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ANOTAÇÕES FILHO, João Roberto M. Movimento Estudantil e Ditadura Militar.

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MARTINS FILHO, João Roberto. Movimento Estudantil e Ditadura Militar: 1964-1968. Campinas, SP: Papirus, 1987.
Leitura Anotada
Dayane Soares da SILVA.
CAPÍTULO I
PRELIMINARES TEÓRICAS
O texto indaga a participação do movimento estudantil universitário no processo político brasileiro no período de 1964 a 1968.
“Antes de 1938, data efetiva de fundação da UNE, não se pode rigorosamente falar de movimento estudantil no país” (p.16),havia entidades como a União Democrática Estudantil, a Frente Democrática de Mocidade e a Federação Vermelha dos Estudantes, que organizavam setores estudantis localizados sem se expandir a nível nacional, assim “antes da criação da UNE ´possível falar da participação circunstancial dos estudantes, mas não ainda de um movimento unificado em torno de alguns objetivos comuns” (Idem).
Dispersão e caos na atuação política dos universitários brasileiros.
“[...] há fortes indícios de que, com frequência, os estudantes da Primeira República foram portadores de orientações antipopulares e elitistas” (Idem).
“[...] é impossível, atribuir à participação dos estudantes um caráter genérico e imutável, conferindo-lhe conteúdos objetivos e permanentes” (pág. 17).
“Do ponto de vista deste trabalho, cabe criticar [...] a tendência a se perder, dessa maneira, o caráter concreto e específico das mobilizações estudantis em momentos históricos diversos.
Autoimagem e Idealização
“É preciso considerar, inicialmente, a proposta de que os estudantes universitários constituem uma categorial social [...]. Todavia, no caso dos estudantes, a relação que eles mantém com o aparelho escolar e as condições particulares de sua atuação política não permitem confundi-los com as classes em que se originam” (p.20).
“Todas dessas noções tem sido, em geral, deixada de lado pelos estudiosos da participação política dos estudantes no Brasil. Nesse sentido, eles raramente conseguem visualizar o movimento universitário como manifestação particular e específica de certos interesses de classe, que devem ser desvendados pela análise. Reforçam, dessa maneira, a “mitologia estudantil”, ao invés de superá-la” (Idem).
Movimento Estudantil e Conteúdo de Classe
“[...] é preciso superar a ideia de que o radicalismo estudantil, que, de quando em quando, marca sua presença em nossa história deva ter necessariamente um caráter “revolucionário”, como tem afirmado diversos autores. Com essa preocupação, procurarei voltar o foco do raciocínio par a relação entre as aspirações da classe média, no setor social majoritário na universidade, e o radicalismo estudantil” (p.23).
A predominância da classe média no ensino superior, logo no movimento estudantil universitário, até a década de sessenta onde as camadas superiores cedem lugar as camadas médias da sociedade.
“Para se transformar em universitário, o jovem mantém com sua família vínculos que não se esgotam na simples dependência econômica. A contrapartida dos laços de manutenção são os vínculos de retribuição e de compromisso com o projeto familiar que contribui ao jovem estudante o papel de continuador da história da família. O objetivo último desse processo será a transformação do jovem em agente da ascensão social da família e, em sentido mais amplo, da classe social da qual se origina” (p.24).
“[...] Para Foracchi, ao complementar sua manutenção pelo trabalho, o estudante deixa de estar vinculado à família, quer dizer, nega-se como parte da família para integrar-se ao sistema como agente de classe” (p. 25).
“O trabalho estudantil, complementar ao estudo e realizado em tempo parcial, não pode ser, portanto, equiparado ao trabalho operário, daí se inferindo a possibilidade de formação de uma consciência “revolucionária” (Idem).
O sistema escolar, segundo André Gorz, é o instrumento chave da hierarquização social.
“[...] a complexidade da condição estudantil não permite a sua definição apriorística como potencialmente “revolucionária”; é necessário considerar, como já salientou Rossana Rossanda, a “especificidade de que se reveste, na organização capitalista do trabalho, a formação de uma força de trabalho destinada a ter um papel de reprodução da hierarquia social. É sob seu duplo aspecto de participante de um mecanismo de exploração e objeto de um mecanismo de proletarização que se situa a natureza real do estudante” (p.26).
O Estudante como um “Vir-a-Ser”
“[...] como explicar o engajamento radical do estudante no quadro de sua vinculação de classe? ” [...] enquanto categorial social, o estudante tem no traço da transitoriedade uma de suas principais características. Pode ser definido como um “vir-a-ser”, um agente social essencialmente voltado para a realização futura de uma condição definitiva: a profissão [...] Surgem, nesse processo, os requisitos para que o jovem se engaje nas reinvindicações que visam à mudança do padrão de carreira” (p.26-27).
“Através das reinvindicações voltadas para a carreira, criam-se as condições para que o jovem visualize os limites sociais colocados à sua ação, compreendendo-os como limites sociais colocados à sua ação, compreendendo-os como limitações de classe” (p.27).
“[...] abertura aos interesses e influências de outros grupos sociais” (p.28).
Segundo Décio Saes (“Classe médias e Políticas de classe...”, p. 101, apud. MATINS FILHO, 1987, p.30): o possível alinhamento estudantil com a classe trabalhadora “não significa a sua fusão com a classe operária, já que os objetivos políticos reais desses grupos se acomodam a limites ideológicos (...) que não são os da luta política da classe operária”.
Movimento dos Estudantes e Análise de Conjuntura
“Faz-se necessário considerar, além das práticas de massa, a especificidade das práticas e das orientações ideológicas que se configuram no nível da direção do movimento, ou, para utilizar a terminológica cunhada pelos próprios líderes estudantis, no plano da “vanguarda” (p.30).
“De tal modo, no quadro teórico acima definido, que configura a situação de classe como o fator fundamental na definição do caráter social da participação estudantil, o movimento universitário define-se como uma noção sobretudo de prática. Proponho que sua análise só pode ser realizada através da observação de sua intervenção em conjunturas historicamente determinadas. Só assim parece possível dar conta de suas múltiplas determinações” (p. 31).
CAPÍTULO II
O MOVIMENTO UNIVERSITÁRIO NA FASE FINAL DO POPULISMO
“[...] o movimento estudantil dos pós 64 [...] encontra suas raízes na participação dos estudantes nas lutas sociais da fase final do populismo. Por esse motivo torna-se impossível entender a política do Estado Militar em relação a Universidade e aos jovens estudantes sem uma breve volta à atuação da UNE, ao lado das forças anti-imperialistas e populares, no tenso período que precedeu o golpe de 1964” (p. 33).
O autor coloca a importância de verificar os precedentes do movimento estudantil de maneira que este tenha um sentido de continuidade histórica.
Importância do entendimento das orientações políticas que guiaram a intervenção da UNE nas batalhas sociais da última fase do populismo.
“Por esses e outros fatores, a análise da participação política dos universitários na fase de implantação da ditadura militar, exige a retomada dos processos que afetaram mais diretamente a Universidade e o movimento estudantil na década de cinquenta e no início dos anos 60” (p. 33).
A Expansão do Ensino Superior
Radicalização do movimento estudantil no início dos 60 ligado a abertura da Universidade aos setores sociais médios expressa na expansão das vagas, com o início do segundo governo de Vargas.
“[...] os sucessivos governos populistas levaram adiante uma política educacional “integradora”, através de uma série de medidas que possibilitaram à classe média o ingresso maciço nas escolas superiores; tal política fez crescer as matrículas nesse nível de ensino numa proporção bastante elevado que as dos graus primário e secundário” (p. 34).
“[...] de que modo a intensificação do processo de industrializaçãoe monopolização da economia do país, principalmente a partir de 1956, teria consequências importantes para a Universidade brasileira”? (p.34).
Classe Média e Populismo
Classe média liberal faz suas orientações presentes no movimento estudantil com força na década de 50 e minoritariamente na década de 60.
Concepções liberais elitistas > discussão sobre a abertura de oportunidades educacionais
A UNE dos anos 50
Período d a hegemonia liberal elitista da UNE (1950/1 – 1956.
Ascenso do liberalismo antipopular na UNE.
Manifestações antipopulares estudantis já eram anteriores a 1950 (participação dos estudantes na “Revolução de 1932” e os ataques a organizações tenentistas depois de 1930).
“[...] antes de 1956, não se expressa ainda no nível da UNE um movimento de insatisfação das bases estudantis que pudesse leva-las a apoiar correntes nacionalistas e de esquerda. Desde 1955, no entanto, uma frente única de setores nacionalistas, comunistas, socialistas, cristãos e trabalhistas retoma a União Metropolitana dos Estudantes do Rio de Janeiro (UME), uma das entidades regionais mais importantes do movimento universitário brasileiro. A partir dessa conquista esse bloco de forças alcança, um ano depois, a direção da UNE, derrotando os liberais que doravante se apresentarão como “oposição”” (p.41).
- Primeiros sinais de uma radicalização do meio estudantil.
“Recuperação democrática”.
Tempos de JUC
Processo gradual de politização do meio universitário nos 50.
Expansão e politização da militância católica no meio universitário.
“[...] Progressiva tomada dos setores da Juventude Universitária Católica (JUC) em defesa de reformas na universidade e na ordem social brasileira” (p. 43).
Nos 60 a esquerda cristã torna-se corrente hegemônica nas principais entidades.
1961-1962: A Luta Pela Reforma
“No quaro da gradual radicalização dos grandes embates políticos que rapidamente se configurava no início da década de sessenta, a esquerda cristã, melhor do que qualquer outra corrente, soube apoderar-se da questão da Reforma Universitária para potencializar sua influência no interior das faculdades” (p. 52).
Objetivo de democratização e modernização da Universidade.
A JUC buscava disputar com o PCB a frente de luta que prometia alcançar grandes respaldos de massas.
“[...] a esquerda jucista iria tornar-se porta voz das visíveis aspirações do meio estudantil de classe média a uma universidade liberta de suas características autoritárias e obsoletas, adaptada às novas e prementes necessidades do mercado de trabalho, uma escola onde os estudantes tivessem voz e participação ativas” (p.52-53).
Seminários Nacional de Reforma Universitária
“ [...] a UNE definiu, após o seminário de março de 1962, que a luta mais imediata deveria voltar-se para a conquista da regulamentação da participação estudantil nos órgãos de direção da Universidade, a partir do que seria possível conseguir as outras mudanças reivindicadas” (p.56).
A greve decretada pela UNE nos fins de maio [...] representou o apogeu do apoio de massa à UNE e às reivindicações que ela levantava, na fase anterior ao golpe de 1964” (p. 57).
“[...] a greve de 1962 deve ser analisada como uma das manifestações mais características da reivindicação do meio estudantil de classe média ao livre acesso à Universidade e à participação direta na definição e ampliação dos direitos adquiridos. O fracasso do movimento inauguraria, ao meu ver, uma nova fase na relação da categoria universitária com a vanguarda política e com a União Nacional dos Estudantes” (p. 58).
1963-1964: “Vanguarda” Estudantil e Radicalização Popular
O autor traça alguns traços do período visando uma melhor compreensão da participação específica dos jovens universitários.
“A partir de agosto de 1962, a dinâmica do movimento se deslocaria gradativamente para as atividades de seu setor mais politizado, sob influência direta das diretrizes da “vanguarda”. No plano geral, tal redirecionamento foi incentivado pela intensificação das lutas sociais mais amplas, no seio das quais a UNE as entidades regionais passaram a desempenhar papel ativo” (p. 59).
A Ação Popular: formada em 1963.
“Encerrada a greve de 1962, o movimento estudantil presenciava a formação de duas grandes posições no nível de sua direção – enquanto os militantes do PCB passavam a defender a concentração nas “lutas específicas”, a corrente filiada à Ação Popular “empolgava-se com a tese de que a luta pela reforma universitária estaria sendo travada mais fora da universidade (...) do que dentro dela”” (p. 60).
“[...] a UNE da Ação Popular abandonou as batalhas pela reforma universitária e engajou-se integralmente nas lutas da frente anti-imperialista e popular, passando a figurar como uma parceira obrigatória do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) em todas as manifestações e movimentos reivindicatórios do período. Apoia ativamente a campanha pelo retorno do presidencialismo, solidariza-se com as greves convocadas pelos sindicatos [...] Após o recuou de Goulart na questão do Plano Trienal, a UNE concentra suas forças na pressão pelas “Reformas-Já”, na mesma barricada das outras forças populares” (p.62).
“Tanto as organizações paramilitares da direita como os governadores que se opunham ao movimento das reformas de base voltariam suas baterias contra a entidade nacional estudantil sempre que houvesse ocasião” (Idem).
Enfim, houve um refluxo do movimento estudantil de massa após a extensa greve de 1962, radicalização das posições da vanguarda universitária, no contexto da intensificação da luta de classes.
A UNE e os Estudantes e o Golpe
As camadas médias urbanas eram os setores sociais que forneciam a principal base de recrutamento do meio estudantil.
“[...] pode-se atribuir à parte desse processo à reativação da antiga aliança política entre a alta classe média e a burguesia comercial, na conjuntura da crise final do populismo” (p. 66).
“[...] o meio estudantil universitário não esteve imune a diversidade de orientações de seu meio social de origem” (p. 67).
“A expressão mais conhecida dessa tendência foi a participação de grupos inconformados de estudantes nas tentativas frustradas de resistir ao golpe, em diversas cidades, os universitários reuniram-se “à espera de armas” para organizar-se contra o movimento militar” (p. 67-68).
CAPÍTULO III
O MOVIMENTO ESTUDANTIL EM COMPASSO DE DITADURA
“[...] o golpe de Estado de 1964 representou a resposta do conjunto das classes dominantes brasileiras ao processo de aguçamento das lutas populares, principalmente a partir dos anos 60. Ao apelar à intervenção dos militares [...] aqueles setores expressaram em âmbito mais geral a rejeição do próprio populismo enquanto política de ordem e desenvolvimento [...] o golpe político-militar define-se inicialmente, como uma contrarrevolução cujo objetivo [...] foi conter e sufocar os instrumentos de pressão e de defesa que as classes trabalhadoras tinham construído nos anos “democráticos” (p. 75).
No “[...] contexto social de progressivo domínio militar sobre o aparelho de Estado, de repressão às organizações populares e definição de uma política de desenvolvimento favorável ao grande capital monopolista [...] que o movimento universitário retomou suas atividades políticas no pós golpe, voltando-se paulatinamente para a luta antiditatorial e procurando retomar algumas bandeiras que motivaram sua mobilização da fase precedente” (p. 77).
Um fator “[...] de fundamental relevância pesaria favoravelmente para a retomada das lutas dos estudantes: trata-se de sua autonomia organizativa frente ao Estado, que impediu o desmantelamento do sindicalismo estudantil no mesmo nível ocorrido com os sindicatos operários” (p. 78).
Classe Média e Estado Militar
“Qual a posição da classe média diante da militarização do Estado e da política autoritária de desenvolvimento”? (p. 78).
“[...] uma vez eliminadas as motivações mais imediatas de seu apoio à intervenção militar – com a contenção da agitação popular e o afastamento da ameaça do “comunismo” eda “república sindical” -, a alta classe média iria retomar suas aspirações a um regime liberal-democrático “puro”, livre das características “de massa” da democracia populista, no qual seria preservado o jogo político-partidário e mantidas as instituições do liberalismo parlamentar” (p. 79), expectativas contrariadas pela política autoritária “o AI-2 destruiu, ao invés de “depurar”, o sistema partidário, incluindo-se aí a própria União Democrática Nacional, principal porta-voz do liberalismo elitista” (Idem).
“Com relação às baixas camadas médias, como salientara já um analista de seu comportamento político “o Estado militar não só as empobreceu, mas por suas práticas e sua estrutura, também retirou-lhes a esperança [...] por um Estado populista, de concretização do progresso e bem-estar social” (p. 80).
Logo, “o apoio às políticas autoritárias iria se restinguir apenas a um setor ainda minoritário da classe média: a “nova classe média” (p. 81).
Classe média passa por uma “exclusão política”, “o que permitiu definir seu apoio à destruição do populismo como um suicídio político” (Idem).
Ditadura Militar e Participação Estudantil
“Terror cultural” após o golpe, contra os estudantes, escolas superiores e a instituição universitária em geral, principalmente às escolas mais politizadas.
Começam ataques diretos a estruturas físicas de órgãos estudantis politizados, como a FFLCH, ao prédio da UNE e a Faculdade Nacional de Filosofia.
O meio estudantil e a instituição universitária passam a ser inqueridos.
“[...] o caráter arcaico e obscurantista de tais ataques e os protestos que começaram a aparecer na imprensa colaboraram decisivamente para superar a atitude de paralisia, que parece ter caracterizado setores significativos do meio estudantil, na conjuntura do imediato pré-golpe [...] logo nos primeiros meses, o regime deparou-se com uma oposição difusa e não articulada no meio estudantil, que se aprofundaria depois com a luta contra a “Lei Suplicy”” (p. 83).
“A repressão à Universidade e às organizações estudantis no imediato pós-golpe deve ser entendida como um capítulo de ofensiva geral das forças golpistas contra o movimento popular e os meios sociais onde a política populista encontraria mais respaldo” (Idem).
“[...] apenas dois meses após a derrubada de Goulart, o governo militar já dispunha de um projeto de lei que previa a extinção da UNE e das UEEs, e sua substituição por organismos de representação diretamente subordinados ao Estado” (p. 84) – lei Suplicy.
Lei de segurança nacional; DSN
“No interior do “público externo”, os estudantes apareciam como um setor social que particularmente sensível à guerra psicológica, no enfoque da DSN” (p. 86).
“O movimento estudantil foi visto, desde o início, como uma área potencial de “subversão”” (Idem).
“A “Lei Suplicy” visaria, assim, estabelecer uma “contraofensiva preventiva” na Universidade, antecipando-se à retomada das atividades políticas estudantis, através de suas entidades” (p. 87).
“[...] o objetivo central da “Lei Suplicy” passou a ser a anulação da autonomia da representação estudantil” (Idem), pois era necessária tal autonomia para as mobilizações políticas ganharem força.
“No lugar da UNE e das UEEs, o governo militar propunha a construção de uma nova estrutura de representação: os diretórios estudantis em cada escola substituiriam os centros acadêmicos (entidades civis, até então); acima deles, ficariam os Diretórios Estaduais de Estudantes (DEEs), eleitos por voto indireto pelos representantes dos primeiros; os vários DEEs elegeria, também indiretamente, a cúpula do Diretório Nacional dos Estudantes (DNE), cuja sede seria em Brasília” (p. 87-88).
1966: proibição do funcionamento da UNE também como associação civil. Proibição que posteriormente se estendeu a qualquer entidade estudantil com a publicação do chamado “Decreto Aragão”.
“A ineficácia da tentativa inicial de substituir a UNE pelo DNE reflete-se aí na decisão de anular a existência desse último e procurar substituí-lo por uma entidade denominada Conferência Nacional dos Estudantes, que também não alcançará sobrevivência efetiva” (p. 89).
Política Autoritária e Resistência
“[...] logo após do golpe de 1964, as medidas do governo militar no sentido de controlar a representação estudantil encontraram oposição também entre os porta-vozes da orientação liberal antipopular, que se manifestaram nitidamente contrários à perda da autonomia das entidades e à sua vinculação ao Estado” (p. 90).
“[...] o liberalismo elitista não se colocava exatamente contra a UNE, mas contra o domínio da UNE pelas correntes de esquerda” (Idem), buscava-se então por essa elite a “renovação” da entidade e não sua extinção.
União Metropolitana dos Estudantes (UME).
[...] é possível afirmar que a sustentação da política autoritária de destruição da UNE e da representação estudantil contou, no meio universitário, apenas com a adesão extremamente minoritária de algumas tendências, que parecem representar os setores burgueses do estudantado” (p. 94)
Existência de uma orientação antipopular ativa no meio estudantil do pós-64.
A Política Repressiva
“A luta contra a repressão policial promovida pela ditadura militar foi o aspecto central das manifestações universitárias de 1966” (p. 96).
AI de 1965 como o início da primeira fase de aprofundamento do processo de militarização do Estado. “Golpe dentro do golpe”.
“A intensificação da militarização fez-se acompanhar do reforçamento da política de Segurança Nacional” (p. 97).
“Como procurarei mostrar em seguida, o movimento estudantil preencheu em 1966 a maior parte das condições que o configurariam como uma “ameaça” à Segurança Interna, justificando-se, na ótima da DSN, o emprego da coerção para eliminá-lo” (Idem).
“[...] a UNE mostrou-se capaz de sobreviver aos objetivos da “Lei Suplicy”, realizando seu último congresso legal em julho de 1965 e, a partir daí desenvolvendo intensa atividade clandestina” (p. 98).
“A sobrevivência da autonomia organizativa do movimento estudantil e a permanência da UNE, mesmo na clandestinidade, marcaram o fracasso das expectativas autoritárias de controle do meio estudantil” (Idem).
[...] na UNE, o congresso de julho de 1965 possibilitaria o retorno da Ação Popular à direção nacional do movimento e, posteriormente, nas condições de clandestinidade, a entidade se tornaria território exclusivo das correntes de esquerda” (Idem).
“[...] a retomada da influência da esquerda significou o fracasso também das perspectivas do liberalismo antipopular para o movimento estudantil” (p. 99).
Tropas na Rua: Os Protestos de 1966
“O fracasso das primeiras tentativas autoritárias de controle do meio universitário e os sinais de retomada das atividades e da influência de esquerda bastariam já para definir a universidade como uma área de preocupação na ótica da política de segurança interna” (p. 99).
“[...] o governo militar definiu o meio estudantil como um dos objetivos privilegiados de sua ação “contraofensiva”” (Idem).
“[...] fins de julho (1966), o governo federal acionou a polícia militar e tropas das Forças Armadas em Belo Horizonte, a fim de impedir a realização do 28º Congresso da União Nacional dos Estudantes. Deu-se início aí à prática de ocupar as áreas centrais das cidades com imensos aparatos policiais e militares com o propósito de dissuadir e reprimir as atividades estudantis” (p. 100).
Dia Nacional da Luta contra a Ditadura (22 de setembro).
Massacre da Praia Vermelha
“[...] é possível dizer que a consciência antiditatorial – que se manifestou com mais força na crise de 1968- que se manifestou com mais força na crise de 1968 – encontra nestes dias suas raízes mais distantes” (p.102).
“[...] a radicalização das lutas estudantis diante da política repressiva do Estado criaria as condições para uma nova ascensão da esquerda às direções das entidades universitárias, encerando assim um ciclo temporário de predomínio liberal que [...] iniciou-se no período anterior ao golpe [...] a partir de 1966, a categoriaestudantil passa a reconhecer, outra vez, a esquerda universitária como portadora de suas reinvindicações” (p. 102).
1964-66: Saem os Liberais, Retorna a Esquerda
“Através das mobilizações contrárias à aplicação da “Lei Suplicy”, em 1965, os estudantes expressaram a sua rejeição às medidas do governo militar que visavam impedir a sua manifestação política, colocando em risco as conquistas alcançadas na época populista. No quadro mais amplo da exclusão política da classe média, após a destruição do populismo, o meio estudantil parece ter interpretado a neutralização de seus instrumentos de reinvindicação como uma ameaça à “democratização do ensino”…” (p. 102).
“[...] o movimento estudantil de 1966 conseguiu entender a luta anti-repressiva como aspecto da luta contra a ditadura, como mostram os protestos de setembro e o “Dia Nacional de Luta” [...] Os aspectos políticos da estratégia autoritária para a universidade se constituíram na motivação inicial do protesto estudantil” (p. 103).
“[...] no período 1964-66 a oposição estudantil contra a ditadura não seguiu o caminho que levaria a luta estudantil “específica” para a luta “política” mais geral” (Idem).
[...] pode-se então situar o endurecimento da política repressiva e a radicalização das lutas de massa, em 1966, como o momento-chave que marcou a decadência da influência liberal e o início da nova ascensão da esquerda” (p. 104).
“[...] ao contrário das correntes liberais, a esquerda viu no avanço da militarização e no endurecimento da política repressiva a confirmação de suas teses sobre a inviabilidade da democracia burguesa no Brasil. Ideologicamente, estava então preparada, para propor o avanço das lutas contra a ditadura” (p.105).
CAPÍTULO IV
OS ESTUDANTES E O ESTADO NO CALOR DA CRISE (1967-1968)
“[...] O declínio do movimento estudantil de 1966 esteve ligado a vários fatores. Dentre ele, à parte o caráter ainda embrionário da reorganização das entidades estudantil, destacam-se o isolamento social do protesto universitário e a atitude “dura” do Estado”... (p. 117).
1967: ascensão de Costa e Silva no poder: novo contexto para as lutas estudantis.
AI nº 4: discussão e aprovação de uma nova constituição (1967): “incorporou diversos aspectos da centralização do poder em mãos do Executivo [que agora] poderia criar leis, além de uma nova definição dos “crimes contra a segurança nacional”” (Idem).
“[...] o término da vigência do AI-2 provocou a promulgação da Lei de Segurança Nacional, ponto culminante e uma série de medidas que estenderam da competência da Justiça Militar, consolidaram a implantação de um sistema de vigilância cada vez mais abrangente e atribuíram a cada cidadão a responsabilidade pela segurança interna” (p. 118).
O Pano de Fundo da Crise
"Foi nesse quadro geral de avanço da militarização que o novo General-Presidente apresentou as suas propostas de uma futura "liberalização" do sistema político, acenando com a "abertura" democrática e com o "diálogo" para a classe trabalhadora e os estudantes, ao mesmo tempo em que procurava despertar esperanças de reativação do jogo político-partidário e de retomada das liberdades individuais" (p. 118).
"[...] a "liberalização" de 1967, advinda da crise interna ao grupo dirigente, viria permitir a manifestação do descontentamento de vários setores da sociedade frente às políticas do Estado e ao aprofundamento da militarização. Cria-se, assim, uma nova situação política na qual as contradições internas ao regime integram-se às contradições entre este e a sociedade. Essas transformações mudaram substancialmente o quadro para a atuação do movimento universitário [...] o protesto dos estudantes irá juntar-se a um conjunto de manifestações de oposição que lhe permitem superar o isolamento de 1996, tornando mais complexa a análise de sua participação social. Além disso [...] a abertura do governo Costa e Silva inaugurou um período em que a política do regime diante da atuação estudantil alternará a repressão com as promessas de "diálogo" e, embora o primeiro termo viesse afinal a predominar, tal dicotomia exigirá do movimento uma definição mais sofisticada de suas relações com o Estado" (p. 118-119).
Contexto de oposições dos diversos setores sociais perante ao processo de militarização.
[...] não estavam presentes em 1968 as condições para uma efetiva união de forças entre a classe trabalhadora e a categorial estudantil" (p. 121).
"[...] foi a luta dos estudantes nas ruas das principais cidades do país em 1968 que permitiu a eclosão do protesto liberal, pela via da crítica aos aspectos repressivos da política do Estado para a universidade" (Idem).
Para as camadas médias "[...] a luta contra a ditadura e a solidariedade aos estudantes representavam um meio para a concretização de seus objetivos de restauração das formas democrático-parlamentares"... (Idem).
"[...] o movimento estudantil procurou aproximar0se do protesto das classes trabalhadoras, defrontando-se com os limites esboçados acima" (Idem).
Classe Média e Crise da Universidade
[...] os seminários da reforma universitária, promovidos pela UNE em 1961-1962, trouxeram luz à problemas como a estrutura acadêmica baseada na cátedra vitalícia, na falta de equipamentos e instalações, a carência de vagas nas escolas públicas e o arcaísmo dos currículos, pouco adaptados às novas necessidades do desenvolvimento econômico do país" (p. 122).
"Com sua política de concentração de recursos nas áreas diretamente produtivas, os governos militares reduziram drasticamente as dotações federais para o ministério da educação" (p. 123).
"[...] o movimento estudantil de 1965-66 voltou-se basicamente contra a estratégia repressiva do Estado, deixando para segundo plano as reinvindicações educacionais. Contudo, no início de 1967, o quadro de crise do aparelho universitário voltou à tona com particular vigor, através dos constantes protestos de estudantes que, aprovados nos vestibulares, não conseguiam vagas, devido à incapacidade das escolas em absorver a crescente demanda" (Idem).
"Assim, no plano da universidade, a ausência de verbas e, consequentemente, de vagas passa a ser uma das manifestações da situação mais geral de "exclusão política" dos setores sociais médios, no pós-64" (Idem).
Excedentes de alunos
Ingresso excessivo de alunos sem nenhuma alteração na estrutura universitária >surge do m.e uma crítica à organização universitária brasileira > problemática da Reforma Universitária.
"[...] do ponto de vista de seu conteúdo de classe, os protestos dos excedentes expressavam a luta das camadas médias pela preservação e expansão das conquistas realizadas no período populista, no quadro de seu projeto de ascensão social pela via educacional" (p. 126).
A Modernização Autoritária
Política Educacional do Governo (PEG).
"O projeto governamental de modernização da universidade só encontraria uma forma mais acabada num documento de 1968 [...] o objetivo imediato do documento era oferecer uma resposta à crescente pressão do movimento estudantil, propondo uma reforma da universidade a partir de cima, a fim de retirar às vanguardas estudantis as suas palavras de ordem de mais eficácia política [...] o relatório propôs a reestruturação das universidades visando principalmente à sua racionalização interna, à economia de recursos e ao melhor aproveitamento das condições já disponíveis" (p. 127).
"[...] o projeto do governo pretendia instrumentalizar a estrutura educacional, modernizando-a a fim de permitir a formação de mão-de-obra e tecnologia necessárias ao desenvolvimento do capitalismo brasileiro, em sua nova fase [...] a educação passava a ser vista como instrumento essencial à consecução dos objetivos econômicos do governo" (p. 128).
"[...] as contingências do papel desempenhado pelo Estado nas condições de hegemonia do grande capital monopolista conduziam à necessidade de economizar recursos em áreas não diretamente produtivas. Assim, apesar das promessas de aumento das dotações de verbas, previstas no relatório do GTRU, a Política Educacionaldo Governo acabou por se definir pela progressiva privatização do ensino superior, a fim de entender o aumento da demanda. Inserem-se aí as enunciadas medidas de criação do "ensino pago" e das fundações que provocaram intensos protestos em 1967-68. Impedidas de serem implantadas diante da resistência estudantil, essas metas seriam atingidas por outros meios, depois da derrota política do movimento estudantil de 1968" (p. 128-129).
"Tal reforma universitária "consentida", que só seria implantada em 1969, representava o abandono definitivo da anterior estratégia populista de "integração" escolas das camadas médias urbanas. Através dela, o Estado do pós-64 deixava claro que não pretendia financiar a expansão do ensino superior, optando pela via da privatização parcial do aparelho universitário" (p. 129).
Um projeto autoritário de modernização
"Racionalização e modernização para atender aos critérios de rentabilidade".
"A essas forças viriam acrescentar-se, no pós-64, as propostas de organismos situados fora do país, precisamente dos Estados Unidos, que contribuiriam grandemente para fornecer subsídios à reforma autoritária" (p. 130).
Acordos MEC-USAID
Relatório Atcon
Infiltração imperialista no ensino.
"Diálogo" e Repressão
Governo Costa e Silva: "[...] as promessas de "diálogo" (logo abandonadas, por serem outra vez retomas e depois outra vez deixadas de lado) expressavam um nível mais relevante do processo de militarização: a crescente contradição entre a "profissão de fé" liberal-democrática dos detentores do poder e as práticas efetivas de progressiva militarização do Estado e ""fechamento" de cena política" (p. 134).
Instáveis relações entre o governo Costa e Silva e o movimento estudantil.
"Quando propunha "diálogo", o regime fundamentava-se em suas esperanças de conseguir apoio social para suas políticas no seio da classe média, e mesmo das classes trabalhadoras. Quando, por outro lado, reprimia ou proibia as manifestações estudantil, o governo militar dava vazão à tendência cada vez mais poderosa de aprofundamento da militarização como pré-condição para o prosseguimento de sua política de desenvolvimento [...], foi na cena política propriamente dita que a radicalização dos movimentos populares atuou no sentido de fazer o regime desistir de suas débeis tentativas de manipulação desses setores, optando afinal pelo endurecimento "definitivo", em fins de 1968" (Idem).
"O movimento estudantil viveu com om mais intensidade que qualquer outro setor a oscilação entre "diálogo e repressão"(idem).
"No início de 67, quando o "diálogo" revelou a sua fragilidade frente à impotência do governo ´para resolver o problema dos excedentes, o meio universitário logo entrou em ebulição" (p. 134-135).
Criação de uma comissão (comissão Meira matos), no fim de 1967, para estudar a questão estudantil, chefiada por um Coronel do Exército, "em maio de 1968 o "relatório Meira Matos", documento crucial para a análise da atitude especificamente militar face à universidade" (p. 136).
"Na prática, o novo grupo de trabalho passava a subordinas o próprio Ministério da Educação, esvaziando este de suas funções políticas" (Idem).
"Em maio de 1968, a comissão Meira Matos divulgou suas conclusões [...] propunha uma reforma universitária modernizadora e a resolução imediata dos problemas mais cadentes, como a questão do restaurante universitário do "calabouço". Por outro lado, assumia uma posição francamente favorável à centralização de decisões universitárias, propondo na prática o fim da autonomia das escolas superiores. Atacava a liberdade de cátedra e a concepção liberal das universidades" (Idem).
Invasão a UNB: traz a resolução da dialética "diálogo" e repressão.
A Dialética do Endurecimento
Objetivo de [...] analisar a atitude geral do Estado diante do movimento universitário, a fim de definir o contexto em que se deram as importantes mobilizações iniciadas em fins de março e que duraram até o final do ano...” (p. 138).
“[....] Ao mesmo tempo em que surgiram os primeiros sinais de radicalização da luta popular e das práticas da esquerda, em 1968, setores significativos das Forças Armadas, designados em geral como a “linha dura” [...] já pareciam ter-se definido por uma estratégia de pressão em favor do “endurecimento” político. O movimento estudantil parece ter fornecido os principais pretextos para sua atuação” (Idem).
“Ao longo de todo o período em questão, a “linha dura” atuou segundo uma linha básica: procurava criar situações de fato, em geral ações repressivas destinadas a produzir grandes repercussões contrárias, que obrigassem o governo a endurecer cada vez mais sua política” (p. 138-139).
Morte do secundarista Edson Luís
“O próximo passo dos “duros” foi dado em relação às sucessivas manifestações do movimento estudantil carioca, em meados do mês de junho. Naquela altura, as lutas dos estudantes se concentravam na busca de um “diálogo” com o governo através de contatos com o Ministério da Educação, a fim de “desmistificar” suas intenções. Embora, nessa fase, os estudantes da Guanabara já empregassem algumas táticas violentas, mais uma vez fez-se notar uma nítida tendência de endurecimento na área do I Exército” (p. 140).
A “Sexta-feira Sangrenta” que culminou dias depois na “Passeata dos Cem Mil” “quando o governo federal ordenou um recuo tática, retirando das ruas o aparato militar e permitindo a manifestação” (p. 141).
"No início de julho, foram proibidas as passeatas; os primeiros dias de agosto, o governo federal ordenou a participação direta das Forças Armadas na repressão aos protestos da primeira semana de aulas. Nessas decisões, o Conselho de Segurança Nacional teve papel decisivo” (Idem).
Invasão da polícia federal a Universidade de Brasília.
“Esta nova incursão dos “duros” marcou a linha divisória fundamental no processo de militarização. Pressionado pela imprensa e pelo parlamento, o governo ordenou uma investigação sobre a invasão. Daí adviria o Relatório Médici, endossando na prática a atuação das forças repressivas no campus de Brasília” (p. 142).
1968: Os Dois Eixos do Protesto Estudantil
“As lutas do movimento estudantil e 1968 centraram-se inequivocamente em dois eixos fundamentais: a luta antiditatorial e a campanha pela transformação da universidade” (p. 143).
“[...] o núcleo da divergência expressou-se na contraposição de duas estratégias diversas: a que se centrava na “luta política” e a que propunha como objetivo principal a “luta específica” (Idem).
“[...] apesar da ênfase da segunda “posição” no caráter “específico” do movimento, parece evidente que os momentos culminantes da mobilização estudantil e massa em 1968 estiveram relacionados a luta diretamente política” (p. 144).
Configuração da luta contra a ditadura militar visivelmente mais nítida.
“[...] ainda que desconsiderava pela Ação Popular, é inegável a importância da problemática educacional na mobilização do meio universitário pós-64. Na verdade, ex-líderes daquela corrente reconhecem atualmente que a concentração exclusiva nos aspectos “políticos” colaborou para distancia-la da massa estudantil no ano de 1968” (Idem).
“[...] a luta universitária desdobrou-se em ações cada vez mais radicais, como a ocupação das faculdades e a discussão da democratização da escola superior, muitas vezes com a participação de professores e funcionários” (p. 145).
[...] após um período de recesso forçado devido à política repressiva do Estado, reaparecem mais uma vez as duas preocupações históricas do movimento estudantil brasileiro: a luta pela “abertura” da universidade e a reinvindicação de participação dos estudantes nas decisões educacionais e no governo da instituição universitária” (Idem).
“No ataque à “universidade-empresa” e na defesa da “universidade crítica” expressou-se a resistência do meio estudantil de classe média à rápida sucessão de medidas que resultaram na perda das conquistas alcançadas durante a fase populista” (p. 146).
A “Universidade Crítica”
“A proposta da Universidade Crítica constitui oexemplo mais radical da crítica estudantil à universidade brasileira na década de 60. Originária daquela que chamamos a “segunda posição” estudantil”, fundamenta-se no pressuposto já assinalado de que o eixo no movimento estudantil deveria ser a questão educacional” (p. 146).
“A Universidade-Empresa teria, de acordo com os estudantes, duas metas centrais: 1) formar técnicos de nível média para aplicar a ciência e não para cria-la; e 2) impedir que se formasse uma intelectualidade inconformada, capaz e questionar o sistema político”. No entanto, não se restringiam a isso os planos do governo militar (p. 147).
“Com o ensino pago, anulava-se a histórica aspiração à abertura da universidade. Através da implantação das fundações, perdia-se totalmente a perspectiva de participação no governo da universidade, apagando-se as esperanças de uma escola voltada para os interesses do “desenvolvimento nacional” e do conjunto da coletividade”. Além disso, acentuando ainda mais o quadro e oposição aos planos da ditadura militar, os manifestos estudantis, encarregaram-se e divulgar as fontes principais da reforma autoritária: MEC USAID, o Relatório Atcon”... (p. 148).
UEE-SP levanta pontos fundamentais para nortear a luta estudantil “1) a defesa do princípio do ensino gratuito; 2) a preservação da autonomia universitária, no plano administrativo, didático e financeiro; 3) a luta pela admissão na universidade de todos os que conseguissem média no vestibular e 4) a conquista da paridade nos órgãos universitários (p. 149).
Proposta da Universidade Crítica como instrumento para ação política.
A Trajetória da Esquerda
“Busca-se entender os pressupostos políticos que fundamentaram as propostas da esquerda estudantil, no movimento de 1968” (p. 171).
Luta Política e Luta Reivindicatória
A “primeira posição” (composta majoritariamente pela Ação Popular” e a “segunda posição”.
A “luta política” e a “luta nas ruas”.
Para a Ação Popular “[...] o papel do movimento estudantil no pós-64 definia-se, acima e tudo, pelas tarefas de denúncia da ditadura militar e, simultaneamente, das forças do imperialismo que a sustentavam” (p. 173).
“Com tais perspectivas, a Ação Popular praticamente desprezou as lutas educacionais, como eixo de mobilização estudantil” (Idem).
“[...] a ação popular teve como uma de duas características mais marcantes, naqueles anos, a ênfase na potencialidade revolucionária da pequena burguesia ou de alguns setores desta camada” (Idem).
Luta Reivindicatória e Luta Armada
“A “segunda posição” [tinha como proposta central] a “luta específica”. Na sua perspectiva o papel fundamental daquele movimento seria o de possibilitar o ressurgimento de uma consciência crítica no meio universitário de classe média. Para tanto, as lutas desta categoria deveriam se concentrar nos problemas que diziam respeito diretamente ao estudante: acima de tudo, a questão da universidade” (p. 175).
29.º UNE: A Crítica ao Reformismo
Importância do 29.º congresso da UNE no processo de redefinições político-ideológicas.
A “[...] UNE procurou definir os princípios básicos que distinguiam a estratégia de esquerda universitária do reformismo do PCB” (p. 181).
No meio estudantil o PCB encontrou resistência por abrigar os setores burgueses e o movimento popular.
A AP em 1968: A “Linha das Massas”
A “ “Ação Popular” destaca-se principalmente o processo de sua adesão ao maoísmo, já evidente no 29.º Congresso da UNE, em sua defesa da Aliança Operário-Estudantil-Camponesa.
Ventos Maoístas
“Em 1968, o documento básico da Ação Popular constituiu-se numa tentativa de adaptar a experiência chinesa à situação brasileira”... (p. 188).
A “Segunda Posição” em 1968: O “foco” Revolucionário
“Ao contrário do que ocorria com a “primeira posição” estudantil, que expressava as visões de uma única organização – Ação Popular – a segunda força do movimento universitário de 1968 constituiu-se de um agrupamento de várias correntes políticas de expressão regional, cujo ponto de convergência mais geral foi a aceitação das análises de Ernesto “Che” Guevara sobre a estratégia de revolução na América Latina” (p. 191).
Ecos de Guevara
“[...] a importância da criação do “foco” guerrilheiro, como forma de vencer o impasse a que chegara a revolução, nos países da América Latina” (p. 194).
“[...] as teorias e Guevara, aparecem, acima de tudo, como uma tentativa de recuperar o caráter central da “vontade revolucionária” frente ao imobilismo que se apossara dos vários PCs do continente, com suas análises sobre o caráter progressista das burguesias nacionais e sua confiança nos processos pacíficos de transformação política” (p. 195).
Núcleo de estratégia de revolução proposta por Guevara: “a formação de um grupo armado, independentemente de qualquer vínculo organizacional que o obrigue a aguardar diretrizes externas”... (p. 196)
Debray: Revolução na Revolução?
Os Movimentos de Proletarização
Aproximação dos militantes estudantis com as ideias de Mao Tsé-Tung e das teses originárias da Revolução Cubana.
Transformação ideológica.
“Pretende-se destacar o esforço de “transformação” ideológica que se verificou no plano da esquerda estudantil brasileira no final da década de sessenta” (p. 201).
Considerações Finais
“Assim, no quadro [...] de intensificação das práticas repressivas do Estado Militar, o movimento estudantil de 1967-68 caminharia para uma acentuada exaustão, que foi apenas adiada pela eleição de uma nova diretoria em congressos regionais, a princípio de 1969. O clima político inaugurado pela edição do Ato Institucional n.º 5, o refluxo da “Massa” estudantil e a adesão de numerosos quadros a outras formas de luta política construíram um quaro de epílogo, cuja análise mais detida foge à nossa proposta presente” (p. 203).
“[...] o balanço das profundas contribuições daqueles anos de luta ainda parece exigir algum tempo para que possa ser fechado com relativa objetividade” (p.203)
“[...] mesmo a apatia política que tomou conta dos estudantes nos anos recentes tem-se revelado mais débil que a imagem construída no passado, de um movimento ativamente “progressista”, “nacionalista” ou “revolucionário”.
“Quando me propus iniciar o estudo que ora termina, corria o ano de 1978 e os protestos estudantis contra a ditadura militar retomavam sua vitalidade, apontando para um novo e irresistível crescimento. No entanto, nos anos seguintes, as coisas não se passaram assim e a luta contra a ditadura encontrou seus adversários mais decididos em outros setores sociais” (p. 204).
Uma das hipóteses da tese: “a necessidade de examinar concretamente a atuação estudantil, em cada conjuntura histórica para compreender os diferentes conteúdos e formas que assumem as mobilizações estudantis” (Idem).
Para o autor 1968 abarcou a fase mais marcante e significativa do m.e.
O autor destaca que parece ocorrer um “acentuado processo de esvaziamento das tendências oganizadas” do m.e o que desponta como um outro tema relevante para análise.
Hipótese: trabalho sobre o caráter social do protesto estudantil na década de 1960.

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