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didatica da educação física

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INTRODUÇÃO 
À DIDÁTICA 
DE 
EDUCAÇÃO 
FÍSICA 
LIVRO TÉCNICO EDITADO PELA DIVISÃO DE 
EDUCAÇÃO FÍSICA DO M. E. C. E DESTINA-
DO A DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS ESPE-
CIALIZADOS. 
EDIÇÃO MAIO 1969 
DIVISÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA 
BRASÍLIA, D. F. 
BRASIL 
INTRODUÇÃO 
À DIDÁTICA 
DE 
EDUCAÇÃO 
FÍSICA 
PROGRAMA DE PUBLICAÇÕES 
EDITOR: PROFESSOR LAMARTINE PEREIRA DA COSTA 
DIVISÃO DE EDUCAÇÃO FISICA — PALÁCIO DA CULTURA — SALA 1111 
RUA DA IMPRENSA, 16 — RIO DE JANEIRO - GB 
ALFREDO GOMES DE FARIA JR. 
LICENCIADO EM EDUCAÇÃO FISICA E EM PEDAGOGIA 
APRESENTAÇÃO 
A iniciativa da Divisão de Educação Física do M.E.C. em 
publicar a presente obra tem por objetivo, primordialmente, 
oferecer subsídio aos alunos das Escolas Superiores de Educação 
Física e aos nossos especializados, de modo geral, no referente 
ao setor básico da Didática. 
Nesse propósito, as considerações em evidência foram: 
— as Escolas Superiores de Educação Física são as únicas 
que, entre as instituições qua preparam professores, não têm a 
Didática, cujo objetivo específico é justamente o estudo das téc-
nicas de ensino, como disciplina constante de seus currículos; 
— a inclusão da Didática no currículo mínimo dessas Esco-
las, estudada atualmente pelo Conselho Federal de Educação, 
exigirá, obviamente, material bibliográfico correspondente, e 
— o moderno conceito de Educação Física requer o que se 
pode chamar de uma "nova técnica de ensino", que traduz, no 
campo prático, os princípios teóricos já aceitos pela maioria dos 
nossos professores de Educação Física. 
O autor, salientando sempre a posição ocupada pelo educan-
do, como centro de todo o processo educacional, e a do moderno 
professor de Educação Física, como autêntico educador, pro-
curou, simplesmente, adequar algumas normas e procedimentos, 
aplicados, até hoje, empiricamente pelos professores de nossa 
especialidade, aos princípios básicos recomendados pela Didá-
tica Geral. 
Assim, foram estudadas prioritáriamente as três fases da 
atividade discente — o planejamento, a orientação e o controle 
da aprendizagem em Educação Física — ao mesmo tempo em 
que se procurou desenvolver algumas considerações sobre aspec-
tos teóricos da Educação. _ .. • ' 
Cumpre relevar ainda que o trabalho ora apresentado cons-
titui fase importante na evolução técnica do PROGRAMA DE 
PUBLICAÇÕES da Divisão de Educação Fisica, que busca o 
aperfeiçoamento dentro dos novos conceitos de comunicação. 
A experiência assimilada pautará certamente as nossas futuras 
publicações. 
Considerando nossa diretiva, à frente da Divisão, de apoiar 
decisivamente o aperfeiçoamento técnico da Educação Física 
e dos Desportos, esperamos, com esse empreendimento, cumprir 
mais uma etapa de nossos objetivos. 
Tenente-Coronel Arthur Orlando da Costa Ferreira 
Diretor da Divisão de Educação Física do M.E.C. 
ÍNDICE 
APRESENTAÇÃO 
UNIDADE I 
— NOÇÕES FUNDAMENTAIS 1 
— A Pedagogia 2 
— A Educação ., 10 
— A Didática 23 
UNIDADE II 
— O EDUCANDO 27 
— Aspectos Evolutivos do Educando 28 
— Considerações acerca dos exercícios físicos para crian-
ças e adolescentes 39 
— O dimorfismo sexual do educando e suas influências 
nas práticas físicas 40 
UNIDADE III 
— O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 44 
— Requisitos Básicos do Professor de Educação Física . . . 46 
— O Professor de Educação Física e o Grupo Profissional 
Pedagógico 51 
— O Professor de Educação Física e o Fenômeno da Lide-
rança 55 
— O Professor de Educação Física e a Ética Profissional .. 57 
UNIDADE IV 
— FINALIDADES DA EDUCAÇÃO E OBJETIVOS DO 
ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA 60 
— Finalidades da Educação 61 
— Objetivos do Ensino 61 
— Finalidades da Educação Brasileira 62 
— Objetivos da Educação Física 63 
UNIDADE V 
— OS CONTEÚDOS 69 
— Alguns Aspectos a Considerar na Seleção dos Conteúdos 71 
— Algumas formas pelas quais os conteúdos se apresentam 77 
UNIDADE VI 
— MÉTODO E CICLO DOCENTE 107 
Primeira Parte 
1 — Método 108 
2 — Principais Métodos Empregados no Brasil 109 
Segunda Parte 
Ciclo Docente 142 
a) O Planejamento do Ensino da Educação Física 143 
b) Orientação da Aprendizagem 194 
c) Controle da Aprendizagem 287 
CONCLUSÕES 313 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 314 
ÍNDICE DA MATÉRIA 319 
UNIDADE ! 
NOÇÕES FUNDAMENTAIS 
A P E D A G O G I A 
— Conceito de Pedagogia 
— Fontes e Evolução da Pedagogia 
— Objeto da Pedagogia 
— Características do Fenômeno Educativo 
— Divisão da Pedagogia 
— Disciplinas que Compõem a Pedagogia 
A E D U C A Ç Ã O 
— Conceito de Educação 
— Alguns Aspectos da Educação Sistemática no Brasil 
A D I D Á T I C A 
— Conceitos de Didática 
— Objeto da Didática 
— Fontes da Didática 
— Âmbito da Didática 
— Didática Tradicional e Didática Moderna 
— Divisão da Didática 
— Didática de Educação Física 
1 
NOÇÕES FUNDAMENTAIS 
A PEDAGOGIA 
CONCEITO DE PEDAGOGIA 
O têrmo Pedagogia existe desde a antigüidade clássica. Encontramo-lo, 
uma das primeiras vezes, na tragédia "Orestes", de Eurípedes, passando a 
ser empregado, a partir daí, por numerosos autores clássicos, modernos 
ou contemporâneos. 
A palavra Pedagogia provém de duas palavras gregas: "pais, paidós" 
— criança e "ago, agein" — conduzir, guiar, dirigir. "Ped" é contração de 
"paid"; "agog" é a raiz com duplicação ática de "ago" e "ia" é o sufixo 
grego que dá valor ao substantivo. Portanto, Pedagogia, etimològicamente, 
significa "guia ou condução da criança". 
Por isso, na Grécia antiga, chamava-se pedagogo ao escravo liberto 
encarregado de conduzir as crianças à palestra. Esta função existe desde 
os tempos mais remotos da antiga civilização grega. No canto IX da Ilíada 
é mencionada várias vezes a figura de Fênix, que, segundo os clássicos, 
foi pedagogo de Aquiles. 
O pedagogo conduzindo sua 
pequena senhora. 
Com o passar do tempo, o conceito inicial de Pedagogia começou a 
modificar-se. No século II, São Clemente de Alexandria, no seu livro "O 
Pedagogo", já faz menção a quatro significados para Pedagogia. 
Uma vez abandonado o conceito etimológico por considerá-lo vago, 
impreciso e insuficiente, procurou-se conceituá-lo como "arte de educar", 
"ciência da educação" e até "ciência e técnica da educação". Estes concei-
tos, porém, são ainda confusos e limitativos. 
Evoluiu-se depois para "ciência da arte de educar". Ciência, por 
envolver conhecimentos certos e sistemáticos adquiridos por métodos 
idôneos, e arte porque supõe uma realização. 
Esta definição é ainda restritiva e unilateral, se estudados outros 
aspectos da problemática. A Pedagogia, por exemplo, determina valores 
éticos e sociais a serem atingidos pela educação, fazendo, assim, uma 
especulação filosófica. Estabelece, também, como realizar a educação, po-
dendo, portanto, ser considerada uma técnica. 
Desta forma, Pedagogia "seria, ao mesmo tempo, a filosofia, a ciência 
e a técnica da educação". 
Procura-se, atualmente, conceituá-la, também, tomando-se por base 
o seu conteúdo: "Pedagogia é o conjunto de conhecimentos sistemáticos 
sôbre o fenômeno educativo." Abrange, pois, o conjunto dos conhecimentos 
acumulados, organizados e sistematizados com rigor científico, sôbre a 
problemática da educação, através dos séculos. 
FONTES E EVOLUÇÃO DA PEDAGOGIA 
— Fase do Empirismo Pedagógico 
A Pedagogia era, inicialmente, um complexo de tradições educativas 
advindas da observação e da experiência empírica de antigos mestres. 
Sua única fonte era a experiência prática não metodizada. Apresen-
tava, de uma parte, grandes erros, princípios e normas contraproducentes, 
onde predominavam a improvisação e o autodidatismo; de outra parte, 
já estabelecia alguns princípios válidos e normas aceitáveis, que mais 
tarde vieram a ser reavaliadase reformuladas pela Pedagogia atual. 
— Fase da reflexão e crítica filosófica 
Esta fase teve como iniciadores Sócrates, Platão e Aristóteles e surgiu 
da necessidade de uma interpretação dos fins da educação, do estabeleci-
mento de novas normas e diretrizes da ação educativa e de atender às exi-
gências humanas e sociais da educação. 
Platão. 
Surge, a partir daí, a sistematização da Pedagogia, tornada uma disci-
plina racional e ordenada, possibilitando a elaboração da política educacio-
nal dos diferentes povos. 
— Fase da pesquisa científica 
Esta fase inicia-se em fins do Século XIX estimulada por três grandes 
fatôres fundamentais: 
— expansão do pensamento positivista, 
— controvérsia evolucionista e 
— rápida democratização da educação. 
A expansão do positivismo teve como conseqüência no campo pedagó-
gico a pesquisa dos diversos aspectos da realidade e da natureza humana. 
A controvérsia evolucionista, analisando tôda a evolução biológica e psi-
cológica da criança nas diferentes etapas evolutivas, proporcionou novos 
dados psicológicos, sociológicos, higiênicos, biológicos, econômicos e artís-
ticos à educação. Foi quando surgiram os conhecimentos exatos e objetivos 
sôbre os dados reais do fenômeno educativo. A democratização da educa-
ção aumentou a responsabilidade social da escola, exigindo a realização 
de pesquisas sôbre os problemas concretos da infância e da adolescência. 
Desta forma, pode-se compreender a grande complexidade da Peda-
gogia moderna e a riqueza e densidade dos conhecimentos que ela en-
volve. 
OBJETO DA PEDAGOGIA 
Pelo exposto, podemos compreender que o objeto específico da Peda-
gogia é o "estudo do fenômeno educativo". 
CARACTERÍSTICAS DO FENÔMENO EDUCATIVO 
O fenômeno educativo é constante por haver sempre uma geração 
adulta atuando sôbre uma geração mais jovem. Desta forma, temos a 
garantia de uma eficaz preservação da cultura e da continuidade da vida 
social. É universal porque se processa através de todos os tempos e em 
todas as comunidades do mundo, embora variando em intensidade e sis-
tematização. É irredutível por não se confundir nem se identificar com os 
demais fenômenos da vida social. 
DIVISÃO DA PEDAGOGIA 
A Pedagogia Teleológica (do grego "teleos" — fim; "logos"— tratado) 
preocupa-se com os fins e objetivos educativos; a Pedagogia Ontológica 
(do grego "ontos" — ser; "logos" — tratado) estuda o que é a educação, 
sôbre quem atua e quem a realiza; e a Pedagogia Mesológica (de "mesos" 
— meio; "logos" — tratado) cuida dos meios e das formas mais indicadas 
na realização da obra educativa. 
Estes três aspectos da Pedagogia formam um todo inseparável tal o 
seu íntimo relacionamento. Para maior esclarecimento, transcrevemos o 
exemplo dado pela Professora Consuelo Buchon em seu livro "Pedagoga". 
"Tomemos, como exemplo, a educação física que, por sua natureza, 
pode parecer a mais alheia ao aspecto teleológico; para propor a alguém 
um exercício de ginástica ou jogo temos que começar por conhecê-lo para 
que a qualidade, método e duração guardem proporção com a idade e o 
estado constitutivo do sujeito, e, mais ainda, deverá ser de tal modo que 
coopere com o bem intelectual, moral e religioso; tanto quanto assim fôr, 
será educativo. Se não fôr assim, se não levar em conta o sujeito atual-
mente e o fim visado, não só tal exercício deixará de ser formativo, como 
será aberração condenável." 
DISCIPLINAS QUE COMPÕEM A PEDAGOGIA 
Adotado o conceito de Pedagogia como "o conjunto de conhecimentos 
sistemáticos sôbre o fenômeno educativo", foi possível agrupar as diferen-
tes disciplinas que compõem a Pedagogia: 
I — Disciplinas Filosóficas (descritivas e normativas) 
História da Pedagogia 
Filosofia Educacional 
Política Educacional 
II — Disciplinas Científicas (descritivas ou experimentais) 
Biologia Educacional 
Psicologia Educacional 
Sociologia Educacional 
Estatística Educacional 
História da Educação 
Educação Comparada 
III — Disciplinas Técnicas (aplicadas) 
Higiene Escolar 
Administração Escolar 
Organização Escolar 
Didática Geral e Especial 
Orientação Educacional 
Psicoterapia Educacional 
I — Disciplinas Filosóficas 
— História da Pedagogia 
A História da Pedagogia estuda a evolução da "teoria educacional" 
relacionando suas diversas manifestações no curso da História com as 
concepções religiosas ou filosóficas que lhe deram origem. Estuda, tam-
bém, o desenvolvimento do pensamento filosófico-pedagógico, através dos 
tempos, caracterizando suas grandes etapas e os ideais que predominaram 
em cada uma delas. 
— Filosofia Educacional 
j A Filosofia Educacional estuda os princípios básicos e as finalidades 
que devem nortear a educação. Determina os valores a serem atingidos 
pela educação. 
— Política Educacional 
Esta disciplina examina os problemas da educação em têrmos das ne-
cessidades sociais imediatas. 
II — Disciplinas Científicas 
— Biologia Educacional 
A Biologia Educacional, objetivando garantir condições propícias à 
educação das gerações mais jovens, estuda o desenvolvimento orgânico do 
educando, suas diferenças individuais e as formas de atuar sôbre aquelas 
diferenças. Analisa as influências da hereditariedade e do meio: os ca-
racteres herdados e adquiridos, o crescimento, o sistema glandular, as con-
dições ambientais, as atividades do sistema nervoso, a atividade muscular, 
a fadiga, as doenças e suas profilaxias etc. 
— Psicologia Educacional 
A Psicologia Educacional estuda as etapas evolutivas da psique das 
crianças e dos adolescentes, o fenômeno da aprendizagem, a personalidade 
em relação à sua formação e a sua adaptação ao meio etc. 
— Sociologia Educacional 
A Sociologia Educacional estuda as relações entre o indivíduo e o 
grupo, a natureza, do ponto de vista sociológico, do processo educativo, 
os fins sociais da educação, as influências dos grupos sociais (família, 
igreja, estado etc.) sôbre a educação. Analisa a correlação entre o sistema 
escolar e os sistemas sociais. 
— Estatística Educacional 
Estuda a educação do ponto de vista quantitativo, fornecendo ele-
mentos que permitem uma série grande de avaliações, seja acerca dos 
dados biológicos e psicológicos da educação, seja acerca dos dados so-
ciológicos. 
— História da Educação 
Estuda a evolução histórica dos sistemas e práticas educacionais, os 
grandes educadores nos momentos históricos, a organização e o funciona 
mento das experiências educacionais etc. 
— Educação Comparada 
Estuda e correlaciona as realidades educacionais: leis, sistemas, ins-
tituições, métodos etc; as tendências pedagógicas de cada povo, os focos 
de irradiação dessas tendências, a extensão dessa irradiação. 
8 
III — Disciplinas Técnicas 
— Higiene Escolar 
A Higiene Escolar estuda as condições materiais da escola, os regimes 
de vida, de estudo e alimentação e as normas e cuidados de higiene física 
e mental dos corpos docente, discente e administrativo da escola. 
— Administração Escolar 
Estuda a estrutura e o funcionamento dos órgãos de administração 
escolar, a hierarquia e a distribuição de funções, enfim aplica as técnicas 
administrativas ao problema educacional. 
— Organização Escolar 
Estuda a mobilização de todos os recursos (materiais, financeiros, de 
pessoal etc.) de uma escola, com o objetivo de garantir maior eficiência, 
maior rendimento e economia de tempo, de dinheiro e de trabalho. 
— Didática Geral e Especial 
A Didática objetiva o ensino ou a direção técnica da aprendizagem. 
A Didática Geral estuda as teorias, princípios e normas gerais, exa-
mina e critica os métodos de ensino, analisa e apresenta soluções para os 
problemas comuns de diferentes níveis, ramos, disciplinas ou práticas 
educativas. 
A Didática Especial estuda os objetivos de cada disciplina ou prática 
educativa, a programaçãodos conteúdos, os métodos e recursos específicos 
e os problemas particulares inerentes ao ensino em questão. 
— Orientação Educacional ou Orientação Educativa (segundo a 
L.D.B.) 
"A Orientação Educacional é uma atividade pedagógica organizada em 
bases científicas com caráter permanente, visando essencialmente ao aluno 
e acidentalmente ao jovem, para integrar sua educação geral por meio da 
atividade do orientador em cooperação com vários agentes pedagógicos 
e mediante técnicas adequadas." (CADES) 
A Orientação Educativa procura promover um ambiente capaz de 
levar o educando a agir de forma positiva. É, ao mesmo tempo, uma pro-
moção, um projeto e um programa de ideais e valores. Ela age sub-repti-
ciamente de forma a modificar a conduta do educando dentro de um certo 
prazo. 
A Orientação Educativa é, também, uma aprendizagem de profundi-
dade, pois visa a realizar no indivíduo a sua maturidade. Procura fazer 
com que o indivíduo ultrapasse níveis de aspirações próximos para atingir 
outros que o levem a uma performance melhor. Considera-se a Orientação 
Educacional como uma higiene mental, não no sentido vulgar da expres-
são, mas sim como uma prática terapêutica com base científica para aliviar 
tensões ou conflitos do indivíduo, conduzindo ao equilíbrio. 
— Psicoterapia Educacional 
Estuda as diferentes formas de anomalia mental e os desvios psicoló-
gicos da infância e da adolescência, estabelecendo técnicas de diagnóstico, 
tratamento e reorientação psicológica. Elabora métodos especiais de en-
sino para alunos com problemas relacionados com a conduta, reatividade 
e escolaridade. 
A EDUCAÇÃO 
CONCEITO DE EDUCAÇÃO 
Vulgarmente, usamos a palavra educação quando nos queremos referir 
ao grau de cultura, às atitudes, aos costumes sociais, à urbanidade e à 
polidez de um determinado indivíduo. Êste conceito vulgar, impreciso, 
vago e incompleto, baseado em noções ingênuas, contém, todavia, três 
tônicas que, analisadas, poderão servir para melhor compreensão do real 
significado do têrmo: a educação é algo que se adquire, que implica num 
processo perfectivo relacionado com o social. 
Não há perfeito acordo entre os estudiosos sôbre as origens etimológi-
cas do têrmo educação. Uns afirmam-no derivado de "educare", que signi-
fica criar, alimentar. Outros asseveram que êle se originou de "educere", 
composto de "ex", que significa direção para fora, e do verbo "ducere", 
conduzir. Desta forma, significaria "tirar de dentro para fora". 
Alguns dos grandes educadores do passado, baseando-se nas origens 
etimológicas da palavra, emitiram conceitos distintos aparentemente 
díspares. 
Desta forma, João Frederico Herbart "considera que o que se propõe 
à educação é introduzir materiais no educando, "alimento" que é preciso 
dar ao espírito para que se desenvolva". 
João Henrique Pestalozzi, partindo de outra origem do têrmo, assegura 
que "a única coisa que o educador tem que conseguir é desenvolver os ger-
mens que se encontram no educando". 
Pode, assim, parecer à primeira vista, considerando-se aquelas duas 
origens, que existam dois conceitos distintos e inconciliáveis de educação. 
Tal, no entanto, não ocorre, pois os dois significados completam-se, indi-
cando-nos os dois movimentos da educação: um de dentro para fora, no 
sentido de um desenvolvimento e maturação próprios, e outro de fora para 
dentro, que auxiliará àquele desenvolvimento. Desta forma, o processo 
educativo obedece a dois princípios: um, intrínseco à natureza do educan-
do; outro, extrínseco a ela. 
O conceito vulgar e o etimológico da educação não satisfizeram aos 
estudiosos que, desde a antigüidade, procuram melhor conceituá-la. 
Assim, encontramos uma série de conceitos para o têrmo em questão, 
alguns dos quais transcrevemos a seguir: 
"A educação tem por fim evitar o erro e descobrir a verdade." 
(Sócrates.) 
"Educação consiste em dar ao corpo e à alma tôda a perfeição de 
que são capazes." (Platão.) 
"O verdadeiro escopo da educação é a obtenção da felicidade por 
meio da virtude perfeita." (Aristóteles.) 
"Educar é instruir a juventude e formar almas virtuosas." (Cí-
cero.) 
Aristóteles 
Spencer Kant 
Locke 
'
;Educar é saber dirigir e conter todos os movimentos da alma, de 
modo a realizar sómente atos dignos de um ser racional." (Marco 
Aurélio.) 
"A educação tem por finalidade unir um espírito sadio a um corpo 
sadio. A tarefa da educação não é aperfeiçoar os jovens nas ciências, 
mas prepará-los mentalmente de modo a serem capazes de abordar 
qualquer uma delas se aplicarem no seu estudo." (Locke.) 
'Educar é a arte de formar homens." (Rousseau.) 
"O fim da educação é a formação do homem integral, habilitado 
nas artes e indústrias." (Rabelaís) 
"Educação é a arte de formar homens e não especialistas." (Mon-
taigne.) 
"A finalidade da educação é proporcionar serviços mais efetivos 
ao Estado e à Igreja." (Lutero.) 
"Educação é o desenvolvimento integral do homem. É o domínio 
de todas as coisas." (Comenius.) 
"Educar significa o desenvolvimento natural, progressivo e siste-
mático de todas as forças." (Pestalozzi.) 
"Educar é desenvolver proporcional e regularmente todas as dis-
posições do ser humano." (Kant.) 
"O objeto da educação é realizar a vida confiante, pura, inviolável 
e sagrada." (Froebel.) 
"A educação é a arte de construir, de edificar e de dar as forças 
necessárias." (Herbart.) 
"Preparar-nos para uma vida completa é a função que deve de-
sempenhar a educação." (Spencer.) 
Inúmeros outros conceitos de educação poderiam ser aqui mencio-
nados. Só Rufino Blanco, em sua Enciclopédia Pedagógica, refere-se a 
cento e oitenta e quatro conceitos distintos de educação. 
Como vimos, os conceitos de educação lançados até agora são ora des-
critivos, ora normativos. Os descritivos referem-se ao processo educacional 
e os normativos aos fins a serem atingidos. 
William F. Cunningham chega a um conceito plenamente satisfatório 
quando o faz baseado em três grupos de transformações que intervêm no 
processo educativo: habilidades, conhecimentos e ideais. 
O homem, ao contrário dos animais, necessita de um longo período de 
aprendizagem em substituição aos instintos existentes nos irracionais. Ins-
tintos significam "hábitos fixos de reação", não havendo, por conseguinte, 
progresso na vida animal. O homem maduro não possui hábitos de com-
portamento hereditários não modificados pela aprendizagem. Possui, isto 
sim, um sem-número de habilidades que inicialmente nada mais eram que 
capacidades. Um segundo grupo de transformações no processo educacio-
nal é a do crescimento em conhecimentos. O nascituro ignora tôda a he-
rança social, ao passo que o adulto tem conhecimento dela. O terceiro e 
último grupo de transformações é a passagem dos impulsos aos ideais. Por 
ideais compreendem-se os controles racionais da conduta humana sôbre 
os instintos. 
Desta forma, podemos conceituar educação como "o processo de cres-
cimento e desenvolvimento pelo qual o indivíduo assimila um corpo de 
conhecimentos, demarca os seus ideais e aprimora sua habilidade no trato 
dos conhecimentos para a consecução daqueles ideais". 
ALGUNS ASPECTOS DA EDUCAÇÃO SISTEMÁTICA NO BRASIL 
A educação, segundo suas influências, pode ser: assistemática, quando 
é inconsciente, espontânea e ocasional, e sistemática, quando é intencio-
nal, consciente e seletiva. 
A educação assistemática desenvolve-se ao sabor dos incidentes e das 
circunstâncias fortuitas, sem que haja um planejamento anterior. Não sen-
do ela seletiva, o indivíduo aprende coisas certas e coisas erradas, boas e 
más, donde se pode aquilatar a responsabilidade educativa que pesa sôbre 
es gerações adultas. O ser humano é assim, em grande parte, fruto dessa 
educação assistemática. 
A educação sistemática é, ao contrário da anterior, consciente,com 
objetivos previamente traçados, crítica e sobretudo intencional. A educa-
ção sistemática é ministrada numa complexa e especializada instituição 
nitidamente seletiva — a Escola. De um modo geral, cada país congrega 
os serviços escolares em sistemas de ensino, regionais e locais, que vão 
constituir, no todo, o seu sistema nacional de ensino. 
Os diferentes sistemas possuem, por sua vez, níveis ou graus de ensino 
que nada mais são do que a sua articulação vertical. 
(adaptado de Lourenço Filho) 
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Fede-
ral n.° 4.024, procurando proporcionar uma "centralização de orientação" 
permite à União criar um Sistema Federal de Ensino, ao mesmo tempo 
que busca uma "descentralização de execução", quando permite aos Es-
tados e ao Distrito Federal organizarem seus próprios sistemas de ensino. 
Esta Lei reconhece, ainda, três níveis ou graus de ensino: a Educação de 
Grau Primário, a Educação de Grau Médio e a Educação de Grau Superior. 
Julgamos necessário desenvolver neste trabalho algumas considera-
ções acerca dos diferentes níveis ou graus de ensino, visto que o docente 
de Educação Física, dada a sua formação, possui habilitação profissional 
que lhe permite atuar nos diferentes níveis. 
A Educação de Grau Primário 
Em nosso país, o critério geral escolhido para a graduação do ensino 
é o das "idades sucessivas". Assim sendo, a educação de grau primário 
é a que se destina à infância. Pela primeira vez, a Legislação brasileira 
preocupou-se com a educação pré-primária quando a Lei n.º 4.024 a ela se 
Visita de uma sala de aula de uma moderna escola primária 
(Escola Guatemala, Rio de Janeiro). 
refere dizendo que "se destina aos menores até sete anos, e será ministrada 
em escolas maternais ou jardins de infância". 
Quanto ao ensino primário, suas finalidades são "o desenvolvimento 
do raciocínio e das atividades de expressão da criança e a sua integração 
no meio físico e social". 
Procurou-se, também, tornar obrigatório o ensino primário a partir dos 
sete anos e estender o curso a um mínimo de quatro anos e a um máximo 
de seis. 
Pesquisas feitas, e dentre elas salientam-se as do INEP, mostram-nos 
quão deficiente é o ensino primário brasileiro. Em 1963, çalculou-se a exis-
tência de pelo menos 10 milhões de crianças na faixa etária de 7 a 11 anos, 
sendo que dos 7 milhões das matriculadas no ensino primário mais da 
metade se encontrava na primeira série. Êste fato se agrava com o pro-
blema da evasão escolar tão evidente nas estatísticas de 1062, quando perto 
de 1.200.000 crianças se evadiram durante o ano letivo, e mais de 1 milhão 
delas o fizeram na primeira, segunda e terceira séries, sem que possuíssem 
conhecimentos que nos permitissem afirmar que essas crianças estivessem 
instruídas ou que fossem elementos produtivos do ponto de vista econô-
mico. Elas afastam-se da escola, por exemplo, sem ao menos conhecer a 
História de sua Pátria, quando a evasão ocorre na primeira série. Outro 
Aula de Educação Física numa moderna Escola Primária. 
grande problema é o da reprovação escolar, dado que o número de repro-
vados chega, por vezes, a ultrapassar o de aprovados. 
Desta forma,, considera-se o ensino que se restringe à primeira série 
como um desperdício econômico. 
A situação do professorado primário apresenta, também, um quadro 
desalentador. Segundo dados obtidos pelo Primeiro Censo Escolar do Bra-
sil, 44% dos professôres primários em regência de classe são leigos, isto 
e, não possuem qualquer formação profissional, não podendo, muitas vezes, 
lecionar além da segunda série primária, pois um passo mais adiante não 
deram na sua formação. 
Assim sendo, é perfeitamente válido concluir que a Educação Física, 
embora obrigatória por força de Lei neste nível de ensino, ficará prática-
mente esquecida por muito tempo em nossas escolas primárias. Nos gran-
des centros, entretanto, começamos a notar um maior interesse por parte 
da direção das escolas em incluir efetivamente essa "prática educativa" 
no currículo dos seus educandários. 
Educação de Grau Médio 
"A educação de grau médio, em prosseguimento à ministrada na es-
cola primária, destina-se à formação do adolescente." Êste artigo da Lei 
Vista de uma sala de aula de um moderno Ginásio Secundário. 
(G. E. Nun'Álvares Pereira — Rio de Janeiro) 
n.° 4.024 representa uma grande conquista para a educação brasileira, pois 
começa a abandonar a idéia de que a escola média teria como finalidade 
preparar jovens para os cursos superiores, substituindo-a pela idéia correta 
de que sua finalidade é a formação da personalidade do educando. 
O ensino médio brasileiro é, como se sabe, ministrado, atualmente, 
em dois ciclos: o GINASIAL e o COLEGIAL. Desta forma, o têrmo "gi-
násio" não mais significa um tipo de ensino, mas sim o ciclo de um nível 
ou grau de ensino. Todo o primeiro ciclo de ensino médio chama-se giná-
sio: há, portanto, ginásio secundário, ginásio comercial, ginásio indus-
trial etc. 
Da mesma forma, todo o segundo ciclo do ensino médio chama-se co-
légio ou "curso colegial", havendo, assim, colegial comercial, colegial in-
dustrial, colegial secundário etc. 
Esses ramos, hoje em dia, dão acesso à Universidade, ao contrário do 
que ocorria anteriormente, quando só os alunos oriundos do curso secun-
dário podiam ingressar no nível superior. 
Quanto à extinção gradual do Curso Ginasial Agrícola e a conseqüente 
.proibição de os atuais educandários agrícolas realizarem exames de admis-
são a partir do ano letivo de 1969, não significa que o Govêrno pretenda 
acabar com o ensino agrícola de grau médio, mas sim passá-lo para a es-
fera dos Ginásios Orientados para o Trabalho, isto porque só se recomenda 
a profissionalização a partir do segundo ciclo. 
No ensino médio, as condições são tão ruins ou até mesmo piores do 
que no ensino elementar. Entretanto, êste grau de ensino é considerado 
pelos especialistas como um dos fatôres básicos do desenvolvimento das 
nações. O povo brasileiro descobriu, também, que é possível a mobilidade 
vertical em nossa sociedade através dos conhecimentos e da formação que 
uma boa escola lhe pode oferecer. Assim, a procura da escola torna-se cada 
vez maior. A inexistência, porém, de todo um complexo social preparado 
para receber as explosões demográficas, econômicas e sociais leva a nossa 
rede escolar a uma situação angustiosa, onde nem a quantidade nem a 
qualidade são atendidas. 
Dos 12 milhões de jovens em faixa etária correspondente à educação 
de grau médio, somente 1.336.000 se matricularam em 1963 neste nível. 
Estas matrículas estavam assim distribuídas: 
Secundário 980.000 
Comercial 200.000 
Normal . 110.000 
Industrial 39.000 
Agrícola 7.000 
Desta forma, num país de economia agrícola e onde se tenta uma rá-
pida industrialização, vemos quão irrisórias são as matrículas nos ramos 
correspondentes a essas atividades. O baixo índice das matrículas na escola 
normal não nos permitem uma esperança de ver melhoradas as deficiên-
cias do professorado da escola primária brasileira. 
Aula de Educação Física num moderno Ginásio Secundário. 
A Educação Física, única "prática educativa" obrigatória existente nos 
currículos de nossas escolas, para alunos até a idade de 18 anos, tem, 
obviamente de se ressentir de tal problemática. Faltam instalações, ma-
terial didático e, sobretudo, o elemento humano altamente qualificado 
para a tarefa de educar: o professor de Educação Física. Contudo, alguns 
fatôres positivos começam a se fazer sentir em nossa especialidade. A ele-
vação da Educação Física à categoria de "prática educativa" despertou 
um maior interesse de renovação no âmbito do magistério especializado, 
visto que o êxito de sua missão passou a depender quase que exclusiva-
mente do interesse e prazer que consigam despertarem seus alunos, livres 
da preocupação da nota para passar de ano, do conceito nas "provas prá-
ticas" e outros absurdos tão evidentes nas disciplinas obrigatórias, com-
plementares e Optativas. Esta renovação obriga a realização de cursos de 
aperfeiçoamento e até de pós-graduação, estimula o surgimento de novas 
revistas e boletins especializados e a publicação de novas obras didáticas 
igualmente especializadas. 
O Ensino de Grau Superior 
Nas diversas especialidades do ensino superior brasileiro, cujo objetivo 
"é a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes, e a formação 
de profissionais de nível universitário", estavam matriculados, em 1963, 
100 mil estudantes, dos quais 20 mil concluíram os estudos. 
Êste quadro desolador, à luz dos dados estatísticos, mostra-nos a real 
situação da educação no Brasil, em que nos esquecemos, com facilidade 
de que o "desperdício de inteligência é fator primordial de subdesenvol-
vimento e pobreza". 
O ensino superior no Brasil felizmente começa a apresentar novas 
perspectivas ao docente de Educação Física. Sua habilitação profissional 
de nível superior permite-lhe lecionar em Escolas Superiores de Educação 
Física e dirigir atividades físicas no seio das Universidades. Dá-lhe o di-
reito, ainda, de acesso aos cursos especiais de orientadores educativos 
desde que possuidor de um estágio mínimo de três anos no magistério 
público ou privado. 
Atividades desportivas no Ensino Superior. 
Conclusões 
Finalmente, podemos afirmar que, sómente com a eliminação do 
analfabetismo, com a melhoria da capacidade produtiva de nossos jovens, 
com currículos mais simples e menos pretensiosos e com o emprego de 
novos métodos de trabalho, podemos modificar o quadro comparativo abai-
xo mencionado,onde avulta a deficiência de nosso sistema escolar, compa-
rado com o dos E.U.A. e da U.R.S.S. 
(Nílton Nascimento) 
A DIDÁTICA 
CONCEITOS DE DIDÁTICA 
A Didática pode ser conceituada de duas formas: 
— em função de sua natureza e objeto; 
— em função do seu conteúdo. 
Em função de sua natureza e objeto, a Didática "é a disciplina pedagó-
gica de caráter prático e normativo que tem por objeto específico a técnica 
do ensino, isto é, a técnica de dirigir e orientar eficazmente os alunos na 
sua aprendizagem". 
Considerada em função do seu conteúdo, Didática "é o conjunto sis-
temático de princípios, normas, recursos e procedimentos específicos que 
todo professor deve conhecer e saber aplicar para orientar seus alunos na 
aprendizagem das matérias, tendo em vista seus objetivos educativos". 
O primeiro conceito distingue a Didática das demais disciplinas pe-
dagógicas. O segundo, caracteriza o seu conteúdo específico. 
OBJETO DA DIDÁTICA 
O objeto específico da Didática é o estudo das técnicas do ensino. 
FONTES DA DIDÁTICA 
As principais fontes da Didática são: 
— a Filosofia Educacional, que contribui com as concepções, princí-
pios, diretrizes e conclusões; 
— a Biologia Educacional, a Sociologia Educacional e a Psicologia 
Educacional, que contribuem com os resultados e conclusões de suas ex-
perimentações científicas; 
— a racionalização do trabalho, que contribui com as normas e cri-
térios; 
— a experiência prática. 
ÂMBITO DA DIDÁTICA 
São cinco os "componentes fundamentais" que a Didática procura ana-
lisar: 
O educando; 
O professor; 
Os objetivos; 
Os conteúdos; 
Os métodos. 
São esses cinco "componentes fundamentais" do ensino que a Didática 
procura estudar, integrar funcionalmente e orientar. 
O educando, encarado como ser humano em desenvolvimento,, com 
suas capacidades, limitações, peculiaridades, tendências e interesses, é o 
fator principal na situação escolar. 
O professor, atuando como elemento incentivador, orientador e ava-
liador da aprendizagem dos alunos, tem a função verdadeira de educador 
e não apenas de mero expositor ou instrutor. 
Os objetivos são os fatôres dinamizadores de todo o trabalho escolar 
São as metas necessárias que devem nortear todo o trabalho na escola, 
nas salas de aula ou nos campos ou quadras de esportes. 
Os conteúdos, podemos considerá-los assim, são os reativos emprega-
dos na educação, os elementos formativos necessários ao desenvolvimento 
integral do educando. 
Os conteúdos, também chamados de matéria de ensino, existem para 
servir ao educando, na justa medida de sua capacidade. 
Os métodos de ensino conjugam de forma apropriada todos os proce-
dimentos, técnicas e recursos, de forma a colimar os objetivos propostos, 
com maior segurança, rapidez e eficácia. 
"O bom método é a melhor maneira de fazer o aluno aprender." O 
êxito de todo o trabalho escolar dependerá, em grande parte, da qualidade 
do método usado. 
Desta forma, é válido concluir que Didática não é sinônimo de Me-
todologia. 
A Metodologia estuda o método em si, sendo, portanto, uma parte da 
Didática. O estudo do método é uma investigação estéril e abstrata para 
a prática do ensino, se isolado dos demais componentes fundamentais da 
Didática. 
Por isso, são bem fundamentadas as inúmeras críticas que lhe são 
movidas, pois ela "fragmenta a realidade vital que caracteriza o ensino 
moderno". 
DIDÁTICA TRADICIONAL E DIDÁTICA MODERNA 
A Didática Tradicional 
Na Didática Tradicional, o mestre era o elemento humano preponde-
rante do processo de ensino. Despreocupado com as dificuldades de seus 
discípulos, arbitrário e despótico, era, entretanto, um verdadeiro escravo 
da própria matéria que lecionava. 
O aluno era o elemento humano passivo: competia-lhe, apenas, ouvir, 
decorar e obedecer subservientemente. 
A matéria era um valor absoluto, que devia ser ensinada e aprendida 
sem qualquer alteração ou revisão crítica. O método era a maneira de o 
professor expor a matéria destituída de qualquer relacionamento humano. 
A Didática Moderna 
A Didática Moderna coloca o educando no centro de todo o processo 
educativo. 
Para êle, organiza-se a escola e ministra-se o ensino, os professôres 
colocam-se a seu serviço. 
O mestre é, apenas, o fator humano incentivador, orientador, assessor 
do aluno. É o educador no plano mais significativo do têrmo. 
Os objetivos dão sentido, valor e direção ao trabalho escolar; os con-
teúdos, os meios necessários à formação do educando. 
O método transfere-se do problema de ensino para o problema de 
aprendizagem. 
O Professor Luiz Alves de Matos, em seu livro "Sumário de Didática 
Geral", apresenta um interessante quadro acerca das cinco questões fun-
damentais da Didática, que transcrevemos, data vênia, na íntegra: 
"Didática Tradicional" 
a quem se ensina? 
quem ensina? 
para que se ensina? 
o que se ensina? 
como se ensina? 
"Didática Moderna" 
quem aprende? 
com quem o aluno aprende? 
para que o aluno aprende? 
o que o aluno aprende? 
como o aluno aprende? 
Componentes 
— Aluno 
— Mestre 
— Objetivo 
.— Matéria 
— Método 
DIVISÃO DA DIDÁTICA 
Didática Geral e 
Didática Especial 
- A Didática Geral 
— estabelece a teoria fundamental do ensino; 
— estabelece os princípios gerais, critérios e normas, que regulam o 
trabalho docente; 
— examina criticamente os diferentes métodos e procedimentos de 
ensino; 
— estuda os problemas comuns e os aspectos constantes do ensino nos 
diferentes níveis, ramos, disciplinas ou práticas educativas; 
— analisa criticamente as grandes correntes do pensamento didático 
hodierno e as tendências dominantes no ensino atual. 
A Didática Especial 
— estuda os objetivos e as funções de cada disciplina ou prática edu-
cativa; 
— orienta na programação, na dosagem, e na distribuição dos con-
teúdos; 
— relaciona os meios auxiliares, as normas e os procedimentos meto-
dológicos com a natureza especial de cada disciplina ou prática educativa; 
— analisa a problemática do ensino que cada disciplinaou prática 
educativa apresenta, e sugere os recursos e os procedimentos didáticos 
mais adequados para resolvê-la. 
DIDÁTICA DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
Depreende-se, pelo exposto, que Didática de Educação Física é uma 
forma de Didática Especial. , . 
Assim sendo, procura ela estudar: o educando em face desta pratica 
educativa; o professor de educação física; os objetivos e funções dessa 
prática, de acordo com os níveis ou graus de ensino, o tipo de experiência 
educacional e da etapa evolutiva e grau de treinamento dos alunos. Orienta 
na programação, na dosagem e distribuição dos conteúdos propostos. Es-
tuda e relaciona os métodos, os meios auxiliares, os recursos e procedi-
mentos didáticos. 
Desta forma, analisaremos cada um dos componentes fundamentais 
da Didática em face da Educação Física, nos capítulos subseqüentes. 
A Didática divide-se em 
UNIDADE II 
O EDUCANDO 
— Aspectos evolutivos do educando 
Infância 
Adolescência 
— Considerações acerca dos exercícios físicos para crianças 
e adolescentes 
— O dimorfismo sexual do educando e 
suas influências nas práticas físicas 
27 
O EDUCANDO 
A Didática atual colocou, como vimos anteriormente, o educando como 
o centro de todo o processo educativo. O aluno, na escola moderna, é o 
elemento pessoal para onde convergem os ilimitados esforços dos educa-
dores e da escola própriamente dita. Êle é ativo e empreendedor, sendo 
necessário, ainda assim, orientá-lo e estimulá-lo na educação e na aprendi-
zagem, de forma a desenvolver-lhe as capacidades biológicas e intelectuais 
e, Outrossim, formar-lhe o caráter e a personalidade. 
Por isso, a escola é hoje em dia nitidamente pedocêntrica. 
O homem, no sentido lato, é educado desde o começo do uso da razão 
até quando, por doença ou velhice, começa a perder o controle de suas 
faculdades racionais ou quando sobrevier a morte. 
Desta maneira, isentamo-nos de erro quando dizemos que até o fim da 
vida nos estamos aperfeiçoando. Inúmeros exemplos poderiam ser citados, 
tais como a freqüência a cursos de aperfeiçoamento ou extensão, a pales-
tras culturais e científicas, a sermões e conferências, a Exercícios Espiri-
tuais, demonstrando que o próprio homem jamais considera encerrada a 
sua formação espiritual. 
Em sentido estrito, sómente a criança e o adolescente são "sujeito-edu-
cando". Assim, só aquêles que ainda não chegaram à maturidade precisam 
de uma ação aperfeiçoadora. Adulto considera-se educado, estando ter-
minada, portanto, a educação sistemática. 
Visto isso, o educando própriamente dito é o ser humano em seu estado 
evolutivo, diferente do adulto em qualidade, quantidade e funcionalidade. 
O professor de Educação Física em exercício, seja na escola primária, 
seja na escola de nível médio, ou de curso superior (onde ingressa hoje em 
dia um número cada vez maior de adolescentes), precisa conhecer o edu-
cando com a maior profundidade possível para oferecer um desempenho 
gradativamente melhor de suas funções. 
A seleção dos conteúdos e das formas de trabalho levadas a efeito 
pelo professor de Educação Física depende do conhecimento do educando. 
Dois aspectos importantes encontramos no estudo do educando perante 
a Educação Física: 
— a etapa evolutiva do educando; 
— o sexo dêste. 
ASPECTOS EVOLUTIVOS DO EDUCANDO 
Os aspectos evolutivos do Educando são estudados na Psicologia Evo-
lutiva, uma das divisões da Psicologia Educacional. 
A Psicologia Educacional, no entender de Charles Skinner, "ocupa-se 
unicamente, da experiência e da conduta dos seres humanos, enquanto 
constituem uma resposta às situações educacionais. Seleciona do campo 
total da Psicologia aquêles fatos e princípios que possuem um significado 
geral para a vida e para a marcha da sociedade e um significado especial 
para a aprendizagem e o ensino. Da mesma forma, ela se interessa também 
por todos os aspectos e níveis do crescimento do desenvolvimento hu-
mano". 
Divisão da Psicologia Educacional: 
Métodos da Psicologia Educacional: 
OBJETIVOS (coleta de dados através de questionários e testes, de forma 
a dar tratamento estatístico dos resultados). 
CLÍNICOS (Estudo de casos: biografias, provas projetivas de persona-
lidade etc.) 
Aos professôres sómente é permitido o emprego dos métodos objeti-
vos, assim mesmo limitando-se ao emprêgo de questionários de interesses. 
Os demais tipos de testes como os de personalidade, por exemplo, são de 
emprego exclusivo do Psicólogo, segundo a recente regulamentação desta 
profissão. 
Não temos a pretensão de fazer neste trabalho um estudo sôbre Psico-
logia Educacional, desejamos, apenas, salientar para o estudante ou do-
cente de Educação Física alguns tópicos importantes, e mencionaremos, 
também, uma orientação bibliográfica a fim de que estes possam desenvol-
ver os assuntos de maior interesse, de acordo com as suas necessidades. 
O ciclo vital pode ser dividido em três grandes períodos: 
— Período de crescimento; 
— Idade adulta; 
— Velhice. 
No período de crescimento temos duas grandes fases do desenvolvi-
mento: 
— Infância e 
— Adolescência. 
INFÂNCIA 
A Infância é o período de vida que se prolonga do nascimento à ado-
lescência. É nesta fase que se formam os dinamismos fundamentais da 
personalidade humana, respeitados os limites fixados pela hereditariedade. 
Em comparação com os demais elementos da escala biológica, sabemos 
que o homem possui uma infância maior do que a de qualquer outro 
animal. 
Do ponto de vista da satisfatória adaptação ecológica de tal forma 
que permita uma existência autônoma, a criança recém-nascida encontra-
-se em inferioridade diante dos animais de outra espécie igualmente re-
cém-nascidos. 
Para competição com estes em igualdade de condições, seria necessá-
rio, segundo o biologista A. Portmam, que a fase intra-uterina do homem 
durasse vinte meses. Disto se conclui que a criança nascida de nove meses 
de gestação necessita, durante o primeiro ano de sua vida extra-uterina, 
cie cuidados especiais que se assemelhem às condições de vida anterior, 
quando o organismo materno ainda a protegia de todas as prejudiciais 
influências exteriores. 
A Psicologia Educacional distingue duas posições no estudo dos pro-
blemas da Infância: 
— concepção da criança como adulto em miniatura (homúnculos); 
— concepção da criança como centro e objetivo final de qualquer con-
sideração pedagógica (pedocêntrica). 
A Pedagogia hodierna não aceita a criança como adulto em miniatura. 
Os educadores modernos sómente aceitam a concepção pedocêntrica. 
O Crescimento 
O organismo humano jamais deixa de crescer até chegar à sua com-
pleta maturação. É na infância, entretanto, que o crescimento predomina, 
condicionando as demais funções do organismo. As modificações oriundas 
do crescimento são mais intensas e rápidas na infância. 
Segundo Paul Godin, "o crescimento é a transformação contínua que 
experimenta o corpo da criança em seu conjunto e em cada uma das suas 
partes para tornar-se adulto." O crescimento absorve um terço da média 
humana de vida. 
Normalmente, êle se manifesta de maneira irregular — acelerado, en-
tremeado de momentos de parada ou de crescimento. 
Alguns autores, como Paul Godin, enunciaram leis de crescimento, 
cujo estudo deixamos de proceder aqui porque o consideramos excessivo 
aos objetivos a que nos propusemos neste trabalho. Recomendamos, entre-
tanto, um estudo complementar, que se afigura bastante útil ao professor 
de Educação Física, atuando nesta área do desenvolvimento do educando. 
O estudo da fase da iniciação glóssica também foi por nós omitido, sendo 
válida a recomendação acima apresentada. 
As Necessidades da Criança 
Segundo André Rey, são as seguintes as necessidades da criança: 
a) Necessidade de Segurança. 
Necessidade de proteção contra os perigos, castigos,dores, enfermida-
des e solidão. 
Necessidades de auto-afirmação e autovalorização. 
O desenvolvimento adequado da criança depende da segurança inte-
rior, que resulta da "Liberdade do Medo", "Liberdade de Angústia" e da 
"Liberdade de qualquer forma de ansiedade". 
A criança para conquistar essa segurança necessita de amparo afetivo, 
carinho e ternura. 
b) Necessidade de captação ou gôzo. 
Através de formas materiais, captação de alimentos e da propriedade 
e através de formas afetivas, captação de afetos, desejo de ser aprovado, 
aceito, louvado e servido. 
c) Tendências erótico-sexuais. 
d) Necessidades de agressividade e de luta. 
e) Necessidade de Liberdade e de Autonomia. 
Vontade do poder, de ter independência, de isolar-se, às vêzes, de 
vagabundear, de fazer gazeta. 
f) Necessidades construtivas e produtivas, imaginativas, intelectuais 
ou artísticas. 
A Psicologia do Jogo Infantil 
O jogo assume importância capital na fase lúdica da infância. 
Não nos deteremos aqui em estudar os diversos conceitos do jogo e 
suas principais teorias, visto que tal estudo faz parte da Psicologia e não 
da Didática. 
Existem excelentes trabalhos sôbre o assunto, como o do Professor 
Inezil Penna Marinho, "Jogos — Principais Teorias", e o do Professor 
Hanns Ludwig Lippmam, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da 
Universidade do Estado da Guanabara, "A Fase Lúdica da Infância e a 
Psicologia do Jogo Infantil" (Unidade VI das súmulas de aula de Psico-
logia Evolutiva). 
Dêste modo, esquematizaremos, a seguir, apenas as teorias mais im-
portantes, para facilitar as pesquisas sôbre o assunto. 
TEORIA 
Teoria do Descanso 
ou do Recreio 
Teoria do Atavismo 
ou da Recapitulação 
Teoria do Excesso 
de Energia 
Teoria de 
Exercício 
Preparatório 
ou Prévio 
Teoria do Exercício 
Complementar ou 
da Compensação 
Teoria Catártica 
Teoria do Jogo 
Estimulante 
AUTOR 
Guts Muths, 
Lazarus 
e Schaller 
Granville 
Stanley Hall 
Spencer 
e Schiller 
Karl Gross 
Konrad Lange 
Harvey A. Carr 
H. Carr 
RESUMO DA TEORIA 
0 jogo seria uma forma de re-
creio, com o objetivo de propor-
cionar descanso ao organismo e 
ao espírito fatigados. 
Baseia-se na lei biogenética de 
Haeckel (a ontogênese recapitu-
la a filogênese). Os jogos repre-
sentariam atividades das gera-
ções passadas, a criança recapi-
tularia aos estádios da civiliza-
ção. 
A criança possuiria um excesso 
de vitalidade e, por não ter ati-
vidades sérias, as energias se-
riam acumuladas e ela procura-
ria o jogo como forma de equi-
líbrio. 
0 jogo é uma preparação para 
a vida séria. Cada classe de ani-
mal utilizaria certos jogos que 
correspondem às atividades dos 
animais adultos de sua espécie. 
A infância existe "para" brincar. 
0 jogo teria por função desper-
tar tendências que se encontras-
sem latentes no indivíduo. 
A função do jogo seria purgar 
o indivíduo de tendências anti-
sociais, sexuais etc. 
O jogo produziria no organismo, 
entre outros estímulos, o neces-
sário ao crescimento dos órgãos. 
O sistema nervoso seria benefi-
ciado com o jogo, que lhe ofe-
receria os estímulos indispensá-
veis ao exercício e ao desenvol-
vimento das suas funções. 
TEORIA 
Teoria Estrutural 
Teoria da derivação 
pela ficção 
Teoria Hórmica 
Teoria da 
Recreação 
Teoria da 
Rivalidade 
Teoria da 
Necessidade 
Biológica 
Teoria da 
Transfiguração 
Teoria do Jogo 
Infantil 
AUTOR 
F. J. J. 
Buytendijk 
Claparède 
Taylor e ( Curti 
Patrick 
Mc Douga 11 
Appleton 
Inezil Pen 
Marinho 
Jean Piag 
na 
et 
RESUMO DA TEORIA 
0 jogo representa uma adapta-
ção incompleta que possui suas 
próprias leis, o que fica coeren-
te consigo mesma no interior da 
dinâmica infantil. "0 jogo exis-
te porque existe uma infância." 
0 jogo seria um fenômeno da 
derivação pela ficção. 
A criança jogaria para se liber-
tar dos conflitos e satisfazer a 
razões próprias. 
A criança jogaria para "re-
crear-se", isto é, "criar-se nova-
mente". 
O jogo existiria pela necessida-
de de satisfazer ao instinto de 
rivalidade. 
O tipo de jogo é determinado 
de um lado pela necessidade da 
criança, de outro pelo estádio do 
seu desenvolvimento orgânico. 
Pela Teoria da Transfiguração, 
o passado, o presente e o futu-
ro estabelecem uma determina-
da ordem de evolução nos jogos 
das crianças, evolução esta con-
dicionada aos seus interesses, 
que, em última análise, busca-
riam oportunidades para satis-
fazer ao instinto da transfigu-
ração. 
O jogo seria "menos uma forma 
específica da conduta, do que 
antes uma polarização da con-
duta geral, salvando-a entre as 
demais formas de comporta-
mento em têrmos de assimila-
ção e de acomodação". 
O estudo da infância se completaria com uma análise da "psicologia 
da idade escolar", onde a Psicologia Evolutiva examinaria a observação 
infantil, a psicologia da mentira da criança e a sua inteligência. 
ADOLESCÊNCIA 
Há pouco mais de meio século, apenas, é que os estudiosos de Psico-
logia Evolutiva passaram a admitir a existência de uma fase especial, com 
características próprias, entre a infância e a idade adulta. 
Adolescentes no recreio. 
Até então, os fenômenos da adolescência eram atribuídos à vida levada 
na infância, ou confundidos com as formas de conduta da idade adulta. 
Abandonaram-se, hoje em dia,'as tentativas para delimitação crono-
lógica desta etapa do desenvolvimento. 
É, na verdade, um estágio evolutivo importante, embora, como vimos, 
os dinamismos fundamentais da personalidade já estejam definidos. 
Etimològicamente, o têrmo adolescência vem de "adolescera", signifi-
cando a fase em que a gente cresce. É a fase da busca da maturidade e da 
conquista da autonomia, em que o jovem descobre gradativamente o qua-
dro completo de suas possibilidades e limitações. 
Todas as conclusões acerca da Psicologia da Adolescência assumem 
um caráter temporário e condicional, visto que, em cada caso, depende do 
sexo, dos fatôres de ordem física, cultural, étnicos, climáticos geográficos, 
e, ainda, da situação sócio-econômica do ambiente. 
A Adolescência Segundo os Psicólogos 
Conforme a palavra de William Stern, a adolescência é sobretudo "a 
época da descoberta dos valores e da diferenciação entre o valor do EU e 
os valores do mundo". 
A Adolescência Para os Educadores 
Para os educadores, a adolescência é a "fase da realização progressiva 
da personalidade através da escolha da existência". 
É a fase da aprendizagem do uso apropriado da liberdade, quer seja 
pelo discernimento ("insight"), quer seja através de ensaios e erros. 
Este aprendizado só é possível, em grande parte, graças a acertada 
ação de educadores pacientes e compreensivos. 
É a etapa que constitui um estágio de treinamento para as grandes 
opções da vida humana. 
Adolescência, Puberdade e Juventude 
Modernamente, tem-se adotado o critério estabelecido por Maurice 
Debesse, que atribui ao têrmo adolescência um significado genérico, ou 
utilizado quando se refere exclusivamente a dados psicológicos. Desta 
forma, Puberdade emprega-se sómente para assinalar aspectos biológicos 
resultantes das modificações fisiológicas do processo de maturação. A pa-
lavra Juventude, por fim, é utilizada, apenas, com referência aos aspectos 
socioculturais. 
Assim, dizemos "Juventude Transviada" e não "Puberdade Transvia-
da"; "Movimento Cultural em Prol da Juventude" e não "em Prol da 
Puberdade". 
Em resumo: 
Adolescência 
Puberdade 
Juventude 
usado com significação genérica ou referindo-se a da-
dos psicológicos 
usado para os aspectos biológicos 
usado para os aspectos socioculturais 
Dificuldades Encontradas no Estudo da Adolescência 
O estudo da adolescência é prejudicado por inúmerosfatôres, tais 
como: 
— Falta de uma delimitação precisa das características específicas 
desta fase evolutiva; 
— Impossibilidade de haver uma verdadeira intimidade entre adoles-
centes e adultos devida à timidez e desconfiança daqueles; 
— A problemática da "luta das gerações"; 
— Amnésia da Juventude. As reminiscências da adolescência diluem-
-se em nossa memória muito mais do que em outras etapas evolutivas. 
" A Hebelogia 
Os estudos sôbre a adolescência, segundo Maurice Debesse, constituem 
a especialização da Hebelogia ou Hebeologia. 
Métodos de investigação 
Os principais métodos de investigação da Hebelogia são: 
— Recordações da adolescência evocadas por adultos; 
— Questionários, redações e inquéritos; 
— Anamnese da adolescência; 
— Entrevistas; 
— Testes sociométricôs; 
— Testes projetivos; 
— Análise de cartas e diários; 
— Psicanálise etc. 
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Manifestações da Puberdade 
A puberdade é marcada biològicamente por manifestações inconfun 
díveis: 
— Aumento de altura e de peso; 
— Modificação da estrutura óssea; 
— Modificações na pressão arterial; 
— Modificações no metabolismo basal; 
— Aperfeiçoamento da coordenação motora; 
— Variações nas proporções das diferentes partes do corpo; 
— Funcionamento das glândulas sexuais; 
— Crescimento dos órgãos sexuais até as dimensões definitivas; 
— Aparecimento dos caracteres sexuais secundários. 
Influência de Fatôres da Esfera Social Sôbre os Adolescentes 
Principais influências que atuam sôbre os adolescentes: 
O meio socioinstitucional influi grandemente sôbre os adolescentes. 
Como exemplo, temos a ação da família, da escola, da Igreja e da comu-
nidade que neles atuam considerávelmente. 
As idéias, ideologias e doutrinas constituem as principais influências 
do meio sociocultural. 
A ação dos fatôres da natureza é um exemplo que podemos mencionar 
da influência do meio físico no adolescente. 
Principais problemas dos adolescentes 
Apresentamos abaixo os problemas dos adolescentes segundo o catálogo 
elaborado por Ruth Stang, em "The Role of the Teacher in Personnell 
Work", New York, Bureau Publications, Teacher College, Columbia Uni-
versity, 1953. 
a) Problemas de saúde e de desenvolvimento físico; 
b) Problemas escolares; 
c) Problemas econômicos; 
d) Problemas da esfera familiar; 
e) Problemas religiosos; 
f) Problemas morais e disciplinares; 
g) Dificuldades resultantes de problemas da personalidade do edu-
cando; 
h) Problemas sociais. 
O conhecimento da problemática da adolescência é de capital impor-
tância para o professor de Educação Física. 
Resta-nos, por fim, mencionar os objetivos evolutivos da adolescência, 
e o fazemos valendo-nos do "esquema dos objetivos evolutivos da adoles-
cência" de Luella Cole: 
a) A conquista da maturidade emocional; 
b) A fixação de interesses heterossexuais; 
c) A conquista da maturidade social; 
d) A emancipação do controle do lar; 
e) A conquista da maturidade intelectual; 
f) A seleção de uma ocupação profissional; 
g) O uso adequado das horas de lazer; 
h) A aquisição de uma filosofia da vida. 
CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS EXERCÍCIOS FÍSICOS PARA 
CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
Como dissemos, há nesta fase de crescimento um conjunto de trans-
formações corporais e psíquicas, um intenso movimento hormonal e situa-
ções biológicas que obrigam o educador a ter maiores cuidados na indica-
ção das atividades físicas. Entre outras, vale citar: 
a) Evitar traumatismos justa-articulares pelo perigo de serem atingi-
das as cartilagens epifisárias numa fase em que é acentuado o 
crescimento ósseo. 
b) Orientar os exercícios chamados miogênicos, a fim de não levar o 
adolescente à excessiva hipertrofia muscular, com prejuízo do cres-
cimento ósseo. 
c) Considerar a insegurança da coordenação neuromuscular, refletida 
na imprecisão dos movimentos dos membros, a fim de indicar os 
tipos de atividades apropriadas, impedindo os exercícios que soli-
citem intensamente o sistema nervoso e as provas desportivas emi-
nentemente técnicas. 
d) Com referência ao aparelho circulatório, a adolescência é a época 
em que o volume e o peso do coração, em relação ao peso corporal, 
são os menores de tôda a vida. Há disparidade entre o crescimento 
do coração e o calibre da árvore arterial, e o coração apresenta 
um estado de verdadeira dilatação fisiológica, pelo fato de a túnica 
do miocárdio não acompanhar paralelamente o aumento do volu-
me do órgão base. Deve ser evitado o trabalho físico intenso, de 
longa duração, pois que poderão acarretar uma irrigação periférica 
deficiente e prejudicial com todas as suas conseqüências. Evitar, 
também, as atividades de respiração retida, com bloqueio da caixa 
torácica, que exigem maior potência de contração do ventrículo 
direito para vencer a barreira pulmonar. 
e) Considerar que a adolescência é a fase anaplástica (Preyer) . Há 
necessidade de uma maior energia de crescimento, o que diminui-
rá, evidentemente, a energia disponível para as atividades suple-
mentares dentro da equação geral que regula as trocas metabólicas. 
En. Basal + En. de crescimento + En. disponível = En. total. 
Como é óbvio, devem ser impugnadas as atividades que provoquem 
grande dispêndio energético e com grande consumo e espoliação do 
armazenamento protéico. 
O DIMORFISMO SEXUAL DO EDUCANDO E SUAS INFLUÊNCIAS 
NAS PRÁTICAS FÍSICAS 
NA FECUNDAÇÃO 
Várias teorias procuram explicar a razão de ser do sexo. 
A teoria mais aceita é a Singâmica, que admite que o sexo é condicio-
nado no momento da fecundação, ou melhor, da anfimixia (fusão dos ga-
metas) . Dependeria, então, da natureza dos cromossomos existentes nos 
gametas. 
Na mulher, o par de cromossomos sexuais apresenta dois cromossomos 
iguais: XX — sua fórmula é 2(23) + XX. 
No homem, o par de cromossomos sexuais possui dois elementos di-
ferentes: o cromossomo X e um outro menor denominado Y. Formam, en-
tão, o par XY — sua fórmula é 2 (23) + XY. 
Por ocasião da mitose redutora da maturação, o homem produz dois 
tipos de espermatozóides: um com o cromossomo X, outro com o cro-
mossomo Y. 
Se o óvulo é fecundado pelo primeiro, forma-se um ôvo XX e o pro-
duto é do sexo feminino. 
Se, ao contrário, é fecundado pelo portador de Y, forma-se um ôvo 
XY e o produto é do sexo masculino. 
Até a sétima semana de vida intra-uterina, embora o sexo já esteja 
definido, não há ainda uma distinção morfológica do sexo. Existe apenas 
um esbôço embrionário composto de um tubérculo genital, um par de pre-
gas genitais, delimitando uma fenda ou abertura urogenital. 
Gradativamente, verifica-se a ovulação para o lado masculino ou femi-
nino. Se para o lado masculino, o tubérculo genital cresce, transforman-
do-se no pênis, as pregas de cada lado se unem, formando os escrotos 
que envolvem os testículos; se a ovulação é para o lado feminino, o tu-
bérculo genital mantém-se atrofiado com o nome de clitóris; a abertura 
urogenital divide-se para formar a uretra e a vagina e as pregas genitais 
transformam-se nos lábios, que delimitam a vulva. 
POR OCASIÃO DO NASCIMENTO 
O indivíduo ao nascer já apresenta diferenças evidentes não apenas 
na morfologia genital. Outras diferenças já se acentuam, tais como as 
diferenças evidentes entre as médias de peso e altura do recém-nascido. 
As do sexo masculino são maiores. 
DURANTE O CICLO VITAL 
Durante a evolução, inúmeras são as diferenças evidentes, cada vez 
mais acentuadas e caracterizadas. 
DIFERENÇAS NO APARELHO LOCOMOTOR 
(Sistema Ósseo, Muscular e Articular) 
Sistema Ósseo 
Tórax mais curto e mais estreito 
Membros superiores mais curtos 
Diâmetro biacromial menor que o bi-
trocanteriano (menor envergadura) 
Região l o m b a r da coluna vertebral 
maior 
Ângulo sacrovertebral mais proeminen-
te (condicionando maior propensão à 
lordose) 
Cintura pélvica —quadris mais largos, 
diâmetro bitrocanteriano maior 
Membros inferiores mais curtos 
Conseqüências 
Menores possibilidades 
nos arremessos 
Cuidados especiais nas 
indicações dos exercícios 
Melhores condições de 
equilíbrio — maiores 
facilidades nos exercícios 
na trave 
Genu-valgum fisiológico em virtude da 
maior largura da bacia e do diâmetro 
bitrocanteriano provocando uma con-
vergência inferior dos fêmures 
Sistema Muscular 
Os músculos na mulher constituem 36% 
do peso, no homem 42% do peso — onde 
há mais massa, mais força, mais ação. 
Menor força manual 
Menor velocidade de contração 
Menor tônus muscular 
Músculos abdominais e do períneo (soa-
lho do abdômen) 
Panículo a d i p o s o mais desenvolvido 
(28,2% na mulher, contra 18,27o no 
homem) 
Sistema Articular 
Ligamentos mais frágeis 
Menor rendimento e me-
nor capacidade na marcha 
e na corrida 
Conseqüências 
Menores possibilidades em 
algumas provas atléticas 
Adaptação do peso, do dis-
co e do dardo 
Resultados inferiores nas 
provas atléticas (Eleonor 
Metheny) 
Cuidados especiais na es-
colha dos exercícios, bus-
cando uma hipertrofia sem 
hipertonia 
Possibilidades mais próxi-
mas das do homem na na-
tação 
Conseqüências 
Maior cuidado na escolha 
dos exercícios e das moda-
lidades 
DIFERENÇAS NO SISTEMA NERVOSO 
Principais Diferenças 
Reações psicomotoras diferentes das do 
homem 
Comparação proporcional entre o peso 
do cerebelo e o peso total do encéfalo 
— mulher com vantagem proporcional, 
pois o cerebelo é o órgão coordenador 
dos movimentos voluntários 
Conseqüências 
Predomínio da mulher nos 
exercícios de equilíbrio 
(trave, alguns exercícios 
acrobáticos etc.) 
DIFERENÇAS NO APARELHO CIRCULATÓRIO 
Principais Diferenças 
Orifícios cardíacos menores 
Menor peso e volume do coração 
Menor volume sistólico (na mulher 45 
a 50 cc e no homem 75 a 80 cc) 
Conseqüências 
Maiores cuidados na esco-
lha dos exercícios e na in-
dicação de modalidades 
desportivas 
Menores possibilidades nos 
trabalhos físicos 
Êste estudo sôbre o dimorfismo sexual e suas influências nas práticas 
físicas feito pelo Dr. Waldemar Areno é a principal justificativa para a 
necessidade de indicar atividades físicas diferentes ao sexo feminino. O 
conhecimento do educando, tanto em seus aspectos gerais quanto em seus 
aspectos particulares é uma das tônicas que orientam a moderna Didá-
tica de Educação Física. 
UNIDADE III 
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
REQUISITOS BÁSICOS DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
— Cultura Geral 
— Preparo Especializado em Educação Física e Habilitação Profissional 
— Vocação Para o Magistério de Educação Física 
— Aptidões Específicas Para o Trabalho Docente 
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E O GRUPO PROFISSIONAL 
PEDAGÓGICO 
— Formação do Grupo Profissional Pedagógico 
— O Fenômeno da Estratificação do Grupo Profissional Pedagógico 
— O Professor de Educação Física e o Fenômeno da Estratificação 
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E O FENÔMENO DA 
LIDERANÇA 
— Funções da Liderança 
— Tipos de Líderes 
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A ÉTICA PROFISSIONAL 
— Conceito de Ética 
— A Ética Profissional 
— Relações do Professor 
O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
A Didática Tradicional considerava o professor como fator pessoal 
preponderante no processo educativo. A Didática Moderna, ao contrário, 
considera o educando como centro de tôda a obra educacional. O educador 
passa a atuar como elemento incentivador, orientador e controlador das 
atividades formativas e informativas dos alunos, auxiliando-os e esclare-
cendo-os, programando as atividades e assessorando a respectiva execução. 
À substituição do professor pelo aluno, como centro do processo edu-
cativo, John Dewey chamou com propriedade de "revolução copérnica", 
em Educação. 
John Dewey 
Esta nova posição, ao contrário do que pode à primeira vista parecer, 
passou a exigir dos mestres cada vez maiores responsabilidades. Assume 
o educador importância capital em qualquer sistema ou planejamento 
educacional, consideradas as suas responsabilidades para com o educando 
e a sociedade. 
O professor especializado em Educação Física, autêntico educador, 
considera antes de tudo a personalidade do aluno. Torna-se o elemento 
de ligação entre a escola e a comunidade, desenvolvendo uma dinâmica 
entre esses grupos sociais. 
REQUISITOS BÁSICOS DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
São em número de cinco os requisitos básicos que deve possuir o do-
cente especializado em Educação Física: 
Êstes cinco requisitos nem sempre se encontram num mesmo membro 
do magistério ou num candidato ao correspondente mister. É bastante 
comum encontrar indivíduos que possuem vocação autêntica sem que, no 
entanto, possuam as aptidões específicas para o exercício do magistério. 
Outros indivíduos há, também, que, embora possuidores de verdadeira 
vocação, com aptidões específicas para a profissão e de bom preparo 
especializado, carecem de apreciável cultura geral, o que lhes dificulta a 
perfeita comunicação com as crianças e adolescentes de hoje o muitas 
vezes lhes impede o pleno sucesso profissional. 
É tese totalmente superada que o professor, mesmo o altamente es-
pecializado como o é o de Educação Física, não necessita de sólida cultura 
geral. O autêntico professor de Educação Física é necessáriamente um 
estudioso, leitor assíduo, ávido de novos conhecimentos, com entusiasmo 
pelos mais recentes progressos de cultura, da ciência e das artes, jamais 
se limitando aos estreitos quadros da especialização de sua formação 
profissional. 
Cumpre-nos, ainda, fazer menção aos indivíduos que, embora dotados 
de vocação inequívoca e possuidores de aptidões específicas para o exer-
cício do magistério altamente desenvolvidas, e que reúnem muitas vezes 
um número regular de informações sôbre Educação Física, não possuem 
a habilitação profissional correspondente à profissão. Formam estes in-
divíduos, no campo da Educação Física, a legião dos "curiosos", como a 
dos "rábulas" na Advocacia e os "práticos" em Farmácia, Odontologia e 
Agronomia. Com a criação das escolas de Educação Física em nível supe-
rior, não mais é possível admitir-se elementos "autodidatas" exercendo a 
profissão sem a devida habilitação profissional. O impedimento do exer-
cício ilegal da profissão estimularia muitos dêsses elementos a realizarem 
seus cursos regulares nas escolas superiores de Educação Física, para 
obterem a indispensável habilitação profissional. 
VOCAÇÃO PARA O MAGISTÉRIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 
Kerschensteiner, notável pedagogo alemão, em seu livro "A Alma do 
Educador", afirma que "se existe alguma profissão que exija vocação 
profunda é a do mestre e educador, e que deve ser mestre unicamente 
aquêle para quem esta profissão supõe o cumprimento de seu desígnio". 
A atuação abnegada, as contrariedades surtas quando da busca do ideal, 
as ingratidões sofridas, os baixos honorários e o labor oculto e silencioso 
exigem no mestre a existência de uma verdadeira vocação. 
A vocação gera-se no cerne da personalidade do homem. Poderíamos 
conceituá-la como: "a propensão fundamental do espírito, sua inclinação 
geral predominante para um determinado tipo de vida e de atividade, no 
qual encontrará plena satisfação e melhores possibilidades de auto-reali-
zação". 
Ela revela-se através de um quádruplo aspecto: a personalidade do 
indivíduo, seus interesses, suas atitudes em face dos valores e ideais da 
sociedade em que vive e a fé no poder da Educação. 
A personalidade individual mais coerente com a vocação docente 
caracteriza-se pelo temperamento áltero-cêntrico, forte equilíbrio emo-
cional, bom índice de inteligência, boa dose de sociabilidade, facilidade de 
comunicação e, sobretudo, idealismo. 
Osinteresses individuais da verdadeira vocação para o magistério 
manifestam-se pelas coisas do ensino, pela obra educativa, na aspiração 
de um contínuo aperfeiçoamento cultural, na atração, simpatia e devoção 
por crianças e adolescentes, pelo desejo de auxilia-los em suas lutas, na 
resolução de seus problemas e na consecução de seus anseios, pelo in-
teresse específico do desenvolvimento total do educando, pelo estudo e 
conhecimento dos objetivos da Educação Física na sociedade moderna. 
As atitudes do educador em face dos ideais e valores da sociedade em 
que vivemos, reavaliadas a cada passo à luz dos novos estudos da Socio-
logia Educacional e da Filosofia da Educação, a fé no poder da Educação 
de conduzir o homem para obter uma vida melhor e até mesmo a alcançar 
a felicidade, fazem do verdadeiro professor de Educação Física um crente 
no humanismo, um otimista em relação à utilidade de seu próprio tra-
balho. 
APTIDÕES ESPECÍFICAS PARA O TRABALHO DOCENTE 
"As aptidões específicas são atributos ou qualidades pessoais que ex-
primem certa disposição natural ou potencial para um determinado tipo 
de atividade ou trabalho." 
Estes atributos da personalidade ou qualidades individuais quase sem-
pre completam o quadro da vocação. A capacidade profissional do indiví-
duo depende em grande parte da consonância existente entre vocação e 
aptidões específicas. 
As qualidades indispensáveis ao professor de Educação Física resul-
tam de uma soma de disposições psicofísicas, dentre as quais se destacam: 
— saúde e normalidade física; 
— postura correta; 
— voz audível, firme, agradável e convincente, dicção perfeita; 
-— domínio do vernáculo — linguagem fluente, simples e objetiva; 
— boa visão e audição; 
— gesticulação moderada; 
— execução regular; 
— higidez mental; 
— bom humor; 
•— inteligência; 
— boa memória; 
— atenção; 
— gosto pelas atividades físicas; 
— naturalidade e desembaraço; 
— imaginação, iniciativa, firmeza e perseverança; 
— habilidade em criar e conservar boas relações humanas com seus 
alunos. 
Os estudiosos da Didática Hodierna concordam em que as aptidões 
específicas acima mencionadas são as principais para os professôres de 
Educação Física. 
Desenvolveremos, aqui, portanto, apenas argumentação sôbre uma 
delas: — a execução. 
A evolução do conceito de Educação Física e a posição desta "prática 
educativa" nos currículos das escolas modernas tornaram ultrapassada 
a velha tese de que o professor de Educação Física deve ser primordial-
mente um excelente executante, dando assim mais importância ao do-
mínio das habilidades físicas. Atualmente, dá-se mais importância à sua 
formação didático-pedagógica, tornando-se, portanto, mais necessário pre-
parar o professor para que melhor possa compreender o educando, de 
forma a lidar melhor com seus discípulos (individualmente ou em grupo), 
e para que busque a formação integral do aluno e não apenas aspectos de 
seu desenvolvimento, como o físico, por exemplo. 
Isto não significa que o docente abandone por completo o aspecto 
"execução". Basta apenas que êle seja capaz de demonstrar com correção 
as atividades, movimentações ou exercícios que propuser a seus alunos. 
É mais importante, à luz da Pedagogia Moderna, que o professor seja 
mais um educador do que um exímio executante. 
PREPARO ESPECIALIZADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA E 
HABILITAÇÃO PROFISSIONAL 
Até a criação das Faculdades de Filosofia e das Escolas Superiores de 
Educação Física, todo o ensino médio de nosso País estava confiado a auto-
didatas, alguns dos quais, diga-se com reverência, autênticas revelações 
de capacidade docente. A vocação e as aptidões específicas para o ma-
gistério, juntas ao esfôrço pessoal e ao estudo da especialidade, neles 
supriam as lacunas oriundas da falta de uma formação sistemática para 
o professorado. 
Entretanto, muitos concluem precipitadamente que um curso sistemá-
tico de formação numa escola superior de Educação Física bastaria para 
tornar qualquer candidato num protótipo do professor ideal. Ora, o curso 
de licenciatura de Educação Física, que assegura preparo especializado 
e a respectiva habilitação profissional, supõe encontrar candidatos dota-
dos dêsses pré-requisitos da vocação, das aptidões específicas e da cultura 
geral, sem os quais qualquer formação profissional, por melhor que seja, 
se tornará infecunda. 
René Hubert, em seu "Traité de Pedagogie", exemplifica de forma 
insofismável: "Um químico pode limitar seu horizonte ao conhecimento 
da ciência química. Mas um professor de Química não pode fazer o mes-
mo: o que êste tem de manejar não são apenas provetas e alambiques, 
mas consciências humanas em formação; a sua missão não é a de formar 
químicos, mas homens que conheçam a Química." 
Assim, vemos quão importante é conhecer bem a nossa especialida-
de — Educação Física —, mas também o é conhecer o educando cuja 
aprendizagem vamos dirigir e as técnicas mais apropriadas para bem 
orientá-lo, através de esmerada e conscienciosa habilitação profissional. 
Quando a Didática fala em habilitação profissional, quer referir-se "ao 
tirocínio teórico e prático das disciplinas que compõem o quadro da mo-
derna Pedagogia". 
As disciplinas pedagógicas comparar-se-iam à estratégia e à tática, 
para o militar, às ciências físicas e naturais, para o físico, às ciências jurí-
dicas e sociais, para o advogado. 
São elas que lhes garantem o domínio das técnicas mais recomendadas 
para a sua atuação prática, que lhes asseguram a possibilidade de encon-
trar as soluções para os problemas de nossa profissão, que desenvolvem o 
tino profissional indispensável ao bom êxito do trabalho docente. 
Na habilitação profissional para o magistério da Educação Física dis-
tinguimos três aspectos: 
— fundamentação pedagógica, onde o candidato desenvolveria um es-
tudo mais ou menos profundo de Filosofia da Educação, de Sociologia 
Educacional, de História da Educação Física, de Administração Escolar, 
de Psicologia Educacional e de Psicologia Aplicada à Educação Física; 
— fundamentação em assuntos biomédicos, onde o candidato travaria 
contato com a Anatomia, a Fisiologia e Nutrição, a Cinesiologia, a Fisio-
terapia e a Traumatologia e os Socorros de Urgência; 
— habilitação técnica, em que o aluno, já familiarizado com a pro-
blemática educacional e com sólidos conhecimentos de assuntos biomédi-
cos, é iniciado no domínio das técnicas fundamentais da Ginástica e dos 
Desportos. 
Os princípios, as diretrizes, as normas e os critérios práticos de 
ação, os programas, os métodos e os procedimentos didáticos são estudados, 
debatidos, experimentados e aplicados pelo aluno sob a orientação dos 
professôres especializados, já habilitados. A Didática Geral e a Didática 
de Educação Física tomam, então, um papel de destaque até que surge 
a etapa derradeira da integração do candidato na carreira do magistério 
através da "prática de ensino". 
A Educação Física passa, assim, do plano teórico para o plano concreto 
de problemas práticos e imediatos a serem resolvidos pela ação direta 
do candidato através de seu discernimento e de seus conhecimentos es-
pecíficos. 
CULTURA GERAL 
A escola moderna coloca o professor de Educação Física frente a crian-
ças e adolescentes que estão de posse, através dos mais diversos meios de 
comunicação — televisão, cinema, rádio, revistas, jornais etc. —, de um 
sem-número de informações acerca das mais novas conquistas científicas, 
culturais e artísticas. O mestre, nos seus diálogos com os jovens, é muitas 
vezes interpelado sôbre acontecimentos de repercussão nacional ou mun-
dial. Faz-se necessário, pois, que êle se encontre preparado para satisfazer, 
ainda que em linhas gerais, a curiosidade e o interesse dos alunos. 
Com isso não se pretende que o professor seja capaz de dar profundas 
explicações sôbre, por exemplo, astronáutica,

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