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Sugestão de GABARITO.Civil1.

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GABARITO
UNIDADE 01
Caso Concreto 1
 Em plena Copa do Mundo de Futebol, Augusto é torcedor fanático da seleção da Argentina. No setor que trabalha, há grande rivalidade “amistosa” entre os funcionários, sendo que a maioria maciça é torcedora da seleção brasileira. Na tentativa de preservar-se um pouco mais, requereu que fosse reservado um local de trabalho para uso exclusivo seu e de outros colegas de trabalho que também torcem pelo país vizinho e por outras equipes, haja vista que os deboches e as provocações têm sido difíceis de suportar. Embasa sua pretensão no fato de o Código Civil dispor ser vedada a limitação de exercício de direitos sem expressa previsão legal, bem como a Constituição garantir a liberdade de expressão. 
Analise o caso concreto a partir dos seguintes tópicos:
1)            Diante do exposto, poderíamos afirmar que a ausência de um  local reservado para Augusto poderia caracterizar lesão aos postulados constitucionais e legais?
2)            O que é a constitucionalização do Direito Civil ?
Sugestão de gabarito:
1)Entendemos de se observar, aqui, os limites de generalidade e abstração da norma, em especial da norma constitucional, a preservar direitos subjetivos previstos em lei, sem permitir, a quem quer que seja, impor sua pessoalidade como padrão de referência normativa.
2)Tal expressão pode ser analisada sob dois prismas: o primeiro, no sentido de que algumas normas e princípios basilares vinculados ao Direito Civil, com o passar do tempo e as mutações sociais vieram a ser incorporados no texto na Magna Carta, tendo atualmente um valor dentro do ordenamento pátrio de conteúdo constitucional. E no segundo aspecto, significaria um redesenho do direito civil à luz da Constituição, que importa no reconhecimento do universo legislativo setorial – normas de Direito Civil, presentes no Código Civil e nas leis especiais, contudo, interpretadas em busca de uma unidade do sistema a partir da tábua axiológica da Constituição Federal, que passa a ser ponto obrigatório de referência. 
 
Caso Concreto 2
A Indústria Farmacêutica XYZ coloca no mercado um eficaz remédio, recentemente descoberto pelos seus químicos, que neutraliza os efeitos da Síndrome da Imunodeficiência adquirida, conhecida como AIDS. O valor do medicamento inviabiliza a compra pela maior parte dos que sofrem da doença. 
É certo que a Lei 9.279/96, nos artigos 40 e 42, dispõe que o prazo será de 20 (vinte) anos para vigência da patente, ou seja, poderá o titular (Indústria farmacêutica XYZ), durante este tempo, usar, gozar, dispor e impedir terceiro de reproduzir a fórmula. Contudo, a Constituição Federal (art. 5º, XXIII ) e o Código Civil, artº 1.228, § 1º, reconhecem para o ordenamento pátrio o princípio da função social da propriedade, que tem natureza de cláusula geral. 
Pergunta-se:
1) O princípio da função social da propriedade decorre de qual princípio do Código Civil de 2002 ? 
2) A função social se apresenta no Código Civil como uma cláusula geral. Qual o conceito de cláusula geral e qual sua finalidade?
3) O tema direito de propriedade pode ao mesmo tempo ser previsto e disciplinado no Código Civil e na Constituição? Esclareça:
4) Poderíamos sustentar que seria lícito ao Poder Público  determinar a suspensão do privilégio da patente, a fim de atender a demanda social pelo remédio fabricado pela Indústria Farmacêutica ? Qual seria a justificativa da  sua resposta? 
Sugestão de gabarito :
1) O princípio da função social da propriedade decorre do princípio do atual Código denominado de socialidade. A SOCIALIDADE ressalta o predomínio do social sobre o individual.
2) “As cláusulas gerais constituem uma técnica legislativa característica da segunda metade deste século, época na qual o modo de legislar casuisticamente, tão caro ao movimento codificatório do século passado --- que queria a lei "clara, uniforme e precisa", como na célebre dicção voltaireana --- foi radicalmente transformado, por forma a assumir a lei características de concreção e individualidade que, até então, eram peculiares aos negócios privados. Tem-se hoje não mais a lei como kanon abstrato e geral de certas ações, mas como resposta a específicos e determinados problemas da vida cotidiana .(...)Pelo contrário, estes novos tipos de normas buscam a formulação da hipótese legal mediante o emprego de conceitos cujos termos têm significados intencionalmente vagos e abertos, os chamados "conceitos jurídicos indeterminados". Por vezes --- e aí encontraremos as cláusulas gerais propriamente ditas --- o seu enunciado, ao invés de traçar pontualmente a  hipótese e as suas conseqüências, é desenhado como uma vaga moldura, permitindo, pela vagueza semântica que caracteriza os seus termos, a incorporação de princípios, diretrizes e máximas de conduta originalmente estrangeiros ao corpus codificado, do que resulta, mediante a atividade de concreção destes princípios, diretrizes e máximas de conduta, a constante formulação de novas normas. (... ) Considerada, pois, do ponto de vista da técnica legislativa, a cláusula geral constitui uma disposição normativa que utiliza, no seu enunciado, uma linguagem de tessitura intencionalmente "aberta", "fluida" ou "vaga", caracterizando-se pela ampla extensão do seu campo semântico. Esta disposição é dirigida ao juiz de modo a conferir-lhe um mandato (ou competência) para que, à vista dos casos concretos, crie, complemente ou desenvolva normas jurídicas, mediante o reenvio para elementos cuja concretização pode estar fora do sistema; estes elementos, contudo, fundamentarão a decisão, motivo pelo qual não só resta assegurado o controle racional da sentença como, reiterados no tempo fundamentos idênticos, será viabilizada, através do recorte da ratio decidendi, a ressistematização destes elementos, originariamente extra-sistemáticos, no interior do ordenamento jurídico.”
 
(COSTA, Judith Hofmeister Martins. O Direito Privado como um "sistema em construção":  as cláusulas gerais no Projeto do Código Civil brasileiro. Site: www.direitovivo.com.br – transcrição parcial )
 
3)Não há qualquer óbice, em virtude de que  há  normas e princípios vinculados ao direito civil que pela importância vieram a ser incorporados no texto na Magna Carta, tendo atualmente um valor dentro do ordenamento pátrio de conteúdo constitucional.
 
4)Com todo acerto seria possível sustentar tal tese tendo em vista que há na hipótese a relevância do direito fundamental à vida e a dignidade da pessoa humana, representada pela necessidade de medicamento vital. Tal valor deverá prevalecer sobre o privilégio da patente e a proteção ao direito de propriedade, mormente, em razão de que o sistema pátrio adotou em sede constitucional e no diploma civil a função social da propriedade, que perdeu o seu caráter absoluto. 
Cumpre a ressalva que o conceito de propriedade é elástico e abrange bens corpóreos e incorpóreos.
Cabe aqui a transcrição de parte do texto do professor Nélson Rosenvald no livro direitos Reais, indicado na bibliografia complementar do cruso, pág. 29, in verbis “ É  fundamental ressaltar que a tutela constitucional da propriedade alinhavada no artº 5º, inciso XXII, é imediatamente seguida pelo inciso XXIII, disciplinando que “a propriedade atenderá a sua função social”. Esta ordem de inserção de princípios não é acidental, e sim intencional. Há uma obrigatória relação de complementariedade entre a propriedade e a sua função social, como princípios da mesma hierarquia. A lei Maior somente tutelará a propriedade, garantindo a sua perpetuidade e exclusividade, quando esta for social. Não subsistirá a propriedade anti-social”. 
 
 
QUESTÃO OBJETIVA 
No Código Civil, a função das cláusulas gerais é:
I – dotar o sistema interno do Código Civil de mobilidade, mitigando as regras mais rígidas.
II – a de atuar de forma a concretizar o que se encontra previsto nos princípios gerais de direito e nos conceitos legais indeterminados. 
III – a de, também, abrandar as desvantagens do estilo excessivamente abstratoe genérico da lei.
Assinale, portanto, a alternativa ou alternativas corretas:
a)            nenhuma das alternativas está correta.
b)            todas as alternativas estão corretas.
c)            apenas a alternativa II está correta.
d)         apenas as alternativas I e III estão corretas.
e)         apenas as alternativas II e III estão corretas
(TJ-SC-04/08/2002 – Direito Civil – Questão n.º 33 – Gabarito B)
UNIDADE 02
Caso Concreto 1
Personalidade jurídica: modos de aquisição.
O registro civil de nascimento é gratuito para todos os brasileiros, e também é de graça a primeira certidão de nascimento que o cartório fornece. Apesar disso ainda é grande o número de brasileiros que não possuem o registro civil de nascimento, por isso o governo federal instituiu A Campanha do Dia Nacional pelo Registro Civil de Nascimento que movimenta centenas de cartórios por todo o país. 
MARIA DAS DORES DE SOUSA, 65 anos, portanto, maior e capaz, chegou cedo ao local para garantir a primeira via de sua certidão de nascimento. "Nasci em Cuiabá e ainda quando criança fui levada para morar no sítio. Para minha família era difícil vir à cidade e ter acesso a este serviço, por isso, não tenho a certidão até hoje. Tenho uma filha de 18 anos e não pude registrá-la até agora. A falta do documento me prejudicou. Tive sempre que trabalhar em casa, lavando roupa ou limpando quintais da vizinhança. Fiquei muito feliz em saber desta ação, que facilitará minha vida", disse emocionada.
Pergunta-se:
a)       O fato de MARIA DAS DORES até os 65 anos de idade não possuir registro civil faz com que não possua personalidade jurídica? Por quê?
Gabarito sugerido: Não. A lei é clara ao prescrever conforme disposto no o art. 2º do Código Civil: "a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo os direitos no nascituro". Em outras palavras, o nascimento com vida dá direito à personalidade jurídica à Maria das Dores.
b)       Qual a função do registro civil das pessoas naturais?
Gabarito sugerido: O registro civil permite o reconhecimento pela sociedade da personalidade jurídica da pessoa natural.  Sem o registro, o ser humano não tem condições de atestar perante o Estado e para terceiros a sua existência jurídica, sendo correto dizer que o sujeito existirá de fato, mas não para o Mundo Jurídico.
c)       Qual a relação entre personalidade jurídica e capacidade jurídica?
Gabarito sugerido: Personalidade jurídica é a abstrata possibilidade de ser beneficiário de efeitos jurídicos. A personalidade jurídica é o fundamento, a condição primária de todo o direito.
A capacidade jurídica identifica-se com a personalidade, quando concebida como capacidade de gozo (ou de direito). A capacidade de gozo e a personalidade jurídica são, de certo modo, conceitos idênticos.
Caso Concreto 2
Personalidade jurídica: aquisição e perda
 
BETO ESCALIBUR JR., playboy milionário e famoso, freqüentador conhecido da noite paulista e de preferências sexuais peculiares, aos trinta anos de idade, solteiro, sem filhos, descobriu ser portador de mal incurável e que lhe restavam poucos meses de vida. 
Em razão desse fato, dispôs sobre seu valioso patrimônio (um terreno de 10.000 metros quadrados em Búzios/RJ, uma mansão no bairro dos Jardins/SP, dois apartamentos na Riviera francesa, uma frota de 30 caminhões e 57 ônibus de turismo e um abrigo para alpinistas nos Alpes suíços) em testamento público, determinando que o mesmo fosse distribuído; sendo um terço para seu cão de estimação, da raça chow chow, chamado ?Good Dick?, e os dois terços restantes para seus pais Giovanna e Roberto. 
Tendo em vista que pouco tempo depois de testar Beto faleceu, pergunta-se:
a)       Como é diagnosticado o evento biológico morte de Beto e quais as conseqüências jurídicas desse diagnóstico?
Gabarito sugerido ?  A morte se dá pela ausência  total das funções cerebrais, denominada morte cerebral. A partir do evento morte cessa a personalidade jurídica da pessoa e ocorre- a sucessão.
b)       O cão ?Good Dick? pode receber a parte que lhe cabe da herança de Beto sob a forma de cuidados efetuados por pessoal especializado e ração canina de primeira qualidade?
Gabarito sugerido ? Coisas inanimadas e animais não são sujeitos de direitos, logo não possuem capacidade sucessória, logo Fidel não pode herdar nada.  
c)       ?Good Dick? poderia ser representado por um curador?
Gabarito sugerido ?   Na exata lição da ilustre civilista MARIA HELENA DINIZ, a curatela é o encargo público, cometido por lei, a alguém para reger e defender uma pessoa e administrar os bens de maiores que, por si sós, não estão em condições de faze-lo,em razão de enfermidade ou deficiência mental (In Curso de Direito Civil Brasileiro,v. 5, Direito de Família, 11. ed. São Paulo, Saraiva, 1996, pg. 433). Portanto, coisas inanimadas e animais não se enquadram de modo algum à aplicação desse instituto. 
QUESTÃO OBJETIVA
Natureza jurídica do nascituro.
Prof. Ronaldo
Assinale a alternativa correta e justifique sua escolha.
Em relação a aquisição da personalidade jurídica, no ordenamento jurídico brasileiro, podemos dizer que:
(a) para Maria Helena Diniz, o nascituro possui personalidade jurídica material;
(b) o registro do nascimento é um dos requisitos legais para aquisição da personalidade;
(c) o natimorto adquire a personalidade jurídica depois de nascer com vida;
(d) a teoria natalista não reconhece os direitos que a lei põe à salvo ao nascituro;
(e) começa para a pessoa natural, do nascimento com vida, segundo teoria natalista.
Sugestão de Gabarito:
A alternativa correta é a letra ?e?.
Fundamentação
A dicção do artigo 2° do Código Civil é clara quando diz que: a personalidade civil da pessoa, começa do nascimento com vida, contemplando a teoria natalista.
UNIDADE 03
Caso Concreto 1
Alteração do registro civil.
 
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul autorizou a alteração do nome de um transexual. A mudança no registro de nascimento poderá ser feita logo depois da cirurgia de mudança de sexo. A decisão é da 7ª Câmara Cível. Cabe recurso.
O recurso foi ajuizado por um jovem de 23 anos contra a decisão de primeira instância, que negou o pedido de retificação de registro civil. No processo, alegou que desde os 16 anos usa nome de mulher e por isso passa por situações constrangedoras.
A relatora, desembargadora Maria Berenice Dias, acolheu os argumentos. “Há um descompasso entre o sexo anatômico e o psicológico, pois o transexual acredita ter nascido num corpo que não corresponde ao gênero por ele exteriorizado social, espiritual, emocional e sexualmente”, enfatizou.
Tendo em conta o caso acima narrado, pergunta-se:
1. O que vem a ser o registro civil de uma pessoa natural?
Gabarito sugerido: Registro civil (português brasileiro) ou Registo civil (português europeu) é o termo jurídico que designa o assentamento dos fatos da vida de um indivíduo, tais como o seu nascimento, casamento, divórcio ou morte (óbito). Também são passíveis de registro civil as interdições, as tutelas, as adoções, os pactos pré-nupciais, o exercício do poder familiar (chamado de pátrio poder no antigo código civil de 1916 do Brasil; em Portugal: poder paternal), a opção de nacionalidade, entre outros fatos que afetam diretamente a relação jurídica entre diferentes cidadãos.
2. A legislação civil brasileira prevê alteração de registro civil nos casos de transexualismo? 
Gabarito sugerido: Aqui é importante a pontar ao aluno que não obstante todos os direitos salientados aplicáveis ao transexual operado, a realidade jurídica que se mostra através dos julgados não é unânime. Existe, sim, uma tendência à uniformização de entendimentos, mas a falta de legislação específica conduz a uma verdadeira miscelânea jurisprudencial.
De sorte que devem ser trabalhados os conceitos que o aluno trouxe da disciplina Introdução ao Direito relatives à repersonalização do Direito Civil e da constitucionalização do Direito privado, a fim de demonstrar que os princípiosconstitucionais, mormente o do respeito à dignidade da pessoa humana supreme a inexistência de legilação que discipline diretamente a material.
3. O que é transexualismo?
Gabarito sugerido: A transexualidade é o fenômeno compreendido como a inadequação psíquica do indivíduo ao seu gênero sexual biológico. Sendo assim, o transexual sente pertencer ao sexo oposto ao que pertence genética e anatomicamente. Ocorre uma desarmonização entre os aspectos psicossexual e psicossocial e o aspecto biológico. Silvério da Costa Oliveira, psicólogo que desenvolve trabalhos na área de inadequação sexual, esclarece-nos alguns conceitos acerca da transexualidade:
Ao nascermos, pertencemos ao sexo masculino ou ao feminino [e esta averiguação é feita pelo aspecto morfológico e registrada no assento de nascimento] e durante nossa vida desenvolvemos uma identidade de gênero que deveria adaptar-se ao sexo genético/biológico/anatômico, mas nem sempre isso ocorre. Chamamos de identidade de gênero ao sentimento de pertencimento a um determinado gênero e a capacidade de nos relacionarmos socialmente coerentes com tal identidade. [...]. Conjuntamente com a identidade de gênero é formada a identidade corporal, na medida do percebimento do próprio corpo e suas funções pela criança em desenvolvimento. A partir da identidade de gênero em nós formada, nos sentimos como pertencendo a um determinado gênero, pode ocorrer no entanto, que o gênero ao qual sentimos pertencer não se iguale no papel de gênero socialmente exigido. O papel de gênero é o comportamento social culturalmente exigido e determinado para homens e mulheres. A identidade de gênero de um transexual não é condizente com o papel de gênero exigido dele pela sociedade, o que gera conflitos, frustração, dor e sofrimento.( OLIVEIRA, Silvério da Costa. O psicólogo clínico e o problema da transexualidade. Revista SEFLU. Rio de Janeiro: Faculdade de Ciências Médicas e Paramédicas Fluminense, a. 1, n. 2, dez. 2001. Disponível em: <http://www.sexodrogas.psc.br>. Acesso em: 11 abr. 2009).
Caso Concreto 2
Domicílio civil. Classificação.
 
André de Lima e Silva, 17 anos, está mais do que feliz, afinal foi aprovado em Concurso Público promovido pela Secretaria de Ação Social da Prefeitura de Duque de Caxias. Ocorre que André reside alguns dias da semana na capital do Estado do Rio de Janeiro e outros dias da semana reside na cidade de Saquarema, no interior do Estado do Rio, onde mora sua querida tia Lilica Lima, surfista profissional, com quem aprendeu a pegar ondas desde pequenino. Com base nas informações acima fornecidas responda:
a)     Onde será(ão) considerado(s) o(s) domicílio(s) de André? Justifique sua resposta com fundamento no Novo Código Civil.
Resposta: O aluno deverá perceber que André não tomou posse, apenas foi aprovado. Logo, o domicílio de André será na capital do Estado do Rio de Janeiro, conforme artigo 76 parágrafo único “o domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente” 
 
b) Qual(is) a(s) espécie(s) de domicílio(s) se apresenta(m) no caso em tela?
Resposta: como André foi aprovado, mas não tomou posse no cargo não é considerado funcionário público, não se aplicando a este o Inciso III do parágrafo único do artigo 5º do Código Civil. Logo, seu domicílio será necessário ou legal, em consonância com o artigo 76 do CC, por ser André relativamente incapaz (dezessete anos), conforme artigo 4º Inciso I do CC.
 
 Caso Concreto 3
 
Término da existência da Pessoa Natural. Ausência
 
Após um dia normal de trabalho em seu escritório, JOÃO DE DEUS HONÓRIO DOS SANTOS, advogado bem sucedido no ramo do direito empresarial, 40 anos, chega em casa avisando a mulher e aos filhos que estava muito feliz, pois sua escola de samba ganhou o campeonato depois de 16 anos de espera e que ia à padaria comprar umas cervejas para comemorarem juntos. João saiu e nunca mais voltou, já faz nove anos, oito meses e quinze longos dias. Sendo certo que não deixou representante ou procurador. 
Pergunta-se:
a)  O caso de João se trata de ausência ou morte presumida?
Gabarito sugerido: Trata-se de ausência. No entanto, o aluno deve distinguir a ausência decretada (o ser ausente, a pessoa juridicamente ausente) da simples ausência (o estar ausente, a pessoa faticamente ausente). A primeira supõe, além do fato da ausência e da a falta de notícias, como decorre do art. 1.163 do CPC (“sem que se saiba do ausente”), a decretação da ausência, com a arrecadação de bens do ausente e a nomeação de curador que os administre. Mesmo nas leis, quando se falta em ausência, quase sempre é da segunda que se trata, ou seja, da ausência simples, decorrente do fato de não se encontrar a pessoa em seu domicílio. Da decretação da ausência tratam os artigos 22 a 39 do Código Civil e 1.159 e seguintes do Código de Processo Civil.
A morte declarada, por presunção, ou morte presumida,se verifica somente nos eguintes casos: I – se for extremamente provável a de quem estava em perigo de vida; II – se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o termino da guerra. No caso em apreciação trata-se tão somente de ausência.
 
b) Após todo esse tempo desaparecido, é correto afirmar que a propriedade dos bens de João poderá ser definitivamente entregue aos seus herdeiros?
 
Gabarito sugerido: Não. Somente após o transcurso de mais de 10 anos do desaparecimento. Justificativa: conforme art.37 CC.
 
c) E se João Batista aparecer nove anos e onze meses depois alegando que fora abduzido por alienígenas, terá direito a ter seus bens de volta?
 
Gabarito sugerido: Se o ausente aparecer nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva terá direito aos bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros ou demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.
UNIDADE 04
Caso Concreto 1
Um jogador de futebol famoso teve sua fotografia publicada em revista especializada em fofocas. Em verdade, o conteúdo da revista nada desabonava a vida privada do referido jogador, mencionado apenas fatos públicos corriqueiros. No entanto, o esportista sentiu seu direito agredido porque não autorizara a publicação de sua foto. Ingressou o jogador com um pedido de indenização. 
1)            Neste caso, enxerga-se, de fato, violação ao direito da personalidade passível de gerar indenização? Justifique.
2)            Na hipótese pode-se afirmar que houve lesão a honra da pessoa? 
3)            Há necessidade de prova de aproveitamento econômico, por parte da revista, para ensejar algum tipo de indenização?
Sugestão de gabarito
1)O tema em destaque não possui tratamento pacífico. Podemos afirmar que a doutrina e a jurisprudência mais clássicas sustentam que o direito de imagem não teria sido violado pelas mesmas razões expressas na fundamentação da decisão do juiz que analisou o caso hipotético. Hoje, entretanto, a doutrina e a jurisprudência mais modernas consideram que a simples divulgação da imagem do autor, quando evidenciada sua pessoalidade e não quando privilegiado fato social no qual alguém se veja inserido, requer a competente autorização do próprio, que inexistindo acarretará a violação do direito da personalidade passível de gerar indenização, conforme decidiu o colegiado. 
Leitura sugerida: MORAES, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana. Renovar. Rio de Janeiro.
2)A princípio não se pode dizer que foi atingida a honra da pessoa, dado que nenhum fato desabonador foi construído. Entretanto, há que se reconhecer protegida a privacidade, o valor maior de uma titularidade da pessoa quanto à sua imagem e personalidade.
3)A doutrina mais moderna não mais considera necessário o aproveitamento econômico ou a perda econômica para tal caracterização. O Direito caminha para proteger e considerar valores decorrentes de uma despatrimonialização.
REsp 207165/SP 1999/0021035-2 Relator Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO Órgão Julgador TERCEIRATURMA Data do Julgamento 6/10/2004 Data da Publicação/Fonte DJ 17.12.2004 p. 512 RSTJ vol. 188 p. 323 Ação de indenização. 
“Danos morais. Publicação de fotografia não autorizada em jornal. Direito de imagem. Inaplicabilidade da Lei de Imprensa. I. - A publicação de fotografia não autorizada em jornal constitui ofensa ao direito de imagem, ensejando indenização por danos morais, não se confundindo, com o delito de imprensa, previsto na Lei nº 5.250/67”.
Caso Concreto 2
Júlia Cibilis é uma famosa atriz que foi violentamente assassinada no ano de 2000, deixando como herdeira apenas sua mãe, Maria Cibilis. Um ano depois do falecimento, jornal de grande circulação publica fotos do corpo de Júlia que foram tiradas durante a perícia, no local do crime, totalmente desfigurada e parcialmente nua. 
Pergunta-se : Maria pode pleitear dano moral ? Em caso positivo, a que título ? Em caso negativo, por quê? Justifique sua resposta.
 
Sugestão de gabarito
 Maria pode pleitear não só o dano moral que ela própria sofreu, vendo a foto de sua filha no jornal, como também os danos morais decorrentes da violação da imagem de Júlia, posto que o art. 20, parágrafo único, do Código Civil, sustenta que há projeção dos direitos da personalidade post mortem e seus herdeiros são legitimados a defendê-los. 
 Obs: A questão é controvertida quanto a possibilidade de projeção do direito da personalidade post mortem. Segue abaixo as seguintes ementas:
DES. HELDA LIMA MEIRELES - Julgamento: 29/04/2008 - DECIMA QUINTA CAMARA CIVEL 
Telefonia móvel. Plano OI Família. Óbito do titular. Cobrança de multa pelo encerramento do contrato. Impossibilidade. Negativação do nome do falecido posteriormente a morte. Dano moral. Legitimidade do cônjuge virago, à luz do artigo 12, parágrafo único do Código Civil. Falha na prestação do serviço. Violação ao dever de informação e à boa-fé objetiva. Dano moral evidente. Indenização arbitrada de acordo com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Ilegitimidade ativa ad causam do espólio, reconhecida de ofício, eis que a ofensa a direito da personalidade do de cujus foi irrogada posteriormente ao aludido óbito. Desprovimento do recurso. 
DES. SERGIO CAVALIERI FILHO - Julgamento: 15/08/2007 - DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL 
NEGATIVACAO DO NOME DE PESSOA FALECIDA 
INDENIZACAO PLEITEADA PELA MAE 
IMPOSSIBILIDADE 
DANO MORAL PUNITIVO 
INDENIZACAO POR PRATICAS ABUSIVAS 
ADMISSIBILIDADE 
 
Dano moral. Negativação do nome de pessoa falecida. Indenização pleiteada pela mãe. Impossibilidade. Dano moral punitivo. Indenização por práticas abusivas. Admissibilidade. Se o dano moral é a violação de um bem integrante da personalidade, e esta extingue-se com a morte, ninguém pode ser sujeito passivo de dano moral depois do falecimento. Assim, não tem a mãe legitimidade para pleitear indenização por dano moral, nem como sucessora, pela negativação do nome do filho efetivada depois do seu falecimento. Admite-se, entretanto, indenização com caráter punitivo pelo dano moral para reprimir práticas abusivas, como sanção adequada ao abuso do direito. A ré levou quase seis meses para cancelar a linha telefônica, cessar as cobranças indevidas, e ainda negativou, nesse período, o nome do filho da autora, mesmo depois do seu falecimento. É dever das empresas que fornecem bens e serviços estruturarem-se adequadamente para tratarem com respeito e dignidade o público em geral. Reforma parcial da sentença. 
 Ementário: 04/2008 - N. 9 - 31/01/2008
QUESTÃO OBJETIVA 
Assinale a opção correta.
A) Tanto o Código Civil  de 1916 como o novo Código Civil disciplinam os direitos da personalidade.
B) O caráter extrapatrimonial dos direitos da personalidade significa que é juridicamente impossível requerer indenização em face de sua violação.
C) De acordo com o novo Código Civil, salvo o caso de exceções legais, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
D) Conforme disciplina do novo Código Civil, o pseudônimo, mesmo adotado para atividades lícitas, não goza da proteção que se dá ao nome.
(MPU/25º - Civil – Preliminar – Questão nº 42 – Gabarito “C”)
 Legislação: artº 11 ao 21, 5
UNIDADE 05
Caso Concreto 1
Espécies de pessoas jurídicas de direito privado.
Antônio Luckyless ao chegar na garagem de seu prédio, pela manhã, observou que seu automóvel encontrava-se amassado. Diante do fato, Antônio procurou o Síndico para que este tomasse providências no sentido de ressarcir o dano causado ao automóvel de sua propriedade. Entretanto, foi surpreendido pelo Síndico que lhe informou nada poder fazer uma vez que o condomínio não é pessoa jurídica, logo, não pode ser responsabilizado pelos danos que por ventura ocorram nas suas dependências. Com dúvida sobre a pertinência do que foi dito pelo síndico, Luckyless  procura você, seu advogado pessoal, para uma consulta jurídica. 
À luz do caso acima narrado, responda justificadamente:
a) Está correta a afirmação do Síndico? Justifique.
 Não, pois o condomínio sendo um ente despersonalizado, ou entidade formal,  apresenta capacidade processual, logo, responde por todos os danos causados em suas dependências, desde que não se conheça o verdadeiro culpado. 
b)O condomínio pode figurar no pólo passivo de uma relação jurídica? Justifique.
Sim, pois o ente despersonalizado apresenta capacidade processual. Logo, é sujeito de direitos e deveres na ordem civil.
Obs: Nem todos os grupos constituídos para a consecução de um fim comum gozam de personalidade. Têm capacidade processual, porém não têm personalidade jurídica.
Exemplos: espólio (acervo de bens do falecido); condomínio; herança jacente  ou vacante (art 1819 do Novo Código Civil); massa falida. (vide art 12, III, IV, V, VII, VI do CPC)
 
Caso Concreto 2
 
Espécies de pessoas jurídicas de direito privado.
 
Josimar de Sant´Anna, próspero comerciante estabelecido na cidade de Salvador/BA, é um cidadão de bons princípios. Ao saber que herdara todos os bens de seu rico tio solteirão que morrera na Suíça, tratou de buscar dar uma finalidade social à metade de tudo que herdara. Instituiu uma fundação por escritura particular, com finalidade educacional não lucrativa para as crianças carentes da Baixa do Sapateiro, e com dotação de bens livres, tendo registrado o instrumento no Cartório de Títulos e Documentos, deixando de mencionar a maneira de administrá-la. 
Diante do caso acima exposto, pergunta-se:
 
a) Josimar fez a escolha jurídica correta ao criar uma fundação e não uma associação? Justifique.
Gabarito sugerido: Sim.  As fundações constituem um patrimônio personalizado destinado a um fim. A fundação constituiu-se de um patrimônio personalizado destinado a um fim, enquanto a associação caracteriza-se por constituir um agregado de pessoas naturais ou jurídicas no qual o patrimônio tem papel secundário, ou mero acessório, o que não é o que se apresenta no presente caso concreto.
 
b) O procedimento adotado para criação da fundação está de acordo com a lei? Por quê?Justifique.
Não. A instituição fundacional é nula, integralmente, como nulo é o seu registro. Justificativa: Conforme art. 62 CC, a criação de uma fundação deve ser através de escritura pública, por isso a nulidade absoluta do ato.
 
Caso Concreto 3
Pessoa jurídica: Desconsideração da personalidade jurídica.
A empresa Clean Serviços de Limpeza Ltda, prestadora de serviço de limpeza, foi despejada da sua sede, por falta de pagamento de alugueres. De fato, parou de exercer suas atividades, pois dispensou seus empregados por telegrama e encontra-se em local incerto e não sabido.  Além dos ex-empregados que não receberam um tostão sequer pela rescisão do contrato de trabalho, diversos credores tentaram receber seus créditos, em vão. No curso de um dos processos ajuizados por uma empresa credora, a Detergentes Clariol Ltda, foi constatado que um dos sócios da Clean Serviços de Limpeza Ltda. transferiu sua parte na sociedade para o manobristada garagem de seu prédio, além de contrair de má-fé diversas dívidas em nome da empresa. A sociedade não possui qualquer ativo para pagar suas dívidas.
Pergunta-se:
a)      A empresa Clean Serviços de Limpeza Ltda. está legalmente extinta? 
Sugestão de gabarito: Antes de iniciar a resposta, é necessário discutir o conceito de Pessoa Jurídica - que são as entidades a quem a lei empresta personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. A sua principal característica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos as que compõem (art. 50, CC, a contrario sensu).A sociedade não está legalmente extinta. É necessário o registro da dissolução na JUCERJA ? art. 51, parágrafo 1º do CC, não basta para de exercer os atos de comércio.
b)      Qual solução jurídica para os credores receberem seus créditos?
Sugestão de gabarito: Os credores devem requerer ao juiz a desconsideração da personalidade jurídica ? art. 50 CC. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica determina a ilimitação da responsabilidade dos sócios que responderão solidariamente com a sociedade, para coibir os efeitos de fraude ou ilicitude comprovada.
UNIDADE 06
Caso Concreto 1
 
Noção de patrimônio. Distinção entre bens e coisas.
 
Jairo Silva Santos, jovem tímido de 19 anos é convidado pelos colegas de escola para participar de um luau na praia do Peró, em Cabo Frio/RJ. A noite estava estrelada, a música envolvente e aquela gente toda dançando freneticamente deixavam o jovem ainda mais deslocado. Até que conhece Maria Priscila, que o leva para o outro lado da praia e com quem acaba tendo sua primeira noite de amor. No calor do momento, Jairo enterra uma das mãos no chão e segura um punhado de grãos de areia que resolve guardar como recordação daquele momento especial.
Ao voltar para a festa, Jairo tropeça num objeto semi-enterrado na areia, descobrindo que se trata de uma carteira de couro da grife Giorgio Armani contendo R$200,00.
Diante do caso acima relatado, responda:
a)     Em razão do grande valor sentimental que aquele punhado de areia possui para Jairo, pertence ele a seu patrimônio? Por quê?
Gabarito sugerido: A noção de patrimônio reporta-se aos direitos que tenham por objeto bens avaliáveis em dinheiro, de conteúdo econômico ou pecuniário. Na medida em que “patrimônio é o conjunto de relações jurídicas imputáveis a um titular e suscetíveis de avaliação econômica”, fica nítido que o punhado de areia ainda que possua um valor para Jairo, não faz parte de seu patrimônio.
 
b)    Como Jairo não conseguiu identificar o dono da carteira ela passa a fazer parte de seu patrimônio?  Por quê?
Gabarito sugerido: Não. 
O Código Civil, na norma do art. 1.233 e seguintes, frustra aquele que encontrar coisa de outrem, porque dela não poderá se apropriar, pois estaria contrariando a lei. O referido Código nos informa: aquele que achar coisa alheia deve devolvê-la ao dono ou ao legítimo possuidor. Na falta desses, a coisa deve ser entregue à autoridade competente.
Isto não é novidade no direito civil brasileiro, porque o mesmo tema já era tratado no Código Civil de 1916, nos arts. 603 e seguintes. Sendo assim, achar coisa e não devolver nunca foi aceito como lícito no direito contemporâneo pátrio. 
E para aqueles que se utilizam do desconhecimento como desculpa é só se reporta ao art. 3º da Lei de Introdução ao Código Civil : Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
c)     É possível, de acordo com o Direito Civil brasileiro, uma pessoa ser destituída de todo e qualquer patrimônio?
Gabarito sugerido: Não, posto que reconhecido atualmente pelo Direito Civil-Constitucional o instituto do Mínimo Existencial, decorrência do princípio da dignidade humana. “As regras jurídicas criadas para as mais variadas relações intersubjetivas devem assegurar permanentemente a dignidade da pessoa humana. Para tanto é necessário ultrapassar as fronteiras dos direitos da personalidade para buscar também nos direitos patrimoniais, a afirmação da proteção funcionalizada da pessoa humana. Enfim, relacionando a garantia de um mínimo patrimonial à dignidade da pessoa humana, percebe-se o objetivo almejado pela Constituição da República no sentido de garantir a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais, funcionalizando o patrimônio como um verdadeiro instrumento de cidadania e justificando a separação de uma parcela essencial básica do patrimônio para atender às necessidades elementares da pessoa humana. (...) Forçoso afirmar ainda, que esse reconhecimento de patrimônio mínimo à pessoa humana não pode estar limitado à situação econômica ou social do titular. Trata-se de conceito universal, devendo ser funcionalizado a cada caso, protegendo cada uma das pessoas humanas para que venha a desempenhar suas atividades dignamente. É possível sofrer variação, portanto, de acordo com as circunstâncias pessoais de cada titular. (...) Não se pode admitir pessoa humana sem patrimônio. (Cristiano Chaves de Farias).
 
Caso Concreto 2
Noção de patrimônio.
 
Paula resolve entrar para uma comunidade religiosa em que os bens materiais individuais são considerados impuros. Somente pouquíssimos bens, essenciais, para a sobrevivência do grupo, são passíveis de serem aceitos e passam a pertencer à comunidade. Sua mãe, viúva, a adverte de que não poderá se desfazer de todos os seus bens por causa da teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo.
a)     Paula poderá se desfazer do patrimônio que possui, herança de seu pai?
Gabarito sugerido: Não. Pois deve manter pelo menos a titularidade de seu patrimônio mínimo. 
b)    A advertência da mãe de Paula está correta?
Gabarito sugerido:Sim, em razão da teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo que tem como fundamento de partida a regra da proibição da doação universal (doação inoficiosa), segundo a qual é nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. Muito embora esta regra humanitária seja antiga, com origens romanas, estando consagrada já no Código Civil de 1916, no seu artigo 1.175, insta salientar que ela somente ganhou destaque depois do advento da Carta Magna de 1988, quando se consagrou o fenômeno da repersonalização do Direito Civil. Antes disso, no Código de 1916, de tom eminentemente patrimonialista, a regra estava adormecida, praticamente ignorada. Hoje estampada no art. 548 do Código Civil de 2002, passa a ter a atenção que sempre mereceu. É o que leciona o Professor Luiz Edson Fachin(FACHIN, Luiz Édson. Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo. 2ª ed. atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2006):
 
“A nulidade da doação universal dos bens sem reserva de usufruto insere-se no quadro de normas que, a despeito do caráter acentuadamente patrimonialista da doutrina civilista consubstanciada no Código Civil de 1916, já tutelavam, de algum modo, topicamente, direitos fundamentais da pessoa. Em razão do Direito Civil clássico fornecer a estrutura e a legitimação para o modelo liberal, fundado nos princípios da propriedade privada, da autonomia privada e da liberdade formal, essas normas de caráter humanitário permaneceram ofuscadas, podendo renascer, reconstruídas dialeticamente, na tensão contemporânea entre o ‘mundo da vida’ e a racionalidade excludente do mercado globalizante”.
 
Caso Concreto 3
 
Classificação dos Bens.
Pertencente a uma expressiva coleção particular mineira - de onde nunca saíra antes a não ser para retrospectivas e salões de arte - a tela Casamento na roça, de Inimá de Paula, vai ao mercado. O leilão será no dia 16, na Vitor Braga Rugendas Galeria de Arte, em Belo Horizonte. A obra datada de 1947 traz no verso o carimbo do Salão Nacional de Belas Artes de 1949, onde obteve a medalha de prata. Lance inicial: R$ 230 mil. 
Além dessa obra também serão leiloados: 137 calças blue jeans da grife Live Strond, um automóvel Lancia Astura, exemplar único, fabricado especialmentepara o ditador italiano Benito Mussolini, em 1939, com desenho do ateliê Pininfarina, cinco anéis de brilhante, duas pulseiras de esmeraldas, os dois últimos lotes de vinho tinto da marca Merci Borreau, safra 1977, confiscados pela Receita Federal e um terreno de 2.000 m² localizado na Av. Paulista/SP.
 
a)     Levando em consideração a classificação dos bens, estabeleça a natureza jurídica dos bens objeto do leilão ?  JUSTIFIQUE sua resposta.
Gabarito sugerido: a tela, o automóvel e os lotes de vinho são considerados como bem móvel infungível, uma vez que removíveis por força alheia  e não podem ser substituídos por outro de mesma espécie, quantidade e qualidade, por serem exemplares únicos, conforme arts. 82 e 85 do CC.
As garrafas do vinho consideradas como unidades, os anéis, as pulseiras são bens móveis fungíveis, pois removíveis por força alheia e podem ser substituídos por outros de mesma espécie, quantidade e qualidade (art. 85 CC).
O terreno é um bem imóvel (art. 79 CC).
 
b)    As roupas referidas no caso acima são consideradas bens consumíveis ou inconsumíveis?
Gabarito sugerido: não é consumível a roupa, de uso de uma pessoa, já que lhe proporciona o uso reiterado. Todavia, a mesma roupa torna-se consumível numa loja, onde se destina à venda ou, como no caso, colocada em leilão.
 
 
Caso Concreto 4
 
Classificação dos bens
 
Situada na aprazível cidade de Castro, região da zona rural do Paraná, a fazenda adquirida por Leonor Sigfrid Pandorf possui uma plantação de pinheiros que cobre a maior parte da área de 40.000 m², utilizada para a produção de celulose. Ocorre que Leonor resolve mudar de ramo e recebe autorização especial do IBAMA para transformar tudo em lenha.
 
a) Com base na classificação dos bens em móveis e imóveis, estabeleça a natureza jurídica das árvores da fazenda e da lenha conseguida pelo seu corte:
Gabarito sugerido: Como as árvores estão ligadas à terra que é um bem imóvel, são consideradas também como bens imóveis. No entanto, tendo em conta que bens móveis por antecipação são aqueles que eram imóveis, mas que foram mobilizados por uma intervenção humana, a lenha é um bem móvel.
b) Qual a importância desta distinção?
Gabarito sugerido -  Cada árvore cortada que se transforma em lenha, por essa mudança de natureza dispensa os requisitos para transmissão da propriedade imóvel, o que justifica a importância da classificação.
UNIDADE 07
Os bens reciprocamente considerados.
Três amigos que há muito não se viam encontram-se por acaso no corredor da 1ª. Vara Cível de Goiânia/GO, enquanto aguardam suas respectivas audiências. Papo vai papo vem acabam por revelar o motivo que os levou até lá. 
LAURO, professor de educação física, construíra de boa-fé uma piscina olímpica no terreno do imóvel que alugara para ali instalar sua academia de natação; DAGOBERTO, também de boa-fé, construíra uma piscina na casa que alugara para passar os fins-de-semana e WALDOMIRO, sempre na maior das boas-fés, construíra uma piscina no imóvel alugado em que funcionava a escola de ensino fundamental que dirigia. Todos os amigos, após a rescisão de seus contratos de locação, recusaram-se a deixar os respectivos imóveis e entraram na justiça buscando a indenização pelo que gastaram e pela valorização dos imóveis, com base em pretenso direito de retenção. 
Pergunta-se:
 
a)   A natureza jurídica da benfeitoria realizada por cada um dos amigos  por se tratar de uma piscina, é a mesma? Afinal, o que é uma benfeitoria?
 
Gabarito sugerido: Não. A piscina é benfeitoria voluptuária em uma residência; útil, em uma escola; e necessária, em um clube de natação.
 As benfeitorias são obras, serviços ou despesas feitas em um bem móvel ou imóvel, pertencente a outrem, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. Segundo o artigo 96 do novo Código Civil – com redação quase igual à do código anterior (art. 63) -, as benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. As voluptuárias são as benfeitorias de mero deleite, ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor (art. 96, § 1º). O exemplo clássico é uma piscina numa casa particular ou um piso de granito. As benfeitorias úteis são as que aumentam ou facilitam o uso do bem (art. 96, § 2º), como a construção de uma garagem em uma residência. Por fim, benfeitoria necessária vem a ser a que tem por fim conservar o bem evitando que se deteriore. A classificação depende da necessidade do bem.
 
 
b)   O que significa esse “direito de retenção” alegado por todos os amigos como base para não saírem dos imóveis alugados? Todos eles são titulares de tal direito?
Gabarito sugerido: Somente o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, por cujo valor poderá exercer o direito de retenção. O jus retentionis conceituado por Carlos Roberto Gonçalves como "...um meio de defesa outorgado ao credor, a quem é reconhecida a faculdade continuar a deter a coisa alheia, mantendo-a em seu poder até ser indenizado pelo seu crédito..." segue o autor para concluir "...trata-se, na realidade, de meio coercitivo de pagamento sendo uma modalidade da "exceptio non adimpleti contractus" transportada para o momento da execução, privilegiando o retentor porque esteve de boa-fé..." (Sinopse Jurídica nº 03 - Direito das Coisas, Ed. Saraiva, pág. 80)..
Nos casos apresentados somente o diretor da escola e o professor de educação física são titulares do direito de retenção
 
 
a)   E se o proprietário da casa alugada por DAGOBERTO passasse a cobrar ingresso de seus vizinhos para utilizarem a piscina construída, faria diferença no caso em análise?
Gabarito sugerido:  Nesse caso a piscina deixaria de ser benfeitoria voluptuária e passaria a ser benfeitoria útil. E nesse caso Dagoberto teria direito à ressacir-se.
 
 
Caso Concreto 2
 
Os bens públicos.
 
A Administração Pública do Estado de São Paulo resolveu alienar um prédio onde funciona a sede de uma empresa de iluminação do estado, para saldar dívidas contraídas frente a algumas empresas contratadas para fazerem obras de reforma em dois hospitais e cinco escolas, estabelecidos no interior do estado.  
Com base no caso proposto, é admissível a alienação do imóvel em questão perante nosso ordenamento jurídico?  Justifique sua resposta
 
Gabarito sugerido: O imóvel objeto de alienação por parte da administração pública do Estado de São Paulo é considerado, segundo o que dispõe o art. 99, inciso II, CC, um bem público de uso especial, porque é um prédio que está sendo efetivamente utilizado pela administração pública do estado, e, mediante o que dispõe o artigo 100, do CC, os bens de uso especial são inalienáveis, não sendo possível a sua transferência para outra pessoa. Portanto, esse bem, na forma como se encontra, não é passível de alienação.
 
Questão Objetiva
 
 
Marque a alternativa ERRADA em relação aos bens reciprocamente considerados
(   ) o bem principal é um bem que possui existência autônoma, própria, já os bens acessórios dependem da existência de outro bem
( X  ) as pertenças são coisas móveis ou imóveis destinadas ao serviço ou ornamentação de um bem principal como parte integrante.
(   ) os frutos, produtos e rendimentos são bens acessórios
(   ) benfeitoria é toda obra ou despesa feita na coisa principal para conservá-la ou melhorá-la.
(   ) o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis
 
Resposta: as pertenças, conforme Art. 93, são bens que não constituem parte integrante de outro.
UNIDADE 08
Caso Concreto 1
 
Maria desejava muito ter um filho, mas em razão de sua infertilidade, acabou adotando Francisco, que fora abandonado ao nascer na porta da maternidade. Em razão disso, foi necessário montar um novo quarto para receber seu herdeiro; ela, então precisou comprar móveis novos e um lindo enxoval para o bebê. Na semanaseguinte à adoção de seu filho, Maria recebeu a notícia do nascimento de seu sobrinho, Bernardo, filho de sua irmã Filomena e ficou muito emocionada ao ser convidada para ser sua madrinha.
 
a) Encontre no caso narrado: um fato jurídico, ato jurídico e negócio jurídico.
Sugestão de gabarito: Os fatos jurídicos em sentido estrito decorrem de fatos da natureza que têm a tutela das normas jurídicas, já os atos jurídicos dependem de ações humanas, onde o elemento volitivo não provoca qualquer alteração dos efeitos já prévia e expressamente descritos na norma jurídica, enquanto que os negócios jurídicos derivam de ações humanas e o elemento volitivo é essencial para a criação dos direitos e deveres entre as partes.  Assim, a adoção de Francisco caracteriza típico ato jurídico, já a compra dos móveis e do enxoval do bebê, que se dá através da realização de contratos, enquadra-se na classificação de negócios jurídicos, enquanto o nascimento de seu afilhado, por derivar de um fato natural, representa fato jurídico em sentido estrito.
 
b) Por que o fato da irmã de Maria tê-la convidado para ser madrinha de seu filho não configura um negócio jurídico? 
Sugestão de gabarito: Os negócios jurídicos derivam de ações humanas e o elemento volitivo é essencial para a criação dos direitos e deveres entre as partes, direitos e deveres estes que encontram respaldo no ordenamento jurídico em vigor.  O apadrinhamento se trata de uma relação puramente no âmbito social, sem qualquer previsão legal e por isso não é considerado como um negócio jurídico, a despeito da presença do elemento volitivo.
 
Caso Concreto 2
Alcebíades, desde criança, mal consegue se comunicar em razão de ter nascido com uma anomalia genética, que lhe dificulta a conversação e o entendimento de coisas banais do dia-a-dia. Atualmente, ele tem 38 anos e reside em imóvel próprio. Ontem, caminhando pelo jardim, resolveu cavar um buraco para plantar uma palmeira, ocasião na qual encontrou um baú com diversas jóias do Século XVII.
1) Qual a natureza jurídica do ato de Alcebíades ( achar o tesouro )? 
 
A natureza jurídica do ato na hipótese em apreço é a de ato-fato na modalidade real. Nessa categoria enquadram-se os atos humanos de que resultam circunstâncias fáticas, geralmente irremovíveis onde não se examina o elemento vontade, interessando para o direito o resultado obtido. “O ato-fato jurídico nada mais é do que um FATO JURÍDICO qualificado pela atuação humana.” ( Pablo Stolze, ob.cit, p. 304 )
2)Alcebíades poderá adquirir a propriedade do tesouro mesmo sendo absolutamente incapaz ? Justifique.
Há na hipótese aquisição da propriedade por Alcebíades, na modalidade de tesouro achado, para o qual não se analisa o elemento vontade em razão de sua incapacidade. Na hipótese, a conseqüência do seu ato é que possui relevo jurídico. ( artigo 1.265 do CC )
questão objetiva
Sobre a teoria geral dos fatos jurídicos, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O que caracteriza o ato-fato jurídico é tratar-se de ato humano avolitivo que entra no mundo jurídico como fato.
b) No ato-fato jurídico a vontade do agente não integra o suporte fático, razão pela qual o louco pode praticá-lo eficazmente.
c) O ato-fato é um fato natural a que se atribui os mesmos efeitos dos atos humanos.
d) No ato-fato é irrelevante que o agente queira ou não praticar o ato, bastando que o pratique para que o ato exista e produza efeitos.
(TRF4-X – Direito Civil – Questão n.º 62 – Gabarito “C”)
Legislação: artº  185 e 1.265 do CCB

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