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CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 1 CAROS AMIGOS E ALUNOS É um prazer poder usufruir dos atuais meios de comunicação e me dirigir a todos vocês. Nesta apresentação vou passar algumas breves informações sobre minha pessoa e o curso que pretendo ministrar. Sou graduado e pós-graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Fui Procurador do Estado de São Paulo e atualmente sou Juiz de Direito. Ao lado destas funções públicas, sempre fui ligado à área do ensino. Para mim, uma atividade completa a outra e vou me mantendo sempre atualizado. Iniciei minha carreira docente na própria PUC/SP, onde dei aulas durante alguns anos. Meu foco, atualmente, são os cursos preparatórios para concursos públicos. Acabei me envolvendo com diversas disciplinas na área jurídica, mas me especializei no Direito Civil, matéria que possuo algumas obras e artigos publicados. Há mais de vinte anos acompanho os concursos públicos, nas mais diferentes áreas, seja no âmbito jurídico, fiscal e outros. O contato que mantenho com os alunos (seja real, ou, nos tempos atuais, também virtual) é muito enriquecedor. Gosto de transmitir toda aquela experiência que fui acumulando nos concursos que prestei e nos cargos que exerci e ainda exerço. Fico extremamente feliz quando recebo a notícia de que um aluno passou em um concurso. Cada vez que isso ocorre, parece que eu passei junto com ele. E isso renova minhas forças para continuar fazendo o que gosto. Devo acrescentar que venho tendo muitas dessas alegrias, tendo-se em vista o frequente sucesso de nossos alunos, especialmente aqui, no PONTO DOS CONCURSOS. Minha intenção com este curso é ministrar aulas dirigidas de uma forma geral para concursos referentes a “Tribunais” de forma clara, direta e muito objetiva, fornecendo o máximo de informações ao aluno, mas sem dispersar para temas que não caem na prova, evitando opiniões pessoais e doutrinárias que não são acolhidas nos concursos. Esse curso não foi elaborado para um concurso específico. Mas, como dissemos, para cargos nos Tribunais de uma forma geral: Tribunais de Justiça (estaduais e federais), Tribunais Eleitorais e Militares, Tribunais Trabalhistas, Tribunais de Contas e Tribunais Superiores (STJ e STF), etc. Serve também para concursos referentes à Controladoria, Ministério Público, etc. Para tanto, analisei diversos editais e verifiquei que o Direito Civil cai em todos estes concursos, pois se trata de matéria básica. É com o Direito Civil que se começa o estudo do Direito. Inclusive nossa primeira aula, fornecida hoje, logo após a apresentação, fala sobre a chamada Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Ponto importantíssimo para a compreensão não só do Direito Civil, mas de todos os outros ramos do Direito. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 2 É certo que já temos alguns concursos em andamento. No entanto este curso tem um intuito mais preventivo, pois é assim que se estuda para um concurso: de forma antecipada. Isso porque sabemos que os concursos para Tribunais vêm ampliando, cada vez mais, as matérias e os pontos a serem estudados. Assim, quando o edital é publicado, já não dá mais tempo para estudar todas as matérias de forma adequada e completa. Optamos por fazer um curso completo, abrangendo todo Direito Civil. No entanto, para que o curso saia mais em conta para o aluno, compactamos algumas aulas. Geralmente um curso completo de Direito Civil é dado em 20 aulas. No entanto este curso será de apenas nove aulas (além da aula demonstrativa), sem que se perca qualquer conteúdo nestas aulas. Exemplificando. No curso regular fornecemos uma aula sobre pessoas naturais (físicas) e outra sobre pessoas jurídicas. No curso que iremos ministrar estas duas aulas serão condensadas em apenas uma aula, sem perder qualquer conteúdo da matéria, barateando, assim, os custos para o aluno. Por outro lado, como as aulas vão ficar maiores, daremos um tempo maior para que aluno estude a aula e envie suas perguntas ao nosso fórum. Portanto, como regra, nossas aulas serão enviadas a cada 15 (quinze) dias (vejam nosso cronograma mais abaixo). Vamos agora explicar como será desenvolvido o curso. Cada aula contém a matéria referente a um capítulo do Direito Civil, sendo que a mesma será exposta de uma forma bem simples, direta e objetiva. Durante as aulas forneço o maior número de exemplos possível. Tenho certeza que mesmo uma pessoa que não seja formada em Direito terá plenas condições de acompanhar o curso e entender tudo o que será ministrado. No entanto não posso fugir de algumas ‘complexidades jurídicas’, pois estas também costumam cair nas provas. Costumo dizer que os examinadores gostam de pedir “as exceções de uma regra...” e também “as exceções da exceção...”. Desta forma, darei um enfoque especial a estes aspectos, chamando a atenção do aluno quando um ponto é mais exigido em um concurso e onde podem ocorrer as famosas “pegadinhas”. Em todas as aulas, após apresentar a parte teórica, com muitos exemplos práticos, sempre faço um quadro sinótico, que na verdade é o resumo da aula. É o que eu chamo de “esqueleto da matéria”. A experiência demonstra que esse “quadrinho” é de suma importância, pois se o aluno conseguir memorizá- lo, saberá situar a matéria e completá-la de uma forma lógica e sequencial. Portanto, após ler toda a aula, o aluno deve também ler (e reler) o resumo apresentado, mesmo que tenha entendido toda matéria. Sem dúvida alguma, esta é uma excelente maneira de fixação do conteúdo da aula. Além disso, ele é ótimo para rápidas revisões às vésperas de um exame. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 3 Ao final de cada aula também apresento alguns testes. Aliás, muitos testes. Todos eles já caíram em concursos anteriores. Este ponto merece um destaque especial em nosso curso. Trata-se de um diferencial. Até por experiência própria, entendo que os testes são imprescindíveis para um curso direcionado para concursos. Uma aula, por melhor que seja, só é completa se tiver testes, pois é por meio deles que o aluno vai pegando a “malícia” de uma prova. Inicialmente os testes têm a finalidade de revisar o que foi ministrado na aula e fixar, ainda mais, a matéria dada. Mas resolver questões já aplicadas em concursos anteriores é, indiscutivelmente, uma das melhores formas de se preparar para exames. Observem como os concursos costumam repetir questões que já caíram em outros exames ou fazer “variações sobre um mesmo tema”. Os testes apresentados neste nosso curso têm um grau de dificuldade acima da média e não fujo de questões polêmicas, desde que haja interesse para o nosso concurso. Por isso não fiquem preocupados se o seu índice de acerto ficou aquém do esperado... isso é muito natural... faz parte do aprendizado. Com o tempo, sem afobação, o aluno “vai pegando a malícia dos testes”. É importante o aluno fazer todos os exercícios, pois muitas vezes eles completam a aula. Por esse motivo o gabarito é totalmente comentado. Muitas dúvidas da aula podem ser sanadas somente por meio da leitura dos testes e de suas respectivas respostas, pois completam e aprofundam a matéria da aula. Passados alguns dias, refaçam os testes. Veja como seu índice melhorou... sem perceber você está “pegando o jeito da coisa”. Devo esclarecer que alguns testes foram adaptados, acompanhando as alterações legislativas que vem ocorrendo a todo o momento e também com inserção de mais alternativas em algumas questões. Por isso, nem sempre a fonte é citada, poiso exercício original ficou “desnaturado”. Finalmente, qualquer dúvida que porventura o aluno ainda tenha referente à aula deve ser encaminhada ao forum deste site, para que eu possa respondê-la da melhor forma possível. Assim, as perguntas dos alunos e as minhas respostas ficarão disponíveis para todos os matriculados no curso, enriquecendo ainda mais o nosso projeto. Por isso é importante que o aluno leia todas as perguntas e respostas que já foram elaboradas e encaminhadas, mesmo que por outros alunos, pois às vezes as suas dúvidas podem ser as mesmas que outro aluno já formulou. CRONOGRAMA Além da aula demonstrativa, teremos outras 09 (nove) aulas. Nosso programa é o seguinte: Aula 00 (fornecida hoje, logo após a esta apresentação) Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n° 4.657/1942, com suas alterações): arts. 1° a 19. Vigência e Aplicação das Leis no Tempo e no CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 4 Espaço. A) Aspecto Temporal: Início e Fim da obrigatoriedade da lei. Revogação: ab-rogação e derrogação. Princípio da Irretroatividade. Ato Jurídico Perfeito. Direito Adquirido. Coisa Julgada. B) Aspecto Territorial. Conflito das normas no tempo e no espaço. Interpretação. Hermenêutica. Lacuna e Integração das Normas: Analogia, Costumes e Princípios Gerais do Direito. Antinomia. Aula 01 (25 de agosto) Pessoa Natural – Conceito. Personalidade: Início, Individualização e Término. Direitos da Personalidade. Capacidade: Classificação. Emancipação. Pessoa Jurídica – Conceito. Início da Personificação. Registro. Classificação: Pessoa Jurídica de Direito Público e de Direito Privado. Término. Grupos não personificados. Abuso e Desconsideração da Personalidade Jurídica. Domicílio e Residência. Aula 02 (1º de setembro) Dos Bens. Das Diferentes Classes de Bens. Conceito. Espécies. Classificação Geral (considerados e si mesmos; reciprocamente considerados; considerados em relação ao titular da propriedade; considerados quanto à possibilidade de comercialização). Bens de família legal e bem de família convencional. Aula 03 (15 de setembro) Fatos e Atos Jurídicos. Negócio Jurídico. Conceito. Classificação. Modalidades. Elementos Constitutivos: Essenciais Gerais e Especiais (particulares). Elementos Acidentais (condição, termo, modo ou encargo). Da Validade do Negócio Jurídico: Forma e Prova. Defeitos do Negócio Jurídico. Invalidade. Teoria das Nulidades: Nulidade Absoluta e Relativa. Conversão do negócio nulo. Prescrição (disposições gerais, causas que impedem ou suspendem a prescrição, causas que interrompem a prescrição, prazos da prescrição) e Decadência. Aula 04 (29 de setembro) Atos Ilícitos. Responsabilidade Civil. Conceito, pressupostos, espécies e efeitos. Responsabilidade Contratual e Extracontratual. Responsabilidade Objetiva e Subjetiva. Aula 05 (06 de outubro) Direito das Obrigações. Teoria Geral. Conceito. Elementos Constitutivos. Classificação. Cláusula Penal. Adimplemento e Extinção das Obrigações. Pagamento. Direto e Indireto. Dação em Pagamento. Novação. Confusão. Compensação. Remissão das Dividas. Arras ou Sinal. Cláusula Penal. Extinção da obrigação sem pagamento. Execução forçada por intermédio do Poder Judiciário. Consequências da inexecução da obrigação por fato imputável ao devedor (mora, perda e danos e cláusula penal). Transmissão (cessão de crédito, cessão de débito e cessão do contrato). Declaração unilateral de vontade: promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa e títulos de crédito. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 5 Aula 06 (20 de outubro) Contratos. Disposições Gerais. Teoria Geral dos Contratos. Elementos. Princípios Fundamentais. Formação. Modalidades de contrato. Efeitos. Extinção da Relação Contratual. Aula 07 (03 de novembro) Direito das Coisas. Posse: Conceito. Classificação. Aquisição. Proteção. Efeitos. Perda. Propriedade: Aquisição. Perda da propriedade móvel. Direitos reais sobre coisa alheia: de fruição, de garantia e de aquisição. Aula 08 (17 de novembro) Direito de Família. 1) Direito Matrimonial. Casamento: classificação, habilitação, requisitos formais, impedimentos, forma e prova. Anulação e efeitos jurídicos. Regimes de Bens entre os Cônjuges. Separação e Divórcio. 2) Direito Convivencial. União Estável entre Homem e Mulher: caracterização, efeitos alimentícios e sucessórios, dissolução. 3) Direito Parental. Relação de parentesco. Filiação. Adoção. Poder Familiar. Alimentos. 4) Direito Assistencial. Guarda. Tutela. Curatela. Ausência. Aula 09 (1º de dezembro) Direito das Sucessões. Da Sucessão em Geral: Legítima e Testamentária. Disposições gerais, ordem de vocação hereditária, capacidade sucessória, direito de representação, transmissão da herança, herança jacente, aceitação e renúncia da herança. Capacidade para testar, parte disponível. Substituição. Formas de Testamento. Inexecução. Deserdação. Indignidade. Codicilo. Legados. Colação. Pagamentos das dívidas e garantias. Inventário, partilha, sonegados e sobrepartilha. Assim, com a exposição da matéria teórica acompanhada de exemplos práticos, quadros sinóticos, resumos, testes com gabarito comentado, possibilitando ainda ao aluno eliminar qualquer dúvida que reste através do nosso forum, acreditamos ser este trabalho uma importante ferramenta para o conhecimento e aprimoramento nos estudos. Finalizo, desejando a todos os votos de pleno êxito em seus objetivos, com muita tranquilidade e paz durante os estudos e na hora da realização das provas. Um forte abraço a todos. Lauro Ribeiro Escobar Jr. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 6 AULA DEMONSTRATIVA Meus amigos e alunos: antes de iniciar uma aula, costumo colocar em destaque, de forma minuciosa, os pontos que examinaremos, seguindo o que os editais exigem. Assim o aluno pode conferir se a aula dada realmente abrangeu os pontos que estão presentes em um edital de seu interesse. Itens que serão abordados nesta aula: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n° 4.657/1942, com todas as suas alterações): arts. 1° a 19. Vigência e Aplicação das Leis no Tempo e no Espaço. A) Aspecto Temporal: Início e Fim da obrigatoriedade da lei. Revogação: ab-rogação e derrogação. Princípio da Irretroatividade. Ato Jurídico Perfeito. Direito Adquirido. Coisa Julgada. B) Aspecto Territorial. Conflito das normas no tempo e no espaço. Interpretação. Hermenêutica. Lacuna e Integração das Normas: Analogia, Costumes e Princípios Gerais do Direito. Antinomia. Primeiro, vamos a uma curiosidade. O Decreto-Lei n° 4.657/42 tinha como “nome” (ou ementa) de Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. Pois bem... a Lei n° 12.376 de 31 de dezembro de 2010 alterou esse nome para Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Ou seja, nossos parlamentares elaboraram uma lei apenas para alterar o nome da lei. Nada, absolutamente nada, mudou em seu conteúdo. E a intenção foi somente deixar claro o que já dizíamos há muito tempo: a Lei de Introdução não tem aplicação somente ao Código Civil, mas sim a todo o Direito, como veremos. No entanto, por ora, apesar da alteração, ainda iremos nos referir a Lei de Introdução ao Código Civil, ou, simplesmente, LICC. Comecemos... LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL Em 2003 entrou em vigor o novo Código Civil (Lei nº 10.406/02). Ela foi publicada no dia 10 de janeiro de 2002, mas somente entrou em vigor no ano seguinte. Antes disso jávigorava uma lei conhecida como Lei de Introdução ao Código Civil (ou simplesmente LICC), que é o Decreto-lei nº 4.657, de 04 de setembro de 1942. O novo Código Civil não revogou a LICC, nem a incorporou em seu texto. Portanto, a LICC não é parte integrante do Código Civil; trata-se de uma lei anexa ao Código Civil, porém autônoma. Suas normas são aplicáveis não só ao Direito Civil, mas também a todo nosso ordenamento jurídico, conforme veremos adiante. Na realidade a Lei de Introdução ao Código Civil, é um conjunto de normas sobre normas, isto porque disciplina as próprias normas jurídicas, prescrevendo-lhes a maneira de aplicação e entendimento, predeterminando as CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 7 fontes e indicando-lhes as dimensões espaço-temporais. Ela não rege a vida das pessoas, mas sim as próprias normas jurídicas. Logo, ela ultrapassa o âmbito do Direito Civil, atingindo tanto o direito privado quanto o público. Contém normas de sobredireito (também chamadas de normas de apoio). Trata-se de um código de normas. A doutrina a considera como uma lei de introdução às leis por conter princípios gerais sobre as normas sem qualquer discriminação, indicando como aplicá-las. E ela continua em vigor, a despeito do novo Código Civil, em sua plenitude e de forma autônoma. Em síntese, a LICC trata dos seguintes assuntos: • Vigência das leis sob o aspecto temporal (ou seja, início e tempo de obrigatoriedade) e sob o aspecto espacial (ou seja, a territorialidade). • Garantia da eficácia da ordem jurídica (ou seja, não admite a ignorância de lei vigente). • Critérios de interpretação das normas (hermenêutica). • Fontes e integração das normas (ou seja, quando houver lacunas na lei). • Direito intertemporal. • Direito internacional (como a competência judiciária brasileira, prova de fatos ocorridos no estrangeiro, eficácia de tratados e convenções assinadas pelo Brasil, execução de sentença proferida no exterior, atos praticados pelas autoridades consulares brasileiras no exterior, etc.). Toda norma jurídica tem um âmbito de aplicação temporal, espacial, material e pessoal, dentro dos quais ela tem vigência e validade. Quanto à Vigência, vamos analisar as leis sob dois prismas: Temporal e Territorial. I. VIGÊNCIA DAS LEIS NO TEMPO As leis também possuem um ciclo vital: nascem, aplicam-se a determinadas situações, podem ser modificadas e “morrem”. Elas são regidas, inicialmente, por dois princípios fundamentais: A) Princípio da Obrigatoriedade das Leis – uma vez em vigor, a lei torna-se obrigatória para todos os seus destinatários. Publicada a lei, ninguém se escusa de cumpri-la alegando que não a conhece (art. 3o da Lei de Introdução do Código Civil). Tal dispositivo visa garantir a estabilidade e a eficácia do sistema jurídico que ficaria comprometido se fosse admitida a alegação de ignorância de lei em vigor. O erro de direito (que seria a alegação de desconhecimento da lei) só pode ser invocado em raríssimas ocasiões e quando não houver o objetivo de furtar-se o agente ao cumprimento da lei. Reforçando: para a LICC o desconhecimento da lei não pode ser alegado; já para o Código Civil pode haver tal alegação em situações especialíssimas (art. 139, III). B) Princípio da Continuidade das Leis – a partir de sua vigência, a lei tem eficácia contínua, até que outra a revogue (embora possam existir “leis CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 8 temporárias”, conforme veremos adiante – art. 2o da LICC). O desuso ou o decurso de tempo, não fazem com que a lei perca sua eficácia. INÍCIO DA OBRIGATORIEDADE DAS LEIS A criação de uma lei obedece a um procedimento próprio, definido nas normas constitucionais. Uma lei não entra em vigor de imediato. De uma forma geral, há um processo de criação da lei que passa por cinco etapas. Vejamos de forma resumida. A criação de uma lei obedece a um procedimento próprio, definido nas normas constitucionais (arts. 59 a 69, CF/88). Há todo um processo solene de elaboração da lei, chamado de processo legislativo, que passa por cinco etapas. Embora este não seja um tema específico do Direito Civil é conveniente fazer um resumo sobre o tema. Há várias espécies de leis, cada uma possui peculiaridades próprias. Vamos falar sobre o “processo padrão”, ou seja, o processo legislativo ordinário: A) INICIATIVA – é o ato que inicia todo o processo legislativo. Trata-se da faculdade conferida a alguém ou a algum órgão para apresentar um projeto de lei. A Constituição confere legitimação a várias pessoas e órgãos para a apresentação de projetos de lei ao Poder Legislativo. Na área federal, dependendo da matéria, cabe: 1. Iniciativa Parlamentar – a qualquer um dos membros ou comissões do Poder Legislativo; 2. Iniciativa Extraparlamentar – ao Presidente da República, Supremo Tribunal Federal, demais Tribunais Superiores, Procurador Geral da República e também aos cidadãos em geral (iniciativa popular), como previsto no artigo 61 da Constituição Federal. Nesta última hipótese o caso mais famoso foi o da autora de novelas Glória Peres, que perdeu uma filha assassinada e liderou uma campanha vitoriosa por todo Brasil para incluir o homicídio qualificado como crime hediondo. B) DISCUSSÃO E APROVAÇÃO – apresentado o projeto são realizados estudos, debates, redações, correções, emendas e votação do projeto. Este trabalho é chamado de deliberação parlamentar. No âmbito federal o projeto deve ser aprovado pelas duas Casas Legislativas (Iniciadora e Revisora). No caso de uma lei ordinária, que trata, em tese, de matérias mais simples, a aprovação se dá por maioria simples de cada Casa Legislativa. Já uma lei complementar possui um quorum qualificado (maioria a absoluta), isto para que se tenha certeza de que aquele assunto tratado realmente reflete o interesse da sociedade. Lembrando: na grande maioria das vezes a Casa Iniciadora é a Câmara dos Deputados. Isso ocorre quando o projeto for apresentado por um Deputado Federal, pelo Presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, pelos Tribunais Superiores, etc. A exceção ocorre quando o projeto é de autoria de um Senador ou comissão do Senado. Neste caso a Casa Iniciadora é o próprio Senado Federal. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 9 A Casa Iniciadora pode aprovar ou rejeitar o projeto. Se for rejeitado, será arquivado, não podendo ser apresentado outro sobre a matéria na mesma sessão legislativa, salvo se houver proposta da maioria dos Deputados ou dos Senadores. Aprovado na Casa Iniciadora (com ou sem emendas) o projeto segue para a Casa Revisora, para nova deliberação. Ela poderá: a) aprovar integralmente o projeto (segue-se, então, para a próxima etapa, que é a sanção ou veto); b) emendar o projeto (neste caso as emendas – somente as emendas – retornam para a Casa Iniciadora, podendo aprová-las ou rejeitá-las); ou c) simplesmente rejeitar o projeto (neste caso ele será arquivado). Lembrando: não há um poder ilimitado para apresentar emendas; elas devem ser relacionadas ao tema de que trata o texto. Sendo o projeto de iniciativa exclusiva do Presidente da República, não será admitida emendas que acarretem aumento da despesa prevista, salvo se se tratar de lei orçamentária (este “salvo”, como temos visto na prática, é uma festa...) C) SANÇÃO OU VETO – nesta fase o chefe do Poder Executivo participa do processo (deliberação executiva). 1. Com a sanção ele manifesta a sua concordância com o projeto aprovado pelo Poder Legislativo. Há uma conjugação das vontades dosPoderes Legislativo e Executivo, nascendo a lei. Costuma-se dizer que: a sanção transforma o projeto de lei em lei. A sanção incide em um projeto de lei e, ao incidir, nasce a lei. O projeto pode ser sancionado de forma expressa (quando o Executivo se manifesta por despacho, aprovando o projeto) ou tácita (quando o Executivo simplesmente se omite, deixando de apreciar o projeto no prazo de 15 dias úteis), conforme estabelece o art. 66, §3o, CF/88. 2. Com o veto, o chefe do Executivo manifesta sua recusa ou não- concordância com o projeto de lei. O veto é irretratável e deve ser sempre expresso e motivado. Não há o chamado “veto tácito”, pois o silêncio do Chefe do Executivo implica em sanção. O veto pode ser total, quando atinge todos os dispositivos do projeto ou parcial, quando atinge um ou alguns dos dispositivos do projeto. Como falei acima, o veto deve ser motivado. E são dois os motivos para se vetar: inconstitucionalidade e/ou inconveniência. Costuma-se dizer que o veto é jurídico (caráter formal) quando o projeto é considerado inconstitucional; ele contraria a Constituição. Por outro lado ele pode ser político (caráter material - mérito), ou seja, contrário ao interesse público; o Chefe do Executivo faz um juízo sobre a inconveniência de se aprovar determinada matéria. Assim, um projeto pode ser constitucional, e mesmo assim, ser vetado por não ser conveniente para o interesse público. O veto só pode ser supressivo, ou seja, o Chefe do Executivo nada pode acrescentar ao projeto; ele somente pode retirar. Não pode haver veto de palavras isoladas; isso para evitar alterações ou inversões de sentido (ex.: vetar a palavra “não”). O veto, ainda que parcial, deve abranger o texto integral do artigo, de parágrafos (§1°, §2° ...), de incisos (I, II, III...), ou alíneas (“a”, “b”, “c”...). Por outro lado o veto pode ser superado (ou derrubado). Isto é, ocorrido o veto, o Presidente da República comunica ao CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 10 Presidente do Senado os motivos do veto no prazo de 48 horas e o Congresso Nacional irá reapreciar a matéria, no prazo de 30 dias. A votação será feita pelo Congresso Nacional, de forma conjunta, mas os votos dos Deputados e Senadores serão computados separadamente. Ou seja, embora a sessão seja conjunta, para derrubar o veto é necessária a maioria absoluta dos Deputados e dos Senadores. Sendo o veto total e não for alcançada a maioria absoluta em cada Casa, encerra-se o processo legislativo (o projeto será arquivado). Se o veto for parcial e ele for mantido, o próprio Presidente do Congresso promulgará a lei (evidentemente que somente com as partes não vetadas), uma vez que o texto já estava com a concordância com o Chefe do Executivo. Se o veto for derrubado, o projeto volta ao Chefe do Executivo apenas para a promulgação. D) PROMULGAÇÃO – decorre da sanção e tem o significado de proclamação. Dá-se conjuntamente com a sanção, quando o Presidente da República assina o projeto de lei. Promulgar é declarar a existência de uma lei, inovando-se a ordem jurídica. Costuma-se dizer que “a lei nasce com a promulgação”. Quando está escrito no texto da lei ...faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei... implicitamente quer dizer que a lei também está sendo promulgada, no mesmo tempo e instrumento. A sanção transforma o projeto de lei em lei, por isso o que se promulga é a lei (e não o projeto). O Chefe do Executivo atesta perante a sociedade a existência válida de uma lei, ordenando-lhe o respectivo cumprimento. Lembrando que em uma Emenda Constitucional não há sanção ou veto, mas promulgação pelas mesas da Câmara e do Senado. Nos casos de sanção tácita (transcorreram 15 dias úteis sem manifestação do Executivo) ou derrubada de veto, o Chefe do Executivo terá 48 horas para promulgar a lei. Não o fazendo no prazo a atribuição cabe ao Presidente do Senado. E) PUBLICAÇÃO – é o ato por meio do qual se dá a divulgação da existência da nova lei em órgão oficial, tornando-se, portanto, conhecida de todos (trata-se de uma presunção). A finalidade da publicação é garantir (ao menos potencialmente) que uma lei seja conhecida por todos os que estarão sujeitos a seu comando; é uma condição de vigência e de eficácia da lei. É a fase que encerra o processo legislativo. A rigor as leis nascem pela promulgação, sendo que a seguir devem ser publicadas em órgão oficial (Diário Oficial). Mas a força obrigatória da lei está condicionada a sua vigência, ou seja, ao dia em que realmente ela começa a vigorar. ,Distinção , Vigência X Eficácia Vigência deriva da expressão latina vigentia (do verbo vigere, vigens – estar em voga, vigorar), que significa a qualidade de vigente, o tempo durante o qual uma coisa vige ou vigora. Designa a existência específica de uma norma, em determinada época; é o período de vida da norma, desde o início de sua obrigatoriedade até a sua revogação. Lei em vigor é a que se mantém em voga, para ser efetivamente aplicada aos casos sob o seu regime. Como veremos logo a CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 seguir, uma lei pode ter sido publicada e ainda não estar vigorando, pois a própria lei marcou um prazo para que ela entre em vigor. Eficácia é a qualidade que uma lei que está em vigor tem de produzir efeitos concretos, seja porque foram cumpridas as condições exigidas para isso (eficácia jurídica), seja porque os destinatários da norma a estão cumprindo (eficácia social). Quase todas as leis que entram em vigor, possuem, também eficácia. No entanto, há normas que foram editadas, mas ainda não foram regulamentadas. Neste caso a lei já está vigorando, mas não tem eficácia. REGRAS DA LICC 1) Salvo disposição em contrário, uma lei começa a vigorar, em todo o país, quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada (art. 1o, caput da LICC). Este dispositivo prevê um intervalo de tempo entre a publicação da lei e a data de início de sua vigência. Porém esse princípio não é absoluto porque quase todas as leis contêm em seu texto disposição prescrevendo sua entrada em vigor na data da respectiva publicação. O espaço compreendido entre a publicação da lei e sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis. Geralmente este prazo é estabelecido para melhor divulgação dos textos legais antes que eles entrem em vigor e para que os órgãos da administração se aparelhem melhor ao novo texto legal. Enquanto não transcorrido esse período, a lei nova, mesmo que já publicada, ainda não tem força obrigatória ou vinculante. A atual legislação adotou o sistema simultâneo. Portanto, a regra geral teórica no Brasil é a de que uma lei entra em vigor em todo o território nacional 45 dias após a publicação. Trata-se, portanto, de um prazo único para todo País, sendo simultânea a sua obrigatoriedade. Uma lei pode entrar em vigor na data de sua publicação ou em outra data mais à frente, desde que haja previsão expressa em seu próprio texto. Isto é assim devido à importância ou urgência de determinada lei e a maior ou menor dificuldade de adaptação da sociedade a esta nova lei. Somente quando não houver expressa disposição na própria lei acerca da data em que ela entrará em vigor (omissão proposital da lei), aí sim, ela entrará em vigor em 45 dias após a publicação. 2) Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada (art. 1o, §1o da LICC). Isto é, se uma lei for editada no Brasil, mas para surtir efeitos no estrangeiro (em geral quando cuida de atribuição de ministros, embaixadores, cônsules, convenções de direito internacional,etc.) e esta lei for omissa quanto à data que entrará em vigor (a data de sua vigência efetiva), esta lei somente entrará em vigor 03 (três) meses após a sua publicação. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 12 3) Uma lei pode ter sido publicada com algum erro substancial (implicando em uma divergência de aplicabilidade). O art. 1o, §3o da LICC determina que “se antes de entrar em vigor ocorrer nova publicação desta lei, destinada à correção de seu texto, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação”. Ex: Uma lei foi publicada em determinado dia e é omissa em relação ao dia que entrará em vigor. Assim, somente entrará em vigor 45 dias após a publicação. Vinte dias depois de publicada, alguém notou que houve um erro no texto da Lei. Desta forma ela deve ser republicada. E aquele prazo de 45 dias recomeça a contar; inicia-se novamente a contagem do prazo de vacatio a partir do dia da republicação da lei. Notem que continua sendo a mesma Lei. 4) Por outro lado, as correções de texto de lei que já está em vigor consideram-se lei nova (art. 1o, §4o, LICC). Sujeita-se, naturalmente, aos prazos normais das demais leis. Ex: Uma lei foi publicada, cumpriu o prazo de vacatio legis e entrou em vigor. Alguns dias depois, um erro foi notado. Neste caso, quando houver a “republicação”, esta será considerada como lei nova. No entanto, para haver esta republicação para correção, é necessário um novo processo legislativo, pois se trata de lei nova. Contagem O prazo de vacatio legis conta-se: incluindo-se o dia do começo (ou seja, o dia da publicação da Lei) e também do último dia do prazo (que é o dia do seu vencimento). Assim, a lei entrará em vigor no dia subsequente a sua consumação integral (ainda que se trate de domingo ou feriado). Tal regra está prevista no art. 8o, §1o da Lei Complementar no 95/98, com texto modificado pela L.C. no 107/01 e regulamentada pelo Decreto no 4.176/02, que dispõe sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição Federal. Observação Não há vacatio legis em caso de decretos e regulamentos, cuja obrigatoriedade é determinada pela sua publicação (salvo se eles dispuserem de forma diversa). Assim, na omissão de quando essas espécies normativas entrarão em vigor, isto ocorrerá na data da sua publicação. FIM DA OBRIGATORIEDADE DAS LEIS Não se destinando à vigência temporária, uma lei terá vigor até que outra a modifique ou a revogue. É o que dispõe o art. 2o, caput da LICC. A regra geral é de que uma lei não tem um prazo certo para vigorar; ela permanece em vigor enquanto não for modificada ou revogada por outra (eficácia contínua). No entanto, algumas leis são expedidas com prazo de duração. Nestes casos a lei possui vigência temporária. Ex: lei que concede favores fiscais CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 13 durante 10 anos às indústrias que se instalarem em determinada região; racionamento de combustível durante a guerra; Imposto/Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (IPMF, CPMF), Leis Orçamentárias, etc. Tais normas desaparecem do ordenamento jurídico com o decurso do prazo estabelecido ou quando ela já cumpriu os objetivos a que se propôs (ex: lei que se destina alojar, de forma temporária, em escolas públicas, pessoas desabrigadas por causa de uma inundação). Assim, lei temporária é a que nasce com termo prefixado de duração ou com um objetivo a ser cumprido. A Lei já nasce com um prazo para perder sua vigência. Contudo, não se fixando um prazo determinado, prolonga-se a obrigatoriedade da norma (princípio da continuidade) até que ela seja modificada ou revogada por outra. Revogar (do latim revocatio, revocare = anular, desfazer, desvigorar) é tornar sem efeito uma lei ou qualquer outra norma jurídica; é a supressão da força obrigatória da lei, retirando-lhe a eficácia. Podem ser revogadas as leis, os regulamentos, as portarias, as cláusulas contratuais, etc. O art. 2o, §1o da LICC dispõe que a lei posterior revoga a anterior em três situações: 1) quando expressamente assim o declare; 2) quando seja com ela incompatível; 3) quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Podemos classificar a revogação em: a) Total (ou ab-rogação) – quando a lei nova regula inteiramente a matéria da lei anterior, ou quando existe incompatibilidade (explícita ou implícita) entre as leis. A norma anterior perde sua eficácia na totalidade. b) Parcial (ou derrogação) – quando torna sem efeito apenas uma parte da lei ou norma, permanecendo em vigor todos os dispositivos que não foram modificados. A revogação ainda pode ser classificada quanto à forma de execução: a) Expressa (ou por via direta) – quando a lei nova taxativamente declara revogada a lei anterior ou aponta os dispositivos que pretende suprimir (art. 2o, §1º, primeira parte da LICC). Seria interessante que todas as leis dissessem exatamente o que estão revogando. Mas isso não ocorre na prática. O art. 9o da LC 98/95, com a redação da LC 107/01, determina que “a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”. b) Tácita (indireta ou via oblíqua) – quando a lei posterior é incompatível com a anterior e não há disposição expressa no texto novo indicando a lei que foi revogada. Diz o art. 2º, §1º, segunda parte da LICC, que ocorre a revogação tácita quando “seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria que tratava a lei anterior”. Geralmente o legislador utiliza, no final das leis, a seguinte expressão genérica: “revogam-se as disposições em contrário”. Observações CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 14 01) As espécies de revogação podem ser “combinadas”. Ou seja, a revogação expressa pode ser total (a nova lei diz que está revogando toda a lei anterior) ou parcial (a nova lei aponta apenas um ou dois artigos que está revogando da lei velha). E a revogação tácita também pode ser total ou parcial. 02) Irrevogabilidade – algumas matérias estipuladas na Constituição (art. 60, §4º) não podem ser objeto de revogação, nem mesmo mediante Emenda Constitucional. São as chamadas cláusulas pétreas: forma federativa do Estado; voto direto, secreto, universal e periódico; separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. 03) No mundo jurídico pode ocorrer a seguinte hipótese: uma Lei X está vigorando normalmente. Algum tempo depois é promulgada uma Emenda Constitucional (que ficará fazendo parte da própria Constituição – trata-se do Poder Constituinte Derivado ou Reformador). Com isto, aquela Lei X se tornou, digamos, “inconstitucional”. Quando isso ocorre dizemos que houve a “não- recepção da lei pela nova ordem constitucional” ou que a lei “perdeu o seu fundamento de validade”. 04) A perda de eficácia pode também decorrer da decretação de inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, cabendo ao Senado suspender-lhe a execução. Segundo a doutrina isso também não seria exatamente uma hipótese de revogação tácita. Nada impede, também, que uma pessoa se sentindo prejudicada por uma lei, e entendendo que ela esteja fora dos limites legais, ingresse no Poder Judiciário, arguindo a “inconstitucionalidade” desta lei. Termos Importantes 1) Atividade – é o fenômeno jurídico pelo qual a lei regula todas as situações durante o seu período de vida (vigência). É a regra em nosso Direito. 2) Extra-atividade – ocorre quando umalei regula situações fora do seu período de vigência. Trata da exceção em nosso Direito. A extra-atividade pode abranger situações passadas e/ou futuras. Portanto, possui duas espécies: a) Retroatividade – a lei regula situações que ocorreram antes do início de sua vigência. b) Ultra-atividade – a lei foi revogada, mas continua sendo aplicada. REPRISTINAÇÃO Repristinar significa restituir ao valor, caráter ou estado primitivo. Na ordem jurídica repristinação (ou efeito repristinatório) é o restabelecimento da eficácia de uma lei anteriormente revogada. Preceitua o art. 2o, §3o da Lei de Introdução ao Código Civil que a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo disposição em contrário. Ex: Se a lei “A” é revogada pela lei “B” e posteriormente a lei “B” é revogada pela lei “C”, não se restabelece a vigência da lei “A”. No Brasil não há repristinação ou restauração CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 15 automática da lei velha, se uma lei mais nova for revogada. É importante deixar bem claro que é possível que ocorra o fenômeno da repristinação. Mas isso somente é admissível quando a nova lei (no exemplo acima a lei “C”) determinar expressamente que a lei velha (lei “A”) retome a sua eficácia. Outra situação citada pela doutrina é a seguinte: foi editada a lei "A". Posteriormente foi editada a lei "B" que revogou a "A". Tempos depois, a lei "B" foi considerada inconstitucional. Neste caso retorna a vigência da lei "A". Leis Gerais e Especiais Outro item que vem caindo muito em concursos é a regra disposta no art. 2º, §2º da LICC: “a lei nova que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”. Explicando. Lei Geral é a que aborda todo um ramo específico do Direito (ex: Código Civil). Norma Especial é aquela que tem um conteúdo especializado dentro de certo ramo (ex: Lei do Inquilinato, do Condomínio, etc., em relação ao Código Civil). Como regra a norma geral não revoga a especial e a norma especial não revoga a geral. Quando a lei especial regula determinada matéria que também está prevista num Código, contendo outras disposições a mais que não se encontram no Código e que não contradizem o novo direito, ambas continuarão em vigor, coexistindo. No entanto a norma especial pode revogar a geral quando dispuser sobre esta revogação de forma explícita ou implícita, momento em que regula a mesma matéria que a geral, modificando o seu conteúdo. Vamos dar um exemplo prático. Uma lei geral está vigorando normalmente. Posteriormente uma lei especial é editada, dispondo sobre o mesmo assunto. Este fato, por si só, não faz com que a primeira lei seja revogada ou modificada. As duas leis podem coexistir normalmente. Somente se o texto de uma delas for totalmente incompatível com o da outra é que será hipótese de revogação. Exemplo: O Código Civil trata no art. 1.711 e seguintes, disposições sobre o bem de família de uma forma geral. No entanto a Lei nº 8.009/90 também trata deste tema. Qual lei deve ser aplicada? Se cotejarmos os textos de ambas as leis, veremos que eles não são antagônicos entre si. Uma lei completa a outra. Uma é especial em relação a outra, sendo que não há incompatibilidade entre seus dispositivos. A lei especial apenas introduziu uma exceção ao princípio geral. Portanto ambas coexistem e vigoram normalmente. E o intérprete deve associá- las, acomodá-las, aplicando-as em cada caso concreto. CONFLITO DAS NORMAS NO TEMPO Quando uma norma é modificada por outra e já se haviam formado relações jurídicas na vigência da lei anterior, podem surgir conflitos. Qual norma deve ser aplicada a um caso concreto? O chamado direito intertemporal visa solucionar estes conflitos entre as normas. Para tanto são usados dois critérios: as disposições transitórias e o princípio da irretroatividade das leis. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 16 A) DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS (ou direito intertemporal) – A lei, para evitar eventuais e futuros conflitos, em seu próprio corpo, geralmente ao final, pode estabelecer regras temporárias, destinadas a dirimir conflitos entre a nova lei e a antiga, conciliando a nova lei com as relações já definidas pela norma anterior. Observem que o próprio Código Civil em vigor contém um Livro Complementar, chamado “das disposições finais e transitórias” (arts. 2.028 até 2.043). Em seu corpo percebe-se que há uma série de regras, sendo que algumas delas autorizam a aplicação do Código anterior (mesmo já revogado, continua produzindo efeito - ultratividade). Observem o art. 2.038 do atual Código. Ele determina que um capítulo inteiro do Código anterior continue sendo aplicado em relação às enfiteuses (matéria que se analisa do Direito das Coisas). B) IRRETROATIVIDADE DAS LEIS – Etimologicamente retroatividade quer dizer atividade para trás, ou seja, produção de efeitos em situações passadas. Juridicamente, podemos dizer que uma norma retroage quando ela vigora, não somente a partir de sua publicação, mas, ainda, regula certas situações jurídicas que vêm do passado. Na realidade uma lei é expedida para disciplinar fatos futuros, a partir de sua vigência. A vigência de uma lei se estende, como já dissemos, desde o início de sua obrigatoriedade até o início da obrigatoriedade de outra lei. A regra no Brasil é a irretroatividade das leis, ou seja, estas não se aplicam às situações constituídas anteriormente. Trata-se de um princípio que visa dar estabilidade e segurança ao ordenamento jurídico preservando situações já consolidadas sob a lei antiga, em que o interesse particular deve prevalecer. No entanto, há casos em que a lei nova pode retroagir ao passado, alcançando consequências jurídicas de fatos efetuados sob a égide de lei anterior. Em regra, deve prevalecer o princípio da irretroatividade. Há um duplo fundamento: constitucional e infraconstitucional. O art. 5o, inciso XXXVI da Constituição Federal determina que “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. De uma forma análoga, o art. 6o da LICC prevê que: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”. Observem que a cláusula de irretroatividade da lei nova convive com outro preceito de direito intertemporal, que é o da eficácia imediata e geral da lei nova. Isto quer dizer que a lei nova atinge os fatos pendentes e os futuros que se realizarem já sob sua vigência, não abrangendo os fatos passados. Em latim dizemos: tempus regit actum (o tempo rege o ato). Ou seja, a lei que incide sobre um determinado ato é a do tempo em que este ato se realizou. Vejamos agora ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 1) Ato Jurídico Perfeito ⎯ é o que já se consumou, segundo a norma vigente no tempo em que se efetuou; na ocasião da prática do ato todas as formalidades exigidas pela lei foram rigorosamente obedecidas e em razão disso o ato não pode ser alterado pela existência de lei posterior. Ex: um contrato de CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 17 locação que foi celebrado e vem sendo cumprido durante a vigência de uma lei não pode ser renovado sob o argumento que uma nova lei mudou, digamos, a forma de pagamento e dos reajustes das prestações. A lei nova, neste caso não retroage para atingir os fatos pretéritos, reajustando prestações vencidas. No entanto, esse contrato (embora celebrado sob a vigência de a lei anterior) não está imune aos efeitosda nova lei, ainda que estas sejam incompatíveis com o sistema anterior. Concluindo: para os contratos celebrados sob a égide de lei revogada e que ainda estão produzindo efeitos (fatos pendentes), não há uma imunidade absoluta. 2) Direito Adquirido ⎯ é o que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu titular, podendo ser exercido a qualquer momento. Para ser considerado “direito adquirido” são necessários dois requisitos: a) existência de um fato; b) existência de uma norma que faça do fato originar-se direito. Enquanto não estiverem presentes estes elementos não há direito adquirido, mas “expectativa de direito”. Ex: pessoa que já se aposentou e a lei modifica posteriormente o prazo para a aposentadoria, ampliando-o; a pessoa não será obrigada a voltar a trabalhar para completar o novo prazo, pois quando se aposentou a regra era aquela. Há direito adquirido contra normas constitucionais? Resposta: O Supremo Tribunal Federal, antes da Constituição de 1988, chegou a se manifestar no sentido de que “não há direito adquirido contra texto constitucional, resulte ele do Poder Constituinte originário ou do Poder Constituinte derivado”. Neste sentido, dizia Pontes de Miranda que “contra a Constituição nada prospera, tudo fenece”, de modo que qualquer ato infraconstitucional que contrarie a Carta Magna deve ser tido como inválido. No entanto atualmente se entende que se uma Emenda Constitucional atingiu as chamadas cláusulas pétreas, há o entendimento de que o direito adquirido deve prevalecer. Desta forma, embora o poder constituinte derivado possa desconstituir direitos que tiverem sido adquiridos no passado, isto não significa que tais atos fiquem imunes ao controle, pois será sempre possível verificar se outros princípios constitucionais condicionantes do poder de reforma foram atingidos, dentre os quais os direitos fundamentais individuais, políticos, sociais e coletivos, no seu núcleo essencial. 3) Coisa Julgada ⎯ é a decisão judicial da qual não cabe mais recurso (transitou em julgado). Para alguns autores coisa julgada é a qualidade dos efeitos da decisão, no sentido de lhes traduzir imutabilidade. A decisão que estabelece o direito de um dos litigantes pressupõe uma verdade, que se torna irrevogável e irretratável. Assim, uma lei nova não pode alterar aquilo que já foi apreciado em definitivo pelo Poder Judiciário. É interessante acrescentar que mesmo após o trânsito em julgado de uma decisão, ela ainda pode ser modificada (ex: Revisão Criminal, Ação Rescisório). INTERPRETAÇÃO DAS LEIS CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 18 Na realidade as leis deveriam ser sempre claras e precisas. Nesta hipótese não seria necessário qualquer trabalho de interpretação. Mas é difícil encontrar uma “lei perfeita”. E quando surge uma ambiguidade no seu texto, ou má redação, imperfeição ou falta de técnica, deve então haver a intervenção do intérprete, para pesquisar o verdadeiro sentido que o legislador quis dar ou estatuir. Trata-se da mens legis (ou intenção da lei). Daí surge a hermenêutica, que é a teoria científica da arte de interpretar, descobrir o sentido da norma jurídica e fixar o seu alcance. Costumamos usar também o termo “exegese” para conceituar o esclarecimento, entendimento ou interpretação minuciosa de um texto legal, para a consequente aplicação do Direito. Ou seja, exegese é a aplicação prática das regras de hermenêutica. Existem vários métodos e critérios de interpretação das leis. Mas é importante deixar claro que todas essas espécies de interpretação não se operam de forma isolada; elas devem se completar, pois todas trazem alguma contribuição para a descoberta do sentido e alcance da norma de Direito. São elas: a) Quanto às Fontes ⎯ a interpretação pode ser autêntica (feita pelo próprio legislador), doutrinária (feita pelos estudiosos da matéria) ou jurisprudencial (feita por nossos Tribunais). b) Quantos aos Meios ⎯ a interpretação pode ser gramatical (observando as regras de linguística), lógica (ou racional – a lei é examinada no seu conjunto), ontológica (busca-se a essência da lei, sua razão de ser, a ratio legis ou razão da lei), histórica (pesquisam-se as circunstâncias que provocaram a expedição da lei), sistemática (compara a lei atual com os textos anteriores) ou sociológica ou teleológica (adapta o sentido ou a finalidade da norma às novas exigências sociais). Neste sentido o art. 5o, LICC: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Assim, deve o juiz buscar o real sentido da lei e não se ater ao texto frio e literal da lei, aplicando que for mais justo, o que atende melhor ao bem comum. c) Quanto aos Resultados ⎯ a interpretação pode ser declarativa (a letra da lei corresponde precisamente ao pensamento do legislador, não sendo necessária a interpretação), extensiva (o legislador disse menos do que pretendia dizer, sendo necessário ampliar a aplicação da lei) ou restritiva (o legislador disse mais do que pretendia, sendo necessário restringir a sua aplicação). INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA De uma forma geral a lei procura prever e disciplinar todas as situações importantes às relações individuais e sociais. Quando um fato se enquadra no conceito abstrato da norma, chamamos isso de subsunção. Mas, muitas vezes, o legislador não consegue prever todas as situações que uma norma pode criar. E um Juiz não pode deixar de julgar um caso alegando lacuna, obscuridade ou contradição da lei. O Juiz tem o dever de decidir todas as controvérsias que lhe CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 19 forem apresentadas. O art. 126 do CPC prevê que “o juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normais legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito”. Completando, o art. 4o da LICC prevê: “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. Desta forma, o Juiz deve inicialmente aplicar a lei de forma objetiva e direta. Não deu? Tenta-se interpretar a lei, usando os mecanismos mencionados mais acima! Esgotados os critérios interpretativos sem resultados, cumpre ao aplicador da lei suprir a lacuna encontrada, recorrendo, aí sim, aos meios de integração da norma jurídica, ou seja: à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito. Estes são os meios supletivos de preencher as lacunas da lei. Observem que há uma ordem preferencial, uma hierarquia na utilização desses métodos de integração da norma jurídica. A analogia figura em primeiro lugar. Vejamos: 1) ANALOGIA ⎯ consiste em aplicar, à hipótese não prevista de modo direto ou específico por uma norma, dispositivo relativo a um caso distinto, porém semelhante. Trata-se de um processo de raciocínio lógico pelo qual o Juiz estende uma norma (ou mesmo regras ou princípios) a outros casos não diretamente compreendidos na descrição legal, mas que é parecido. Vejamos: ⎯ Hipótese “A” → Aplica-se expressamente a Lei “X”. ⎯ Hipótese “B” (parecida com a hipótese “A”) → Não há lei (anomia); ou há lei, mas ela é omissa. Neste caso, permite-se a aplicação da regra jurídica “X”, por analogia. Ex: o Código Civil determina que quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador. Não há qualquer previsão em relação a isto quanto às doações. No entanto, entende-se que tal dispositivo pode ser aplicado, por analogia, também às doações. Istoporque tanto o testamento, quanto a doação são formas de liberalidades de patrimônio. São casos parecidos entre si, não havendo previsão expressa proibindo tal conduta. É na aplicação da analogia que se origina a missão conferida ao Juiz pelo art. 4o da LICC, impedindo-o de se eximir de uma decisão. O magistrado cria uma norma individual, que só vale para cada caso concreto, pondo fim ao conflito, sem dissolver definitivamente a lacuna. A analogia pode ser assim classificada: a) Analogia Legis – aplicação de outra norma já existente, como no exemplo fornecido acima, retirado do próprio Código Civil (a lei fala de uma regra aplicável ao testamento, mas é omissa em relação à doação; como são casos parecidos, a regra referente ao testamento pode ser aplicada, por analogia, também no que se refere às doações). CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 20 b) Analogia Juris – aplicação de um conjunto de normas para extrair elementos que possibilitem a sua aplicabilidade a um caso concreto não previsto, mas parecido com outro (trata-se de uma forma mais complexa). 2) COSTUMES ⎯ No direito antigo, o costume desfrutava de larga projeção, devido à escassa função legislativa e ao pequeno número de leis escritas. Ainda hoje, nos países de direito costumeiro (ou direito consuetudinário – common law), como na Inglaterra, ele exerce papel importante como fonte do direito. No direito moderno, de um modo geral, o costume foi perdendo paulatinamente sua importância. Costume é o uso reiterado, constante, notório e uniforme de uma conduta, na convicção de ser a mesma (a conduta) obrigatória. Em outras palavras: é uma prática que se estabelece por força do hábito, com convicção. São seus elementos: o uso continuado de uma prática (elemento objetivo) e a convicção de sua obrigatoriedade (elemento subjetivo). Um ótimo exemplo que podemos citar sobre os costumes são as filas. Elas não estão previstas na lei, mas a sua reiterada prática em nosso dia-a-dia, cria a convicção de sua obrigatoriedade. A diferença entre o costume e um simples hábito reside no fato de que neste último há a prática constante do ato, porém sem a crença de sua obrigatoriedade. Apesar de ter pouca aplicabilidade prática no Brasil, o costume tem caído em concursos com frequência, daí a sua importância para o nosso estudo. Em relação à lei, o costume pode ser classificado em três espécies: a) Costume segundo a Lei (secundum legem) ⎯ quando a própria lei se reporta expressamente aos costumes e reconhece a sua obrigatoriedade. Ex: prevê o art. 569, II, CC: “O locatário é obrigado: a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados e, em falta do ajuste, segundo o costume do lugar”. Observem que é a própria lei que determina a aplicação do costume. b) Costume na falta da Lei (praeter legem) ⎯ quando o costume se destina a suprir a omissão de uma lei, tendo caráter supletivo ou complementar. A lei deixa lacunas que podem ser preenchidas pelo costume, que irá ampliar o preceito da lei. Um Juiz não pode deixar de decidir uma causa com o argumento de que não há previsão legal. Ex: já faz parte dos costumes no Brasil, o uso do chamado “cheque pré-datado”, desnaturando esse título de crédito. Notem que o cheque é uma ordem de pagamento à vista, mas quando se coloca a expressão “bom para o dia tal”, estamos transformando este título em uma promessa de pagamento. c) Costume contra a Lei (contra legem) ⎯ quando ele contraria o que dispõe a lei. Pode ocorrer em dois casos: no desuso da lei (esta passa a ser letra morta); ou quando o costume cria nova regra contrária à lei. Os costumes segundo a lei e na falta da lei são aceitos normalmente. Já o costume contra a lei tem gerado discussões, sendo que a corrente majoritária não o aceita. Há uma hipótese em que o costume contra a lei foi aceito: o art. 227 do Código Civil determina que só se admite prova testemunhal em contratos cujo CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 21 valor não exceda dez vezes o maior salário mínimo vigente no país. Mas, segundo os usos e costumes de algumas cidades (ex: Barretos e Araçatuba) os negócios de gado, por maiores que sejam (geralmente envolvem cifras grandiosas), são celebrados verbalmente, na confiança, sem que haja um documento escrito. E eles foram considerados válidos, ainda que contra a lei. 3) PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO ⎯ Não sendo solucionada a lacuna com a analogia e os costumes, aplicam-se então os princípios gerais de direito. Na verdade eles nada mais são do que regras que se encontram na consciência dos povos, mesmo que não sejam escritas. Estão implícitos em nosso sistema jurídico, possuindo caráter genérico e orientando uma melhor compreensão desse sistema. Exemplos (preceitos do direito romano): deve-se viver honestamente (honeste vivere); dar a cada um o que é seu (suum cuique tribuere); não se deve lesar o próximo (alterum non leadere); ninguém pode se valer de sua própria torpeza, etc. Atenção: A equidade, pela LICC, não é um meio de suprir a lacuna da lei (o art. 4o não a menciona em seu texto). No entanto, na prática, ela pode auxiliar o Juiz nesta missão. Trata-se do uso de “bom senso”, isto é, a adaptação razoável da lei a um caso concreto. Já o art. 127 do Código de Processo Civil prevê a aplicação da equidade: “O juiz só decidirá por equidade nos caso previstos em lei”. ANTINOMIA – CONFLITO ENTRE NORMAS Antinomia é a presença de duas ou mais normas conflitantes, sem que a lei afirme qual delas deva ser aplicada a um caso concreto; há uma incompatibilidade entre o conteúdo das normas. Também é usada a expressão “lacunas de conflito”. Obriga o Juiz, para solucioná-la, a aplicar os critérios de preenchimento de lacunas. A antinomia pode ser: a) Real (ou lacuna de colisão) – quando não há na ordem jurídica qualquer critério normativo para solucionar o impasse. Aplicando-se uma norma, viola-se outra. E vice-versa. Somente se elimina este tipo de antinomia com a edição de uma nova norma elucidando e solucionando a questão. Na prática, o Juiz acaba por harmonizar os dispositivos ou simplesmente eliminar uma das normas de colisão, dependendo do caso concreto. b) Aparente – quando os critérios para a solução forem as normas integrantes do próprio ordenamento jurídico. Observem que nesta hipótese o conflito é apenas aparente, sendo aplicada apenas uma das normas. Para isso, existem alguns critérios para a solução e eliminação deste conflito. Vejamos. Critérios: • Hierárquico (lex superior derogat legi inferiori) – é o primeiro a ser aplicado, baseado na superioridade de uma fonte de produção jurídica sobre CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 outra. Ex: A Constituição Federal se sobrepõe a todas as demais espécies normativas; uma Lei Complementar, dentro da esfera de sua competência, se sobrepõe a uma Lei Ordinária; esta se sobrepõe a decretos e regulamentos, etc. • Especialidade (lex specialis derogat legi generali) – o segundo critério leva em consideração a amplitude das normas. Ou seja, se o legislador tratou um determinado assunto com mais cuidado e rigor, ele deve prevalecer sobre o outro que foi tratado de forma geral. • Cronológico (lex posterior derogat legi priori) – é baseado no momento em que a norma jurídica entra em vigor, restringindo-se somente ao conflito de normas pertencentes ao mesmo escalão. Ex: leis ordinárias mais recentes revogam as mais antigas. A antinomia ainda se classifica em: a) Primeiro grau – o conflito envolve apenas um dos critérios acima mencionados;ou seja, para a solução aplica-se apenas um dos critérios. Situações: no conflito entre uma norma anterior e outra posterior, aplica-se esta última (cronológico); no conflito entre uma norma geral e outra especial, também se aplica esta última (especialidade). b) Segundo grau – o conflito envolve mais de um daqueles critérios. Ressalte-se que o critério hierárquico sempre prevalecerá sobre os demais. Situações: - concorrendo os critérios hierárquico e cronológico, prevalece o hierárquico; - concorrendo o critério hierárquico e o de especialidade, prevalece o hierárquico. - concorrendo os critérios de especialidade e cronológico, prevalece o da especialidade; No entanto, segundo a melhor doutrina, não há uma regra geral e única para a solução dos conflitos, sendo o melhor caminho a adoção do “princípio máximo da justiça”, analisando cada caso concreto. O Juiz deve aplicar uma das duas normas, tentando solucionar o conflito com os critérios acima e de acordo com a sua livre convicção, desde que devidamente motivada. II. VIGÊNCIA DAS LEIS NO ESPAÇO O Estado politicamente organizado tem soberania sobre o seu território e sobre seus habitantes. Decorre disso que toda lei, em princípio, tem seu campo de aplicação limitado no espaço pelas fronteiras do Estado que a promulgou. Chamamos isso de Territorialidade da Lei. Esse espaço ou território, em sentido amplo, inclui as terras (ou o território propriamente dito), o subsolo, as águas e a atmosfera territoriais. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 23 Os Estados modernos, contudo, admitem a aplicação, em determinadas circunstâncias, de leis estrangeiras, em seu território, no intuito de facilitar as relações internacionais. Nem por isso se vulnera o princípio da soberania nacional. É essa uma consequência do crescente relacionamento entre homens da comunidade internacional. Esses problemas geralmente são tratados por outra matéria: o Direito Internacional, que irá fornecer soluções para os conflitos da lei no espaço. O Brasil adotou a Teoria da Territorialidade, mas de forma moderada, também chamada de Territorialidade Temperada (ou Mitigada). Leis e Sentenças estrangeiras podem ser aplicadas no Brasil, observadas as seguintes regras: • Não se aplicam leis, sentenças ou atos estrangeiros no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. • Não se cumprirá sentença estrangeira no Brasil sem o devido exequatur (ou seja, o “cumpra-se”), que é a permissão dada pelo Superior Tribunal de Justiça (artigo 105, inciso I, letra “i” da CF/88) para que esta sentença produza seus efeitos. Território é a extensão geográfica ocupada por uma nação e sobre a qual o Estado exerce sua soberania, circunscrita por suas fronteiras. Fala-se em território real e ficto. O território real (ou terrestre) compreende: todo o solo e o subsolo ocupado pela nação, inclusive de ilhas que lhe pertencem, os rios, os lagos e os mares interiores, os golfos, as baías e os portos, a faixa de mar exterior que banha as suas costas, o espaço aéreo correspondente, etc. Já o ficto (há uma ficção jurídica) se reputa território o que material e geograficamente não o é; trata-se de um prolongamento da nação. A doutrina costuma citar como exemplo os edifícios ocupados oficialmente por agentes diplomáticos, ou seja, as embaixadas. Assim, estas, embora situadas em países estrangeiros, são consideradas (fictamente) como território nacional. Outros exemplos: navios de guerra e aeronaves militares, onde quer que se encontrem, etc. Meus Amigos. Até agora vimos, sobre a Lei de Introdução ao Código Civil apenas os seis primeiros artigos. No entanto ela possui outros dispositivos (7° a 19). Estes não se encaixam bem dentro do Direito Civil. Na realidade são regras de Direito Internacional (Público e Privado). Tanto é assim que a LICC, neste aspecto, também é conhecida como Estatuto do Direito Internacional. No entanto, como nosso edital menciona “Lei de Introdução ao Código Civil” e este ponto está inserido nesta lei, devemos fornecer esta matéria também. Na realidade quando cai alguma questão deste ponto, cosuma ser a “lei seca”, ou seja, o próprio texto da lei. Portanto, é interessante que o aluno, antes de tudo, leia os artigos da lei. A seguir, faremos uma análise destes dispositivos. Vejamos. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 24 O art. 7o da LICC adotou a “Regra do Domicílio”, ou seja, se uma pessoa está domiciliada no Brasil é a nossa lei que deve ser aplicada quanto às questões referentes à personalidade (início, capacidade, nome, fim, etc.), inclusive no tocante aos impedimentos matrimoniais (mesmo que ambos os cônjuges sejam estrangeiros) e ao direito de família de uma forma geral. Exemplo: vamos imaginar que duas pessoas com 13 anos se casaram em um País que permite tal casamento e a seguir o casal veio morar no Brasil. Este casamento não poderia ter sido realizado aqui, nas condições que o foram no estrangeiro. Mas o Brasil considera estas pessoas como casadas. No entanto, se o marido quiser contrair novas núpcias após ter completado 18 anos não poderá fazê-lo, pois nossa legislação não admite a bigamia. Por outro lado, se um estrangeiro casado se naturalizar brasileiro poderá adotar o regime da comunhão parcial de bens. Quanto aos bens e as relações a eles concernentes, a LICC prevê que deve ser aplicada a norma do local em que estes se situam. Da mesma forma, deve ser aplicada a lei do local onde as obrigações foram constituídas. Ou seja, para aplicar a lei brasileira basta que a celebração do contrato tenha ocorrido em nosso território. Se um contrato foi celebrado no estrangeiro, mas para produzir efeitos no Brasil, devem-se respeitar os requisitos exigidos por nossa lei. Ex.: foi celebrada no estrangeiro a venda de uma casa situada no Brasil. Para que o contrato tenha eficácia é indispensável que o registro tenha sido feito aqui. Além disso, sendo o vendedor casado pela comunhão de bens, é necessária a respectiva outorga conjugal, sob pena de anulação. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que era domiciliado o de cujus (falecido) ou o ausente. Se os bens estiverem situados no Brasil, mas eles pertencem a estrangeiros, as regras sucessórias são as brasileiras, exceto se a lei estrangeira for mais favorável ao cônjuge ou aos filhos brasileiros (CF, art. 5o, XXXI). A lei do domicílio do herdeiro regula a capacidade para receber. A competência para apreciação de uma ação em que é parte um réu domiciliado no Brasil, ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação, é a brasileira. E também somente compete à autoridade judiciária brasileira (competência absoluta) o conhecimento de ações relativas a imóveis situados no Brasil. A lei a ser aplicada quando da prática de um ato ilícito e o dever de indenizar quem tenha sido atingido por ele, deve ser a do local onde se tenha produzido as consequências deste ato ilícito (lex damni). Quando aqui tiver que ser apreciado um fato que ocorreu no exterior, a prova é regida pela lei estrangeira. No entanto não são admitidas provas que a lei brasileira desconheça. Quando uma pessoa alegar Direito estrangeiro, ela deverá provar o seu conteúdo e sua vigência, se assim determinar o Juiz. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 25 Finalmente devemos acrescentar que o art. 5°, §3° da CF/88 dispõe que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintosdos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. E, complementando, o §4° prevê que o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional, a cuja criação tenha manifestado adesão. Vejamos agora um teste sobre este tema. (Edursan – Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Saneamento Ambiental – Advogado Cível – 2009 – Fundação Universo) De acordo com a Lei de Introdução ao Código Civil: a) na omissão da lei o juiz decidirá o caso concreto de acordo com a analogia, a equidade e os princípios gerais do direito. b) o divórcio de brasileiros realizados no exterior, em regra, somente é válido no Brasil, após um ano da data da sentença que o dissolveu. c) os direitos de família são regulados pelo País do nascimento da pessoa. d) a edição de uma nova lei de caráter especial revoga a lei anterior. e) nenhuma das hipóteses acima. Alternativa correta: letra “b”. O art. 7o, §6o da LICC, com a redação da Lei no 12.036/09, determina que “o divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 01 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país”. A letra “a” está errada, pois pela LICC a equidade não é forma de integração da norma jurídica. Além disso, no rol fornecido na questão faltam os costumes (art. 4º, LICC). O art. 7o, caput, determina que a lei do País em que for domiciliada a pessoa (e não onde ela nasceu, como na alternativa) determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. A letra “d” está errada nos termos do art. 2o, §2o da LICC. OBS. Esse teste caiu em uma prova em 2009. Há quem entenda que a EC n° 66/10 simplesmente revogou o prazo para concessão do divórcio. Por isso a referência a este prazo na Lei de Introdução deve ser suprimida. Meus amigos e alunos: com isso, encerramos a parte teórica da aula. No entanto, após apresentar a teoria, sempre faço um quadro sinótico, que é o resumo da matéria dada em aula. Trata-se do “esqueleto da matéria”. Tem a função de ajudar o aluno a melhor assimilar os conceitos dados em aula. A experiência nos mostra que este quadro é de suma importância, pois se o aluno conseguir memorizá-lo, poderá situar a matéria e completá-la de uma forma lógica e sequencial. Portanto após ler toda a aula teórica, o resumo também CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 26 deve ser também lido e relido, mesmo que o aluno tenha entendido a matéria dada e ache desnecessário. Isto porque lendo o “resuminho” o aluno certamente fixará melhor o conteúdo da aula. Além disso, ele é excelente para consultas e rápidas revisões às vésperas das provas. RESUMO DA AULA I. LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL Conjunto de normas sobre normas; considerado como um “Código de Normas”, ultrapassando o âmbito do Direito Civil, atingindo tanto matéria de ordem privada, quanto pública. • Regula a vigência e eficácia das normas jurídicas públicas e privadas. • Apresenta soluções aos conflitos de normas no tempo e no espaço. • Fornece critérios de interpretação (hermenêutica). • Quando houver lacunas, estabelece mecanismos de integração das normas. • Contém também normas de Direito Internacional. II. DIVISÃO DO DIREITO CIVIL A) Parte Geral → Normas concernentes às Pessoas (Físicas e Jurídicas), aos Bens e aos Fatos Jurídicos, incluindo os Atos Ilícitos. B) Parte Especial → Direito das Obrigações, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família, Direito das Sucessões e Disposições Finais e Transitórias. III. FONTES DO DIREITO CIVIL A) INDIRETAS OU MEDIATAS 1) Doutrina – interpretação da lei feita pelos estudiosos da matéria (direito científico). 2) Jurisprudência – conjunto uniforme e constante das decisões judiciais sobre casos semelhantes. B) DIRETAS OU IMEDITAS 1) Lei – norma imposta pelo Estado e tornada obrigatória na sua observância. “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5o, II, CF/88 – Princípio da Legalidade). Características: generalidade, imperatividade, autorizamento, permanência e competência. Classificação Doutrinária. 2) Costume – reiteração constante de uma conduta (elemento objetivo), na convicção de ser a mesma obrigatória (elemento subjetivo). Espécies: a) Segundo a lei → a própria lei determina a sua aplicação (admissível). b) Na falta da lei → quando a lei deixa omissões que podem ser preenchidas por ele (admissível). CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 27 c) Contra a lei → quando ele contraria o que dispõe a lei (inadmissível, segundo a teoria majoritária). IV. VIGÊNCIA DAS LEIS A) Processo Legislativo: Iniciativa, Discussão e Aprovação, Sanção (transforma o projeto de lei em lei) ou Veto, Promulgação (declara a existência da lei, inovando-se a ordem jurídica) e Publicação (divulgação da existência da nova lei em órgão oficial, tornando-se conhecida de todos). B) Vigência Temporal 1) Princípios a) Obrigatoriedade das leis (art. 3o da LICC) b) Continuidade das leis (art. 2o da LICC) 2) Início da Vigência a) Regra Geral (teoria) ⎯ 45 dias após a publicação (art. 1o, caput da LICC) → vacatio legis. b) Prática ⎯ na data da publicação ou em outra data que a própria lei determinar. c) Estados Estrangeiros – 03 (três) meses após a publicação (art. 1o, §1o da LICC). d) Alteração da lei durante o prazo de vacatio legis – prazo recomeça a contar da republicação (art. 1o, §3o da LICC). e) Alteração da lei após o prazo de vacatio – lei nova (art. 1o, §4o da LICC). f) Contagem – inclui-se o dia do começo e também o último dia do prazo, entrando a lei em vigor no dia subsequente à sua consumação integral (art. 8o, §1o, LC n° 95/98, alterado pela LC n° 107/01). 3) Término da Vigência a) Lei Temporária (art. 2o, caput da LICC). b) Revogação (art. 2o, §1o da LICC): Expressa → lei nova declara de forma taxativa a revogação da lei anterior. Tácita → texto da lei posterior (mais nova) é incompatível com o da anterior. Ab-rogação → revogação total. Derrogação → revogação parcial. Obs.: não é caso de revogação (doutrina): a) edição de nova Constituição → não-recepção da lei pela nova ordem constitucional; b) declaração de inconstitucionalidade pelo STF, com suspensão de execução pelo Senado Federal → perda de eficácia. CURSO DE DIREITO CIVIL PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: LAURO ESCOBAR Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 28 4) Repristinação – lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, salvo disposição em contrário – art. 2o, §3o da LICC. 5) Lei Especial que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica lei anterior (art. 2o, §2o da LICC). 6) Conflito das Normas no Tempo – Direito Intertemporal – Para a solução dos conflitos são usados dois critérios: a) Disposições Transitórias – quando a própria lei prevê em seu corpo regras temporárias para dirimir eventuais conflitos. b) Irretroatividade – as normas, como regra, não produzem efeitos em situações passadas. É a regra em nosso Direito. No entanto admite-se a retroatividade, desde que se respeite (art. 5o, inciso XXXVI, CF/88 e 6o, LICC): - Direito Adquirido – o que já se integrou ao patrimônio e à personalidade de seu titular. - Ato Jurídico Perfeito
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