dos direitos humanos, implicaria que os direitos humanos de segunda 
geração tornariam obsoletos os direitos da primeira geração e a chamada terceira geração 
de direitos teria o mesmo efeito sobre a segunda geração. Isto seria obviamente absurdo e 
inaceitável. 
Com relação aos direitos das gerações futuras, não existe certamente nenhuma 
implicação de que, quando uma nova geração surgir, a existente deva desaparecer. De 
 
3 SAINT-EXUPÉRY, A.. Vol de nuit, p. 29. 
4 WEISS, E.. Fairness to Future Generations: International Law, Common Patrimony and 
Intergenerational Equity, p.17. 
qualquer modo, além dos problemas de terminologia, o conceito de geração é obscuro. 
Historicamente, considerando a variada expectativa de vida no passado, a duração de uma 
geração foi aceita com sendo de trinta anos. A relevância de tais estimativas, em vista de 
uma maior expectativa de vida no mundo desenvolvido e as grandes diferenças entre 
países desenvolvidos e países em desenvolvimento, é altamente questionável. 
De forma conceitual, o principal problema é que não há nenhuma geração distinta. 
Em cada duas centenas de seres humanos que nascem e morrem, mais de cinco bilhões de 
pessoas de todas as idades coexistem. Seria mais exato falar não de gerações, mas de um 
fluxo constante; a humanidade pode ser comparada a um enorme rio que flui 
constantemente, torna-se cada vez maior e nele nenhuma distinção pode ser feita entre as 
gotas de água que formam esse rio. 
A conseqüência lógica de tal aproximação seria reconhecer a futura humanidade 
como detentora de direitos. A compreensão de que a futura humanidade começa 
novamente a cada segundo conduziria assim ao reconhecimento da totalidade da 
humanidade, incluindo os membros atuais e futuros, como pessoa legal, sujeito de direito 
e portadora potencial de direitos e deveres. Alguma sustentação conceitual para tal 
enfoque pode ser encontrada no conceito legal existente de crimes contra a humanidade - 
no qual a humanidade por inteiro é protegida contra atentados à vida e à integridade de 
seus membros. 
Finalmente, admitir que as gerações futuras têm direitos poderia conduzir ao 
reconhecimento de que a humanidade, como tal, possui um status legal. Em princípio, 
esta compreensão poderia ser reconhecida nas leis do Direito Internacional.5 Os 
principais problemas a serem tratados estão relacionados ao estabelecimento de 
procedimentos legais adequados através dos quais a representação de direitos e interesses 
da humanidade seria assegurada.6 
2. Os Direitos e Interesses das Gerações Futuras 
 
5 No princípio do Direito Internacional, um dos principais direitos do Estado era a autopreservação que 
poderia ser interpretada como sendo uma forma de cuidado futuro. 
6 WEISS, E. op. cit., p.148-152. (propondo a criação da Comissão sobre o Futuro do Planeta, com os 
seguintes membros: comissários, ombudsmen, um programa de monitoramento, uma unidade de 
aconselhamento técnico e uma unidade educacional). 
Os instrumentos legais internacionais freqüentemente fazem referência aos 
"direitos das gerações futuras". Com base na variedade de instrumentos, incluindo 
declarações e deliberações bem como cláusulas de tratados, é possível aceitar esses 
direitos como sendo os que cada geração tem em beneficiar-se e em desenvolver o 
patrimônio natural e cultural herdado das gerações precedentes, de tal forma que possa 
ser passado às gerações futuras em circunstâncias não piores do que as recebidas. Isto 
exige conservação e, onde for possível, melhoria da qualidade e da diversidade dessa 
herança e, especificamente, a conservação dos recursos renováveis, dos ecossistemas e 
dos processos de suporte à vida, assim como do conhecimento humano e da arte. Requer 
ainda que sejam evitadas ações com conseqüências desastrosas e irreversíveis para a 
herança natural e cultural, citadas em vários instrumentos internacionais.7 
Diferentes expressões dos direitos das gerações futuras são encontradas em 
diferentes textos. De acordo com a Declaração de Estocolmo de 1972, a primeira a 
formular este princípio, encontramos: “O homem... tem a solene responsabilidade de 
proteger e melhorar o meio ambiente para a atual e as futuras gerações”.8 
O mesmo princípio foi reafirmado por diversos tratados internacionais e por 
outros instrumentos.9 Particularmente significativo é o artigo 3(1) da Convenção-Quadro 
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Essa Convenção foi um dos principais 
resultados da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 
(CNUMAD): “As partes devem proteger o sistema climático para o benefício das atuais e 
futuras gerações da humanidade”.10 
Essa Convenção é uma continuação de diversas deliberações da Assembléia Geral 
das Nações Unidas (AGNU), sendo a mais importante a que se refere à Proteção do 
 
7 "Goa Guidelines on Intergenerational Equity", 15. 2. 1988, reproduzido por WEISS, op. cit., p. 293. 
8 Princípio I, UN Conference A/Conf. 48/14/Rev. 1. 
9 Princípio I, UN Conference A/Conf.48114/Rev 1. 9. Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES), Washington, 
March 3, 1973,993 UNTS 243; Convention for the Protection of the Mediterranean Sea Against Pollution, Barcelona, February 16, 1976, (1976) 15 ILM290; 
Convention on the Conservation of Nature in the South Pacific, Apia, June 12, 1976, UNEP, (1983) Selected Multilateral Treaties in the Field of the Environment, p. 
463; Convention on the Prohibition of Military or Any Other Hostile Use of Environmental Modification Techniques, Geneva, May 18, 1977, (1977) 16 ILM 88; 
Kuwait Regional Convention for Cooperation in the Protection of the Marine Environment from Pollution, Kuwait, April 24, 1978, (1978) 17 ILM 511; Convention 
on the Conservation of Migratory Species of Wild Animals, Bonn, June 23, 1979, (1980) 19 ILM 15; Convention on the Conservation of European Wildlife and 
Natural Habitats, Bern, September 19, 1979, European Treaty Series, no 104; Conventionfor the Protection and Development of the Marine Environment of the 
Wider Caribbean Region, Cartagena de Indias, March 24, 1983, (1983) 22 ILM 227; ASEAN Agreement on the Conservation of Nature and Natural Resources, 
Kuala Lumpur, July 9, 1985, (1985) 15 EPL p. 64; Convention on the Transboundary Effects of Industrial Accidents, Helsinki, March 17, 1992, UN E/ECE/ 1268. 
10 Nova Iorque, 9. 5.1992, (1992) 31 ILM 849. 
Clima Global para as Atuais e Futuras Gerações da Humanidade.11 Na Convenção sobre 
Diversidade Biológica, as partes contratantes apresentam sua decisão "para conservar e 
usar de forma sustentável a diversidade biológica para o benefício da geração atual e das 
gerações futuras".12 
De acordo com o terceiro princípio da Declaração do Meio Ambiente e 
Desenvolvimento do Rio, “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a 
permitir que sejam atendidas eqüitativamente as necessidades de desenvolvimento e de 
meio ambiente das gerações presentes e futuras”.13 
A preocupação pelas gerações futuras também é inerente ao conceito de 
desenvolvimento sustentável. A Comissão Mundial de Meio Ambiente e 
Desenvolvimento (WCED) define desenvolvimento sustentável como "a capacidade 
humana de assegurar que o desenvolvimento atenda às necessidades do presente sem 
comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem a suas próprias 
necessidades".14 A Comissão, além disso, concordou que : 
o conceito de desenvolvimento sustentável implica limites, não 
absolutos, mas limites impostos pelo atual estado da tecnologia e da 
organização social, em recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera 
de absorver os efeitos das atividades humanas.15 
Se for admitido que o direito das gerações futuras ou da futura humanidade foi 
reconhecido como tal pela lei internacional costumeira, mediante tratados internacionais 
assim como mediante instrumentos de soft law, dois pontos emergem como 
significativos. O primeiro refere-se ao conteúdo desse direito e o segundo, a sua 
execução. 
O enfoque inicial do direito das gerações futuras levou à conclusão de que este 
direito buscou proteger as opções que temos atualmente e procurou transmiti-las às 
gerações futuras. Entretanto, essa abordagem não é necessariamente satisfatória porque 
coloca excessiva ênfase nos deveres da geração presente. Não considera o fato de que a 
própria natureza do conceito exige que seja aplicado através dos séculos. Como pode a 
 
11 UNGA Res 43/53, 6. 12. 1988, UN Doc. A/Res/43/53. 
12 Ultimo parágrafo do preâmbulo, Rio de Janeiro, 5.6. 1992, (1992) 31 ILM 818. 
13 Rio de Janeiro, 14. 6. 1992, (1992) 31 ILM 874. 
14 Our Common Future (1987), p. 43. 
15 Ibid., p. 8. 
mesma quantidade de espaço, de regiões naturais, de água limpa, de animais selvagens 
ser garantida para infinitas gerações com número cada vez maior de indivíduos? Deve o 
mundo ser transformado em um museu ocupado sempre com maior número de 
monumentos, de artefatos e de locais históricos? Mesmo se a humanidade atual pudesse 
aceitar essa abordagem, não poderia ser aceitável para as gerações futuras. Como 
podemos saber as preferências das gerações futuras daqui a, por exemplo, cinqüenta ou 
cem anos? 
Uma relação mais concreta pode ser estabelecida com base no conceito de 
desenvolvimento sustentável, conforme aparece no relatório do WCED.16 Nesse relatório, 
desenvolvimento está ligado à obtenção de direitos econômicos, sociais e culturais. O 
desenvolvimento sustentável procura assegurar que tais direitos sejam obtidos no futuro, 
o que significa que as condições para sua obtenção também necessitam ser mantidas. 
Estas condições são a disponibilidade de recursos naturais adequados. O direito das 
gerações futuras pode conseqüentemente ser definido nos termos dos direitos aos 
recursos naturais necessários para garantir, por um período indeterminado, direitos 
econômicos, sociais e culturais básicos. 
Entretanto, tal enfoque é totalmente antropocêntrico. Certamente, o conceito dos 
direitos das gerações futuras ou da futura humanidade se refere somente aos seres 
humanos. Não obstante, os recursos naturais, que são necessários para assegurar a 
apreciação de direitos econômicos, sociais e culturais, incluem não somente recursos que 
são essenciais à sobrevivência da humanidade, tal como a água e o ar; recursos que 
servem para enriquecer a humanidade, como minerais, mas também ecossistemas e 
processos essenciais à vida assim como à diversidade biológica.17 A apreciação de 
direitos culturais inclui necessariamente a conservação de elementos básicos de nossa 
civilização. Estes elementos não são somente sintéticos, mas abrangem também a flora e 
fauna selvagem, tal como baleias, leões e serpentes, paisagens e locais naturais. É 
necessária uma interpretação mais ampla dos direitos humanos para refletir os interesses 
mais diversificados das gerações futuras. 
 
16 Ibid., p. 8-9 e 43-66. 
17 O rascunho da Declaração sobre os Princípios dos Direitos Humanos e o Meio Ambiente, incluídos no relatório final da Sra Fatma Zohra Ksentini, relatora 
especial da subcomissão de Prevenção contra a Discriminação e da Proteção de Minorias (06. 7. 1994)) declara em seu Artigo 6: “Todas pessoas têm o direito à 
proteção e preservação do ar, solo, água, geleiras, flora e fauna e aos processos essenciais e áreas necessárias para manutenção da diversidade biológica e de 
ecossistemas”. (UN, E/CN.4/Sub.2/1994/9, Annex I, p. 75). 
Assim, até onde se se refere ao direito das gerações futuras, aceita-se que ele 
inclua direitos econômicos, sociais e culturais e a conservação das condições, abrangendo 
a conservação da diversidade biológica, necessária para assegurar sua realização. 
Com relação à segunda questão, a implementação dos direitos das gerações 
futuras, os instrumentos internacionais fornecem pouca orientação. Contudo, alguns 
indicativos podem ser encontrados na prática de sistemas legais domésticos, 
particularmente em uma recente decisão da Suprema Corte da República das Filipinas e 
em um recente decreto adotado na França. 
O caso da Minors Oposa versus a Secretaria do Departamento de Meio Ambiente 
e de Recursos Naturais18, na Suprema Corte da República das Filipinas, ilustra como os 
direitos das gerações futuras podem ser protegidos. Nesse caso, trinta e cinco menores, 
representados por seus pais e por uma associação, a Rede Ecológica Filipina (Philippine 
Ecological Network), encaminharam uma intimação, exigindo que o governo 
interrompesse as licenças de exploração de madeira existentes e restringisse a emissão de 
novas licenças. Sua petição foi baseada na alegação de que os desflorestamentos 
resultavam em danos ambientais. O julgamento em primeira instância desqualificou o 
pedido, mas a Suprema Corte reverteu a decisão. Decidiu, entre outras coisas, que os 
requerentes tinham o direito de representar seus filhos ainda não nascidos e que tinham 
defendido adequadamente o direito deles a um meio ambiente equilibrado e saudável. 
Sobre o locus standi dos requerentes, a Corte determinou o seguinte: 
Os requerentes menores afirmam que representam sua geração 
assim como as gerações ainda não nascidas. Não encontramos nenhuma 
dificuldade em julgar que eles podem para si mesmos, para outros de sua 
geração e para as gerações futuras, impetrar um processo judicial. Sua 
capacidade para ingressar em juízo no interesse das sucessivas gerações 
pode ser fundamentada no conceito de responsabilidade intergeracional, 
assim como no direito a um meio ambiente sadio e equilibrado. A natureza 
significa o mundo em sua totalidade como foi criado. Tal ritmo e harmoniaincluem indispensavelmente, inter alia, a cuidadosa disposição, utilização, 
gestão, renovação e a conservação das florestas do país, dos minerais, da 
 
18 (1994) 33 ILM 168. 
terra, das águas, das indústrias de pesca, da vida selvagem, das áreas 
costeiras e de outros recursos naturais a fim de que sua exploração, 
desenvolvimento e utilização sejam eqüitativamente acessíveis à geração 
presente, assim como às futuras gerações.19 Desnecessário dizer que cada 
geração tem como responsabilidade preservar para a geração futura o 
ritmo e a harmonia para um completo desfrute de uma ecologia equilibrada 
e saudável. De forma um pouco diferente, a assertiva dos menores terem 
direito a um ambiente em boas condições constitui ao mesmo tempo a 
concretização de sua obrigação em assegurar a proteção daquele direito 
para as gerações vindouras.20 
Esta sentença é naturalmente fundamentada nos textos constitucionais e 
legislativos que são aplicáveis nas Filipinas.21 A petição inicial foi considerada válida e o 
direito de agir dos requerentes foi aceito pelo Tribunal, assim como o direito de defesa foi 
garantido aos beneficiários das licenças de exploração de madeira. 
A Corte Suprema não deu uma definição para o conceito gerações futuras. 
Entretanto, sua decisão foi claramente fundamentada neste conceito. Certamente a Corte 
poderia declarar que os menores, como os requerentes, poderiam somente reivindicar 
seus próprios interesses futuros. Ao contrário, a Corte preferiu adotar um enfoque mais 
abrangente e reconhecer os direitos dos menores em cumprir suas obrigações para as 
gerações ainda por virem. 
Na França, o direito das gerações futuras foi reconhecido de forma institucional. 
Em janeiro de 1993, um Conselho de Gerações Futuras foi estabelecido por decreto. 22 
Esse órgão independente pode ser consultado sempre que for identificado um problema 
com impacto potencial sobre os direitos das gerações futuras. Está também autorizado, 
por sua própria iniciativa, a oferecer aconselhamento em tais questões. Esta iniciativa 
 
19 Title (Environmental Natural Resources), Book IV of the Administrative Code of 1987, B.D. No 292". 
20 WEISS, E. Op cit, n. 18, p. 185. 
21 A seção 16, do artigo II da Constituição de 1987, indica explicitamente que "O Estado deverá proteger e garantir o direito do povo a uma ecologia equilibrada e 
saudável de acordo com o ritmo e harmonia da natureza". O ato de Reorganização do Departamento de Ambiente e Recursos Naturais, promulgado em 10. 6. 1987, 
OE nº 192, autorizou esse Departamento, em conformidade com a Constituição, a garantir uma eqüitativa divisão dos benefícios advindos dos recursos naturais "para 
o bem-estar das presentes e gerações futuras de filipinos”. Na seção 3, uma Declaração de Política do mesmo instrumento também menciona o uso eqüitativo dos 
recursos naturais do país, "não somente para a geração presente, mas também para as gerações futuras". Essa Declaração de Política está substancialmente reafirmada 
no Título XIV, Livro IV do Código Administrativo de 1987, Seção 1, EO No 292 (Ibid., p. 187 e 189). 
22 Decreto n. 93-298, de 8. 3. 1993, Journal Officiel de La République Française. 
francesa oferece importante exemplo de como pode ser tratado um dos principais 
problemas que surgem com a implementação dos direitos das gerações futuras, ou seja, 
como a questão da representação pode ser solucionada. 
Resumindo, os direitos das gerações futuras, baseados na obtenção de direitos 
econômicos, sociais e culturais, incluindo a conservação da diversidade biológica, 
podem, ao menos em princípio, ser implementados por Cortes e por órgãos nacionais 
independentes. 
Entretanto, a história contemporânea ilustra a fragilidade de muitos Estados, 
alguns dos quais são incapazes de impor sua autoridade sobre a população. Assegurar a 
proteção dos direitos das futuras gerações supõe uma forma de continuidade que somente 
pode ser alcançada com a participação de instituições internacionais. Além disso, 
experiências com Estados totalitários demonstram também que o melhor estímulo para 
alcançar a proteção dos direitos humanos é a existência de instituições internacionais 
independentes, que podem avaliar sua efetiva implementação. Assegurar os direitos das 
gerações futuras é uma tarefa muito mais difícil do que assegurar o respeito pelos direitos 
humanos atuais. Isto deve ser outorgado a uma autoridade internacional, talvez a um Alto 
Comissariado ou a uma Comissão Mundial, como a Comissão Brundtland. 
3. O	
  princípio	
  da	
  precaução	
  
Como indicam os diversos autores, várias formulações diferentes foram usadas 
para definir ou descrever o princípio da precaução. Alguns consideraram que o princípio 
15 da Declaração do Rio reflete o enfoque mais comumente aceito: 
Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução 
deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas 
capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a 
ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para 
o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a 
degradação ambiental. 
O princípio da precaução pode ser considerado como a forma mais desenvolvida 
da regra geral, impondo uma obrigação para impedir danos ao meio ambiente. Ele 
constitui o ponto de partida para uma grande organização do direito ambiental e, em 
particular, para o direito ambiental internacional. Com exceção de uma série de tratados 
que tratam da compensação para os danos ambientais, a grande maioria das convenções 
internacionais é baseada no princípio de que a degradação ambiental deve ser impedida - 
evitando a poluição ou danos - em vez de se esperar que ela ocorra e, então, tentar 
neutralizar seus efeitos negativos. 
A diferença entre o princípio da prevenção e o princípio da precaução está na 
avaliação do risco que ameaça o meio ambiente. A precaução é considerada quando o 
risco é elevado - tão elevado que a total certeza científica não deve ser exigida antes de se 
adotar uma ação corretiva, devendo ser aplicado naqueles casos em que qualquer 
atividade possa resultar em danos duradouros ou irreversíveis ao meio ambiente, assim 
como naqueles casos em que o benefício derivado da atividade é completamente 
desproporcional ao impacto negativo que essa atividade pode causar no meio ambiente. 
Nestes casos, é necessário um cuidado especial a fim de preservar o ambiente para o 
futuro. Este é naturalmente o ponto comum entre os direitos das gerações futuras e o 
princípio da precaução. Em determinadas situações, a aplicação do princípio da 
precaução é uma condição fundamental para proteger os direitos das gerações futuras. 
Uma das principais características deste princípio é que, naqueles casos onde há uma 
incerteza científica, a obrigação real de tomar decisões passa dos cientistas para os 
políticos, para aqueles cuja tarefa é governar. 
Entretanto, não há uma identidade total entre os dois conceitos. O princípio da 
precaução foi adotado somente no campo da proteção ambiental. Outras áreas 
importantes que são abrangidas pelos direitos das gerações futuras - tais como a ciência, a 
arte e a preservação de monumentos históricos - não foram beneficiadas por qualquer 
obrigação internacional que imponha a aplicação do princípio da precaução. A 
Convenção da UNESCO para a Proteção da Herança Cultural e Natural do Mundo, de 23 
de novembro de 1972, proclama o dever de cada Estado de assegurar “...a identificação, 
proteção, conservação, apresentação e transmissão às gerações futuras da herança cultural 
e natural referidas nos artigos 1 e 2 e situadasem seu território.” 24 
Entretanto, o artigo 5 (c) dessa Convenção menciona somente a necessidade de 
estudos técnicos e científicos, de pesquisa e desenvolvimento dos meios pelos quais o 
Estado poderá neutralizar os perigos que ameaçam sua herança cultural e natural. Não há 
 
24 Art. 4 (1972) 11 ILM 1358. 
nenhuma menção quanto à necessidade de se tomarem medidas em uma situação de 
incerteza científica. Neste sentido, o regime legal para a proteção do meio ambiente pode 
ser considerado como sendo mais avançado que o regime para a proteção da herança 
cultural, preservação que pode ser parte crucial dos direitos das gerações futuras. 
Um dos alvos no desenvolvimento do Direito Internacional deve ser a expansão 
dos campos de aplicação do princípio da precaução ao campo de proteção da herança 
cultural. Isto seria no sentido do interesse das gerações futuras ou, posto de maneira mais 
simples, da humanidade. Desta forma, seria um avanço primordial a uma interpretação 
mais abrangente dos conceitos de direitos humanos, para incluir direitos culturais assim 
como o direito à diversidade biológica, apoiada por estruturas institucionais para garantir 
sua aplicação. 
Referências bibliográficas VALÉRY,	
  Paul.	
  Regards	
  sur	
  le	
  monde	
  actuel	
  et	
  autres	
  essais.	
  Paris:	
  Gallimard,	
  1945.	
  SAINT-­‐	
  EXUPÉRY,	
  A.	
  de.	
  Vol	
  de	
  nuit.	
  Paris:	
  Gallimard,1948.	
  
WEISS, E. Brown.	
   Fairness	
   to	
   Future	
   Generations:	
   International	
   Law,	
   Common	
  
Patrimony	
  and	
  Intergenerational	
  Equity.	
  New	
  York:	
  Transnational,	
  1989. 
Capítulo 2 
O Princípio da Precaução 
Prof. Dr. Rüdiger Wolfrum* 
 
1. Introdução 
Em novembro de 1990, o secretário-geral das Nações Unidas, em seu relatório 
sobre direito do mar, enfatizou a importância do princípio da precaução nas futuras 
abordagens para proteção do meio ambiente marinho e a conservação de recursos. 
Relatou também que o princípio foi endossado praticamente em todos os recentes fóruns 
internacionais.1 De fato, o princípio da precaução tornou-se uma parte intrínseca da 
política ambiental internacional, especialmente com sua adoção, em 1992, como 
princípio 15 da Declaração do Rio: 
Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução 
deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas 
capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a 
ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para 
o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a 
degradação ambiental. 
Apesar da redação cautelosa, o princípio foi incluído em muitos tratados 
internacionais ambientais, seja explícita ou implicitamente, como a Convenção sobre 
Diversidade Biológica, em 19922; a Convenção de Helsinque sobre Proteção da Área do 
Mar Báltico, em 19923; e a Convenção sobre a Proteção do Ambiente Marinho do 
Nordeste Atlântico.4 Durante muitos anos, o princípio da precaução pertenceu aos 
princípios do direito ambiental nacional; pois sua origem está no conceito alemão do 
Vorsorgeprinzip, como mencionado no artigo 5 da lei federal sobre o controle de 
 
* Professor Wolfrum leciona na Universidade de Heidelberg e pesquisador do Instituto Max Planck de 
Direito Público Comparado e Direito Internacional. Apresentação realizada no Conselho Europeu. 
Conferência sobre direito ambiental: “Novas tecnologias e direito do ambiente marinho”, Lisboa, 18 e 19 
de setembro de 1998. 
1 UN Doc. A/45/721, 19 de novembro de 1990, p. 20, parágrafo 60. 
2 International Environmental Law. Multilateral Treaties, 992: 42. 
3 International Environmental Law. Multilateral Treaties, 992: 28. 
4 International Environmental Law. Multilateral Treaties, 992:71. 
emissões.5 Antes, havia apenas referências explícitas a certos instrumentos internacionais, 
já que o conteúdo do princípio estava consagrado em vários documentos de política 
internacional.6 Por exemplo, a Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano 
reconheceu a necessidade de salvaguardar os recursos naturais, por meio de um 
planejamento cauteloso e gerenciamento, para o benefício das futuras gerações.7 A Carta 
Mundial para a Natureza declarou que as atividades “que podem trazer um risco 
significativo à natureza” não deveriam continuar quando os “efeitos adversos potenciais 
não são totalmente compreendidos”.8 A primeira referência internacional explícita ao 
princípio da precaução está contida na Declaração Ministerial da Segunda Conferência 
Internacional sobre a Proteção do Mar do Norte, de novembro de 1984:9 
(...) a fim de proteger o Mar do Norte de possíveis efeitos danosos 
da maioria das substâncias perigosas, uma abordagem de precaução é 
necessária, a qual pode exigir ação para controlar os insumos de tais 
substâncias mesmo antes que um nexo causal tenha sido estabelecido por 
evidência científica clara e absoluta.10 
O princípio tem sido aplicado particularmente com respeito à poluição marítima11 
e, recentemente, ele se expandiu à pesca. Levando em consideração que o princípio da 
 
5 Gerd Winter (ed.), German Environmental Law, Basic Texts and Introduction, 1994, p. 143-153. 
6 Warwick Gullett, “Environmental Protection and the ‘Precautionary Principle’, A Response to Scientific 
Uncertainty in Environmental Management, Environmental and Planning Law Journal, 1997, 52 (55). 
7 Princípio 2. 
8 Documento da ONU A/RES 37/7, 28 de Outubro de l982. 
9 Declaração ministerial pedindo redução da poluição, 25 de novembro de 1987, International Legal 
Materials (ILM) 27, 1988, 835 (838). 
10 A colocação foi reiterada na Declaração Final da Terceira Conferência Internacional sobre Proteção do 
Mar do Norte, 7-8 de março de 1990, Yearbook of International Environmental Law, 1990, n.1, p. 658 a 
661. Lê-se: 
“Os participantes ...... continuarão a aplicar o princípio da precaução, isso é, agir para evitar impactos de 
danos potenciais de substâncias que são persistentes, tóxicas e passíveis de bioacumulação mesmo onde 
não haja prova científica para provar um vínculo causal entre emissões e efeito...”. Na realidade, a 
Declaração adotada na Primeira Conferência Internacional sobre Proteção do Mar do Norte, de 1984, 
referiu-se ao princípio da precaução uma vez que o texto alemão da Declaração falou de 
Vorsorgemassnahmen, uma noção que foi traduzida por “medidas preventivas oportunas”; veja David 
Freestone e Elen Hey, “Origins and Development of Precautionary Principle” in D. Freestone e E. Hey 
(eds.), The Precautionary Principle and International Law, The Challenge of Implementation, 1996, p. 3 a 
5. 
11 A parte da Declarção de várias conferências internacionais sobre o Mar do Norte. Veja as 
Recomendações da Comissão de Partes 89/1 e 89/2, de 22 de junho de 1989, e a Decisão 89/1, de 14 de 
junho de 1989, da Comissão de Oslo. Referências adicionais ao princípio da precaução foram inseridas na 
Declaração 15/27, de 25 de maio de 1989, do Conselho Administrativo do PNUMA. 
precaução se desenvolveu a partir do direito ambiental nacional,12 parece ser apropriado 
identificar seu significado e suas implicações no direito nacional quando o conteúdo do 
princípio precaução é interpretado a partir do direito internacional ambiental. Alguns dos 
críticos13 deste princípio, em particular aqueles que defendem que a implementação do 
princípio da precaução será prejudicial aos futuros desenvolvimentos econômicos e 
tecnológicos, poderão descobrir, a partir da avaliação da experiência nacional com a 
aplicação do princípio da precaução, que nenhum dos efeitos negativos esperadosocorreram de fato. 
O princípio da precaução possui várias características substantivas e 
procedimentais. Estas devem ser consideradas como mecanismos para implementar as 
primeiras. O princípio da precaução não requer medidas reguladoras particulares; seu 
interesse está em quando as medidas conservadoras devem ser tomadas. No entanto, ao se 
fazer assim, muda-se significativamente a abordagem para as atividades com um impacto 
potencialmente negativo sobre o ambiente. Em vez de esperar até que haja prova de um 
impacto negativo sobre o meio ambiente, deve-se agir antes que tal impacto se 
materialize.14 Isso requer uma reconsideração de como as decisões políticas relativas ao 
meio ambiente são tomadas em caso de incerteza científica. 
2. O Princípio da Precaução requer medidas preventivas em casos de incerteza 
científica. 
A segunda sentença do princípio 15 da Declaração do Rio tenta especificar um 
significado substantivo do princípio da precaução, embora combine aspectos substantivos 
e procedimentais, e evoque a abordagem precaucionária em vez do princípio da 
precaução. Do texto, é evidente que a implementação do princípio da precaução significa 
tomar medidas antes que os danos ambientais se materializem. Com respeito a isso, a 
introdução do princípio da precaução indica uma mudança substantiva da política no 
direito ambiental internacional, uma vez que este, até agora, concentrou-se na obrigação 
 
12 Veja, com referência a J. Cameron e J. Abouchar, “The Status of the Precautionary Principle in 
International Law” in D. Freestone e E. Hey, (eds). The Precautionary Principle and International Law, The 
Challenge of Implementation, 1996, p. 29-38 e ss. 
13 Veja, por exemplo, Frank B. Cross, “Paradoxal Perils of the Precautionary Principle”, Washington and 
Lee Law Review, 1996, n.53, p. 851 e ss. 
14 Freestone e Hey , op. cit., p. 13. 
que os Estados têm de não causarem danos ambientais significativos, ou propiciar a 
restauração se tais danos ocorrerem. 
Observe-se então, que o texto do Princípio 15 contém duas premissas: o dano tem 
de ser irreversível e as medidas a serem tomadas devem ser economicamente viáveis. 
Além disso, a obrigação de os Estados aplicarem a abordagem precaucionária é apenas 
“de acordo com suas capacidades”. Isso quer dizer que as obrigações dispostas são de 
uma natureza relativa, uma vez que elas dependem das capacidades econômicas e 
financeiras do Estado em questão. Essas qualificações não são necessariamente partes da 
definição do Princípio da Precaução contido em outros instrumentos internacionais.15 
Na medida em que a substância do princípio da precaução está em questão, o 
artigo 2, do parágrafo 2 (a) da Convenção para a Proteção do Ambiente Marítimo do 
Nordeste Atlântico é mais avançado. De acordo com ele: 
As partes contratantes aplicarão: 
(a) o princípio da precaução, em virtude de quais medidas 
preventivas devem ser tomadas quando há bases razoáveis para 
considerar que substâncias ou energias introduzidas, direta ou 
indiretamente, no ambiente marinho, possam trazer perigos à 
saúde humana, prejudicar os recursos vivos e ecossistemas 
marinhos, causar danos ou interferir em outros usos legítimos do 
mar, mesmo quando não haja prova conclusiva de relação causal 
entre os insumos e os efeitos 
Aqui, novamente, o texto normativo deixa muito claro que a implementação do 
princípio resultará em tomar medidas preventivas ou em levar a cabo atividades que 
possam ser consideradas perigosas. A redação desta medida indica que a tomada das 
medidas preventivas é obrigatória, enquanto o Princípio 15 fala somente que a 
abordagem precaucionária deve ser amplamente aplicada. Além disso, no artigo 2, 
parágrafo 2 da Convenção para Proteção do Ambiente Marinho do Nordeste Atlântico, as 
medidas preventivas devem ser tomadas se houver possibilidades de dano aos direitos ou 
interesses do homem, ou ao ambiente enquanto tal (ecossistema), resultado de um 
 
15 Entretanto Alexandre Kiss, “Os direitos e os interesses das futuras gerações e o princípio da precaução”, 
neste livro, considera que a formulação do Princípio 15 reflete o princípio da precaução na sua abordagem 
mais amplamente aceita. 
impacto ao ambiente marinho, considerando que de acordo com o Princípio 15, o dano 
tem que ser irreversível. 
O Artigo 2, parágrafo 5 (a) da Convenção sobre a Proteção e Uso de Cursos 
d’Água Transfronteiriços e Lagos Internacionais, 1992, fornece uma outra definição do 
princípio de precaução. De acordo com ele, as partes deverão ser guiadas, entre outras 
coisas, pelo princípio da precaução: 
(...) em virtude do qual, a ação de evitar o potencial impacto 
transfronteiriço resultante da liberação de substâncias perigosas não deve 
ser postergada sob a alegação de que a pesquisa científica não provou 
totalmente um nexo causal entre essas substâncias, de um lado, e o 
potencial impacto transfronteiriço, de outro (...) 
Todas as três definições mencionadas exigem que certas atividades sejam 
controladas, ou não sejam realizadas, ainda que não exista evidência científica nítida de 
que tais atividades resultariam em danos ao meio ambiente. Em relação a isso, o princípio 
da precaução assemelha-se ao princípio da prevenção, o qual é bem estabelecido no 
direito internacional ambiental. No entanto, os dois princípios diferem significativamente, 
e isso constitui a natureza inovadora do princípio da precaução.16 O princípio da 
precaução impõe uma obrigação para os Estados, para que estes previnam danos 
ambientais conhecidos ou cientificamente previsíveis fora de seus territórios.17 Esta 
obrigação está contida em um grande número de tratados. Em comparação a isso, o 
princípio da precaução reflete o reconhecimento de que as atividades humanas tendo um 
impacto sobre o ambiente, muitas vezes têm conseqüências negativas que não podem ser 
completamente previsíveis ou verificáveis antes da ação. Em sua aplicação, o princípio da 
precaução requer que uma ação não deva ser executada se ela coloca um risco 
desconhecido de dano. Procedimentalmente, o princípio da precaução impõe, sobre 
aqueles que desejam empreender uma ação, o ônus da prova de que ela não prejudicará o 
ambiente. 
 
16 Diferente de D.Freestone e Z. Makuch, “The New International Environmental Law of Fisheries: The 
1995 United Nations Straddling Stocks Agreement”, Yearbook of International Environmental Law, 1996, 
v. 7 p. 3-13. 
17 Por exemplo, artigo 194 da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar (UNCLOS). 
Também a Resolução da Assembléia Geral 44/225, de 22 de dezembro de 1989, 
sobre pesca de arrasto em larga escala em mar aberto, e seu impacto sobre os recursos 
marinhos vivos, pode ser considerada uma aplicação do princípio da precaução.18 A 
Resolução solicita a todos aqueles envolvidos na pesca de arrasto em larga escala em mar 
aberto a cooperarem para o aumento da coleta e compartilhamento de dados científicos 
estatisticamente relevantes. Ela recomenda medidas para eliminar a prática de atos sem 
fundamentos científicos. A Resolução reflete o princípio da precaução, uma vez que ela 
restringe uma atividade ainda que sem dados científicos concretos sobre o impacto 
ambiental da atividade em questão. Além disso, ela inverte o ônus da prova, com respeito 
ao impacto desta atividade sobre outras que procuram dar continuidade à pesca. 
Finalmente, ela requer a intensificação das atividades de pesquisa a serem empreendidas 
e a respectiva cooperação entre os Estados interessados. Este último aspecto representa 
uma conseqüência lógica que flui do princípio da precaução.Da mesma forma, a Convenção sobre Conservação e Gestão dos Recursos de 
Bering, 1994,19 é baseada no princípio da precaução. Esta Convenção determina que os 
Estados-parte se encontrarão anualmente para decidir níveis de pesca permissíveis e 
estabelecer quotas. No entanto, a pesca não será permitida, a menos que a biomassa de 
pesca na bacia das ilhas Aleutas seja determinada para exceder 1,67 milhões de 
toneladas.* Os Estados Unidos e a Federação Russa parecem ter concordado que, se este 
limite não for alcançado, eles também suspenderão a pesca em suas próprias zonas 
econômicas exclusivas.20 
A interpretação do princípio da precaução, como uma exigência de ação antes que 
a possibilidade de danos ambientais possa ser cientificamente estabelecida, levanta pelo 
menos duas questões, a saber, qual situação ou conjunto de fatos desencadeia o uso do 
princípio da precaução, e se a restrição de uma atividade, com base no princípio da 
precaução, garante que haverá posterior revisão de tal decisão. 
 
18 A. Tahindro. “Conservation and Management of Transboundary Fish Stocks; Comments in the Light of 
the Adoption of the 1995 Agreement for the Conservation and Management of Straddling Fish Stocks and 
Highly Migratory Fish Stocks”, ODILA, 1997, n. 28, p. 14; D. Freestone e Z. Makuch, op. cit., p. 17. 
19 Texto no Yearbook of International Environmental Law, 1994, 5, p. 821; para análise veja W.V. Dunlap, 
International Journal of Marine & Coastal Law, 1995, n. 10, p. 114; D. Freestone e Z. Makuch, op. cit., 
p.18. 
* O autor utiliza a expressão metric tons. [nota dos organizadores] 
20 D. Freestone e Z. Makuch, op. cit., p. 18 com as respectivas referências. 
Qualquer atividade humana significante pode ter impacto sobre o meio ambiente. 
Contudo, deve haver algum mecanismo desencadeador para restringir ou até mesmo 
proibir uma dada atividade com base no princípio da precaução, caso contrário ele 
sufocaria qualquer nova atividade. Sugeriu-se que o princípio da precaução deveria ser 
aplicado apenas quando houver alguma prova de que a atividade considerada ameace 
causar danos ao meio ambiente e se tal dano for irreversível. Outros sustentaram que 
quanto mais sério for o dano, é provável que mais cedo o princípio da precaução tenha 
que ser invocado. O princípio 15 segue a primeira abordagem, e a Declaração sobre o 
Mar do Norte segue a última, enquanto o artigo 2 da Convenção do Nordeste Atlântico 
aplica mais amplamente o princípio da precaução. No entanto, para as três interpretações 
mencionadas deve haver pelo menos uma descoberta prima facie que uma dada atividade 
possa resultar em dano considerável ao ambiente marinho. Apesar disso, ainda 
permanece alguma incerteza de quando o princípio da precaução deve ser aplicado, de 
forma que aquele que visa empreender uma determinada atividade tem que provar seu 
impacto, ao contrário da visão na qual aquele que almeja restringir ou proibir aquela 
atividade tem que provar que ela resultará em dano ambiental. 
Se uma atividade foi proibida ou restrita com base no princípio da precaução, a 
incerteza sob a qual esta decisão foi tomada deve ser reanalisada em intervalos regulares. 
As novas descobertas, assim como os novos desenvolvimentos, devem ser levados em 
consideração. 
O Acordo das Nações Unidas sobre a Conservação e Ordenamento de Populações 
de Peixes Tranzonais* e de Populações de Peixes Altamente Migratórios (artigo 6)21 
fornece um procedimento que responde às duas perguntas levantadas. O Artigo 6 desta 
Convenção exige que os Estados-parte apliquem a abordagem precaucionária para 
conservação, gestão e exploração das populações de peixe tranzonais e de peixes 
altamente migratórios, com o objetivo de preservar o ambiente marinho e proteger os 
recursos marinhos vivos. Assim como em outros instrumentos internacionais já 
mencionados, o Artigo 6 da Convenção enfatiza que a ausência de informação científica 
 
* Trata-se de cardumes de peixes que se deslocam entre as zonas de exploração exclusiva dos Estados e as 
águas internacionais [nota dos organizadores]. 
21 Uma avaliação das respectivas regras foi dada por Tahindro (nota 19), 1 (p. 12 e ss.); D. Freestone e Z. 
Makuch, op. cit., p. 26 et ss. 
adequada não deverá ser usada como razão para adiar ou deixar de tomar medidas de 
conservação e gerenciamento. Contudo, a Convenção não se satisfaz apenas com o 
estabelecimento deste princípio abstrato. O Artigo 6 da convenção exige que os Estados-
parte tomem medidas específicas para implementar a abordagem precaucionária. Os 
Estados estão obrigados a melhorar o processo decisório sobre a pesca, especialmente 
compartilhando as melhores informações científicas disponíveis e implementando 
técnicas para lidar com os riscos e incertezas. Além disso, os Estados-partes usarão os 
guias de boa conduta para aplicação dos pontos de referência*, estabelecidos dentro de 
uma visão precaucionária para os padrões de conservação e gestão destes cardumes de 
peixes tranzonais e altamente migratórios, assim como a determinação de pontos de 
referência de determinados cardumes. Essas diretrizes estão especificadas no Anexo II do 
Acordo e incluem uma descrição detalhada das ações preventivas e das modalidades de 
aplicação de vários pontos de referência dentro do contexto das estratégias 
precaucionárias de gestão de pesca. O Artigo 6, parágrafo 3 (d) da Convenção, em 
conjunto com os guias de boas condutas, exige o estabelecimento de pontos de referência 
sobre a conservação ou limitação e gestão ou escolha dos cardumes. Tais pontos de 
referência precaucionários são específicos para cada população de peixes. Exige-se que 
os Estados-parte tomem medidas para evitar ultrapassar os pontos de referência para 
determinados cardumes que são objeto da Convenção e monitorem regularmente as 
populações em estágio crítico, objeto ou não do Tratado, associadas ou dependentes das 
espécies de que a Convenção cuida, a fim de rever o status desses cardumes ou espécies, 
assim como a eficiência das medidas de conservação e gestão adotadas. Enquanto os 
pontos de referência sobre limites podem ser abordados, eles não devem ser excedidos. 
Se forem excedidos, os Estados devem tomar ação imediata, de acordo com as diretrizes. 
Os Estados-parte também são instruídos a adotar medidas de conservação e de gestão 
baseadas na abordagem precaucionária para atividades de pesca novas ou exploratórias 
até que haja dados científicos suficientes para avaliar o impacto da pesca na 
sustentabilidade a longo prazo dos estoques. Finalmente, onde um fenômeno natural ou 
atividade de pesca tem um impacto adverso significativo sobre o status do cardume 
 
* Um ponto de referência de precaução é um valor estimado, calculado por meio de um procedimento 
científico acordado, correspondente ao estado do recurso e da pesca e que pode ser usado como guia para o 
ordenamento da pesca. [nota dos organizadores]. 
relacionado, solicita-se aos Estados-parte a adoção de medidas de conservação e gestão 
temporárias, em base emergencial, com o objetivo de assegurar que as atividades 
pesqueiras não intensifiquem tal efeito adverso. Tais medidas devem baseadas na melhor 
evidência disponível. 
3. O Princípio da Precaução e a Obrigação de Usar a Melhor Tecnologia 
Disponível 
Como pode ser notado a partir da aplicação do princípio da precaução no direito 
nacional, exige-se o uso da melhor tecnologia disponível e das melhores práticas 
disponíveis. Assim, o princípio da precaução constitui um incentivo para o 
desenvolvimento tecnológico. Por exemplo, sob o Princípio da Precaução há a obrigaçãode melhorar a tecnologia da pesca, para reduzir desperdícios ou reduzir as substâncias 
prejudiciais ao meio ambiente marinho durante a rota usual de um navio. Embora os 
acordos internacionais exijam que os Estados usem a melhor tecnologia disponível, a 
conexão com o princípio da precaução não está sempre evidente. Este conceito tem sido 
utilizado nos tratados sobre a poluição marítima e no regime de poluição aérea 
transfronteiriça.22 
Exemplos pertinentes de aplicação do princípio da precaução, para o primeiro 
caso, que destaca a obrigação de usar a melhor tecnologia disponível, são a Convenção 
sobre a Proteção do Meio Ambiente Marinho da Área do Mar Báltico, de 1992,23 e a 
Convenção para a Proteção do Ambiente Marinho do Nordeste Atlântico, do mesmo 
ano.24 De acordo com o Apêndice 1 deste último, o conceito é definido como: “o último 
estágio do desenvolvimento (estado da arte) de processos, de recursos ou de métodos de 
operação que indicam adequação de uma medida particular para limitar depósitos, 
emissões e lixo. Ao determinar se um conjunto de processos, recursos e métodos de 
operação constituem a melhor tecnologia disponível em casos gerais ou individuais, será 
dada consideração especial para: 
 
22 Artigo 6 da Convenção sobre Poluição Atmosférica de Longo Alcance, 1979; Artigo 2 parágrafo 2, 
parágrafo 3 do Protocolo de Nox, 1988: artigo 2, parágrafo 3 do Protocolo de VOC, 1991 e, ainda que de 
certa forma em redação diferente, no artigo 2, parágrafo 4 do Protocolo do Ácido Sulfúrico, 1994. Estes 
não contêm a definição da noção de melhor tecnologia disponível, mas se referem aos anexos dispondo 
diretrizes para concretização da noção. 
23 Nota 3. 
24 Nota 4. 
a) processos comparáveis, recursos ou métodos de operação que foram recentemente 
bem sucedidos; 
b) avanços tecnológicos e mudanças no conhecimento e entendimento científico; 
c) a viabilidade econômica de tais técnicas; 
d) limites de tempo para instalação tanto de fábricas novas como daquelas 
existentes; 
e) a natureza e volume das descargas e emissões em questão” (tradução não oficial). 
 
A noção da melhor tecnologia disponível possui diferentes facetas. Ela limita a 
margem de liberdade dos Estados-parte, com respeito à implementação das suas 
obrigações, sem aboli-las. Particularmente, a referência da viabilidade econômica contida 
na Convenção do Nordeste Atlântico, de 1992, e a Convenção sobre Proteção do 
Ambiente Marinho do Mar Báltico, de 1992, permite que os Estados-parte equilibrem 
suas obrigações ambientais com as prerrogativas econômicas. Se a comunidade de 
Estados desejar melhorar a tecnologia utilizada, existe a possibilidade de transferir 
tecnologias apropriadas de conservação ou prevenção a Estados que não teriam acesso a 
elas por questões econômicas. 
A noção da melhor tecnologia disponível requer também que se tomem ações para a 
proteção ambiental, com o uso dinâmico da tecnologia protetora moderna. No entanto, o 
padrão de proteção é indicado pelo desenvolvimento técnico, ao invés das necessidades 
ambientais, que podem ser melhor atingidos pela da proibição de certas atividades cujos 
efeitos negativos, do ponto de vista do meio ambiente, não podem ser tecnicamente 
mitigados.25 
Da mesma forma, compreendido no âmbito da obrigação do uso da melhor prática ou 
tecnologia disponível, é a obrigação dos Estados de substituirem atividades ou 
substâncias prejudiciais por atividades ou substâncias menos poluentes.26 De acordo com 
 
25 Um Crítico a esse respeito é Jonas Ebbesson, “Compatibility of International and National, 
Environmental Law, 1996”, p. 126. 
26 Agenda 21, seção 19.44. 
a Agenda 21, este conceito constitui um dos vários elementos de boa prática ambiental, 
um conceito mencionado em vários tratados internacionais.27 
Ocasionalmente, a tarefa de definir qual é a melhor prática ou tecnologia a ser 
utilizada não é deixada para cada Estado individualmente, mas para os Estados-parte de 
um determinado acordo ambiental internacional, instituições particulares estabelecidas 
sobre um determinado acordo internacional ambiental ou um grupo de especialistas. 
Nesses casos, o conceito de melhor tecnologia e práticas disponíveis tem a intenção de 
fornecer adaptações flexíveis de obrigações internacionais ambientais aos novos 
desenvolvimentos, tecnologias ou padrões. Isso serve para tornar os respectivos regimes 
mais efetivos. A Convenção para a Proteção do Nordeste Atlântico é um exemplo desta 
abordagem, na medida em que se prevêem emendas para os anexos técnicos. 
4. O Princípio da Precaução e o Princípio do Desenvolvimento Sustentável 
Há uma ligação nítida entre o princípio da precaução e o princípio de que 
qualquer desenvolvimento que tem um impacto sobre o meio ambiente deve ser 
sustentável.28 A noção de desenvolvimento sustentável exige a perseguição de padrões de 
crescimento que assegurem as necessidades da geração atual e não comprometam a 
habilidade das gerações futuras em assegurar suas necessidades.29 O princípio da 
precaução reflete a tendência crescente no direito internacional ambiental, 
particularmente no tocante ao direito ambiental marítimo, de que o meio ambiente é 
melhor protegido por meio da prevenção do que pela obrigatoriedade de recuperação ou 
por meio medidas paliativas. Prevenir o dano ambiental ou a degradação, em si mesmo, é 
um elemento decisivo em qualquer regime construído sobre o princípio do 
desenvolvimento sustentável, uma vez que a sustentabilidade pressupõe o afastamento de 
danos irreversíveis ou degradação. 
Contudo, o princípio da precaução também desempenha um papel na definição de 
quando um desenvolvimento é sustentável. Esta visão pode ser encontrada no Projeto das 
Diretrizes para a Sustentabilidade Ecológica de Usos para Consumo e Não Consumo de 
 
27 Convenção sobre o Nordeste Atlântico de 1992, Apêndice 1; Convenção sobre a Proteção do Ambiente 
Marinho da Área do Mar Báltico, de 1992, Anexo II, regulação 2. 
28 Veja em particular Kiss, (neste livro), p. 27 e ss., e também sobre o princípio de desenvolvimento 
sustentável. 
29 D. Dzidzornou, “Four Principles in Marine Environment Protection: A Comparative Analysis”, ODILA 
29 (1991), p. 91-95; M. Young, “Inter-generational equity, the precautionary principle and ecologically 
sustainable development”, Nature and Resources, 1995, n. 31, p. 16 e ss. 
Espécies Selvagens, um projeto proposto durante a Assembléia Geral de 1994 da União 
Internacional para Conservação da Natureza em Buenos Aires. De acordo com essas 
diretrizes preliminares, é provável que o uso de espécies selvagens seja sustentável se 
certas pré-condições forem respeitadas ou certos procedimentos forem adotados, como o 
princípio da precaução. Ao aplicar o princípio da precaução sobre o conceito de uso 
sustentável, estas Diretrizes preliminares determinam que “o princípio da precaução 
requer a abordagem de questões de sustentabilidade do uso com o compromisso de agir 
de forma que prejudique o menos possível a viabilidade das espécies ou a integridade do 
ecossistema afetado.” Isso pode resultar em decisões de não usar as espécies ou o 
ecossistema. A este propósito, o princípio da precaução é especialmente importante 
quando se estimam os níveis de uso sustentáveis. A utilização dos pontos de referência 
para a gestão sustentável como estabelecidos na Convenção sobre Conservação e 
Ordenamento de Populações de Peixes Tranzonais e de Populações de Peixes Altamente 
Migratórios representa uma forma de implementação desta abordagem. 
5. Conclusão 
 
O princípio da precaução, ou abordagem da

Outros materiais