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Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br 1. Sumário 1. Sumário ................................................................................................................... 1 1. Direitos básicos dos consumidores ........................................................................ 2 1.1. Proteção da vida, saúde e segurança ............................................................... 2 1.2. Educação ........................................................................................................... 2 1.3. Informação ........................................................................................................ 3 1.4. Publicidade ........................................................................................................ 4 1.5. Contratos .......................................................................................................... 7 1.6. Danos ................................................................................................................ 7 1.7. Acesso aos órgãos judiciários e administrativos .............................................. 8 1.8. Facilitação dos meios de defesa do consumidor .............................................. 8 1.9. Serviços públicos ............................................................................................... 9 2. Vício do produto ou serviço ................................................................................. 11 Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Direitos básicos dos consumidores 1.1. Proteção da vida, saúde e segurança I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; Produtos ou serviços não poderão produzir ou oportunizar riscos (possibilidade de danos) aos consumidores. Essa afirmação inaugura a fase preventiva do CDC. O recall, por exemplo, existe para que se evite um dano. O artigo 6º, I pode ser correlacionado aos artigos 8º, 9º e 10 do CDC, que tratam da proteção à vida, saúde e segurança do consumidor. Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Observação: Produtos ou serviços não podem gerar riscos, salvo os normalmente previsíveis. Existem serviços e produtos perigosos na sua essência. Exemplo: esportes radicais, como saltar de paraquedas (risco para cardíacos), prática de rafting (risco de hipotermia), paintball (risco de hematomas). Cumpre ressaltar que quando normais e previsíveis deve existir uma clara informação dos referidos riscos. Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. 1.2. Educação II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; A educação para o consumo zela por um consumo consciente, uma escolha conscienciosa. É a intervenção do Estado até mesmo no momento das fusões das empresas, porque esse inciso assegura a liberdade de escolha e igualdade nas contratações. Isso produz um Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br sentimento na sociedade de que deve existir um zelo até mesmo antes de se colocar um produto no mercado de consumo. Para se promover liberdade de escolha e igualdade nas contratações devem-se fiscalizar as empresas que fornecem os produtos. Ao falar-se das fusões, quando as empresas produzem um monopólio de mercado, viola-se a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. Exemplo: a Sadia tentou fundir com a Perdigão, porém, para ocorrer a fusão, o Conselheiro do CADE determinou que elas se desfizessem de algumas marcas de produtos. Exemplo2: A Nestlé tentou fundir com a Garoto, e o Conselheiro do CADE não autorizou a fusão. Imagina-se que o motivo seja a monopolização do mercado, em prejuízo ao consumidor, pois não haveria outras opções de consumo ao consumidor comum. Exemplo3: Ambev 1. Diante da fusão com a Interbrew e a compra de diversas marcas de cerveja do mercado mundial, ela “poderia” inclusive praticar dumping, abaixando agressivamente o preço de seus produtos para quebrar a concorrência. Se o preço da Brahma fosse a R$0,12 e o da Antartica fosse a R$0,13, ninguém compraria Itaipava, Belco etc. Essas empresas quebrariam e depois a Ambev “poderia” vender seus produtos ao preço que quisesse, monopolizando o mercado. O art. 6º, II serve mais para uma ação civil pública, sendo bastante difícil a colocação em prática pelo consumidor individual, pois ele não tem como interferir no cotidiano de uma empresa. 1.3. Informação III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) Vigência Os consumidores devem ser adequadamente educados e informados acerca das condições gerais das contratações e de todas as características dos produtos ou serviços colocados no mercado de consumo. 1 AB InBev é uma companhia de bebidas Belga-Brasileira formada em 2004 pela da fusão da empresa brasileira Ambev e a belga Interbrew. A InBev controla 14% do mercado mundial de cervejas. É a cervejaria dominante na Bélgica, Brasil e grande parte da Europa Ocidental. A empresa detém mais de duzentas marcas de bebidas como: Stella Artois, Brahma, Skol, Antarctica, Beck's e Leffe. Emprega 150.000 pessoas e opera em 32 países da América, Europa e Ásia. Em julho de 2008, comprou a fabricante de cervejas americana Anheuser- Busch, dona da cerveja mais vendida dos EUA, a Budweiser, formando a maior cervejaria do mundo. Sua produção é de 39,9 bilhões de litros por ano, com 20,2% do mercado mundial. Fonte: Wikipedia. Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br Exemplos: Bebida H2OH! 2; informações nutricionais (até mesmo do copo de água mineral, que deve ter um PH neutro), quantidade de sódio em bebidas e o mal que faz no organismo; airbag (quando ele é acionado e quando não é). 1.4. Publicidade IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; Inicialmente, é importante destacar a diferença entre publicidade e propaganda. Propaganda visa a informar, a propagar uma mensagem, à difusão de uma ideia ou de um ideal. Propaganda é gênero. A publicidade visa ao lucro, à venda de um bem de consumo. A mensagem do Estado “o que fazer para evitar a dengue” é uma propaganda. O anúncio de um novo veículo da Mercedes é publicidade. Há uma sanção chamada “imposição de contrapropaganda”, para avisar aos consumidores sobre os riscos oportunizados pelos produtos e serviços. Isso é aplicado às indústrias do cigarro, da bebida etc. O professor recomenda leitura do artigo “O Abuso de Direito na Concessão de Crédito”, da lavra da Desembargadora do TJRJ Cristina Gaulia, o qual foi publicado na Revista da EMERJ, v. 12, nº 47, 20093. No referido artigo ela cita o seguinte trecho de Kotler4: “Homens de marketing não criam necessidades, elas já existem antes deles. Os homens de marketing, juntamente com outros influenciadores da sociedade, influenciam os desejos, ou seja, sugerem aos consumidores que um Cadillac satisfaria as necessidades de status social de uma pessoa. Homens de marketing não criam a necessidade de status social, mas tentam mostrar como certo bem específico pode satisfazer aquela necessidade.” Acrescenta ainda um texto de Frei Beto5: 2 Por considerar que o consumidor pode adquirir os produtos H2OH! e Aquarius Fresh pensando ser água, o Ministério Público Federal no Distrito Federal ajuizou ação civil pública para tentar proibir a comercialização dos refrigerantes. Eles são produzidos pela Pepsi Cola Indústria da Amazônia Ltda (Pepsico) e Coca-Cola do Brasil, respectivamente. Fonte: www.conjur.com.br. 3 http://www.emerj.rj.gov.br/revistaemerj_online/edicoes/revista47/Revista47_94.pdf 4 Kotler, P.; Administração de marketing – Análise, planejamento, implementação e controle, 1995, Ed. Atlas, SP, p. 33. 5 Gosto da Uva – Escritos selecionados, Frei Betto, Garamond, p. 39. Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br “Essa apropriação religiosa do mercado é evidente nos shopping centers. Quase todos possuem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas. São os templos do deus mercado. Percorrem-se os seus claustros marmorizados ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Ali dentro, tudo evoca o paraíso: não há mendigos nem pivetes, pobreza ou miséria. Com olhar devoto, o consumidor contempla as capelas que ostentam, em ricos nichos, os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode pagar à vista, sente-se no céu; quem recorre ao cheque especial ou ao crediário, no purgatório; quem não dispõe de recurso, no inferno. Na saída, todos se irmanam na mesa ‘eucarística’ do Mc Donald’s.” Tudo isso para demonstrar a influência da propaganda, da publicidade no mercado de consumo. A publicidade pode ser: a) Enganosa: em seu teor há mensagem falsa. O professor recomenda o filme “Amor por Contrato”. Há uma família bonita, que vai para uma pequena cidade e seus hábitos de consumo são copiados por toda a cidade. E essa família senta com os fornecedores para falar sobre o aumento da venda dos produtos após a sua chegada à cidade; e várias famílias são espalhadas dolosamente pelo mundo para estimular a venda de produtos. b) Abusiva: induz o consumidor a se comportar de forma prejudicial à sua integridade. Exemplo2: a que desrespeita valores ambientais, publicidade de bebidas alcoólicas, do tabaco (não existe mais no Brasil). c) Enganosa por omissão: deixa de informar sobre um dado essencial do bem de consumo. Exemplo3: encarte de imobiliária com a publicidade de um imóvel que omite informações como sol da tarde, localizado sobre o playground, ao lado da piscina, coisas que desvalorizam o imóvel. As práticas comerciais abusivas são as práticas do comércio e estão previstas no artigo 39 do CDC. Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos; II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes; III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços; V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes; VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos; VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro); IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. (Incluído pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994) XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999 XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério (Incluído pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995). XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido. (Incluído pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999) O ato ilícito pode surgir de uma ação ou omissão voluntária que cause um dano e que tenha um nexo de causalidade. Ou ainda pode ser constituído de um abuso de direito. A prática comercial abusiva é um abuso de direito, rompem a linha do exercício regular do direito. O rol de práticas abusivas é exemplificativo, assim como qualquer rol do CDC, que é principiológico. O inciso I trabalha com a prática de venda casada. Não se pode condicionar a compra de um produto/serviço à compra de outro produto/serviço, bem como a imposição de limite quantitativo. Na imposição de limite quantitativo o fornecedor força o consumidor a adquirir quantidade maior ou menor do que gostaria. Já na venda casada ao comprarum produto é obrigado a levar outro. Exemplo4: Não dá para comprar 1 danoninho, 1 yakult (imposição de limite quantitativo). Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br Exemplo5: Medicamento. Há uma lista da ANS dos medicamentos que podem ser fracionados, mas, muitas vezes o consumidor não consegue comprar a quantidade que vai utilizar, compra a mais. O inciso III do art. 39 veda o envio de produto ou prestação de serviços sem prévia solicitação do consumidor. O parágrafo único do artigo 39 do CDC prescreve que o serviço prestado ou o produto enviado sem a solicitação do consumidor será considerado amostra grátis. Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento. Observação: Cartão de crédito enviado sem solicitação, se o consumidor desbloqueou e o utilizou, não pode alegar amostra grátis. No entanto, pode exigir o não pagamento da anuidade. Também é vedado (inciso IX) negar a venda de bens ou a prestação de serviços diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento. Pode o fornecedor escolher a forma de pagamento, recusando cheque ou cartão, desde o consumidor seja informado ao entrar em seu estabelecimento ou antes de pedir o produto/serviço. Exemplo6: Posto de gasolina com placa “só aceitamos dinheiro”. Ainda no inciso IV do art. 6º, cláusulas abusivas são aquelas que estejam em desacordo com o princípio da boa fé objetiva. 1.5. Contratos V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; O inciso V fala sobre contratos. O estudo dos contratos hoje é mais amplo, atingindo as fases pré-contratual, pós-contratual e contratual. 1.6. Danos VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br O inciso VI fala sobre os danos, seja de ordem material ou moral. 1.7. Acesso aos órgãos judiciários e administrativos VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; Após a CRFB/88 o CDC foi a primeira lei que tratou explicitamente de dano moral. O inciso VII fala do acesso aos órgãos judiciários e administrativos, antes mesmo do surgimento dos juizados especiais (1995), já existiam os juizados especiais de defesa do consumidor. 1.8. Facilitação dos meios de defesa do consumidor VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; O inciso VIII é muito importante, trata sobre a inversão do ônus da prova. Em processo civil, o ônus da prova cabe a quem alega. No CDC, o fornecedor deve fazer a contraprova do seu direito. A inversão do ônus da prova é uma das formas de facilitar a defesa do consumidor. Essa inversão tem uma característica própria. Para ser concedida, a alegação deve ser verossímil (aparenta ser verdadeira) ou o consumidor deve ser hipossuficiente. Exemplo1: Consumidor tem um problema com a empresa de energia elétrica, a energia será cortada e a empresa está alegando uma cláusula contratual. O consumidor não possui o contrato de prestação de serviços com a empresa de energia elétrica. Nessa situação, a critério do juiz, poderá ser invertido ônus da prova, pois a alegação parece verdadeira segundo as regras ordinárias de experiência comum (qualquer um do povo, não dotado de qualquer expertise consegue dizer se a alegação é verdadeira ou falsa). O hipossuficiente é o sujeito que tem dificuldade de provar seu direito. Hipossuficiência guarda relação com relação de prova. Exemplo2: O consumidor raramente pode provar que a compra foi recusada mesmo tendo sido efetuado o pagamento da fatura, ou que o caixa eletrônico engoliu seu cartão ou que fez o saque, mas o dinheiro não saiu da máquina. A inversão da prova pode ser de ofício. O CDC é norma de ordem pública, e seus benefícios podem ser concedidos de ofício. Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br Atenção: a súmula 381 do STJ tira da aplicação de ofício as cláusulas de contrato bancário. STJ, Súmula 381. Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas. � O juiz poderá ou deverá inverter o ônus da prova? O CDC utilizou um elemento subjetivo ao dizer que “ao critério do juiz” o ônus da prova poderá ser invertido. Se assim é, ele não tem o dever, mas a faculdade de invertê-lo, podendo fazê-lo inclusive de ofício. O momento da inversão do ônus da prova é o do despacho saneador ou, se no Juizado Especial, na AIJ. Essa é uma espécie de inversão do ônus da prova. A inversão pode ser ope judicis (por força do direito) ou ope legis (por força da lei). A inversão que acabamos de estudar é ope judicis. O CDC também trabalha com a hipótese do art. 38, que estabelece como inversão ope legis os casos de informação publicitária, que caberá a quem a patrocinar. Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. Exemplo3: Oferta (publicidade enganosa) não cumprida. O fornecedor deve levar aos autos o material publicitário demonstrando que a publicidade não trazia a oferta indicada pelo consumidor. Se houver interpretação dúbia, deve-se adotar a mais favorável ao consumidor. A publicidade é contrato, pelo princípio da vinculação da publicidade. Todo meio de informação suficientemente preciso que foi fornecido antes se torna contrato. Toda vez que se falar em publicidade, a inversão está garantida, é inversão ope legis. Há uma construção no sentido de que não é somente na publicidade que há inversão ope legis, mas também no art. 12, §3º e 14, §3º (fato do produto ou do serviço). Nesse caso, a inversão não precisa ser dada no despacho saneador, pois já foi dada pela lei. 1.9. Serviços públicos X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos dedescumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. Os serviços públicos deverão ser prestados de maneira eficaz e adequada e, quanto aos essenciais, de forma contínua. Como exemplos de serviço público essencial podem ser citados o de água, luz, esgoto, os descritos na lei da greve. Outros serviços públicos podem se equiparar e se apresentar de forma tão essencial quanto, tais como o de internet. Serviço contínuo: em um primeiro momento entendeu-se que não poderia haver o corte do serviço essencial porque isso feriria a dignidade da pessoa humana, e a cobrança deveria ser feita por protesto, ação judicial; outra corrente entendeu que poderia haver o corte, pois concessionaria de serviço público não se confunde com entidade beneficente, e a inadimplência poderia gerar um impacto social muito maior. Como essa segunda opção tem uma vertente econômica importante, foi a corrente vencedora, adotada pelo STJ. Existem alguns critérios a serem adotados para que haja o corte: a inadimplência deve ser superior a 30 dias, o consumidor deve ser cientificado por via própria (na própria conta) do débito. Observação: Quando a vida estiver em risco, o corte não poderá ser feito. Logo, não pode haver corte de água em escola, creche e hospital. A pessoa que esteja em home care deverá avisar o fornecedor dessa situação para que não ocorra o corte. Dica: o artigo 6º do CDC funciona como um índice do CDC. ART. 6º CORRELAÇÃO COM DEMAIS ARTIGOS I- vida, saúde, segurança Art. 8, 9, 10 II - educação Art. 30 a 35 III - informação Art. 30 a 35 IV – publicidade Art. 36, 37, 38 IV – práticas comerciais abusivas Art. 39 Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br Para resolver qualquer questão de prova, deve-se identificar a relação de consumo, com as figuras do consumidor standard (art. 2º) ou por equiparação (art. 17 e 29), do fornecedor (art. 3º), o serviço (art. 3º, §2º) ou produto (art. 3º, §1º). Por fim, citar os aspectos constitucionais, que estão no art. 1º, e os princípios, no art. 4º. 2. Vício do produto ou serviço A matéria está prevista nos artigos 18 a 21 do CDC. Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. IV – cláusulas abusivas Art. 51 V - contratos Art. 46 a 54 VI – danos Art. 12 a 17 VII – acesso ao Judiciário e órgãos administrativos Art. 5º VIII – inversão do ônus da prova Art. 38 X – serviços públicos Art. 22 Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. § 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. § 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - complementação do peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. § 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br § 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas dofabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. O vício pode ser de qualidade ou de quantidade. a) De qualidade: é a frustração da expectativa do consumidor, ou seja, é quando o bem da vida decepciona o consumidor. Exemplo1: Relógio não marca a hora, carro funciona mal. b) De quantidade: bem de consumo se apresenta em quantidade inferior àquela ofertada. Ou, ainda, quando a quantidade é superior, frustrando o consumidor quanto à quantidade informada. Exemplo2: Venda de 300 canais, só me fornecem 287 canais. Exemplo3: Chef de cozinha utiliza dez pacotes de amido de milho, achando que cada um tem 1kg conforme informado, mas tem 1,1kg, e estraga toda a comida que fez. Em ambas as espécies de vício, eles podem ser aparentes ou ocultos. O vício aparente é aquele de fácil verificação. O vício oculto é o que se manifesta em momento posterior. O artigo 18 do CDC trouxe o princípio da solidariedade, ao prescrever que os fornecedores de produtos ou serviços responderão solidariamente (solidariedade legal) pelos vícios de bens de consumo colocados no mercado. Assim, o consumidor tem o direito de demandar apenas contra um. O fornecedor terá 30 dias para sanar o vício do produto ou serviço (artigo 18, §1º, do CDC). Exemplo4: X compra uma televisão e ao chegar a casa ela não funciona, X não pode, imediatamente, pedir a troca do produto, pois o fornecedor terá 30 dias para sanar o vício. Há exceções: se for bem ou produto essencial ou a substituição das partes viciadas importar desvalorização do produto, há obrigatoriedade de troca imediata (art. 18, §3º). Não sanado o vício no prazo de 30 dias o consumidor poderá alternativamente solicitar: � Devolução das quantias pagas sem prejuízo de perdas e danos � Troca Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 14 www.cursoenfase.com.br � Abatimento proporcional do preço O produto deve ser trocado por outro de mesma qualidade, se a qualidade for superior, o consumidor deve pagar a diferença, e se for inferior, deve obter o abatimento do preço. Os trinta dias para sanar o vício são corridos. Não existe o direito de troca. Só existe direito de troca quando o produto apresentar vício e este não for sanado no prazo de trinta dias, salvo nas hipóteses do §3º do art. 18. O fornecedor que efetua a troca o faz por benevolência, e não é obrigado a informar. Há outra exceção quando a venda é feita à distância, fora do estabelecimento. E não é troca, é devolução. A devolução das quantias pagas é sem prejuízo das perdas e danos, qualquer que seja (dano intra rem). Exemplo5: o veículo fica 30 dias para ser consertado. Se o consumidor precisar alugar outro veículo deve ser indenizado. Quanto ao abatimento do preço, suponha-se que o consumidor foi iludido pelo fornecedor, tendo sido informado que o carro não sairia de linha (não confundir troca de modelo com saída de linha – sair de linha é não fabricar mais). O consumidor compra o carro e ele é retirado de linha, e depois de 5 anos não há sequer peça para reposição. O carro que sai de linha sofre desvalorização. Nesse caso, o consumidor tem direito ao abatimento proporcional do preço. Observação1: O STJ já decidiu que a alteração de modelo de carro não é considerado como vício (ou se travaria o avanço tecnológico) e não dá direito a abatimento proporcional. Observação2: Há situações em que o fornecedor já vende o produto com abatimento do preço, como na ponta de estoque, produto de mostruário. Isso guarda relação com o tempo de vida útil. Na nota fiscal deve haver a discriminação: produto de mostruário. Se estiver arranhado, deve constar: produto de mostruário e arranhado. Observação3: O abatimento do preço não importa em isenção de responsabilidade. Exemplo6: Consumidora comprou um biquíni de uma loja de grife que, por apresentar defeito no lacinho, estava sendo vendido com abatimento no preço. Quando foi utilizar o biquíni, ao sair da água, o biquíni ficou transparente, revelando defeito no forro. Nesse caso, evidenciou-se defeito oculto e a empresa foi condenada a indenizar a consumidora por danos morais no valor de R$5.000,00. O prazo de trinta dias para sanar vício do produto pode ser flexibilizado, pela sua redução para até sete dias ou ampliação para até cento e oitenta dias (há bens que demoram mais de trinta dias para serem reparados), porém essa alteração deve ser feita de Direito Consumidor O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 15 www.cursoenfase.com.br forma expressa. A redução pode ser feita por contrato de adesão, mas a ampliação não, pois deve haver concordância do consumidor.
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