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1 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL Esses beneficiários podem ser: beneficiários diretos e beneficiários indiretos. Beneficiários diretos: são os segurados. Beneficiários indiretos: são os dependentes do segurados. Temos os beneficiários como gênero e segurados de um lado e dependentes do outro, como espécies. Quando me refiro a beneficiários, estou referindo às duas espécies, aos dois grupos, ou seja, os segurados e os dependentes. Se tiver que me referir apenas aos assegurados, falarei segurados, ou então falarei só dependentes. Isto é importante, porque existem alguns benefícios que são devidos apenas aos segurados e existem outros que são devidos apenas aos dependentes. Por exemplo, a aposentadoria é do segurado, a pensão é do dependente. Quem são os segurados? O que são? Segurado é uma pessoa física que pode exercer atividade remunerada ou pode não exercer nenhuma atividade. Pessoa física é a característica do segurado, que pode ou não pode exercer atividade remunerada. Então, em princípio, qualquer cidadão pode ser segurado da previdência social. Não há uma condição, não existe um requisito, qualquer pessoa pode ser segurado da previdência social. Este segurado, nós dividimos em dois grandes grupos, os segurados obrigatórios e os segurados facultativos. SEGURADOS OBRIGATÓRIOS É aquele que exerce atividade remunerada. Essa atividade remunerada, ela é necessariamente, obrigatoriamente, vinculada ao regime geral da previdência social. Existem diversas atividades que estão ou vinculadas ao regime geral da previdência social ou atividades que não necessariamente estão vinculadas a esse regime, podem estar vinculadas a outros regimes. Portanto, o segurado obrigatório da previdência social é aquele que exerce atividade remunerada, essa atividade pode ser urbana ou rural, mas obrigatoriamente ela está vinculada ao regime. Quais são os segurados obrigatórios? 1) EMPREGADO O empregado para efeitos da previdência social é o mesmo conceito de empregado para efeitos da CLT. Empregado é aquele que presta serviço de forma não-eventual, sobre subordinação, mediante remuneração (art. 3º da CLT). EQUIPARADO Existe um trabalhador que para efeitos da previdência é equiparado ao empregado, ele segue as mesmas regras que se aplicam ao empregado celetista. 2 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO No art.11 da lei 8.213/91, está quem são estes outros trabalhadores que são considerados empregados para efeitos da previdência social. Exemplo: o trabalhador temporário é considerado um empregado para os efeitos da CLT, o servidor público que ocupa cargo em comissão, não o servidor público funcionário público, regime especial dos funcionários públicos. Outros trabalhadores que trabalham em autarquias, prestam serviços às fundações, o que exerce mandato, vereador que não tem ligação com regime nenhum obrigatório, ele é considerado empregado para efeitos da previdência social. Enfim, no art. 11, está de forma discriminada todo este rol de pessoas, de trabalhadores que para efeitos da previdência, são considerados empregados. Qual é a importância de saber a categoria do obrigatório? Todos são obrigatórios, mas qual a importância de saber se ele é empregado, ou não é empregado, é outra categoria? Porque existem regras específicas para cada categoria de segurado obrigatório, o que veremos no decorrer desta aula. 2) AVULSO É o trabalhador que presta serviços a diversas empresas, sem vínculo empregatício com nenhuma delas, mas com intermediação de mão-de-obra do sindicato ou do órgão gestor. O órgão gestor é o sindicato que faz o “meio de campo” entre o trabalhador e as diversas empresas. Estes trabalhadores que chamamos de avulso, tanto pode ser urbano, quanto rural. Exemplo de avulso urbano, antigamente se falava em estivador, hoje não existe mais, hoje vai carregar umas sacas de café nas costas. Hoje nós temos o guindasteiro, que manobra os guindastes do porto, temos o conferente, o prático de navio, enfim, todas essas pessoas que prestam serviços a diversas empresas com intermediação de mão-de-obra do sindicato ou do órgão gestor. Exemplo de avulso rural, nós temos o apanhador de laranjas, o safrista, enfim, aqueles trabalhadores rurais que não são empregados rurais, sempre com intermediação de mão-de- obra do sindicato, neste caso, o sindicato rural. Cuidado, costuma-se falar muito no “gato”, que é aquele agenciador das cidades pequenas que fica lá no coreto da igreja, aquela pracinha da igreja, que fica cantando os trabalhadores rurais, esse não é sindicato, esse é o “gato”. Gato não é sindicato rural. Se houver um acidente com o caminhão que leva os trabalhadores para a roça, está todo mundo mal, porque não têm garantia alguma da previdência social. Agora, se for sindicato, sim. 3) DOMÉSTICO É o trabalhador que presta serviços de natureza continuada, natureza não eventual, a uma pessoa ou a uma entidade familiar, no âmbito residencial, sem fins lucrativos, sem fins econômicos, a peculiaridade é essa. Exemplo mais comum do segurado doméstico é a doméstica, mas não necessariamente só ela, o jardineiro é doméstico, o motorista da família é doméstico, o caseiro, o mordomo, a babá, etc. 4) SEGURADO INDIVIDUAL É aquele que presta serviços à diversas pessoas físicas ou pessoas jurídicas, sem vínculo 3 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO empregatício com nenhuma delas. Eu costumo falar que o segurado individual tem um conceito residual, que é aquele que quando não cabe em outros, cabe neste. Então, a pessoa que exerce a atividade vinculada ao regime geral, não é nem empregado, nem doméstico, nem avulso, mas exerce atividade vinculada ao regime, ele é individual. Então nós temos o famoso autônomo, o profissional liberal, o padre, o cooperado, o diretor, ou empregado, enfim, todas essas pessoas estão incluídas em uma categoria única atualmente, que é o segurado individual. 5) SEGURADO ESPECIAL É a pessoa física, é o produtor rural, que exerce atividade rural em economia familiar. Então a diferença é que ele exerce atividade rural em economia familiar, não é uma empresa rural, não é uma pessoa jurídica rural, é um produtor rural pessoa física, e ele exerce atividade rural em economia familiar. Trabalha ele, a esposa, os filhos, o cunhado, enfim, fazem uma economia familiar. Como exemplo nós temos o meeiro, nós temos o arrendatário, o pescador artesanal também é considerado assegurado especial, enfim, há uma lei, que é a Lei 11.718/2008 que trata dos contratos rurais, uma lei muito extensa, e algumas vezes ela refere-se ao assegurado especial no que diz respeito às provas que esse trabalhador rural tem que mostrar para se dizer segurado especial. O garimpeiro não é segurado especial, antigamente ele já foi, ele era segurado especial, mas depois ele foi excluído dessa categoria, e hoje ele é segurado individual. É aquela pessoa que não sendo segurado obrigatório, ela pode filiar-se voluntariamente ao regime geral. Então não é assegurado obrigatório, então não exerce atividade vinculada, mas a lei lhe permite que voluntariamente se filie ao regime, daí o nome facultativo. SEGURADOS FACULTATIVOS Há dois requisitos para poder ser segurado facultativo: 1º) não pode ser filiado obrigatório de nenhum outro regime. Então se ele for segurado obrigatório de outro regime, por exemplo, do regime geral dos funcionários públicos, ele não pode ser segurado facultativo do regime geral, a lei o proíbe. 2) ele deve ser maiorde dezesseis anos. Então o maior de dezesseis anos já pode filiar-se facultativamente ao regime geral. No art. 201, §5º, da CF e no art. 11, §4º, do Regulamento da Previdência Social, regulamento o qual já foi visto, que é o decreto 3.048/99, estão essas regras em relação ao assegurado facultativo. Exemplo de segurados facultativos: a dona de casa, o estudante maior de dezesseis anos, o síndico do prédio que não é segurado obrigatório em nenhum regime, enfim, o desempregado, não contrapondo o empregado que falamos antes, o desempregado que não exerce atividade nenhuma. O desempregado contrapondo ao empregado, ao avulso, ao doméstico, ao individual ou especial, aquele que não exerce atividade, esse segurado, essa pessoa que contribuía e deixou de contribuir, esse, para mim, é o segurado facultativo mais importante, por quê? Porque ele deixando de contribuir como obrigatório, ele deve contribuir como facultativo para não perder a descontinuidade do seu tempo de contribuição. 4 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO Então esses são os segurados obrigatórios e facultativos. Bom, nós dissemos na aula anterior que o segurado da previdência social tem que ser filiado, um segurado filiado. Porque se ele não for filiado, não tem direito algum. FILIAÇÃO O que seria a filiação? Como se sabe que um trabalhador é filiado ao regime? Filiação é um vínculo, é uma relação jurídica que se estabelece entre a pessoa, entre o segurado e a previdência social. E desse vínculo, dessa relação, surgem direitos e surgem obrigações mútuas, recíprocas. A Previdência tem o direito de cobrar a contribuição, por sua vez, ela tem o dever, a obrigação de prestar o serviço, de pagar os benefícios. E o segurado? O segurado tem a obrigação de pagar a contribuição, que por sua vez, tem o direito de receber os benefícios. Essa filiação exige uma inscrição, para saber se alguém esta filiado, essa pessoa, esse segurado, esse trabalhador tem que estar inscrito no regime, então a inscrição nada mais é do que a exteriorização. Então o vínculo, a relação jurídica, a filiação, ela se concretiza, ela se exterioriza com a inscrição. Então são dois conceitos diferentes. Para o empregado, a filiação ocorre com a assinatura do contrato de trabalho. Então o empregado assinou o contrato de trabalho, presume-se filiado ao regime. A partir da assinatura do contrato de trabalho ele está filiado, e é a empresa quem vai cumprir as suas obrigações. O avulso se considera filiado a partir do cadastramento no sindicato ou no órgão gestor. O doméstico, o individual e o facultativo, eles se filiam através da inscrição no número de inscrição do trabalhador, é o que nós chamamos de NIT – número de inscrição do trabalhador. Este NIT equivale, para quem já foi empregado, ou avulso, chamado PIS. Então o NIT tem onze algarismos, número esse de onze algarismos que também é o do PIS. Então um segurado só pode ter um número de NIT ou de PIS. Quando ele deixa de ser empregado e se torna facultativo ou individual, ele pega seu número de PIS e transforma em NIT, e ele contribui com esse número. Não é bom, não se deve ter mais do que um número, PIS/NIT. É esse número que está no cadastro de informações da previdência social. Para o especial, quando se dá a filiação? Através do início da atividade rural, através do início daquela atividade de que o considera como assegurado especial, aquela atividade em economia familiar a qual nos referimos antes, a lei 11.718/2008, trás algumas regras no que diz respeito à comprovação desta atividade. O segurado especial, que é obrigatório, ele pode filiar-se como facultativo. O legislador quis trazer essa possibilidade por uma razão muito simples, às vezes fica difícil para o segurado especial contabilizar os valores sob os quais tenha que arrecadar a sua contribuição. Então há essa possibilidade dele ser também facultativo, e como segurado facultativo, ele vai se reger pelas regras do facultativo, inclusive ao que diz respeito ao direito em determinados benefícios. Essa possibilidade esta prevista no art. 39, II, da Lei 8.213, e também a mesma previsão está no art. 25, § 1º, da Lei 8.212/91. Por que o segurado, para ter direito, ele tem que estar filiado, segurado filiado, trabalhador filiado ao regime geral? Porque se ele perder essa condição, ele deixa de ter direitos aos benefícios. Lembre-se que a previdência não é gratuita, a previdência exige a contrapartida. 5 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO Em princípio, o segurado que deixou de pagar, perderia a filiação, por quê? Porque a previdência é muito boa, a previdência social, como ela é social, ela dá alguns direitos especiais o trabalhador, para o segurado, daí então surge um instituto chamado “período de graça”. Muito importante esse instituto de período de graça, as regras estão no art. 15 da Lei 8.213/91. O que é o período de graça? Como o nome já diz, é de graça, ou seja, período de graça, número de meses em que o segurado, mesmo não contribuindo, o trabalhador segurado mesmo sem estar contribuindo, ele mantém essa condição de segurado, e, portanto, ele mantém todos os direitos inerentes a qualidade de segurado. O número de meses está previsto nos incisos do art. 15. A primeira hipótese de período de graça, durante todo o tempo em que o segurado estiver em gozo de benefício. Estar recebendo o benefício da previdência, então ele continua como assegurado. Por exemplo, trabalhador, segurado, em gozo de auxílio doença. Durante todo o tempo de gozo do auxílio doença, considera-se segurado, e mais, nesta hipótese de período de graça, o segurado em gozo de auxílio doença, todo o tempo em que ele estiver em gozo deste auxílio, conta como tempo efetivo de contribuição. Este período de graça referente ao tempo em que o segurado está em gozo do benefício, conta como tempo de contribuição. Segunda hipótese: até doze meses após o término da atividade vinculada ao regime. Então o segurado, independente se ele é empregado, avulso, doméstico, especial ou individual, ele deixou de exercer atividade vinculada, deixou de contribuir, até doze meses ele mantém essa condição de segurado. Terceira hipótese: até vinte e quatro meses, portanto o dobro. Até vinte e quatro meses após o término do exercício desta atividade, desde que este segurado já tenha contribuído mais de cento e vinte meses para a previdência social. Então aquele trabalhador, aquele segurado que já tiver contribuído mais de cento e vinte meses, que tenha mais de cento e vinte contribuições, ele tem um período de graça de vinte e quatro meses. Essas contribuições, estas cento e vinte contribuições, não são necessariamente consecutivas, o que importa é que esse assegurado nunca tenha perdido a condição de segurado, ou seja, nunca tenha superado o período de graça. Então, a condição é que ele nunca tenha perdido a condição de segurado. Quarta situação: estes períodos de doze meses, ou de vinte e quatro meses aos quais nós nos referimos agora, eles são acrescidos de doze meses. Então, vinte e quatro mais doze, trinta e seis; doze mais doze, vinte e quatro, desde que esse trabalhador, esse segurado comprove essa condição de desempregado. Condição de desempregado é comprovada mediante uma inscrição nos órgãos do Ministério do Trabalho Emprego, então nas destes que agora se chama Superintendências Regionais do Trabalho, as antigas delegacias regionais do trabalho que todo mundo conhece, a DRT. Ou então no SINE, Sistema Nacional de Emprego. Então comprovando que ele está desempregado, ele terá direito a trinta e seis meses de período de graça. É muito importante, porqueàs vezes a pessoa ficou trinta meses sem contribuir, sofre um acidente, terá direito a um auxílio doença? Sim, desde que comprove que estava procurando emprego, estava desempregado, estava registrado em alguns dos órgãos competentes para dar este certificado de desemprego. 6 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO A quinta possibilidade, a quinta hipótese de período de graça: até doze meses após a segregação compulsória. Essa figura da segregação compulsória praticamente não existe hoje, era aquela situação em que o segurado, trabalhador estava doente, era obrigatório ser segregado da vida dele, da comunidade dele, ia para um sanatório, ia para um hospital, enquanto ele estivesse no hospital, ele mantinha condição de segurado, e depois que ele saísse, ele teria doze meses de período de graça. Como eu disse, hoje não existe mais, raramente se encontra essa situação, mas continua prevista no artigo 15 da lei. A sexta situação, e é até doze meses após o livramento do segurado preso. Então, o segurado foi preso por algum motivo, quando ele for solto, ele terá direito a doze meses. Cuidado, não é o preso que tem direito a doze meses, é o segurado que tem direito a doze meses, o segurado preso. Todas estas situações são situações em que o segurado, em que o trabalhador, que a pessoa era segurada, por algum motivo deixou de contribuir, e depois tem esse período de graça. Então, o segurado preso, após o livramento dele, ele tem doze meses de período de graça. O segurado facultativo que deixar de contribuir, tem seis meses de período de graça. E finalmente a oitava situação: três meses após o término do serviço militar obrigatório. Agora uma observação muito importante, a perda da condição de segurado, ela ocorre no dia dezesseis do mês seguinte ao último mês do período de graça. Então não são apenas aqueles doze meses, ou seis meses, ou três meses aos quais nós estávamos referindo. Porque essa condição termina no dia dezesseis do mês seguinte, é o último mês do período de graça? Por uma razão muito simples, o segurado facultativo, o segurado facultativo individual, doméstico, não pagam a contribuição até o dia quinze do mês seguinte ao mês de referência. O último mês do período de graça, é o último mês de referência, então na realidade são aqueles doze meses, mais quinze dias de “lambuja”, não é isso? Ótimo. Cuidado, mais um detalhe importantíssimo, e se o dia quinze cair num sábado, ou num domingo, ou num feriado? Prorroga-se para o primeiro dia útil bancário. Na Previdência nós trabalhamos com dias úteis bancário. Então, às vezes não termina no dia dezesseis, pode terminar no dia dezessete, no dia dezoito. O importante é a data exata da perda da condição de segurado que será no dia seguinte, portanto, dia dezesseis normalmente, por quê? Porque o segurado pode contribuir até o dia quinze do mês seguinte ao último mês do período de graça. Repito: durante o período de graça, o segurado tem direito a todos os benefícios, e o segurado que estiver em gozo de benefício, aquela primeira hipótese que nós vimos, esse tempo em que ele está em gozo do benefício, conta, para todos os efeitos, conta como tempo de contribuição, como tempo de serviço. Imaginemos agora que o segurado perdeu o período de graça, e escoou-se o período de graça, o que é que acontece com ele? Ele perde a condição de segurado. Perdida a condição de segurado, o que é que ocorre? Ocorre que este trabalhador, este ex-segurado, deve refiliar-se ao regime para poder ter direito aos benefícios do regime. E para ter direito efetivo aos benefícios, ele terá que cumprir 1/3 da carência daquele respectivo benefício. Então imaginem a seguinte situação: o segurado perdeu o período de graça, ele se refilia de novo à previdência, e cumpre quatro meses. Quatro meses é 1/3 do período de graça do auxílio doença. Então, depois de cumprido os quatros meses de carência, ele pode receber o benefício do auxílio-doença. A carência do auxílio-doença era doze meses, 1/3 de doze, quatro, refiliando-se, ele tem direito após quatro meses. 7 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO DEPENDENTES OU BENEFICIÁRIOS INDIRETOS Dependentes são as pessoas que vivem à custa do segurado. Dependente é aquela pessoa que vive à custa do segurado, mesmo que de forma parcial. Não precisa viver totalmente à custa do segurado, pode viver parcialmente dependente do segurado. Os dependentes na Previdência Social estão previstos no art. 16 da Lei 8.213. Os dependentes da Previdência Social são apenas e tão somente aqueles previstos no art. 16 da lei, e existe uma regra extremamente importante no art.16 que é o que nós chamamos de ordem preferencial. Então não são todos aqueles que estão no art. 16 que são efetivamente dependentes, eles são dependentes, só que existe essa chamada ordem preferencial. Significa que se existirem dependentes numa classe que prefere às outras, mesmo que haja dependentes nas outras classes, eles ficam excluídos pelos dependentes existentes na classe preferencial. A existência de dependentes numa classe preferencial exclui os dependentes existentes nas demais classes. Vejam que é completamente diferente de outras situações de dependências, por exemplo, o imposto de renda, você pode ter esposa, filhos, pais, irmãos, menores, todo o mundo, desde que preencha os requisitos do regulamento, pode ser teu dependente no imposto de renda. Na Previdência não, eles são teoricamente dependentes, mas existe essa ordem diferencial, repito, segundo a qual a existência de dependentes numa classe, exclui os dependentes das demais classes. Quais são essas classes? A primeira classe, a classe preferencial, é a primeira classe, e a primeira classe compõe-se de quais dependentes? Cônjuge, companheiro ou companheira. Qual é o conceito de companheiro ou companheira para efeitos de dependência para a previdência? Até pouco tempo atrás, a situação era aquela da constituição, está no art.226, §3º, do Código Civil antigo, as leis que se sucederam em relação a esta questão, não modificavam muito a ideia do art.226, § 3º. A união estável a qual se refere a Constituição, só que com o novo Código Civil de 2002, houve uma alteração substancial nessas questões, então hoje, companheiro/companheira, nós vamos imediatamente nos reportar à chamada união estável. A união estável é quem vai dizer quem é o companheiro ou quem será a companheira. O Código Civil novo, nos artigos 1.723 a 1.727, permite que haja união estável, mesmo que a pessoa esteja proibida, vedada de casar, que não possa casar. Porque normalmente a união estável é para aquelas pessoas que podem casar, solteiro com viúvo, divorciado com solteiro, etc. Agora não, agora pode existir uma figura de união estável que nós chamamos de concubinato impuro. Concubinato impuro é aquele em que uma das pessoas está proibida de casar porque ela não é divorciada, ela não é solteira, ela é casada ainda legalmente, ela está apenas separada de fato. Então nós temos a união estável normal, portanto, concubinato puro, e a união estável “anormal”, aquela do concubinato impuro. No primeiro caso, o companheiro/companheira tranquilo, não há nenhum problema, é como se cônjuge fosse, já no segundo, no concubinato impuro, aí as coisas começam a complicar. Doutrinariamente, as posições divergem porque nós estaríamos incentivando a bigamia, mas, na jurisprudência existem casos em que pensão é dada para o concubino puro, e não para o cônjuge, porque ainda está casado. Então realmente o concubinato impuro tem esta dificuldade, seria caso a caso. Os nossos tribunais têm julgados nos dois sentidos, se houver um acordo,a Previdência paga metade da 8 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO pensão para cada um e não há nenhum problema. Como fica a união estável homoafetiva? O INSS, através de uma portaria, a portaria 513/2010 diz que para efeitos do art.16, que é o artigo que estamos estudando que cuida dos dependentes, consideram-se dependentes, para efeitos da previdência, as pessoas que moram em união estável mesmo sendo do mesmo sexo. Qual é a regra? Provada a união estável entre pessoas do mesmo sexo, segue a regra geral da união estável. Primeira classe, cônjuge, companheiro/companheira, com todas essas observações já feitas. Ainda na primeira classe, filhos. Filhos menores de vinte e um anos, e não filhos menores de dezoito anos, embora a maioridade se atinja aos dezoito, de acordo com o Código Civil, a lei da previdência, lei 8213/91, manteve vinte e um anos para efeitos de dependentes. A lei especial é que vigora, nós estamos falando de dependentes na previdência. Existem condições de dependência das mais diversas, por exemplo, imposto de renda vai até aos vinte e quatro se você for universitário, para alguns regimes especiais, o antigo IPESP, o antigo IPREM de São Paulo, vinte e quatro anos. Cuidado, na previdência é uma lei especial da previdência, então é vinte e um anos, embora a maioridade se atinja aos dezoito, para efeitos de dependentes é vinte e um anos. Então filhos menores de vinte e um anos, ou filhos inválidos, independentemente de qualquer idade, e os equiparados aos filhos que são os enteados, tutelados, e os menores sob a guarda. Em relação a esta última categoria, os menores sob a guarda, existe uma lei, que é a lei 9.528/97, que entre outras coisas, ela excluiu os menores sob a guarda de dependentes do artigo 16. Claro que era um absurdo, porque o ECA, no artigo 33, ele diz que o menor sob a guarda é dependente para todos os efeitos, incluindo-se na previdência social. Então o ECA prevalece sobre essa lei que excluiu o menor sob a guarda. Por quê? Porque a Constituição e o ECA dão uma maior proteção ao dependente, a criança. E ultimamente, através de um processo do STJ, o relator o Celso Limongi, entendeu que aquele artigo que excluía o menor sob a guarda da dependência, ele entendeu que era inconstitucional, e portanto, hoje não se discute mais que se o menor é ou não é. Há uma lei especial que definitivamente revogou aquele artigo, aquele dispositivo que excluía o menor sob a guarda, então hoje, tranquilo, o menor sob a guarda equipara-se ao filho para efeitos do art.16. Vimos a primeira classe, é a classe preferencial, é a classe número um, é a classe que existindo dependentes dela, exclui todos os demais dependentes, cônjuge, companheiro/companheira, filhos menores de vinte e um anos ou inválidos independentemente de idade. E os equiparados que são os enteados, os tutelados, o menor sob a guarda. A segunda classe são os pais, pai e mãe. Então o pai e a mãe se dependerem do filho segurado, recordem-se, mesmo que de forma parcial, eles são dependentes na previdência social. Claro, sendo da segunda classe, eles só serão dependentes realmente e efetivamente, se não houver dependentes da primeira, então se o filho segurado for casado, ou tiver um companheiro/companheira, ou tiver filhos ou enteados, os pais, mesmo que sejam dependentes efetivamente do ponto de vista financeiro, não serão para efeitos da dependência na previdência social. Então a segunda classe os pais. Terceira classe são os irmãos, nas mesmas condições dos filhos, quais são as condições dos filhos? Menores de vinte e um, ou inválidos. Agora uma observação extremamente importante em relação a esta dependência dos dependentes nas classes. Os dependentes da primeira classe, eles são absolutamente dependentes, ou seja, a 9 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO dependência se presume, mesmo que a rigor não dependam, a dependência se presume. A constituição é muito clara, ela diz que marido e mulher são mutuamente dependentes, então mesmo que o marido não trabalhe, e trabalhe a esposa, ou trabalhem os dois, ou a esposa ganhe mais que o marido, não importa, um é dependente do outro, mutuamente dependentes. Então a dependência na primeira classe se presume, salvo em relação aos enteados. A dependência dos enteados deve ser comprovada, é muito simples. Às vezes o tutelado é mais rico do que o tutor, então não vai depender para a previdência, ele não vai ser dependente na previdência social. O tutor é simplesmente um administrador dos bens do tutelado, então, dependência da primeira classe se presume, salve em relação aos equiparados. Dependência das demais classes, essa tem que ser comprovada. Então os filhos, os pais têm que provar que dependem dos filhos, o irmão tem que comprovar que depende do irmão. Mesmo que seja parcialmente, então não precisa de uma dependência total e absoluta, os pais podem ter sua vida financeira independente, mas não o suficiente eles podem depender do filho, o filho paga o convênio médico, então nesta situação, os pais dependem parcialmente do filho, então basta que haja essa comprovação. Portanto, na primeira classe presume-se a dependência, nas demais classes, a dependência deve ser comprovada, embora essa dependência possa ser parcial. Uma informação interessante, é que não há necessidade de inscrição de dependentes na previdência social. Antigamente, antes da Constituição de 88, você tinha um cartão de dependente da Previdência, esse cartão não era para efeitos da previdência propriamente dita, era para efeitos da assistência médica, porque a assistência médica era prestada pelo Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência Social, do INAMPS, então você tinha que ter um cartãozinho com a tua foto para ser atendido pelo sistema médico do INAMPS. Agora não, a assistência médica é do SUS, como vimos anteriormente, então para que se inscrever como dependente? Não tem sentido algum. A dependência deve ser provada, deve ser comprovada, no momento do requerimento do benefício de que o dependente está pleiteando. Ora, se eu sou menor de vinte e um, uma hora eu vou ficar maior de vinte e um, a menos que eu tenha o mal gosto de morrer antes do que meu pai, mas, via de regra, eu vou ficar maior de vinte e um, e meu pai, provavelmente, vai morrer depois que eu tenha vinte e um. Então eu não preciso me inscrever como menor, eu tenho que provar a minha dependência no momento em que eu vou fazer o meu requerimento, só que tem um detalhe, eu disse que os dependentes são menores de vinte e um ou inválidos. Com relação aos inválidos, a orientação é outra, enquanto eles forem menores de vinte e um, eles são duplamente dependentes, ou seja, são dependentes pelos dois motivos, menores de vinte e um, e inválidos. A partir dos vinte e um, eles serão dependentes apenas porque são inválidos. Então os inválidos devem se inscrever como dependentes um pouquinho antes dos vinte e um anos, para provar que já eram inválidos antes dos vinte e um. Porque vai que o pai morre e eles não estão inscritos, o perito terá que retroagir, que já era inválido antes do pai morrer, e ai pode complicar. Não há necessidade da inscrição de dependentes, a dependência deve ser comprovada na hora do requerimento do benefício, mas para os inválidos é bom que eles se inscrevam como dependentes, tão logo quando esteja para perder a dependência pelo fator idade. A perda da qualidade de dependente, ela ocorre com a extinção, com o término da causa que lhe garantia essa condição de dependente. Então uma regra geral para todos os dependentes, qual era a cauda que lhe garantia a condição de dependente? Era a menoridade,tornou-se maior, deixou de ser dependente. 10 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO Era o casamento, divorciou, deixou de ser dependente. Era inválido, deixou de ser inválido, a perícia médica disse que não é mais inválido, perdeu a condição de dependente. Então é uma regra que vale para todas as situações. Em caso de divórcio, se houver direito à pensão alimentícia, pensão judicial, a dependência continua. Aliás, tem uma súmula do STJ, a súmula 336, que diz, mesmo que no divórcio não tenha havido direito a pensão alimentícia, ou seja, o cônjuge abriu mão dos alimentos, da pensão alimentícia, se futuramente for comprovada a necessidade financeira econômica, essa súmula diz que a pensão alimentícia pode ser estabelecida, a pensão alimentícia previdenciária. Não teve pensão alimentícia judicial, abriu mão, futuramente, quando o segurado morrer, esse ex cônjuge que deixou de ser dependente porque abriu mão da pensão alimentícia, provar a necessidade financeira, ele vai na previdência, e de acordo com a súmula 336, ele tem direito a pensão previdenciária. E se o divorciado casar de novo? Ele perde a condição de dependente? Mesmo sendo dependente? Neste caso existem duas posições. O artigo 77 da Lei 8.213, diz que o cônjuge só perde a condição de dependente com a morte dele. A primeira posição diz que não perde a condição de dependente mesmo casando, mas ser casado ele não passa a depender do novo cônjuge? Não é isso que fala a Constituição? Não é isso que diz que a dependência na primeira classe é absoluta? Então vai ficar dependente dos dois? Do primeiro e do segundo? Então, neste caso, o STJ, ele entende que passa a depender do segundo cônjuge e não do primeiro. Então se ele tiver a pensão do primeiro, imagine-se que o primeiro faleceu e estava recebendo a pensão, casou, casando, teoricamente ele perderia a pensão do primeiro porque ele vai depender do segundo. Se o segundo morrer, passaria a receber a pensão do segundo. Ainda existia, antigamente, uma classe chamada de quarta classe, esta quarta classe foi extinta pela lei 9032/95, essa classe era chamada dos designados. Quem não tinha dependentes em nenhuma classe, ele podia designar uma pessoa, desde que menor de vinte e um anos, ou maior de sessenta anos para ser seu dependente. Então a tia podia designar seu sobrinho menor de vinte e um, ou podia designar a avó ou uma outra pessoa maior de sessenta. Bom, esta classe foi extinta pela lei 9032/95. Quem já está recebendo o benefício, ou quem já estava recebendo o benefício por ser dependente desta quarta classe em 1995, continua recebendo pois é um direito adquirido efetivamente implementado. Agora, quem não estava recebendo, mesmo que fosse designado, mesmo que fosse dependente por esta quarta classe, não vai ter direito, por quê? Tinha uma expectativa de direito. Não em direito realmente, porque não estava gozando ainda do benefício. Embora, volto a frisar, tivesse sido designado dependente pela lei vigente anteriormente. Então houve uma relativização desse direito. Isto esta sacramentado na súmula número 4 da turma de uniformização dos juizados especiais federais. Então esta quarta classe não existe, e quem estava recebendo até 95 continua recebendo, quem não estava recebendo, mesmo que fosse designado, perdeu esse direito. 11 DIREITO PREVIDENCIÁRIO PROF. ANTÔNIO LOPES MONTEIRO PERGUNTAS: 1) Quem são os beneficiários diretos e indiretos da previdência social? 2) Quem pode ser segurado da previdência social? 3) O que é e quais são os segurados obrigatórios? 4) Explique os conceitos de empregado, trabalhador avulso, empregado doméstico, segurado individual e segurado especial. 5) O garimpeiro é segurado? 6) Quais os requisitos para ser segurado facultativo? 7) O que é filiação ao regime da previdência social? 8) Quando ocorre a filiação? 9) O segurado que deixa de pagar a previdência social continua filiado? 10) O que é o período de graça? 11) Quais as hipóteses de período de graça? 12) O período de graça pode ser prorrogado? 13) Quais os direitos que o segurado tem durante o período de graça? 14) Qual o efeito da expiração do período de graça? 15) O que são dependentes? 16) Quais são os dependentes? 17) Quais são as classes de dependentes? 18) A concubina e dependente? E a companheira? 19) Os filhos são dependentes até que idade? 20) Quem são os dependentes da primeira, segunda e terceira classe? 21) A dependência precisa ser provada? 22) O pai é dependente? 23) No caso de divórcio o ex-cônjuge continua sendo dependente? 24) E se o divorciado casar de novo? 25) Existe a quarta classe de dependente?
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