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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.483.182 - DF (2014/0218714-0) RELATOR : MINISTRO OG FERNANDES RECORRENTE : CONSÓRCIO ETEC LE MANS DE ESTACIONAMENTO ADVOGADOS : ANETE MAIR MACIEL MEDEIROS BRUNO RODRIGUES TEIXEIRA DE LIMA E OUTRO(S) RECORRIDO : DISTRITO FEDERAL PROCURADOR : LUIZ FELIPE BULUS ALVES FERREIRA E OUTRO(S) DECISÃO Vistos, etc. Trata-se de recurso especial interposto por Consórcio ETEC - Le Mans de Estacionamento, com esteio no art. 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da CF, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, assim ementado (e-STJ, fl. 512): CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. CAPACIDADE TRIBUTÁRIA. CONSÓRCIO. CONCESSIONÁRIA. USO DE BEM PÚBLICO. IPTU E TLP. LEGITIMIDADE. LEI DISTRITAL. RETROATIVIDADE. INOCORRÊNCIA. DESOCUPAÇÃO DO BEM. INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. EXERCÍCIO DE 2011. O consórcio de empresas, ainda que não tenha personalidade jurídica, possui capacidade tributária. A empresa concessionária de uso de bem público tem legitimidade para responder pela cobrança de IPTU e TLP, uma vez que o art. 34 do CTN, não exige, para fins de incidência do IPTU, que a posse seja exercida com a intenção de domínio. Se a Lei Distrital n. 4.289/2008 não alterou o fato gerador ou o sujeito passivo do IPTU, não há que falar em irretroatividade da lei quanto ao exercício de 2009. Restando demonstrado nos autos a desocupação do imóvel no ano de 2010, indevida a cobrança do IPTU e da TLP do exercício de 2011. Os embargos de declaração opostos na sequência foram rejeitados, com a correção de erro material. O recorrente indica violação do art. 126 do CTN, na medida em que o consórcio não tem personalidade jurídica e, portanto, não pode figurar no polo passivo da obrigação tributária. Nesse passo, aduz também malferimento ao art. 202, I, do CTN, visto que as CDAs não mencionam os reais contribuintes. Alega, ainda, ofensa aos arts. 32 e 34 do CTN, ao argumento da ausência de animus domini . Assevera que "o imóvel pertence à União e se encontra sob a gestão da Infraero. Ao término do contrato administrativo, as consorciadas do autor devolveram o bem à Infraero, extinguindo a relação jurídica até então vigente" (e-STJ, fl. 554). Aponta divergência jurisprudencial com julgado desta Corte (REsp 1.091.198/PR, Rel. Ministro Castro Meira). Apresentadas as contrarrazões, o apelo nobre foi admitido na origem. Parecer do Ministério Público Federal pelo não conhecimento do recurso ou, caso superada a admissibilidade, pelo provimento do especial. É o relatório. Documento: 46777180 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 28/04/2015 Página 1 de 4 Superior Tribunal de Justiça O consórcio de empresas dotado de autonomia funcional, embora entidade despersonificada nos termos da lei civil, possui capacidade tributária, isto é, aptidão para ser sujeito passivo de uma relação tributária. Com efeito, dispõe o art. 126 do CTN que a capacidade tributária passiva independe: I - da capacidade civil das pessoas naturais; II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. Para Luciano Amaro, "a sociedade de fato ou a sociedade irregular também não são circunstâncias impeditivas do nascimento de obrigações tributárias, surgidas pela ocorrência de fatos geradores identificáveis no exercício das atividades dessas sociedades (item III). Em simetria com essas disposições, que reconhecem capacidade tributária passiva às pessoas ou entidades aí referidas, é de reconhecer a elas, igualmente, capacidade tributária ativa quanto às pretensões que houverem de exercer contra ou perante o sujeito ativo" (Direito tributário brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 356). Sobre a personalidade judiciária do consórcio, vale conferir o seguinte precedente: 1. PROCESSUAL CIVIL. CAPACIDADE DE SER PARTE. ENTES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA. POSSIBILIDADE (CPC, ART. 12, INC. VII) 2. DIREITO CIVIL. CONTRATO. NATUREZA JURÍDICA. ARRENDAMENTO E LOCAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DE CONTRATO E REEXAME DE PROVA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Os entes sem personalidade jurídica de direito material podem ser parte no processo para demandar e serem demandados, a teor do CPC, art. 12, inc. VII, pois tal dispositivo trata do instituto da personalidade judiciária. 2. Para se descobrir a natureza jurídica do contrato, é necessário interpretar cláusulas do contrato e reexaminar provas, o que não é cabível nesta Corte, Súmulas 5 e 7. 3. Recurso não conhecido. (REsp 147.997/RJ, Rel. Ministro EDSON VIDIGAL, QUINTA TURMA, julgado em 15/4/1999, DJ 17/5/1999, p. 223) Assim, acertado o acórdão recorrido, ao asseverar que o recorrente, apesar de não ser pessoa jurídica regularmente constituída, configura unidade econômica ou profissional, que, praticando fatos jurídicos considerados geradores de obrigações tributárias, deve responder pelo pagamento devido. No tocante à infringência aos arts. 32 e 34 do CTN, primeiramente afasto a incidência do entendimento consolidado na Súmula 280/STF, na medida em que o Tribunal de origem corrigiu, de ofício, a invocação ao art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei n. 82/96, não mais sobejando o fundamento de que respondem, pelo pagamento, "[...] os ocupantes a qualquer título do imóvel, ainda que pertencentes à União, aos Estados, aos Municípios, ao Distrito Federal ou a qualquer pessoa isenta do imposto ou a ele imune". Entretanto, o recurso não merece conhecimento, porquanto o acórdão, além Documento: 46777180 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 28/04/2015 Página 2 de 4 Superior Tribunal de Justiça de entender que o Código Tributário não exige, para a ocorrência do fato gerador do IPTU, que a posse seja exercida com animus domini , decidiu que a legitimidade do concessionário de imóvel de propriedade da União decorreria da interpretação do art. 150, inciso VI, alínea "a", e § 3º, da Constituição, ou seja, se se aplicaria a imunidade tributária recíproca relativamente ao patrimônio, à renda e aos serviços que estejam relacionados com a exploração de atividade econômica. A jurisprudência referida no voto do relator é peremptória, como clara também é a fundamentação do voto-vogal, senão vejamos (e-STJ, fls. 522/523): Senhora Presidente, três são as questões colocadas no recurso. A primeira diz respeito à capacidade tributária da pessoa em nome da qual foi lançado o imposto, ao argumento de que, tratando-se de consórcio, que não é pessoa jurídica, não pode ser sujeito passivo da obrigação tributária. O inciso III do art. 126 do CTN dispõe que a capacidade tributária passiva independe de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. O consórcio configura unidade econômica. Tem capacidade tributária. A segunda questão é quanto não ser o consórcio proprietário do imóvel. O art. 32 do CTN expressamente dispõe que o contribuinte do imposto é o titular do domínio e o possuidor. Embora não seja titular do domínio, é possuidor. Nessa condição, sujeita-se ao pagamento do tributo. A terceira questão diz respeito à imunidade recíproca, por se tratar de propriedade da União, que foi objeto de cessão de uso. O art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal dispõe que, sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros. Ocorre que o imóvel foi objeto de cessão de uso para exploração comercial. Não está na posse do ente público e nem afetada a uma finalidade pública. O tema, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, foi objeto de repercussão geral. No entanto, penso que se o imóvel foi objeto de cessão de uso, o cessionário, na posse desse, é obrigado a pagar o tributo. Com essas ligeiras considerações, acompanho o Relator. Os dois fundamentos relacionados à existência do fato gerador do tributo são indissociáveis e a não interposição de recurso extraordinário faz incidir a Súmula 126 desta Corte: "É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário". Mutatis mutandis , vale conferir: TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. IPTU. IMUNIDADE RECÍPROCA. ACÓRDÃO FUNDAMENTADO SOB O ENFOQUE CONSTITUCIONAL. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Não compete ao Superior Tribunal de Justiça rever julgados quando a questão debatida tiver sido resolvida pelo Tribunal de origem exclusivamente sob o ângulo constitucional, sob pena de usurpação de competência do Documento: 46777180 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 28/04/2015 Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça Supremo Tribunal Federal. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1236614/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/5/2013, DJe 4/6/2013) PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUPOSTA OFENSA AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO NO ACÓRDÃO RECORRIDO. TRIBUTÁRIO. IPTU. IMUNIDADE RECÍPROCA. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. QUESTÃO CONTROVERTIDA FUNDADA NO ART. 150, § 3º, DA CF/88. ENFOQUE CONSTITUCIONAL DA MATÉRIA. 1. Não havendo no acórdão recorrido omissão, obscuridade ou contradição, não fica caracterizada ofensa ao art. 535 do CPC. 2. A questão controvertida funda-se na aplicação (ou não) do disposto no art. 150, § 3º, da Constituição Federal à ora recorrente, sendo que tal preceito obsta a incidência da imunidade recíproca, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário (entendendo o Tribunal de origem pela aplicação da segunda parte). Assim, eventual ofensa, caso existente, ocorre no plano constitucional, motivo pelo qual é inviável a rediscussão do tema pela via especial. Ressalte-se que não compete ao Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso especial, analisar eventual contrariedade a preceito contido na CF/88, nem tampouco uniformizar a interpretação de matéria constitucional. 3. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1350663/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 5/12/2012) Esse mesmo óbice impede o conhecimento do recurso especial pela alínea "c" do permissivo constitucional, com a nota de que, no paradigma arrolado, o debate não foi tratado sob o viés da imunidade recíproca sobre imóvel de propriedade da União objeto de concessão de uso. Ante o exposto, com fundamento no art. 557, caput , do CPC, nego seguimento ao recurso especial. Publique-se. Brasília, 17 de abril de 2015. Ministro Og Fernandes Relator Documento: 46777180 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 28/04/2015 Página 4 de 4
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