Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UD III – NORMAS COLETIVAS DO COLETIVO DO TRABALHO Nota de Aula nº 8 – 30 de Maio de 2016 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO SUMÁRIO 1. ASPECTOS HISTÓRICOS 2. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA 3. PRINCÍPIOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO 4. ORGANIZAÇÃO SINDICAL 5. LIBERDADE SINDICAL 6. LIMITAÇÕES AO PRINCÍPIO DA LIBERDADE SINDICAL 7. ÓRGÃOS DO SINDICATO 8. ELEIÇÕES NO SINDICATO 9. ENTIDADES SINDICAIS DE GRAU SUPERIOR 10. FUNÇÕES DO SINDICATO 11. FONTES DE CUSTEIO DOS SINDICATOS 1. ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO a. Na Europa O Direito Coletivo do Trabalho iniciou-se nos movimentos de união dos trabalhadores, com o objetivo de lutar contra as condições de trabalho que lhes eram desfavoráveis, buscando melhorias quanto ao salário e à jornada de trabalho. Pode-se dizer que as corporações de ofício, existentes na Idade Média, e extintas no período da Revolução Francesa, reuniam as forças produtivas (mestres, companheiros e aprendizes) na mesma entidade. Em função do liberalismo existente, à época, marcado por exagerado individualismo, entendeu-se que tal organização dificultava a liberdade individual, pois as mesmas funcionavam como corpos intermediários entre o indivíduo e o Estado. Na França a Lei Le Chapellier, de 1791, proibia que “cidadãos de um mesmo Estado ou profissão tomassem decisões ou deliberações a respeito de seus interesses comuns”. No século XVIII, a Revolução Industrial suscitou a “questão social” traduzida pelo desequilíbrio nas relações jurídico-econômicas entre trabalho e capital. Nessa época, as péssimas condições sociais e de trabalho foram fatores determinantes para o nascimento do sindicalismo, como forma de união entre os trabalhadores, na luta contra as injustiças sociais e desigualdades econômicas. 2 O Manifesto Comunista, de Max e Engels (1848), conclamava os trabalhadores à União e condenava a supressão das corporações de ofício, defendendo a necessidade dos operários se organizarem e se associarem para possibilitar a manifestação de suas opiniões e a obtenção de melhores condições de trabalho. As greves ocorridas no período também fortaleceram o movimento de associação profissional. Na Inglaterra, a partir de 1824, aponta-se uma fase de tolerância quanto à união de trabalhadores. Em 1830, são criadas as Trade Unions (associações de trabalhadores com o objetivo de mútua defesa e ajuda, uma forma embrionária dos sindicatos. Na França, a Lei Waldeck-Rousseau, de 21 de março de 1884, passou a autorizar que pessoas da mesma profissão, ou de profissões conexas, se reunissem em associações, independentemente de autorização do estado, para a defesa dos interesses econômicos e profissionais de suas respectivas categorias profissionais. Na Alemanha, a Constituição de Weimar, de 1919, assegurou o direito de associação, sendo a 1ª Carta a fixar preceitos relativos ao Direito Coletivo do Trabalho. Pouco tempo depois, na Itália de Mussoline, observa-se a formação de sistemas sindicais ligados ao regime facista, em que o sindicato é submetido aos interesses do Estado, como se verifica na Carta Del Lavoro, de 1927. No corporativismo, o Estado também centraliza todas as decisões, procurando manter o sindicato sob o seu controle. O movimento sindical de concepção socialista desenvolveu suas atividades sob direção do Partido Comunista. A concepção, baseada na autonomia e liberdade sindical, procurou separar o sindicato do Estado, seguindo o princípio democrático, hoje dominante. No plano internacional, a Declaração Universal de Direitos do Homem, de 1948, no art. XXIII, nº 4, prevê que “todo homem tem direitos de organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses”. A Convenção 87 da OIT, de 1948, estabelece as diretrizes pertinentes à liberdade sindical, consideradas essenciais para a democracia nas relações coletivas de trabalho. A Convenção 98/1949, refere-se ao direito de sindicalização e de negociação coletiva, tendo sido complementada pela Convenção 154/1981. A Convenção 135/1971, por sua vez, dispõe sobre a proteção aos representantes dos trabalhadores nas empresas. A Convenção 141/1975, trata da organização sindical dos trabalhadores rurais, e a Convenção 151/1978 aborda a sindicalização e negociação coletiva dos servidores públicos. 3 b. No Brasil A Constituição de 1824, aboliu as corporações de ofício. As Ligas Operárias, instituições assistenciais voltadas ao trabalhador, reivindicavam melhores condições de trabalho que originaram os primeiros passos em direção ao movimento sindical no país. Dentre essas entidades pode-se citar a Liga Operária de Socorros Mútuos (1872), a Liga de Resistência dos Trabalhadores em Madeira (1901), a Liga dos Operários em Couro (1901) e a Liga de Resistência das Costureiras (1906). A Constituição de 1891 não dispunha expressamente sobre as entidades sindicais, mas estabelecia liberdade de associação e de reunião para fins genéricos. Os primeiros sindicatos no Brasil surgiram em 1903, tendo sido reconhecidos pelo Decreto nº 979 e eram ligados a agricultura e pecuária. Em 1907 surge o primeiro sindicato urbano que criou sociedades corporativas, facultando a qualquer trabalhador, inclusive de profissões liberais, a associação a sindicatos, com objetivos de estudo e defesa dos interesses de sua profissão e de seus membros. É inegável a forte influência ligada à doutrina do Estado corporativo, vigente na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas. No corporativismo o Estado centraliza para si a organização da economia nacional, com objetivo de promover o interesse nacional, o que justificava o controle dos sindicatos. Com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1930, os sindicatos passaram a exercer funções delegadas de poder público. O Decreto 19.770/1931, conhecido como a “Lei dos Sindicatos”, estabeleceu a distinção entre sindicato de empregados e sindicato de empregadores, exigindo o reconhecimento do Ministério do Trabalho para a aquisição da personalidade jurídica dos sindicatos. Também foi instituído o sindicato único para cada profissão da mesma região. Nesse período era proibido ao sindicato o exercício de atividade política. Os funcionários públicos eram excluídos da sindicalização, sujeitando-se a lei especial. Permitia-se a criação de federações, por três sindicatos, e confederações (por cinco federações). A Constituição de 1934 reconhecia os sindicatos e as associações profissionais, no entanto, a pluralidade e autonomia sindical não foram tratadas. A Constituição seguinte, de 1937, recebeu influência do sistema Facista italiano, e da Carta del Lavoro, dispunha que a associação profissional ou sindical era livre, porém o sindicato necessitava ser reconhecido pelo Estado para poder representar os trabalhadores 4 de certa categoria profissional. Essa Carta também estabelecia, em seu art. 139, a criação da Justiça do Trabalho, para dirimir os conflitos oriundos das relações entre empregadores e empregados. Nesse período a Justiça do Trabalho era um órgão administrativo vinculado ao Poder Executivo. A greve e o lockout como “recursos antissociais nocivos ao trabalha e ao capital, incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional”. O Decreto 1.402/1939 regulou o sindicato único, referente à categoria econômica ou profissional, na mesmabase territorial, permitindo intervenção e interferência do Estado, com perda da carta sindical caso desobedecesse à política econômica do governo. Essa herança corporativista na organização sindical brasileira também se transfere para a CLT, em 1º de maio de 1943, como se observava no art. 512, ao dispor que somente as associações profissionais, regularmente constituídas para os fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais e registradas de acordo com o art. 558, podem ser reconhecidas como sindicatos e investidas nas prerrogativas definidas na CLT. O art. 516 da CLT dispunha sobre a unicidade sindical, ao prever a impossibilidade de ser reconhecido mais de um sindicato representativo da mesma categoria econômica ou profis-sional, em uma determinada base territorial. O art. 518 regulava o pedido de reconhecimento a ser dirigido ao Ministério do Trabalhado para o reconhecimento da entidade sindical. O art. 520 da CLT estabelecia que o sindicato era reconhecido por intermédio da carta de sindical. A Carta de 1946 reconhecia o direito de greve, remetendo sua regulamentação à lei. A Carta de 1967 estabelecia a liberdade de associação profissional ou sindical. O Decreto-Lei 229/1967 inseriu diversas alterações na CLT, regulando a possibilidade dos sindicatos de celebrar acordos e convenções coletivas, bem como a obrigatoriedade do voto sindical. A Portaria 3100/1985 do MTE revogou a Portaria 3337/1978, que proibia a existência das centrais sindicais. 2. CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA Uma pequena parcela de doutrinadores defenda a tese de que o Direito Coletivo do Trabalho constitui-se em ramo autônomo do Direito, sobretudo porque se pode identificar princípios que lhe são específicos, diferentes do Direito Individual do Trabalho. 5 No entanto, tal posição não carece de sustentação majoritária na doutrina pátria, principalmente pela ausência dos outros pressupostos essenciais que apontam a autonomia científica de uma ciência, a saber: a. Ausência de Autonomia Legislativa, pois a matéria é tratada na própria CLT, não havendo normas específicas; b. Ausência de Autonomia Jurisdicional, pois é a Justiça Trabalhista decide tanto as controvérsias envolvendo tanto o Direito Individual como o Direito Coletivo do Trabalho; c. Ausência de Autonomia Didática, pois o Direito Coletivo do Trabalho é ensinado nas universidades juntamente com a Disciplina de Direito do Trabalho; e d. Ausência de Autonomia Doutrinária, pois obras, textos e trabalhos científicos são normalmente escritos pelos doutrinadores e especialistas do próprio Direito do Trabalho. O Direito Coletivo do Trabalho não possui natureza jurídica própria e independente, sendo é segmento do Direito do Trabalho, pelas razões anteriormente elencadas. Por fim, pode-se conceituar o Direito Coletivo do Trabalho como o segmento do Direito do Trabalho que regula a organização sindical, a negociação coletiva e os instrumentos normativos decorrentes, a representação dos trabalhadores na empresa e a greve. 3. PRINCÍPIOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO 3.1 LIBERDADE SINDICAL Esse princípio é pautado pela democracia e pluralismo nas relações sindicais, sendo regulado pela Convenção 87/48 da OIT e pelo art. 8º, V da CF/88. No Brasil não cabe mais um modelo sindical controlado pelo Estado que imponha regras que sufoquem ou inibam a atuação dos sindicatos nas relações coletivas de trabalho. A liberdade sindical se traduz em liberdade de fundação, organização, filiação, administração, atuação e desfiliação. 3.2 AUTONOMIA COLETIVA PRIVADA Traduz-se em um poder que se confere aos entes sindicais, de estabelecer normas coletivas de trabalho, a serem aplicadas às relações trabalhistas. Os instrumentos normativos em questão, de natureza autônoma, decorrem da negociação coletiva, procedimento no qual os entes sindicais podem exercer o direito de firmar convenções e acordos coletivos de trabalho que se constituem em fontes formais do Direito do Trabalho. 6 3.3 ADEQUAÇÃO SETORIAL NEGOCIADA Indica as possibilidades e os limites que devem ser observados pelas normas coletivas, decorrentes de negociação coletiva de trabalho. Os instrumentos coletivos de negociação podem estabelecer direitos mais benéficos aos empregados, conforme o princípio da norma mais favorável, de acordo como que dispõe o art. 7º da CF/88. Quanto à possibilidade de estabelecer condições de trabalho menos favoráveis aos empregados, tal hipótese somente será possível, como verdadeira exceção, admissível apenas no próprio texto constitucional, como nos casos de férias coletivas e redução salarial. Dessa maneira, os direitos sociais e trabalhistas mínimos, assegurados na CF/88, não podem ser reduzidos, nem mesmo por negociação coletiva, por se considerarem o patamar mínimo pré-estabelecido. Também não podem ser objeto de flexibilização, in pejus, as normas necessárias à proteção da dignidade e da vida do trabalhador, bem como aquelas de ordem pública, pertinentes à segurança e à saúde no trabalho. 4. ORGANIZAÇÃO SINDICAL NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 A CF/88 adotou o PRINCÍPIO DA LIBERDADE SINDICAL, embora com determinadas restrições. De acordo com o art. 8º da CF/88, “é livre a associação profissional ou sindical”, desde que observados os preceitos descritos nos respectivos incisos. O art. 8º, I, da CF/88, veda a interferência e intervenção do Poder Público na organização sindical. Por sua vez, o art. 8º, II da CF/88, dispõe sobre a UNICIDADE SINDICAL, uma vez que é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um município. O sistema sindical revela-se, ainda, de CARÁTER CONFEDERATIVO e o inciso IV do art. 8º da CF/88, dispõe que “a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical, respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei”. A organização sindical brasileira enfatiza a NEGOCIAÇÃO COLETIVA, considerada a forma ideal de solução de conflitos de trabalho, originando as normas coletivas (acordos e convenções coletivas de trabalho). Nesse sentido o art. 7º, XXVI da CF/88 prevê o direito ao “reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho”. 7 Por outro lado, o inciso VI do art. 8º da CF/88 prevê a obrigatoriedade da participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. Já o art. 8º, VIII, da CF/88 dispõe sobre a estabilidade provisória do dirigente sindical, desde o registro da sua candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. 5. LIBERDADE SINDICAL A liberdade sindical é o princípio que fundamenta toda a organização sindical da atualidade, pautada pela democracia nas relações coletivas de trabalho, sendo regulado no âmbito internacional pela Convenção 87 da OIT, que, porém, ainda não foi ratificada pelo Brasil, em razão de certas restrições previstas em nossa Carta Magna. Consiste no direito de trabalhadores eempregadores de constituir as organizações sindicais que entenderem convenientes, na forma que desejarem, ditando as suas regras de funcionamento e ações que devam ser empreendidas, podendo nelas ingressar ou não, permanecendo neles enquanto lhes convir. 5.1 LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO E DE FILIAÇÃO A liberdade de associação consiste no direito das pessoas se unirem de forma duradoura, devido a existência de objetivos comuns, dando origem a grupos organizados, ou seja, associações. Dessa maneira assegura-se a liberdade de associação sindical ao se garantir a existência e a formação de organizações sindicais onde as pessoas possam se reunir de forma organizada em sindicatos. A liberdade de filiação sindical pode ser tanto positiva, ou seja, assegurando- se a possibilidade de se associar ao ente sindical, como negativa, no sentido de garantir o direito de deixar o quadro de associados do sindicato. Assim, veda-se o tratamento discriminatório para aquele que não é sindicalizado, bem como o tratamento privilegiado àquele que se associou ao sindicato. Além disso, a liberdade de filiação sindical pode se tanto individual, em que o trabalhador e o empregador têm o direito de ingressar como filiado do sindicato, como coletiva, na qual o próprio ente sindical decide se filiar a outro sindicato superior, seja ele de amplitude nacional ou internacional. Para que um empregado faça parte de uma determinada categoria profissional, não se exige manifestação de vontade do mesmo, bastando prestar serviços ao empregador. 8 Do mesmo modo, o empregador passa a fazer parte de determinada categoria econômica pelo fato de exercer atividade preponderante em certo setor da economia em determinada área territorial. No entanto, para ser filiado ao sindicato, faz-se necessária a manifestação de vontade do empregado ou do empregador. Mesmo sem filiação a qualquer sindicato, empregados e empregadores integram as respectivas categorias profissionais e econômicas, fazendo jus aos direitos fixados nos instrumentos normativos aplicáveis (acordos coletivos, convenções coletivas e sentenças normativas). Assim, um trabalhador de uma metalúrgica de São Bernardo, integra a categoria profissional dos metalúrgicos dessa cidade, podendo filiar-se, ou não, ao respectivo sindicato e, caso opte por não se associar faz jus a todos os direitos da respectiva categoria. Da mesma forma, independentemente da filiação sindical, o empregado deverá pagar a contribuição sindical obrigatória que está regulada na CLT. 5.2 LIBERDADE DE FUNDAÇÃO SINDICAL A fundação do ente sindical, como dispõe o inciso I do art. 8º da CF/88, não depende de autorização do Estado, sendo necessário, porém, o registro do sindicato no órgão competente. Assim, a aquisição da personalidade jurídica sindical depende do registro de seus estatutos no órgão competente. O sindicato, embora apresente natureza de associação de direito privado, contém diversas peculiaridades e funções diferenciadas. Por isso mesmo, o simples registro no Cartório de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas apenas confere a personalidade jurídica de associação, não sendo suficiente para a aquisição da personalidade sindical. A personalidade sindical é adquirida com o registro no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), conforme dispõe a Súmula 677 do STF. A Portaria nº 186, de 10 de abril de 2008, do Ministério do Trabalho e Emprego, regula o registro sindical. 5.3 LIBERDADE DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL A liberdade de organização sindical, significando a autonomia do ente sindical quanto à escolha dos meios para alcançar os fins a que se propõe. O sindicato encontra-se organizado conforme previsto em seu estatuto que estabelece os diversos órgãos que integram o ente sindical, bem como as atribuições de cada um deles. 9 Há quem defenda que o art. 8º, caput e inciso I da CF/88, ao proibir a interferência e a intervenção do Poder Público na organização sindical, não admite que a lei fixe os órgãos do ente sindical, bem como a sua composição, pois violaria a liberdade sindical, no que concerne a liberdade de organização. Entretanto, a doutrina majoritária entende que a vedação de interferência e intervenção dirige-se ao Poder Executivo, mas não ao Poder Legislativo ou Judiciário (quanto às suas atividades típicas de legislar e julgar), pois os entes sindicais, assim como todos aqueles que mantêm relações na sociedade, submetem-se a lei e estão sujeitos ao controle jurisdicional de seus atos (art. 5º, XXXV, da CF/88). Assim, a lei, desde que obedecidos os requisitos da razoabilidade e proporcionalidade, poderá estabelecer regras referentes à organização sindical. 5.4 LIBERDADE DE ADMINISTRAÇÃO SINDICAL A liberdade de administração do ente sindical refere-se à forma de sua condução, fixando as metas, prioridades e objetivos a serem alcançados. Cabe ao sindicato estabelecer a forma de sua administração, redigindo e aprovando o seu estatuto e realizando as eleições para a escolha e composição de seus órgãos. Também não é cabível a interferência externa, de terceiros ou do Poder Executivo no ente estatal, ou seja, em se tratando do sindicato de trabalhadores não se admite a interferência dos empregadores. Assim, de acordo com o que prescreve o art. 8º, III da CF/88, ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas, o que deve ser observado pelos diretores e membros da administração sindical. 5.5 LIBERDADE DE ATUAÇÃO SINDICAL A liberdade de atuação sindicato refere-se à conduta que o mesmo deverá adotar, de modo a alcançar os seus objetivos, em especial na defesa dos direitos e interesses, de natureza coletiva, da categoria como um todo, bem como dos direitos e interesses individuais, dos membros da categoria. Assim, deve haver liberdade de exercício das funções do ente sindical, sabendo- se que este realiza diversas ações e atividades, procurando alcançar os seus fins. Tanto a liberdade de atuação como a de organização e de administração sindical, inseridas na AUTONOMIA SINDICAL, devem respeitar as normas e os princípios constitucionais presentes em nosso ordenamento jurídico. 10 6. LIMITAÇÕES AO PRINCÍPIO DA LIBERDADE SINDICAL Mesmo após a CF/88, a organização sindical brasileira ainda prevê sérias restrições ao princípio da liberdade sindical, tal como previsto na Convenção 87 da OIT. 6.1 UNICIDADE SINDICAL A unicidade sindical é o sistema no qual a lei exige que apenas um ente sindical represente determinada categoria, em certo espaço territorial. Unicidade sindical não se confunde com a unidade sindical, nesta última, o sindicato único não decorre de imposição da lei ou de outra fonte normativa, mas sim de livre decisão de seus próprios interessados. A unicidade sindical afronta o princípio da liberdade sindical, em que é obrigatório por lei (vigente no país por previsão constitucional), apenas um sindicato dentro de uma determinada base territorial. Pluralidade sindical também está em consonância com o princípio da liberdade sindical. Nesse caso é autorizada a criação de várias entidades sindicais para representar o mesmo grupo de trabalhadores ou empregadores, emuma mesma base territorial. Porém, nesse caso pode ocorrer a dispersão de forças, dificultando a atuação eficaz e conjunta dos seus membros. 6.2 BASE TERRITORIAL NÃO INFERIOR À ÁREA DE UM MUNICÍPIO A CF/88 exige que seja observada a base territorial mínima do sindicato não inferior à área de um município, de acordo com o disposto no art. 8º, II da CF/88. Essa base territorial é mais restrita do que a estabelecida no art. 517 da CLT que admitia sindicatos distritais. Tal limitação territorial em conjunto com as restrições relativas à unicidade sindical e ao regime organizado por categoria impede a fundação e organização de sindicatos por empresas. 6.3 SISTEMA SINDICAL ORGANIZADO POR CATEGORIAS O sistema de categorias é uma forma de restringir a liberdade sindical com origem no regime corporativista, impossibilitando que os interessados se reúnam em formas distintas, em outros grupos, com alcance diverso, como os sindicatos por profissões, ou o sindicato dos trabalhadores de certa empresa. CATEGORIA pode ser definida como um conjunto de pessoas com interesses PROFISSIONAIS (empregados) ou ECONÔMICOS (empregadores) em comum, decorrentes de identidade de condições ligadas ao trabalho ou à atividade econômica desempenhada. A categoria pode reunir atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas. 11 A CATEGORIA PROFISSIONAL (referente aos empregados) é a expressão social elementar, integrada pela “similitude de condições de vida” oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou conexas (art. 511, § 2º da CLT). Para que o empregado integre a certa categoria profissional basta prestar serviços a empregador cuja atividade esteja inserida em certo setor da economia, independentemente da função especificamente desempenhada. Assim, o empregado que trabalha exercendo funções de limpeza, para o seu empregador, que é uma empresa cuja atividade preponderante é a metalurgia, considera-se como integrante da categoria profissional dos metalúrgicos, assim como aqueles empregados que trabalham diretamente na atividade industrial de metalurgia. A CATEGORIA ECONÔMICA (referente ao empregadores) representa o vínculo social básico decorrente da solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas (art. 511, § 1º da CLT). A CATEGORIA DE ATIVIDADES IDÊNTICAS reúne os empregadores (sindicato patronal), ou os empregados (sindicato profissional), que exerçam, respectivamente, a mesma atividade econômica, ou que prestem serviços ao mesmo setor da atividade econômica. A CATEGORIA DE ATIVIDADES SIMILARES reúne atividades semelhantes entre si, como no caso dos hotéis, bares e restaurantes, pode ocorrer tanto na categoria econômica ou profissional. A CATEGORIA DE ATIVIDADES CONEXAS é integrada por atividades que se complementam, sendo exercidas com o mesmo fim, como ocorre na construção civil, em que existem, entre outras, as atividades de alvenaria, pintura, parte elétrica e hidráulica, também podendo ser verificada a conexão tanto na categoria econômica como na profissional. A CATEGORIA PROFISSIONAL DIFERENCIADA é a que se forma dos empregados que exerçam profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto profissional especial ou em consequência de condições de vida singulares (art. 511, § 3º da CLT). Assim, para a existência de categoria profissional diferenciada faz-se necessária a existência de um estatuto profissional especial, como no caso das secretárias, ou existência de condições de vida diferenciadas, como no caso dos motoristas, tudo de acordo como quadro anexo mencionado pelo art. 577 da CLT. 12 De acordo com a Súmula nº 374 do TST, o empregado integrante de categoria diferenciada não tem o direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria. Em nosso ordenamento jurídico, a categoria profissional diferenciada, representando o sindicato por profissão, ainda é uma exceção. Se o empregado exerce atividade típica de profissional liberal (advogado, médico ou engenheiro), mas mantém vínculo de emprego com empregador, deixa de ser representado por sindicato de profissional liberal, pois passou a prestar serviço como empregado e não mais como autônomo. Porém, deve-se observar o art. 1º da Lei 7.316/85, que dispõe: Nas ações individuais e coletivas de competência da Justiça do Trabalho, as entidades sindicais que integram a Confederação Nacional das Profissões Liberais terão o mesmo poder de representação dos trabalhadores empregados atribuído, pela legislação em vigor, aos sindicatos representativos das categorias profissionais diferenciadas. Para que esse dispositivo seja eficaz, deve-se entender que os empregados exercendo, na empresa, atividades típicas de profissionais liberais, ainda não consideradas como integrantes de categorias diferenciadas, podem se reunir em sindicatos próprios, aplicando-se, neste caso, as mesmas regras pertinentes aos sindicatos das categorias profissionais diferenciadas. Somente no caso em que a profissão do referido empregado, exercida na empresa, seja considerada (pelo ordenamento jurídico) como uma categoria profissional diferenciada, como ocorre com os motoristas, aeronautas, cabineiros, jornalistas, músicos, publicitários e secretárias, entre outros, é que o sindicato da profissão, será, excepcionalmente, o representante da categoria. TAL SITUAÇÃO É UMA EXCEÇÃO, POIS EM REGRA, O EMPREGADO INTEGRA A CATEGORIA PROFISSIONAL CORRESPONDENTE À ATIVIDADE ECONÔMICA DO EMPREGADOR, INDEPENDENTE DA FUNÇÃO DESEMPENHADA. A Súmula 369, III do TST dispõe que o empregado de categoria diferenciada eleito dirigente sindical só goza de estabilidade se exercer na empresa atividade pertinente à categoria profissional do sindicato para o qual foi eleito. 7. ÓRGÃOS DO SINDICATO O sindicato compõe-se de três órgãos: diretoria, conselho fiscal e assembleia geral. A DIRETORIA será composta de um mínimo de três e um máximo de sete membros, entre os quais será eleito o presidente do sindicato. Trata-se de um órgão executivo, cuja função é administrar o sindicato. 13 O CONSELHO FISCAL será composto por três membros, eleitos pela assembleia geral, com mandato de três anos. Tem competência para fiscalizar a gestão financeira do sindicato. O art. 522 combinado com o art. 543, § 3°, da CLT, determina o número de dirigentes sindicais, inclusive os suplentes, que terão direito à estabilidade. Há controvérsia na doutrina brasileira, entendendo alguns, que o art. 522 da CLT estaria revogado pela liberdade sindical, estabelecida na CF/88, em razão de que todas as normas que criem exigências para o reconhecimento ou funcionamento de associações ou sindicatos estão tacitamente revogadas, pois cabem aos estatutos de cada sindicato definir tais atribuições. A estabilidade do dirigente sindical diz respeito à garantia dada ao trabalhador para poder cumprir o seu mandato. Com a CF/88, os sindicatos passaram a ter autonomia, vedando-se a interferência estatal, ou seja, do Poder Executivo, em seu funcionamento. A CF/88 não restringe o número de dirigentes sindicais, pois essa não é uma matéria constitucional. Assim,nada impede que a lei ordinária limite certas situações, para garantia do exercício de direitos, não havendo, assim quaisquer irregularidades com o disposto no art. 522 da CLT, não havendo qualquer intervenção estatal por parte da lei, mas sim, mero disciplinamento do número de membros dos sindicatos. O direito da lei ordinária limitar o número de dirigentes sindicais não excede a auto- nomia interna do sindicato, pois atinge direitos e liberdades dos empregadores em garantir a estabilidade de emprego de seus membros. Assim, não é possível ao sindicato estabelecer estabilidade para mais do que 14 membros da diretoria (7 titulares e 7 suplentes). A CF/88 tornou incompatíveis os artigos da CLT que tratavam da intervenção do Estado no sindicato, não são mais aplicáveis os dispositivos referentes à necessidade de autorização do MTE na fundação do sindicato, bem como, sobre sua intervenção na autonomia e administração do sindicato. O que é vedado é a intervenção do Poder Executivo e não do Poder Legislativo. A ASSEMBLEIA GERAL é o órgão máximo do sindicato, tendo por objetivo principal deliberar sobre vários assuntos, entre os quais o de traçar as diretrizes do sindicato e sua forma de atuação. É ela que elegerá os associados para representação da categoria, tomará e aprovará as contas da diretoria, aplicará o patrimônio do sindicato, julgará os atos da diretoria e deliberará quanto aos dissídios trabalhistas, além de eleger os diretores e membros do conselho fiscal. 14 8. ELEIÇÕES SINDICAIS A eleição para cargos de diretoria e do conselho fiscal será realizada por voto obrigatório e secreto, durante o período de 6 horas consecutivas, na sede do sindicato, nas delegacias e seções e nos principais locais de trabalho. Para o exercício do direito de votar é necessário: (a) ter o associado mais de 6 meses de inscrição no quadro social e mais de 2 anos de exercício de atividade ou de profissão; (b) ser maior de 18 anos; (c) estar no gozo dos direitos sindicais. Não podem ser eleitos para cargos administrativos ou de representação econômica ou profissional, nem permanecer no exercício desses cargos: (a) os que não tiverem aprovadas suas contas no exercício desses cargos; (b) os que houverem lesado o patrimônio de qualquer entidade sindical; (c) os que não estiverem, desde dois anos antes, pelo menos, no exercício efetivo da atividade ou da profissão dentro da base territorial do sindicato, ou no desempenho de representação econômica ou profissional; (d) os que tiverem sido condenados por crime doloso enquanto persistirem os efeitos da pena; (e) os que não estiverem no gozo de seus direitos políticos; (f) os que tiverem má conduta, devidamente comprovada (art. 530 da CLT). Nas eleições para cargos de diretoria e do conselho fiscal, serão considerados eleitos os candidatos que obtiverem maioria absoluta de votos em relação ao total dos associados eleitores. Não havendo na primeira convocação maioria absoluta de eleitores, ou não obtendo nenhum dos candidatos tal maioria, proceder-se-á a nova convocação para dia posterior, sendo considerados eleitos os candidatos que obtiverem maioria dos votos dos eleitores presentes. As eleições deverão ser realizadas dentro do prazo máximo de 60 dias e mínimo de 30 dias, antes do término do mandato dos dirigentes em exercício. Já a posse da nova diretoria deverá ocorrer dentro de 30 dias subsequentes ao término do mandato. 9. ENTIDADES SINDICAIS DE GRAU SUPERIOR 9.1 FEDERAÇÕES As FEDERAÇÕES são entidades sindicais organizadas, em regra, por estados da federação, mas podem existir federações interestaduais ou mesmo nacionais. Poderão ser constituídas desde que reúnam, pelo menos, cinco sindicatos, representando a maioria absoluta de um grupo de atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas (art. 534 da CLT). 15 9.2 CONFEDERAÇÕES As CONFEDERAÇÕES são constituídas por, no mínimo, três federações, tendo sede em Brasília (art. 535 da CLT). São formadas por ramo da atividade (indústria, comércio, transportes), como a Confederação Nacional da Indústria, a Confederação Nacional dos Transportes e a Confederação Nacional das Profissões Liberais, entre outras. Tanto as confederações, como as federações podem ser constituídas para representar os interesses da categoria profissional como também da atividade econômica. Quando as categorias não forem organizadas em federações ou sindicatos, as confederações coordenam as atividades das entidades de grau inferior, estando autorizadas a celebrar convenções coletivas, acordos coletivos e a instaurar dissídios coletivos. Seus órgãos internos são os mesmos da federação. 9.3 CENTRAIS SINDICAIS As centrais sindicais são órgãos de cúpula, intercategoriais, de âmbito nacional, coordenando os demais órgãos, sem integrar o sistema sindical confederativo regulado na Constituição Federal. A Portaria 3.337/78, que proibia a criação de centrais sindicais, foi revogada pela Portaria 3.100/85 do MTE. A legislação prevê a existência das centrais sindicais, tendo representação em certos órgãos governamentais, por intermédio dos trabalhadores dessas entidades, como no Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo do Trabalhador (Lei 7.998/90), no Conselho Curador do FGTS (Lei 8.036/90), no Conselho Nacional de Previdência Nacional (Lei 8.213/91), e no Conselho Curador do Fundo de Desenvolvimento Social (Lei 8.677/94). Atualmente existem no Brasil as seguintes centrais sindicais, entre outras: Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, União Sindical Brasileira, União Sindical Independente, Nova Central Sindical de Trabalhadores, Confederação Geral dos Trabalhadores, Social Democracia Sindical, Central Autônoma dos Trabalhadores, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil. Dispõe o art. 1° da Lei 11.648/2008 que a central sindical é a entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito nacional e com a finalidade de coordenar a representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais a ela filiadas; além de participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite (representantes dos trabalhadores, dos empregadores e do governo), nos quais esteja em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores. 16 A CF/88 reconhece que o sistema sindical brasileiro é estabelecido por categoria, na qual não se inserem as centrais sindicais, pois estas representam sindicatos pertencentes a vários tipos de categorias de trabalhadores, uma vez que as centrais sindicais não estão vinculadas a categorias, como dispõe o art. 8° da CF/88. As centrais sindicais não representam os trabalhadores, pois apenas os sindicatos, as federações ou confederações poderão fazê-lo. Na verdade representam os sindicatos filiados, não podendo defender os interesses da categoria. As centrais sindicais participam de negociações coletivas, mas não podem: (a) declarar greves; (b) celebrar convenções, acordos ou contratos coletivos; (c) propor dissídios coletivos, pois não tem legitimidade para tal; (d) representar a categoria, nem assinar documentos em seu nome; (e) impetrar mandado de segurança coletivo, pois não é entidadede classe, nem organização sindical reconhecida no sistema confederativo constitucional. Sendo considerada entidade de classe de âmbito nacional, poderá a central sindical propor ação direta de inconstitucionalidade (art. 103, IX da CF/88). Para o exercício das atribuições e prerrogativas relativas a negociações em fóruns a central sindical deverá cumprir os seguintes requisitos: (a) filiação de, no mínimo, 100 sindicatos distribuídos nas cinco regiões do país; (b) filiação em pelo menos três regiões do país de, no mínimo, 20 sindicatos em cada uma; (c) filiação de sindicato em, no mínimo, 5 setores de atividade econômica; (d) filiação de sindicatos que representem, no mínimo, 5% do total de empregados sindicalizados em âmbito nacional. Os sindicatos, as federações, as confederações e as centrais sindicais não têm receita pública, mas sim, receita privada. 10. FUNÇÕES DO SINDICATO Sindicatos exercem funções de representação, negocial, econômica, política e assistencial. A FUNÇÃO DE REPRESENTAÇÃO é assegurada no art. 513, a, da CLT, que dispõe sobre a prerrogativa do sindicato de representar, diante das autoridades administrativas e judiciárias, os interesses da categoria ou os interesses individuais dos associados relativos à atividade ou profissão exercida. Uma das funções precípuas do sindicato é a de representar a categoria e não apenas os associados. O STF entende que o inciso III do art. 8° da CF/88 trata de substituição processual. O sindicato representa legalmente a categoria, mas, em alguns casos, não tem representatividade. 17 A FUNÇÃO NEGOCIAL do sindicato é a que se observa na prática das convenções e acordos coletivos de trabalho. A CF/88 prestigia a função negocial do sindicato ao reconhecer as convenções e acordos coletivos de trabalho (art. 7°, XXVI), além de certos direitos somente poderem ser modificados por negociação coletiva (art. 7°, VI, XII, XIV). É também obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas (art. 8, VI). O art. 564 da CLT veda ao sindicato, direta ou indiretamente, o exercício de atividade econômica. O referido artigo permanece em vigor com a CF/88, corroborando com a ideia de que no Brasil os sindicatos não exercem a FUNÇÃO ECONÔMICA. O sindicato não deveria fazer política partidária, pois esta é a prerrogativa dos partidos políticos. O sindicato deve representar a categoria, participar das negociações coletivas, firmar normas coletivas, prestar assistência aos associados, mas não deve exercer a FUNÇÃO POLÍTICA, o que desvirtuaria suas finalidades. O art. 521, d, da CLT mostra a proibição do sindicato exercer qualquer das atividades não compreendidas nas finalidades do art. 511 /CLT, principalmente as de caráter político- partidário. Várias são as FUNÇÕES ASSISTENCIAIS do sindicato, com destaque para a assistência nas rescisões contratuais dos empregados com mais de um ano de empresa. O art. 514, b, do art. 514 da CLT mostra que é dever do sindicato manter ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA aos associados, independentemente do salário que percebam. O art. 14 da Lei 5.584/70 dispõe que a assistência judiciária em juízo seja prestada pelo sindicato àqueles que não tenham condições de ingressar com ação, sendo devida a todo aquele que perceber salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ficando assegurado igual benefício ao trabalhador que tiver salário superior, desde que comprove que sua situação econômica não lhe permite demandar sem prejuízo do sustento próprio ou da família. Tal assistência será prestada, mesmo que o trabalhador não seja sócio do sindicato. O art. 592 da CLT dispõe que a receita da contribuição sindical será aplicada em assistência técnica, jurídica, médica, dentária, hospitalar, farmacêutica, à maternidade, creches, colônias de férias, educação e formação profissional. O sindicato também tem função social, de integração social do trabalhador na sociedade. Alguns sindicatos têm programas de recolocação profissional do trabalhador dispensado. 18 11. FONTES DE CUSTEIO DOS SINDICATOS 11.1 CONTRIBUIÇÃO SINDICAL A contribuição sindical destina-se a atender o custeio do sistema sindical (art. 8º, IV, da CF, art. 548, a, e art. 578 da CLT). Seu pagamento é compulsório e anual, corresponde a 1/30 do salário do empregado (um dia de salário) e apurada sobre o capital social das empresas e fixado um percentual para os profissionais liberais. Foi instituída pela primeira vez na Constituição de 1937 e, por força do Decreto-Lei nº 27/66 era denominado de imposto sindical. A natureza jurídica da contribuição sindical é tributária, pois se encaixa na orientação do art. 149 da CF/88, como uma contribuição de interesse das categorias econômicas e profissionais. A contribuição sindical, prevista em lei, e, portanto, compulsória, não se confunde com a contribuição confederativa, prevista no inciso IV do art. 8º da CF, pois esta visa apenas ao custeio do sistema confederativo, sendo fixada pela assembleia geral do sindicato. Devem pagar a contribuição sindical todos os trabalhadores pertencentes à categoria, independentemente de serem sindicalizados, ou não, por se tratar de prestação compulsória, que independe da vontade dos contribuintes, justamente por ter natureza tributária. Do recolhimento da contribuição sindical há a necessidade de sua repartição entre as entidades que compõe o sistema confederativo: Para os empregadores: (a) 5% para a confederação correspondente; (b) 15% para federação; (c) 60% para o sindicato correspondente; (d) 20% para “conta especial emprego e salário”. Para os trabalhadores: (a) 5% para a confederação correspondente; (b) 10% para a central sindical; (c) 15% para a federação; (d) 60% para o sindicato respectivo; (e) 10% para a “conta especial emprego e salário”. O sindicato dos trabalhadores indicará ao MTE, a central sindical a que estiver filiado, como beneficiária da respectiva contribuição sindical, para fins de destinação do respectivo percentual. Inexistindo confederação, seu percentual caberá à federação representativa do grupo. Inexistindo sindicato o percentual deste será creditado à federação correspondente à mesma categoria econômica ou profissional. 19 Os empregadores são obrigados a descontar, da folha de pagamento de seus empregados relativa ao mês de março de cada ano, a contribuição sindical devida aos sindicatos profissionais. No caso do recolhimento da contribuição sindical relativa aos empregados e trabalhadores avulsos será efetuado no mês de abril de cada ano, e o relativo aos agentes ou trabalhadores autônomos realizar-se-á em fevereiro. 11.2 CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA É a fonte de receita criada com a CF/88 (art. 8º, IV) e tem por finalidade custear o sistema confederativo (sindicato, federação e confederação), sendo fixada em assembléia e inserida em acordo ou convenção coletiva do trabalho. A natureza jurídica da contribuição confederativa não é tributária, mesmo porque a referida contribuição não foi instituída por lei. É uma obrigação consensual, em razão de depender da vontade da pessoa que irá contribuir, inclusive participando da assembleia geral, na qual ela será fixada. Trata-se de uma contribuição de cunho privado, exigida pelo sindicato, de acordo com sua autonomia sindical, para o custeio dosistema confederativo, tendo como credores o sindicato da categoria profissional ou econômica, e como devedores os empregados ou empregadores. O STF entende que a contribuição confederativa, prevista no art. 8, IV da CF/88, é autoaplicável, sendo compulsória apenas para os filiados ao sindicato, sendo estabelecida em assembleia geral do sindicato. As CENTRAIS SINDICAIS, por não integrarem o sistema confederativo, NÃO SÃO BENEFICIÁRIAS DA CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA, pois são entidades livremente formadas pelso interessados, ficando à margem do sistema confederativo. Dessa maneira, os NÃO ASSOCIADOS AO SINDICATO, que pertençam a mesma categoria profissional ou econômica, PODERÃO OPOR-SE À COBRANÇA da contribuição confederativa. Assim, a contribuição confederativa somente pode ser exigida das pessoas que forem sindicalizadas. A Súmula 666 do STF dispõe que a contribuição confederativa, prevista no inciso IV do art. 8 da CF/88, só é exigível dos filiados do respectivo sindicato. O Precedente 119 do TST esclareceu que fere o direito à plena liberdade de associação e de sindicalização cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa fixando a contribuição a ser descontada dos salários dos trabalhadores não filiados a sindicato profissional, sob a denominação de taxa assistencial, ou para o custeio do sistema confederativo. 20 11.3 CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL Conhecida como TAXA ASSISTENCIAL, taxa de reversão, contribuição de solidariedade ou desconto assistencial, visa cobrir os gastos do sindicato realizados por conta da participação em negociação coletiva (art. 513, e da CLT). Sua natureza jurídica distingue-se da contribuição confederativa, pois esta serve para custear o sistema confederativo da representação sindical patronal ou profissional. A contribuição assistencial é definida nas sentenças normativas, acordos e convenções coletivas, visando custear as atividades assistenciais do sindicato, principalmente pelo fato do sindicato ter participado das negociações para obtenção de novas condições de trabalho para categoria, e compensar a agremiação com os custos incorridos na negociação. A contribuição assistencial também não tem natureza tributária, pois não é destinada ao Estado, constituindo-se em desconto de natureza convencional, que decorre da autonomia da vontade dos contratantes, ao pactuarem o desconto pertinente na norma coletiva, sendo facultativa, estipulada pelas partes e não compulsória. O STF já entendeu que “não contraria a Constituição cláusula, em dissídio coletivo, de desconto, a favor do sindicato, na folha de pagamento dos empregados, de percentagem de aumento referente ao primeiro mês, desde que não haja oposição do empregado, até certo prazo antes desse pagamento”. A Súmula 190 do TST esclarece não ser possível criar ou homologar condições de trabalho em dissídio coletivo que o STF julgue iterativamente inconstitucionais. Assim, se o STF entende que a contribuição assistencial pode ser incluída como cláusula em dissídio coletivo, nada impede o TST de julgar ou homologar cláusula nesse sentido ao proferir a sentença normativa. Portanto, não é inconstitucional a previsão do desconto assistencial em dissídio coletivo. Empregado não associado pode opor-se ao desconto da contribuição assistencial, por não ser membro do sindicato, pois do contrário haveria violação do princípio da liberdade sindical. Já o empregado associado a sindicato não poderá opor-se ao pagamento da contribuição assistencial. O próprio STF já admitiu que para cobrança da contribuição assistencial, há necessidade do empregado não se opor ao desconto, desde que até certo prazo antes do pagamento dos salários reajustados, que seria de 10 dias antes do primeiro pagamento do salário reajustado. 21 Essa orientação baseia-se no princípio da intangibilidade salarial (art. 462 da CLT), como também no art. 545 da CLT que especifica que “os empregadores ficam obrigados a descontar na folha de pagamento dos seus empregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas ao sindicato”. Portanto, há necessidade de que os empregados concordem com os descontos, com exceção da contribuição sindical, que independeria da vontade do empregado, por ser compulsória e ter natureza tributária. É vedado aos sindicatos impor contribuição assistencial maior aos não associados em relação aos que são associados. 11.4 CONTRIBUIÇÃO DOS ASSOCIADOS: A contribuição dos associados, ou mensalidade sindical é devida pelos trabalhadores filiados a um sindicato, que participam de suas atividades e desfrutam de seus serviços, sendo obrigatória nos termos de seu estatuto, com base no que dispõe o art. 548, b, / CLT. REFERÊNCIAS CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 8ª ed., 2013. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTR, 12ª ed., 2013. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 8ª ed., 2014 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2014. MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 6ª ed. 2015. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2012. COMPLEMENTE SEUS ESTUDOS COM A LEITURA DA DOUTRINA RECOMENDADA NO PLANO DE ENSINO! PROF. JOÃO LUÍS PRIÁTICO SAPUCAIA
Compartilhar