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AÇÃO POPULAR (AP) 1. Apresentação A ação popular é a ação constitucional de natureza civil, conferida a todos os cidadãos para a impugnação e a anulação dos atos administrativos comissivos e omissivos que sejam lesivos ao patrimônio público em geral, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, com a imediata condenação dos administradores, dos agentes administrativos e, também, dos beneficiados pelos atos lesivos ao ressarcimento dos cofres públicos, em prol da pessoa jurídica lesada. A ação popular é admissível não só quando os atos administrativos são lesivos às pessoas jurídicas de direito público interno, mas, também, quando a lesão atinge as entidades da administração indireta (como as empresas públicas e as sociedades de economia mista) e até mesmo outras pessoas jurídicas, desde que subvencionadas pelos cofres públicos, de acordo com o art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal, e art. 1º da Lei n. 4.717, de 1965. A expressão constitucional “patrimônio público” tem amplo significado, abarcando não só o patrimônio econômico, os cofres públicos, mas, também, os patrimônios histórico, cultural, artístico, turístico, estético, paisagístico, ambiental, natural e moral, bens caros à coletividade, passíveis de proteção mediante uma ação popular, segundo estabelece o art. 1º, § 1º, da Lei n. 4.717/65. 2. Características/Requisitos A ação popular obedecerá ao procedimento comum ordinário, previsto no Código de Processo Civil, com algumas peculiaridades trazidas pela Lei n. 4.717/65. Assim, ao despachar a petição inicial, o juiz ordenará: a citação dos réus, a intimação do representante do Ministério Público e a requisição, às entidades indicadas na petição inicial, dos documentos que tiverem sido referidos pelo autor, de acordo o art. 1º, § 6º, da referida lei, bem como a de outros que se lhe afigurem necessários ao esclarecimento dos fatos, fixando prazos de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias para o atendimento. A legitimidade ativa da ação parte do disposto na Carta Magna, art. 5º, LXXIII, que assegura, em seu texto, que qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular contra atos lesivos ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Neste sentido, para ajuizar ação popular se requer, antes de mais nada, que o autor seja cidadão brasileiro no exercício de seus direitos cívicos e políticos. Para tanto, a prova de cidadania, segundo o § 3º do art. 1º da Lei n. 4.717/65, será feita com o título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda. Excluemse, portanto, aqueles que tiverem suspensos ou declarados perdidos seus direitos políticos, de acordo com o art. 15 da CRFB/88; estrangeiros (excetuando-se os portugueses, desde que haja reciprocidade – situação de quase nacionalidade), apátridas, inalistáveis, inalistados, partidos políticos, organizações sindicais e quaisquer outras pessoas jurídicas.[1: A Súmula n. 365 do Supremo Tribunal Federal entende que a pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.] Quanto aos sujeitos passivos da ação, em conformidade com o art. 6º, § 2º, da Lei n. 4.717/65, podemse enumerar as pessoas públicas ou privadas, os autores e participantes do ato e os beneficiários do ato ou contrato lesivo ao patrimônio público. O Ministério Público deve funcionar como fiscal da lei, entretanto, observa o art. 9º da Lei n. 4.717/65 que, se o autor desistir da ação ou der motivo à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação, exercendo neste caso a legitimidade extraordinária. É possível a concessão de liminar na defesa do patrimônio público para que se suspenda o ato lesivo impugnado, de acordo com o art. 5º, § 4º, da Lei n. 4.717/65. 3. Como identificar a peça Observe que você irá atacar o ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Você não deverá atacar uma decisão judicial. Além disso, o problema envolve direito de coletividades. É o direito que a coletividade tem de decretar a nulidade ou anular um ato lesivo ao patrimônio público, indenizando o poder público caso seja necessário. Fique atento ao enunciado da questão, pois só pode propor ação popular a pessoa física em dia com suas obrigações eleitorais, portanto o cidadão. Logo, cabível é a ação popular. 4. Competência À vista do art. 5º da Lei n. 4.717/65, a ação popular tem competência conforme a origem do ato impugnado, sendo competente para conhecer da ação, processá-la e julgála o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, seja competente para as causas que interessem à União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município. Assim, a ação popular é da competência de juízo de primeiro grau de jurisdição, e não da competência originária de tribunal. Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a competência do juízo de primeiro grau subsiste até mesmo quando a ação popular tem como ré autoridade pública com foro privilegiado, como o Presidente da República. Assim, a ação popular é da competência do juízo local de primeiro grau. Não obstante, compete ao juízo federal processar e julgar a ação popular movida contra alguma das pessoas arroladas no art. 109, I, da Constituição Federal. Segundo Erival Oliveira, “o endereçamento da ação popular depende da autoridade que poderá desfazer o ato impugnado”. Assim, se a autoridade coatora for autoridade estadual ou municipal, será competente o juiz de direito, mas se a autoridade coatora for autoridade federal será competente o juiz federal, tal como se vê abaixo:[2: OLIVEIRA, Erival da Silva. Prática constitucional. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 200.] Autoridade coatora Autoridade estadual ou municipal: Juiz de direito Autoridade federal: Juiz federal As únicas exceções, no tocante à competência da ação popular, são as hipóteses previstas no art. 102, I, f, já que nas causas e nos conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta, a competência será do Supremo Tribunal Federal. Por fim, a distribuição da ação popular ocasiona a prevenção do juízo para todas as demais ações populares contra as mesmas partes e sob a mesma causa de pedir, de acordo com art. 5º, § 3º, da Lei n. 4.717/65. 5. Fundamentos mais comuns As principais fundamentações jurídicas da ação popular podem ser encontradas no art. 5º, LXXIII, da CRFB/88 e na Lei n. 4.717/65. Além disso, sugerimos a leitura das seguintes súmulas do Supremo Tribunal Federal sobre ação popular: Súmula n. 365 – Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular. Súmula n. 101 – O mandado de segurança não substitui a ação popular. FIQUE ATENTO!!!Legitimidade dos cidadãos para a propositura de ação popular na defesa de interesses difusos (art. 5º, LXXIII, CF/1988), na qual o autor não visa à proteção de direito próprio, mas de toda a comunidade (...). O mandado de segurança não pode ser usado como sucedâneo de ação popular (Súmula n. 101/STF) (MS 25.743-ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 4-10-2011, Primeira Turma, DJe de 20-10-2011). A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo competente de primeiro grau. Precedentes. Julgado o feito na primeira instância, se ficar configurado o impedimento de mais da metade dos desembargadores para apreciar o recurso voluntárioou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do STF, com base na letra n do inciso I, segunda parte, do art. 102 da CF (AO 859-QO, Rel. p/o ac. Min. Maurício Corrêa, julgamento em 11-10-2001, Plenário, DJ de 1º-8-2003). 6. Estrutura da peça A estrutura da ação popular invoca subsidiariamente o Código de Processo Civil, sendo que a petição inicial deverá seguir a regra do art. 39, I, e arts. 282 a 285 daquele diploma, bem como algumas peculiaridades trazidas pela Lei n. 4.717/65. Vejamos o modelo: MODELO 6 – AÇÃO POPULAR Endereçamento * Ex.: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. * Sugestão: Média de 5 linhas, para todas as petições iniciais. LEGITIMIDADE ATIVA * Qualificação do autor da ação (NOME, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade n. ..., expedida por ..., em ..., inscrito no CPF/MF n. ..., residente e domiciliado à rua ...) Impetrar IDENTIFICAÇÃO DA AÇÃO * AÇÃO POPULAR (COM/SEM PEDIDO DE LIMINAR) LEGITIMIDADE PASSIVA * Em face do ato ... DOS FATOS * Exposição dos fatos previstos na situação hipotética da questão. Não inventar outros fatos nem trazer detalhes ausentes no problema. DO DIREITO * Atente-se que a mera citação de artigos não pontua. Deve-se apontar os requisitos do art. 5º, LXXIII, da CRFB/88 e os da Lei n. 4.717/65. DOS PEDIDOS * Ante todo o exposto, você deverá requerer a antecipação dos efeitos da tutela, a citação do Réu no endereço acima indicado, a intimação do Representante do Ministério Público (federal ou estadual, conforme o caso), a procedência do pedido para invalidar ato/contrato administrativo, a condenação do Réu em custas e em honorários advocatícios e a produção de todos os meios de prova em direito admitidos. VALOR DA CAUSA * Dá-se à causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ ... (Sugerimos que, se a banca examinadora não estabelecer o valor da causa no enunciado da peça prático-profissional, dê à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), guiado pelos espelhos de respostas cobradas em exames passados). Nesses termos, Pede deferimento. Local e data
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