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FGV Violência e crimes urbanos

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VIOLÊNCIA E CRIMES 
URBANOS
AUTOR: RODRIGO COSTA
COLABORAÇÃO: ADRIANA VIDAL DE OLIVEIRA
ROTEIRO DE CURSO
2010.1
2ª EDIÇÃO
Sumário
violência e crimes urbanos
1. INTRODUÇÃO ÀO CURSO ............................................................................................................................................................. 04
2. POLÍTICA CRIMINAL, POLÍTICA E POLÍCIA .................................................................................................................................... 05
3 E 4. HOMICÍDIO .......................................................................................................................................................................... 08
5. ABORTO .................................................................................................................................................................................... 13
6. LESÃO CORPORAL ..................................................................................................................................................................... 17
7 E 8. CRIMES CONTRA A HONRA ..................................................................................................................................................... 21
9. JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ................................................................................................................................................ 25
10. CONSTRANGIMENTO ILEGAL E AMEAÇA ..................................................................................................................................... 28
11. FURTO .................................................................................................................................................................................... 30
12. ROUBO E EXTORSÃO ................................................................................................................................................................ 33
13. “SEQÜESTRO” .......................................................................................................................................................................... 37
14 E 15. CRIMES SEXUAIS ............................................................................................................................................................... 39
16. SEGURANÇA PÚBLICA .............................................................................................................................................................. 44
17 E 18. DROGAS E CRIME ORGANIZADO.......................................................................................................................................... 45
19. ESTATUTO DO DESARMAMENTO ............................................................................................................................................... 50
20. VIOLÊNCIA URBANA ................................................................................................................................................................. 52
21 E 22. CRIMES DE FALSO ............................................................................................................................................................. 53
23. CORRUPÇÃO ............................................................................................................................................................................ 56
24. RESISTÊNCIA E DESOBEDIÊNCIA ............................................................................................................................................... 60
25. O CURSO DE DIREITO PENAL .................................................................................................................................................... 62
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VIOlêncIa E cRImEs uRbanOs
O presente curso da disciplina Violência e Crimes Urbanos tem o objetivo de apresentar não só o sistema 
punitivo, mas também de demonstrar que sua estruturação é fruto de determinadas escolhas sociais.
Para isso, parte-se dos conhecimentos angariados no semestre anterior na disciplina Direito Penal Geral 
para se desenvolver dita análise. Novamente estruturou-se o curso em blocos de modo a propiciar a construção 
de um raciocínio lógico por parte do aluno, privilegiando-se a lógica apresentada pelo Código Penal entrecorta-
da por crimes que são de fundamental importância na compreensão da criminalidade urbana.
Perceba-se que não se trata meramente de um curso sobre a parte especial do Código Penal. Adotou-se o 
desafio proposto pelo nome da disciplina . E, um curso sobre Violência e Crimes Urbanos não se podia deixar 
de direcionar um aento olhar à questão da Segurança Pública.
Na análise dos crimes não se esquecerá da figura do bem jurídico, cuja correta compreensão permite a 
delimitação do alcance do Direito Penal, bem como das incriminações a ele inerentes.
Entretanto, o curso não está direcionado à exclusiva lógica do Código Penal, o que permite subversões que 
facilitam o esclarecimento das intensões e contradições do legislador na formação do estatuto punitivo. 
Necessária ressalva será feita numa aula específica que abordará o tema dos Juizados Especiais Criminais, 
onde o conteúdo específico será mais próximo do processo penal.
Pretende-se utilizar o mesmo artifício da disciplina Direito Penal Geral, qual seja, entremear as aulas que 
têm conteúdo primário referentes ao Direito Penal com noções de Processo Penal. 
Novamente, a metodologia utilizada será aquela adotada pela escola de Direito da Fundação Getúlio 
Vargas – Rio, com ênfase no método participativo. Será necessária a leitura prévia da bibliografia básica encami-
nhada para cada aula. Tal leitura será fornecida ao aluno no início do curso. A bibliografia complementar será 
importante como forma de enriquecer o conteúdo ministrado nas aulas, devendo a leitura de, pelo menos, um 
dos livros nela indicados ser realizada.
A avaliação será feita por meio da realização de duas provas escritas e dissertativas, privilegiando-se os casos 
concretos, valendo 10,0 (dez pontos) cada uma delas.
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1. inTroDuÇÃo Ào curso
O curso que ora se apresenta versa, ao contrário do que poderia parecer, e como já explicitado na sua justi-
ficativa, muito mais do que um estudo da parte especial do Código Penal. O próprio título da disciplina, “Vio-
lância e crimes urbanos”, denuncia o passo além que espera ser dado ao longo do semestre, não se esquecendo 
do caráter de base que, simultaneamente, reveste este caminho. Com isso, uma série de mitos pretende ser, senão 
derrubada, ao menos discutida. E nada melhor para iniciar-se o curso do que um olhar reflexivo. 
Uma suposta identidade brasileira é propagandeada a partir da utilização de signos como o futebol, o car-
naval e outras questões que, em tese, designam uma sociedade alegre, festiva, criativa e pacífica. E nesse ponto a 
pergunta se insere: será a sociedade brasileira pacífica? Ou somos por demais violentos?
Ao se tratar de violência e crimes urbanos, deve ser esse o primeiro questionamento. O texto selecionado é 
o da filósofa Marilena Chauí. É de se notar que o mesmo foi escrito dentro de uma determinada circunstância, 
qual seja, em face das críticas que foram feitas à uma declaração da ministra da Secretaria Especial de Políticas 
de Promoção de Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, e endereçado ao sítio eletrônico do Partido dos Trabalhado-
res. Claro que a leitura deve levar tais pontos em consideração, mas isso em nada deslegitima a discussão que é 
levantada, tampouco os argumentos considerados. Isso não significa que concorde-se ou discorde-se, de plano, 
com o texto, mas sim com a problemática por ele suscitada.
BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:
CHAUÍ, Marilena. Contra aviolência. Encontrado em http://seaf-filosofia.blogspot.com/2007/04/contra-vio-
lncia-por-marilena-chaui.html. Acesso em 01/07/2007.
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2. PolÍTica criminal, PolÍTica e PolÍcia
Muitos são os autores que falam sobre política criminal. Segundo Fragoso1, política 
criminal “é a atividade que tem por fim a pesquisa dos meios mais adequados para o controle 
da criminalidade valendo-se dos resultados que proporciona a Criminologia, inclusive através 
da análise e crítica do sistema punitivo vigente”
Ocorre que uma análise legislativa mais detida talvez suscite dúvidas em face dessa definição. 
Por isso, desde logo, coloca-se o questionamento: existe uma política criminal definida no Brasil? 
E tal questionamento não é tão simples quanto se parece. Isto porque o próprio signifi-
cado do termo política pode e deve ser perquirido. Vive-se um momento em que o consenso 
parece operar e a noção de política como arte do possível imperar. De outro lado, a recor-
rência ao policialesco aparece frequentemente ligada a situações exclusivamente de repressão 
das forças oficiais.
Em face do texto que é sugerido necessária se faz a confrontação entre as noções ditas tra-
dicionais desses termos, política, polícia e política criminal, como forma de responder-se não só 
ao primeiro questionamento proposto, acerca da existência de uma política criminal no Brasil, 
mas também a um segundo: em que termos é possível a existência de uma política criminal.
É de se notar que isto pode levar ao confronto de estruturas como a própria democracia 
representativa, talvez nem tão democrática assim, e à organização do poder em nosso país. 
CASO:
Um esquema criminoso, comandado por integrantes da elite brasileira, começou a ser 
desvendado pela Polícia Federal na última sexta-feira, 13 de abril. A venda de sentenças judi-
ciais a favor da Máfia dos Bingos e o tráfico de influência levaram à prisão de empresários, ad-
vogados, policiais civis e federais, magistrados, além da acusação de corrupção supostamente 
feita por um ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e por deputados e senadores. Não 
é a primeira vez que brasileiros de classe alta são presos. Mesmo assim, na visão da doutora 
em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) Laura Frade, nossa sociedade ainda custa 
a aceitar que o rico seja capaz de praticar crimes e essa postura se reflete na forma como o 
Congresso Nacional lida com a questão da criminalidade.
“O combate à criminalidade é uma questão de revanche no Brasil: acontece alguma 
coisa que fira a elite, então se elabora um projeto para agravar as penas e punir o pobre”, 
disse a especialista em entrevista à UnB Agência. Laura acaba de concluir um levantamento 
mostrando que das 646 proposições parlamentares relacionadas ao crime apresentadas entre 
2003 e o começo deste ano, quase a totalidade destinava-se a agravar penas e somente duas 
relacionavam-se ao colarinho branco. 
Ironicamente, na legislatura que ficou conhecida como a pior da história nacional, pou-
co se falou em combate à corrupção. “Esse Congresso, que deveria ter uma percepção de si 
como criminoso em certo aspecto, pela quantidade gigantesca de acusações recebidas, acha 
que o crime está lá fora”, denuncia. 
O fato de, na nossa sociedade, pairar a idéia de que o “rico não é criminoso e o que ele 
faz é compreensível e desculpável”, na sua avaliação, provoca a ruptura da coesão social. “O 
brasileiro não tem mais uma visão de povo como nação, está dividido entre rico e pobre, e isso 
está na base da criminalidade”, acredita. Perceber que essas representações estão no cerne da 
1 FRaGOsO, Heleno cláudio. 
Lições de Direito Penal. Parte 
Geral. ed. rev por Fernando 
Fragoso – Rio de Janeiro: 
Forense, 2004, p. 23.
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elaboração das leis, para ela, é o primeiro passo para contornar o quadro. “Precisamos perceber que os parlamen-
tares criam penas para punir os pobres, atuam de maneira ineficaz e estimulam a pobreza política, perpetuando a 
idéia de que não somos capazes de mudar a realidade”, defende. 
Confira abaixo as opiniões da pesquisadora da UnB:
UnB AGÊNCIA - De 2003 ao início deste ano, o Congresso apresentou 646 propostas relacionadas ao 
crime. Quase todas eram destinadas a agravar penas, regimes e restrições e só duas eram voltadas para crimes 
do colarinho branco. Na sua avaliação, o que esses números sugerem?
LAURA FRADE – Na prática, as leis são feitas para prender pobres e endurecer a vida deles e afrouxar a dos 
ricos. Na fala dos parlamentares, há muitas visões humanas e positivas a respeito da criminalidade. Mas, quando 
se faz o mapeamento das proposições da legislatura passada, vemos que apenas 20 eram voltadas para melhorar as 
condições do preso e realizar a socialização. O fato de ter apenas duas proposições relacionadas ao colarinho branco 
mostra que algo leva o parlamentar a endurecer só para o pobre. 
UnB AGÊNCIA – O Congresso protege a elite?
FRADE – Ele se identifica com a elite e alivia para ela. A idéia de que o rico protege o rico é muito clara, embora 
não seja uma relação direta. Existe uma visão de que o criminoso não faz parte da classe alta. Os parlamentares associam 
o crime com a baixa instrução, por isso, é difícil considerar que um juiz seja bandido. Se dentro de mim, acredito que o 
criminoso tem pouca educação, como que eu posso correlacionar o crime com alguém que tem uma formação superior?
UnB AGÊNCIA - Nesses quatro anos, o Congresso passou por seis CPIs e absolveu 12 dos 19 parla-
mentares incriminados, houve estratégias de deputados e senadores para burlarem cassações e propostas de 
aumento do próprio salário. Esses fatos reforçam a idéia de impunidade e privilégio entre a elite?
FRADE – Essa foi a legislatura da qual mais se teve notícia de corrupção e de falta de punição. O Congresso 
mostrou sua sombra. Historicamente, isso sempre aconteceu, mas nessa legislatura o volume foi extraordinário. Esse 
Congresso, que deveria ter uma percepção de si como criminoso em certo aspecto, pela quantidade gigantesca de 
acusações recebidas, acha que o crime está lá fora. Pouco se falou a respeito da corrupção, praticamente nenhum 
projeto trata desse assunto. Mas o Legislativo está simplesmente multiplicando um paradigma que prevalece na 
nossa sociedade. O brasileiro acredita que o rico não é criminoso, que o que ele faz é compreensível e desculpável. A 
ação da Polícia Federal no sentido de ir contra a elite é uma forma de mudar esse padrão de comportamento.
UnB AGÊNCIA - Inquérito da Polícia Federal que deu origem à Operação Furacão mostra a tentativa 
da Máfia dos Bingos de fazer lobby no Congresso Nacional para conseguir aprovação de projetos de seu inte-
resse. Como coibir essa prática?
FRADE – O lobby, enquanto forma de participação social, é legítimo. Quanto mais a sociedade for para o 
Legislativo e se apropriar dessa ferramenta de participação, melhor. O problema é que, no Brasil, se confunde lobby 
com crime. Tudo o que se faz indevidamente e que contraria o código penal é crime. Mas, no nosso país, quando a 
elite tenta agir a favor de criminosos no Congresso, a gente não chama de bandido, dizemos que eles fazem lobby. 
É preciso regular essa atividade no país e existe há muitos anos um projeto de lei nesse sentido tramitando no Con-
gresso. O problema é definir quem pode ser lobista sem tirar o direito de todos de participação popular.
UnB AGÊNCIA - Também segundo a Polícia Federal, um ministro do Superior Tribunal de Justiça pode 
estar no centro do esquema de comercialização de sentenças a favor de bingueiros e bicheiros. Quais mecanis-
mos legais para combater o tráfico de influência e como garantir a punição de pessoas ligadas ao Judiciário?
FRADE – Há leis em quantidades industriais no Brasil. O problema está na aplicação. Quando o Judiciário, 
poderresponsável pela aplicação da lei, está contaminado, precisamos da lisura dos outros órgãos para garantir que 
o mal seja exterminado. Em todo lugar, tem gente que não atua bem profissionalmente e, no sistema jurídico, não é 
diferente. Não precisamos ter deuses no Judiciário, precisamos de um controle mais sério sobre a atuação dele. 
UnB AGÊNCIA – A impunidade impera em muitos casos no país, principalmente, entre a elite. A se-
nhora tem uma expectativa positiva em relação à punição dos acusados da Máfia dos Bingos?
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FRADE – Brasileiro, se não tiver uma visão positiva, é melhor se atirar da sacada (risos). Minha expectativa 
é positiva porque acredito que podemos mudar as imagens mentais. É importante para isso que o povo veja coisas 
novas. Quando Lula assumiu o governo, foi um momento muito interessante porque, pela primeira vez, um menino 
pobre viu alguém que tinha sido pobre como ele chegar ao poder. Não estou discutindo partido político, estou fa-
lando de novas imagens. Tem um ditado que diz: “se você acha que pode, pode mesmo; se você acha que não pode, 
tem razão”. Então, essa imagem da Polícia Federal prendendo ministros de tribunais é uma possibilidade nova. Isso 
leva o brasileiro a pensar que as coisas estão mudando. 
UnB AGÊNCIA - Em 1997, um relatório do governo dos Estados Unidos afirmou que a corrupção era 
endêmica no território brasileiro. Na ocasião, o Brasil se comprometeu a criar medidas para combater a lava-
gem de dinheiro. Dez anos depois, a corrupção ainda ocupa grande espaço no nosso noticiário. 
FRADE – Ninguém acorda de manhã planejando como transformar o Brasil num país horroroso. Falta von-
tade política para combater a corrupção. Vários parlamentares mencionam isso. No fundo, a população também 
percebe que, por mais esforço ou interesse que o parlamentar tenha, ele encontra muita dificuldade. A forma como 
o processo legislativo é elaborado e a postura do Executivo dificultam. No Brasil, o Executivo, em conjunto com o 
colégio de líderes, forma a agenda do Congresso. Isso faz com que o Legislativo também não tenha tanta liberdade 
para pautar o que deseja. Quando o Executivo não quer que algo não seja decidido, ele simplesmente não se mexe. 
UnB AGÊNCIA - Depois de estudar por dois anos o que o Congresso brasileiro pensa sobre a crimina-
lidade, é possível dizer que o combate ao crime é uma prioridade entre nossos parlamentares? 
FRADE – Não, essa não é uma prioridade. Apenas 7% das matérias do Legislativo tratam do tema. O com-
bate à criminalidade é uma questão de revanche no Brasil: acontece alguma coisa que fira a elite, então se elabora 
um projeto para agravar as penas e punir o pobre. O problema nisso é que estamos criando duas classes de cidadãos 
no país, estamos dissolvendo a coesão social. Todas as vezes que se tem um afrouxamento da coesão social, criamos 
problemas sociológicos importantes, como é o caso do PCC em São Paulo. O que devemos enfrentar não é só a cri-
minalidade objetiva, mas o que está acontecendo com a sociedade para que a criminalidade tenha crescido tanto. 
UnB AGÊNCIA – O que está acontecendo na nossa sociedade?
FRADE – O brasileiro não tem mais uma visão de povo como nação, está dividido entre rico e pobre, e isso 
está na base da criminalidade. O economista indiano que venceu o prêmio Nobel (Amartya Sem) diz que quando 
geramos uma diferença tão grande na sociedade ao ponto de alguns não terem possibilidade de participação, exclu-
ímos uma massa gigantesca de pessoas, que nunca mais na história do universo vai existir. Dessa forma, a sociedade 
perde para sempre. A noção da coesão social vem da percepção de que cada um tem algo absolutamente original, 
importante e fundamental para acrescentar ao todo. 
UnB AGÊNCIA – O que levou a sociedade ficar tão dividida?
FRADE – No Brasil, existe uma relação profunda entre a elite e o Estado. Desde o Brasil colônia, nossa terra 
foi fatiada e dividida e os donos passaram a decidir a respeito dela. Nossa história, ajudou a formar o psiquismo 
coletivo e nossas próprias imagens sociológicas. É importante notar que essas representações estão como pano de 
fundo da elaboração das leis. Precisamos perceber que os parlamentares criam penas para punir os pobres, atuam de 
maneira ineficaz e estimulam a pobreza política, perpetuando a idéia de que não somos capazes de mudar a realida-
de. A gente precisa revisar esses paradigmas se quisermos caminhar em direção a algo melhor. E o primeiro passo é 
perceber que essas imagens existem.
Retirado de http://www.unb.br/acs/entrevistas/tv0407-04.htm. Acesso em 01/07/2007.
BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA
RANCIÈRE, Jacques. O dissenso. In A Crise da Razão. Org. Adauto Novaes. São Paulo: Companhia das 
Letras. 1999, p. 367 – 382.
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3 e 4. HomicÍDio
INTRODUÇÃO
A tutela exercida a partir do artigo 121 do CP será realizada como foco na figura do bem jurídico. De extre-
ma importância, ressaltada desde o estudo da parte geral, é a figura do bem jurídico, representada pelos valores 
e interesses mais caros ao corpo social a ponto de determinadas formas de lesão ou ameaça de lesão constituírem 
infrações penais.
Como não poderia deixar de ser, dentro de uma escala axiológica, a tutela penal é iniciada pelo bem jurí-
dico vida, por motivos que dispensam maiores comentários.
A vida, para o Direito Penal, é iniciada com a nidificação, que ocorre quando o óvulo fecundado adere à 
parede do endométrio. Entretanto, a tutela penal da vida, apesar de ser iniciada desde então, tem em seu pri-
meiro crime o de homicídio.
O homicídio é o crime básico para a compreensão de todos os outros. É o modelo a partir do qual os outros 
tipos penais foram estruturados, ressalvando-se desde já que sua tutela é realizada a partir do início do parto, seja 
com as chamadas contrações expulsivas, seja com o início da cirurgia de cesariana.
E por óbvio, a consumação deste crime se dá com o fim da vida. Apesar de aparentemente simples, a deter-
minação do momento da morte, juridicamente, guarda alguns contornos em princípio desconhecidos. 
Isto porque o Direito brasileiro deixou de considerar a paralisação das trocas oxi-carbônicas como critério 
para determinação do momento da morte. Desde a edição da Lei n.º 9434/97, a chamada Lei dos Transplantes, 
o artigo 3º deste diploma legal passou a determinar como critério para a morte a chamada morte encefálica.
O respeito à vida humana é condição básica da vida em sociedade, guardando sua tutela algumas peculia-
ridades.
É de se notar que os crimes dolosos contra a vida, o homicídio incluído, são de competência de julgamento 
do Tribunal o Júri, fazendo com que a decisão processual seja dada não por um juiz togado, mas sim pelos sete 
juízes leigos componentes do conselho de sentença.
É uma forma de garantir-se que o indivíduo que pratica um crime desta natureza seja julgado pelos seus 
pares.
Com isso, torna-se imprescindível a análise da conduta para que os elementos do homicídio sejam anali-
sados, mas não só isso.
Isto porque, a vida faz se presente através, também do medo que os seres humanos têm da morte. E nota-se 
na obra de alguns autores da Teoria Política que o Estado incentiva a criação e propagação desse medo, seja na 
sua formação seja na sua manutenção.
Michel Foucault, nas primeiras linhas de “Vigiar e Punir”, descreve uma cruel execução ocorrida no século 
XVIII na qual um sujeito é dilacerado em praça pública. Na obra de Hobbes, a formação do Estado moderno 
se dá através do medo. Mas, obviamente, nos dias atuais, o medo se manifesta, o Estado dele se apropria, mas 
de maneiras distintas.
O desafio está em identificar, inicialmente, até que ponto o Estado hobbesiano se faz presente. Dado este 
passo, cabe a percepção das formas através das quais o medo da morte é manipulado pelo Estado, e as conseqü-ências disso nos dias atuais.
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CASO
Júri condena Suzane, Daniel e Cristian por morte do casal Richthofen
da Folha Online
Terminou na madrugada deste sábado o julgamento dos três acusados de planejar e matar o casal Manfred 
e Marísia von Richthofen, em São Paulo, há quase quatro anos. Suzane --filha das vítimas-- e os irmãos Daniel e 
Cristian Cravinhos foram condenados. O júri havia começado na última segunda-feira (17), no fórum da Barra 
Funda (zona oeste de São Paulo).
Suzane e o então namorado, Daniel, foram condenados a 39 anos de reclusão e seis meses de detenção. 
Cristian pegou 38 anos de reclusão e seis meses de detenção pelo crime. 
Cabe recurso, mas os réus não poderão aguardar em liberdade. No Brasil, o tempo máximo de prisão é de 
30 anos.
O júri, composto por quatro homens e três mulheres, decidiu pela condenação --e quase absolveram Su-
zane pela morte do pai. A sentença foi estabelecida pelo juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1º Tribunal 
do Júri, e lida por volta das 2h.
O casal foi assassinado com golpes de barra de ferro em outubro de 2002, enquanto dormia, em casa, no 
Brooklin (zona sul de São Paulo).
Durante os interrogatórios, Suzane disse à Justiça ter sido influenciada pelo então namorado, Daniel, a 
participar do crime. Os irmãos assumiram a autoria das mortes, mas acusaram a jovem de ser a mentora.
Nenhum dos réus poderá ser submetido a novo júri, pois as penas foram inferiores a 20 anos por homicídio 
praticado. Pela lei, condenados a penas superiores a 20 anos em júri popular têm direito a um novo julgamento.
Sentença
Suzane, 22, Daniel, 25, e Cristian, 30, foram condenados por duplo homicídio qualificado por motivo 
torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas, além de fraude processual --porque alteraram a cena 
do crime. Cristian ainda foi condenado por furto.
Para Daniel, a pena-base foi de 16 anos de prisão, mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes. Nos 
dois casos, foram diminuídos seis meses por conta da confissão. Ele recebeu pena de seis meses e dez dias-multa 
--cujo valor não foi divulgado-- pela fraude.
Para Cristian, a pena-base foi de 15 anos, mais 4 anos pelos agravantes, também para cada uma das mortes. 
Também foram diminuídos seis meses, em cada um dos homicídios, pela confissão. Ele foi condenado ainda a um 
ano de reclusão e pagamento de dez dias-multa pelo furto; e a seis meses de detenção e dez dias-multa --fixada no 
valor mínimo legal de 1/30 do salário mínimo vigente no país à época do crime, corrigido até o pagamento.
Para Suzane, a pena-base foi de 16 anos, mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes também. 
Também neste caso, foram diminuídos seis meses de cada morte, pois ela tinha menos de 21 anos na época do 
crime. Ela foi condenada ainda a seis meses e dez dias-multa, pela fraude.
A Promotoria defendia uma pena igual para os réus --25 anos por homicídio, o que totalizaria 50 anos 
para cada um.
Suzane e os irmãos Cravinhos poderão ser beneficiados com a progressão de regime e, com isso, cumprir 
1/6 da pena. Se isso ocorrer, eles devem ficar presos em regime fechado só por quatro anos --já cumpriram cerca 
de três anos. O benefício é um entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) que, em fevereiro último, 
declarou inconstitucional norma da Lei de Crimes Hediondos que vetava a progressão da pena.
Porém, se a Justiça entender que os réus não têm direito ao benefício, eles poderão pedir liberdade condi-
cional após 2/3 da pena --o que corresponde a cerca de 26 anos.
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Quase absolvida
Os jurados quase absolveram Suzane pela morte do pai. Em dois quesitos, eles responderam que a jovem 
matou o pai coagida por Daniel. Ela só não foi absolvida porque, no terceiro quesito, os jurados entenderam 
que ela poderia ter resistido à coação.
O mesmo não ocorreu quanto à morte da mãe, pela qual ela foi considerada inteiramente responsável.
Acusação e defesa
Considerado o mais esperado do ano em São Paulo, o júri havia começado na segunda-feira. O último dia, 
nesta sexta-feira, foi marcado pelos debates da acusação e defesa.
As acusações da Promotoria fizeram Daniel chorar compulsivamente. Ele foi abraçado por Cristian, embo-
ra ambos estivessem algemados. Suzane acompanhou a exposição com a cabeça baixa e não esboçou nenhuma 
reação. 
O advogado Geraldo Jabur, um dos defensores dos irmãos Cravinhos, causou espanto e risos na platéia. 
Primeiro, ele afirmou que Suzane é “meio parecida” com Bia Falcão, vilã interpretada por Fernanda Montenegro 
na última novela da Rede Globo, a “Belíssima”. Depois, ele comparou o namoro de Daniel e Suzane, ao qual os 
pais dela se opunham, ao relacionamento entre os personagens Safira e Pascoal, da mesma novela.
A defesa de Suzane reafirmou a impressão de que, em determinado grau, buscou apoio no preconceito 
social para convencer os jurados de que a “menina milionária” --que vivia isolada em uma atmosfera de confor-
to-- foi dominada e convencida pelo então namorado, Daniel, a participar da morte dos pais.
Segundo a tese, Daniel usou seu envolvimento sexual com a jovem e o uso de drogas para convencê-la 
a participar do crime. A defesa de Suzane disse ainda que os dois irmãos planejaram matar os Richthofen por 
interesse financeiro, em busca de conforto. “Suzane não tinha motivo para cometer o crime”, disse o advogado 
Mauro Nacif.
Júri
Os réus foram interrogados no primeiro dia do júri. Na ocasião, Cristian contrariou a versão apresentada 
durante o inquérito policial e negou ter golpeado Marísia até a morte. Disse que, no momento em que avançava 
sobre a vítima, não conseguiu agir e recuou, ficando de pé, ao lado de uma janela. Segundo o relato, o irmão, 
Daniel, havia matado, sozinho, Manfred e Marísia.
A reviravolta ocorreu na quarta (19), após os depoimentos dos informantes e das testemunhas do processo, 
quando Cristian decidiu falar novamente à Justiça e desmentiu as declarações dadas inicialmente. Ele responsa-
bilizou Suzane por ter planejado o crime.
Cristian mudou a versão e assumiu ter participado do crime horas depois de a mãe, Nadja Cravinhos de 
Paula e Silva, prestar um depoimento emocionado. “Eles fizeram uma coisa muito grave, mas estão arrependi-
dos. A Justiça é necessária, dói, mas é necessária. Mas cada um tem que pagar pelo que fez, e não pelo que não 
fez”, disse Nadja.
O quarto dia do júri, na quinta-feira (20), foi destinado à leitura das peças processuais solicitadas pelo 
Ministério Público e pelas defesas dos réus. Foram lidos depoimentos prestados pelas testemunhas do caso ain-
da na fase processual e exibidas a filmagem da reconstituição e uma série de reportagens acerca do crime e dos 
depoimentos dados pelos acusados.
Logo que as reconstituições começaram a ser apresentadas, Daniel começou a chorar. Depois, pediu para 
deixar o plenário, e foi seguido pelo irmão, Cristian. Suzane saiu duas vezes rapidamente, e uma terceira, per-
manecendo ausente até o final da sessão.
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Adiamento
O julgamento deveria ter ocorrido em junho, mas a sessão foi adiada depois que os advogados de Suzane 
abandonaram o plenário, antes da instauração do júri, em protesto contra a decisão do juiz que presidia a sessão, 
Alberto Anderson Filho, de ignorar a ausência de uma testemunha da defesa e prosseguir com os trabalhos.
Já os advogados dos irmãos Cravinhos sequer compareceram ao tribunal. Eles alegaram cerceamento da 
defesa, pois não haviam conseguido encontrar-se com os clientes na semana anterior à data.
Nenhum dos réus poderá ser submetido a novo júri, pois as penas foram inferiores a 20 anos por ho-
micídio praticado. Pela lei, condenados a penas superiores a 20 anos em júri popular têm direito a um novo 
julgamento.
Colaboraram GABRIELA MANZINIe TATHIANA BARBAR, da Folha Online, e LÍVIA MARRA, edi-
tora de Cotidiano da Folha Online em http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u124232.shtml
JURISPRUDÊNCIA
“HABEAS CORPUS” - CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DE CRIME HEDIONDO OU DE DELI-
TO A ESTE EQUIPARADO - CUMPRIMENTO DA PENA EM REGIME INTEGRALMENTE FECHA-
DO - PEDIDO INDEFERIDO. - O réu - que foi condenado pela prática de crime hediondo ou de delito a 
este equiparado - não tem o direito de cumprir a pena em regime de execução progressiva, pois a sanção penal 
imposta a tais delitos deverá ser cumprida em regime integralmente fechado, por efeito de norma legal (Lei nº 
8.072/90, art. 2º, § 1º), cuja constitucionalidade foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. Precedentes. 
Observância, no caso, do magistério jurisprudencial desta Suprema Corte, até que sobrevenha eventual revisão 
da diretriz ainda prevalecente.
(HC 86839/RJ - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 07/02/2006 Órgão Julgador: Segunda 
Turma - Publicação: DJ 28-04-2006 – STF)
CRIME HEDIONDO (HOMICÍDIO QUALIFICADO). CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATI-
VA DE LIBERDADE (REGIME FECHADO). SENTENÇA (TRÂNSITO EM JULGADO). EXECUÇÃO 
(OBJETIVO). PROGRESSÃO (POSSIBILIDADE).
1. Um dos objetivos da execução é, sem dúvida, proporcionar condições para a integração social do conde-
nado. A história da humanidade sempre teve compromisso com a reeducação do condenado e com sua reinser-
ção social. Por isso a regra da execução penal deverá ser a da forma progressiva, que impõe a transferência para 
regime menos rigoroso. A lei que dispõe sobre os crimes hediondos está na contramão da história.
2. Tendo transitado em julgado a sentença penal que simplesmente se referiu a regime fechado, isto é, deixou 
de explicitar o porquê de tal estabelecimento, é de bom aviso a compreensão de que o réu faz jus à forma progres-
siva, ainda que se trate de crime cuja pena, segundo a lei, há de ser integralmente cumprida em regime fechado.
3. Impõe-se se assegurem a eficácia e a autoridade da coisa julgada.
4. Ordem de habeas corpus concedida a fim de se examinarem, na origem, os requisitos da progressão.
(HC 36.630/RJ, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA TURMA, julgado em 18.11.2004, DJ 29.05.2006 
p. 294 - STJ)
PENAL. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 302 DA LEI N.º 9.503/97. PENA DE SUSPENSÃO DE 
HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR. ARTIGO 293, DO CÓDIGO DE TRÂN-
SITO BRASILEIRO. QUANTUM FIXADO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. AUSÊNCIA DE FUNDA-
MENTAÇÃO. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL.
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I - Inexistindo circunstâncias desfavoráveis ao condenado, motivo pelo qual a pena privativa de liberdade 
foi fixada em seu mínimo legal, deve a suspensão de habilitação para dirigir veículo automotor ser fixada, tam-
bém, no patamar mínimo, nos moldes da pena corporal. (Precedente do STJ).
II - Dada a duplicidade da incidência da suspensão (ex vi art. 302 da Lei 9.503/97 e art. 47, inciso III do 
Código Penal), a pena privativa de liberdade é de ser, in casu, substituída por uma outra restritiva de direitos 
diversa da aplicada.
Recurso provido.
Habeas corpus concedido de ofício.
(REsp 737.306/RO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 06.10.2005, DJ 
28.11.2005 p. 331 - STJ)
QUESTÕES:
I – Por volta das 15 horas de uma sexta-feira, na Avenida das Américas, na qual há fiscalização eletrônica 
de velocidade, cujo limite é de 80 km/h, José conduzindo seu carro à velocidade de 100 km/h, vem a atropelar 
Eva que, sem observar a situação de trânsito e fora da faixa de pedestres, imprudentemente iniciara a travessia, 
correndo. José ao ser surpreendido pela conduta de Eva, aciona rapidamente os freios de seu carro a fim de 
evitar o resultado lesivo, vindo a pará-lo bruscamente sem, no entanto, evitar a colisão do mesmo com o corpo 
da vítima que é lançado ao solo. Diante da situação, José presta-lhe imediato socorro, aguardando a chegada 
das autoridades policiais, bem como da ambulância do corpo de bombeiros. Não obstante o pronto e imediato 
socorro realizado por José, a vítima vem a falecer horas mais tarde em decorrência das lesões sofridas. Preso em 
flagrante delito e conduzido à Delegacia Policial, o mesmo é acusado de ter incorrido na conduta prevista no 
art. 302 da lei 9.503/97 (homicídio culposo na direção de veículo automotor). Analise a decretação da prisão 
de José em flagrante delito e apresente sua tese defensiva acerca da tipificação imposta à sua conduta. (OAB-RJ, 
29º Exame de ordem – 2ª fase)
II - Paulo, dirigindo veículo de propriedade de seu genitor, imprimindo excesso de velocidade, acaba por 
invadir calçada por onde passava pedestre, o qual em face do atropelamento vem a falecer no hospital, para onde 
foi levado por um transeunte, eis que Paulo fugiu do local. Qual o enquadramento adequado para a conduta de 
Paulo? (OAB-RJ, 20º Exame de ordem – 2ª fase)
BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:
HARDT, Michael e NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 
HOBBES, Thomas. Do cidadão. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2000, p. 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, v. 2. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 27-110.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, v. 2. 1ª ed. Niterói: Impetus, 2005, p. 153-219. 
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial, v. 2. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002, p. 40-63.
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5. aborTo
INTRODUÇÃO
Questão polêmica envolve sempre a discussão acerca do aborto. Isto porque a análise da tutela penal do abor-
to acaba por vezes sendo desviada para discussões que não necessariamente possuem cunho jurídico.
Resta óbvio que o tema aborto envolve uma sorte de questões de cunho moral, social e até mesmo religioso 
que dão ensejo a controvérsias sem fim. Ocorre que, o objetivo que ora se coloca não é o de se discutir o tema 
aborto, livremente. Pretende-se abordar a incriminação do aborto, o que traz contornos distintos.
O aborto é o crime que primeiro tutela a vida humana. Ocorre que, ao contrário do que se pensa, a vida 
humana, para o Direito Penal, inicia-se com a nidificação, o que permite que medicamentos como a “pílula do dia 
seguinte” e o DIU não sejam considerados abortivos.
Por óbvio, a tutela penal do aborto se encerra quando começa a do homicídio, ou seja, com o início das con-
trações expulsivas ou da cirurgia cesariana.
Assim, deve-se refletir acerca da possibilidade e conveniência dessa incriminação, que carrega consigo reflexos 
sociais, em face do número de mulheres que se auto-lesionam na tentativa de realização do aborto.
Tal reflexão finda por desaguar nos próprios fins da pena, especificamente na possibilidade que se tem de, 
através de uma incriminação, evitar-se a prática de uma conduta. Será que é o Direito Penal o meio eficaz para que 
não exista mais abortos no nosso país?
Além disso, questões como as discutidas na ADPF n.º 54, como o aborto do fato anencéfalo, o que para al-
guns nem aborto constitui, mas sim antecipação terapêutica do parto, acabam por tornar ainda mais vivo o tema.
O que se questiona não é se deve ser aceito ou não o aborto, mas sim se ele deve ou não ser incriminado, o 
que permite que alguém seja contrário ao aborto, mas também seja contrário a sua incriminação.
Assim, a pergunta que aqui se apresenta é a seguinte: é o aborto uma questão de segurança pública ou de 
saúde pública? Tal questionamento se coloca a partir dos índices de mortalidade materna que são colocados a partir 
da prática de intervenções abortivas.
CASO
TJ confirma perda de cargo de promotor condenado por matar mulher
da Folha Online
O Órgão Especial do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo confirmou nesta quarta-feira a perda do cargo 
de promotor do Ministério PúblicoEstadual de Igor Ferreira da Silva, condenado por ter matado sua mulher, 
que estava grávida, em 1998. Ele está foragido desde 2001.
Os desembargadores confirmaram a exoneração de Silva em ação movida pelo próprio Ministério Público, 
que anunciou a decisão no último mês de janeiro, no “Diário Oficial” do Estado.
De acordo com o Ministério Público, a exoneração demorou porque a defesa de Silva recorria da conde-
nação no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal). Uma vez condenado, ele 
perdeu o cargo automaticamente.
Silva está foragido desde 20 de abril de 2001, dias após ter sido condenado pela morte da mulher, Patrícia 
Aggio Longo. O crime ocorreu na madrugada de 4 de junho de 1998, em Atibaia (60 km a norte de São Paulo). 
Grávida, Patrícia foi morta com dois tiros na cabeça, dentro do carro do casal.
Durante o processo, foi realizado um exame de DNA que, oficialmente, comprovou que o filho que Lon-
go esperava não era de Silva, que exigiu na Justiça um novo exame de DNA. Na ocasião, Silva disse que um 
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assaltante teria atirado contra sua mulher. O ex-promotor responde a processo por homicídio qualificado, pois 
não deu chance de defesa à vítima, e por aborto.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u122509.shtml
Vaticano critica ministra de Prodi que relançou pílula abortiva 
da Efe, em Roma
O jornal “L’Osservatore Romano”, do Vaticano, criticou nesta terça-feira a ministra italiana de Saúde, Livia 
Turco, por relançar a pílula abortiva RU 486, que foi proibida na Itália, além de chamar de “desconcertante” a 
“urgência” dos ministros de Romano Prodi em discutir “matérias particularmente delicadas”.
As críticas foram feitas apenas um dia após o jornal da Santa Sé denunciar a atitude da nova ministra da 
Família, Rosy Bindi, que poderá reconhecer as uniões estáveis no país.
Os comentários também acontecem na mesma data em que é votada a legitimidade do governo de Prodi.
Em sua edição de hoje, o “L’Osservatore Romano” afirma que é necessária cautela diante de questões deli-
cadas como os “testes” da pílula RU 486, “remédio que provoca aborto e que representaria uma alternativa mais 
segura à interrupção da gravidez”.
Ao contrário de outros países da União Européia, a venda da RU 486 é proibida na Itália, porém alguns 
centros médicos, como o hospital Santa Ana de Turim, utilizam a medicação “para fins experimentais”.
Na Itália, esse tipo de “teste” --na verdade um esquema legal para poder administrar o remédio às pacien-
tes-- foi vetado em setembro de 2005 pelo ex-ministro da Saúde, Francesco Storace.
No entanto, alguns centros médicos anunciaram que cumpririam os requisitos exigidos para as pesquisas e 
continuariam utilizando o remédio, gerando protestos no Vaticano e uma grande polêmica no país.
Segundo o jornal da Santa Sé, isto é um “homicídio”, pois permitir o uso da pílula “é dar à mulher a pos-
sibilidade de escolher a arma”.
“É desconcertante a urgência com que os novos ministros fazem comentários sobre matérias particular-
mente delicadas”, sobre as quais, seria preciso “sugerir” um pouco de cautela.
A polêmica levantada por algumas declarações dos novos membros do governo fez com que Prodi pedisse 
a seus ministros que evitassem dar opiniões sobre os assuntos de suas pastas e falem apenas quando as decisões 
tiverem sido tomadas.
Sobre a questão da pílula, a nova ministra da Saúde disse que não vê nenhum obstáculo para o uso do RU 
486, embora “deva ser respeitada a lei sobre o aborto” e evitar as pesquisas descontroladas.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u96228.shtml
JURISPRUDÊNCIA
PENAL. HABEAS CORPUS. ABORTO. AUSÊNCIA DE PROVA DA GRAVIDEZ. AÇÃO PENAL 
TRANCADA.
1. No delito capitulado no art. 124 do CP, para instauração da persecução penal, é imprescindível a pro-
va de sua materialidade. O ônus incumbe ao órgão acusador, não sendo suficiente para este mister, a simples 
confissão da acusada. Aborto, diz a medicina, é interrupção da gravidez e, portanto, fundamental, essencial, 
imprescindível o diagnóstico desta como meio de configuração da infração.
2. Ordem concedida para trancar a ação penal.
(HC 11.515/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado em 07.11.2000, DJ 
18.12.2000 p. 243 - STJ)
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PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDI-
NÁRIO. INDEFERIMENTO DE LIMINAR NO WRIT ORIGINÁRIO. MANIFESTA ILEGALIDADE. 
CABIMENTO DE HABEAS CORPUS PERANTE O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INTER-
RUPÇÃO DE GRAVIDEZ. PATOLOGIA CONSIDERADA INCOMPATÍVEL COM A VIDA EXTRA-
UTERINA. ATIPICIDADE DA CONDUTA.
GESTAÇÃO NO TERMO FINAL PARA A REALIZAÇÃO DO PARTO. ORDEM PREJUDICADA.
1. A via do habeas corpus é adequada para pleitear a interrupção de gravidez fora das hipóteses previstas no 
Código Penal (art. 128, incs. I e II), tendo em vista a real ameaça de constrição à liberdade ambulatorial, caso a 
gestante venha a interromper a gravidez sem autorização judicial.
2. Consoante entendimento desta Corte, é admitida a impetração de habeas corpus contra decisão dene-
gatória de liminar em outro writ quando presente flagrante ilegalidade.
3. Não há como desconsiderar a preocupação do legislador ordinário com a proteção e a preservação da 
vida e da saúde psicológica da mulher ao tratar do aborto no Código Penal, mesmo que em detrimento da vida 
de um feto saudável, potencialmente capaz de transformar-se numa pessoa (CP, art. 128, incs. I e II), o que 
impõe reflexões com os olhos voltados para a Constituição Federal, em especial ao princípio da dignidade da 
pessoa humana.
4. Havendo diagnóstico médico definitivo atestando a inviabilidade de vida após o período normal de 
gestação, a indução antecipada do parto não tipifica o crime de aborto, uma vez que a morte do feto é inevitável, 
em decorrência da própria patologia.
5. Contudo, considerando que a gestação da paciente se encontra em estágio avançado, tendo atingido o 
termo final para a realização do parto, deve ser reconhecida a perda de objeto da presente impetração.
6. Ordem prejudicada.
(HC 56.572/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 25.04.2006, 
DJ 15.05.2006 p. 273 - STJ)
HABEAS CORPUS. PENAL. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A PRÁTICA DE ABORTO. 
NASCITURO ACOMETIDO DE ANENCEFALIA. INDEFERIMENTO. APELAÇÃO.
DECISÃO LIMINAR DA RELATORA RATIFICADA PELO COLEGIADO DEFERINDO O PEDI-
DO. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. IDONEIDADE DO WRIT PARA A DEFESA DO NAS-
CITURO.
1. A eventual ocorrência de abortamento fora das hipóteses previstas no Código Penal acarreta a aplicação 
de pena corpórea máxima, irreparável, razão pela qual não há se falar em impropriedade da via eleita, já que, 
como é cediço, o writ se presta justamente a defender o direito de ir e vir, o que, evidentemente, inclui o direito 
à preservação da vida do nascituro.
2. Mesmo tendo a instância de origem se manifestado, formalmente, apenas acerca da decisão liminar, na 
realidade, tendo em conta o caráter inteiramente satisfativo da decisão, sem qualquer possibilidade de retroces-
são de seus efeitos, o que se tem é um exaurimento definitivo do mérito. Afinal, a sentença de morte ao nascitu-
ro, caso fosse levada a cabo, não deixaria nada mais a ser analisado por aquele ou este Tribunal.
3. A legislação penal e a própria Constituição Federal, como é sabido e consabido, tutelam a vida como 
bem maior a ser preservado.
As hipóteses em que se admite atentar contra ela estão elencadas de modo restrito, inadmitindo-se interpre-
tação extensiva, tampouco analogia in malam partem. Há de prevalecer, nesse casos, o princípio da reserva legal.
4. O Legislador eximiu-se de incluir no rol das hipóteses autorizativas do aborto, previstas no art. 128 do 
Código Penal, o caso descrito nos presentes autos. Omáximo que podem fazer os defensores da conduta pro-
posta é lamentar a omissão, mas nunca exigir do Magistrado, intérprete da Lei, que se lhe acrescente mais uma 
hipótese que fora excluída de forma propositada pelo Legislador.
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5. Ordem concedida para reformar a decisão proferida pelo Tribunal a quo, desautorizando o aborto; 
outrossim, pelas peculiaridades do caso, para considerar prejudicada a apelação interposta, porquanto houve, 
efetivamente, manifestação exaustiva e definitiva da Corte Estadual acerca do mérito por ocasião do julgamento 
do agravo regimental.
(HC 32.159/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 17.02.2004, DJ 22.03.2004 
p. 339 - STJ)
QUESTÕES:
I - Se o autor ataca o ventre de mulher grávida, acarretando-lhe: 
a) a expulsão e a posteriori a morte do feto; 
b) lesão corporal gravíssima e o feto sobrevive. 
Pedido:
Estabeleça as possibilidades de adequação típica diante do leque de vertentes doutrinárias e indique a sua 
posição perante a controvérsia. (XXVI Concurso para ingresso na Magistratura do Estado do Rio de Janeiro)
BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:
SARMENTO, Daniel. Legalização do aborto e constituição. In Direitos sexuais e direitos reprodutivos na perspec-
tiva dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: ADVOCACCI, 2005, p. 125 – 193.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, v. 2. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 
156-172.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, v. 2. 1ª ed. Niterói: Impetus, 2005, p. 265-300.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial, v. 2. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002, p. 91-114.
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6. lesÃo corPoral 
INTRODUÇÃO 
A tutela penal do crime em estudo visa abarcar a proteção à incolumidade da pessoa, que não se restringe à 
anatomia ou ao aspecto físico, apenas, mas protegendo, também, a saúde psíquica, mental do indivíduo.
Assim, tem-se que o objeto da tutela penal é a integridade física ou fisiopsíquica (HUNGRIA, Nélson. 
Comentários ao código penal, v.V. Ed. Forense, 4ª ed., 1958 – p. 324). do indivíduo. A inteligência, bem como 
as demais atividades funcionais do cérebro compõem o bem jurídico que se atinge com a prática das lesões cor-
porais, pois correspondem à atividade funcional de um dos órgãos mais importantes do corpo humano, que é 
o cérebro.
É um delito que resulta da aplicação de violência, sendo crime comum, passível de ser praticado por qual-
quer pessoa; tem-se como sujeito passivo qualquer ser humano com vida extra-uterina.
Este crime busca, através da proteção do interesse individual, tutelar um interesse coletivo, que é a manu-
tenção da integridade dos cidadãos, para que estes se conservem capazes de promover o crescimento e desenvol-
vimento da sociedade e do Estado.
A proteção da integridade física é como que um corolário da proteção destinada à vida, guardadas as de-
vidas proporções. É de se notar que, em seus extensos dez parágrafos, o tipo do artigo 129 abarca uma série de 
situações, como a da violência doméstica, recém introduzida, que fazem com que a reprovabilidade destinada 
ao fato seja maior ou menor.
Especial atenção deve ser reservada às hipóteses qualificadas pelo resultado. Isto porque o caput do ar-
tigo 129 abarca a lesão corporal de natureza leve. Esta é determinada por exclusão, em face das lesões grave 
e gravíssima.
A lesão corporal de natureza grave está disciplinada no parágrafo primeiro deste tipo penal, enquanto a 
gravíssima (classificação doutrinária) no segundo. Ambos são crimes qualificados pelo resultado, sendo caracte-
rizados independente do resultado típico ter ocorrido a título de dolo e culpa.
E sempre que uma lesão corporal não for de natureza grave ou gravíssima, será de natureza leve.
Ocorre que o estudo da lesão corporal ganhou nova perspectiva uma vez que o Congresso Nacional, no 
meio de 2006, aprovou uma lei, prontamente conhecida como “Lei Maria da Penha”, que, não só levantou uma 
série de polêmicas e questionamentos, mas também inflamados debates.
É de se ressaltar que referida lei, de número 11.343, não é uma lei de cunho exclusivamente penal, e trata 
de um problema de proporções muitas vezes desconhecidas: a violência doméstica contra a mulher. Assim, 
questiona-se: é razoável uma punição maior à violência contra a mulher do que contra o homem? Isso implica 
em alguma violação à igualdade? 
CASO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA CAPITAL
O Òrgão do Ministério Público, em exercício na Central de Inquéritos, no uso de suas atribuições legais, 
vem oferecer DENÚNCIA contra THIAGO, qualificado às fls. 34; MARCELO, qualificado às fls. 42; e LUIZ 
GUSTAVO, qualificado às fls. 43., todos do inquérito que instrui a presente, atribuindo-lhes a prática do se-
guinte fato delituoso:
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VIOlêncIa E cRImEs uRbanOs
No dia de abril de 2003, na Enseada de Botafogo, por volta da 4:30 hs, no interior de uma embarcação que 
se encontrava ali atracada, os denunciados ofenderam a integridade física de Rodrigo e de Altemir, causando-
lhes as lesões descritas nos laudos de fls. 101 e 82.
Os denunciados participavam de uma festa e envolveram-se em uma briga com outros integrantes da festa. 
As vítimas, ao tentarem apartar os contendores, foram agredidas com socos pelos denunciados.
Como não conseguiram conter os agressores, as vítimas retornaram com a embarcação para a Marina, onde 
Rodrigo foi novamente agredido com socos pelos denunciados, que não gostaram da sua atitude de ter chamado a 
polícia.
Logo em seguida, no interior da Delegacia de Polícia, para onde todos foram levados, os denunciados ofende-
ram com socos o Inspetor de Polícia, que se encontrava de plantão, causando-lhe as lesões descritas às fls. 200.
A agressão contra o inspetor resultou em deformidade permanente, conforme descrito no AECD.
Além de agredir o investigador de plantão, os denunciados se negaram à realização do ato de recolhimento 
pela vítima, mediante a ameaça de nova agressão, consistente na postura violenta por eles adotada. O ato somen-
te foi realizado após a chegada de quatro equipes da CORE.
Para conter a fúria dos denunciados, que estavam acompanhados de mais nove pessoas, que também esta-
vam na referida festa, foi necessário que um dos policiais de palantão efetuasse um disparo de arma de fogo para 
cima e que a Delegada requisitasse doze policiais da CORE.
Assim agindo, conscientes e voluntariamente, estão os denunciados incursos nas penas dos arts. 129, § 2º, 
IV (uma vez), 129, caput (duas vezes) e art. 329, na forma do art. 69, todos do Código Penal.
Requer-se, após o recebimento da denúncia, a citação dos denunciados para responderem aos termos da 
presente, sob pena de revelia, sendo julagada procedente a imputação com a condenação dos mesmos.
As testemunhas abaixo arrolados deverão depor sobre o fato:
1. Geron
2. Altemir
3. Washington
4. Andre
5. Elington
6. Andre
7. Fabio
Rio de Janeiro, de outubro de 2005.
Renata
Promotora de Justiça
JURISPRUDÊNCIA 
PENAL. LESÃO CORPORAL GRAVE. PERDA DE DENTE. FUNDAMENTAÇÃO DO LAUDO.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. POSSIBILIDADE DE TRATAMENTO ODON-
TOLÓGICO. IRRELEVÂNCIA. DEBILIDADE PERMANENTE DA FUNÇÃO MASTIGATÓRIA 
CONFIGURADA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO PARCIALMENTE E, NESSA PARTE, IM-
PROVIDO.
1. Impede o conhecimento do recurso especial a falta de prequestionamento da questão federal.
2. Constatada mediante laudo pericial a debilidade permanente da função mastigatória em razão da perda 
de canino superior esquerdo, é irrelevante, para fins de tipificação penal, a possibilidade de restauração mediante 
tratamento odontológico, pois, para o reconhecimento da gravidade da lesão,não é preciso que ela seja perpétua 
e impassível de tratamento.
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VIOlêncIa E cRImEs uRbanOs
3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.
(REsp 609.059/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 26.04.2005, 
DJ 01.07.2005 p. 598 - STJ)
PENAL - LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA - DOSIMETRIA DA PENA - INCIDÊNCIA DAS 
QUALIFICADORAS ATRELADAS À LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE - IMPOSSIBILIDA-
DE - PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO - REGIME INICIAL SEMI-ABERTO - FUNDAMENTADO.
- É inviável que as qualificadoras atreladas à lesão corporal de natureza grave sejam levadas em conta para 
majorar a pena do paciente, condenado pelo crime de lesão corporal gravíssima (conforme doutrinariamente se 
define o tipo do art. 129, § 2º, do CP), tendo em vista o princípio da consunção.
- No tocante à fixação do regime prisional, o v. acórdão se mostra incensurável. É que, o referido decisum, 
ratificando os argumentos expendidos pelo douto magistrado sentenciante, apenas manteve o regime semi-aber-
to, não exacerbando a situação do paciente. Ademais, o citado regime foi imposto tendo em vista as circunstân-
cias e conseqüências do crime (previsão do art. 59, do CP), encontrando-se, pois, justificado.
- Ordem parcialmente concedida para, afastando a incidência das qualificadoras atreladas à lesão corporal 
de natureza grave, fixar a pena em três anos e seis meses de reclusão - pena-base de três anos pelo crime de lesão 
corporal gravíssima acrescida de seis meses pelas agravantes genéricas do art. 61, II, alíneas “a” e “c”, do Código 
Penal -, mantido o regime inicial semi-aberto.
(HC 30.332/RJ, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUINTA TURMA, julgado em 01.04.2004, DJ 
24.05.2004 p. 305 - STJ)
PENAL. LEGÍTIMA DEFESA. LESÕES CORPORAIS. FATOS QUE CONDUZEM À SUA FORMA 
CULPOSA.
- A legítima defesa não se caracteriza, na forma da conceituação estabelecida no art. 25 do Código Penal, 
se o agente, como na espécie, atinge terceiro, com tiro, presumindo uma possível ameaça de agressão física que 
não se desenhava e muito menos se consumou.
- Comprovado que a intenção do réu não era provocar a lesão, visto como disparou o revólver para baixo, 
em direção ao piso, forçoso é reconhecer a ocorrência da modalidade culposa.
- Ação procedente.
(Apn . 8/DF, Rel. Ministro WILLIAM PATTERSON, CORTE ESPECIAL, julgado em 28.04.1992, DJ 
15.06.1992 p. 9211 - STJ)
QUESTÕES:
I - Antonio, em razão de conduta culposa de José, sofreu lesões corporais graves. Antonio, em virtude 
dessas lesões foi obrigado a submeter-se a intervenção cirúrgica, a qual, além de deixá-lo incapacitado para as 
ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias, determinaram, ainda, ficasse ele com uma perna menor do que 
a outra, condição facilmente constatável por qualquer pessoa. Qual a situação jurídico-penal de José? (OAB-RJ, 
19º Exame de ordem – 2ª fase)
BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:
ZAPATERO, Luís Arroyo. El derecho penal español y la violência de género en la pareja. Revista IBCCRIM Nº 
64 / 2007
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VIOlêncIa E cRImEs uRbanOs
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, v. 2. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 177-201.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, v. 2. 1ª ed. Niterói: Impetus, 2005, p. 301-335.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial, v. 2. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002, p. 118-140.
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7 e 8. crimes conTra a Honra
INTRODUÇÃO 
O Código Penal brasileiro tipifica três espécies de crimes contra a honra, a calúnia, a difamação e a injúria. 
A honra é, portanto, o bem jurídico tutelado. 
Ela pode ser considerada em dois aspectos, um de natureza objetiva, outro de natureza subjetiva. A honra 
objetiva compreende o conceito que a sociedade, como um todo, dispensa ao indivíduo, seu renome, sua repu-
tação. 
Este conceito, esta boa fama, é um bem indispensável à convivência grupal. Nas palavras de Nélson Hun-
gria: “Somos honrados, não por um ditame de moral ou por espontâneo amor à virtude, mas porque a honra, 
como premium virtutis, nos é útil” (HUNGRIA, Nélson. Comentários ao código penal, v.VI. Ed. Forense, 4ª ed., 
1958 – p. 41).
O conceito de honra subjetiva vem a completar o aspecto anterior, compondo um único bem jurídico. Ela cor-
responde ao sentimento que o indivíduo tem a seu respeito, sua dignidade e decoro; é íntimo, próprio, pessoal.
Trata-se de bem jurídico disponível, em que o consentimento do ofendido figura como causa de justifica-
ção supra-legal, desde que este consentimento seja válido, ou seja, proferido e outorgado por um indivíduo que 
tenha a capacidade genérica de entender e querer, de auto-governo.
Justamente por ser a honra bem jurídico disponível é que a legislação brasileira estabelece que se proceda 
mediante queixa, deixando livre a vontade do ofendido na busca da tutela penal. 
E numa época em que a informação circula tão livremente, parece importante estudar-se o tratamento 
jurídico da honra. O que cabe questionar, como muitos autores fazem, é a necessidade de reservar-se à honra o 
status de bem jurídico penal.
Se observarmos com atenção, facilmente perceberemos que as penas reservadas aos crimes contra a hon-
ra não são tão significantes, graves. Com isso há aqueles que defendam, em face do princípio da intervenção 
mínima, a utilização da esfera cível, como, por exemplo, o instituto do dano moral de cunho punitivo, como 
forma suficiente para reprimir-se os ataques contra a honra. Com isso, torna-se fundamental o questionamento: 
é necessária a tutela penal da honra?
CASO
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL
Ref. Proc. n.º: 
MARISA, brasileira, casada, aposentada, portadora da carteira de identidade n.º; MARIANA, brasileira, 
solteira, odontóloga, portadora da carteira de identidade n.º; residentes a Rua , nesta cidade e CAROLINA, 
brasileira, casada, odontóloga, portadora da carteira de identidade n.º, residente a Rua, nesta cidade, vêm ofe-
recer a presente
QUEIXA-CRIME
Em face de PRISCILLA, brasileira, solteira, estudante, portadora da carteira de identidade n.º , residente 
a Rua, nesta cidade; DENISE, brasileira, casada, professora, portadora da carteira de identidade n.º, residente a 
Rua, nesta cidade e ANA LÚCIA, brasileira, divorciada, comerciante, portadora da carteira de identidade n.º, 
residente a Rua , nesta cidade, pelos fatos e fundamentos expostos a seguir:
As querelantes Marisa e Carolina, dirigiram-se à residência ao lado da sua, por volta das 15:30 do dia 
09/10/2005, para reclamar de uma lata de cerveja que havia sido jogada no seu terreno, quando da realização 
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de festa na noite anterior. A partir de então, a querelada Priscilla, que lá se encontrava, sem qualquer motivo 
aparente, começou a disparar ofensas contra as querelantes, chamando Marisa de “velha gorda”, “recalcada” e 
suas filhas Carolina e Mariana de “piranhas”, praticando o crime de injúria. 
O ataque moral se interrompeu, recomeçando por volta das 20:00 do dia 09/10/2005, quando, extenuados 
de tantas ofensas recebidas, as querelantes preferiram recolher-se à sua residência, enquanto os querelados, em 
um bar próximo, continuaram a proferir ofensas, fato que se estendeu até a madrugada do dia 10/10/2005.
Quando se reuniram nesse bar, próximo da casa dos querelantes, as quereladas, junto a mais outras pessoas, 
sempre movidas a generosas doses de cerveja, reiniciaram a série gratuita de impropérios que redunda também 
na presente queixa crime.
É de se notar, que, quando perceberam que as ofensas eram intermináveis as quereladas solicitaram que 
Bruno, marido de Carolina, filmasse os fatos, o que foi feito e instrui a presente queixa crime.
Comose pode comprovar no disco, a querelada Denise praticou o crime de injúria contra Marisa, Mariana 
e Carolina, denominando-as de “bando de piranhas” e contra todos as quereladas, chamando-as de “gentalha”. 
Praticou ainda o crime de difamação ao dizer que Carolina “arrumou um casamento para dar um cala boca na 
barriga”, afirmando que a sua filha não seria do seu marido. Ainda, a querelada Ana Lúcia se referiu à Marisa 
como “piranha gorda” e “vagabunda”, praticando também o delito de injúria.
Desta forma, agindo as quereladas consciente e voluntariamente, infringiram o artigo 140 do Código Pe-
nal, Priscilla 3 (três) vezes, Ana Lúcia 2 (duas) vezes e Denise 2 (duas) vezes, tendo ainda esta última cometido 
o delito de difamação, infringido o artigo 139, na forma do artigo 71, todos do Código Penal.
Isto posto, recebida esta, requer-se a citação das rés para, sob pena de revelia, responderem aos termos da 
presente ação penal que ao final espera ver-se provida, com a conseqüente condenação das mesmas.
Reservam-se as querelantes o direito de formular posteriormente a proposta de transação penal, desde que 
comprovadas as condições estabelecidas no texto legal para a sua concessão.
Requer-se, ainda, a juntada do presente disco de imagens (DVD), no qual consegue-se perceber a presença 
das quereladas e as ofensas por elas proferidas durante a madrugada, bem como insiste-se na representação em 
face dos crimes de ameaça aduzidos no Registro de Ocorrência correspondente ao presente procedimento, re-
querendo que o Ministério Público adote, no caso, as providências de estilo.
Em derradeiro, requer a oitiva das pessoas a seguir arroladas:
1- Christiane 
2- Bruno 
3- Antônio 
4- Rodrigo 
Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 07 de abril de 2006.
JURISPRUDÊNCIA
HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. CALÚNIA. DECADÊNCIA.
INÉPCIA DA DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA. IMUNIDADE JUDICIÁRIA DO ADVOGADO.
PRAZO. REPRESENTAÇÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INEXISTÊNCIA.
1. Não se opera a decadência do direito de ação, tendo o ofendido, na qualidade de membro do Ministério 
Público Estadual, tomado ciência das declarações caluniosas em data anterior a 6 meses da representação ajuizada.
2. Ajustada ao artigo 41 do Código de Processo Penal, enquanto descreve, de forma circunstanciada, as 
condutas típicas atribuídas ao paciente, de forma a permitir-lhe o exercício da ampla defesa, não há falar em 
inépcia da denúncia.
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3. Esta Corte Federal Superior firmou já entendimento no sentido de que a imunidade processual conferi-
da aos advogados (artigos 133 da Constituição Federal e 142, inciso I, do Código Penal), não abrange, em regra, 
o delito de calúnia. Precedentes.
4. Ordem denegada.
(HC 26.523/RJ, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURMA, julgado em 31.05.2005, DJ 
06.02.2006 p. 324 - STJ)
CRIMINAL. RHC. DIFAMAÇÃO CONTRA DESEMBARGADOR. TRANCAMENTO DA AÇÃO 
PENAL. INEXISTÊNCIA DE DOLO. IMPROPRIEDADE DO WRIT. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA 
NÃO EVIDENCIADA DE PLANO. EXCEÇÃO DA VERDADE.
POSSIBILIDADE. APURAÇÃO ACERCA DA VERACIDADE DOS FATOS ATRIBUÍDOS À VÍTI-
MA. FEITO INSTAURADO CONTRA O MAGISTRADO EM PROCESSAMENTO PERANTE ESTA 
CORTE. SOBRESTAMENTO DA AÇÃO PENAL. SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. RE-
CURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
Hipótese na qual é atribuída à paciente a prática de difamação contra Desembargador, por ter enviado 
documentos à Subprocuradoria-Geral da República, noticiando a suposta prática do delito descrito no art. 89 
da Lei n.º 8.666/93 pelo referido Magistrado, o que resultou na instauração de inquérito em seu desfavor.
A falta de justa causa para a ação penal só pode ser reconhecida quando, sem a necessidade de exame 
aprofundado e valorativo dos fatos, indícios e provas, restar inequivocamente demonstrada, pela impetração, 
a atipicidade flagrante do fato, a ausência de indícios a fundamentarem a acusação, ou, ainda, a extinção da 
punibilidade.
A alegação de ausência de dolo na conduta da paciente não pode ser reconhecida em sede de habeas cor-
pus, pois é flagrante a impropriedade do writ para tal tipo de análise, por ensejar o incabível cotejo do material 
cognitivo.
Tendo a suposta imputação sido dirigida a Desembargador, por eventual crime praticado no exercício da 
função, é permitida a exceção da verdade.
Caso sejam verdadeiras as atribuições feitas ao Magistrado, será afastada a tipicidade do fato irrogado à 
paciente.
Apesar de, em tese, estar configurado o delito imposto à paciente, sendo possível a exceção da verdade e 
estando o feito referente à apuração dos fatos atribuídos à vítima em processamento, torna-se necessário o so-
brestamento da ação penal, até o julgamento definitivo do inquérito e, posteriormente, da ação penal, caso esta 
seja instaurada em desfavor do Desembargador.
Tratando-se de questão da qual depende o reconhecimento da existência do crime, suspende-se, também, 
o cômputo do prazo prescricional, nos termos do art. 116, inciso I, do Estatuto Repressivo.
Recurso parcialmente provido, nos termos do voto do Relator.
(RHC 17.578/PI, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 15.09.2005, DJ 10.10.2005 
p. 395 - STJ)
QUEIXA-CRIME - INJÚRIA QUALIFICADA VERSUS CRIME DE RACISMO - ARTIGOS 140, § 
3º, DO CÓDIGO PENAL E 20 DA LEI Nº 7.716/89. Se a um só tempo o fato consubstancia, de início, a in-
júria qualificada e o crime de racismo, há a ocorrência de progressão do que assacado contra a vítima, ganhando 
relevo o crime de maior gravidade, observado o instituto da absorção. Cumpre receber a queixa-crime quando, 
no inquérito referente ao delito de racismo, haja manifestação irrecusável do titular da ação penal pública pela 
ausência de configuração do crime. Solução que atende ao necessário afastamento da impunidade.
(Inq 1458/RJ - Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO - Julgamento: 15/10/2003 Órgão Julgador: Tribunal 
Pleno, Publicação: DJ 19-12-2003 – STF)
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QUESTÕES:
I - Anacleto foi arrolado como testemunha pelo Ministério Público, em conseqüência do que comparece a 
Juízo e presta o compromisso devido. No curso de seu depoimento, em resposta a indagações formuladas pelas 
partes, presta declarações que atingem a honra de Mário, sendo que este, ao tomar conhecimento do que foi afir-
mado, ingressou em Juízo com queixa crime, atribuindo a Anacleto o cometimento do crime de injúria. Como 
advogado de Anacleto, o que alegaria em sua defesa? (OAB-RJ, 20º Exame de ordem – 2ª fase)
II - Justifique, de forma concisa, a ratio das vedações constantes do parágrafo 3º do art. 138 do C.P. (XXVII 
Concurso para ingresso na Magistratura do Estado do Rio de Janeiro)
BIBLIOGRAFIA OBRIGATÓRIA:
MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à pessoa humana: uma leitura civil-constitucional dos Danos Morais. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 194-264.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, v. 2. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 326-420.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, v. 2. 1ª ed. Niterói: Impetus, 2005, p. 483-544.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial, v. 2. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002, p. 220-263.
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9. JuiZaDos esPeciais criminais
INTRODUÇÃO
 
O acesso à Justiça é um dos temas que mais tem levantado vozes e trazido preocupações nos últimos 
tempos. As suas possibilidades, inerentes à sua complexidade, são variadas, podendo fazer com que se atinjam 
variados setores, de múltiplas formas.
Pode implicar numa melhora no acesso à Justiça a disponibilização de assistência jurídica gratuita. Consti-
tui avanço a possibilidade de se aproximar o Judiciário do jurisdicionado.
E, pelo menos utopicamente, um dos ideais do Direito deve ser a busca ou a realizaçãoda Justiça. Pensando 
nisso, deve o operador do Direito preocupar-se, mormente, com a busca da solução de conflitos que, por vezes, 
podem ser agravados através da solução jurídica.
Em face dessas nuances, a Constituição Federal trouxe a previsão dos juizados especiais. A sua complexa 
formação busca dirimir os conflitos a partir de alternativas à prestação jurisdicional simplificando o procedimen-
to, apelando para a conciliação entre as partes, aproximando fisicamente o Judiciário do demandado, soluções 
diversas daquelas que comumente são reservadas pelo Direito Penal e Processual Penal.
Com isso, os Juizados Especiais criminais diferem-se primeiro a partir da competência. Apenas as chama-
das infrações de menor potencial ofensivo são julgadas exclusivamente pelos Juizados Especiais. São considera-
das infrações de menor potencial ofensivo os crimes e as contravenções que tenham a pena máxima cominada 
não superior a dois anos.
Não existe a necessidade de inquérito policial, que é substituído pelo chamado termo circunstanciado. Este 
é constituído pelo registro da ocorrência, o depoimento da vítima e do autor do fato. Assim que esses elementos 
são colhidos, sem que ocorra uma investigação mais profunda, o procedimento é enviado ao Juizado Especial.
Lá, a primeira audiência realizada busca a conciliação entre as partes. É de se notar que tal conciliação pode 
envolver termos absolutamente alheios à querela discutida, resultando o acordo na extinção da punibilidade do 
autor do fato.
Além desse, outros instrumentos despenalizadores são utilizados, principalmente a transação penal e a 
suspensão condicional do processo.
A transação penal, trazida do direito norte americano, implica na negociação, por parte do Ministério Pú-
blico, da ação penal, que deixa de ser oferecida desde que o imputado aceite a aplicação antecipada seja de uma 
pena de multa, seja de uma pena restritiva de direitos.
A suspensão condicional do processo funciona de maneira similar ao sursis penal, diferenciando-se num 
ponto fundamental, qual seja: não se chega a um veredicto acerca da culpa lato sensu ou inocência do acusado. 
O processo é suspenso e, desde que o acusado cumpra as condições estabelecidas, a sua punibilidade é extinta.
Os juizados especiais criminais implicam num questionamento acerca da eficácia da prestação jurisdicional 
como instrumento de resolução de conflitos. Sua existência implica também em contradições em nosso sistema 
processual penal que devem ser exploradas, como o foco no aprimoramento de tal instituto.
CASO
PT oferece notícia-crime contra pefelistas
O Partido dos Trabalhadores (PT) ofereceu nesta terça-feira (18) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no-
tícia-crime (pedido de investigação) contra o presidente do Partido da Frente Liberal (PFL), Jorge Bornhausen, 
e o candidato a vice-presidente da República pela coligação “Por um Brasil Decente” (PSDB-PFL), José Jorge.
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Na petição, assinada pelo presidente nacional da legenda, Ricardo Berzoini, o PT pede a instauração de 
ação penal contra os dois representados pela prática de crimes contra a honra do partido e de seus filiados. 
Ricardo Berzoini alude às declarações dos dois líderes pefelistas, que teriam vinculado o partido aos atentados 
supostamente praticados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo. Diante disso, o PT pede 
que o TSE encaminhe a notícia-crime ao Ministério Público Eleitoral, para que este ofereça denúncia contra os 
representados, “caso entenda presentes os elementos necessários”.
No documento protocolado no TSE, o presidente do PT afirma que as declarações atribuídas a Jorge Bor-
nhausen e a José Jorge atentam contra “a honra e a moral do Partido dos Trabalhadores e de todos os seus filia-
dos”. “Ao afirmar que há ligações entre o PT e o PCC, os representados atribuem a filiados do PT a co-autoria 
de crime de dano (artigo 163 do Código Penal); incêndio (artigo 250 do Código Penal); explosão (artigo 251 
do Código Penal); motim de presos (artigo 354 do Código Penal) e tantos outros praticados”, diz o presidente 
do Partido dos Trabalhadores.
Ricardo Berzoini classifica as declarações como “ato de nítda conotação eleitoral”, “certamente temendo 
o desgaste político que os eventos poderiam trazer à disputa eleitoral em curso”. Segundo Ricardo Berzoini, as 
matérias jornalísticas inclusas “dão a exata dimensão da atitude criminosa dos representados”. “Diante da prática 
de crimes contra a honra, previstos no Código Eleitoral”, o presidente do PT requer que seja instaurada ação 
penal contra os representados.
Ao documento, o PT anexou cópias de reportagens publicadas pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de 
S. Paulo, e pelas agências de notícias Agência Estado e Folha Online. Entre as reportagens que acompanharam a 
petição, foram anexadas matérias publicadas no último dia 13, na Agência Estado e Folha Online, sob os seguintes 
títulos: “Alckmin e aliados vêem ligação do PT com PCC”; “Bornhausen liga dirigente do PT ao PCC”; “Bornhau-
sen diz que desconfia de elo entre PT e PCC”; “Bornhausen reafirma suspeita de elo entre PT e PCC”; “Alckmin 
insinua ligação do PT com o PCC”; e “Após declaração sobre PCC, PT ameaça processar Bornhausen e Serra”. 
Fonte: TSE
http://www.brasilnordeste.com.br/Artigosenot%C3%ADcias/Not%C3%ADcias/Brasil/Gerenciador/ta-
bid/85/articleType/ArticleView/articleId/1775/PToferecenotciacrimecontrapefelistas.aspx
JURISPRUDÊNCIA 
CRIMINAL. RESP. DESACATO. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. LEI 10.259/01. ALTERAÇÃO 
DO LIMITE DE PENA MÁXIMA PARA A INCIDÊNCIA DA TRANSAÇÃO PENAL ALTERADO PARA 
02 ANOS. DERROGAÇÃO DO ART. 61 DA LEI 9.099/95. PROPOSTA DO BENEFÍCIO NÃO-OFERE-
CIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO LOCAL. REMESSA DOS AUTOS AO PROCURADOR-GERAL 
DE JUSTIÇA.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
I. Em função do Princípio Constitucional da Isonomia, com a Lei n.º 10.259/01 – que instituiu os juiza-
dos especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça Federal, o limite de pena máxima previsto para a incidência 
do instituto da transação penal foi alterado para 02 anos.
II. Derrogação do art. 61 da Lei n.º 9.099/95. Precedente.
III. Transação penal que deve ser proposta pelo Ministério Público, sendo que, no caso em tela, o órgão 
acusatório entendeu não ser cabível o referido instituto, fazendo-se mister a aplicação analógica do art. 28 da 
Lei Processual Penal.
IV. Deve ser determinada a remessa do processo criminal ao Juízo monocrático, a fim de que seja expedido 
ofício ao Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, remetendo-lhe os autos para que proceda à análise 
dos requisitos necessários ao oferecimento de proposta de transação penal ao paciente.
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V. Recurso conhecido e parcialmente provido.
(REsp 818.914/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 09.05.2006, DJ 
05.06.2006 p. 317 - STJ)
VARA CRIMINAL E JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL 
OFENSIVO. LEI NOVA. COMPETÊNCIA.
1. Já é de jurisprudência assentada pelo Superior Tribunal que de menor potencial ofensivo é a infração 
indistintamente a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos. Em tal aspecto, há sempre de vir 
a propósito o que se escreveu na Lei nº 10.259/01, embora não fosse essa a intenção dos que primeiramente 
trabalharam o projeto de lei.
2. Tratando-se de demandas penais já intentadas, não se impõe, então, o deslocamento da competência. 
Nesse caso, os institutos benéficos terão aplicação onde o processo esteja tramitando.
3. É também da jurisprudência do Superior Tribunal que as Leis nºs 9.099/95 e 10.259/01 incidem nos 
crimes sujeitos a procedimentos especiais.
4. Habeas corpus indeferido em relação a dois pacientes, mas deferido em parte, em relação a dois outros.
(HC 36.152/RJ, Rel. Ministro NILSON NAVES, SEXTA

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