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[PRESENCIAL] 665R - COMUNICACAO E EXPRESSAO

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Caro aluno 
     Na disciplina de Comunicação & Expressão  - CE -, você terá a oportunidade de ampliar seu universo cultural e expressivo, trabalhando e analisando textos orais e escritos sobre os mais variados assuntos, bem como de produzir textos diversos na linguagem oral e escrita. 
 
Esperamos que com empenho e dedicação você seja capaz de, ao término do curso:
a)     ampliar os conhecimentos e vivências de comunicação e de novas leituras do mundo, por meio da relação texto/contexto;
b)     propiciar a compreensão e valorização das linguagens utilizadas nas sociedades atuais e de seu papel na produção de conhecimento;
c)      vivenciar processos específicos da linguagem e produção textual: ouvir e falar; ler e escrever – como veículos de integração social;
d)     desenvolver recursos para utilizar a língua, por meio de textos orais e escritos,  não apenas como veículo de comunicação, mas como ação e interação social.
 
Nosso conteúdo abordará os seguintes itens:
 
Primeiro bimestre:
 
1)     Texto e contexto: conhecimento linguístico, conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo e conhecimento interacional.
2)     Texto e contexto, contextualização na escrita.
3)     Intertextualidade.
4)     As informações implícitas (pressuposto e subentendido).
5)     As condições de produção do texto: sujeito (autor/leitor), o contexto (imediato/histórico) e o sentido (interação/interpretação).
6)     Alteração no sentido das palavras: a metáfora e a metonímia;
 
Segundo bimestre:
 
7)     Os procedimentos argumentativos em um texto
8)     O artigo de opinião e o texto crítico (resenha), enquanto gêneros discursivos.
 
Para enriquecer seus estudos, sugerimos a seguinte bibliografia básica:
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. (2008). Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática.
 
_____. (2006). Lições de texto: leitura e redação. 5. ed. São Paulo: Ática. 
KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. (2006). Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.
 
Língua
Esta língua é como um elástico 
Que espicharam pelo mundo.
No início era tensa, 
De tão clássica. 
Com o tempo, se foi amaciando, 
Foi-se tornando romântica, 
Incorporando os termos nativos 
E amolecendo nas folhas de bananeira 
As expressões mais sisudas.
Um elástico que já não se pode 
Mais trocar, de tão gasto; 
Nem se arrebenta mais, de tão forte.
Um elástico assim como é a vida 
Que nunca volta ao ponto de partida.
(Gilberto Mendonça Teles)
1. Concepções de língua e linguagem 
 
A linguagem, em suas diversas manifestações, é fundamental para todo e qualquer ser. No início da humanidade, o homem necessitava expressar sensações e estabelecer as mais variadas relações. Uma dessas formas de expressão acontecia, assim como ainda acontece, por meio da linguagem. 
www.institutoaqualung.com.br/info_fogo55.html 
(acesso em 30/07/2007) 
Mas a linguagem não é única, alheia à realidade e ao mundo. Ela é influenciada pelos meios social e cultural e esses, por sua vez, também são influenciados por ela. Isso porque o homem é o principal agente que participa desse processo, criando recursos que auxiliam ou aperfeiçoam a produção da linguagem, com o objetivo de melhorar a comunicação, cujo maior recurso é a palavra. 
 
	
http://fotos.sapo.pt/vad/pic/0003k9z9/s340x255 
(acesso em 30/07/2007)
		De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, “não há linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a comunicação com um outro, dentro de um espaço social”.
 
O termo linguagem deve ser entendido como a faculdade mental que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilita nossos modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os semelhantes. É a capacidade específica à espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos (ou língua). 
Para Saussure, o pai da Linguística, a linguagem é composta de duas partes: a Língua, essencialmente social porque é convencionada por determinada comunidade linguística; e a Fala, que é individual, ou seja, é veículo de transmissão da Língua, usada pelos falantes por meio da fonação e da articulação vocal. Saussure, no Curso de Linguística Geral, define e diferencia a língua da fala afirmando que: 
 
	a língua é o produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social, para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe.
Em resumo, podemos dizer que: 
 
	Linguagem: é uma faculdade mental que possibilita a interação entre os seres humanos.
Língua: é um tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si. 
Fala: é a atividade linguística concreta. Inclui todas as variações que o falante pode acrescentar às inúmeras estruturações linguísticas já formuladas e aceitas socialmente. Representa sempre um ato individual.
Os usuários de uma língua exercitam sua capacidade de organizar e transmitir ideias, informações, opiniões em situações de interação comunicativa, utilizando o texto. Tradicionalmente, entende-se por texto um conjunto de enunciados inter-relacionados formando um todo significativo, que depende da coerência conceitual, da coesão sequencial entre seus constituintes e da adequação às circunstâncias e condições de uso da língua. 
O conceito de texto, sob o ponto de vista das modernas teorias linguísticas, pode ser entendido de maneira mais abrangente. Ao ampliar essa noção, duas esferas devem ser consideradas: a primeira mantém-se numa perspectiva ainda estritamente linguística; a segunda se estende para outras linguagens além da verbal. Daí podermos falar de texto verbal, texto visual, texto verbal e visual, texto musical, texto cinematográfico, texto pictórico, entre outros. 
Assim, podemos dizer que o ser humano dispõe de diferentes linguagens para se comunicar e interagir com o mundo e com as pessoas. No entanto, parece que a palavra tem sido o meio preferido para objetivar seu pensamento, interagir com o outro e se fazer compreender. É por essa razão que, na próxima aula, focalizaremos o texto escrito e o texto oral.
 
5. As condições de produção do texto
Neste conteúdo, você estudará sobre as condições de produção de um texto. Nenhum texto é produzido no vazio. Leia o exemplo a seguir para entender as várias interferências que devemos observar quando lemos ou escrevemos algo, pois elas nos orientam tanto na tarefa de ler, quanto na de escrever. Cada texto, ao ser escrito, deve atender a essas  condições para que seus objetivos sejam alcançados.
As condições de produção do texto
Você já parou para pensar que em cada situação da vida cotidiana produzimos, quase que intuitivamente, textos diferentes para atender a diferentes finalidades? 
Veja:
 
Podemos, por exemplo, escrever uma carta a um jornal se quisermos expressar nossa indignação ou admiração em relação a uma matéria que tenhamos lido. Para divulgar um serviço que prestamos, podemos escrever um anúncio para uma revista, um folheto de propaganda para ser distribuído em diversos lugares. Se desejarmos uma vaga de emprego, devemos escrever um currículo para informar nossa experiência profissional e nossa formação. Se fizermos uma pesquisa e quisermos divulgar os resultados dela, por exemplo, podemos escrever um artigo acadêmico-científico para uma revista especializada. Quando queremos saber notícias de uma pessoa querida que está distante, podemos escrever uma carta ou um e-mail.
Isso significa que em várias circunstâncias da vida escrevemos textos para diferentes interlocutores, com distintasfinalidades, organizados nos mais diversos gêneros, para circularem em espaços sociais vários.
Por isso, a cada circunstância correspondem:
a) finalidades diferentes: manifestar nossa forma de pensar a respeito de determinada matéria lida; divulgar determinados serviços buscando seduzir possíveis clientes; convencer a respeito de determinadas interpretações de dados; obter notícias sobre um ente querido; informar sobre sua qualificação profissional;
b) interlocutores diversos: leitores de um determinado veículo da mídia impressa (jornal, revista); transeuntes de determinados locais (vias de circulação, rodoviária etc.); colegas de trabalho, leitores de determinada revista acadêmico-científica ou de determinado tipo de livro; um parente próximo ou um amigo; um possível contratante;
c) lugares de circulação determinados: mídia impressa; academia; família ou círculo de amizades; determinada empresa (esfera profissional); vias públicas de grande circulação de veículos e pessoas;
d) gêneros discursivos específicos: carta de leitores; anúncio; folheto de propaganda; outdoor; artigo acadêmico-científico; carta pessoal; currículo.
 
Quer dizer: escrever um texto é uma atividade que nunca é a mesma nas diferentes circunstâncias em que ocorre, porque cada escrita se caracteriza por diferentes condições que determinam a produção dos discursos. Essas condições referem-se aos elementos apresentados acima. Mas não apenas a eles. Um aspecto a ser considerado ainda é o lugar social do qual se escreve.
 
Todos nós desempenhamos diferentes papéis na vida: o pai/mãe, de filho/filha, de irmão/irmã, de associado de determinado clube, de consumidor de determinado produto, de cidadão brasileiro, o relativo à profissão que exercemos (professores, médicos, dentistas, vereadores, escritores, revisores, feirantes, digitadores, diretores de escola, atores etc), entre outros. Cada um desses papéis estabelece entre nós e aqueles com quem nos relacionamos determinados vínculos, que implicam responsabilidades assumidas, pontos de vista a partir dos quais os acontecimentos são analisados, recomendações são feitas, atitudes são tomadas.
 
 Ainda que esses papéis se articulem todo o tempo, uma vez que são todos constitutivos do sujeito e que, dessa forma, influenciam-se mutuamente, quando assumimos a palavra para dizer alguma coisa a alguém, um desses papéis predomina, em função das demais características do contexto de produção (sobretudo do lugar de circulação do discurso e do interlocutor presumido).
 
Ser um escritor/leitor proficiente, portanto, significa saber lidar com todas as características do contexto de produção dos textos, de maneira a orientar a produção do seu discurso pelos parâmetros por elas estabelecido. Contexto é a situação histórico-social de um texto, envolvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que sejam produzidos em volta e que com ele se relacionem. Pode-se dizer que o contexto é a moldura de um texto. O contexto envolve elementos tanto da realidade do autor quanto do leitor — e a análise desses elementos ajuda a produzir sentidos possíveis. Isso significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente, vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m).
Para encerrar esta aula, reflita sobre o que Graciliano Ramos fala sobre o ato de escrever:
 
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
 
Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948
6. As condições de produção do texto
Neste conteúdo, você estudará um pouco sobre a leitura. Para tanto, leia o texto que se segue e realize os exercícios propostos. Você descobrirá que LER vai muito além do processo de 'decodificação'. Há estratégias e procedimentos que propiciam uma leitura proficiente.
Você pode também consultar a bibliografia recomendada:
FIORIN, José Luiz & PLATÃO, Francisco. (2006). Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática  (Lição 9).
 
KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. (2006). Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.
    
    A leitura tem sido chamada de atividade cognitiva por excelência pelo fato de envolver todos os nossos processos mentais. A compreensão de um texto (seja ele escrito ou falado) exige o envolvimento da atenção, da percepção, da memória e do pensamento. Esses processos mentais realizam, durante a leitura, operações necessárias para a compreensão da linguagem, tais como o raciocínio dedutivo (próprio da inferência, da leitura das entrelinhas) e o raciocínio indutivo (necessário para a predição baseada no conhecimento de mundo, de outros textos, do autor, das condições sociais em que se vive).
    O texto escrito é um objeto diferente do texto falado, e, em vez de o aluno olhar as partes relevantes desse objeto, a fim de perceber suas funções, ele foi acostumado a olhar os seus aspectos superficiais. Sendo assim, dizemos que o aluno não lê ou não gosta de ler, pois não compreende o texto, apenas o decifra, e o compreende parcialmente, sem costurar os fragmentos. A leitura se torna mais difícil quanto menos se lê, portanto cabe a todos os professores, e não só ao de Língua Portuguesa, a responsabilidade do ensino da leitura. Mostrar ao aluno que a leitura não é um campo minado, mas uma mina de ouro.
O PROCESSO DE LEITURA: algumas estratégias
 
    Uma abordagem de leitura deve levar o aluno ao prazer da descoberta, a fim de ter efeito nos seguintes aspectos: 1) percepção de elementos linguísticos significativos, com funções importantes no texto; 2) ativação do conhecimento anterior; 3) elaboração e verificação de hipóteses que permitam ao leitor perceber outros elementos, mais complexos. Todas essas etapas envolvem a adivinhação e a descoberta do sentido que o escritor tentou deixar no seu texto, elemento importante para o leitor chegar à construção do seu sentido do texto.
    Vale lembrar que o leitor proficiente é capaz de utilizar os três itens acima e que esse conhecimento é socialmente adquirido, portanto quem nunca participou da prática social da leitura de notícias e reportagens em revistas semanais de informação, não partilhará desse conhecimento. Ou seja, um aluno que não dispõe de revistas e jornais na sua casa, e cuja única experiência com a leitura é a do livro didático, não integrará os diversos elementos num todo significativo de forma espontânea. Precisa ser orientado para fazê-lo.
 
    A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilitam controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante das dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.
In: Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quartociclos de ensino fundamental: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. - Brasília: mec / sef, 1998. p. 69-70.
 
 
Algumas ideias INCORRETAS sobre leitura:
 
LEITURA é um ato passivo.  
LEITURA é um processo palavra por palavra. 
Um texto deve ser lido somente uma vez. 
Voltar no texto para esclarecer uma dúvida não é uma forma apropriada de LEITURA. 
O objetivo de toda LEITURA é entender tudo e lembrar de todas as palavras num texto. 
LER não é só difícil como é chato também. 
Toda LEITURA deve começar do canto esquerdo e seguir na ordem em que o texto foi escrito. 
A função mais importante de um texto é informar. 
Nem todo leitor consegue LER textos autênticos (livros, revistas, jornais etc.). 
Durante uma LEITURA, o importante é o que o texto traz até você e não o que você leva para o texto. 
Sem o conhecimento de todas as palavras de um texto não há LEITURA.
 
 
 
Bibliografia:    
KLEIMAN, Ângela. Leitura e interdisciplinaridade. Tecendo redes nos projetos das escolas. Campinas,SP: Mercado de Letras, 1999. (cap. 5).
 
 
Usar a leitura de forma competente significa, também, compreender que ler é tanto uma experiência individual e única, quanto uma experiência interpessoal e dialógica.
É individual porque significa um processo pessoal e particular de processamento dos sentidos do texto. Mas, também é interpessoal porque os sentidos não se encontram no texto, exclusivamente, ou no leitor, exclusivamente; ao contrário, os sentidos situam-se entre texto e leitor.
 
Esse conhecimento, tal como hoje compreendemos, refere-se a um grau ou tipo de letramento que inclui tanto o saber decifrar o escrito, quanto o ler/escrever com proficiência de leitor/escritor competente, quer dizer, saber utilizar estratégias eprocedimentos que conferem maior fluência e eficácia ao processo de produção e atribuição de sentidos aos textos com os quais se interage. Dessa forma, a leitura é um processo complexo que envolve o controle planejado e deliberado de atividades que levam à compreensão. Entre essas atividades, destacam-se:
 
definir o objetivo de uma determinada leitura ("Vou ler este texto para ver como se monta este brinquedo", "Só quero ver a data da morte de Napoleão". "Vou correr os olhos pelo sumário para ter uma ideia geral do livro");
 
ativar o conhecimento prévio que temos sobre todos os aspectos envolvidos na leitura para selecionar as informações que possam criar o contexto de produção de leitura, garantindo, assim, sua fluência. Refere-se a conhecimento sobre o assunto, sobre o gênero, sobre o portador onde foi publicado o texto (jornal, revista, livro, folder, panfleto, folheto etc.); sobre o autor do texto, sobre a época em que foi publicado, ou seja, sobre as condições de produção do texto a ser lido;
 
antecipar informações que podem estar contidas no texto a ser lido;
 
realizar inferências, quer dizer, lermos para além do que está nas palavras do texto, lermos o que as palavras nos sugerem;
 
conferir as inferências e antecipações realizadas ao longo do processamento do texto, de forma a podermos validá-las ou não;
 
localizar informações presentes no texto; identificar os segmentos mais e menos importantes de um texto ("Aqui o autor está apenas dando mais um detalhe". "Esta definição é importante");
 
distribuir a atenção de modo a se concentrar mais nos segmentos mais importantes ("Isto aqui é novo para mim e preciso ler com mais cuidado". "Isto eu já conheço muito bem e posso ir apenas passando os olhos"). A importância de um segmento pode variar não só de um leitor para outro, mas até de uma leitura para outra;
 
sintetizar as informações dos trechos do texto;
 
estabelecer relações entre os diferentes segmentos do texto;
 
avaliar a qualidade da compreensão que está sendo obtida da leitura ("Estou entendendo perfeitamente o que o autor está tentando dizer". "Este trecho não está muito claro para mim");
 
determinar se os objetivos de uma determinada leitura estão sendo alcançados ("Estou lendo este capítulo para ter uma ideia geral do que é fenomenologia, mas ainda não consegui ter uma noção clara do assunto");
 
tomar as medidas corretivas quando falhas na compreensão são detectadas ("Vou ter que consultar o dicionário para entender esta palavra, já que o contexto não me bastou". "Parece que vou ter de ler aquele outro artigo para poder entender este");
 
corrigir o rumo da leitura nos momentos de distração, divagações ou interrupções ("Estou tão distraído que passei os olhos por este parágrafo sem prestar atenção no que estava lendo; vou ter de relê-lo");
 
estabelecer relações entre tudo o que o texto nos diz e o que outros textos já nos disseram, e o que sabemos da vida, do mundo e das pessoas.
A leitura. Almeida Júnior,1892.
3. Intertextualidade
Neste conteúdo, vamos tratar da Intertextualidade - um importante fator de textualidade, pois nenhum texto nasce do 'nada', mas sempre retoma um outro. Veja como e porque isso acontece lendo os orientações a seguir e também consultando a bibliografia indicada:
 
FIORIN, José Luiz & PLATÃO, Francisco. (2008). Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: (Lição 2).
KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. (2006). Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.
1) Intertextualidade
 
 
Observe os textos a seguir:
 
 
    Veja que os textos são semelhantes. Como o de Gonçalves Dias é anterior aos demais, o que ocorre é que estes fazem alusão àquele. Eles citam e/ou retomam aquele. Assim, um escritor, ao fazer uso da palavra, muitas vezes, recorre a textos alheios específicos para fundamentar sua fala, discordar da fala alheia, citar um conceito, aludir a um conhecimento coletivo ou ilustrar o que pretender dizer etc. Dessa maneira, estabelece-se um diálogo entre dois ou mais textos. A esse diálogo entre os textos dá-se o nome de intertextualidade.
 
 
Um texto cita outro com, basicamente, duas finalidades distintas:
a)      para reafirmar alguns dos sentidos do texto citado;
b)      para inverter, contestar e deformar alguns dos sentidos do texto citado; para polemizar com ele.
A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertório do leitor, do seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Daí a importância da leitura. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo que os textos travam entre si por meio de referências, citações e alusões. Diz-se que todo texto remete a outros textos no passado e aponta para outros no futuro. Quanto mais elementos reconhecemos em um texto, mais fácil será a leitura e mais enriquecida será a nossa interpretação, ou seja, a intertextualidade é um fenômeno cumulativo: quanto mais se lê, mais se detectam vestígios de outros textos naquele que se está lendo. Reconhecer o GÊNERO a que pertence o texto lido é uma das chaves para a melhor interpretação do contexto.
A presença de vestígios de outros assuntos dá sustentação à tese de que intertextualidade constitutiva do texto é eminentemente interdisciplinar (o mesmo texto pode ser utilizado em diversas matérias com enfoques específicos a cada uma delas). O conjunto de relações com outros textos do mesmo gênero e com outros temas transforma o texto num objeto tão aberto quantas sejam as relações que o leitor venha a perceber.
 
Exemplos de intertextualidade:
 
José
Carlos Drummond de Andrade
 
  
Disponível em: <http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond14.htm>. Acesso em: 25 ago. 2008.
 
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, proptesta?
e agora, José?
 
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
etudo fugiu
e  tudo mofou,
e agora, José?
 
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
 
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
 
Se você  gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!
 
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drummond de Andrade. In Poesias. José Olympio, 1942.
 
E agora, José?
A festa acabou? Já não há mais PT? Não, José, de tudo isso fica uma grande lição: não é a direita que inviabiliza a esquerda. Esta tem sido vítima de sua própria incoerência, inclusive quando se elege por um programa de mudanças e adota uma política econômica de ajuste fiscal que trava o desenvolvimento, restringindo investimentos públicos e privados.
A esquerda deu um tiro no pé na União Soviética, esfacelada sem que a Casa Branca lhe atirasse um único míssil. Faliu por conta da nomenklatura, das mordomias abusivas das autoridades, da arrogância do partido único, da corrupção. Assim foi na Nicarágua, onde líderes sandinistas se locupletaram com imóveis expropriados pela revolução e enriqueceram como por milagre.
Agora, José, é a nossa confiança no PT que se vê abalada. O que há de verdade e de mentira em tudo isso? Por que o partido não abre sua contabilidade na internet? Se houve mesmo "mensalões" e malas de dinheiro, como ficam os pobres militantes e simpatizantes que, em todas as campanhas eleitorais, contribuíram, com sacrifício, do próprio bolso? Findas as investigações, o PT precisará vir a público e, de cabeça erguida, demonstrar que tudo não passou de "denuncismo", de "golpismo", de armação (ia escrever "dos inimigos") dos aliados... ou, de cabeça baixa, em atitude humilde, reconhecer que houve, sim, malversação, improbidade, tráfico de influência e corrupção.
O mais grave, José, é o desencanto que toda essa "tsulama" provoca na opinião pública, sobretudo na dos mais jovens.
Quando admitimos que "todos os partidos são farinha do mesmo saco", fazemos o jogo dos corruptos, pois quem tem nojo de política é governado por quem não tem. Se todos se enojarem, será o fim da democracia e da esperança de que, no futuro, venha a predominar a política regida por fortes parâmetros éticos. Portanto o desafio, hoje, não é só promover reformas estruturais no país. É reformar a própria política, de modo a vedar os buracos pelos quais a corrupção e o nepotismo se infiltram.
Temo que por muitas cabeças passe a idéia de, nas próximas eleições, em 2006, anular o voto ou votar em branco. Seria um desastre. O voto é uma arma pacífica. Deve ser usado com acuidade e sabedoria.
Em todo esse processo é preciso destacar os políticos que primam pela ética, pela coerência de princípios e pela visão de um novo Brasil, sem alarmantes desigualdades sociais. Antonio Callado, em sua última entrevista, a esta Folha, disse que perdera "todas as batalhas".
Também experimentei, José, muitas perdas: a morte do Che, a derrota da guerrilha urbana contra a ditadura militar, a queda do Muro de Berlim e, agora, essa fratura no corpo do partido que ajudei a construir como simpatizante e que se gabava de primar pela ética na política. No entanto quantas vitórias! Sobre a França e os EUA no Vietnã; sobre os EUA e a ditadura de Batista em Cuba; a de Martin Luther King contra o racismo americano; a de Nelson Mandela contra o apartheid na África do Sul.
No Brasil, a extensa rede de movimentos populares, as CEBs, a CUT, o MST, a CPT, a CMP, a CMS; os movimentos de direitos humanos, mulheres, negros, indígenas; as ONGs, as empresas cônscias da responsabilidade social. E, sobretudo, a eleição de Lula à Presidência da República.
Não se pode jogar no lixo da história todo esse patrimônio social e político. Sem confundir pessoas com instituições, maracutaias com projetos estratégicos, é hora de começar de novo, renovar a esperança e, sobretudo, não permitir que tudo fique como dantes.
Aprendamos com Gandhi a fazer hoje, a partir de nossas práticas pessoais e sociais, o mundo novo que sonhamos legar às gerações futuras. Deixemos ressoar no coração as palavras de Mario Quintana: "Se as coisas são inatingíveis... ora!/ Não é motivo para não querê-las.../ Que tristes os caminhos, se não fora/ A mágica presença das estrelas!".
Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 60, frade dominicano, escritor e assessor de movimentos sociais, é autor de "Treze Contos Diabólicos e Um Angélico" (Planeta), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004).
 
 Folha de S. Paulo
4-a - Informações implícitas: Pressupostos
Neste conteúdo, você estudará sobre as informações implícitas em um texto, especialmente sobre os pressupostos.
Para aprofundar seus conhecimentos consulte:
 
As informações implícitas (pressuposto)         
 
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006.  (Lição 20)
______. Para entender o texto: leitura e redação. 16 ed. São Paulo: Ática, 2008.  (Lição 27)
 
Um dos aspectos mais intrigantes da leitura de um texto é a verificação de que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo. Além das informações explicitamente enunciadas, existem aquelas outras que ficam subentendidas ou pressupostas.
            Observe o quadrinho apresentado no término desse tópico:
           
1. Qual é a informação óbvia contida no primeiro quadrinho?
O marido parar de beber. O verbo “parou” (explícito no enunciado de Helga) marca a informação implícita de que ele bebia antes.
 
2. O que se pode concluir a respeito do marido da Irma a partir da leitura do segundo quadrinho?
Conclui-se que ele (o marido) parou de beber porque morreu. Informação implícita marcada na palavra “enterro”.
Podemos dizer que nesse texto há informações explícitas e implícitas. Logo, para realizar uma leitura eficiente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos. Estes últimos são os pressupostos e os subentendidos.
 
Pressupostos
            Os pressupostos são aquelas ideias não expressas de modo explícito, mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras ou expressões contidas no enunciado.  Da leitura do quadrinho, podemos depreender que a informação explícita pode ser questionada, pois a amiga da Helga poderia concordar ou não com ela. Entretanto, o pressuposto de que o marido da Irma “bebia antes” é verdadeiro, pois está marcado no verbo “parou”.
            Logo, tem-se que o pressuposto necessita ser verdadeiro ou pelo menos admitido como tal, porque é a partir dele que se constroem as informações explícitas. Se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem cabimento.
 
	
Pressuposto: circunstância ou fato considerado como antecedente necessário de outro. É um dado posto como indiscutível para o falante ou ouvinte, não é para ser contestado.  
 
 
 Os pressupostos são marcados, nos enunciados, por meio de vários indicadores linguísticos, dentre eles podemos citar como exemplo:
 
        Certos advérbios como, por exemplo, ainda, já, agora. Exemplo: Os resultados da pesquisa ainda não chegaram. (Pressupõe-se que os resultados já deveriam ter chegado ou que os resultados vão chegar mais tarde)
        Verbos que indicam mudança ou permanência de estado, como ficar, começar a, passar a, deixar de, continuar, permanecer, tornar-se etc. Exemplo: Maria continua triste. (Pressupõe-se que Maria estava triste antes do momento da enunciação).
certos conectores circunstanciais, especialmente quando a oração por eles introduzida vem anteposta. Ex.: desde que, antes que, depois que, visto que etc.
Exemplo:Desde que Ricardo casou, não cumprimenta mais as amigas. (Pressupõe-se que Ricardo cumprimentava as amigas antes de se casar).
 
 
Disponível em: <http://hq.cosmo.com.br/textos/quadrindex/qhagar.shtm>. Acesso em: 23 ago. 2008.
 
 
4-b - Informações implícitas: Subentendidos
Neste conteúdo, você estudará sobre outro tipo de informação implícita, os subentendidos.
Para aprofundar seus estudos consulte a bibliografia indicada a seguir:
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006.  (Lição 20)
______. Para entender o texto: leitura e redação. 17 ed. São Paulo: Ática, 2008.  (Lição 27)
As informações implícitas (subentendidos)
 
Leia o quadrinho a seguir:
 
 
 
Disponível em: <http://hq.cosmo.com.br/textos/quadrindex/qhagar.shtm>. Acesso em: 23 ago. 2008.
 
 
1. O que se pode concluir da fala de Helga no primeiro quadrinho?
 Um homem para ser “grande” precisa do apoio da mulher.
2. O que se subentende do diálogo das duas personagens no último quadrinho?
Hagar não é um grande homem.
Subentendidos são as insinuações escondidas por trás de uma afirmação. O subentendido difere do pressuposto num aspecto importante: ele é de responsabilidade do ouvinte, pois o falante, ao subentender, esconde-se por trás do sentido literal das palavras e pode dizer que não estava querendo dizer o que o ouvinte depreendeu. Logo, o subentendido, muitas vezes, serve para o falante se proteger diante de uma informação que quer transmitir para o ouvinte sem se comprometer com ela.
 
	 
•         Implícito: é algo que está envolvido naquele contexto, mas não é revelado, é deixado subentendido, é apenas sugerido.
•         Quando lidamos com uma informação que não foi dita, mas tudo que é dito nos leva a identificá-la, estamos diante de algo implícito.
•         A compreensão de implícitos é essencial para se garantir um bom nível de leitura.
 
 
 Portanto,
	 
•         Há textos em que nem tudo o que importa para a interpretação está registrado.
•         O que não foi escrito deve ser levado em consideração para que se possa verdadeiramente interpretar um texto.
 
 
7-a: A argumentação
ARGUMENTAÇÃO
 
O “jogo” argumentativo é dinâmico, instável, Não existindo o argumento “correto” e sim o argumento “predominante”. Sequer existe o argumento “incorreto”, mas apenas uma fundamentação deficiente.
Mas o que é argumentar?
	Argumentar é oferecer razões para sustentar um ponto de vista, teste, ou conclusão. Argumentar é diferente de discutir, na medida em que a argumentação visa a convencer o adversário e não eliminá-lo. O objetivo de todo o discurso argumentativo é modificar o comportamento do auditório, ou seja, provocar uma atitude ou crenças novas ou alterar atitudes ou crenças existentes.
            O processo argumentativo consiste essencialmente em duas atividades: persuasão e refutação.
Persuadir é propor um ponto de vista ou posição e argumentar a favor dela, propondo razões que se julgam pertinentes.
Refutar é atacar os argumentos do opositor. Consiste em apresentar contra-argumentos.
As ideias/valores do produtor do texto são materializadas. Neste momento, sob o prisma de argumentos (opiniões fundamentadas), isto é, diante de um tema polêmico (aquele que pressupõe uma discussão, em que há sempre a possibilidade de mais de umaposição sobre o ponto em debate), apresenta-se uma tese (tomada de posição diante do tema), que, apoiada na escolha e ordenação desses argumentos, convencerá o público-alvo.
Logo, diz-se que argumentar
 
 
... é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. (...) Persuadir é saber gerenciar relação, é falar à emoção do outro. (...) Mas em que convencer se diferencia de persuadir?Convencer é construir algo no campo das ideias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. (ABREU, 2004. p. 25).Para saber mais sobre argumentação e persuasão consulte:
 
 
 
ABREU, Antônio Suárez. A Arte de Argumentar: gerenciando razão e emoção. 7 ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
7-b: Procedimentos Argumentativos
Neste conteúdo, estudaremos alguns procedimentos argumentativos. Para aprofundar seu estudo consulte:
FIORIN, José Luiz e PLATÃO, Francisco. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006.  (Lição 19)
______. Para entender o texto: leitura e redação. 17 ed. São Paulo: Ática, 2008.  (Lição 20)
Chamamos procedimentos argumentativos aos recursos acionados pelo produtor do texto com vistas a levar o leitor a crer naquilo que o texto diz e a fazer aquilo que ele propõe. Afinal, uma opinião sem fundamentação não satisfaz, não parece verdadeira e, consequentemente, não convence. Quando queremos expressar nosso ponto de vista a respeito de determinado assunto, seja ele favorável ou contrário, devemos fundamentar nossa opinião. Em outras palavras, devemos desenvolver nossa afirmativa para que ela tenha valor.
Diversos são os recursos argumentativos que podem ser utilizados para fundamentar uma opinião. O importante mesmo é a forma como o argumento é apresentado, pois precisa ser CONSISTENTE, passando para o leitor um valor de verdade.
Para termos ideia de alguns desses procedimentos argumentativos, vamos ler um fragmento de um dos sermões de Padre Antônio Vieira, no qual ele tenta explicitar certos recursos que o pregador deve usar para que o sermão cumpra o papel de persuasão ou convencimento:
	(...) O sermão há de ser duma só cor. Há de ter um só objeto, um só assunto. Uma só matéria.
 
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloqüência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela.
                        (Sermão da Sexagésima. In: ______. Os sermões. São Paulo. Difel, 1968. VI, p. 99.)
     Tomando o fragmento citado como ponto de partida, podemos inferir alguns dos recursos argumentativos que um texto deve conter para ser convincente ou persuasivo.
A primeira qualidade que Vieira aponta é que o texto deve ter unidade, isto é, deve tratar de “um só objeto”, “uma só matéria”. Essa qualidade é um dos mais importantes recursos argumentativos já que um texto dispersivo, cheio de informações desencontradas não é entendido por ninguém: fica-se sem saber qual é seu objeto central. O texto que fala de tudo acaba não falando de nada. Mas é preciso não confundir unidade com repetição ou redundância. O próprio fragmento que acabamos de ler adverte que o texto deve ter variedade desde que essa variedade explore uma mesma matéria, isto é, comece, continue e acabe dentro do mesmo tema central.
Outro recurso argumentativo apontado no texto de Vieira é a comprovação das teses defendidas com citações de outros textos autorizados. Como sacerdote que é, sugere as citações das Sagradas Escrituras, já que, segundo sua crença, são elas a fonte legítima da verdade.
O que Vieira diz sobre os sermões vale para qualquer outro texto, desde que não se tome ao pé da letra o que ele diz sobre as Sagradas Escrituras. Um texto ganha mais peso quando, direta ou indiretamente, apoia-se em outros textos que trataram do mesmo tema. Costuma-se chamar argumento de autoridade a esse recurso à citação.
Otexto aconselha ainda que o pregador, ao elaborar o seu sermão, use o raciocínio ou a razão para estabelecer correlações lógicas entre as partes do texto, apontando as causas e os efeitos das afirmações que produz. Esses recursos de natureza lógica dão consistência ao texto, na medida em que amarram com coerência cada uma das suas partes. Um texto desorganizado, sem articulação lógica entre os seus segmentos, não é convincente, não é persuasivo.
Além disso, o pregador deve cuidar de confirmar com exemplos adequados as afirmações que faz. Uma ideia geral e abstrata ganha mais confiabilidade quando vem acompanhada de exemplos concretos adequados. Os dados da realidade observável dão peso a afirmações concretas.
Um último recurso argumentativo apontado pelo texto de Vieira é a refutação dos argumentos contrários. Na verdade, sobretudo quando se trata de um tema polêmico, há sempre versões divergentes sobre ele. Um texto, para ser convincente, não pode fazer de conta que não existam opiniões opostas àquelas que se defendem no seu interior. Ao contrário, deve expor com clareza as objeções conhecidas e refutá-las com argumentos sólidos.
Esses são alguns dos recursos que podem ser explorados pelo produtor do texto para conseguir persuadir o leitor.
O que interessa destacar neste momento é o fato de que a argumentação está sempre presente em qualquer texto. Por argumentação deve-se entender qualquer tipo de procedimento usado pelo produtor do texto com vistas a levar o leitor a dar sua adesão às teses defendidas pelo texto.
7-c: Tipos de Argumentos
Neste conteúdo, vamos estudar alguns tipos de argumentos.
Vamos conhecer, por meio de exemplos, alguns tipos de argumentos?
1. Argumento de autoridade: citações de  autores renomados, autoridades num certo domínio do saber, numa área de atividade humana, para corroborar uma tese, um ponto de vista. No entanto, devemos tomar cuidado com citações descosturadas, sem relação com o tema, feitas pela metade, mal compreendidas.
Exemplos:
a) Toda atitude racista deve ser denunciada e combatida, posto que fere um dos princípios fundamentais da Constituição brasileira. (em Ensino Médio em Rede)
b) Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), cerca de 1 bilhão de pessoas não possui um trabalho que seja capaz de suprir suas necessidades básicas de alimentação.
2. Argumentos baseados no consenso: argumentos de valor universal, aqueles que são irrefutáveis, com os quais conquistamos a adesão incontinenti dos leitores. Se você diz, por exemplo, que sem resolver os problemas da família não se resolvem os das crianças de rua, vai ser difícil alguém contradizê-lo. Trata-se de um argumento forte.
Exemplos:
a) A educação é a base do desenvolvimento. Os investimentos em pesquisa são indispensáveis para que um país supere sua condição de dependência.
b) Toda criança tem direito à alimentação e ao estudo.
 
ATENÇÃO:
	 Não devemos confundir tais argumentos com “lugares-comuns”, carentes de base científica, de validade discutível. Além disso, é preciso muito cuidado para distinguir entre uma ideia que não mais necessita de demonstração e a enunciação de preconceitos do tipo: “o brasileiro é indolente”, “a Aids é um castigo de Deus”, ”só o amor constrói”.
3. Argumentos por ilustração e/ou exemplificação: argumentos que se fazem necessários quando a ideia a ser defendida carece de esclarecimentos com dados práticos da realidade. Nesse caso, ilustram-se uma situação, um problema, um assunto, ou usam-se exemplos pertinentes è ideia exposta.  
 Exemplos:
a)  Nos países que passaram a ter a pena de morte prevista no código penal – os Estados Unidos são um exemplo disso – não houve uma diminuição significativa do índice de criminalidade. Donde podemos concluir que a existência legal da pena de morte não inibe a criminalidade. (em Ensino Médio em Rede)
b)  Exemplos, como estudos feitos na UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), mostram que não há diferenças significativas entre alunos cotistas e não-cotistas. Já estudos feitos na UERJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) demonstram que alguns desses alunos cotistas apresentam defasagens, mas concluem que não se trata de nenhuma grande dificuldade que algumas medidas como a oferta de cursos de apoio, ou melhor, infraestrutura de bibliotecas e mais laboratórios de informática não possam sanar. (em Ensino Médio em Rede)
 4. Argumentos baseados nas relações de causa e consequência: uma argumentação convincente e bem fundamentada pode ser obtida por meio das relações de causa e consequência, em que são apontados os aspectos que levaram ao problema discutido e suas decorrências.
 Exemplos:
 a)  A incompetência do Estado em administrar os seus presídios, onde, além da superlotação, reinam a corrupção, tráfico de drogas, promiscuidade, falta de higiene e condições mínimas para que um condenado não se esqueça de que é humano, é a causa principal que leva o criminoso a provocar incêndios, matar seguranças e possíveis companheiros delatores e ganhar a liberdade ilegal.
 b)  A redução dos impostos sobre o preço dos carros – IPI e ICMS – é uma medida que pode ajudar a combater o desemprego, pois, reduzindo o preço, as vendas tendem a crescer, o que provoca um aumento da produção, o que por sua vez garante os empregos. (em Ensino Médio em Rede)
	Observação: cuidado com  tautologias como: “o fumo faz mal à saúde porque prejudica o organismo”; “esta criança é mal-educada porque os pais não lhe deram educação."
                                                                  
 5. Argumentos baseados em provas concretas: expediente linguístico eficientíssimo, pois se trata realmente de uma prova concreta para reforçar a tese que se defende. Aparecem na forma de dados estatísticos, leis, fatos do conhecimento geral. As informações têm de ser exatas, pois não conseguimos convencer ninguém com informações falsas, que não têm respaldo na realidade.
 Exemplos:
 a) A administração Fleury foi ruinosa para o Estado de São Paulo, porque deixou dívidas, junto ao Banespa, de 8,5 bilhões de dólares, porque deixou de pagar aos fornecedores, porque acumulou dívidas de bilhões de dólares, porque inchou a folha de pagamento do estado de São Paulo com nomeações de afilhados políticos etc. (em Platão e Fiorin. Lições de texto)
 b) Todo mundo conhece a grandeza dos problemas que a China enfrenta para alimentar, vestir e abrigar 1,3 bilhão de habitantes. A revista The Economist mostra que, além das dificuldades para garantir a oferta de comida, vestuário e habitação, a China está enfrentando um novo tipo de escassez: a escassez de nomes.
c) É isso mesmo. Estão faltando nomes e sobrenomes para atender a enorme demanda chinesa nesse campo. Assim é que os cinco sobrenomes mais comuns – Li, Wang, Zhang, Liu e Chen – são usados por nada mais nada menos do que 350 milhões de pessoas. Só os que têm o sobrenome Li chegam a 87 milhões, ou seja, mais da metade da população brasileira. (em “A dança dos nomes”, Antonio Ermírio de Moraes).
 
8-a: O Artigo de opinião
Neste conteúdo, veremos o "Artigo de Opinião".
Para aprofundar seus estudos, consulte:
FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristovão. Prática de texto para estudantes universitários.  11. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. (Capítulo 8, 9, 11 e 13).
Por que estudar o artigo de opinião?
            Artigos de opinião publicados em jornais, revistas, sites discutem questões polêmicas que afetam um grande número de pessoas. Além de exigir o uso da argumentação, supõem a discussão de problemas que envolvem a coletividade. Compreender artigos de opinião, portanto, é uma forma de estar no mundo de um modo mais inteiro, menos passivo, menos alienado.
            Entender o ponto de vista do outro e dialogar com ele, concordando ou discordando, defender as próprias opiniões de forma sólida e convincente nos torna sujeitos da nossa própria história.
            Inicialmente, é necessário saber qual deve ser o conteúdo de um artigo de opinião. Observe as afirmações abaixo:A Terra gira em torno do Sol.
A bactéria é um ser vivo.
O filme "Cidade de Deus" concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mas não ganhou.
O governo federal encaminhou ao Congresso Nacional projeto de lei que estabelece novos critérios de acesso ao ensino universitário.
Veja que as duas afirmativas iniciais são verdades científicas, portanto não cabe contestá-las ou argumentar a favor ou contra. Já as outras duas dão conta de fatos ocorridos, diante dos quais também não cabe nenhum tipo de contestação. Assim, nos quatro exemplos temos fatos que não podem ser refutados. Entretanto, em relação aos últimos dois fatos, podemos considerar: foi justo ou injusto o Brasil ter perdido o Oscar? O projeto encaminhado pelo governo é equivocado (ou necessário)? Diante dessas perguntas, cabem contestações, refutações, opiniões diferentes. São afirmações que não dizem respeito a fatos inquestionáveis, mas sim opiniões. Em matérias de opinião, como cada um tem a sua, só é possível argumentar, sustentando sua posição com argumentos que são razões, evidências,  provas, dados, etc.
 
            Se a questão apresenta abertura para posicionamentos diferentes é porque ela é uma questão controversa ou polêmica, certo? Há questões controversas que afetam um grande número de pessoas e há algumas que são particulares, pois interessam apenas a um número reduzido de pessoas. Estas dificilmente se tornariam tema de um artigo de opinião de um jornal; já, aquelas são o tema principal dos artigos de opinião que circulam em jornais e revistas, pois seus assuntos podem incidir sobre temas políticos, sociais, científicos e culturais, de interesse geral e atual. Normalmente, essas questões surgem a partir de algum fato acontecido e noticiado.
Veja algumas questões controversas discutidas atualmente:
 
	A descriminalização do aborto.
A restrição da propaganda de bebidas alcoólicas no Brasil.
A maioridade penal deve ser reduzida?
8-b: Explorando a estrutura de um artigo de opinião
Neste conteúdo, você estudará sobre a estrutura composicional do artigo de opinião.
Para aprofundar seus estudos consulte a bibliografia indicada:
BARBOSA, Jacqueline P. Ensino Médio em Rede – Seqüência didática – Artigo de opinião. Apostila impressa. s/d
São várias as formas de estruturar um artigo de opinião. Mas, em geral, os artigos de opinião contêm os seguintes elementos, de acordo com Barbosa (s/d):da questão em discussão. 
1)     Contextualização e/ou apresentação
2)     Explicitação da posição assumida.
3)     Utilização de argumentos que sustentam a posição assumida.
4)     Consideração de posição contrária e antecipação de possíveis argumentos contrários à posição assumida.
5)     Utilização de argumentos que refutam a posição contrária.
6)     Retomada da posição assumida e/ou retomada do argumento mais enfático.
7)     Proposta ou possibilidades de negociação.
8)     Conclusão (que pode ser a retomada da tese ou posição defendida).
 
Observe que esses elementos podem vir em qualquer ordem e nem todos precisam aparecer num artigo de opinião.
Veja como essa estruturação é feita, analisando junto comigo o artigo de opinião abaixo:
 
 
 
 
	Pela descriminalização do aborto
11/05/2007  
(1) "Ninguém é a favor do aborto. A pergunta é: a mulher deve ser presa? Deve morrer?" A declaração é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Defensiva, retrata como é difícil debater a descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação (há um projeto em tramitação no Congresso). Pertinente, traz indagações que merecem discussão.
 (2) Lula tem razão quando diz que ninguém é a favor do aborto. Colocar a discussão nesses termos é transformar num Fla-Flu um grave problema de saúde pública que atinge sobretudo os mais pobres. É simplificar nuances legais, morais, éticas, religiosas.
(3) Segundo dados do Ministério da Saúde, 220 mil mulheres procuram hospitais públicos por ano para tratar de seqüelas de abortos clandestinos. Há estimativas extra-oficiais de que sejam realizados mais de um 1 milhão de abortos por ano no Brasil.
 (4) De 1941, a lei brasileira só permite a interrupção da gravidez em dois casos: se resultado de estupro e na hipótese de risco à vida da mãe. Fora disso, é crime. A pena pode chegar a três anos de prisão.
 (5) Os ministros José Gomes Temporão (Saúde) e Nilcéa Freire (Políticas para as Mulheres) defendem a discussão e a eventual aprovação no Congresso da legalização do aborto até 12 semanas de gestação --período até o qual, segundo cientistas, não há relação entre os neurônios.
(6) Juridicamente, a morte cerebral é entendida como o fim da vida. Os defensores da legalização do aborto até 12 semanas, por analogia, argumentam que a vida começaria com a atividade cerebral. Daí a proposta desse prazo-limite, já adotado em países que legalizaram a interrupção da gravidez.
 (7) Para o Vaticano e outro grupo de cientistas, a vida começa na concepção (fecundação do óvulo pelo espermatozóide). E essa vida dura até seu declínio natural. O papa, portanto, não admite aborto, inclusive nos casos previstos na lei brasileira. E também é contra a eutanásia.
(8) A Igreja Católica, o papa Bento 16 e qualquer cidadão contrário ao aborto têm o direito de defender seus pontos de vista e de lutar para que a legislação os contemple. As pessoas que desejam a legalização do aborto até 12 semanas de gestação também.
(9) Nenhuma das partes possui o direito de impor à outra o seu desejo. Numa democracia laica, essa decisão cabe ao conjunto da sociedade e aos legisladores - respeitando-se, sempre, o direito das minorias.
(10) Mais: não será a legalização (ou descriminalização) do aborto até 12 semanas que obrigará as seguidoras de Bento 16 a interromper a gravidez. Não parece razoável supor que o número de abortos vá aumentar ou diminuir em função dessa eventual alteração da lei.
(11) Pesquisa Datafolha realizada em março mostrou que 65% dos entrevistados não desejam mudar a atual legislação do aborto. Ou seja, é mínima a chance de modificação via plebiscito. Ao longo do debate, talvez possa haver alteração desse quadro, mas não é o provável.
 (12) Seria possível, entretanto, mostrar que a ciência avançou a ponto de poder, por exemplo, detectar uma má-formação do feto que inviabilize a sua vida fora do útero. Nessa hipótese, é justo impor a gestação à mulher? Enfim, um plebiscito daria pelo menos a chance de a população ficar mais esclarecida.
 (13) Mas Bento 16 e a Igreja Católica não aceitam plebiscito. Acusam os defensores da descriminalização do aborto de serem defensores da morte. Dizem que são a favor da vida e ponto, despejando dogmas com cartesianismo fundamentalista.
 (14) Ora, interdição de debate não dá. Tampouco pressão política sobre o governo e o Congresso na base de ameaça de excomunhão.
Kennedy Alencar. Folha Online, Pensata.
Obs: os parágrafos foram numerados a fim de facilitar a explicitação do processo de leitura.
Podemos realizar uma leitura possível de um artigo de opinião utilizando a própria estrutura do texto, enunciada acima.
Vejamos como a estrutura proposta se revela no artigo em questão:
 
1)     Nos parágrafos de 1 a 4 o autor apresenta a questão a ser discutida e contextualiza o tema em discussão, no cenário brasileiro;
2)     Nos parágrafos 5 e 6, o autor explicita sua posição e argumenta a favor dela, utilizando o argumento de autoridade científica e jurídica;
3)     No parágrafo 7, o autor considera a posição contrária à sua;
4)     Nos parágrafos 8 a 10, o autor antecipa possíveis argumentos contrários à sua posição;
5)     No parágrafo 12, o autor retoma sua posição;
6)     No parágrafo 13, o autor propõe uma negociação e,
7)     No parágrafo 14, ele retoma a tese (a dificuldade do debate sobre a descriminalização do aborto) e conclui.
8-c: Análise de um artigo de opinião
Considerando o artigo de opinião postado no conteúdo anterior, veja como ficaria a leitura dele no quadro a seguir:
Dissemos anteriormente que todo artigo de opinião discute umaquestão polêmica de interesse da coletividade, a partir de um fato. Para tanto, seu autor aponta a tese que defenderá e utiliza argumentos que a defendam; aponta a posição contrária à sua tese e argumentos dessa posição e a seguir refuta tal posição. Em seguida, sugere uma negociação, um acordo que mantenha sua tese e conclui afirmando sua posição inicial. Leia com atenção o quadro abaixo e observe como funciona. Lembre-se: nem todas essas partes aparecem em todos os artigos de opinião. Esse é um modelo geral.
 
Agora que já estudamos o artigo de opinião – um gênero textual que circula, como vimos, em jornais, revistas e sites objetivando discutir questões polêmicas que atingem um grande número de pessoas - passemos ao estudo da resenha: um outro gênero textual também argumentativo e crítico que, além de circular em cadernos culturais de jornais e revistas, circula também nas Universidades com diferentes funções, das quais uma nos interessa: a função didática. O que significa essa função?
 Significa que resenhas são utilizadas pelos professores, como trabalhos solicitados aos alunos, uma vez que, como exercício de escritura, ela aciona várias competências, em especial as de compreensão leitora, de síntese e de avaliação crítica.
Vamos a ele?
 
Para aprofundar seus estudos você pode consultar a bibliografia a seguir: FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristovão. Prática de texto para estudantes universitários.  11 ed. Petrópolis: Vozes, 2003. (Capítulo 8, 9, 11 e 13)
 
MARTINS, Ronaldo. Resenha: o que é e como se faz. Disponível em http://www.ronaldomartins.pro.br/materiais/resenha.htm Acesso em 25 de mai. 2007.
 
 
Mas o que é mesmo uma resenha?
	É uma redação composta de um resumo crítico que permite comentários, opiniões, comparação ou analogias com outras obras da mesma área e até de uma avaliação da relevância da obra lida, com outras do mesmo gênero. (MACHADO, 2004).
Podemos observar que na definição de resenha acima enunciada, a autora delimita o objeto a ser resenhado a obras escritas, entretanto, de modo geral, podemos encontrar em jornais resenhas de filmes e discos, pois o uso normal de resenhas ultrapassa os limites do texto escrito. Em princípio, qualquer objeto é passível de uma apreciação nos moldes da resenha. O importante é percebermos que toda resenha tem um ponto de partida bem definido: um outro texto ou outra obra qualquer.
 
	Fazem-se resenhas de textos ou outras obras, e não de temas. Logo, se o professor pede uma resenha de um texto, ele não espera que você faça uma análise e emita uma opinião sobre o tema do texto.
 Observamos, também, na definição acima, que uma resenha é composta de um resumo. Isso significa que ela não é o resumo, mas que ele é parte da resenha. De acordo com o professor Ronaldo Martins,Nas resenhas há mesmo um resumo do texto, em que você recupera as idéias centrais do autor. Mas não confunda: resenha não é resumo; o resumo é apenas uma parte da resenha, que tem pelo menos duas outras partes: a parte da análise do texto e a parte do julgamento do texto.
A resenha é um gênero textual que, como qualquer outro, apresenta algumas exigências quanto à sua forma e ao seu conteúdo.
 Quais são as exigências quanto ao conteúdo?
a) Toda resenha deve conter uma síntese, um resumo do texto resenhado, com a apresentação das principais idéias do autor;
            b) Toda resenha deve conter uma análise aprofundada de pelo menos um ponto relevante do texto, escolhido pelo resenhista;
            c) Toda resenha deve conter um julgamento do texto, feito a partir da análise empreendida no item b). (MARTINS, Ronaldo).
E quanto à forma, como deve ser uma resenha?
a) A resenha deve ser pequena, ocupando geralmente até três laudas de papel A4 com espaçamento duplo;
            b) A resenha é um texto corrido, isto é, não devem ser feitas separações físicas entre as partes da resenha (com a subdivisão do texto em resumo, análise e julgamento, por exemplo);
            c) A resenha deve sempre indicar a obra que está sendo resenhada. (MARTINS, Ronaldo).
	Tipos de resenha
Há pelo menos dois tipos de resenha: a resenha crítica (também conhecida como opinativa) e a resenha descritiva (também chamada técnica ou científica). O que as diferencia?
Basicamente o tipo de julgamento que se faz. É possível fazer um julgamento de valor ou um julgamento de verdade. No primeiro, o resenhista afirma a qualidade do texto; dizendo se o texto é bom ou ruim, se vale a pena lê-lo ou não; enquanto no segundo, o resenhista discute se o autor tem razão ou não, se o que ele diz faz sentido ou não. Esses julgamentos são muito próximos, portanto, para saber diferenciá-los leia com atenção o trecho a seguir com algumas orientações:
 
	 
Considere um texto literário, um conto de Machado de Assis (O Alienista) que procura discutir a idéia de loucura no final do século XIX, por exemplo. Há duas formas de julgar esse texto: (1) avaliar o seu valor literário, dizer se o texto é bom ou ruim, se foi ou não bem escrito; e (2) avaliar a pertinência das idéias do autor, a sua clareza, a sua consistência, se as idéias de fato são verdadeiras, se de fato são aplicáveis àquilo que o autor pretende. No primeiro caso, estaríamos diante de uma resenha crítica. É mais ou menos o que acontece sempre que é lançado um novo romance, um novo filme, um novo disco. Há sempre alguém (um resenhista) que ocupa um espaço nos jornais para fazer a apreciação da nova obra. Procure nos jornais (geralmente no caderno de cultura) e perceba: faz-se um resumo da obra (do enredo do livro ou do filme, das músicas que compõem o CD), elegem-se alguns pontos para análise (a qualidade da escrita, a atuação de uma atriz, os arranjos de uma música), e julga-se a obra (classificando-a em excelente, boa, regular, ruim, péssima, e recomendando-a ou não ao leitor, através das carinhas (que ora sorriem, ora dormem), do bonequinho (que ora aplaude, ora abandona o cinema no meio da sessão), ou de qualquer outro indicador de qualidade). No caso do texto de Machado de Assis, diríamos então que se trata de um texto bom, bem escrito, interessante, que vale a pena ser lido, e colocaríamos um bonequinho aplaudindo. E teríamos feito uma resenha crítica.
            Imagine agora que procedêssemos à segunda forma de julgamento, que avaliássemos a pertinência das idéias do autor, e não a qualidade do texto. Não se trata mais de dizer se o texto é bom ou ruim, se é bem escrito ou não, se merece uma carinha sorrindo ou um bonequinho deixando a sessão. A questão aqui é outra. Deveríamos discutir se as idéias do autor são ou não são válidas. Discutiríamos, por exemplo, se o que se passa com a personagem principal é ou não verossímil, se o autor foi ou não foi fiel às instituições que pretendia retratar, se as conclusões que o autor retira do episódio são ou não pertinentes. Faríamos, enfim, um julgamento de verdade do texto: se o texto é verdadeiro (no sentido de conter uma verdade) ou não. Este tipo de resenha é menos comum nos jornais, e está geralmente restrito às publicações mais técnicas. Quando alguém divulga os resultados de uma pesquisa, por exemplo, há sempre alguém que comenta os resultados atingidos: se a metodologia foi correta ou não, se os resultados são ou não são confiáveis, se a pesquisa é ou não relevante. Esta é basicamente a tarefa de uma resenha descritiva. No caso de O Alienista poderíamos discutir, por exemplo, se a situação dos asilos, como o descrito por Machado, era realmente aquela, ou se o autor faz uma descrição grosseira, fora da realidade. Ou poderíamos discutir se os médicos eram efetivamente dotados da autoridade de internar toda a cidade, como supõe Machado de Assis no texto.
Perceba as diferenças entre as duas propostas. O mesmo texto (de Machado de Assis) poderia conduzir a uma resenha crítica positiva (que julga a qualidade do texto) e a uma resenha descritiva negativa (que julga a verdade do texto). No primeiro caso, reconhece-se que é um bom texto, agradável de ler, instigante,prazeroso. No segundo caso, admite-se que o texto não é fundamentado, que apresenta uma visão apenas caricatural da loucura no século XIX. Um não compromete o outro, e são duas coisas diferentes.  (MARTINS, Ronaldo). 
 
      
 Em resumo, pode-se dizer que:
 
	Como fazer uma resenha?
	Resenha descritiva, técnica, científica – seu objetivo é julgar o valor a verdade das idéias do autor, investigar a consistência de seus argumentos e pertinência de suas conclusões.
Resenha crítica, opinativa – seu objetivo é julgar o valor do texto, a sua beleza a sua relevância.
 Seguem algumas dicas para você fazer uma resenha descritiva de um texto escrito:
1) Leia o texto que serve de ponto de partida para a resenha. É o primeiro passo e o fundamental. A qualidade da sua resenha depende, em grande medida, da qualidade da leitura que você fizer desse texto. Se necessário, leia mais de uma vez. É bom ler atentamente: capa, orelha, quarta capa, indicações bibliográficas e, principalmente, não pular o prefácio. Todas as informações que você encontrar podem ser úteis para que compreender melhor o texto.
2) Enquanto você lê o conteúdo do livro propriamente dito, anote suas reações e impressões (gostei, não gostei, isto não me parece claro, isto tem a ver com o item tal do nosso programa de curso, já li sobre isto em outro livro, será?, concordo, não concordo, etc) e questões provocadas pela sua leitura. Tente também localizar o assunto e o objetivo da publicação, seu público-alvo, as idéias principais e os argumentos usados para defendê-las, a conclusão a que o autor chegou.
            3) Faça um resumo do texto. Selecione as idéias principais do autor do texto e monte um outro texto, seu. Mas cuidado: resumo não é cópia de alguns trechos do texto, com as palavras do autor. Resumo é um outro texto, um texto seu, em que você diz o que entendeu do texto, e quais são as idéias principais do autor.
            4) Eleja uma entre as principais idéias do texto. Todo texto contém várias idéias, que estão postas em uma hierarquia. Há idéias principais e há idéias secundárias, periféricas. Eleja uma idéia principal.
            5) Analise a idéia escolhida. Procure traçar quais são os seus pressupostos, o que o autor pressupõe para formular essa idéia. Procure traçar também as suas implicações, as conseqüências que se pode retirar dessa idéia. Verifique quais as relações que a idéia estabelece no texto, com quais outras idéias ela dialoga.
            6) Emita um julgamento de verdade a respeito dessa idéia. Ela é verdadeira ou não? Se é verdadeira, por quê? Se é falsa, por quê? Procure responder a essas perguntas com outros argumentos que não os usados pelo autor do texto. É crucial que o julgamento seja "seu", e não uma mera reprodução do que o autor pensa.
            7) Faça tudo isso antes de começar a redigir o texto. Use um rascunho, se necessário. Apenas depois de resolvidos os passos de 1 a 5 é que você estará pronto para escrever o texto, e decidir sobre a sua organização. Não há ordem predeterminada: você pode começar o texto pela sua conclusão, e depois explicá-la para o leitor (através da análise) e terminar por uma apreciação mais genérica do texto (o resumo); ou você pode começar pelo resumo, passar à análise e, em seguida, ao julgamento; ou você pode misturar as três coisas. É você que decide.
8) Reescreva, reescreva e reescreva. Idealmente, peça a alguém que faça às vezes de resenhista de seu texto e aponte o que tem de bom e o que necessitaria de revisão. Não se descuide de aspectos de ordem formal: ortografia, gramática e pontuação merecem ser muito bem tratadas.
 
Obs.: Da resenha descritiva deve constar uma parte em que se dão as informações sobre o texto a ser resenhado, tais como:
a) Sinopse - Um máximo de cinco linhas que revela o que estará contido no roteiro da aventura (considerando tamanho12, em fonte arial). São poucas linhas que devem dar uma idéia geral de toda a história.
b) História - Geralmente esta é a parte maior da resenha, pois embora escrita de forma resumida, pode chegar a 25 ou 50 linhas (ou até mais se a aventura se desenrolar por três, quatro ou mais revistas). É desejável que a resenha não conte o final da história, instigando a curiosidade em quem já leu a aventura para ler novamente e, em quem não leu, para tentar encontrar a revista resenhada. 
c) Ambientação - Parte geralmente muito pequena, que fica em torno de 5 a 10 linhas, pois é uma breve descrição dos locais onde se passam as ações da aventura: o País, o Estado, as cidades, os vilarejos, acidentes geográficos, saloons, estábulo, delegacia, desertos, etc.
d) Personagens - Todos os principais que participam da história.
e) Curiosidades - A critério de cada colaborador: podem ser coisas curiosas da história, dos personagens, incongruências no argumento, falhas na arte, etc. Quanto a tamanho, pode ser do tamanho que o colaborador julgar necessário, mas recomendamos nunca ultrapassar o tamanho do texto escrito na parte HISTÓRIA.
f) Ficha Técnica - Nome do livro ou filme, data de estréia ou preço de capa, Editora, nº de páginas, autor do livro ou roteiro, diretor, argumento, etc.
g) Apreciação - Sua opinião pessoal sobre a aventura resenhada: história, arte, personagens, filme como um todo ou livro, etc.
 
Nome do autor (ou dos autores);
Título completo e exato da obra (ou do artigo);
Nome da editora (ou coleção de que faz parte a obra);
Lugar e data da publicação;
Número do volume de páginas.
Para finalizarmos nossos estudos a respeito de resenha seguem algumas dicas para que você possa, também, resenhar um filme:
 Dados completos de uma aventura ou filme, composta de: Sinopse, História, Ambientação, Personagens, Curiosidades, Ficha Técnica e Apreciação.
 
Conteúdo adicional: Concepções de leitura, interação autor/texto/leitor, leitura e produção de sentido, fatores de compreensão da leitura
KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. (2006). Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.
 
Com base na concepção de que texto é lugar de interação de sujeitos sociais, os quais se constituem e são constituídos, dialogicamente, por meio do texto, Koch & Elias (2006) apresentam, de uma forma objetiva e didática, as estratégias utilizadas pelo leitor no processo de leitura e construção de sentidos. Nessa concepção os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais.
 
As autoras discutem as concepções de sujeito, língua e texto que estão na base das diferentes formas de se conceber a leitura. Situam-se na concepção interacional e dialógica da língua, compreendendo os sujeitos como construtores sociais, que mutuamente se constroem e são construídos por meio do texto, considerado o lugar por excelência da constituição dos interlocutores. A leitura, nesse âmbito, é entendida como atividade interativa de construção de sentidos. Para isso, ressalta-se o papel do leitor enquanto construtor do sentido do texto, que, no processo de leitura, lança mão de estratégias como seleção, antecipação, inferência e verificação, além de ativar seu conhecimento de mundo, na construção de uma das leituras possíveis, já que um mesmo texto admite uma pluralidade de leituras e sentidos. A leitura, além do conhecimento lingüístico compartilhado pelos interlocutores, exige que o leitor, no ato da leitura, mobilize estratégias de ordem lingüística e de ordem cognitivo-discursiva. 
  Texto Complementar:
 
As mãos que empunham o texto: por uma leitura significativa 
                                                   Maria Lúcia Moreira Gomes
          A leitura parece ser um simples detalhe no meio educacional, uma necessidade intrínseca ao ato de estudar e aprender. Talvez seja esta banalização da leitura que tenha feito dela um ato mecânico e desprovido de qualquer sentido, ou seja, desprovido do verdadeiro sentido que uma leitura significativa deve ter: atribuir acepções, estabelecendo elos com o conhecimento de mundo.
Muito mais do que um mero mecanismo de decodificaçãoe ativação dos conhecimentos, a leitura deve ser um processo interativo e de compreensão do mundo. A vivência como educadores nos dá conta de que está cada vez mais difícil a escrita e a leitura “corretas” em sala de aula, e isso se estende, o que é mais grave, até o nível universitário. Lê-se mecanicamente, lê-se sem atribuir significado, construindo um mero decodificar de letras e signos. O professor, por outro lado, acaba aferindo notas e medindo o ato de ler pelo simples falar compassado e entoado, conforme critérios estabelecidos e, se esse é regular, aquele dá por encerrada a leitura, até que ela possa ser avaliada num próximo dia.
Perde-se, dessa forma, o verdadeiro objetivo do ato de ler, medindo-se constantemente a capacidade de alfabetização daquele aluno. Onde fica então o estabelecimento de elos entre o mundo que se vive e aquilo que se lê, ou seja, sua competência no “letramento”, termo largamente explorado por Magda Soares. E a reflexão, e o despertar do senso crítico, tão falado em livros e congressos sobre leitura e educação global? Pior do que alunos despreparados para a leitura, em seu verdadeiro sentido, estão os professores, perpetuando uma automatização de gestos e pensamentos, deixando distante a capacidade de formar cidadãos críticos e integrais, termos já tão desgastados pelo uso.
Paulo Freire, em uma das inúmeras assertivas que lhe valeu a imortalidade na educação, dizia que “a leitura de mundo antecede a leitura da palavra”. Isto já se faz longe, muitos falam de seus conceitos e de sua coragem em imprimir mudanças, com o pensar crítico que o caracterizava; os congressos em educação fazem largo uso de suas palavras e lá fora, nas salas de aula, perpetua-se a prática estruturalista da leitura e da produção de textos, descontextualizando texto e vida.
Se nos detivermos num livro que ouse ensinar prática de leitura em sala de aula, encontraremos os inúmeros equívocos estabelecidos. O foco está na capacidade de articular corretamente os fonemas, na pontuação correta, no ritmo empreendido e é só. Acabada a tarefa de ler, o livro é fechado, ou se trabalhado, perguntas como: “o que o autor quis dizer com...” ou “quais e quantos são as personagens da história” limitam a “análise” do texto. E a tão falada contextualização fica a cargo, equivocadamente, das perguntas de gramática, que não mais desfocadas de um texto, como modernamente se prega, aparecem assim: “Na frase (l.5) ‘ Júlio não parecia concordar com a idéia’, quem é o sujeito?”
A escola parece priorizar os aspectos gramaticais, transforma as aulas de leitura em pretextos para o estudo de questões normativas, e deixa de lado a constituição de possíveis significados do texto que não estão estabelecidos no nível mais propriamente microestrutural do texto. A linguagem é vista de maneira mecânica, de forma que os segmentos menores se juntam para formar os maiores.
Não sabemos, na verdade, a quem atribuir tantos equívocos na práxis educacional, mas, com certeza, uma vontade imensa de acertar norteia as ações docentes, ao lado, é claro, de uma profunda ignorância do que seja o verdadeiro papel de um educador. Afinal, oprimido pelo novo e diferente, pela obrigação de ser bom, criativo, atual, informado, o professor não conta com quem lhe diga como fazer, mas o que não fazer, atitude que lhe impossibilita a concretização de tantos desafios.
O desafio da leitura está na busca de significações que ultrapassam as superfícies do texto, reconhecidas por qualquer pessoa treinada para ler, o que significa apenas um nível do texto, mas, sem dúvida, o que se quer é muito mais e esse mais se encontra nas diversas possibilidades de contextualização com o real que um texto pode suscitar e daí uma série de reflexões pertinentes podem ser efetuadas para imprimir mudança de comportamento, o que a nosso ver, constitui a verdadeira aprendizagem.
Diante deste cenário de mudanças pela qual passa a escola no que diz respeito à postura que o professor deve ter diante do aluno, de si mesmo e do conteúdo a ser ministrado, preocupamo-nos com a falácia que leva a lugar nenhum. Pouco ou nada se tem feito para tornar a aprendizagem atraente e despertar no aluno a consciência de sua existência enquanto sujeito, agente de transformações. Perpetuamos a história de alienação enfocada na obra “O nome da rosa”.
Coloca-se o professor ainda no pedestal da educação, assumindo um poder justificado pelo pouco conhecimento que tem e ignorando, pelo menos, dois dos direitos imprescindíveis do aluno, propostos por Penac (Perrenoud, 1994): o direito a só aprender o que tem sentido e o direito de existir como pessoa.
         Como se não bastasse tudo isso, o mundo globalizado está sendo desenhado, tecido, sonorizado, colorido e agitado por um complexo fenômeno de elementos convergentes e contraditórios. Redes de signos são formadas numa comunidade que pode, a todo o momento, reorganizar massas de informações disponíveis on-line, por meio de conexões transversais e simultâneas. É a inteligência coletiva, conforme afirma Pierre Lévy (1998), que está se contrapondo à cultura verticalizada na qual vivemos até então.
O descaso com a gramática, a disseminação de termos de informática, a economia de caracteres digitados implica diretamente a forma de escrever dos alunos em salas de aula convencionais e uma conseqüente revolta por parte do professor que, por diversas razões, coíbe essa prática, numa luta constante pela conservação da linearidade e pureza da língua.
Ouve-se constantemente a revolta dos mestres diante do texto que já vem pronto da Internet, da falta que faz o livro, do aluno que não lê mais e, portanto, cada vez mais ignorante. Não percebe o professor que, fazendo uso da força contrária ao irreversível, ele perde tempo e não faz dos recursos que condena aliados de sua prática, discutindo com o aluno, sedento de saber e de reflexões, questões próprias de seu tempo.
Conforme abordagem de Pierre Levy (1998) a tecnologia é pharmacon, ou seja, nem veneno, nem remédio, mas aquilo que se fizer dela.
No trabalho com o curso superior nas Universidades, percebemos a carência existente nos alunos no que diz respeito a um maior aprofundamento no conhecimento de sua própria língua e como lhes foi incutida pela vida afora a prática de uma língua portuguesa correta e exemplar, não lhes dando sequer abertura para a aceitação de seu uso coloquial.
É preciso, antes disso, observar e discutir essas mudanças que acontecem no mundo da linguagem, fazendo vê-las como inerentes a uma evolução natural da língua e como a leitura reflexiva é imprescindível nesse processo.
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo : Autores associados/Cortez, 1987.
KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 1997.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo : Ática, 1997.
LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade. São Paulo: Ática, 2003.
ORLANDI, Eni P.”A leitura proposta e os leitores possíveis” In: _______ (org.). A leitura e os leitores. Campinas : Pontes, 1998.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica (Coleção Linguagem e Educação), 1998.
1 Conhecimento linguístico, conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo e conhecimento interacional
KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. (2006). Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto.
 
 
Essa rede de conhecimento que permitirá ao leitor interagir com textos de gêneros variados de acordo com o contexto e seus objetivos de leitura. Nesse aspecto, Koch & Elias (2006) discutem o papel do contexto no processo de leitura e produção de sentidos. A concepção de contexto é um dos pontos centrais da Linguística textual. Inicialmente as pesquisas sobre o texto consideravam o contexto apenas como o entorno verbal do texto, o co-texto. Com a Teoria dos Atos de Fala e a teoria da Atividade Verbal, passou-se a levar em conta o contexto sociocognitivo

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