Buscar

Extra MANOLO Sair do roteiro, obrigação de quem quer vencer

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

09/06/2016 Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44683 1/7
Quinta­feira, 09 de Junho de 2016
Busca  
     
Início
Quem Somos
Contato
Translations
Movimentos em Luta
Portugal
Brasil
Mundo
Cultura
Ideias & Debates
Citando…
Flagrantes Delitos
Cartunes
Dossiês
Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer
16 de agosto de 2011   
Categoria: Ideias & Debates
Comentar | Imprimir
É que os adversários da gente – me incluo neste “nós” porque estamos do mesmo lado – são muito mais fortes e organizados que nós, e precisamos
saber agir para não desperdiçar nossas energias. Por Manolo
Tenho  certeza  que  vai  soar  absurdo  o  que  vou  dizer  aos  jovens  soteropolitanos  que  se mobilizaram para  barrar  o  aumento  de  tarifas  de  ônibus
autorizado pela Prefeitura para o dia 1º de janeiro deste ano. Mas não tem jeito, tenho que dizer, senão engasgo. É simples: seus protestos já fazem
parte  do  roteiro.  Tanto  a  Prefeitura  quanto  o  Sindicato  das  Empresas  de  Transporte  Público  de  Salvador  (SETPS)  já  esperavam  que  vocês  se
mexessem – e já os estão neutralizando, porque é o que está previsto no roteiro. E em geral se a passagem não for reduzida em uma semana, vocês
se  cansam  e  voltam  para  casa,  desiludidos  por  terem  perdido mais  uma  –  e  assim  se  fecha  o  ciclo  aumento­protesto­aceitação,  que  começará
novamente em um ou dois anos.
Não,  não  quero  jogar  água  fria  em  seu  fogo.  Os  protestos  de  rua  são  extremamente  necessários,
porque só assim vocês mostram que a cidade é sua, de  todos e de cada um, e não de uma panelinha de donos de  imobiliárias e de empresas de
transporte que acham que podem mandar em nossos destinos. Não quero atrasar o lado de ninguém, não é este o caso. É que os adversários da gente
– me incluo neste “nós” porque estamos do mesmo lado – são muito mais fortes e organizados que nós, e precisamos saber agir para não desperdiçar
nossas energias. Deixem­me explicar as coisas, então.
Oito anos atrás, em 2003, estive nas ruas contra o aumento de R$ 1,30 para R$ 1,50, naquelas três semanas de manifestações (de 28 de agosto a 24
de setembro) que vocês hoje chamam de Revolta do Buzu. Foram vinte mil estudantes nas ruas, antes e depois do aumento, fechando o Iguatemi, o
Comércio, a Suburbana, Itapuã, a Rótula do Abacaxi, a Av. Sete… Chegamos a ocupar a Câmara de Vereadores, e quase entramos na Prefeitura
algumas vezes. O prefeito de então, Antônio Imbassahy, a princípio queria descer a porrada em todo mundo, mas depois se fez de bonzinho e foi
cozinhando  a  gente  em banho­maria  com um monte  de  negociações,  uma  atrás  da  outra,  sobre  um monte  de  coisas  inúteis,  até  que  a  gente  se
cansou. O SETPS, pra variar, não estava nem aí: queria era aumento mais alto mesmo, e dane­se o mundo. Mas o povão, a galera, esses que a gente
quer ajudar fazendo baixar a passagem, esses apoiaram muito a gente no começo, mas depois foram começando a achar chato ficar  tanto  tempo
parado no trânsito. E pra piorar os meios de comunicação começaram a distorcer os fatos para dar a impressão de que estava tudo bem e o Governo
do Estado baixou “ponto facultativo” nas escolas para que ninguém mais se juntasse. Cerco pesado.
Foi isso o que matou nosso movimento: a gente não conseguiu chamar todo mundo pra rua, foram só os estudantes, e aí era só a Prefeitura ficar
gastando a gente com negociações até não dar mais para fazer nada. Perdemos uma, mas tem gente que diz que isso foi uma “vitória”, uma “lição de
cidadania” etc., porque pongaram num movimento contra o aumento das passagens para colocar pautas acumuladas do movimento estudantil (meia­
passagem no fim de semana, meia­passagem para pós­graduação etc.). Não conseguiam mobilizar ninguém antes, e naquela hora aproveitaram o
movimento para fazer o que não conseguiram desde que o smart card foi instalado pela primeira vez em 1996.
Voltamos para casa. Virados no inferno, mas voltamos para casa. Derrotados, mas de cabeça em pé.
09/06/2016 Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44683 2/7
Em 2004 tentaram aumentar a passagem de novo no Natal, mas não conseguiram. O golpe do SETPS
na Justiça não deu certo, e passamos mais um ano com tarifa congelada. Mas em 2005 apareceu outro aumento, e lá estava todo mundo na rua de
novo para protestar contra outro aumento. O SETPS entrou na Justiça para aumentar a passagem para R$ 2,20, e desta vez parecia que a gente tinha
chance de ganhar. Como já estava todo mundo bem “macaco velho” com essas coisas, e resolvemos resgatar a história toda para ninguém dizer que
não sabia de nada: fizemos um primeiro boletim contra o aumento para explicar a história dos aumentos em Salvador e um segundo boletim contra o
aumento para tirar dúvidas de quem havia conversado conosco. A gente acreditava que informar as pessoas era fundamental para que o movimento
vencesse, porque a imprensa tinha jogado contra nós em 2003. E fomos para a rua de novo. Botamos a Prefeitura e o SETPS na parede; a Prefeitura
cagou nas calças e, com medo de outra Revolta do Buzu, entrou na justiça para cassar a liminar.
Depois disso, fizeram uma jogada que ninguém esperava: botaram o Conselho Municipal de Transportes para funcionar novamente, e deixaram para
ele a responsabilidade de decidir o valor da passagem. Fizemos um terceiro boletim contra o aumento para explicar o que é um Conselho Municipal
de Transportes e um quarto boletim contra o aumento para explicar os riscos que a gente corria quando entrava nessa de “conselhos participativos”.
Resultado:  com ou  sem  conselho,  a  passagem  aumentou  para R$  1,70. E  isto  foi  considerado  “vitória”,  porque  fizemos  a  passagem  “aumentar
menos”. E assim ficou pronto o roteiro a ser seguido em todos os aumentos que vieram depois: SETPS lança uma proposta absurda de aumento,
estudantes protestam, Prefeitura aumenta a passagem para um valor menor que o proposto pelo SETPS e tudo parece ter sido uma “conquista” dos
estudantes. Tudo bem “participativo” e “cidadão”, enquanto mais uma vez o peão se lenha.
E veio mais bomba: o Salvador Card, que a gente chamou logo de Roubador Card. Apresentado pelo SETPS em 30 de março de 2006, contou com
o “generoso” apoio da União Brasileira de Estudantes Secundaristas  (UBES) e da União Nacional dos Estudantes  (UNE), que se associaram ao
SETPS para conseguir o monopólio da carteirinha de meia­entrada. (Não custa lembrar que a carteirinha pode ser substituída por algum documento
de matrícula, e que na UFBA o DCE conseguiu fazer uma carteira própria em 1999, começando a romper o monopólio da UNE.)
Aí também já era sacanagem demais. Começaram a aparecer textos, muitos textos contra o Salvador
Card, e o debate pegou  fogo. Fabrício Moreira escreveu um primeiro texto e depois um segundo; Felippe  escreveu um  terceiro  texto; Francisco
Cancela escreveu um quarto texto; e eu mesmo escrevi um quinto texto. Foi bom, porque mostrava o quanto estávamos maduros. Já não queríamos
mais simplesmente ir para a rua e protestar sem entender bem a situação, sem saber bem o que fazer, sem ter planos.
Foi aqui que a gente entendeu o efeito “bola de neve” dos aumentos de passagem. Para ter uma ideia da coisa, vamos bolar uma situação em que
todos  os  custos  do  sistema  (peças,  salários,  manutenção,  garagem,  impostos,  ônibus  novos,  etc.)  e  todos  os  custos  dos  passageiros  (aluguel,
alimentação, roupas, material escolar, etc.) estão congelados. Agora pegue esse sistema, tudo congelado do jeito que está, e aumente alguma coisa
no lado dos custos do sistema – os combustíveis, por exemplo. Os empresários de ônibus vão pressionar a prefeitura para aumentar a passagem, e a
prefeitura dificilmente tem como negar. A passagem aumenta, e isso vai bater no bolso dospassageiros. Muitos passageiros já vivem no limite, e
terão que cortar gastos em outras áreas, ou então deixar de andar de ônibus – e cada vez mais pessoas deixam de andar de ônibus em Salvador. Se
pessoas deixam de andar de ônibus, isso significa que restam menos pessoas para dividir os custos do sistema. Quanto menos pessoas restarem para
dividir os custos, tanto maior é o “pedaço” que fica para cada uma – ou seja, a passagem vai ter que aumentar. Se a passagem aumenta, tem muita
gente que  já vive no  limite,  e  tem que cortar gastos ou então deixar de andar de ônibus – e cada vez mais pessoas deixam de andar de ônibus.
Quanto menos pessoas restarem para dividir os custos, tanto maior é o “pedaço” que fica para cada uma – ou seja, a passagem vai ter que aumentar
de novo. E começa tudo outra vez, até encher o saco.
No mundo  real,  em  que  os  preços  não  estão  congelados,  todos  os  preços  variam  em  direções  diferentes  e  com  intensidades  diferentes, mas  o
resultado continua sendo parecido com esse: a cada dia mais pessoas deixam de andar de ônibus. Na verdade, a situação estava ficando tão braba
para os usuários de transportes – geralmente trabalhadores – que o número de pessoas que pagam meia estava ficando bem próximo do número de
pessoas que pagam  inteira com dinheiro – ou seja,  tinha gente usando cartão de meia­passagem dos  filhos, dos sobrinhos, dos primos etc., para
andar pela cidade pagando mais barato. Isso significava menos dinheiro entrando no sistema de ônibus, o pesadelo dos empresários. Por isso, me
parece que os empresários de ônibus, quando implementaram o Salvador Card, pensaram antes de qualquer coisa em reduzir o número de meias­
passagens no sistema a qualquer custo.
09/06/2016 Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44683 3/7
A Prefeitura e o SETPS, apesar de tanto debate e dos primeiros protestos, enfiaram o Roubador Card
pela nossa goela. Os protestos foram tantos que decidimos no fim de abril fazer uma reunião dessa gente toda que protestava, e aí apareceu a Frente
Única Contra o Salvador Card. Através dela,  fizemos  tanta  pressão  sobre o prefeito  que  ele  – mais  uma vez –  cagou nas  calças  e  suspendeu o
Salvador Card em 25 de maio. Mas  logo no dia  seguinte o prefeito deve  ter  tomado um puxão de orelha dos patrões do SETPS e voltou atrás,
revogando  a  revogação. Em  junho,  já  quase  no  terceiro mês  de mobilização,  algumas  das  entidades  estudantis  que  compunham a Frente Única
Contra o Salvador Card – dentre elas a AGES – baixaram a guarda e passaram para o outro  lado, dizendo que  já estavam satisfeitas com o que
tinham conseguido. De desgaste em desgaste, a Frente Única foi minguando até morrer de morte morrida, em julho.
E o Roubador Card passou. E o roteiro funcionou novamente: a uma proposta do SETPS corresponde o protesto estudantil, seguido – às vezes – de
negociações com participação da Prefeitura e terminando com a implementação daquilo que o SETPS queria, depois de “queimar a gordura” que
eles já tinham deixado de propósito para gastar com os protestos estudantis. E a gente se cansando, e a população sendo convencida pela mídia –
Varela, Bocão, Gerdan, A Tarde, Correio da Bahia, Tribuna da Bahia etc. – a gostar cada vez menos dos protestos estudantis…
Em  dezembro  de  2006  a  bomba  estourou  de  novo.  O  SETPS  queria  aumentar  a  passagem,  que  havia  sido  congelada  pelo  prefeito  em  2005
(lembram de nossos protestos?) e não aumentava desde então. Contrataram a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para fazer um estudo onde ficaria
demonstrado que o SETPS  tinha  razão  –  afinal,  quem paga  a  banda  escolhe  a música… Uns  três militantes  do Movimento Passe Livre  (MPL)
apareceram na sessão onde este estudo foi apresentado e fizeram um protesto; não fosse por isso, passaria tudo em branco. Outra sessão, desta vez
do Conselho Municipal de Transportes, foi chamada, e não fosse a presença de grande número de estudantes no lado de fora, o aumento seria votado
ali mesmo.
Houve protestos. Saímos para as ruas novamente, mas o SETPS e a Prefeitura haviam vencido sem nem precisar lutar. O aumento foi dado na virada
do ano praticamente, e estava todo mundo de férias. Eles ganharam. Saíram do roteiro e ganharam. Pegaram a maioria de surpresa, não houve tempo
para articular nada, nem convocatória virtual resolveu. Ganharam, e quase sem mexer um só dedinho. Já estava todo mundo cansado de tanto brigar,
de  tanto  lutar  e  não  conseguir  abaixar  a  tarifa. Ganharam, os desgraçados. Quase ninguém apareceu nas manifestações,  só umas quinze  a vinte
pessoas que não conseguiram fazer quase nada. Ganharam. Ganharam…
Daqueles tempos para cá, cada um foi cuidar de sua vida. Trabalhar, estudar, ter filhos, ficar doidão, cada um
escolheu  seu  caminho.  Outros  resolveram  continuar  agindo, mas  por  outros meios. Mas manifestação  contra  aumentos,  não  houve  quase mais
nenhuma. O Roubador Card não adiantou nada para a segurança dos passageiros, que é o principal argumento do SETPS para sua instalação, mas
ninguém disse nada. Tem gente que hoje dá risada quando lembra dos  tempos em que estava na rua, em que  jogava baldes de mijo em cima de
militantes  de  partidos,  em que ocupava  a Câmara  de Vereadores  de  barreira,  em que parar  o  trânsito  era  fácil… e  fica  nisso,  na  risada,  na  boa
lembrança. Agir, de novo? Alguns dizem: “nunca mais”. Uma geração  inteira de estudantes  foi vencida com uma simples mudança de data nos
aumentos, combinada com o desgaste e o cansaço de tanto ter lutado para conseguir tão poucas coisas.
Para os que duvidam: lembram quando a passagem aumentou de R$ 2,00 para R$ 2,20 entre 2008 e 2009? Ninguém se mexeu. Só quem disse que
acamparia na porta da Prefeitura foi o representante de uma entidade chamada Associação Municipal dos Usuários de Transporte (AMUT), da qual
nunca ninguém havia ouvido falar – e que continua totalmente desconhecida. Outra prova: lembram quando a passagem aumentou de R$ 2,20 para
R$ 2,30? Foi no dia 15 de janeiro de 2010. Alguém lembra de alguma manifestação, de algum protesto, de alguma coisa, qualquer que fosse, feita
no meio das férias? Ninguém, porque não houve nada. Simplesmente nada.
Aí  no  começo  do  ano  eu  vi  um monte  de  gente  tentando  organizar  protestos  pela  internet  e  pergunto:  será  que  ninguém  reparou  o  quanto  é
importante sair do roteiro? O quanto é importante inventar novas formas de protesto? Voltar a meter medo na Prefeitura e no SETPS, e fazer isso de
um jeito que force abrir a caixa­preta dos transportes de Salvador?
Não  sei  o  que dizer  para  ajudar. Dentro dos  limites  que  tenho hoje  com uma  filha  recém­nascida,
participei  de  debates,  propus  coisas,  escrevi  pequenos  textos,  recolhi  e  distribuí  dados, mas  para  a maioria  dos  que  estão  se  organizando  para
protestar nas  ruas,  já devo estar velho –  e  justo por  isso percebi que os protestos,  que duraram alguns meses,  terminaram sem empolgar outras
09/06/2016 Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44683 4/7
pessoas além das figurinhas carimbadas da militância soteropolitana e de um bom número de recém­chegados a este campo. Mas, mesmo sem ter
condições  de  dizer  muita  coisa  por  estar  de  fora  das  lutas  que  aconteceram  este  ano,  escrevi  este  pequeno  histórico  para  que  analisem  as
informações deste texto, comparem­nas com o que viveram no começo do ano e, de uma vez por todas, mudem o roteiro se querem vencer!!
Este artigo faz parte do dossiê temático DOSSIÊ: Campanha Tarifa Zero 2011
Etiquetas: Transportes
Comentários
15 Comentários on "Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer"
1. Marcolinojoe em 24 de agosto de 2011 14:45 
Manolo… suas palavras sintetizammuito bem (guardadas as proporções e distâncias entre Salvador e Aracaju) o que penso sobre os
“distúrbios” por conta dos aumentos nas passagens. Lembro do vigor que tínhamos quando te recebi em minha casa na árdua tarefa de tentar
mobilizar os recém­formados coletivos do MPL no nordeste. Enfim… hoje faço 26 anos e tenho um garotinho de 2. Por incrível que pareça
muitos moleques me veem como “militante histórico” do MPL em Aracaju. Porra, eu não esmoreci. Entretanto, ficou claro que nossa tática
não deu certo: ocupei prefeituras e secretarias, fechei ruas e avenidas, conversei com estudantes e trabalhadores, mas não nos preocupamos
em construir uma base (no melhor sentido da palavra). Não desconsidero de jeito algum nossas manifestações de ação direta, pelo contrário,
foram extremamente pedagógicas. Entretanto, não nos preocupamos em manter a chama acesa através dos grêmios e de outras organizações.
Queríamos o fim do aumento naquela hora em que estávamos nas ruas. Não fiquei careta, mas percebo que a tática tem que ser outra.
Abraços fortes e espero te ver novamente.
2. Manolo em 24 de agosto de 2011 19:40 
Camarada Marcolino! Quanto tempo! Como deu para ver, comigo acontece a mesma coisa e sinto as mesmas angústias que você. Sei,
entretanto, que escrever alivia, mas não resolve nada. A alternativa é ir à luta, mas como, quando, onde, com quem e para quê? É isto o que
me propus, com este texto, a perguntar a quem tenha interesse.
3. Ronan em 25 de agosto de 2011 01:35 
Com algumas poucas exceções, quase não conheço quem tenha passado dos dez anos de militância. Me refiro aos militantes sinceros, pessoas
comuns que um dia foram levadas a assumir posições organizativas, pedagógicas e motivacionais em lutas. Políticos profissionais e
carreiristas ficam a vida toda. Numa andada pelas manifestações de hoje é quase impossível encontrar algum rosto das lutas de 98, 99, 2000.
Toda uma “geração” de bons militantes desapareceu. Eles cansaram do ostracismo, das derrotas sequentes, das vitórias parciais ou
insignificantes e foram tomar conta da vida, de suas vidas privadas. E nelas também há muito pelo qual lutar e batalhas a serem travadas,
agora sem glamour.
Um grave problema desse prazo de validade de 10 anos do militante é que não há construção de memória eficaz, não há acúmulo de
aprendizado, não há encontro de gerações. O sujeito começa cru e quando está tecnicamente qualificado para lutar já está emotivamente
detonado e com uma vida privada lhe cobrando o preço de ter deixado de cuidar dos seus interesses.
Outro problema do fracasso das lutas classistas é o desvio de tantos para o campo do irracionalismo: ecologia, feminismo, direito dos animais,
religiões outras.
4. Vitorio em 5 de novembro de 2011 18:34 
“O sujeito começa cru e quando está tecnicamente qualificado para lutar já está emotivamente detonado e com uma vida privada lhe cobrando
o preço de ter deixado de cuidar dos seus interesses.”
Cara, essa frase me deixou pensativo
tenho apenas 7 meses de militância e já estou passando por isso.
5. @manfilho em 29 de maio de 2012 23:44 
Muito obrigado por esse turbilhão de informações!
6. Radir Facchinetti em 30 de maio de 2012 18:12 
Muito bom o post, cara. Disse tudo que penso e mais um pouco.
7. Livia graziela em 31 de maio de 2012 06:36 
Miuto bom!!
A unica coisa que eu espero é organização e consciencia das pessoas que estaram na rua .
8. Adriano Abreu em 31 de maio de 2012 11:58 
é isso ai irmão são dessas informações que a classe estudantil soteropolitana merece e tem o dever de saber, eu também fez parte desses
movimentos tanto no centro da cidade quanto ocupamos vários locais como você cinta no texto, como também na comunidade do são caetano
09/06/2016 Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44683 5/7
que trancamos tudo é isso ai, um forte abraço, vamos a luta e dizer não ao aumento de tarifa.
9. Robert em 2 de junho de 2012 03:48 
Amigos de luta, fico com lagrimas nos olhos por ouvir tantos de vocês, e com um censo de cidadania fortificado com sua historias.Sei que
podemos estar cansados, desanimados pelas lutas que perdemos ou ganhamos parcialmente.Isso acontece!Há abstaculos que podemos
comparar com um muro que temos que transpor, mesmo que esse muro se pareça intransponível.
A mudança é um processo gradativo e contínuo,e não vai ser diferente nessa caminhada, por isso agradeço as suas colaborações nas lutas
anteriores, no suor derramado, num tempo que se deixou de fazer uma coisa pessoal, valeu a pena, vocês construiram uma base, um pilar de
acesso para pular essa muro. Mim sinto motivado, e sei que posso contribuir nessa luta, nessa mudança que almejamos tanto, mas sei que ela
não vai vim fácil e como num estalar de dedos, vai vim garadativamente. Assim como um carro que que acelera e não chega em 100 Km/h
sem passar por 1Km/h, 2Km/h …, assim vai ser as mudanças que queremos. Tenho certeza os protesto que fizeram mudaram pessoas como
eu, e os protestos que hão de vir mudará muitas pessoas,hão de construirar mas bases e pilares para subir­mos mais um degrau. Obrigado!!!
10. Leon Hydra em 2 de junho de 2012 13:59 
Contundente reflexão. A situação é caótica. É esperar para ver onde irá estourar a primeira bomba.
11. Luciene Assunção em 2 de junho de 2012 16:59 
Manolo e companheiros/as, esses comentários são realmente para refletir de como a fragmentação dos movimentos sociais só vem servindo
ao projeto neoliberal. A questão do aumento das passagens é um problemas não apenas do movimento estudantil mas de toda a classe
trabalhadora.
Luciene (Lu)
12. Lucas Jerzy Portela em 2 de junho de 2012 22:55 
primeiro, não satanizar o Salvador Card já é um começo – é a única forma de se começar a andar em direção a bilhetagem única, universal e
plena (como já ocorre no Rio de Janeiro e em São Paulo). O que significaria uma passagem por destino (não importando quantos ônibus se
tomem) e não uma passagem por embarque).
Claro, como ele é hoje é apenas um embuste do que isso poderia ser: a segunda perna é metade do preço se for de uma área distinta – mas
ainda isso é melhor do que integração nenhuma.
Outra é estudar geografia – aquela que, como diz Yves Lacoste, serve primeiro para fazer guerra. E entender que nem que a passagem fosse 1
real, nenhum deslocamento de ônibus em rotas lineares menores que 10km seria barato. Porque menos do que 10km só bicicleta é realmente
eficiente. Assim como em menos de 3km só andar a pé é realmente eficiente. E a partir disso, ampliar seu cardápio pessoal de mobilidade.
13. Ariadne em 4 de junho de 2012 18:42 
Muito bom o texto! Precisamos manter viva e compreender nossa história para assim traçarmos caminhos diferenciados (saindo do roteiro já
previsível) e atingir objetivos reais e concretos.
14. Manolo em 5 de junho de 2012 22:07 
Gente, observem que o texto está recheado de links. Eles não aparecem de imediato por causa da formatação, mas basta passar o mouse pelo
texto para vê­los aparecer.
15. Bob Esponja em 25 de dezembro de 2014 12:51 
Manolito, meu caro. Bom texto com links de boas referências. Enquanto muitos verem e chegarem aos movimentos sociais como pulsos de
mobilizações específicas, e não como programas continuados de transformação, os compas que estão na lida cotidiana sentirão o peso dos
esvaziamentos, das frustrações e das derrotas. Mas vamo que vamo. Há uma mobilização agendada, talvez seja importante puxar este debate.
Abraços e não nos cansemos (muito).
Nome (ou pseudônimo)(*obrigatório)
Email (*obrigatório ­ não será exibido)
Site / Twitter /Facebook (não obrigatório)
Comente!
09/06/2016 Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44683 6/7
Enviar Comentário
Citando… Giuseppe Tomasi di Lampedusa
Se queremos que tudo continue como está,é preciso que tudo mude. Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896­1957), escritor italiano.
Flagrantes Delitos
Nota de rodapé
Muito se fala sobre a baixa votação favorável à renda mínima em recente plebiscito na Suíça (22%). Pouco se fala sobre a alta votação
favorável (61%), no mesmo dia, à realização de testes genéticos em embriões antes que eles sejam inseridos no útero feminino, em caso de
fertilizações in vitro. E nada se fala sobre o que isto quer dizer, quando lido junto na mesma notícia (ver aqui). Passa Palavra
Leia outros Flagrantes Delitos
PassaPalavra.TV
A luta é pelo direito ao transporte e à cidade
A LUTA É PELO DIREITO...
A luta é pelo direito ao transporte e à cidade
Passa Palavra CONTRA o bloqueio no Facebook
Estudantes e professores em luta no estado de São Paulo
Veja e ouça outras matérias
O Anzol (66)
Eventos
Comunique­nos os eventos que deseja anunciar para passapalavra@passapalavra.info
Para mais informações sobre cada evento clique no respectivo link.
Comentários recentes
Mendel em Nota de rodapé
Arabel em A experiência dos Comitês de Fábrica na Revolução Russa (III)
ulisses em Controlar os trabalhadores (II) As empresas são aparelhos de poder
O fim da espécie... em Controlar os trabalhadores (II) As empresas são aparelhos de poder
09/06/2016 Sair do roteiro: obrigação de quem quer vencer : Passa Palavra
http://www.passapalavra.info/2011/08/44683 7/7
ulisses em A luta dos estudantes e os dilemas dos trabalhadores
Um outro boxier em O Boxeur II
Medicina Alternativa em O boxeur I
Mefisto em A luta dos estudantes e os dilemas dos trabalhadores
Ligações Sugeridas
Ligações Sugeridas
Etiquetas
Etiquetas
Atualizações
agosto 2011
S T Q Q S S D
« jul   set »
1 2 3 4 5 6 7
8 9 10 11 12 13 14
15 16 17 18 19 20 21
22 23 24 25 26 27 28
29 30 31  
(c) Copyleft: É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e o site passapalavra.info sejam citados e esta nota seja incluída. ·
Fazer login

Outros materiais