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Plantas Tóxicas Professora: Maria Carolina Anholeti Universidade Federal Fluminense Curso: Medicina Disciplina: Biologia Geral – Botânica Aplicada “Todas as substâncias são venenos, não existe nada que não seja veneno. Somente a dose correta diferencia o veneno do remédio” Paracelso (1493-1591) Fitotoxicologia • Intoxicações provocadas por plantas – Grave problema tanto para a saúde da população quanto para a economia do país; • Os acidentes com plantas tóxicas representam a quarta causa de intoxicação no Brasil com perda de vidas humanas, atingindo principalmente crianças; • Os acidentes podem ocorrer de 2 formas: ▫ Direta: Provocada pela ingestão acidental, por uso inadequado, uso de drogas de abuso ou ainda por imprudência; ▫ Indireta: Provocada pelo consumo de animais que tenham ingerido plantas tóxicas cujos princípios possam estar acumulados no leite ou na carne. Princípios tóxicos • Substância ou conjunto de substâncias responsáveis total ou parcialmente pelos efeitos tóxicos de algumas plantas; • As classes de substâncias que mais frequentemente apresentam toxidez são os alcalóides, os glicosídeos cardioativos, compostos calcinogênicos e cianogênicos; Princípios tóxicos - Alcalóides • Os alcalóides que se constituem em princípios tóxicos são alcalóides endofíticos (ergolínicos e tremorgênicos), pirrolizidínicos, indolizidínicos e tropânicos; • Os alcalóides de origem endofítica estão compreendidos em 2 classes químicas: ▫ Indólico-terpenos (indolterpênicos) dotados de ação tremorgênica; ▫ Ergolínicos de ação vasoconstrictoras e alucinógenos; ▫ Esses alcalóides provocam efeitos negativos sobre os neuroreceptores, o que resulta em problemas de neurotransmissão e vasoconstricção (ergotismo), além da inibição da prolactina em humanos e a ocorrência de alucinações. “Ergot” (Claviceps purpurea) Muitos desses alcalóides têm forte ação vaoconstritora e, em altas doses, podem atuar nos vasos sanguíneos, especialmente aqueles localizados nas extremidades do corpo, causando a intoxicação conhecida por ergotismo, caracterizada por necrose dos tecidos e gangrena. Princípios tóxicos – Substâncias cardioativas • O emprego de plantas que possuem substâncias cardioativas é referido na literatura desde a época das civilizações egípcia e romana, como tônico cardíaco, mas sempre acompanhado de registros de graves acidentes tóxicos; • Poucas horas após a ingestão da dose tóxica aparecem os primeiros sinais de intoxicação, principalmente no sistema cardiovascular, caracterizados por: disritmia cardíaca, extrassístole, diminuição da frequência cardíaca, fibrilação ventricular, depressão e bloqueio do coração, seguido de morte; • No aparelho digestivo os sintomas são: salivação excessiva, gastrenterite hemorrágica, dor abdominal e diarréia; • Mesmo pequenas doses podem resultar em disritmia ou em bradicardia. Os sintomas podem permanecer durante 4 a 5 dias, mesmo sem haver nova ingestão. Princípios tóxicos – Glicosídeos cianogênicos • São constituídos de moléculas hidrolisáveis em meio aquoso, que na presença de enzimas do grupo das betaglicosidases fornecem como produto da reação o ácido cianídrico (HCN), um açúcar simples e uma cetona ou aldeído, geralmente o benzaldeído; • A hidrólise ocorre quando os tecidos da planta são desagregados por trituração, mastigação ou infestação por fungos, o que põe em contato íntimo a substância cianogênica com a enzima responsável pela hidrólise; • Cerca de 2 mil espécies vegetais, compreendidas em sete famílias têm registro sobre a presença destas substâncias, embora poucas sejam portadoras de teor perigosamente elevado. Princípios tóxicos – Outros grupos químicos • Outros grupos químicos presentes em vegetais que provocam diversas reações tóxicas são os ésteres do forbol, as furanocumarinas, os taninos, nitratos e cristais de oxalato de cálcio; • Estas substâncias encontram-se presentes nos tecidos de plantas de cerca de 220 famílias e são responsáveis por acidentes tóxicos ou traumáticos Cristas de oxalato de Cálcio de Diffembachia Drusas Ráfides Como reconhecer uma planta tóxica? Allamanda cathartica L. Nerium oleander L. Brunfelsia uniflora (Pohl) D. Don Como classificar uma espécie como tóxica? • Do ponto de vista visual não existe um critério para a identificação, embora o sistema CAL seja tradicionalmente empregado no dia-a- dia de muitas comunidades, onde: • Esse sistema é falho, pois muitas plantas tóxicas não apresentam estas características! C = Cabeluda A = Amarga L = Leitosa Como classificar uma espécie como tóxica? • Para que uma planta seja apontada como espécie tóxica, sua toxidez deve ser comprovada experimentalmente; • Para isso, é empregado como método principal a experimentação com animais, que inicialmente deve ser feita na espécie animal afetada sob condições naturais e com a planta fresca recém-colhida, administrada por via oral, considerando que esta é a via natural de intoxicação por plantas; • É válido salientar que os testes para avaliação de plantas visando testar efeitos tóxicos deve seguir a seguinte sequência: teste in vitro, e testes in vivo, com animais de laboratório, seguido da realização dos testes de toxidez na espécie alvo; • Nos estudos de toxidez realizam-se testes de toxidez aguda e crônica. Sinitox – Sistema Nacional de Informações Tóxico- Farmacológicas • 60% dos casos de intoxicação por plantas tóxicas no Brasil ocorrem com crianças menores de nove anos, e 80% deles são acidentais; • Para ajudar na prevenção desses acidentes o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), em parceria com os centros de Belém, Salvador, Cuiabá, Campinas, São Paulo e Porto Alegre, criou, em junho de 1998, o Programa Nacional de Informações sobre Plantas Tóxicas; • A elaboração e distribuição de material educativo, de prevenção e tratamento, são as principais metas do programa; • O primeiro trabalho é a divulgação das 16 plantas que mais causam intoxicação em nosso país. Além da elaboração de um manual de tratamento das intoxicações por plantas, um vídeo, uma base de dados com a codificação das plantas tóxicas brasileiras e um atlas. Dieffenbachia seguine (Jacq.) Schott. (Araceae) • Nome popular: comigo ninguém pode • Parte tóxica: todas as partes da planta. • Princípios tóxicos: Substância hipersensibilizante com perfil toxicológico semelhante ao da histamina (protease tóxica), conduzida pelos cristais de oxalato de cálcio. • Sintomas: a ingestão e o contato provoca irritação com forte edema de lábios, boca e língua, náuseas, vômitos, diarréia, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia; o contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea. Dieffenbachia seguine (Jacq.) Schott. (Araceae) • Tratamento: Em caso de lesões oculares é necessário lavar imediatamente os olhos com água morna e soro fisiológico, seguido de exame oftalmológico minucioso; • O tratamento sintomático propicia bons resultados; • Em caso de mastigação e reação hiperalérgica local, é aconselhada a prometazina 2 mg/kg ou difenidramina 4mg/kg. Outras espécies pertencentes à família Araceae com características tóxicas semelhantes: Tinhorão Caladium bicolor Vent. Taioba-brava Colocasia antiquorum Schott. Copo-de-leite Zantedeschia aethiopica Spreng. Brugmansia suaveolens (Humb. & Bonpl. ex Willd.) Bercht. & J. Presl (Solanaceae) • Nome popular: trombeteira • Parte tóxica: todas as partes da planta. • Princípios tóxicos: alcalóides tropânicos, principalmente hiosciamina eescopolamina. • Sintomas: a ingestão pode provocar forte dilatação das pupilas, febre, pele seca, diminuição ou falta de salivação, dificuldade de urinar, inibição do peristaltismo e da acomodação ocular. • Tratamento: Alguns cuidados podem ser tomados na ausência de um médico: O intoxicado deve ingerir sucos ricos em taninos para diminuir a solubilidade e absorção dos alcalóides, ou ainda pó de café com farta quantidade de água até provocar vômitos. • Cuidados profissionais: lavagem gástrica, injeção I.V. de fisostigmina, compressas com álcool diluído para a febre e administração de diazepam. Euphorbia tirucalli L.(Euphorbiaceae) • Nome popular: avelós. • Parte tóxica: todas as partes da planta. • Princípios tóxicos: ésteres do forbol. • Sintomas: o contato do látex com a pele e mucosas, especialmente os olhos, causa reação alérgica e inflamatória podendo resultar em cegueira temporária por até 7 dias ou mesmo permanente; casos de ingestão são raros e resultam em rápido aparecimento de irritação da mucosa bucal e do estômago, acompanhados por dor e algumas vezes náusea, vômitos e diarréia. Euphorbia tirucalli L.(Euphorbiaceae) • Tratamento: Caso haja contato com o látex, as mãos devem ser lavadas com bastante água e sabão; • Em caso de lesões mais graves, é sugerido o uso de corticóides, anti-histamínicos e antissépticos; • Em caso de contato com os olhos, efetuar lavagem imediatamente e, a seguir, a utilização de colírios antissépticos; • Nos casos de ingestão do látex são indicados os recursos rotineiros de controle sintomático, compreendendo lavagem gástrica, balanceamento hidrolítico e monitoramento das funções respiratórias e circulatórias. Outras espécies pertencentes à família Euphorbiaceae com características tóxicas semelhantes: Bico-de-papagaio Euphorbia pulcherrima Willd. ex Klozsch Coroa-de-Cristo Euphorbia milii L. Nerium oleander L. (Apocynaceae) • Nome popular: espirradeira. • Parte tóxica: todas as partes da planta. • Princípios tóxicos: cardenolídeos estruturalmente semelhantes aos de Digitalis spp. (glicosídeos cardiotóxicos) • Sintomas: distúrbios de locomoção, perturbações digestivas caracterizadas por náuseas, vômitos, cólicas e diarréia mucosanguinolenta. Ocorrem também edema pulmonar hipercalemia, midríase, torpor e coma. As perturbações cardiológicas manifestam-se por pulso irregular e fraco,hipotensão, bradicardia ou taquicardia e disritmia ventricular. Nerium oleander L. (Apocynaceae) • Tratamento: Pode ser iniciado por lavagem gástrica, ventilação, administração de carvão ativado para reduzir a absorção de parte da substância ativa que ainda não foi absorvida; • A seguir devem ser feitos o controle dos níveis de eletrólitos e o acompanhamento eletrocardiográfico; • No caso de bloqueio cardíaco em animais foi comprovada a eficácia do sulfato de atropina (10 mg/kg, i.p.). Se a resposta não for satisfatória é indicado também o uso de isoproterenol, propranolol, fenitoína, metaclopramina e epinefrina; • Os sintomas gastrointestinais devem ser controlados com reposição de líquidos e eletrólitos, antieméticos e analgésicos. Outras espécies pertencentes à família Apocynaceae com características tóxicas semelhantes: Chapéu-de-Napoleão Thevetia peruviana (Pers.) K. Schum. Unha-do-cão Cryptostegia grandiflora R. Br. Manihot esculenta Crantz (Euphorbiaceae) • Nome popular: mandioca-brava. • Parte tóxica: raiz e folhas. • Princípios tóxicos: glicosídeos cianogênicos (linamarina e lotautralina). • Sintomas: dores de cabeça, fraqueza, tontura, náuseas, respiração difícil, vômito e cianose, seguido de batimentos cardíacos fracos e irregulares, causando perda de consciência, convulsões e morte. • Observações: Dose letal de cianeto para o homem: 1 mg/kg de peso corporal. Apenas 1 kg de mandioca brava pode liberar durante seu processamento para a fabricação de farinha, cerca de 0,5 g de HCN, suficiente para matar até 3 homens por intoxicação aguda. Manihot esculenta Crantz (Euphorbiaceae) • Tratamento: Em casos de intoxicação aguda,o tratamento deve ser iniciado imediatamente devido à rapidez com que o veneno atua; • Em caso de ingestão recente é indicada a lavagem gástrica, seguida de inalação de nitrito de amila por 3 segundos a cada 2 minutos e repiração artificial; • A seguir é recomendado administrar por via intravenosa uma solução de nitrito de sódio a 3% (10 ml em adultos). Também é aconselhada a administração de de hidroxicobalamina (vitamina B12) e em alguns casos solução de glicose por via endovenosa; • A melhora pode ser observada dentro de minutos, especialmente se ao mesmo tempo for administrada cafeína e vitamina C. Ricinus communis L. (Euphorbiaceae) • Nome popular: mamona. • Parte tóxica: sementes. • Princípios tóxicos: ricinina (alcalóide) e ricina (lecitina de natureza glicoprotéica altamente tóxica). • Sintomas: a ingestão de 1 a 6 sementes por crianças pode ser fatal devido à liberação de ricina durante a mastigação. Os sintomas clínicos da intoxicação incluem náusea, vômito, dor abdominal intensa e diarréia sanguinolenta. Em casos agudos podem ocorrer convulsões, apneia e coma seguido de morte. • Tratamento: Não existe antídoto, o tratamento é sintomático e de suporte, iniciando com lavagem gástrica e administração de carvão ativado. Medidas preventivas 1. Manter as plantas venenosas fora do alcance das crianças. 2. Conhecer as plantas venenosas existentes em casa e arredores pelo nome e características. 3. Ensinar as crianças a não colocar plantas na boca e não utilizá-las como brinquedos (fazer comidinhas, tirar leite, etc.). 4. Não preparar remédios ou chás caseiros com plantas sem orientação médica. 5. Não comer folhas, frutos e raízes desconhecidas. Não há regras ou testes seguros para distinguir as plantas comestíveis das venenosas. Nem sempre o cozimento elimina a toxidez da planta. 6. Tomar cuidado ao podar as plantas que liberam látex provocando irritação na pele e principalmente nos olhos; evite deixar os galhos em qualquer local onde possam vir a ser manuseados por crianças; quando estiver lidando com plantas venenosas usar luvas e lavar bem as mãos após esta atividade. 7. Em caso de acidente, procurar imediatamente orientação médica e guardar a planta para identificação. 8. Em caso de dúvida ligar para o Centro de Intoxicação de sua região.
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