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02 reparacao de dano ambiental karla virginia bezerra caribe

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1 
 
REPARAÇÃO DE DANO AMBIENTAL – OBRIGAÇÃO PROPTER REM, 
IMPRESCRITIBILIDADE DO PEDIDO E INEXISTÊNCIA DE SITUAÇÕES 
JURÍDICAS CONSOLIDADAS 
 
Karla Virgínia Bezerra Caribé 
Procuradora Federal em exercício no Ibama. Pós-graduada em Direito Processo Civil e em 
Direito Público. 
 
RESUMO: A efetividade do direito difuso ao meio ambiente equilibrado só é 
garantida por meio da busca constante à reparação do dano ambiental praticado. 
Os princípios que regem a matéria possibilitam que a recuperação do prejuízo seja 
realizado a qualquer tempo pelo atual proprietário/responsável pela área 
degradada, independentemente de quem foi o real causador do dano, em virtude 
do regime de responsabilização objetiva vigente. As diretrizes aplicáveis, portanto, 
tornam imprescritível a ação de reparação e garantem o caráter propter rem à 
obrigação em análise. Em virtude de tais características, não há que se falar em 
situações jurídicas consolidadas quanto em conflito a necessária proteção ao meio 
ambiente. 
PALAVRAS-CHAVE: Reparação de dano ambiental. Regime jurídico aplicável. 
Obrigação propter rem. Ação imprescritível. 
 
SUMÁRIO: Considerações iniciais; 1 
Imprescritibilidade da pretensão reparatória; 2 Da 
responsabilidade objetiva e do dever de reparação 
do dano ambiental; 3 Do caráter propter rem da 
obrigação em análise; 4 Da inexistência de direito 
adquirido à degradação ambiental e do 
descabimento de aplicação do termo “situações 
jurídicas consolidadas” a questões ambientais; 5 
Considerações finais; Referências. 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
É sabido que um dos maiores problemas atuais enfrentados pela humanidade 
diz respeito ao meio ambiente, pois é cada vez mais comum a configuração de 
danos ambientais que causam tragédias, alterações climáticas significativas, 
tsunamis, furações, extinção de espécies da fauna e da flora, etc. 
O colapso ambiental que pode estar se aproximando exige da sociedade a 
adoção de medidas que, não só garantam a preservação dos recursos ambientais 
ainda existentes, mas também permitam efetivamente a recuperação ambiental 
dos danos já causados, que são inúmeros e estão por toda parte. 
Em face disso, torna-se premente a análise do sistema jurídico vigente e a 
interpretação doutrinária e jurisprudencial da normativa sobre o assunto, para 
garantir a efetividade da desejada reparação ambiental. 
Adiante, restarão analisados os principais princípios a serem aplicados nas 
ações reparatórias, com uma visão de quem tem verdadeira preocupação com a 
causa ambiental e defende, num eventual conflito de interesses, a proteção do 
direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
1 IMPRESCRITIBILIDADE DA PRETENSÃO REPARATÓRIA 
 Segundo o art. 225, § 3º, da Constituição Federal: 
2 
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o 
dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras 
gerações. 
[...] 
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio 
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a 
sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação 
de reparar os danos causados. 
A obrigação de reparar o dano ambiental causado, que tem previsão 
constitucional, é dotada de uma séria de características especiais, em razão da 
relevância do bem jurídico tutelado. 
No que tange ao prazo legal para se buscar a reparação de dano em área 
degradada, já é pacífico o entendimento de que é imprescritível a ação de 
reparação/recuperação ambiental. 
O Superior Tribunal de Justiça – STJ, por diversas vezes, posicionou-se sobre 
o tema: 
ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - DIREITO AMBIENTAL- 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – 
IMPRESCRITIBILIDADE DA REPARAÇÃO DO DANO AMBIENTAL – 
PEDIDO GENÉRICO – ARBITRAMENTO DO QUANTUM DEBEATUR NA 
SENTENÇA: REVISÃO, POSSIBILIDADE - SÚMULAS 284/STF E 
7/STJ. 
1.É da competência da Justiça Federal o processo e julgamento de 
Ação Civil Pública visando indenizar a comunidade indígena 
Ashaninka-Kampa do rio Amônia. 
2. Segundo a jurisprudência do STJ e STF trata-se de competência 
territorial e funcional, eis que o dano ambiental não integra apenas 
o foro estadual da Comarca local, sendo bem mais abrangente 
espraiando-se por todo o território do Estado, dentro da esfera de 
competência do Juiz Federal. 
3. Reparação pelos danos materiais e morais, consubstanciados na 
extração ilegal de madeira da área indígena. 
4. O dano ambiental além de atingir de imediato o bem jurídico que 
lhe está próximo, a comunidade indígena, também atinge a todos 
os integrantes do Estado, espraiando-se para toda a comunidade 
local, não indígena e para futuras gerações pela irreversibilidade do 
mal ocasionado. 
5. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil assume grande 
amplitude, com profundas implicações na espécie de 
responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no simples 
risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente 
da culpa do agente causador do dano. 
6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da 
logicidade hermenêutica, está protegido pelo manto da 
imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, 
fundamental e essencial à afirmação dos povos, independentemente 
de não estar expresso em texto legal. 
7. Em matéria de prescrição cumpre distinguir qual o bem jurídico 
tutelado: se eminentemente privado seguem-se os prazos normais 
das ações indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, 
fundamental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem ele 
não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer , considera-se 
imprescritível o direito à reparação. 
3 
 
8. O dano ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e 
como tal está dentre os poucos acobertados pelo manto da 
imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano ambiental. 
9. Quando o pedido é genérico, pode o magistrado determinar, 
desde já, o montante da reparação, havendo elementos suficientes 
nos autos. Precedentes do STJ. 
10. Inviável, no presente recurso especial modificar o entendimento 
adotado pela instância ordinária, no que tange aos valores 
arbitrados a título de indenização, por incidência das Súmulas 
284/STF e 7/STJ. 
11. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. G.N. 
(REsp 1120117/AC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA 
TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe 19/11/2009). 
Outros Tribunais, de forma uníssona, afirmam que: 
AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. 
JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO CONFIGURADO. ÁREA DE 
PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DEMOLIÇÃO DE EDIFICAÇÃO 
IRREGULARMENTE CONSTRUÍDA. DIREITO DE INDENIZAÇÃO. 
INEXISTÊNCIA. É de ser afastada a prescrição quando se trata de 
bem de titularidade coletiva, pelo fato de pertencer a todos, não 
podem ter aplicação as regras típicas do Direito Civil, de caráter 
individualista, que buscam punir o titular do direito que, pela sua 
inércia no exercício da sua pretensão, passa a ser atingido pela 
prescrição. [...]G.N. 
(TRF/4ª Região, 3ª turma, AC nº 200372080088401, D.E 
07/04/2010, Relator Nicolau Konkel Júnior). 
De fato, a prescrição é instituto destinado a privilegiar a pacificação das 
relações sociais, atuando como verdadeira penalidade no caso de inércia. A 
prescrição, se configurada, é capaz de extinguir a pretensão daquele que não a 
exerce durante um determinado período de tempo. Assim, na própria definição do 
termo, é possível concluir que a prescrição regula as relações de direito privado, 
notadamente relativa aos interesses de cunho individual e disponível. Seriailógico 
falar em extinção da pretensão pelo seu não exercício, por quem sequer detém a 
titularidade do direito material, ou dele não pode dispor. Nesse sentido, a 
prescrição é inaplicável em se tratando de direitos difusos. 
A doutrina também compartilha o entendimento de que, em relação à 
pretensão que visa à recuperação do meio ambiente degradado, é imprescritível o 
direito de ação coletiva. Sobre o assunto, impende transcrever a doutrina de Hugo 
Nigro Mazzilli: 
Tratando-se de direito fundamental, indisponível, comum a toda a 
humanidade, não se submete à prescrição, pois uma geração não 
pode impor às seguintes o eterno ônus de suportar a prática de 
comportamentos que podem destruir o próprio habitat dos ser 
humano. 
Também a atividade degradadora contínua não se sujeita a 
prescrição: a permanência da causação do dano também elide a 
prescrição, pois o dano da véspera é acrescido diuturnamente1. 
Válidos, ainda, são os ensinamentos de Édis Milaré: 
A doutrina tradicional repete, uníssona, que só a pretensão 
envolvendo direitos patrimoniais é que está sujeita à prescrição2. 
 
1 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 17. ed. São Paulo: Saraiva, p. 515. 
2 João Luís Alves. Código Civil. São Paulo: Livraria Acadêmica, 1935, p. 181; Clóvis Beviláqua. Código 
Civil dos Estados Unidos do Brasil. São Paulo: Francisco Alves, 1959. v. 1, p. 355; Aldyr Dias Vianna. 
4 
 
“Como os direitos difusos não têm titular determinável, não seria 
correto transportar-se para o sistema da indenização dos danos 
causados ao meio ambiente o sistema individualístico do Código 
Civil3”, sob pena de sacrificar-se toda a coletividade, sua titular. 
[...] 
Em resumo, não estamos diante de direito patrimonial quando se 
fala de tutela do meio ambiente difusamente considerado. As 
pretensões veiculadas na ação civil pública se relacionam com a 
defesa de um direito fundamental, indisponível, do ser humano; 
logo, inatingível pela prescrição4. 
Assim, resta consolidado o entendimento de que a reparação de dano 
ambiental não se sujeita a prazo prescricional. Ademais, é preciso reconhecer neles 
a característica de continuidade, fato que, inequivocamente, afasta a hipótese de 
fluência de quaisquer prazos prescricionais. Também nesse sentido, já se 
manifestou o STJ: 
CIVIL. PRESCRIÇÃO. VIOLAÇÃO CONTINUADA. INOCORRÊNCIA. 
A continuada violação do direito de propriedade dos recorridos por 
atos sucessivos de poluição praticados pela recorrente importa em 
que se conte o prazo prescricional do último ato praticado. Recurso 
não conhecido. (RESP 20645/SC, DJ DATA: 07/10/2002, Relator 
Min. BARROS MONTEIRO (1089) Relator p/Acórdão Min. CESAR 
ASFOR ROCHA). 
2 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E DO DEVER DE REPARAÇÃO DO 
DANO AMBIENTAL 
É responsável pela reparação ambiental aquele que, direta ou indiretamente, 
por meio de sua conduta (ação ou omissão) alterou adversamente as 
características do meio ambiente. Nos termos do art. 3º da Lei Federal nº 
6.938/1981: 
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
 I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e 
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga 
e rege a vida em todas as suas formas; 
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das 
características do meio ambiente; 
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de 
atividades que direta ou indiretamente: 
 a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; 
 b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; 
 c) afetem desfavoravelmente a biota; 
 d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; 
 e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões 
ambientais estabelecidos; 
 
Da prescrição no direito civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 40; Paulo Tomrnn Borges. 
Decadência e prescrição. São Paulo: Pró-Livro, 1980, p. 48. 
3 NERY, Nelson. Responsabilidade civil por dano ecológico e ação civil pública. Justitia, São Paulo: 
Ministério Público de São Paulo, v. 126, 1984, p. 186. 
4 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, glossário. 7. 
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 1457/1458. 
5 
 
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou 
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade 
causadora de degradação ambiental; 
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, 
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o 
subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. (Redação 
dada pela Lei nº 7.804, de 1989) 
Uma vez configurado juridicamente o dano ambiental, o poluidor deve ser 
civilmente responsabilizado. Por imperativo legal específico do artigo 14, §1º, da 
Lei nº 6.938/81, tem-se que, em matéria de meio ambiente, a responsabilidade 
civil do causador do dano é objetiva e, portanto, independente da prova de culpa. 
Confira-se: 
 Art 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação 
federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas 
necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos 
causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os 
transgressores: 
[...] 
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste 
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de 
culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente 
e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da 
União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de 
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio 
ambiente. 
Ao se tratar de dano ecológico, não se pode pensar em outra forma de 
responsabilidade objetiva que não seja a do risco integral, pois é aquela que 
permite a mais eficiente responsabilização de prejuízos ambientais. Sobre o 
assunto, vale conferir entendimento do STJ: 
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL - VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO 
CPC NÃO CARACTERIZADA - DANO AMBIENTAL - 
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA - RECUPERAÇÃO DA ÁREA 
DEGRADADA - REPOSIÇÃO NATURAL: OBRIGAÇÃO DE FAZER E 
INDENIZAÇÃO - CABIMENTO. 
1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de 
origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao 
julgamento da lide. 
2. Tratando-se de direito difuso, a reparação civil ambiental assume 
grande amplitude, com profundas implicações na espécie de 
responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no simples 
risco ou no simples fato da atividade danosa, independentemente 
da culpa do agente causador do dano. 
3. A condenação do poluidor em obrigação de fazer, com o intuito 
de recuperar a área degradada pode não ser suficiente para eximi-lo 
de também pagar uma indenização, se não for suficiente a 
reposição natural para compor o dano ambiental. 
4. Sem descartar a possibilidade de haver concomitantemente na 
recomposição do dano ambiental a imposição de uma obrigação de 
fazer e também a complementação com uma obrigação de pagar 
uma indenização, descarta-se a tese de que a reposição natural 
exige sempre e sempre uma complementação. 
5. As instâncias ordinárias pautaram-se no laudo pericial que 
considerou suficiente a reposição mediante o reflorestamento, 
obrigação de fazer. 
6. Recurso especial improvido. G.N 
6 
 
(STJ. REsp 1165281/MG. Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda 
Turma, julgado em 06/05/2010, DJe 17/05/2010). 
A caracterização da responsabilidade civil do agente exige tão-somentea 
configuração do evento danoso e do nexo causal, dispensando-se a avaliação do 
elemento moral, ou seja, da culpa. Nesse sentido, vale transcrever o disposto no 
parágrafo único do art. 927 do Código Civil (Lei nº 10.406/2001), que reforça a 
adoção pelo ordenamento jurídico pátrio da responsabilidade objetiva por danos 
causados a interesses difusos, como é o caso do meio ambiente: 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, 
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou 
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 
Impõe-se, assim, o afastamento da responsabilidade subjetiva, aplicável tão-
somente em caso de conflitos intersubjetivos, em que a intenção do agente é fator 
relevante. Tratando-se de dano ambiental, não se deve perquirir, portanto, acerca 
da subjetividade da conduta, mas apenas da ocorrência de prejuízos ao meio 
ambiente, bem difuso pertencente a toda coletividade. 
Sobre o assunto, MANCUSO5 esclarece que não devem ser aceitas as clássicas 
causas de exclusão de responsabilidade (caso fortuito, força maior, proveito de 
terceiro, licitude da atividade e culpa exclusiva da vítima). Na medida em que a 
apreciação de lesão a interesses meta individuais exclui a aplicação de esquemas 
tradicionais, fundados na culpa ou na intenção do agente, de modo a evitar 
“brechas” no sistema protetivo capazes de impedir a tutela do relevantíssimo 
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 
 Assim, mesmo nos casos em que haja certa dúvida sobre a ação do agente, 
não estaria afastado o seu dever de recuperar a área degradada, levando-se em 
conta o sistema de responsabilidade objetiva em danos ambientais. A restauração 
do dano, conforme o sistema legislativo vigente, configura-se verdadeira obrigação 
imposta ao proprietário ou possuidor da área degradada. 
Os atuais proprietários, portanto, têm responsabilidade direta sobre as 
atividades desenvolvidas na área, como edificação, por exemplo, e pelos danos 
ambientais que se configuraram ou tiveram continuação, por sua ação ou mesmo 
omissão. Não há fundamento válido para excluir a sua responsabilidade civil 
reparatória. A doutrina compartilha desse mesmo entendimento: 
Não é raro o autuado afirmar que já comprou o imóvel construído, 
ou que detém apenas a posse e não o domínio. Em verdade, a 
construção irregular é do imóvel, e a infração acompanha a quem 
detém a propriedade, inexistindo direito adquirido de quem o 
comprou em mantê-lo em situação irregular6. [...] 
A tese da responsabilidade objetiva em Direito Ambiental também é aceita, de 
forma pacífica, pelo Poder Judiciário, conforme faz prova a decisão que se traz à 
baila: 
PROCESSO CIVIL E AMBIENTAL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO 
AMBIENTAL – CONSTRUÇÃO DE HIDRELÉTRICA – 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA – ARTS. 3º, INC. IV, E 
14, § 1º, DA LEI 6.398/1981 – IRRETROATIVIDADE DA LEI – 
PREQUESTIONAMENTO AUSENTE: SÚMULA 282/STF – PRESCRIÇÃO 
 
5 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação Civil Pública: em defesa do meio ambiente, do patrimônio 
cultural e dos consumidores. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 342-343. 
6 FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Administrativo e Meio Ambiente, 3. ed. Curitiba: Juruá, 2005, p. 
106. 
7 
 
– DEFICIÊNCIA NA FUNDAMETAÇÃO: SÚMULA 284/STF – 
INADMISSIBILIDADE. 
A responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não 
exige a comprovação de culpa, bastando a constatação do dano e 
do nexo de causalidade. 
Excetuam-se à regra, dispensando a prova do nexo de causalidade, 
a responsabilidade do adquirente do imóvel já danificado porque, 
independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real 
causador dos estragos, imputa-se ao novo proprietário a 
responsabilidade pelos danos. Precedentes do STJ. 
A solidariedade nessa hipótese decorre da dicção dos arts. 3º, inc. 
IV, e 14, § 1º, da Lei 6.398/1981 (Lei da Política Nacional do Meio 
Ambiente). 
[...] 
(STJ, 2ª Turma, Recurso Especial nº 1056540, DJE 14/09/2009, 
Rel. Min. Eliana Calmon). 
Vê-se, portanto, que em razão da responsabilidade objetiva aqui tratada a 
jurisprudência pátria firmou o entendimento no sentido de que o dever de proteção 
ao meio ambiente, bem como as responsabilidades decorrentes deste, devem se 
transferir, de forma automática, com a alteração do domínio do bem lesado, o que 
significa que sua reparação poderá também ser exigida do novo proprietário. 
3 DO CARÁTER PROPTER REM DA OBRIGAÇÃO EM ANÁLISE 
Em razão das razões acima apontadas no que tange ao cometimento de 
danos ambientais e ao dever de repará-los, tem-se que a obrigação decorrente de 
eventuais prejuízos ou interferências negativas ao meio ambiente são propter rem, 
possuindo caráter acessório à atividade ou propriedade em que ocorreu a poluição 
ou degradação. E, por isso, tal responsabilidade seguirá a atividade ou a 
propriedade, mesmo após transmitidas a terceiros. 
Assim, resta pacífico que o adquirente é responsável pelo passivo ambiental 
do imóvel adquirido. Caso contrário, a degradação ambiental dificilmente seria 
reparada, uma vez que bastaria cometer-se a infração e desfazer-se do bem lesado 
para que o dano ambiental estivesse consolidado e legitimado, sem qualquer ônus 
reparatório. Da necessidade de se evitar esse tipo de burla, tem-se que a obrigação 
de reparação é propter rem, ou seja, segue a coisa, independentemente do atual 
titular do domínio/posse. 
Em face disso, se determinada atividade poluidora ou propriedade que esteja 
em desacordo com as leis ambientais tiver seu domínio transferido a terceiro, será 
este solidariamente responsável pela sua regularização, assim como pela 
recuperação dos danos causados. Com isso, evitar-se-á que o novo responsável 
deixe de adotar as providências necessárias a permitir o retorno do equilíbrio 
ambiental, sob o argumento inválido de não ter sido o causador do dano ou de não 
o ter iniciado. 
Cabe reconhecer, na realidade, que o simples fato de o novo 
proprietário/possuidor se omitir no que tange à necessária regularização ambiental 
é mais do que suficiente para caracterizar o nexo causal. Ademais, sua ação ou 
omissão, além de não garantir a desejada reparação, permitirá a continuidade do 
dano ambiental iniciado por outrem. Daí, ser inegável sua responsabilidade civil. 
Válido, sobre o assunto, é o entendimento esposado pela advogada Laila 
Abud, segundo a qual: 
Assim, a título exemplificativo, se determinada construção foi 
realizada em área de preservação permanente ou certo imóvel rural 
8 
 
esteja irregular quanto à identificação e registro da reserva legal, 
não basta ao novo proprietário – que adquiriu a propriedade já 
naquele estado – promover, respectivamente, a demolição da 
construção ou averbação da área nos termos da Lei. Imperioso que 
também adote as medidas adequadas para recuperar ou compensar 
o dano causado, promovendo a recuperação de áreas degradadas, o 
replantio de espécies raras, o reflorestamento de determinada área 
etc7 
O STJ também já apreciou a questão, responsabilizando o adquirente de área 
degradada: 
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DANOS AMBIENTAIS. AÇÃO 
CIVIL PÚBLICA. RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE. TERRAS 
RURAIS. 
RECOMPOSIÇÃO. MATAS. TEMPUS REGIT ACTUM. 
AVERBAÇÃO PERCENTUAL DE 20%. SÚMULA 07 STJ. 
1. A responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva, ante a ratio 
essendi da Lei 6.938/81, que em seu art. 14, § 1º, determina que o 
poluidor seja obrigado a indenizar ou reparar os danos ao meio-ambiente e, quanto ao terceiro, preceitua que a obrigação persiste, 
mesmo sem culpa. Precedentes do STJ: RESP 826976/PR, Relator 
Ministro Castro Meira, DJ de 01.09.2006; AgRg no REsp 504626/PR, 
Relator Ministro Francisco Falcão, DJ de 17.05.2004; RESP 
263383/PR, Relator Ministro João Otávio de Noronha, DJ de 
22.08.2005 e EDcl no AgRg no RESP 255170/SP, desta relatoria, DJ 
de 22.04.2003. 
2. A obrigação de reparação dos danos ambientais é propter rem, 
por 
isso que a Lei 8.171/91 vigora para todos os proprietários rurais, 
ainda que não sejam eles os responsáveis por eventuais 
desmatamentos anteriores, máxime porque a referida norma 
referendou o próprio Código Florestal (Lei 4.771/65) que estabelecia 
uma limitação administrativa às propriedades rurais, obrigando os 
seus proprietários a instituírem áreas de reservas legais, de no 
mínimo 20% de cada propriedade, em prol do interesse coletivo. 
Precedente do STJ: RESP 343.741/PR, Relator Ministro Franciulli 
Netto, DJ de 07.10.2002. 
3. Consoante bem pontuado pelo Ministro Herman Benjamin, no 
REsp nº 650728/SC, 2ª Turma, unânime: "[...] 11. É incompatível 
com o Direito brasileiro a chamada desafetação ou desclassificação 
jurídica tácita em razão do fato consumado . 12. As obrigações 
ambientais derivadas do depósito ilegal de lixo ou resíduos no solo 
são de natureza propter rem, o que significa dizer que aderem ao 
título e se transferem ao futuro proprietário, prescindindo-se de 
debate sobre a boa ou má-fé do adquirente, pois não se está no 
âmbito da responsabilidade subjetiva, baseada em culpa. 13. Para o 
fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, 
equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem 
deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para 
que façam, e quem se beneficia quando outros fazem. 14. 
Constatado o nexo causal entre a ação e a omissão das recorrentes 
com o dano ambiental em questão, surge, objetivamente, o dever 
de promover a recuperação da área afetada e indenizar eventuais 
danos remanescentes, na forma do art. 14, § 1°, da Lei 
6.938/81.[...]". DJ 02/12/2009. 
4. Paulo Affonso Leme Machado, em sua obra Direito Ambiental 
 
7 ABUD Leila. A responsabilidade ambiental como obrigação propter rem. Disponível em: <http://www. 
edgardliete.com.br/Noticia.aspx?id=457>. Acesso em: 03/08/2011. 
9 
 
Brasileiro, ressalta que "[...] A responsabilidade objetiva ambiental 
significa que quem danificar o ambiente tem o dever jurídico de 
repará-lo. 
Presente, pois, o binômio dano/reparação. Não se pergunta a razão 
da degradação para que haja o dever de indenizar e/ou reparar. A 
responsabilidade sem culpa tem incidência na indenização ou na 
reparação dos "danos causados ao meio ambiente e aos terceiros 
afetados por sua atividade" (art. 14, § III, da Lei 6.938/81). Não 
interessa que tipo de obra ou atividade seja exercida pelo que 
degrada, pois não há necessidade de que ela apresente risco ou 
seja perigosa. Procura-se quem foi atingido e, se for o meio 
ambiente e o homem, inicia-se o processo lógico-jurídico da 
imputação civil objetiva ambienta!. Só depois é que se entrará na 
fase do estabelecimento do nexo de causalidade entre a ação ou 
omissão e o dano. É contra o Direito enriquecer-se ou ter lucro à 
custa da degradação do meio ambiente. 
O art. 927, parágrafo único, do CC de 2002, dispõe: "Haverá 
obrigarão de reparar o dano, independentemente de culpa, nos 
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco 
para os direitos de outrem". Quanto à primeira parte, em matéria 
ambiental, já temos a Lei 6.938/81, que instituiu a responsabilidade 
sem culpa. Quanto à segunda parte, quando nos defrontarmos com 
atividades de risco, cujo regime de responsabilidade não tenha sido 
especificado em lei, o juiz analisará, caso a caso, ou o Poder Público 
fará a classificação dessas atividades. "É a responsabilidade pelo 
risco da atividade." Na conceituação do risco aplicam-se os 
princípios da precaução, da prevenção e da reparação. Repara-se 
por força do Direito Positivo e, também, por um princípio de Direito 
Natural, pois não é justo prejudicar nem os outros e nem a si 
mesmo. Facilita-se a obtenção da prova da responsabilidade, sem 
se exigir a intenção, a imprudência e a negligência para serem 
protegidos bens de alto interesse de todos e cuja lesão ou 
destruição terá conseqüências não só para a geração presente, 
como para a geração futura. Nenhum dos 
poderes da República, ninguém, está autorizado, moral e 
constitucionalmente, a concordar ou a praticar uma transação que 
acarrete a perda de chance de vida e de saúde das gerações[...]" in 
Direito Ambiental Brasileiro, Malheiros Editores, 12ª ed., 2004, p. 
326-327. 
5. A Constituição Federal consagra em seu art. 186 que a função 
social da propriedade rural é cumprida quando atende, seguindo 
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, a requisitos 
certos, entre os quais o de "utilização adequada dos recursos 
naturais disponíveis e preservação do meio ambiente" 
6. A adoção do princípio tempus regit actum, impõe obediência à lei 
em vigor quando da ocorrência do fato. 
7. In casu, os fatos apurados como infração ambiental ocorreram no 
ano de 1997, momento em que já se encontrava em vigor o Código 
Florestal Lei nº 4.771/65, não havendo que se perquirir quanto à 
aplicação do Decreto nº 23.793/94, que inclusive foi revogado por 
aquela lei. 
8. O Recurso Especial não é servil ao exame de questões que 
demandam o revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, 
em face do óbice contido na Súmula 07/STJ. 
9. In casu, a verificação da comprovação de que a propriedade não 
atinge o mínimo de 20% de área coberta por reserva legal, bem 
como a exploração de florestas por parte do proprietário, implicaria 
10 
 
o revolvimento de matéria fática-probatória, o que é interditado a 
esta Corte Superior. 
10. Deveras, o Tribunal a quo à luz de ampla cognição acerca de 
aspectos fático-probatórios concluiu que: A escusa dos requeridos 
de que não se pode impor a obrigação de reparar dano ambiental a 
particular que adquiriu a terra já desmatada ou que a averbação 
não pode ultrapassar o remanescente de mata nativa existente na 
área não convence; como bem exposto pelo Procurador de Justiça a 
fls. 313/314: 'não se pretende que a averbação seja feita 
anteriormente à entrada em vigor da Lei 7.803/89 que alterou 
disposições da Lei 4.771/65. Ocorre que, a partir da vigência 
daquela primeira lei em nosso ordenamento jurídico, os antigos 
proprietários (Sr. Renato Junqueira de Andrade e Sra. Yolanda 
Junqueira de Andrade - fls. 77) tinham desde então a obrigação de 
ter averbado a reserva legal, sendo que a Ré, ao comprar uma 
propriedade sem observar os preceitos da lei, assumiu a obrigação 
dos proprietários anteriores ficando ressalvada, todavia, eventual 
ação regressiva. (fls. 335) 
11. Os embargos de declaração que enfrentam explicitamente a 
questão embargada não ensejam recurso especial pela violação do 
artigo 535, II, do CPC, tanto mais que, o magistrado não está 
obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, 
desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para 
embasar a decisão. 
12. Recurso parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido. 
G.N. 
(STJ, Resp 1090968/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, Data 
do julgamento: 15/06/2010). 
ADMINISTRATIVO - DANO AO MEIO-AMBIENTE - INDENIZAÇÃO - 
LEGITIMAÇÃO PASSIVA DO NOVO ADQUIRENTE. 
1. A responsabilidade pela preservação e recomposição do meio-
ambiente é objetiva, mas se exige nexo de causalidade entre a 
atividade do proprietário e o dano causado (Lei6.938/81). 
2. Em se tratando de reserva florestal, com limitação imposta por 
lei, o novo proprietário, ao adquirir a área, assume o ônus de 
manter a preservação, tornando-se responsável pela reposição, 
mesmo que não tenha contribuído para devastá-la. 
3. Responsabilidade que independe de culpa ou nexo causal, porque 
imposta por lei. 
4. Recursos especiais providos em parte. 
(REsp 327.254/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA 
TURMA, julgado em 03/12/2002, DJ 19/12/2002 p. 355) 
4 DA INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO À DEGRADAÇÃO AMBIENTAL 
E DO DESCABIMENTO DE APLICAÇÃO DO TERMO “SITUAÇÕES JURÍDICAS 
CONSOLIDADAS” A QUESTÕES AMBIENTAIS 
Não se pode permitir a perpetuação da lesão ao meio-ambiente, sob o simples 
fundamento de que o dano ambiental é antigo e a situação fática já foi consolidada. 
Inexiste argumento válido no sentido de que só será civilmente responsável pela 
reparação o causador originário do dano, pois quem perpetua a lesão anterior, 
também comete o ilícito ambiental e deve reparar o dano causado. 
Este é o posicionamento pacífico no Superior Tribunal de Justiça: 
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA 
DE PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA, POR ANALOGIA, DA 
SÚMULA 282 DO STF. FUNÇÃO SOCIAL E FUNÇÃO ECOLÓGICA DA 
11 
 
PROPRIEDADE E DA POSSE. ÁREAS DE PRESERVAÇÃO 
PERMANENTE. RESERVA LEGAL. 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA PELO DANO AMBIENTAL. 
BRIGAÇÃO PROPTER REM. DIREITO ADQUIRIDO DE POLUIR. 
1. A falta de prequestionamento da matéria submetida a exame do 
STJ, por meio de Recurso Especial, impede seu conhecimento. 
Incidência, por analogia, da Súmula 282/STF. 
2. Inexiste direito adquirido a poluir ou degradar o meio ambiente. 
O tempo é incapaz de curar ilegalidades ambientais de natureza 
permanente, pois parte dos sujeitos tutelados – as gerações futuras 
– carece de voz e de representantes que falem ou se omitam em 
seu nome. 
3. Décadas de uso ilícito da propriedade rural não dão salvo-
conduto ao proprietário ou posseiro para a continuidade de atos 
proibidos ou tornam legais práticas vedadas pelo legislador, 
sobretudo no âmbito de direitos indisponíveis, que a todos 
aproveita, inclusive às gerações futuras, como é o caso da proteção 
do meio ambiente. 
4. As APPs e a Reserva Legal justificam-se onde há vegetação 
nativa 
remanescente, mas com maior razão onde, em conseqüência de 
desmatamento ilegal, a flora local já não existe, embora devesse 
existir. 
5. Os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza 
de 
obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou 
posse. 
Precedentes do STJ. 
6. Descabe falar em culpa ou nexo causal, como fatores 
determinantes do dever de recuperar a vegetação nativa e averbar 
a Reserva Legal por parte do proprietário ou possuidor, antigo ou 
novo, mesmo se o imóvel já estava desmatado quando de sua 
aquisição. Sendo a hipótese de obrigação propter rem, 
desarrazoado perquirir quem causou o dano ambiental in casu, se o 
atual proprietário ou os anteriores, ou a culpabilidade de quem o fez 
ou deixou de fazer. Precedentes do STJ. 
7. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não 
provido. G.N. 
(STJ. Resp nº 948.921-SP, 2ª Turma. Rel. Min. Herman Benjamin. 
Data do julgamento 23/10/2007). 
No que tange ao desmatamento, mais comum dos danos ambientais, o 
legislador ordinário, ao criar a Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), não se 
limitou a caracterizar como indevida apenas a conduta de destruir ou danificar 
vegetação. O legislador foi adiante: caracterizou como ilícita, também, a conduta 
de impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de 
vegetação (artigo 48), em uma clara tentativa de punir não só aqueles que 
suprimem a vegetação, mas também os que a impedem de se regenerar. 
Além de constituírem crime ambiental, as duas condutas também configuram 
infração administrativa ambiental, sujeitando os infratores à responsabilidade civil e 
administrativa, além de penal. É que o Decreto nº 6.514/2008 também tipificou 
como infração os atos de destruir, desmatar, danificar vegetação, e impedir ou 
dificultar a regeneração natural de florestas, etc. (arts. 43 em diante). 
12 
 
Assim, aquele que impedir, de alguma forma, a regeneração natural de uma 
área protegida, ainda que não tenha sido o causador direto da supressão da 
vegetação, fica obrigado a reparar o dano causado. 
Não pode prosperar qualquer argumento no sentido de que o dano ambiental 
já se configurou, no passado, sendo totalmente incabível a expressão “situação 
consolidada” quando em discussão questões ligadas ao meio ambiente. Pela 
natureza do bem protegido (direito difuso), o particular não pode pôr em risco as 
funções ambientais. Estas vão sempre prevalecer em relação à atividade 
econômica, em oposição. 
Mas, não se trata de escolha entre o público e o privado, nem decidindo pela 
supremacia do individualismo, ignorando o impacto social de cada intervenção, nem 
desconsiderando um bem particular em nome de um suposto bem coletivo. Trata-
se apenas de estabelecer entre as partes uma relação saudável, sustentável, em 
que as ações de cada um sejam voltadas para o benefício próprio e coletivo, de 
acordo com o determina o art. 225 da Constituição da República. 
E nessa linha de raciocínio, buscando-se o maior benefício possível para o 
indivíduo e para a coletividade, deve-se desenvolver o Direito Ambiental. É com 
esse objetivo de se proteger o equilíbrio ambiental para as presentes e as futuras 
gerações, que se impõe a necessidade maior de reparação dos danos causados, em 
detrimento de outros direitos e/ou objetivos de cunho patrimonial e econômico. 
Assim, inexiste direito adquirido à exploração de bem ou atividade, 
causadoras de dano ambiental ou mesmo impeditivas de recuperação/regeneração 
da área degradada. A natureza foi constituída em milhares de séculos, de forma 
que qualquer dano causado a ela, por menor que possa parecer, é imensurável, e o 
ser humano não pode aferir, com precisão, as suas conseqüências. É por essa razão 
que o direito ambiental é pautado, sobretudo, pelos princípios da precaução e da 
prevenção. 
Não se pode negar que a função social da propriedade só é observada se 
utilizada de forma racional, com a preservação do meio ambiente, e se atendidos os 
objetivos previstos na legislação para cada tipo de área protegida. Área de 
preservação permanente - APP, por exemplo, “tem a função ambiental de preservar 
os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo 
gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações 
humanas8”. 
Desrespeitar uma área definida como de Preservação Permanente, 
construindo-se, por exemplo, um imóvel no local protegido, significa descumprir 
sua função ambiental, o que é suficiente para caracterizar o dano ao meio 
ambiente. Tal prejuízo só pode ser reparado com a destruição do imóvel erguido 
em local indevido, o que possibilitará a regeneração natural da vegetação 
originariamente existente e garantirá o retorno da função sócio-ambiental daquela 
propriedade. 
Nicolao Dino de Castro e Costa Neto sabiamente esclarece: 
As florestas de preservação permanente possuem antecedentes no 
Decreto nº 23.793, de 23.01.34 (art. 4º), sendo ali denominadas de 
florestas protetoras. O termo preservação permanente impõe um 
caráter de rigorosa proteção, acentuando a maior relevância dessas 
florestas para o equilíbrio ecológico do sistema. Tal função 
ambiental projeta-se no campo da higidez dos recursos hídricos, da 
preservação das paisagens naturais, da proteção da biodiversidade, 
da preservação da estabilidade geológica, da garantia do fluxo 
gênico dafauna e da flora, da proteção do solo e da promoção do 
bem-estar da coletividade. É oportuno enfatizar que o regime de 
 
8 RESOLUÇÃO CONAMA nº 302/2002, art. 2º, inciso II. 
13 
 
preservação permanente referido na Lei nº 4.771/65 (Código 
Florestal) alcança não apenas formações florestais, mas também 
outras formas de vegetação natural, consoante os critérios ali 
apontados. Vale observar, também, que esse regime pode gravar 
florestas localizadas tanto em áreas públicas como particulares, 
funcionando, em relação a estas, como uma limitação interna ao 
direito de propriedade. As áreas de preservação permanente 
constituem, com efeito, limites intrínsecos ao direito de 
propriedade, operando seus reflexos no próprio núcleo definidor do 
mesmo. Esse direito não pode dissociar-se de seu conteúdo 
funcional, ditado por vontade expressa da Constituição. Atuando 
internamente como um atributo ambiental da propriedade, as áreas 
de preservação permanente penetram na substância do domínio, 
para estabelecer, na expressão de Flávio Dino, uma idéia de 
“propriedade intrinsecamente limitada9. (grifei) 
Destarte, não há que se falar em direito adquirido quando em jogo o advento 
de uma norma de ordem pública, de aplicação geral e imediata, emanada do 
interesse coletivo em detrimento do particular: 
Não se cogita da invocação de „direito adquirido‟ pelo loteador ou 
adquirente para poder edificar, ainda que tenha havido aprovação 
do parcelamento em data anterior. Prevalece o interesse público e 
não há „direito adquirido de desmatar‟. 
(TJSP, 4ª Câmara, ApCiv 147.488-1/2, julg. 12/09/1991, relator 
Des. Lobo Júnior) 
A Constituição Federal Brasileira estabelece que a propriedade atenderá a sua 
função social (art. 5º, inciso XXIII). Outrossim, o Código Civil (Lei nº 10.406/02) 
assinala que “o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as 
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de 
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas 
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como 
evitada a poluição do ar e das águas” (artigo 1.228, § 1º). 
É fato, portanto, que o direito de propriedade pode ter o seu conteúdo 
econômico esvaziado ou limitado por restrições de ordem ambiental, e que não se 
permite o uso indiscriminado da propriedade. Ademais, não podem prevalecer 
direitos que vão de encontro ao interesse público, de forma que, no caso de conflito 
de interesses, deve prevalecer aquela que defende a preservação do meio ambiente 
para toda a coletividade. 
Assim, nem mesmo um fato consumado pode ser considerado excludente da 
responsabilização ambiental. Entendimento nesse sentido seria um incentivo à 
clandestinidade e à intervenção degradadora, eis que, após consumado o dano, 
nada mais restaria a ser feito, e o direito difuso ao meio ambiente equilibrado 
restaria prejudicado. Essa tese não se coaduna com as regras de responsabilização 
vigentes no ordenamento pátrio, sobretudo em se tratando de matéria ambiental. 
Por fim, para eliminar qualquer argumento contrário ao meio ambiente, 
impende transcrever as valiosas palavras do Procurador da República Pedro Nicolau 
Moura Sacco sobre o assunto: 
Não resta dúvida que a proteção ao meio ambiente deve ser 
conciliada com outros valores de igual estatura. Nesse sentido, 
aliás, a própria delimitação de áreas de proteção ambiental (aqui 
empregada a palavra em sentido amplo, abrangendo todas as 
modalidades de unidades de conservação, áreas de proteção 
permanente e demais formas de proteção existente) veio a conjugar 
 
9 COSTA NETO. Nicolao Dino de Castro e. Proteção Jurídica do Meio Ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 
2003, p. 203/204. 
14 
 
os valores de proteção ao meio ambiente, direito à propriedade, 
livre iniciativa e desenvolvimento econômico. 
De forma alguma se busca aqui a anulação do direito à propriedade, 
mas sim que ele seja usufruído com respeito aos demais direitos 
constitucionais. A partir do momento em que se permite a 
degradação em área de preservação permanente, em prol do direito 
à propriedade, está-se anulando o direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado. Realizar a ponderação é permitir a 
construção em áreas que não afetem o meio ambiente, ou seja, 
buscar-se o desenvolvimento sustentável. Do contrário, ter-se-á 
apenas o desenvolvimento, sem a sustentabilidade10. 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Diante da necessidade premente de se garantir o direito de todos ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, deve-se insistir na obtenção da efetiva 
recuperação ambiental, como medida imprescindível para salvaguardar a proteção 
da diversidade biológica e de todos os recursos naturais que o meio ambiente sadio 
oferece. 
Nessa luta do Século XXI, o Direito Ambiental se mostra favorável, na medida 
em que garante uma séria de medidas jurídicas válidas, que podem permitir o 
alcance de tão importante objetivo. 
Nesse sentido, a responsabilização objetiva que surge a partir da configuração 
de um dano ambiental, a característica propter rem e imprescritível do dever 
reparatório e o reconhecimento da sociedade de que inexistem situações 
consolidadas que afetem o meio ambiente tornam-se primordiais e decisivas para 
essa conquista. 
REFERÊNCIAS 
ABUD Leila. A responsabilidade ambiental como obrigação propter rem. Disponével em: 
<http://www.edgardliete.com.br/Noticia.aspx?id=457>. Acesso em: 03/08/2011; 
COSTA NETO. Nicolao Dino de Castro e. Proteção Jurídica do Meio Ambiente. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2003, p. 203/204; 
FREITAS, Vladimir Passos de. Direito Administrativo e Meio Ambiente, 3. ed. Curitiba: Juruá, 
2005, p. 106; 
NERY, Nelson. Responsabilidade civil por dano ecológico e ação civil pública. Justitia, São 
Paulo: Ministério Público de São Paulo, v. 126, 1984, p. 186; 
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação Civil Pública: em defesa do meio ambiente, do 
patrimônio cultural e dos consumidores. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 
342/343; 
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 17. ed. São Paulo: 
Saraiva, p. 515; 
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, 
glossário. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 1457/1458, 2011. 
 
10 Manifestação esposada em Recurso de Apelação apresentado pelo Ministério Público Federal, no 
processo nº 2008.72.08.003883-3, em trâmite no Estado de Santa Catarina.

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