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Universidade Federal do Rio Grande do Norte PEDRO RAFAEL LIMA VIEIRA INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS OPERACIONAIS SOBRE A EFICIÊNCIA DO CICLO BRAYTON EM TURBINAS A GÁS ESTACIONÁRIAS NATAL 2016 PEDRO RAFAEL LIMA VIEIRA INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS OPERACIONAIS SOBRE A EFICIÊNCIA DO CICLO BRAYTON EM TURBINAS A GÁS ESTACIONÁRIAS Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, realizado sob a orientação do prof. Gilson Gomes de Medeiros. NATAL 2016 Dedico este trabalho à minha família, que sempre esteve presente em todas as etapas da minha vida, e a todo o corpo docente do curso de Engenharia Química, em especial ao professor Gilson Gomes de Medeiros. AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família, que sempre esteve presente e dando apoio em todas as decisões da minha vida; Ao corpo docente do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelos anos de comprometimento em repassar seu conhecimento com qualidade e dedicação; Ao professor Gilson Gomes de Medeiros, pelo seu tempo empregado em me orientar em cada etapa dessa pesquisa. Há uma forca motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atômica: a vontade. Albert Einstein RESUMO Entre os anos de 2001 e 2002, o Brasil sofreu sua maior crise energética, devido à falta de planejamento de seus recursos hídricos, que culminou nos apagões. Esse choque levou o país a buscar novas fontes de energia. Entre elas se destaca a termoelétrica que atualmente responde por 30,3% da oferta de energia no Brasil, segundo o boletim mensal de monitoramento do sistema elétrico brasileiro. O processo de produção de energia através das termelétricas tem duas vertentes principais (mas não únicas): os sistemas de potência com turbina a vapor e com turbina a gás. Há ainda a possibilidade de se ter um ciclo combinado desses dois sistemas. Para o sistema com turbina a gás, objeto deste trabalho, a análise termodinâmica se fundamenta na proposta de um ciclo conhecido como ciclo Brayton, que possui a configuração padrão e diversas variantes que buscam uma melhor eficiência térmica. Aqui, foram estudados os efeitos das variáveis operacionais para o ciclo Brayton básico, regenerativo não ideal, com reaquecimento entre duas turbinas em série, com dupla compressão e inter- resfriamento, com o intuito de investigar a influência desses parâmetros para se trabalhar com cada configuração de maneira a se atingir a maior eficiência. Dentre os ciclos estudados, o ciclo Brayton básico se mostrou o mais peculiar quanto à falta de sensibilidade ao se modificar a variável de temperatura da corrente de entrada no ciclo e da corrente de entrada na turbina, mantendo sempre a mesma eficiência, de aproximadamente 44,8%, quando esses parâmetros foram alterados. O ciclo Brayton básico também foi o único a apresentar um decréscimo na eficiência com o aumento da pressão na corrente de entrada. Já o ciclo Brayton com duas turbinas em série foi o único beneficiado com o aumento da temperatura da corrente de entrada do processo. Com os dados obtidos nesse trabalho, foi possível fazer um ranking geral dos ciclos a partir do que apresentaram em termos de eficiência. Palavras Chave: Ciclo Brayton; Eficiência; Energia. ABASTRACT Between the years of 2001 to 2002, Brazil has suffered its greatest energetic crisis due the lack of planning with its hydraulic resources, which lead to the blackouts. The jolt made the country pursuit new kinds of energy sources. Among them stands out the thermoelectric energy, which currently represents 30.3 % of the power supply in Brazil offer, according to the Brazilian monthly bulletin of electrical system monitoring. The process of producing energy through thermoelectric power plants has two main strands (but not only): The power system with the steam turbine and gas turbine. There is also the possibility of having a combined cycle of those two systems. For the system with gas turbine, which is the object of study of this research, the thermodynamics analysis are based on the proposal of a cycle known as Brayton cycle, which has its standard configuration and many other variations that seeks a better thermal efficiency. The effects of operational variables were studied for basic Brayton cycle, non-ideal Brayton regenerative cycle, Brayton cycle with reheating between two turbines in series, Brayton cycle with double compression and inter-cooling and regenerative Brayton cycle with reheating and inter-cooling; in order to investigate the influence of those parameters to work with each of those configurations so that the best efficiency can be achieved. Among the cycles studied, the basic Brayton cycle has shown to be the most peculiar regarding the lack of sensibility when the variables of temperature were changed for the stream entering the process and the stream entering the turbine, maintaining the same efficiency, approximately 44,8%, when modified. The basic Brayton cycle has also been the only to show an efficiency decrease when the pressure were increased in the stream entering the cycle. On the other hand, the Brayton cycle with reheating between two turbines in series was the only one improved when raising the temperature of the stream entering the process. With the data obtained in this research, it was possible to make a rank of the cycles with the best efficiency. Key words: Brayton cycle; efficiency; energy SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 1 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................................................. 3 2.1. Turbina de combustão interna ou turbina a gás ......................................................................................... 3 2.2. Ciclos de Potência e o Ciclo Brayton ............................................................................................................ 4 3. METODOLOGIA ..................................................................................................................................................... 6 3.1. Ciclo Brayton básico .................................................................................................................................... 6 3.1.1. Equações ................................................................................................................................................. 8 3.2. Ciclo Brayton regenerativo .......................................................................................................................... 8 3.2.1. Equações ............................................................................................................................................... 103.3. Ciclo Brayton com dois compressores em série e inter-resfriamento ...................................................... 11 3.3.1. Equações ............................................................................................................................................... 12 3.4. Ciclo Brayton com duas turbinas em série ................................................................................................ 12 3.4.1. Equações ............................................................................................................................................... 13 3.5. Ciclo Brayton regenerativo com reaquecimento e inter-resfriamento ..................................................... 13 3.5.1. Equações ............................................................................................................................................... 15 3.6. Eficiência global ......................................................................................................................................... 15 4. Resultados ........................................................................................................................................................... 16 4.1. Ciclo Brayton básico .................................................................................................................................. 16 4.1.1. Variação do Ta ....................................................................................................................................... 16 4.1.2. Variação do Tc ........................................................................................................................................ 16 4.1.3. Variação do Pb e do Pc............................................................................................................................ 17 4.1.4. Variacoes de Pa e Pd ............................................................................................................................... 18 4.2. Ciclo Brayton regenerativo ideal ............................................................................................................... 18 4.2.1. Variação do Ta ....................................................................................................................................... 18 4.2.2. Variação de Tc ........................................................................................................................................ 19 4.2.3. Variação de Pb e Pc ................................................................................................................................ 19 4.2.4. Variação de Pa e Pd ................................................................................................................................ 20 4.3. Ciclo Brayton com dois compressores ....................................................................................................... 20 4.3.1. Variação do Ta ....................................................................................................................................... 20 4.3.2. Variação do Tc ........................................................................................................................................ 21 4.3.3. Variação de Pb e Pc ................................................................................................................................ 21 4.3.4. Variação de Pa e Pd ................................................................................................................................ 22 4.4. Ciclo Brayton com duas turbinas em série ................................................................................................ 22 4.4.1. Variação do Ta ....................................................................................................................................... 22 4.4.2. Variação do Tc ........................................................................................................................................ 23 4.4.3. Variação de Pb e Pc ................................................................................................................................ 23 4.4.4. Variação de Pa e Pd ................................................................................................................................ 24 4.5. Ciclo Brayton regenerativo com reaquecimento e inter-resfriamento ..................................................... 24 4.5.1. Variação do Ta ....................................................................................................................................... 24 4.5.2. Variação do Tf ........................................................................................................................................ 25 4.5.3. Variação de Pa, Pi e Pj ............................................................................................................................ 25 4.5.4. Variação de Pb e Pc ................................................................................................................................ 25 4.5.5. Variação de Pd, Pe e Pf ........................................................................................................................... 26 5. Discussão ............................................................................................................................................................. 27 6. CONCLUSÃO ........................................................................................................................................................ 31 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................................... 32 1 1. INTRODUÇÃO No Brasil, o consumo de energia elétrica segue uma tendência de crescimento quase que contínuo. No entanto, o crescimento na geração, transferência e distribuição desta energia não consegue acompanhar o ritmo da demanda energética de igual para igual (Bardelin, 2004). Tal incapacidade de suprir essa demanda culminou na ocorrência dos apagões e no racionamento energético imposto pelo governo para suprimir o déficit entre a geração e o consumo de energia, entre junho de 2001 a fevereiro de 2002. Grande parte do problema se deu pela forte participação das usinas hidroelétricas na matriz energética do país, o que é muito arriscado, uma vez que elas dependem diretamente dos índices pluviométricos. A geração de energia elétrica no Brasil quase que unicamente a partir dos recursos hidráulicos já vinha sendo insuficiente para atender às necessidades do sistema produtivo e ao crescente desenvolvimento industrial. Fazia-se urgente que o país implementasse uma diversificação na sua matriz energética, com o intuito de diminuir cada vez mais sua dependência numa única fonte de energia elétrica. Após ser abalado pelos acontecimentos, o país foi forçado a procurar outras saídas para superar o déficit energético. A saída, a longo prazo, foi a diversificação do setor de geração elétrica, em especial com as usinas térmicas, para absorver essa demanda em horários de pico ou quando as os mananciais apresentarem níveis muito baixos. Entre as possíveis plantas de geração termoelétrica a serem implantadas, principalmente os sistemas de potência com turbina a vapor, com motor alternativo e com turbina a gás, houve uma opção decisiva por este último, sempre que possível com a alternativa de construção de um ciclo combinado de turbinas a gás e a vapor, em uma proposta de cogeração. A escolha das turbinas a gás foi influenciada, entre outras razões, pela necessidade de se construir plantasde geração próximas a grandes centros populacionais (MORISHITA, 2015), e pela disponibilidade desse recurso (o gás natural combustível), que até aquela era subutilizado, não obstante oferecer vantagens econômicas e ambientais, já que emite baixos índices de poluentes. 2 Apesar de as termoelétricas oferecerem uma opção viável para a diversificação da matriz energética, elas encarecem o preço da energia, pois, diferentemente das hidroelétricas, necessitam da queima de algum combustível fóssil, que está atrelado ao preço do dólar. Esse estudo foi diretamente influenciado pelo atual preço de produção da energia em termoelétricas. Uma das maneiras de baratear custos é aumentar a eficiência no processo de produção dessa energia. Sendo assim, foi estudada a influência particular de alguns parâmetros, como temperaturas e pressões em diferentes etapas do processo produtivo de energia elétrica por sistemas com turbinas a gás (sem cogeração) baseados em variações do ciclo Brayton (ciclo teórico de avaliação termodinâmica do funcionamento de uma turbina a gás), O ciclo Brayton teórico mantém o fluido em uma única fase durante todo o processo (MORISHITA, 2015), além de oferecer outras vantagens como a alta confiabilidade, versatilidade quanto aos combustíveis que podem ser utilizados e apresentar rendimento maior que motores que operam a ciclo Diesel e ciclo Otto (BATISTA, 2011). Neste trabalho, o objetivo foi identificar os melhores valores a serem usados na configuração do processo de maneira a alcançar a melhor eficiência global. 3 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Turbina de combustão interna ou turbina a gás Uma turbina a gás, mostrada simplificadamente na Figura 1, é uma máquina de combustão interna, formada basicamente por um compressor de ar, câmara(s) de combustão e a turbina propriamente dita. Figura 1 - Turbina a gás aeroderivada. Fonte: The American Heritage Dictionary of the English Language (2013). O ar atmosférico é aspirado do meio ambiente e comprimido pelo compressor, sendo depois injetado nas câmaras de combustão, onde é misturado ao combustível (muito comumente, e até preferencialmente, gás natural). Esta mistura é queimada, formando os gases de combustão (principalmente gás carbônico e vapor de água) com alta energia para impulsionar a turbina, e depois os gases são liberados para a atmosfera (Gomes, 2010). Na combustão, a energia química do combustível fóssil é transformada em energia térmica, que, a seguir, se transforma em energia mecânica de rotação no eixo da turbina, que comumente é também o eixo do compressor. Assim, o equipamento possui um torque de saída capaz de produzir trabalho, seja para acionamento de geradores para produção de energia elétrica ou para acionar outros equipamentos secundários. Nem toda energia produzida no conjunto é entregue externamente. Uma parcela considerável é utilizada para acionar o próprio compressor de ar. De todo o trabalho desenvolvido pela turbina, cerca de dois terços são utilizados para acionar o 4 compressor e perdidos pela exaustão sob a forma de calor, e apenas um terço é aproveitado para a conversão de energia mecânica em energia elétrica. As turbinas a gás são projetadas com diferentes designs e dimensões bastante variáveis, em função da finalidade a que se destina, por exemplo, para propulsão (chamadas de turbinas aeroderivadas, como a mostrada na Figura 1) ou para geração de potência (também conhecidas como estacionárias), que tem mais frequentemente a aparência do equipamento mostra na Figura 2, abaixo. Figura 2 - Turbina a gás estacionária. Fonte: López, J., s/d 2.2. Ciclos de Potência e o Ciclo Brayton Máquinas térmicas são processos em que a energia térmica venha a ser transformada em energia mecânica. Esse conceito engloba vários ciclos produtores de energia, ou ciclos de potência, entre os quais temos: ciclo de Carnot, ciclo Rankine, ciclo Otto, ciclo Diesel e ciclo Brayton. O objeto de estudo nesta pesquisa foi o ciclo Brayton, que, como já foi dito, aplica-se à análise termodinâmica do processo realizado pela turbina de combustão interna a gás. Essa análise se fundamenta em um ciclo teórico, denominado ciclo padrão a ar, cujo comportamento não se afasta significativamente do ciclo real e, por outro lado, simplifica os cálculos. Algumas considerações importantes são feitas na concepção do ciclo padrão: 5 1. Como fluido operante no ciclo, têm-se uma massa fixa de ar, ou seja, a vazão mássica de fluido é constante desde a entrada até a saída do ciclo. 2. O ar é considerado como gás perfeito (ideal), com calor específico constante – usando-se, nos cálculos, CP = 1,0 kJ/(kg.K), conforme é indicado na literatura (e.g.: ALMEIDA, 2004). 3. A reação de queima entre o combustível (gás natural) e o ar, gerando produtos como gás carbônico e vapor de água, é substituída pela absorção de calor pelo ar, a partir de uma fonte externa. 4. A compressão e a expansão são consideradas como processos isentrópicos, atribuindo-se, para o ar, o coeficiente isentrópico (relação entre os calores específicos a pressão constante e a volume constante) igual a 1,4 (VAN NESS et al., 2007). A principal simplificação se dá pela consideração de ar como único fluido de trabalho, evitando-se a complexidade de se trabalhar com mudanças de composição durante o processo. Com essas hipóteses, a análise do processo tem caráter qualitativo (o valor calculado para a eficiência termodinâmica do ciclo é diferente do valor real), mas esse critério possibilita investigar corretamente a influência das diversas variáveis sobre a eficiência do ciclo. No item 3, serão apresentadas as etapas do ciclo Brayton básico e de suas configurações alternativas. A partir desse ciclo básico, mudanças podem ser feitas para aperfeiçoar o processo visando o aumento de eficiência. A partir dele, para se melhorar qualitativamente o processo, podem-se adicionar mais turbinas ou compressores em série, com reaquecedores entre as turbinas ou inter-resfriadores entre os compressores, como também pode se introduzir um regenerador para recuperar parte da energia térmica que é liberada junto com os gases de exaustão. Além disso, há que se destacar que os sistemas que promovem a cogeração de energia elétrica a partir dos ciclos Brayton e Rankine combinados também são muito importantes para aumentar a eficiência da produção de energia elétrica ou mecânica a partir da queima de um combustível. Os ciclos combinados recuperam o calor dos gases de exaustão da turbina a gás para fazer funcionar uma geração com turbina a vapor. Contudo, a sua análise extrapola o escopo do que se propõe estudar no presente trabalho. 6 3. METODOLOGIA Para cada uma das configurações do ciclo Brayton (o básico e suas modificações), foram variados os parâmetros de temperatura e pressão em diferentes etapas do processo. Cada parâmetro foi variado em três valores, um menor e um maior que o valor de início (considerado um valor aproximadamente típico da operação das turbinas reais), para avaliar a tendência do rendimento do ciclo a partir dessas variações. Ao ser variado um parâmetro, todos os demais foram mantidos constantes para se avaliar o efeito individual da mudança em estudo sobre a eficiência global do processo. Para os cálculos, foram tomadas, na vasta bibliografia disponível sobre o assunto, as equações necessárias para todas as configurações, as quais foram introduzidas no software Microsoft Excel. A compressão e expansão foram consideradas isentrópicas em todos os casos em estudo. A seguir, são descritosos processos em cada configuração e mostradas as equações que foram utilizadas para os diversos cálculos que possibilitaram estimar a eficiência global, no presente trabalho. 3.1. Ciclo Brayton básico As etapas do ciclo Brayton mais simples, ou básico, correspondem ao processo já descrito no item 2.1 para a operação da turbina a gás, e que podem ser acompanhadas por meio do esquema e do diagrama PV mostrados na Figura 3. O primeiro estágio do processo (ab) é a compressão isentrópica de ar que, uma vez pressurizado, segue para o(s) combustor(es), onde ocorre a queima, aqui considerada como uma absorção isobárica do calor (Qent), correspondente à quantidade de calor produzida pela combustão no processo real (estágio bc). Na turbina (estágio cd), os gases produzidos na queima passam por uma expansão isentrópica, fazendo girar a turbina e produzindo trabalho mecânico. Por fim, ocorre o resfriamento isobárico do ar (da), correspondente à expulsão do exausto quente e à captação de novas porções de ar à temperatura ambiente. 7 Figura 3 - Ciclo Brayton e respectivo diagrama PV. No diagrama da esquerda, C: compressor; CC: câmara de combustão ou combustor; T: turbina. Fonte: Elaborado pelo autor. Para realizar as estimativas pretendidas, consideramos, para todos os ciclos, valores médios típicos do processo da turbina a gás como ponto de partida. Assim, para o ar entrando no compressor, foi considerada a pressão atmosférica (1 atm), como é a situação usual, uma vez que ele é captado do meio ambiente, e a temperatura de 300 K, também um valor médio razoável, tendo em vista as condições climáticas brasileiras. A temperatura de início da expansão (ponto c), que é o de maior temperatura e de maior pressão no ciclo, é, em geral, fixada por considerações metalúrgicas, relativas à resistência térmica do material de que é construída a turbina, principalmente as suas palhetas (VAN WYLEN et al., 2007). Por outro lado, sabe-se que, quanto mais elevada for a temperatura dos gases de combustão na saída do combustor, maior a energia útil e a eficiência do processo (SMITH et al., 2007). A evolução da tecnologia dos materiais tem permitido a elevação dessa temperatura máxima admissível, que não chegava a 1000 ºC no início dos anos 70 mas já atingia 1260 ºC vinte anos depois (BATHIE, 1996). Por essas razões, adotou-se, neste trabalho, o valor médio de 1300 K para a temperatura no ponto c. O valor de início para Ta foi, então, de 300 K, variando positivamente e negativamente em 10 K; para Tc, o valor de início foi 1300 K, variando em 100 K positiva e negativamente. Já as pressões tiveram os seguintes valores de início: Pa = Pd = 1 atm; e Pb = Pc = 8 atm, sendo esses valores de pressões correspondentes aos valores intermediários de turbinas reais, como as turbinas em operação na Bacia de Campos (Braga, 2013) . As variações de Pa e Pd foram de apenas 0,1 atm para mais 8 ou para menos, dadas as pequenas variações da pressão atmosférica. Já para a pressão máxima do ciclo (nos ponto b e c), foram aplicadas variações de º4 atm, simulando compressões de menor e de maior intensidade. 3.1.1. Equações As equações usadas nesta e nas demais configurações são quase todas disponíveis na vasta literatura sobre turbinas a gás, como, por exemplo, SMITH et al., (2007) e VAN WYLEN et al. (2007). Quando necessário, deduções simples foram realizadas a partir dos tratamentos matemáticos (somente algébricos) já conhecidos. Nos cálculos relacionados aos processos de compressão (ab) e expansão (cd), foi usado o coeficiente isentrópico Para todas as configurações, a eficiência global foi calculada pela mesma equação, mostrada no item 3.6. Para todas as equações a seguir, é dado pela relação entre o calor específico a pressao constante e o calor especifico a volume constante (Cp/Cv). a) Temperatura da corrente que sai do compressor (Tb): 𝑇𝑏 = 𝑇𝑎 ( 𝑃𝑏 𝑃𝑎 ) ( −1) (Eq.1) b) Temperatura da corrente que sai da turbina (Td): 𝑇𝑑 = 𝑇𝑐 ( 𝑃𝑑 𝑃𝑐 ) (𝛾−1) 𝛾 (Eq.2) c) Trabalho do compressor (Wcomp): 𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝 = −𝐶𝑝 (𝑇𝑏 − 𝑇𝑎) (Eq.3) d) Trabalho da turbina (Wexp): 𝑊𝑒𝑥𝑝 = −𝐶𝑝 (𝑇𝑑 − 𝑇𝑐) (Eq.4) e) Calor que entra no processo (Qent): 𝑄𝑒𝑛𝑡 = 𝐶𝑝 (𝑇𝑐 − 𝑇𝑏) (Eq.5) f) Calor que deixa o processo (Qsai): 𝑄𝑠𝑎𝑖 = 𝐶𝑝 (𝑇𝑎 − 𝑇𝑑) (Eq.6) 3.2. Ciclo Brayton regenerativo A eficiência global do ciclo Brayton básico é, em geral, baixa, dado que os gases de exaustão são liberados para o meio ambiente com elevada entalpia. Para aumentar essa eficiência, pode-se aproveitar esta energia, pois a temperatura da descarga da turbina é sempre superior à temperatura de descarga do compressor e, com a 9 introdução de um regenerador, que nada mais é do que um trocador de calor em contracorrente, o calor pode ser transferido de uma corrente para outra, conforme mostra a Figura 4. A essa configuração, dá-se o nome de ciclo Brayton regenerativo. Figura 4- Ciclo Brayton regenerativo. Fonte: Elaborado pelo autor. No ciclo regenerativo, a corrente de entrada (ponto a) passa pelo compressor, de onde o ar sai pressurizado (ponto b) e irá ganhar calor ao passar pelo regenerador, calor este transferido pela corrente de exaustão que deixa a turbina (no ponto d). A análise termodinâmica de um ciclo regenerativo compreende duas possibilidades, uma com o emprego de um regenerador ideal, de tal forma que, ao atingir a entrada do combustor (ponto x), o ar estará à mesma temperatura que a corrente que vem da turbina (Tx = Td); e outra, com um regenerador não ideal, que possibilitará a troca de calor entre as correntes, porém com perdas para o ambiente, de forma que Tx seja maior do que Tb, porém menor que Td. Neste ponto, será analisada apenas a segunda opção, visto que é mais compatível com os ciclos reais. Porém. Para o ciclo regenerativo com inter-resfriamento e reaquecimento (que será descrito mais adiante), escolhemos um regenerador ideal para simplificar um pouco os cálculos. Em seguida, o fluxo de ar irá passar pelo combustor (onde, no ciclo real, mistura- se com o gás natural e aí ocorre a queima), saindo com a temperatura bastante 10 elevada (ponto c, mais uma vez o de maior temperatura do ciclo) e passando na turbina, onde sefre expansão e transfere energia para o eixo, fazendo-o girar. A descarga da turbina (ponto d) é a corrente residual que ainda estará a uma temperatura alta e, como explicado acima, passará pelo regenerador no sentido inverso e sairá com sua temperatura reduzida (Ty < Td). Como a temperatura na entrada do combustor é aumentada pelo uso do regenerador, o aumento de temperatura no processo passa a ser T = Tc – Tx, que é menor que Tc – Tb. Ou seja, a quantidade de calor gerada na queima poderá ser menor (o consumo de combustível será reduzido), causando um impacto positivio sobre a eficiência global. Os valores das temperaturas e pressões nos diversos pontos do ciclo regenerativo (a, b, c e d) foram os mesmos do ciclo Brayton básico, assim como as variações implementadas para esses parâmetros. Para o ciclo regenerativo ideal, ter- se-ia Tx=Td e Tb=Ty. Na verdade, como o regenerador nunca é ideal, parte da energia térmica dos gases de exaustão é transferida para a vizinhança, fazendo com que Tx seja menor que Td. A eficiência do regenerador, aqui fixada como 85% uma vez que este valor se aproxima de uma condição típica, pode ser calculada pela equação a seguir, desde que CP seja considerado constante, hipótese utilizada no presente trabalho. 𝑟𝑒𝑔 = 𝑇𝑥− 𝑇𝑏 𝑇𝑑− 𝑇𝑏 (Eq.7)3.2.1. Equações Para a configuração do Ciclo Brayton regenerativo (não ideal), as equações que calculam as temperaturas Tb e Td, bem como os trabalhos do compressor e da turbina, são idênticas às do ciclo básico. Por outro lado, as equações para a determinação das temperaturas Tx e Ty, bem como para as quantidades de calor absorvida no combustor (Qentra) e liberada para o ambiente (Qsai) devem ser determinadas pelas equações abaixo, em virtude do emprego do regenerador. Quando considerada a idealidade do regenerador, Tx e Ty terão o mesmo valor de Td e Tb, respectivamente. a) Temperatura na entrada do combustor (Tx): 𝑇𝑥 = [𝑟𝑒𝑔(𝑇𝑑 − 𝑇𝑏)] + 𝑇𝑏 (Eq.8) b) Temperatura dos gases liberados para o meio ambiente (Ty): 11 𝑇𝑌 = 𝑇𝑑 − [𝑟𝑒𝑔(𝑇𝑏 − 𝑇𝑑)] (Eq.9) c) Calor que entra no processo (Qent): 𝑄𝑒𝑛𝑡 = 𝐶𝑝(𝑇𝑐 − 𝑇𝑥) (Eq.10) d) Calor que deixa o processo (Qsai): 𝑄𝑠𝑎𝑖 = 𝐶𝑝(𝑇𝑎 − 𝑇𝑦) (Eq.11) 3.3. Ciclo Brayton com dois compressores em série e inter-resfriamento O ciclo Brayton pode ser configurado com dois compressores em série, tendo um refrigerador (intercooler) intermediário, seguidos do combustor intercalado entre o segundo compressor e a turbina (Figura 5). Figura 5- Ciclo Brayton com dois compressores em série. Fonte: Elaborado pelo autor. A corrente de entrada (ponto a) sofre uma primeira compressão e, ao ser descarregado (ponto 1a), passa por um refrigerador que o resfria de volta à temperatura inicial (T1b = Ta). Em seguida, a corrente de ar irá passar pelo segundo compressor e entrará no combustor (ponto b), de onde sai com altas temperatura e pressão (ponto c) e vai ser expandido na turbina e ser liberado para o ambiente (ponto d). Os valores das temperaturas e pressões nos pontos a, b, c e d do ciclo com dois compressores foram os mesmos do ciclo Brayton simples, assim como as variações implementadas para esses parâmetros. Sendo a compressão dividida em duas etapas, foi fixado um valor intermediário, igual a 4,5 ( 1,5) atm, para P1a e P1b e, como dito 12 acima, considerou-se que o refrigerador reduziu a temperatura da corrente para o valor de entrada (T1b = Ta). 3.3.1. Equações Algumas das equações referentes a esta configuração do ciclo Brayton repetem aquelas já empregadas, e as que possuem um formato diferente são dadas abaixo. a) Temperatura da corrente que sai do compressor (Tb): 𝑇𝑏 = 𝑇1𝑏 ( 𝑃𝑏 𝑃1𝑏 ) (𝛾−1) 𝛾 (Eq.12) b) Trabalho dos compressores (Wcomp1 e Wcomp2): 𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝1 = −𝐶𝑝(𝑇1𝑎 − 𝑇𝑎) (Eq.13) e 𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝2 = −𝐶𝑝(𝑇𝑏 − 𝑇1𝑏) (Eq.14) Neste caso, o trabalho total de compressão é dado por 𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝 = 𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝1 + 𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝2 (Eq.15) 3.4. Ciclo Brayton com duas turbinas em série Outra configuração possível é a de um ciclo Brayton constituído de um compressor, combustor e um reaquecedor (combustor de reaquecimento) entre duas turbinas, como mostra o esquema da Figura 6. Figura 6- Ciclo Brayton com duas turbinas em série. Fonte: Elaborado pelo autor. O fluxo de fluido desde a entrada (ponto a) até a saída do combustor (ponto c) é o mesmo que acontece no ciclo básico. Depois de expandir na primeira turbina até uma 13 pressão intermediária, maior que a pressão da descarga da expansão final (P1a > Pd), com sua temepratura reduzida, o fluido entre no combustor de reaquecimento, de onde sai com P1b = P1a e T1b = Tc. Daí, sofre a segunda expansão e é liberado para a vizinhança (ponto d). Neste caso, a maioria dos valores dos parâmetros e respectivas variações repetiu as situações anteriores, estabelecendo-se, para as pressões de entrada e saída do reaquecedor (P1a = P1b), um valor inicial de 4,5 atm, variando em 1,5 atm. 3.4.1. Equações As equações para esta configuração do ciclo Brayton que não são idênticas às do ciclo básico são mostradas a seguir. a) Temperatura da corrente que sai da primeira turbina (T1a): 𝑇1𝑎 = 𝑇𝑐 ( 𝑃1𝑎 𝑃𝑐 ) ( −1) (Eq.16) b) Temperatura da corrente que sai da segunda turbina (Td): 𝑇𝑑 = 𝑇1𝑏 ( 𝑃𝑑 𝑃1𝑏 ) (𝛾−1) 𝛾 (Eq.17) c) Trabalho das turbinas (Wexp1 e Wexp2): 𝑊𝑒𝑥𝑝1 = −𝐶𝑝(𝑇1𝑎 − 𝑇𝑐) (Eq.18) e 𝑊𝑒𝑥𝑝2 = −𝐶𝑝(𝑇𝑑 − 𝑇1𝑏) (Eq.19) Neste caso, o trabalho total de expansão é dado por 𝑊𝑒𝑥𝑝 = 𝑊𝑒𝑥𝑝1 + 𝑊𝑒𝑥𝑝2 (Eq.20) d) Calor que entra no processo pelos dois combustores (Qent): O calor total que é absorvido no ciclo pode ser calculado pela expressão 𝑄𝑒𝑛𝑡 = 𝑄𝑒𝑛𝑡1 + 𝑄𝑒𝑛𝑡2 (Eq.21) sendo 𝑄𝑒𝑛𝑡1 = 𝐶𝑝 (𝑇𝑐 − 𝑇𝑏) (Eq.22) e 𝑄𝑒𝑛𝑡2 = 𝐶𝑝 (𝑇1𝑏 − 𝑇1𝑎). (Eq.23) 3.5. Ciclo Brayton regenerativo com reaquecimento e inter-resfriamento 14 Uma última configuração que foi analisada neste trabalho teve o ciclo Brayton com dois estágios de compressão e dois estágios de expansão, com reaquecimento e inter-resfriamento, e ainda com um regenerador ideal. Figura 7- Ciclo Brayton regenerativo com reaquecimento e inter-resfriamento. Fonte: Elaborado pelo autor. A corrente entra no primeiro compressor (ponto a) e chega com uma pressão intermediária ao intercooler (ponto b), dele saindo (ponto c) após ter sua temperatura reduzida ao valor inicial, para sofrer nova compressão, atingindo a pressão máxima (ponto d), com a qual atravessa o regenerador antes de alimentar (ponto e) o combustor. Depois da queima (ponto f), a corrente é expandida parcialmente, chegando ao reaquecedor (ponto g) de onde sai depois de ter recuperado a temperatura máxima (a mesma do ponto f). Após o reaquecedor (ponto h), o fluido alcança a segunda turbina e passa por nova expansão, sendo descarregado (ponto i) e dirigido ao regenerador, onde cede calor ao fluxo em sentido contrário antes de ser devolvido ao meio ambiente (ponto j). Considerou-se que, nesta configuração, Pa teria valor inicial de 1 atm, variando 0,1 atm para mais e para menos (com as pressões Pi e Pj acompanhando as variações de Pa); Pb e Pc seriam iguais a 4 atm (após a 1ª. compressão); Pd, Pe e Pf teriam o valor médio de 12 atm, com variações para 10 atm e 14 atm; e Pg e Ph, após a 1ª. expansão, seriam iguais a 4,5 atm, variando em 1,5 atm. 15 Repetindo os valores definidos para a temperatura Ta e suas respectivas variações, considerou-se que a temperatura Tc = Ta devido ao uso do intercooler. Em virtude do emprego de um regenerador ideal, tem-se sempre Te = Ti e Tj = Td. A temperatura máxima (1300 k) é encontrada nos pontos Tf e Th, com variações de 100 K positiva e negativamente. 3.5.1. Equações Para esta configuração, as equações que se diferenciam daquelas do ciclo básico são as seguintes: a) Temperatura da corrente que sai do segundo compressor (Td): 𝑇𝑑 = 𝑇𝑐 ( 𝑃𝑑 𝑃𝑐 ) (𝛾−1) 𝛾 (Eq.24) b) Temperatura da corrente que sai da primeira turbina (Tg): 𝑇𝑔 = 𝑇𝑓 ( 𝑃𝑔 𝑃𝑓 ) (𝛾−1) 𝛾 (Eq.25) c) Temperatura da corrente que sai da segunda turbina (Ti): 𝑇𝑖 = 𝑇ℎ ( 𝑃𝑖 𝑃ℎ ) (𝛾−1) 𝛾 (Eq.26) 3.6. Eficiência global Para todas as configurações do ciclo Brayton analisadas no presente trabalho, a eficiência global foi calculada a partir da equação η = (|𝑊𝑒𝑥𝑝|−|𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝|) |𝑄𝑒𝑛𝑡| (Eq.27) 16 4. Resultados 4.1. Ciclo Brayton básico 4.1.1. Variação do Ta O ciclo Brayton básico não apresentou mudança na eficiência quando alterados os valores de Ta, sendo o valor encontrado para a eficiência igual a 44,8%.Tabela 1 - Variação da temperatura de entrada vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. Nesse caso, o valor do trabalho realizado pela turbina vai ser constante pois o Tc não varia, logo Td também não varia. Já o trabalho realizado pelo compressor está aumentando em 8,115 kJ/kg a cada 10 Kelvin adicionados à temperatura de entrada, mas, por outro lado, o valor de Qent está diminuindo em 18,115 kJ/kg para a mesma variação de Ta. Como dito no item 3.6, a eficiência é dada por: η = (|𝑊𝑒𝑥𝑝| − |𝑊𝑐𝑜𝑚𝑝|) |𝑄𝑒𝑛𝑡| Sendo o trabalho da turbina (Wexp) constante, pode-se notar que existe uma proporcionalidade entre as variações dos valores do trabalho do compressor (Wcomp) e do calor que entra no processo (Qent) quando se altera a temperatura da corrente que entra no processo. 4.1.2. Variação do Tc Semelhante ao que aconteceu quando foi variado o valor de Ta, a eficiência se manteve em 44,8% quando se implementaram mudanças na temperatura da corrente que entra na turbina (Tc). 17 Tabela 2 - Variação da temperatura da corrente (c) vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. Desta vez, percebe-se que o trabalho da turbina (Wexp) aumenta com o aumento de Tc, enquanto que o trabalho realizado no compressor permanece constante devido ao fato de Ta não estar sendo variado; sendo Tb e Wcomp diretamente ligados a Ta, ambos não variam. O que se nota desta vez é que existe uma proporcionalidade, quando há mudança no Tc, entre os valores do trabalho realizado pela turbina (Wexp) e do calor que entra (Qent) no ciclo. 4.1.3. Variação do Pb e do Pc O aumento das pressões de Pb e Pc no ciclo Brayton básico tende a ter um efeito positivo na eficiência global do processo. Tabela 3 - Variação das pressões das correntes (b) e (c) vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. Pode se perceber um considerável aumento na eficiência global do processo quando se aumentam as pressões Pb e Pc. Devido a problemas de ordem física dos processos, já referidos, os valores de ambas as pressões não podem ser muito elevados. Logo, foi estabelecido como 12 atmosferas, nesse trabalho, o valor máximo a que se podem elevar as pressões. Outra justificativa para o uso dessas pressões apenas até o limite aqui fixado se dá pelo fato de, como pode ser visto na tabela acima assim como nos gráficos mostrados no item 5, a eficiência está aumentando com o 18 aumento da pressão. No entanto percebe-se que esse aumento vai ficando mais discreto quanto maior for a pressão, logo não é justificável o aumento dessas pressões até valores extremamente elevados. 4.1.4. Variacoes de Pa e Pd A variação dos parâmetros da pressão de entrada (Pa) e pressão de saída (Pd) mostra que o aumento dos mesmos causa uma queda na eficiência global do processo. Tabela 4 - Variação das pressões das correntes (a)e (d) vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. Apesar de a diminuição das pressões de Pa e Pd causar um leve aumento na eficiência global do processo, esse ganho não justifica os possíveis gastos energéticos e consequentemente financeiros necessários para abaixar essas pressões. 4.2. Ciclo Brayton regenerativo ideal 4.2.1. Variação do Ta Ao contrário do ciclo básico, o ciclo regenerativo não ideal apresenta mudança na eficiência global do processo, que é reduzida quando se aumenta a temperatura de entrada (Ta). Tabela 5 - Variação da temperatura de entrada vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 19 A eficiência global do processo aumenta aproximadamente em 1% a cada 10 K subtraídos da temperatura na corrente de entrada. No entanto, resfriar essa corrente abaixo de 300 K (aproximadamente a temperatura ambiente), representa um gasto extra no processo. Como a relação de 1% a cada 10 K é baixa, não é justificável a aplicação de um resfriador na corrente de entrada do processo. 4.2.2. Variação de Tc O aumento da temperatura da corrente que sai do regenerador e entra na turbina é benéfico para a eficiência global do processo. No entanto, o ganho de eficiência passa a ter incrementos menores com o aumento da temepratura Tc. Tabela 6 - Variação da temperatura da corrente (c) vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. O aumento do Tc gera um aumento na eficiência, no entanto essa variável é difícil de ser trabalhada por oferecer riscos ao processo. Temperaturas muito altas podem danificar os equipamentos, além do que a temperatura de 1400 K está muito próxima da temperatura de fundição do aço, um dos principais componentes da turbina. 4.2.3. Variação de Pb e Pc No ciclo Brayton regenerativo, o aumento dos parâmetros Pb e Pc é inversamente proporcional a eficiência. Sendo assim, nesse tipo de ciclo, seria benéfica a diminuição da taxa de compressão. 20 Tabela 7 - Pressões das correntes (b) e (c) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. Nota-se uma leve queda de eficiência quando se eleva a pressão de descarga do compressor de 4 atm para 8 atm. Já quando se eleva essa mesma pressão de 8 para 12 atm, a queda na eficiência já é mais acentuada. 4.2.4. Variação de Pa e Pd O leve aumento na pressão das correntes de entrada do compressor e de saída da turbina acarretam um aumento sutil da eficiência. Tabela 8- Pressões das correntes (b) e (c) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. Como já foi citado, a variação na eficiência proporcionada pelo aumento da pressão na corrente de entrada não justifica as mudanças necessárias a serem implantadas no processo. 4.3. Ciclo Brayton com dois compressores 4.3.1. Variação do Ta Quando se trata de um ciclo Brayton que possui dois compressores em série, a variação do Ta (temperatura do ar na entrada do primeiro compressor) é inversamente proporcional à eficiência global. Esse parâmetro, mais uma vez, não se mostra favorável a um ganho de eficiência na geração de energia com trubina a gás, como já 21 se observou para o ciclo básico e no ciclo regenreativo – sem variação e com decréscimo na eficiência, respectivamente. Tabela 9 - Variação da temperatura de entrada vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.3.2. Variação do Tc Como mencionado na literatura (e.g.: CHEROTO, 2013), a temperatura da corrente que entra na turbina é fator de aumento na eficiência global. Nesse caso, quanto maior a temperatura da corrente de entrada na turbina, maior será a eficiência global. Tabela 10 - Variação da temperatura da corrente (c) vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.3.3. Variação de Pb e Pc O aumento das pressões Pb e Pc (após a compressão e no início da expansão) é prejudicial à eficiência global nessa configuração, como se observa a partir da análise dos dados da Tabela 11. 22 Tabela 11- Pressões das correntes (b) e (c) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.3.4. Variação de Pa e Pd A elevação das pressões Pa e Pd é favorável ao aumento da eficiência global do processo com dois compressores em série. Essa leve alteração nas pressões de entrada e de saída teoricamente podem ser obtidas em ambientes acima do nível do mar ou abaixo do nível do mar. Tabela 12- Pressões das correntes (b) e (c) pela eficiência global doprocesso. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.4. Ciclo Brayton com duas turbinas em série 4.4.1. Variação do Ta A variação da temperatura de entrada (Ta) é proporcional à eficiência. No entanto, como pode ser observado, a variação é bem sutil. O seu aumento favorece a eficiência, provavelmente pelo fato de provocar uma redução na diferença entre as temperaturas Tc e Tb, , assim diminuindo o gasto energético no combustor. 23 Tabela 13 - Variação da temperatura de entrada vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.4.2. Variação do Tc O aumento do Tc afeta negativamente a eficiência do processo, o que já era esperado pois, para se aumentar a temperatura do fluido que irá entrar na primeira turbina, será necessário maior entrada de calor no processo, a qual não é compensada pelo maior trabalho realizado pela turbina. Pelo equação da eficiência global do processo, nota-se que se o divisor (Qent) aumenta numa proporção maior que trabalho realizado pela turbina (Wexp) e, sendo constante o trabalho realizado pelo compressor, o quociente dessa divisão tende a diminuir com o aumento do Tc. Tabela 14 - Variação da temperatura da corrente (c) vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.4.3. Variação de Pb e Pc O aumento das pressões Pb e Pc, de entrada e saída do combustor respectivamente, favorece a melhoria na eficiência, conforme mostram os dados da Tabela 15. 24 Tabela 15- Pressões das correntes (b) e (c) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.4.4. Variação de Pa e Pd Também observa-se, para o ciclo com duas turbinas, que o aumento das pressões Pa e Pd é proporcional à eficiência. Tabela 16- Pressões das correntes (a) e (d) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.5. Ciclo Brayton regenerativo com reaquecimento e inter-resfriamento 4.5.1. Variação do Ta De maneira similar ao que ocorre com o ciclo Brayton com dois compressores em série, o aumento da temperatura na entrada do primeiro compressor age inversamente proporcional à eficiência global do processo. Tabela 17 - Variação da temperatura de entrada vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 25 4.5.2. Variação do Tf Apesar do processo possuir duas turbinas, assim como o ciclo Brayton com duas turbinas em série, o comportamento na eficiência não é o mesmo no que diz respeito ao aumento na temperatura da corrente que entra na primeira turbina. Tabela 18 - Variação da temperatura da corrente (f) vs mudança na resposta global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.5.3. Variação de Pa, Pi e Pj O aumento nas pressões de entrada e de saída do ciclo segue a tendência de ser favorável à eficiência global do processo, tendo em vista que o único ciclo que se comportou diferentemente nesse aspecto foi o ciclo Brayton básico. Tabela 19- Pressões das correntes (a), (i) e (j) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.5.4. Variação de Pb e Pc Quanto menor a pressão das correntes que saem do primeiro compressor e do inter-resfriador, melhor será a eficiência global do processo. Observa-se, ao mesmo tempo, que, quanto maior for a pressão da corrente após a primeira compresão, maior também será a temperatura nesse ponto. Como a corrente precisa ser resfriada para retornar à temperatura inicial, implica em um maior trabalho realizado pelo inter- resfriador. Também vale frisar que, quando pressão Pc está muito elevada, leva o 26 segundo compressor a trabalhar mais para comprimi-la, diminuindo o trabalho liquido e consequentemente a eficiência. Tabela 20- Pressões das correntes (b) e (c) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.5.5. Variação de Pd, Pe e Pf O aumento das pressões Pd, Pe e Pf é proporcional à eficiência global. Teoricamente faz sentido, pois se espera que um fluido que entre bastante comprimido na primeira turbina produza um rendimento melhor que um fluido pouco comprimido. Tabela 21- Pressões das correntes (d), (e) e (f) pela eficiência global do processo. Fonte: Elaborado pelo autor. 27 5. Discussão O efeito da variação dos diversos parâmetros sobre a eficiência global pode ser vista, para todas as configurações do ciclo Brayton analisadas, no gráficos a seguir, cada um deles acompanhado de uma breve discussão. Gráfico 1 -Temperatura de entrada dos ciclos pela eficiência Fonte: Elaborado pelo autor. Dos diferentes tipos de ciclo Brayton estudados, o único que mostrou uma pequena melhora com o aumento da temperatura na corrente de entrada do processo foi a configuração com duas turbinas em série. Tirando o ciclo Brayton básico, que não apresentou nenhuma mudança de comportamento quando alterado esse parâmetro, e o com duas turbinas em série, que teve aumento de eficiência como o crescimento de Ta, teoricamente todos os outros ciclos tirariam vantagem, quanto ao seu desempenho, de uma corrente de entrada com temperaturas menores que a ambiente. No entanto, resfriar essa corrente de entrada se tornaria o processo caro e inviável. 28 Gráfico 2 -Temperatura de entrada na primeira turbina dos ciclos pela eficiência Fonte: Elaborado pelo autor. Aumentar a temperatura da corrente que entra na primeira turbina, ou única quando for o caso, se mostrou uma boa opção para os ciclos Brayton com reaquecimento e inter-resfriamento, com dois compressores em série e o ciclo com regenerador não ideal. Existem limitações nessa corrente, já que para esse estudo foi idealizada uma temperatura que já se encontra próxima à temperatura máxima de trabalho de uma turbina a gás industrial, que gira em torno de 1300 ºC. Gráfico 3 –Pressão da corrente de entrada na primeira turbina dos ciclos pela eficiência Fonte: Elaborado pelo autor. 29 Os ciclos Brayton com duas turbinas em série, básico e com reaquecimento e inter-resfriamento se mostraram favoráveis ao aumento da pressão na entrada da primeira (ou única) turbina. O ciclo Brayton com reaquecimento e inter-resfriamento se mostrou novamente como favorito por apresentar uma eficiência melhor que todos os outros ciclos. No entanto, o ciclo Brayton com duas turbinas em série foi o que mostrou melhor crescimento na eficiência com o aumento da pressão. Gráfico 4 –Pressões das correntes de entrada e saída dos processos dos ciclos pela eficiência Fonte: Elaborado pelo autor. O único ciclo que apresentou um decréscimo na eficiência com o aumento da pressão de entrada no processo foi o ciclo Brayton básico. Nota-se que, para os cálculos, foram usadas variações discretas de 0,1 atm a partir da pressão padrão de 1,0 atm, pois o intuito foi simular uma pressão próxima de algo que podemos atingir em regiões muito acima ou muito abaixo do nível do mar, como é o caso da cidade de São Paulo, que está a aproximadamente 800 metros acima do nível do mar e tem a pressão atmosférica ligeiramente abaixo de 1 atm. Existem casos em que as pressões locais são ainda menores, como é o caso de La Paz, na Bolívia. 30 Nos gráficos para cada variável modificada, pode-se notar uma tendência que nos permite fazer um ranking dos ciclos que apresentaram a melhor eficiência no geral, em ordem decrescente: 1º. Ciclo Brayton com reaquecimento e inter-resfriamento. 2º. Ciclo Brayton com duas turbinas em série. 3º. Ciclo Brayton com doiscompressores em série. 4º. Ciclo Brayton regenerativo não ideal. 5º. Ciclo Brayton básico. 31 6. CONCLUSÃO No Brasil, as termoelétricas se tornaram de fundamental importância para suprir a demanda energética que continua crescendo a cada ano, apesar das hidroelétricas ainda representarem a maior fonte de oferta de energia do país. As termoelétricas a gás envolvem tecnologias que foram implantadas em um passado recente no Brasil. Sendo assim, estudos sobre seus processos no geral são bastante úteis para compreender e otimizar seu desempenho, sendo esse um fator motivador do presente estudo. Foram analisados os parâmetros de temperatura e pressão individualmente, em diferentes correntes, para verificar os seus efeitos na eficiência em âmbito global para cinco configurações do ciclo Brayton, que avalia termodinamicamente a operação de uma turbina a gás. Alguns resultados já eram esperados, como foi o caso do ciclo Brayton regenerativo com reaquecimento e inter-resfriamento, que é tido como um dos ciclos mais completos, pois engloba características positivas dos outros quatro ciclo estudados. Esse ciclo se mostrou superior aos outros em todos os parâmetros estudados, tendo a eficiência global superior independente do parâmetro que foi modificado. O ciclo Brayton com duas turbinas em série apresentou o segundo maior rendimento de eficiência em cada avaliação, e também se mostrou o mais sensível a mudanças na pressão da corrente de entrada na primeira turbina. Seguindo a ordem do maior para o menor rendimento, vêm os ciclos com dois compressores em série e com regenerador. Ambos tiveram o mesmo tipo de resposta para cada parâmetro que foi estudado, sendo o ciclo Brayton com dois compressores em série sempre superior em termos de eficiência global. Por fim, como esperado, o ciclo Brayton básico foi o que apresentou menor eficiência global em todos os casos estudados, no entanto ele apresentou uma peculiaridade quando foram feitos testes na temperatura da corrente que entra no processo e na temperatura da corrente que entra na turbina: a eficiência não muda como efeito da variação de nenhuma dessas temperaturas. Este estudo foi feito considerando-se um processo com compressão e expansão isentrópicas e adiabáticas. Recomenda-se para futuros estudos trabalhar os processos fazendo uma aproximação melhor de um sistema real, aonde os comportamentos do compressor e da turbina não sejam ideais. O presente trabalho servirá como uma base para futuros estudos que seu autor pretende desenvolver sobre rendimentos de plantas industriais de termoelétricas. 32 REFERÊNCIAS ALCOFORADO, F. A atual crise energética do Brasil e seus impasses estruturais, sociedade Brasileira de planejamento energético, revista brasileira de energia, Vol. 1, N° 2, 1990. ALMEIDA, D. P. F. PSICROMETRIA, Porto: Universidade do Porto, 2004. Disponível em: http://dalmeida.com/poscolheita/ISA2005/Psicrometria-Almeida-2004.pdf. Acesso em: 28 maio 2016. BARDELIN, C. E. A. Os efeitos do racionamento de energia elétrica ocorrido no Brasil em 2001 e 2002 com ênfase no consumo de energia elétrica. Dissertação de Mestrado. São Paulo: USP, 2004. BATHIE, W. W. Fundamentals of gas turbines. 2ª Edição. USA: John Wiley & Sons, 1996. BATISTA, V. 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