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Criatividade Inovação Re in v e n t a r M ercado Estrátegia In o v a r O bj et ivo Novos horizontes Inventor Liderança Organizaçã Fazer Plano de Negócio G e st o re s A p o ioProm over Ousadia realizaçãoVisionário Necessidade Potencia Ec o n ôm ia Tr a n sfo rm a ç ão Idéia Oportunidade In v e s t im ent o Gestã Prática Im a gi na çã o Integração Pr o jet o s Processos SucessoG er e n c ia r Empreendedorismo Erika Rúbia de Souza Erika Rúbia de Souza EMPREENDEDORISMO Belo Horizonte Fevereiro de 2014 COPYRIGHT © 2014 GRUPO ĂNIMA EDUCAÇÃO Todos os direitos reservados ao: Grupo Ănima Educação Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610/98. Nenhuma parte deste livro, sem prévia autorização por escrito da detentora dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. Edição Grupo Ănima Educação Diretoria Pedro Luiz Pinto da Cunha Coordenação e Desenvolvimento de Novos Produtos EaD Cláudia Silveira da Cunha Coordenação de Produção de Materiais Patrícia Ferreira Alves Equipe EaD Erika Rúbia de Souza é Mestre em Administração, especialista em Marketing e Comunicação e graduada em Comunicação Social. É professora dos Cursos Superiores de Marketing, Processos Gerenciais e Recursos Humanos do Centro Universitário UNA. Possui experiência em empresas de diversos portes e segmentos, tais como automotivo, tecnológico e comunicacional, que proporcionaram vivência em setores administrativos e de marketing. Vencedora dos prêmios: “Jovem empreendedor/2009” e “Prêmio Nacional de Criatividade no Combate à Pirataria”, promovido pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos. CONHEÇA A AUTORA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA A disciplina Empreendedorismo compõe a área de gestão e convida a uma reflexão sobre o processo empreendedor. A reflexão parte do princípio de que o ato de empreender não se limita à criação de uma empresa. Todas as vezes que criamos algo novo, inusitado ou provocamos uma inovação em algo já existente, estamos empreendendo. Portanto, o processo empreendedor requer do indivíduo um comportamento diferenciado, que ultrapassa as técnicas gerenciais. Assim, a disciplina se inicia a partir do conhecimento das características de um indivíduo empreendedor, delimitando suas similaridades e diferenças com o administrador tradicional. Aponta- se neste processo de conhecimento, que o ato de empreender depende da sua capacidade em reconhecer oportunidades e, a partir delas, realizar um planejamento criterioso que chamamos de Plano de Negócio. O Plano de Negócio é um documento que descreve um empreendimento e guia o empreendedor em seus propósitos. Por isso, a disciplina faz um detalhamento dos elementos que compõem o Plano de Negócio, passando pelos aspectos mercadológicos e financeiros a fim de conhecer os indicadores de viabilidade do negócio. A abertura de uma empresa, dentre outros fatores, exige do empreendedor recursos financeiros. Então, a disciplina também aborda aspectos relacionados à aquisição de recursos financeiros, bem como de tipos de assessoria as quais o empreendedor pode buscar auxílio durante a árdua tarefa de sobreviver no mercado. Por fim, a disciplina propõe uma reflexão sobre o desafio deste século, que é conciliar capacidade produtiva e lucrativa com a gestão ambiental. Aponta-se que o mercado não é mais complacente com empresas que não preveem em suas práticas organizacionais uma gestão ambiental responsável. Refletindo, desta maneira, sobre um futuro que já bate à nossa porta. Enfim, espera-se que você aproveite esse material, compreendendo os preceitos do Empreendedorismo e sua aplicação, de forma que possa, a partir daí, desenvolver habilidades empreendedoras. Bons estudos! UNIDADE 1 003 Introdução ao Empreendedorismo 004 Empreendedorismo: conceitos básicos 005 A importância do Empreendedorismo para o desenvolvimento econômico 007 Empreendedorismo por necessidade x Empreendedorismo por oportunidade 012 O empreendedor e suas características 017 Intraempreendedorismo: empreendendo em empresas já consolidadas 022 Revisão 025 UNIDADE 2 027 Mapeando oportunidades 028 Ideia x Oportunidade 029 Critérios para análise de oportunidades 033 Oportunidades ponto.com 037 Modelos de negócios virtuais 042 Desafios dos negócios na web 043 Revisão 048 UNIDADE 3 047 Plano de negócio: o principal instrumento do empreendedor 048 A arte da imortalidade 049 Planejamento de um plano de negócio 052 Finalidades do plano de negócio 056 A estrutura do plano de negócio 060 Revisão 065 UNIDADE 4 066 Desenvolvendo o plano de negócio 067 Sumário Executivo e Descrição da Empresa 068 Missão e visão 073 A importância da análise ambiental 077 Revisão 085 5 6 7 8 UNIDADE 5 088 Plano de Marketing 089 Análise de mercado 090 Público-alvo: variáveis de seg mentação de mercado 097 Mix de produto : o gerenciamento da carteira de produtos pelo CVP e BCG 102 Composto de marketing 107 Revisão 112 UNIDADE 6 113 Plano financeiro 114 Elementos do plano financeiro 115 Ponto de equilíbrio e índices financeiros 119 Análise da viabilidade e retorno financeiro do negócio 127 Revisão 129 UNIDADE 7 131 Criando a empresa: alavancage m de recursos e questões legais 132 Assessoria para negócio: incubadoras, institutos e franchising 133 Fontes de financiamento 136 Programas do Governo Brasileiro 141 Questões legais para a constituição de uma empresa 143 Revisão 147 UNIDADE 8 149 Empreendedorismo ambiental: tendências e desafios 150 Empreendedorismo x Empreendedorismo ambiental 151 A responsabilidade ambiental e seu impacto nas estratégias organizacionais 153 Negócios verdes: o futuro presente entre nós 162 Revisão 165 REFERÊNCIAS 167 unidade 1 004 EMPREENDEDORISMO INTRODUÇÃO AO EMPREENDEDORISMO FIGURA 1 - Às vésperas da invenção da roda Fonte: BLOG CARDÁPIO PEDAGÓGICO, 2012. A charge acima convida-nos a pensar sobre uma das características que um empreendedor deve ter: a persistência. Mas, o que é ser empreendedor? O que significa Empreendedorismo? Qual sua relação com o desenvolvimento econômico? Esta unidade tem a finalidade de responder à essas questões. Para isso, introduz-se o conceito de Empreendedorismo, demonstrando a sua importância para o desenvolvimento econômico. Ao término desta unidade, o leitor será capaz de diferenciar o ato de empreender por necessidade do ato de empreender por oportunidade. Também serão discutidas as principais diferenças entre o administrador e o empreendedor. Por fim, uma modalidade da prática empreendedora será apresentada, o intraempreendedorismo. Inovação Mercado Estrátegia Ob je tiv o Liderança Fazer Ap oi o Prom over Im ag in aç ão ia r unidade 1 005 EMPREENDEDORISMO EMPREENDEDORISMO: CONCEITOS BÁSICOS Embora tenha ganhado vigor somente a partir da década de 90, o termo Empreendedorismo existe há mais de 800 anos. Segundo Dolabela (2006, p. 29) “Empreendedorismo não é um tema novo ou modismo: existe desde sempre, desde a primeira ação humana inovadora, com o objetivo de melhorar as relações do homem com os outros e com a natureza”. CONCEITO O Empreendedorismo é uma palavra derivada do verbo francês entreprende (empreender)que é usada para designar o ato de “fazer algo”. Quem é que nunca “fez algo” novo? Quem é que nunca criou, reinventou ou inovou? Todo ser humano em algum momento da vida já se utilizou destas habilidades, afinal, a criatividade é aspecto inerente à condição humana. Desde a criação da roda até os mais modernos aparelhos eletrônicos da atualidade, deparamo-nos com uma série de invenções que transformaram a vida humana. O termo Empreendedorismo durante a história... Dornelas (2008) explica que o termo Empreendedorismo durante a história foi utilizado de várias maneiras para designar indivíduos que se diferenciaram dos demais devido às suas características, tais como: criatividade, coragem e poder de transformação. Um dos mais marcantes empreendedores da história foi Marco Polo, que foi um homem de muitas facetas, atuando como explorador, embaixador e mercador. Como explorador, Marco Polo tentou estabelecer uma rota comercial para o oriente e, como empreendedor, assinou um contrato com um homem rico na promessa de vender suas mercadorias. Na Idade Média, o termo era usado para identificar indivíduos que assumiam grandes riscos ao gerenciar projetos de produção cujos recursos eram oriundos dos governos dos países. Já no século VXII, Dornelas (2008) explica que eram considerados empreendedores aqueles que firmavam contratos com o governo a fim de fornecer algum produto ou serviço. No século XVIII, a palavra ganhou um outro viés, vindo a ser usada para identificar pesquisadores como Thomas Edison e outros estudiosos da eletricidade e da química. No final do século XIX e início do século XX, Dornelas (2008) afirma que os empreendedores passaram a ser frequentemente confundidos com administradores. Mas, foi somente em unidade 1 006 EMPREENDEDORISMO 1945 que o termo Empreendedorismo ganhou contornos próprios. Um dos mais importantes economistas, Joseph Schumpeter, debruçou-se sobre este tema, tornando-se um dos grandes responsáveis pelos estudos a respeito do Empreendedorismo. Schumpeter (1982) ao desenvolver sua Teoria da Destruição Criativa, dissertou sobre o impacto da criação de novos produtos que trazem como consequência a destruição de empresas e modelos de negócios que não inserem a inovação em suas práticas organizacionais. Neste contexto, o autor apresenta o Empreendedorismo como o principal elemento para o desenvolvimento da economia e aponta o empreendedor como um agente de mudança, responsável pela inovação e esta, por sua vez, como a grande responsável pelo constante progresso econômico. Assim, Schumpter define o empreendedor como: [...] uma pessoa que deseja e é capaz de converter uma nova ideia ou invenção em uma inovação bem sucedida e sua principal tarefa é a “destruição criativa”, a qual se dá através da mudança, ou seja, através da introdução de novos produtos ou serviços em substituição aos que eram utilizados. (SCHUMPETER, 1982, p. 26). A partir daí, vários estudiosos deram sua contribuição na definição de Empreendedorismo. De acordo com Wildauer (2010, p.25), Empreendedorismo é a “capacidade que uma pessoa possui de formular uma ideia sobre um determinado produto ou serviço em um mercado, seja essa ideia nova ou não.” Já Birley e Muzika (2005, p.7) defendem que a capacidade empreendedora é uma abordagem à administração que se define como “a exploração de oportunidades independentemente dos recursos que se tem à mão”. Dornelas (2008, p.23) também traz sua contribuição nessa discussão, ao afirmar que: “o empreendedorismo envolve o processo de criação de algo novo, de valor. [...] requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer.” A apesar das várias definições existentes para o termo Empreendedorismo, os autores concordam com a premissa desenvolvida por Schumpeter (1982), de que o Empreendedorismo, por meio da inovação, propulsiona o desenvolvimento econômico. O capítulo a seguir convida o leitor a discutir esse aspecto, apresentando os benefícios do Empreendedorismo para as economias de países que o adotam como um caminho para obter vantagem competitiva neste mercado globalizado. unidade 1 007 EMPREENDEDORISMO A IMPORTÂNCIA DO EMPREENDEDORISMO PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Fonte: INATEL NESP, 2012. Você está empregado! Essa era a frase que milhares de graduados costumavam ouvir assim que se formavam até a década de 70. Grandes empresas nacionais e multinacionais ou órgãos públicos absorviam grande parte da mão de obra que se formava. Os salários eram convidativos nas empresas privadas e a estabilidade oferecida pelas repartições públicas era o sonho de muita gente. Frente a essa realidade, o ensino superior era voltado para os aspectos específicos da profissão, não havia o interesse em discutir sobre a abertura de uma empresa. Até mesmo os cursos de administração ou de gestão, tinham como foco a gerência de uma empresa e não sua abertura. Contudo, esse cenário mudou. Na década de 90, pôde-se observar o aumento do número de desempregados (GRÁFICO 1). A mudança foi movida pelo contexto econômico e pela aceleração de abertura de instituições de ensino superior no Brasil. Melhor explicando, o aumento do número de instituições de ensino superior provocou, por consequência, um número cada vez maior de profissionais no mercado, intensificando a concorrência entre eles. Com um mercado profissional extremamente competitivo, foi preciso que o profissional revisse suas alternativas de renda. O caminho encontrado para se lidar com a consequência dessas transformações foi o Empreendedorismo. FIGURA 2 - Carteira de trabalho unidade 1 008 EMPREENDEDORISMO GRÁFICO 1 - Porcentagem de desocupados na PEA (População Economicamente Ativa) Fonte: ECONOMIA E SOCIEDADE, 2003, p.115 Então, na década de 90, o Brasil voltou o seu olhar para o que estava acontecendo no mundo e percebeu que essa necessidade de adequação frente às transformações que estavam ocorrendo, não era exclusividade sua. O Empreendedorismo estava se apresentando para o mundo todo, como a alternativa mais promissora frente aos problemas econômicos. Os seus benefícios eram evidentes em países como os Estados Unidos, que viu na década de 90, a redução da inflação e das taxas de desemprego ocasionados pelas políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento do Empreendedorismo. Dornelas (2008) exemplifica algumas destas políticas públicas como: programas de incubação de empresas e parques tecnológicos; programas de incentivos governamentais para a promoção da inovação; subsídios governamentais para a criação de novas empresas, entre outros. Além dessas ações de estímulo ao Empreendedorismo, pôde-se ver todo um movimento mundial voltado para educação empreendedora. Notou-se o desenvolvimento de currículos integrados às práticas empreendedoras em todos os níveis, da educação fundamental até o ensino superior. Dornelas (2008) aborda alguns destes programas desenvolvidos no mundo, tais como: • Cap Ten. (Bélgica): inserção de práticas empreendedoras no currículo da educação infantil, com a finalidade de desenvolver nas crianças desde cedo as habilidades da criação e da inovação. • Bouleand Bill Createna Enterprise (Luxemburgo): programa voltado para as crianças. unidade 1 009 EMPREENDEDORISMO O programa se baseia em histórias em quadrinhos que estimulam as crianças a agirem de forma empreendedora. • NetWork For Training Entrepreneursip: programa queteve origem nos Estados Unidos e foi replicado em outras regiões do mundo. Esse programa consiste em ensinar Empreendedorismo para jovens em situação de risco social. Todo esse esforço realizado em todo o mundo, em prol do Empreendedorismo, se deve, segundo Dornelas (2008) a um consenso geral a respeito dos benefícios da ação para o desenvolvimento econômico. Para Dornelas (2008, p.9) “o Empreendedorismo é o combustível para o crescimento econômico, criando emprego e prosperidade. David reforça os argumentos de Dornelas (2008) ao explicar a razão pela qual o Empreendedorismo ganhou espaço nas escolas de gestão: [...] qual a razão de tanto interesse no Empreendedorismo? Simples: o empreendedor é identificado como um dos fatores de crescimento e desenvolvimento econômico da sociedade, pois é ele quem gera riquezas, implementando inovações de todos os tipos nas organizações contemporâneas (DAVID, 2004, p.15). Para estudar todo esse movimento e seus benefícios, em 1997 um grupo de pesquisadores organizou o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), cujo objetivo é mensurar a capacidade empreendedora de um país e sua relação com o crescimento econômico. O programa GEM, de acordo com o IBQP – Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade - é o maior estudo anual sobre a dinâmica empreendedora e conta com a participação de mais de 60 países. No Brasil, o órgão responsável pela pesquisa é o IBPQ e o seu parceiro SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que fornece apoio técnico e financeiro para a pesquisa. MAIS SAIBA Os resultados do GEM 2012 são animadores para o país. A pesquisa apontou que o número de empreendedores no Brasil, passou de 20,9% em 2002, para 30,2% em 2012, o que indica que cerca de 36 milhões de brasileiros estão envolvidos com atividades empreendedoras. E, mais do que isso, o resultado do PIB do Brasil, neste mesmo período, cresceu, indicando uma relação entre a atividade empreendedora e o desenvolvimento da economia brasileira. De acordo com o SEBRAE: unidade 1 010 EMPREENDEDORISMO [...] a evolução da taxa de Empreendedorismo é compatível com o desenvolvimento da economia, cujo Produto Interno Bruto, PIB, cresceu em média 4% no período. Existe ainda uma tendência de expansão dessa taxa devido ao ambiente de negócios (Lei Geral, Super Simples e Empreendedor Individual); ao aumento da escolaridade e da renda da população. (SEBRAE, 2013). Acredita-se que essa evolução, se deve dentre outros fatores aos programas desenvolvidos pelo Brasil para o incentivo ao Empreendedorismo. São exemplos disso, os programas Softex (Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro) e Genesis (Geração de Novas Empresas de Software, Informação e Serviço); Programa Empretec (Metodologia da Organização das Nações Unidas – ONU) desenvolvido pelo SEBRAE. O Empretec é um programa voltado para o desenvolvimento de características de comportamento empreendedor e para a identificação de novas oportunidades de negócios; cursos e programas sobre Empreendedorismo oferecidos por universidades brasileiras em todo o país, dentre outros. Além das mudanças de ordem práticas relacionadas ao incentivo ao Empreendedorismo, promovidas por meio de práticas governamentais e pelas universidades, também é interessante notar a mudança cultural ocorrida no Brasil no que tange aos aspectos de valorização das atividades empreendedoras. Nesta última pesquisa do GEM, foi inserida uma nova pergunta que questionava qual seria o sonho dos entrevistados. Surpreendentemente, o sonho de ter um negócio próprio superou o desejo de fazer carreira em uma empresa. 43,5% dos respondentes apresentaram o desejo de ter seu empreendimento, contra 27,4% que mantiveram o sonho tradicional de fazer uma bela carreira em uma empresa. A tabela 1 a seguir, ilustra a ordem de preferência dos sonhos dos brasileiros. unidade 1 011 EMPREENDEDORISMO TABELA 1 - Sonhos da população adulta brasileira - 2012 Embora as políticas públicas voltadas para o Empreendedorismo tenham crescido nos últimos anos e já tenham trazido consigo alguns dos resultados anteriormente apresentados, é importante ressaltar que ainda faltam políticas em longo prazo dirigidas às práticas empreendedoras. Dornelas concorda com essa afirmação ao dizer que: Faltam políticas públicas duradouras dirigidas à consolidação do Empreendedorismo no Brasil, como alternativa à falta de emprego, e visando a respaldar todo esse movimento proveniente da iniciativa privada e de entidades não governamentais, que estão fazendo a sua parte. A consolidação do capital de risco e o papel do Angel (anjo investidor pessoa física) também estão se tornando realidade, motivando o estabelecimento de cenários otimistas para os próximos anos. (DORNELAS, 2008, P. 13) Apesar de todas as previsões otimistas e das evidências de que o Empreendedorismo é uma força motriz para a economia, vale ressaltar que a criação de uma empresa, por si só, não gera desenvolvimento econômico. Em outras palavras, não basta simplesmente Viajar pelo Brasil 50,2 67,6 58,1 35,0 51,9 38,4 Comprar a casa própria 48,0 50,7 59,2 46,0 47,1 37,0 Ter seu próprio negócio 43,5 54,3 51,1 37,2 44,3 30,8 Comprar um automóvel 36,4 56,5 48,8 23,3 31,5 22,0 Viajar para o exterior 33,0 43,0 37,7 22,9 34,2 27,2 Diploma de ensino superior 31,6 48,4 36,6 20,5 32,9 19,8 Ter plano de saúde 29,9 51,8 40,2 11,5 30,8 15,4 Fazer carreira numa empresa 24,7 33,0 30,8 14,9 26,7 18,4 Ter seguro de vida 20,6 39,7 26,2 7,2 18,5 11,7 Ter seguro para automóvel 18,3 32,9 25,5 5,9 16,6 10,5 Casar ou formar uma família 16,1* 19,9 20,9 10,1 18,3 11,2 Comprar um computador 15,2 31,5 25,4 3,1 10,7 5,4 Sonhos da população adulta brasileira Brasil Prop % Prop % Prop % Prop % Prop % Prop % Região Norte Região Nordeste Região Centro-Oeste Região Sudeste Região Sul FONTE: GEM BRASDIL 2012 unidade 1 012 EMPREENDEDORISMO criar uma empresa. Esse empreendimento tem que estar baseado em uma oportunidade real, e deve ser bem planejado para que sobreviva aos primeiros anos e assim, gere os benefícios sociais e econômicos esperados. O capítulo a seguir, traz uma discussão a esse respeito, traçando uma diferença entre o ato de empreender por necessidade, do ato de empreender por oportunidade. Afinal, é necessário evitar as práticas empreendedoras desorganizadas e intempestivas, realizadas por uma necessidade de sobrevivência do empreendedor, e otimizar o Empreendedorismo por oportunidade, que é o que de fato, um país precisa para crescer saudável. EMPREENDEDORISMO POR NECESSIDADE X EMPREENDEDORISMO POR OPORTUNIDADE A criatividade é uma das características mais marcantes dos brasileiros, então, ouvir que o Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, não causa estranheza na maioria das pessoas. Segundo Dornelas (2008), o resultado do primeiro relatório do GEM no ano de 2000 colaborou com essa crença. O resultado apontou naquele momento que 1 em cada 8 brasileiros adultos eram donos de um negócio, apresentando a melhor relação entre o número de habitantes adultos empreendedores e o total dessa população. Ainda de acordo com o autor, em 2007, os resultados continuaram promissores. O relatório GEM dava conta de que a TEA, índice da pesquisa que mede a atividade empreendedora inicial de um país, estava em 12,72%. Resultado considerado relativamente alto e que dava aval para afirmar que o Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, ocupandoa 9º posição mundial, conforme pode ser averiguado no GRÁFICO 2. unidade 1 013 EMPREENDEDORISMO GRÁFICO 2 - TEA - Taxa de Atividade Empreendedora inicial por país – 2007 Fonte: DORNELAS, 2008, p.10. ATENÇÃO! Cabe ressaltar que esses números não devem ser analisados de forma descontextualizada! É preciso considerar que nem todos os que empreendem o fazem em função de uma oportunidade detectada. Há uma informação, nas entrelinhas destes números, que merece reflexão. Isso porque, de acordo com Dornelas (2008), em 2007, apenas 57% das iniciativas empreendedoras eram realizadas por oportunidade. O resultado parece promissor se comparado ao resultado do GEM de 2000, período em que a maioria eram de empreendedores por necessidade. Entretanto, é preciso notar que em um universo de 100%, ainda é pouco o percentual de 57% para o registro de empresas que são abertas com base em uma oportunidade. O que se espera é um número muito maior de empreendedores por oportunidade, pois é o Empreendedorismo por oportunidade que move o desenvolvimento econômico e um país. Mas, o que difere o Empreendedorismo por necessidade do Empreendedorismo por oportunidade? unidade 1 014 EMPREENDEDORISMO O indivíduo que se torna empreendedor por necessidade, o faz por falta de opção. Ele pode, por exemplo, abrir uma empresa porque perdeu o emprego, por estar desprovido de renda ou até mesmo, por ter recebido uma herança de um negócio para o qual não se encontra preparado para gerir. FIGURA 3 - Empreendedor por necessidade FIGURA 4 - Empreendedorismo por oportunidade Fonte: BLOG FABIOBMED, 2011 Seja qual for a razão, o fato é que o Empreendedorismo por necessidade é feito de forma desorganizada. São negócios criados, na maioria das vezes, na informalidade e que acabam por engrossar as estatísticas de mortalidade de empresa em todo o país. Dornelas define o Empreendedorismo por necessidade como aquele em que: [...] o candidato a empreendedor se aventura na jornada empreendedora mais por falta de opção, por estar desempregado ou por não ter alternativas de trabalho. Nesses casos esses negócios costumam ser criados informalmente, não são planejados de forma adequada e muitos fracassam bastante rápido, não gerando o desenvolvimento econômico. (DORNELAS,2008, p.13). Por outro lado, o Empreendedorismo por oportunidade, nasce da visão do empreendedor em torno de algo novo ou de algo que pode ser reinventado, reelaborado. O empreendedor por oportunidade tem uma ideia. Ele avalia essa ideia por meio de pesquisa e de um planejamento. Fonte: BLOG AGENDADOR. unidade 1 015 EMPREENDEDORISMO A partir daí, ele percebe que essa ideia tem um potencial econômico e que, portanto, pode ser uma oportunidade de mercado. No Empreendedorismo por oportunidade a empresa não é criada em função de uma necessidade particular do indivíduo, mas da sua capacidade de enxergar o que ninguém ainda enxergou. Dornelas também comenta o Empreendedorismo por oportunidade. Para ele: É aquele em que o empreendedor visionário sabe aonde quer chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em mente o crescimento que quer buscar para a empresa e visa à geração de lucros, empregos e riqueza. (DORNELAS, 2008, p.13). Pelas definições trazidas por Dornelas (2008), fica claro que é o Empreendedorismo por oportunidade que gera o desenvolvimento econômico e que, por isso deve ser incentivado em detrimento ao Empreendedorismo por necessidade. Todas essas questões ganharam relevância desde que o GEM 2002 foi divulgado, apontando que o Brasil era sim um país empreendedor, porém, empreendedor por necessidade. Para tentar mudar esses números, várias políticas de fomento ao Empreendedorismo por oportunidade foram lançadas. No relatório do GEM de 2012 os resultados refletiram esses esforços. Nessa pesquisa, os resultados apontaram que o percentual de empreendedores por oportunidade migrou de 42,4%, em 2002, para 69,2%, em 2012. Isto é, em 2012, a taxa de empreendedores iniciais por oportunidade chega a ser 2,3 vezes superior ao número de empreendedores por necessidade, correspondendo à maior diferença entre essas taxas desde 2002 (GEM, 2012). Os GRÁFICOS 3 e 4 a seguir ilustram esses dados. unidade 1 016 EMPREENDEDORISMO GRÁFICO 3 - Evolução da taxa dos empreendedores iniciais (TEA) por oportunidade e necessidade Brasil - 2002:2012 GRÁFICO 4 - Evolução da oportunidade como percentual TEA – Brasil - 2002:2012 Fonte: GEM- 2012, p.90 Todos esses números apontam para um desenvolvimento do Brasil no que tange aos aspectos empreendedores. Como vimos, os primeiros resultados em 2000 já sinalizavam a vocação empreendedora do Brasil, porém, naquele primeiro momento, os números indicavam que o Brasil era um país empreendedor por necessidade. Com as políticas de incentivo ao Empreendedorismo, o Brasil passou aos poucos, a possuir um número maior de empreendimentos por oportunidade, até que, em 2012 apresentou os melhores resultados. Filion reforça essa vocação do Brasil. Para ele: Fonte: GEM- 2012, p.90 unidade 1 017 EMPREENDEDORISMO O Brasil está sentado em cima de uma das maiores riquezas naturais do mundo, ainda relativamente pouco exploradas: o potencial empreendedor dos brasileiros. A cultura do Brasil é a do empreendedor espontâneo. Que está em toda parte, bastando-se um estímulo para que brote, floresça e dê seus frutos. (FILION apud DOLABELA, 1999, p. 11). Mas, os estímulos e os resultados alcançados até aqui em relação às atividades empreendedora no Brasil, são só o começo. Afinal, o simples fato de abrir uma empresa, não faz do indivíduo um verdadeiro empreendedor. Para isso, é preciso possuir um conjunto de características e ser capaz de vislumbrar uma oportunidade. ATENÇÃO! Empreendedores podem ser desenvolvidos. Para tanto, é necessário estimular habilidades O EMPREENDEDOR E SUAS CARACTERÍSTICAS É importante também salientar, que essas características, embora natas em algumas pessoas, podem e devem ser incentivadas nos indivíduos e, por isso, é um mito acreditar que só podem ser empreendedores os predestinados a isso. e características que, aliadas a um conhecimento básico de gestão, permitirão ao indivíduo encontrar oportunidades empreendedoras. Por isso, o tópico a seguir visa discutir sobre essas questões, apontando as principais características de um empreendedor e sinalizando as diferenças e similaridades entre eles e os administradores. O que caracteriza um empreendedor? Para responder a essa questão, é necessário compreendermos que um empreendedor possui os atributos de um administrador. Então, poderíamos dizer que os termos empreendedor e administrador são sinônimos? Não, certamente que não. O indivíduo pode ser um administrador, mas não carregar consigo as características de um empreendedor. Todo empreendedor é um bom administrador, mas nem todo administrador é um empreendedor. Dornelas (2008, p. 17) explica essa diferença ao afirmar que “o empreendedor de sucesso possui características extras, além dos atributos do administrador, e alguns atributos pessoais que, somados a características sociológicas e ambientais, unidade 1 018 EMPREENDEDORISMO permitem o nascimento de uma nova empresa”. Um dos fatores que mais marca a diferença entre o empreendedor e o administrador, é que os empreendedores são visionários e planejam com base nesta visão de futuro. FIGURA 5 - Empreendedor visionário Fonte: Acervo Institucional. Além disso, os empreendedores conhecem muito bem o negócio ondeatuam, ou, pelo menos, se cercam de pessoas experientes que possam lhes transferir conhecimento. O empreendedor também: FIGURA 6 - Características do empreendedor Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014. BUSCA POR SOLUÇÕES NOVAS. OUSADIA. RISCOS CALCULADOS. CRIATIVIDADE. INOVAÇÃO. unidade 1 019 EMPREENDEDORISMO Filion resume as características principais do empreendedor ao dizer que: Hisrich (1998) faz uma comparação entre gerentes tradicionais e os empreendedores. Dornelas (2008, p. 21), resumiu os estudos de Hisrich (1998), no QUADRO 1 a seguir: QUADRO 1 Gerentes tradicionais x empreendedores (Hisrich, 1998) Temas Motivação principal Referência de tempo Atividade Status Como vê o risco Falhas e erros Decisões A quem serve Promoção e outras recompensas tradicionais da corporação, como secretária, status, poder, etc. Curto prazo, gerenciando orçamentos semanais, mensais etc. Delega e supervisiona. Preocupa-se com o status e como é visto na empresa. Com cautela. Tenta evitar erros e surpresas. Geralmente concorda com seus superiores. Aos outros (superiores). Independência, oportunidade para criar algo novo, ganhar dinheiro. Sobreviver e atingir cinco a dez anos de crescimento de negócio. Envolve-se diretamente. Não se preocupa com o status. Assume riscos calculados. Aprende com erros e falhas. Segue seus sonhos para tomar decisões. A si próprio e aos seus clientes. Gerentes tradicionais Empreendedores O empreendedor é uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantém um alto nível de consciência do ambiente em que vive usando-a para detectar oportunidades de negócios. Um empreendedor que continua a aprender a respeito de possíveis oportunidades de negócios e a tomar decisões moderadamente arriscadas que objetivam a inovação, continuará a desempenhar um papel empreendedor. Resumindo nos aspectos essenciais: “um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”. (FILION, 1999, p.19). unidade 1 020 EMPREENDEDORISMO Histórico familiar Relacionamento com outras pessoas Membros da família trabalharam em grandes empresas. A hierarquia é a base do relacionamento. Membros da família possuem pequenas empresas ou já criaram algum negócio. As transações e acordos são a base do relacionamento. Fonte: DORNELAS, 2008, p. 21. Dolabela (1999) também traz sua contribuição nesta discussão, ao apontar as características que, segundo ele, são próprias do empreendedor (QUADRO 2): QUADRO 2 Características do empreendedor Tem um “modelo”, uma pessoa que o influencia; Tem iniciativa, autonomia, otimismo, necessidade de realização; Tem perseverança e tenacidade para vencer obstáculos; Considera o fracasso um resultado como outro qualquer, pois aprende com os próprios erros; É capaz de se dedicar intensamente ao trabalho e concentra esforços para alcançar resultados; Sabe fixar metas e alcançá-las, luta contra padrões impostos; diferencia-se; Tem a capacidade de descobrir nichos; Tem forte intuição; Tem sempre alto comprometimento; Cria situações para obter feedback sobre seu comportamento e sabe utilizar tais informações para seu aprimoramento; Sebe buscar, utilizar e controlar recursos; É um sonhador realista; Cria um sistema próprio de relações com empregados; É orientado para resultados, para o futuro, para o longo prazo; Aceita o dinheiro com uma das medidas de seu desempenho; Tece “rede de relações” (contatos, amizades) internas e/ou externas modernas; Conhece muito bem o ramo em que atua; Cultiva a imaginação e aprende a definir visões; Traduz seus pensamentos em ações; Cria método próprio de aprendizagem, aprende indefinidamente; Mantêm um alto nível de consciência do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidade de negócios Fonte: DOLABELA, 1999. unidade 1 021 EMPREENDEDORISMO Já Dornelas (2008) chama a atenção para alguns erros que são comumente cometidos, quando o assunto são as características dos empreendedores. De acordo com esse autor, há mitos que devem ser quebrados, tais como: considerar que os empreendedores são natos; que assumem riscos altíssimos e que possuem dificuldade com o trabalho em equipe. O autor afirma ainda que a realidade mostra justamente o contrário. Se considerarmos que empreendedores são natos, de que adiantariam tantos programas de educação empreendedora? É certo que não se pode negar que algumas pessoas nascem com um conjunto de habilidades que favorecem um comportamento empreendedor, mas isso não significa que o Empreendedorismo não possa ser aprendido por meio do desenvolvimento de algumas características. Quem acredita neste mito, fica imobilizado, fadado ao insucesso. Os empreendedores natos existem e vão continuar nascendo, mas isso não invalida, de forma alguma, o processo de ensino das habilidades empreendedoras. Dornelas concorda com essa afirmação ao dizer que: A essência do Empreendedorismo hoje em dia é a busca de oportunidades inovadoras. Para isso, as pessoas não precisam ter um dom especial, como se pensava no passado. Pelo contrário, qualquer pessoa pode aprender o que é ser um empreendedor de sucesso. (DORNELAS, 2005, p. 20). Acreditar que os empreendedores correm riscos altíssimos, como loucos, também é um mito grave. Os empreendedores correm riscos, porém, esses riscos são cuidadosamente calculados e planejados. Os empreendedores evitam riscos desnecessários. Outro aspecto que é importante considerar, é que os empreendedores são excelentes líderes, possuem um ótimo relacionamento com sua equipe. Delegam atividades, valorizam quem está ao seu lado, integram pessoas e conhecimentos. Atuam como facilitadores, conciliando diversas partes: fornecedores, funcionários, clientes, etc. Dornelas salienta que algumas características estão presentes na maioria das definição dos empreendedores. Para ele, o empreendedor: unidade 1 022 EMPREENDEDORISMO 1. Tem iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz; 2. Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico onde vive; 3. Aceita assumir os riscos calculados e a possibilidade de fracassar. (DORNELAS, 2008, p. 23). Enfim, pode-se afirmar que o que torna o indivíduo empreendedor é o fato de ele ser visionário, de saber tomar decisões, de fazer a diferença. O empreendedor é alguém que explora ao máximo as oportunidades. De acordo com Dornelas (2008) os empreendedores são determinados e dinâmicos, dedicados, são otimistas e apaixonados pelo que fazem. São indivíduos que constroem o próprio destino, são independentes, organizados, bem relacionados, possuem conhecimento, planejam, criam valor para a sociedade e normalmente ficam ricos. É importante ressaltar que, embora a maioria das definições considere o empreendedor como alguém que cria um novo negócio ou produto, ele pode ser também alguém que inova em negócios já existentes ou em produtos e/ou serviços que já existem. A seguir discutiremos essa modalidade de empreendedorismo, denominada: intraempreendedorismo. INTRAEMPREENDEDORISMO: EMPREENDENDO EM EMPRESAS JÁ CONSOLIDADAS A globalização e a crescente competitividade das empresas, fez o mundo voltar os olhos para um tipo de indivíduo que agrega muito valor às empresas e as faz mais competitivas no mercado. Esse indivíduo é um tipo de empreendedor que não tem como objetivo a criação de empresas. Isto é, há indivíduos que possuem todas ascaracterísticas empreendedoras, mas que preferem desenvolvê-las nas empresas onde trabalham. Esses indivíduos são chamados de intraempreendedores. De acordo com Filion (2004): unidade 1 023 EMPREENDEDORISMO Intraempreendedores são pessoas que desempenham um papel empreendedor dentro das organizações. São semelhantes aos empreendedores, salvo que o risco que enfrentam é muito mais baixo, porque estão usando o dinheiro e os recursos da empresa, ao invés dos seus. Se forem bem- sucedidos, serão beneficiados pelo seu sucesso. Trabalham em sistemas organizacionais nos quais tem menos poder que os empreendedores porque, como eles não são proprietários, tem que seguir regras e diretrizes sobre as quais não tem controle. (FILION, 2004, p. 74). Não é difícil compreender que o estudo do intraempreendedorismo tem ganhado espaço nas discussões sobre gestão. Afinal, ter um empreendedor dentro das organizações confere a elas vantagens competitivas. As organizações estão inseridas em um ambiente efervescente de tecnologias, contingências e competidores. Se não criarem um ambiente propício para o aparecimento de inovações, elas perderão espaço no mercado. Por isso, cada vez mais, as organizações valorizam profissionais arrojados, criativos, que agem de forma rápida às circunstâncias mercadológicas. Sarkar comenta a importância do intraempreendedor nas organizações: Nas próximas décadas, o intraempreendedorismo pode ser a chave para se criar valor nas empresas, muitas vezes por meio de projetos inovadores pensados pelos funcionários e colaboradores fora dos centros de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) das empresas. Intraempreendedores podem ser os criadores ou inventores, mas são sempre os sonhadores que entendem como transformar uma ideia em algo real e lucrativo. (SARKAR, 2008, p. 31). O intraempreendedor trabalha com o mesmo empenho que um sócio trabalharia. Ele agrega valor à empresa. O desenvolvimento de uma atividade não é para o intraempreendedor algo corriqueiro e sim uma chance de demonstrar suas habilidades empreendedoras. Por isso, trabalha com vigor, entusiasmo e autonomia. É preciso que as empresas reconheçam esses talentos e estimulem práticas intraempreendedoras para alcançar a competitividade, por meio de instrumentos de gestão tais como: os incentivos, recompensas e reconhecimentos motivacionais. Além disso, Hisrich e Peters (2004) dizem que é necessário criar um ambiente descentralizado, flexível, favorável às tomadas de decisão e à inovação. unidade 1 024 EMPREENDEDORISMO Por outro lado, é preciso que os profissionais trabalhem as características empreendedoras a fim de serem desejados pelas organizações. Dolabela comenta as mudanças de relação de trabalho e elenca as principais características que as empresas buscam nos profissionais: Neste final de século, em que as relações de trabalho estão mudando, o emprego dá lugar a novas formas de participação. Exige-se hoje, mesmo para aqueles que vão ser empregados, um alto grau de Empreendedorismo. As empresas de base tecnológica precisam de colaboradores que, além de dominar a tecnologia, conheçam o negócio, saibam auscultar os clientes e atender às suas necessidades. No processo de contratação de novos empregados, elas tendem a valorizar as seguintes capacidades em ordem de importância: trabalhar em equipe; comunicação verbal e escrita; apresentação de ideias; dimensionamento do tempo; autonomia para aprender; habilidades técnicas. (DOLABELA, 1999, p. 36). Independentemente se o indivíduo coloca em prática suas características empreendedoras como funcionário ou abrindo uma empresa, uma coisa é certa: ele é alguém que reconhece oportunidades. Mas como podemos reconhecer uma oportunidade? Como diferenciá-la de uma simples ideia? Na próxima unidade, discutiremos dentre outros aspectos, essas questões que remetem ao processo empreendedor, que tem o seu start na identificação e na avaliação de oportunidades. PRÁTICA APLICAÇÃO Nesta unidade discutimos a importância de se empreender por oportunidade. Na reportagem a seguir, é possível ver um exemplo de um empreendedor que encontrou uma oportunidade no mercado, acreditou nela e obteve sucesso. Quanto vale uma ideia Por Sara Lira Depois de perceber que no mercado brasileiro não havia o processo específico de análise de óleos, o sócio fundador e diretor do grupo Oilcheck, Luis Gustavo, viu a chance de fundar um laboratório no país voltado para a atividade. Ele largou um emprego na Austrália e se juntou ao atual sócio, Carlos Henrique Alves, para fundar a empresa, que oferece dois serviços: análises de óleo, que detecta as condições físicas e químicas do óleo e as informações que ele traz da máquina, como desgastes prematuros; e a microfiltragem de derivados do petróleo, que ocorre de forma ecológica, com o objetivo de aumentar a vida útil do óleo e de equipamentos. unidade 1 025 EMPREENDEDORISMO O laboratório foi oficialmente montado em 2009, ano em que os sócios lançaram para venda 2 mil amostras do produto, impulsionando as atividades e viabilizando os custos da empresa por cerca de 6 meses. O início foi um pouco difícil para os dois, mas agora o grupo está entre os três maiores laboratórios do ramo no Brasil. “Hoje conseguimos ter um bom faturamento. A gente passou pelas piores fases, mas o nosso produto se destaca nas crises, porque ele gera economia. Todo mundo quer reduzir custos e a manutenção é a melhor forma de isso ocorrer”, afirma Luis Gustavo. Atualmente, o grupo conta com clientes de grandes empresas e já abriu uma filial na Angola e outra no Guiné Equatorial, ambos na África. As três unidades do grupo empregam mais de 70 colaboradores. Para Luis Gustavo ser um empreendedor gera inúmeros desafios, como encontrar as pessoas certas que acreditem na ideia e descobrir novos talentos para atuar na empresa. Mas ele encoraja: “Empreender não é esconder as ideias, mas validá-las rápido para colocá-las em prática, porque tem gente que as compra. Isso é primordial para o empreendedor”, afirma. Um dos fundadores do Studio Sol aconselha que, para o negócio dar certo, é necessário trabalhar muito. “Nunca dar passo maior do que as pernas, não se iludir com promessas de ganho de dinheiro, ter pé no chão, abrir o olho com possíveis investimentos e tomar cuidado com parcerias, principalmente se você não tem experiência com o mercado. Você deve também estar sempre antenado com bons contatos, além de se dedicar a trabalhar bastante, porque nada cai do céu”, finaliza. Fonte: LIRA, Sara. Quanto vale uma ideia. Jornal Estado de Minas: Negócios e oportunidades. 10 nov. 2013. Nesta unidade, discutimos o conceito de Empreendedorismo e como essa definição foi mudando no decorrer da história, sem perder a sua essência: a inovação. Também vimos a importância do Empreendedorismo para o desenvolvimento econômico, ressaltando que o ato de empreender por necessidade deve ser cada vez mais abolido em prol de empreendimentos realizados com vistas à oportunidade. Foi traçado o perfil do empreendedor e as diferenças entre ele e um simples administrador. Basicamente, um administrador conhece as técnicas de gerir um negócio, mas lhe faltam características que são próprias do empreendedor, tais como: criatividade, ousadia, capacidade de correr riscos calculados, entre outras. Por fim, discutimos a importância do intraempreendedorismo (queé o ato de empreender em organizações já consolidadas) para a competitividade das organizações. REVISÃO unidade 1 026 EMPREENDEDORISMO MAIS PARA SABER Você pode refletir a respeito dos conceitos aprendidos nesta unidade, assistindo ao filme “Tucker - Um Homem e Seu Sonho”. Esse filme conta a história verídica de Preston Tucker, um homem com características empreendedoras, que fez inovações na indústria automobilística dos anos 40. FIGURA 7 - Preston Tucker e seu revolucionário Tucker Torpedo Fonte: Site “A fraude do século”. 2 unidade 2 028 EMPREENDEDORISMO MAPEANDO OPORTUNIDADES Inovação Mercado Estrátegia Ob je tiv o Liderança Fazer Ap oi o Prom over O Im ag in aç ão ia r Prezado(a) aluno(a), agora que você já sabe sobre a importância do empreendedorismo e as características do indivíduo empreendedor, pretendemos, nesta unidade, apresentar a diferença entre ideia e oportunidade. Afinal, é a partir de uma ideia que surgem grandes oportunidades de negócio. Discutiremos os critérios para a análise de uma oportunidade, seja ela realizável no mundo real ou no mundo virtual e apresentaremos modelos de negócios virtuais. Por fim, compreenderemos os desafios que este tipo de oportunidade pode trazer. Ao término desta unidade, esperamos que você seja capaz de diferenciar uma simples ideia de uma verdadeira oportunidade e que possa abrir seus horizontes, vislumbrando o potencial da internet quanto à realização de negócios. Boa leitura! FIGURA 8 - Charge Oportunidade Fonte: BLOG DE ANA VALQUÍRIA [Blog], 2012. unidade 2 029 EMPREENDEDORISMO IDEIA X OPORTUNIDADE Desde criança contamos com uma maravilhosa característica: a criatividade. A criatividade nos permite ter ideias e quanto mais a desenvolvemos, mais as ideias aumentam. Muita gente se sente insegura quando solicitam-lhe novas ideias. O receio está em encontrar um ponto de partida. Em resposta a esse temor, Dornelas (2008) sugere que a informação pode contribuir para o processo criativo. Segundo ele: [...] novas ideias só surgem quando a mente da pessoa está aberta para que isso ocorra, ou seja, quando está preparada para experiências novas. Assim, qualquer fonte de informação pode ser um ponto de partida para novas ideias e identificação de oportunidades de mercado. (DORNELAS, 2008, p. 41). A atualidade nos fornece um leque de possibilidades quando o assunto é informação. O empreendedor pode usar como fonte de pesquisa: TV, internet, jornais, livros, revistas, palestras, feiras de negócio, congressos, conversas com especialistas da área onde se pretende abrir um negócio, observação da mudança de hábito da população, etc. FIGURA 9 - Fontes de Informação Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014. !" unidade 2 030 EMPREENDEDORISMO Saunders (1997) citado por Birley e Muzyca (2005, p.25), também fornece sua contribuição, sugerindo três fontes de oportunidades: “anúncios; agentes e busca de oportunidades; ou, aguardar atentamente o surgimento de um negócio que você considere adequado aos seus objetivos”. O autor também explica que as ideias podem surgir das necessidades e desejos das pessoas, que podem ser satisfeitas de diversas maneiras. David (2004, p. 31) concorda com Saunders ao afirmar que “o impulso para a ação que possibilita aos empreendedores a busca do desenvolvimento, conhecimento e inovação, constitui as necessidades humanas individuais, que podem ser chamadas de desejos, aspirações, objetivos individuais ou motivos”. Por isso, é imprescindível ficar atento às necessidades e desejos da sociedade, pois deles podem surgir boas ideias. Outro aspecto a ser considerado, de acordo com Saunders (1997), é um nicho de mercado não explorado pela empresa do seu chefe. Você como empregado, pode melhorar o que seu empregador realiza, abordando o mesmo mercado sob uma outra vertente. De acordo com o mesmo autor, as técnicas que podem ser úteis como fonte de ideias são a visualização e a brainstorming. A FIGURA 10 - Ideia do negócio Fonte: O CAÇADOR DE AÇÕES [Blog], 2012. O brainstorming, muito usado no processo de gestão, também pode ser uma fonte de ideias. Dornelas (2008) explica que o brainstorming, cuja tradução literal é tempestade cerebral, é um método desenvolvido em grupo. Neste grupo, as pessoas são estimuladas a falarem livremente a respeito de um tema, uma necessidade ou qualquer outra questão. Ao falarem livremente, uma série de ideias surgem. Neste momento, a criatividade não deve ser tolhida, isto é, não se deve avaliar se a ideia é factível, real, ou viável. Em seguida, devem-se registrar aquelas ideias que pareceram mais coerentes, para que possam ser analisadas. O braistorming tem técnica de visualização é explicada como um processo de sonhar acordado com seu próprio futuro, visualizando o negócio que deseja. Em meio a esse processo mental, podem surgir ideias interessantes para o empreendedor. unidade 2 031 EMPREENDEDORISMO algumas regras que devem ser obedecidas para que os resultados sejam satisfatórios. Dornelas (2008) esclarece essas regras: 1. Ninguém pode criticar outras pessoas do grupo e todos estão livres para expor as ideias que vierem à cabeça, mesmo que aparentemente pareçam absurdas. 2. Quanto mais rodadas entre os participantes melhor, pois serão geradas mais ideias. Sempre, em cada rodada, todos os participantes devem dar uma ideia a respeito do tópico em discussão. 3. Podem dar ideias baseadas em ideias anteriores de outras pessoas. Essas combinações são bem vindas e podem gerar bons resultados. 4. A sessão deve ser divertida, sem que haja uma ou outra pessoa dominando. Apenas deve ser garantido que todos participem, sem restrições. REFLEXÃO PARA As fontes de informação, aliadas à técnica de brainsntorming, podem ser um bom caminho para aqueles que não se sentem tão inspirados a criar. Mas, perguntamos a você, caro aluno, no processo empreendedor, basta ter uma ideia? Quando o intuito é gerar um negócio, a resposta é não! Assim, passada a fase divertida do brainstorming, a avaliação de uma ideia deve se dar por um viés mais racional. É necessário avaliar se a ideia pode se transformar em uma oportunidade, que, por sua vez, é uma ideia com potencial lucrativo. CONCEITO Portanto, a oportunidade, em termos práticos, pode ser definida como “um conceito negocial que, se transformado em um produto ou serviço tangível oferecido por uma empresa, resultará em um lucro financeiro”, (BIRLEY E MUZYKA, 2005, p.22). De acordo com estudiosos como Timmons (1994) e Hisrich (1998) citados por Dornelas (2008), o processo empreendedor tem seu início a partir da identificação de uma oportunidade. Em seguida, ela deve ser planejada por meio de um plano de negócio. A terceira fase do processo empreendedor é a determinação e busca por recursos que coloquem a empresa no mercado e, por fim, a última fase do processo empreendedor é o gerenciamento da empresa criada. A figura a seguir, demonstra, resumidamente, o processo empreendedor: OPORTUNIDADE = Ideia com potencial lucrativo unidade 2 032 EMPREENDEDORISMO QUADRO 3 O processo empreendedor Identificar e avaliar a oportunidade • Criação e abrangência da oportunidade • Valores percebidos e reais da oportunidade • Riscos e retornos da oportunidade • Oportunidade versus habilidades e metas pessoais • Situaçãodos competidores Desenvolver o plano de negócios 1. Sumário executivo 2. O conceito do negócio 3. Equipe de gestão 4. Mercado e competidores 5. Marketing e vendas 6. Estrutura e operação 7. Análise estratégica 8. Plano financeiro 9. Anexos Determinar e captar os recursos necessários • Recursos pessoais • Recursos de amigos e parentes • Angels • Capitalista de risco • Bancos • Governo • Incubadoras Gerenciar a empresa criada • Estilo de gestão • Fatores críticos de sucesso • Identificar problemas atuais e potenciais • Implementar um sistema de controle • Profissionalizar a gestão • Entrar em novos mercados Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014 [adaptado] Ao observar a figura, não é difícil concluir que a parte mais difícil do processo empreendedor é a identificação da oportunidade, pois, se a avaliação da oportunidade não for bem realizada, todo o restante do processo ficará comprometido. De acordo com os pesquisadores do relatório GEM (2012): [...] quando indivíduos são capazes de reconhecer oportunidades de negócios e de perceber que possuem capacidade para explorá-las, pode-se afirmar que se encontram presentes elementos fundamentais para o florescimento de novos negócios, que irão contribuir para o benefício de toda sociedade através do desenvolvimento econômico e social do país, seja com a criação de empregos, seja com o aumento da riqueza e sua distribuição. (GEM, 2012). A essa altura, você já compreendeu a importância de identificar oportunidades, mas deve estar se perguntando: como reconhecer essas oportunidades? No intuito de responder a essa questão, o tópico a seguir discute alguns critérios e métodos de avaliação de oportunidade. unidade 2 033 EMPREENDEDORISMO CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DE OPORTUNIDADES Quando o assunto é avaliar uma oportunidade, não se pode generalizar as condições ou tampouco fornecer uma receita pronta. Contudo, alguns critérios devem ser levados em consideração. Birley e Muzyka (2005) apontam alguns destes critérios. De acordo com eles, uma boa oportunidade não está ligada necessariamente a um baixo custo do produto e sim à criação de valor. Outro aspecto que deve ser considerado é que não basta vislumbrar uma oportunidade, deve-se colocá-la em prática e nem todos fazem isso. Segundo estes mesmos autores: [...] o lucro fica para aqueles que desejam mostrar iniciativa e realmente exploram e não para aqueles que somente pensam sobre uma oportunidade de negócio. O pensamento criativo é maravilhoso, mas se não leva à ação é somente um desperdício de energia. (BIRLEY; MUZYKA, 2005, p.23). Também é comum que quanto mais complexa uma oportunidade, maior a chance de falhas. Isso acontece porque, quando a oportunidade é complexa, normalmente, ela fica dependente de uma série de pessoas e processos que possam colocá-la em prática. Em meio a tudo isso, o empreendedor se perde e desiste da oportunidade. Birley e Muzyca (2005) também destacam que nem sempre as oportunidades são encontradas em mercados emergentes ou muito “badalados”, pois o excesso de empreendimentos nesses mercados, podem causar sua saturação. Muitas vezes é mais coerente encontrar um nicho de mercado que ninguém apercebeu. Por fim, esses autores comentam que as oportunidades não são necessariamente resultado de invenções feitas pelo próprio empreendedor. O empreendedor precisa buscar mão de obra especializada, centros tecnológicos, parceiros e pessoas capacitadas que coloquem em prática a sua ideia. Os empreendedores, não precisam, portanto, investir tempo e esforço como inventores. Além dois critérios levantados por Birley e Muzyca (2005), Dornelas (2005) argumenta que uma oportunidade deve ser avaliada a partir dos seguintes questionamentos: unidade 2 034 EMPREENDEDORISMO FIGURA 11 - Avaliação de Oportunidades Qual mercado ela atende? Qual retorno econômico ela trará? Quais são as vantagens competitivas que ela dará ao negócio? Que equipe será necessária para transformar a oportunidade em negócio? O empreendedor está realmente disposto e comprometido com o negócio? Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014. Uma das primeiras reflexões diz respeito ao mercado que a oportunidade virá a atender. É preciso verificar se tem potencial de crescimento, averiguar a força dos competidores neste mercado e a estrutura deste mercado. Dornelas (2008) explica que a avaliação da estrutura de mercado diz respeito à análise das seguintes características: O número de competidores; o alcance (capilaridade) dos canais de distribuição desses mesmos competidores; os tipos de produtos e serviços que se encontram no mercado; o potencial de compradores (número de clientes potenciais e quanto consomem, com que periodicidade, onde costumam comprar, quando e como); as políticas de preços concorrentes, etc. (DORNELAS, 2008, p.46). unidade 2 035 EMPREENDEDORISMO No que diz respeito à análise econômica, é necessário avaliar o retorno financeiro que essa oportunidade pode trazer. Para fazer essa análise, Dornelas (2008) comenta que é útil usar como referência o retorno oferecido pelo mercado financeiro. Então, é importante perguntar se o retorno financeiro que a oportunidade trará será superior ao retorno do mercado financeiro e se vale a pena correr o risco por ela. Neste sentido, conceitos como ponto de equilíbrio, fluxo de caixa e prazo de retorno do investimento são importantes para tomadas de decisão. Esses conceitos serão vistos na unidade 6. FIGURA 12 - Análise econômica FIGURA 13 - Vantagens competitivas FIGURA 14 - Vantagens competitivas Fonte: Acervo Institucional. Fonte: Acervo Institucional. Fonte: Acervo Institucional. Em relação às vantagens competitivas, o empreendedor deve avaliar se a oportunidade traz consigo realmente um diferencial ainda não trabalhado no mercado e, mais do que isso, deve-se avaliar se esse diferencial é difícil de ser copiado. A análise da equipe que vai gerir o negócio também é um critério importante na apreciação da oportunidade. A esse respeito o autor explica que: [...] de nada adianta identificar uma oportunidade, criar um protótipo de um produto, o mercado ser espetacular e promissor, o empreendedor ter desenvolvido um bom plano de negócios, se ele e sua equipe não estiverem à altura do negócio que está sendo criado. A experiência prévia no ramo conta muito, pois pode evitar muitos erros e gastos desnecessários, bem como agregar um conhecimento singular ao negócio. (DORNELAS, 2008, p.49). Por fim, é preciso averiguar se você realmente está disposto a empreender e arcar com todas as dificuldades inerentes a essa prática. Faça uma autoavaliação, unidade 2 036 EMPREENDEDORISMO veja se você tem todas as características necessárias para empreender. Se não as tiver, procure desenvolvê-las antes de se aventurar a abrir um negócio. Além disso, veja se você tem conhecimento e identificação com o negócio com o qual pretende atuar. Dornelas(2008) chama a atenção para essa reflexão e ressalta que o empreendedor deve estar disposto a abandonar o emprego atual e todos os direitos trabalhistas, assim como ficar sem receber uma remuneração adequada por um período, e ser capaz de dispor de bens pessoais em função do negócio. É preciso também verificar se a família o apoia e se está disposto a trabalhar mais do que 10 horas por dia. Enfim, é precisoque o empreendedor esteja consciente de todos os riscos e obstáculos que terá que enfrentar. Além da avaliação dos critérios anteriores, Dornelas (2008) indica o uso de um roteiro denominado 3Ms para seleção de boas oportunidades. Esse roteiro parte de um checklist que visa responder algumas questões críticas. Essas questões, se bem respondidas, podem ser úteis na escolha de ideias com potencial de oportunidade. As questões desse método são agrupadas em 3 aspectos relacionados a: demanda de mercado, tamanho e estrutura do mercado e análise de margem. A figura a seguir, ilustra os 3M´s envolvidos nessa técnica. FIGURA 15 - 3M´s Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014. Adaptado de DORNELAS, 2009, p.93. Na análise do primeiro aspecto, demanda de mercado, o empreender deve se preocupar em identificar: o público–alvo, o ciclo de vida do produto, os canais de acesso aos clientes, o valor agregado da empresa, o potencial de crescimento do mercado onde a empresa estará inserida e o tempo de recuperação do investimento realizado para captação do cliente. No que diz respeito ao tamanho e estrutura do mercado, a preocupação deve estar relacionada a saber: se o mercado é emergente e/ou fragmentado; se há barreiras de entrada e se está preparado para transpô-las; se o número de concorrentes no mercado é elevado e se eles controlam a propriedade intelectual; em que fase do ciclo de vida o produto se encontra. É importante também identificar o tamanho do Demanda do Mercado Tamanho da estrutura do Mercado Análise de Margem unidade 2 037 EMPREENDEDORISMO mercado em termos monetários e conhecer a estruturação do setor no que se refere à fornecedores, compradores, competidores e substitutos. Quanto à análise de Margem, deve-se, de acordo com Dornelas (2008), identificar as forças do negócio, as possibilidades de lucro, o ponto de equilíbrio, os custos e a cadeia de valor do negócio. Por fim, cabe ressaltar que é importante o empreendedor ter ciência de que existem diversos tipos de oportunidades. É lugar comum acreditar que as oportunidades são frutos de invenções tecnológicas. Birley e Muzyca (2005) destacam que, na verdade, esse tipo de oportunidade costuma ser exceção e não regra. Ao refletir sobre isso, podemos dizer que a maioria das oportunidades são oriundas de ideias simples, em outras palavras, você não precisa ser um grande inventor para encontrar uma boa oportunidade. Birley e Muzyca citam os tipos de oportunidades mais comuns. Segundo eles, há oportunidades de risco, cujo potencial é elevado; há também o contrário, isto é, oportunidades com riscos e retornos menores. Os autores destacam que as melhores oportunidades não se limitam a essa relação de risco/retorno. FIGURA 16 - Retornos menores Fonte: Acervo Institucional. Os empreendedores quando trabalham a oportunidade, focam em seus próprios objetivos, o retorno torna-se um fruto do seu sucesso. Assim, Birley e Muzyca (2005), destacam um outro tipo de oportunidade, chamada por eles de: oportunidades de estilo de vida. Neste tipo de negócio, o empreendedor está muito mais interessado na qualidade de vida que terão com o desenvolvimento do negócio, do que propriamente com o lucro que ele trará. Em outras palavras, o empreendedor ao buscar esse tipo de oportunidade, abre mão de um lucro maior, para, por exemplo, ter mais tempo para usufruir com a família. unidade 2 038 EMPREENDEDORISMO OPORTUNIDADES PONTO.COM Entre os anos 2011 e 2012, o uso da internet no Brasil teve um aumento considerável. De acordo com pesquisa realizada em 2012 pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), o número de usuários da internet com acesso em casa cresceu 17% em 2012 se compararmos com 2011. Isso significa 67,8 milhões de pessoas conectadas na maior rede do mundo (IBOPE, 2013). A tabela 1 a seguir, mostra a evolução do uso da internet no Brasil. FIGURA 17 - Crescimento da Internet no Brasil Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014. Seja qual for o tipo de oportunidade que o empreendedor esteja buscando, é importante que ele saiba distingui- la de uma simples ideia. Todas os recursos aqui apresentados podem ajudar o empreendedor a selecionar as melhores oportunidades. No entanto, cabe ainda uma discussão a respeito das possibilidades de oportunidades existente em outro cenário: o ambiente virtual. No tópico a seguir, o leitor poderá ter conhecimento a respeito dos principais tipos de oportunidades de negócios realizados na internet. unidade 2 039 EMPREENDEDORISMO TABELA 2 - Evolução do uso da internet no Brasil DADOS DE INTERNET NO BRASIL Indicadores 2008 2009 2010 2001 2012 Internautas no Brasil (em milhões de usuários) 55,91 67,91 93,91 78,59 83,46 Domínios registrados no Brasil (em milhões de registros) 1,533 1,943 2,313 2,653 2,793 Computador em domicílio (% da população) 28%4 36%4 39%4 55%4 N/D Internet em domicílio (% da população) 20%4 27%4 31%4 38%4 N/D Banda Larga no domicílio (% da população com internet) 58%4 66%4 68%4 68%4 N/D Tempo médio de acesso (em horas navegadas/mês) 22:507 44:407 45:327 48:048 N/D 1 - PNDA Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios feitas pelo IBGE 2 - Ibope/Nielsen en Online - Total de pessoas com o acesso à internet atinge 77.8 milhões - Setembro/2011 3 - CETIC.br - Registros no Brasil 4 - CETIC.br - TIC Domicílios e usuários 5 - Techmetrics Brazil - Pesquisa da Intel, realizada pelo instituto IPSOS 6 - Ibope/Nielsen Online - Internet no Brasil cresceu 16% nos últimos 12 meses 7 - CETIC.br - Painel IBOPE/NetRatings (2008 considera apenas acessos domiciliar) 8 - Ibope/Nielsen Online - Número de usuários ativos cresceu 13,9% em um ano - Abril/2011 9 - Ibope/Nielsen Online - Internet brasileira começa 2012 em crescimento - Fevereiro/2012 Fonte: Site “Dados de Internet”. Esses números deixam claro que a internet é um mercado que não pode e não deve ser ignorado, pois tornou-se uma fonte de oportunidade de negócios. Vilas Boas e Dornelas (2010) concordam com essa afirmação ao dizer que: É possível identificar o tamanho do mercado online brasileiro, que abre uma vasta gama de oportunidades para futuros empreendedores que souberem aproveitar alguns nichos de negócios promissores e se posicionar diante dessa grande quantidade de clientes disponíveis. (VILAS BOAS e DORNELAS, 2010, p.20). Em meados da década de 90, a internet despontou como um grande celeiro de oportunidades para empreendedores. Naquela ocasião, acreditava-se que criar um site e despertar o interesse de capitalistas de riscos eram fatores suficientes para se obter o sucesso do negócio. O objetivo era captar o capital semente, isto é, o dinheiro inicial para dar impulso ao negócio. O que viria em seguida, como a gestão e o crescimento da empresa, parecia não preocupar os “aventureiros” dos negócios pontocom daquela época. unidade 2 040 EMPREENDEDORISMO Essa forma de gestão parecia apontar para o inevitável. De acordo com Dornelas (2008), entre março de 2000 e outubro de 2002, a supervalorização das empresas pontocom no mercado mundial mostrou-se insustentável. Neste cenário, os “aventureiros” se depararam com um desafio: fornecer o retorno dos investimentos recebidos e justificar a ausência de receita das suas empresas. Como era de se esperar, a maioria desses “aventureiros” não conseguiram dar o retorno esperado pelos capitalistas de risco e acabaram falindo. São exemplos dessa derrocadaas empresas: Boo.com, Freeinternet.com, GovWorks.com, WorldCom, dentre outras. ATENÇÃO! Esse evento demonstrou dois aspectos importantes. O primeiro é que de fato a internet é um ambiente favorável para os negócios e, o segundo, é que, como em qualquer outro negócio, as empresas pontocom devem ser planejadas e geridas com responsabilidade. Assim, os “aventureiros” da web, FIGURA 18 - Capital semente Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014. unidade 2 041 EMPREENDEDORISMO • Portais Verticais B2B • Compra Coletiva • Distribuidor • Shopping Virtual • Sites de Comparação • Leilão/Leilão Reverso • Classificados • Sites de Permuta • Empresas puramente virtual • Brick - and- mortar FIGURA 19 - Modelo de Negócios Virtuais Intermediação de negócio Mercado Virtual Comercialização de propaganda Comunidades Empresarial Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Ănima, 2014. tiveram que mudar de postura, para que suas empresas pudessem sobreviver àquele momento. Abandonaram uma postura oportunista e adotaram outra realmente empreendedora. Foi isso o que muitos fizeram. O primeiro passo foi compreender que as métricas usadas nos negócios tradicionais, não serviriam ao ambiente virtual. Então, encontraram métricas próprias para os negócios da internet, tais como Page Views (parâmetro usado para mensurar o número de acesso a um site) ou UniqueVisitors (mensura o número de visitas únicas de um site), dentre outros. Outra lição aprendida, é que todo e qualquer negócio se baseia na gerência correta de custos, receitas e lucros e que, portanto, esses aspectos não devem ser negligenciados. Assim, melhor estruturados, os empreendedores puderam observar a gama de oportunidades de negócios que a internet oferece. Dornelas (2008) cita os principais modelos de negócios realizados na web, são eles: • intermediação de negócio; • comercialização de propaganda; • mercado virtual; • empresarial; • comunidades. unidade 2 042 EMPREENDEDORISMO O modelo de intermediação de negócios, como o próprio nome diz, faz a intermediação entre compradores e vendedores. A receita deste tipo de negócio se dá por meio da cobrança em cima das transações estabelecidas. O modelo de intermediação de negócio pode ser subdividido em: portais verticais B2B, compra coletiva, distribuidor, shopping virtual, sites de comparação, leilão, leilão reverso, classificados, sites de permuta. (DORNELAS, 2008). A seguir, explicaremos cada um desses elementos. De acordo com Dornelas (2008, p. 61), no modelo de portais verticais B2B “a empresa cria um ambiente que atrai compradores e vendedores de um segmento específico”. Esse modelo se caracteriza como vertical porque oferece um conteúdo especializado sobre determinado assunto. Já o modelo de compra coletiva, um dos mais populares na atualidade, permite unir compradores em torno de uma oferta com uma promoção bastante atrativa. Neste modelo, Dornelas (2008) explica que o intermediador fica com um percentual do volume de vendas realizado. No modelo denominado distribuidor, o autor ressalta que é realizada uma gestão de catálogos de produtos de grandes fornecedores. Normalmente é usado para transação entre empresas, em especial revendedores de todos os portes que, por meio do site, conseguem comparar preços e produtos de fornecedores. Quanto ao modelo shopping virtual, Dornelas (2008) explica que funciona de forma semelhante aos shoppings tradicionais. O site aluga um espaço para que várias empresas se hospedem. A principal fonte de receita deste tipo de negócio é a cobrança da taxa de hospedagem, além da taxa de manutenção e a taxa transacional. Nos sites de comparação, pode-se, como o nome diz, comparar preços de produtos e serviços. O autor ressalta que a receita deste tipo de negócio pode advir do pagamento pela inserção de uma determinada empresa na lista de sites pesquisados pelo negócio pontocom, que é disponibiliza para os clientes. Em relação aos sites de leilão, Dornelas (2008) explica que eles funcionam tal como os leilões tradicionais. “Um site que automatiza e conduz processos de leilão para vendedores (pessoa física ou jurídica). O site cobra uma taxa de sucesso do vendedor, que geralmente varia com o preço do produto a ser leiloado” (DORNELAS, 2008, p.63). Já o leilão reverso funciona com uma lógica inversa ao leilão. Nele é o comprador quem diz o que deseja comprar e recebe uma gama de ofertas dos possíveis vendedores. A partir daí, o autor explica que o cliente escolhe a oferta que lhe for mais atrativa. A receita deste tipo de negócio provém de uma taxa fixa e de um percentual sobre vendas. MODELOS DE NEGÓCIOS VIRTUAIS unidade 2 043 EMPREENDEDORISMO EXEMPLO A seguir, são listados alguns exemplos de sites que atuam em cada um destas categorias, veja: • Portais verticais B2B: www.vrum.com.br • Compra coletiva: www.peixeurbano.com.br • Distribuidor: www.ideia2001.com.br • Shopping Virtual: www.shoppinguol.com.br • Site de Comparação: www.decolar.com • Leilão: www.mercadolivre.com.br • Leilão Reverso: www.priceline.com • Classificados: www.olx.com.br • Sites de permuta: www.permutalivre.com.br Todos esses tipos de negócio, conforme já dito, pertencem a um modelo maior chamado de intermediação de negócio. Os EXEMPLO Abaixo trazemos alguns exemplos de empresas que seguem o modelo de mercado virtual. Dedique parte do tempo que navega na internet para aprender mais. No modelo conhecido como classificados, é disponibilizada uma lista de produtos que estão sendo vendidos e/ou procurados. De acordo com Dornelas (2008), normalmente, o site fatura em cima da cobrança por anúncio publicado. Finalizando os tipos de negócio de intermediação, temos os sites de permuta, que são aqueles em que colocam em contato usuários que desejam obter algo por meio de troca. De acordo com Dornelas (2008, p.63) “o site geralmente cobra uma taxa de sucesso das duas partes que fazem o negócio”. outros tipos de modelo citados por Dornelas (2008) também são bastante interessantes. No modelo de comercialização de propaganda “as mensagens de propaganda são inseridas dentro do conteúdo e dos serviços, tais como e-mail, horóscopo, notícias personalizadas, chats, etc.”, (DORNELAS, 2008, p.64). A renda deste modelo de negócio acontece por meio de pageviews. Quanto ao modelo de mercado virtual, é possível citar dois tipos de empresas: empresas puramente virtuais e empresas brick - and - mortar. Dornelas (2008) esclarece que as empresas puramente virtuais são aquelas empresas de varejo que só existem na internet, já as brick-and-mortar são e mpresas de varejo que já atuam no mundo real e passam a atuar também de forma virtual. No modelo empresarial, é possível encontrar empresas que não são exclusivamente de varejo, que existem simultaneamente no mundo real e virtual. unidade 2 044 EMPREENDEDORISMO MAIS PARA SABER Para aprofundar seus conhecimentos a respeito de negócios via web, recomenda-se a leitura do livro: Empreendedorismo na Internet - Como agarrar esta nova oportunidade de negócios. Autor: Dailton Felipini. O livro pode ser baixado gratuitamente no site: http:// www.e-commerce.org.br. DESAFIOS DOS NEGÓCIOS NA WEB Para falar dos desafios de negócios na web, é importante ressaltar que este ambiente não é exclusivo de empresas virtuais. Ele também é frequentado por empresas que atuam no mundo real. Então, os desafios não são
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