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RECURSO ESPECIAL Nº 783.414 SOLIDARIEDADE E SUCESSÃO

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 783.414 - SP (2005/0158072-6)
 
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX (Relator): O MUNICÍPIO DE SÃO 
PAULO insurge-se, via recurso especial, ao abrigo da alínea "a", do permissivo 
constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que 
restou assim ementado:
IMPOSTO. PREDIAL E TERRITORIAL URBANO. HIPÓTESE DE 
DESMEMBRAMENTO DO IMÓVEL. INADMISSIBILIDADE DE 
COBRANÇA DO VALOR TOTAL A CADA UM DOS 
ADQUIRENTES. SEGURANÇA CONCEDIDA. RECURSO 
IMPROVIDO.
Os ora recorridos impetraram mandado de segurança contra ato do Diretor do 
Departamento de Rendas Imobiliárias do Município de São Paulo, objetivando a nulidade de 
lançamento do IPTU. Alegaram serem proprietários de unidades autônomas de garagem, cujo 
IPTU sempre fora adimplido regularmente. Entretanto, foram surpreendidos com notificações 
para pagar débitos relativos ao IPTU dos exercícios de 1987 e 1988, lançados em nome do 
antigo proprietário do bem. Sustentaram o equívoco da Municipalidade ao buscar a satisfação 
do débito pendente sem atentar para o fato de que o bem originário havia sido desmembrado 
em 118 unidades autônomas, dentre elas os imóveis dos impetrantes, sobre cada um dos quais 
estaria sendo exigido o pagamento do valor total da dívida. Destacaram o fato de que, por 
ocasião do desmembramento do imóvel e transferência da propriedade, a titularidade da 
posição debitória cadastral - o código de contribuinte, em nome da então proprietária Liga das 
Senhoras Católicas - teria sido alterada, dando lugar a números de contribuintes individuais 
distintos, relativos a cada uma das unidades autônomas, o que comprovaria a atualização dos 
dados cadastrais junto à Municipalidade. 
O Juízo monocrático, acolhendo o pedido de ingresso do Município como 
assistente litisconsorcial, julgou procedente o pedido, declarando a nulidade do lançamento 
impugnado e tornando definitivo o provimento liminarmente deferido.
O Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, por 
unanimidade, negou provimento ao recurso de apelação, nos termos da ementa 
retro-transcrita.
Ainda insatisfeito, o Município opôs embargos de declaração, questionando a 
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legitimidade para anulação do lançamento feito em nome de terceiro e se a anulação 
decretada alcançaria a totalidade do lançamento efetuado ou apenas as frações ideais 1/118 
avos pertencentes a cada um dos impetrantes. Os embargos restaram rejeitados.
Foi intentado recurso especial, ao argumento de violação dos arts. 6º, 295, II e 
267, VI, do CPC, e 130 do CTN. Sustentou o recorrente, em suma, que:
a) os lançamentos tributários relativos ao IPTU dos exercícios de 1987 e 1988 
foram inscritos na Dívida Ativa Municipal em nome da Liga das Senhoras Católicas, pessoa 
absolutamente diversa e inconfundível com qualquer dos impetrantes, razão pela qual 
carecem de legitimidade ativa ad causam para impetração do mandamus, com vistas ao 
cancelamento dos referidos lançamentos e das inscrições na dívida ativa;
b) pela ausência de legitimidade, a petição inicial deveria ter sido indeferida;
c) os impetrantes não poderiam ter conseguido a anulação da totalidade das 
dívidas tributárias: em relação às respectivas frações ideais de sua propriedade, por serem 
responsáveis por sucessão; e em relação àquelas que não as de sua propriedade pessoal, por 
não serem nem contribuintes, nem responsáveis.
Pugnou pela reforma do aresto recorrido para decretar a extinção do processo 
sem julgamento do mérito ou a denegação da ordem, uma vez ausente o direito líquido e 
certo.
Foram oferecidas contra-razões, pugnando pelo desprovimento do recurso 
especial.
Realizado o juízo de admissibilidade negativo do apelo extremo, na instância 
de origem, foi interposto agravo de instrumento o qual foi provido para determinar a sua 
conversão no presente recurso especial.
É o relatório.
 
 
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RECURSO ESPECIAL Nº 783.414 - SP (2005/0158072-6)
 
EMENTA
PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. IPTU. ALIENAÇÃO DE 
IMÓVEL DESMEMBRADO EM UNIDADES AUTÔNOMAS. 
LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DOS SUCESSORES 
PARA IMPUGNAR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. 
SOLIDARIEDADE PASSIVA TRIBUTÁRIA. INEXISTÊNCIA.
1. O sucessor, na condição de responsável tributário e, portanto, sujeito 
passivo da obrigação tributária principal, ostenta legitimidade ativa para 
impugnar o crédito tributário. Inteligência dos arts. 121, § único, e 130, 
do CTN.
2. O adquirente do imóvel é o responsável tributário por sucessão inter 
vivos relativamente aos débitos anteriores à aquisição, porquanto a 
relação jurídica integrada pelo alienante extinguiu-se no momento da 
transmissão da propriedade, tendo-se tornado, o sucessor, sujeito passivo 
de outra obrigação, com o mesmo conteúdo da primeira (subrogação). 
Por conseguinte, há a exclusão da responsabilidade do alienante, 
respondendo o sucessor, portanto, pelos tributos apurados ou passíveis 
de apuração à data da ocorrência do fenômeno sucessório. 
3. Com efeito, em matéria tributária, sempre que, numa mesma relação 
jurídica, houver duas ou mais pessoas caracterizadas como contribuinte, 
cada uma delas estará obrigada pelo pagamento integral da dívida, 
perfazendo-se o instituto da solidariedade passiva. 
4. No que pertine à responsabilidade tributária dos sucessores ou 
terceiros, ao revés, a solidariedade não se presume, devendo resultar, 
necessariamente, de lei. Isto porque feriria a lógica jurídico-tributária a 
integração, no pólo passivo da relação jurídica, de alguém que não tenha 
tido qualquer participação na ocorrência do fato gerador da obrigação. 
5. O caso sub examine versa sobre propriedade horizontal, sendo cada 
impetrante proprietário de uma fração ideal, correspondente a 1/118 avos 
do terreno original, cada uma com um número de registro próprio junto à 
Municipalidade. Está-se diante de um condomínio edilício, direito real 
advindo da conjugação de dois outros direitos reais, quais sejam: a 
propriedade individual sobre unidades autônomas - cada uma das 118 
garagens - e a co-propriedade sobre as partes comuns, nos termos do art. 
1.331, do Código Civil.
6. Nesse segmento, verifica-se que, à época da ocorrência do fato 
gerador do IPTU relativo aos exercícios de 1987 e 1988, o imóvel objeto 
da presente lide era tributado por inteiro, sendo sujeito passivo da 
relação jurídica a Liga das Senhoras Católicas, em nome da qual 
encontrava-se cadastrado o imóvel. Essa relação jurídica extinguiu-se 
no momento da transmissão da propriedade, a qual fragmentou-se em 
118 unidades autônomas, que deram titularidade debitória a 118 novos 
contribuintes.
7. Destarte, cada um dos adquirentes tornou-se sujeito passivo de nova 
relação jurídica, assumindo a dívida tributária pretérita 
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proporcionalmente ao valor atinente à área da propriedade adquirida, 
razão pela qual resta inequivocamente afastada a solidariedade entre 
eles.
8. Transcreve-se excerto do Parecer do Ministério Público (fls.101/102), 
verbis: 
"Do primitivo terreno, que deu lugar a um edifício de 
certo vulto, cada impetrante e terceiros têm módica fração, que é, 
aliás, puramente ideal. Eles são, nessa medida, sucessores da 
antiga proprietária - a honorável Liga das Senhoras Católicas de 
São Paulo -, que, em dois exercícios consecutivos (1987 e 1988), 
não pagou os tributos relativos às 118 garagens, à época 
integrantes de um único cadastro tributário, mas cuja vida
autônoma remonta à década de 60 (cf. fls. 57).
Ora, tratando-se da propriedade horizontal, a 
responsabilidade tributária, oriunda da sucessão, refere-se a cada 
unidade, isoladamente. Pouco importa que, antes de 1989, o 
cadastro fosse unitário. O fato é que os imóveis já eram distintos. 
E, para efeitos tributários, "cada unidade autônoma será tratada 
como prédio isolado, contribuindo o respectivo condômino, 
diretamente, com as importâncias relativas aos impostos e taxas 
federais, estaduais e municipais, na forma dos respectivos 
lançamentos" (Lei n. 4.591/64, art. 11).
No exato magistério de Silvio Rodrigues, "a natureza 
da unidade autônoma é a de uma propriedade imóvel comum", 
com limitações especiais, que não se estendem ao aspecto 
tributário (Cf. "Direito CIvil, vol. V, 12ª ed., São Paulo: Saraiva, 
1983, n. 125, pág. 215). E assim também se pronuncia Caio Mário 
da Silva Pereira, especialista no tema e autor, aliás, do projeto de 
que se originou a Lei n. 4.591/64: "No regime do condomínio 
especial dos edifícios coletivos (...) a idéia central reside na 
associação da compropriedade à propriedade exclusiva: o 
condomínio incide no solo, fundações, paredes mestras, saguão de 
entrada, corredores, portas e coisas de uso comum e teto. A 
propriedade exclusiva tem por objeto a unidade, seja esta o 
apartamento residencial, seja o conjunto ou a sala de utilização 
profissional, seja a loja ou o grupo de finalidade comercial (...). 
As unidades autônomas são tratadas objetivamente como tais, 
identificadas por indicação numérica ou alfabética, e respondem 
individualmente pelos tributos" (Cf. "Instituições de Direito 
Civil", vol. IV, 7ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1987, n.319, pág. 
137; sem destaque no original)."
9. Recurso especial desprovido.
 
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VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO LUIZ FUX (Relator): Preliminarmente, 
impõe-se o conhecimento do presente apelo, porquanto prequestionada a matéria federal 
suscitada.
No tocante à questão preliminar acerca da legitimidade ativa ad causam para 
discutir a legalidade da cobrança da exação, não assiste razão à recorrente. 
O art. 121, § único, do CTN coloca tanto o contribuinte quanto o responsável 
na qualidade de sujeito passivo da obrigação tributária principal. Assim, inadimplida a 
obrigação pelo contribuinte, o responsável - in casu , os sucessores - é alçado à condição de 
sujeito passivo, cabendo-lhe a satisfação do crédito tributário no prazo legal. Outrossim, nos 
termos do art. 130, do CTN, os sucessores ostentam legitimidade ativa para impugnar o 
crédito tributário.
Corroborando esse entendimento, o escólio de Zelmo Denari, verbis:
"Uma das questões mais controvertidas nesta sede diz 
respeito à possibilidade de o sucessor impugnar o crédito 
tributário, opondo-se ao núcleo da pretensão fiscal constitutiva.
Quanto ao responsável tributário, já vimos que - a 
despeito de não concorrer de forma alguma na realização do 
pressuposto, e de ser acrescido à relação tributária ex vi legis, 
para garantir o adimplemento da obrigação principal - pode não 
só excepcionar, negando sua qualificação pessoal, como também 
contrariar o mérito da pretensão fiscal, impugnando o crédito 
tributário constituído no confronto do obrigado principal.
No terreno sucessório a solução é a mesma e com mais 
razão. Há, na sucessão, uma particular relação entre os títulos 
jurídicos em causa, resultante da sub-rogação do sucessor nos 
direitos e obrigações do antecessor.
De resto, uma das características essenciais do 
fenômeno sucessório em direito tributário repousa justamente 
nesta presunção jure et de jure: a transferência do bem ou da 
empresa em causa induz transmissão do direito controvertido, isto 
é, da relação jurídica substancial.
Portanto, não se deve inadmitir a plenitude do direito 
de defesa do sucessor, facultando-se-lhe negar a configuração da 
relação sucessória, bem como contrariar a relação jurídica 
controvertida, atacando o conteúdo ou a medida do ato 
impositivo." (Sucessão Tributária: Aspectos Críticos, in Justiça 
Tributária: direitos do fisco e garantias dos contribuintes nos atos 
da administração e no processo tributário, Ed. Max Limonad, 1998, 
p. 853)
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Cinge-se a atual controvérsia à extensão da responsabilidade tributária por 
sucessão, em virtude da aquisição de imóvel urbano desmembrado em unidades autônomas - 
se relativa ao total da dívida pretérita ou se proporcional à área da propriedade adquirida.
O Codex Tributário prevê, com clareza meridiana:
"Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, 
sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato 
gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel 
por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, 
localizado na zona urbana do Município."
"Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do 
imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer 
título."
"Art. 129. O disposto nesta seção aplica-se por igual 
aos créditos tributários definitivamente constituídos, ou em curso 
de constituição à data dos atos nela referidos, e aos mesmos atos, 
desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a 
presente data."
"Art. 130. Os créditos tributários relativos a impostos 
cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de 
bens imóveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestação de 
serviços referentes a tais bens, ou a contribuições de melhoria, 
subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando 
conste do título a prova de sua quitação."
"Art. 131. São pessoalmente responsáveis:
I - o adquirente ou remitente, pelos tributos relativos 
aos bens adquiridos ou remidos;
(...)"
Do cotejo entre os dispositivos legais supratranscritos, dessume-se que o 
adquirente do imóvel é o responsável tributário por sucessão inter vivos relativamente aos 
débitos anteriores à aquisição, uma vez que a relação jurídica integrada pelo alienante 
extinguiu-se no momento da transmissão da propriedade, tendo-se tornado, o sucessor, sujeito 
passivo de outra obrigação, com o mesmo conteúdo da primeira (subrogação). Por 
conseguinte, há a exclusão da responsabilidade do alienante, respondendo o sucessor, 
portanto, pelos tributos apurados ou passíveis de apuração à data da ocorrência do fenômeno 
sucessório. 
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Entrementes, a questão debatida nos autos refere-se não à transferência do 
dever tributário aos adquirentes, o que é pacífico, mas à amplitude dessa responsabilidade, ou, 
em outros termos, à existência de solidariedade passiva tributária entre eles, uma vez que, de 
cada um dos ora recorridos, foi cobrado o valor total da dívida, a despeito de serem 
proprietários, cada um deles, de apenas 1/118 da área original, que pertencia, anteriormente, 
a um único proprietário. 
A solidariedade passiva é um instituto de direito civil aplicável a todos os 
ramos do direito, segundo o qual, em havendo pluralidade de sujeitos no pólo passivo de uma 
relação jurídica, cada um deles é obrigado à dívida toda, podendo o credor exigir de um ou 
alguns, parcial ou totalmente, a dívida em comum. 
Com efeito, em matéria tributária, a presunção de solidariedade opera 
inversamente àquela do direito civil, no sentido de que sempre que, numa mesma relação 
jurídica, houver duas ou mais pessoas caracterizadas como contribuinte, cada uma delas 
estará obrigada pelo pagamento integral da dívida, perfazendo-se o instituto da solidariedade
passiva. Ad exemplum , no caso de duas ou mais pessoas serem proprietárias de um mesmo 
imóvel urbano, haveria uma pluralidade de contribuintes solidários quanto ao adimplemento 
do IPTU.
Entrementes, no que pertine à responsabilidade tributária dos sucessores ou 
terceiros, a solidariedade não se presume, devendo resultar, necessariamente, de lei. Isto 
porque feriria a lógica jurídico-tributária a integração, no pólo passivo da relação jurídica, de 
alguém que não tenha tido qualquer participação na ocorrência do fato gerador da obrigação. 
Acerca do instituto da solidariedade, o art. 124 do CTN prevê, verbis:
"Art. 124. São solidariamente obrigadas:
I - as pessoas que tenham interesse comum na situação 
que constitua o fato gerador da obrigação principal;
II - as pessoas expressamente designadas por lei."
Nesse segmento, o "interesse comum na situação que constitua o fato gerador 
da obrigação principal" - estatuído no inciso I, do preceito legal acima transcrito - impõe que 
as pessoas solidariamente obrigadas sejam sujeitos da relação jurídica que deu azo à 
ocorrência do fato imponível. 
Todavia, o caso sub examine versa sobre propriedade horizontal, sendo cada 
impetrante proprietário de uma fração ideal, correspondente a 1/118 avos do terreno original, 
cada uma com um número de registro próprio junto à Municipalidade. Está-se diante de um 
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condomínio edilício, direito real advindo da conjugação de dois outros direitos reais, quais 
sejam: a propriedade individual sobre unidades autônomas - cada uma das 118 garagens - e a 
co-propriedade sobre as partes comuns, nos termos do art. 1.331, do Código Civil.
Nesse segmento, verifica-se que, à época da ocorrência do fato gerador do 
IPTU relativo aos exercícios de 1987 e 1988, o imóvel objeto da presente lide era tributado 
por inteiro, sendo sujeito passivo da relação jurídica a Liga das Senhoras Católicas, em nome 
da qual encontrava-se cadastrado o imóvel. Essa relação jurídica extinguiu-se no momento 
da transmissão da propriedade, a qual fragmentou-se em 118 unidades autônomas, que deram 
titularidade debitória a 118 novos contribuintes.
Destarte, cada um dos adquirentes tornou-se sujeito passivo de nova relação 
jurídica, assumindo a dívida tributária pretérita proporcionalmente ao valor atinente à área da 
propriedade adquirida, razão pela qual resta inequivocamente afastada a solidariedade entre 
eles.
Corroborando o mesmo entendimento, transcreve-se excerto do Parecer do 
Ministério Público (fls.101/102), verbis:
"(...)
Do primitivo terreno, que deu lugar a um edifício de 
certo vulto, cada impetrante e terceiros têm módica fração, que é, 
aliás, puramente ideal. Eles são, nessa medida, sucessores da 
antiga proprietária - a honorável Liga das Senhoras Católicas de 
São Paulo -, que, em dois exercícios consecutivos (1987 e 1988), 
não pagou os tributos relativos às 118 garagens, à época 
integrantes de um único cadastro tributário, mas cuja vida 
autônoma remonta à década de 60 (cf. fls. 57).
Ora, tratando-se da propriedade horizontal, a 
responsabilidade tributária, oriunda da sucessão, refere-se a cada 
unidade, isoladamente. Pouco importa que, antes de 1989, o 
cadastro fosse unitário. O fato é que os imóveis já eram distintos. 
E, para efeitos tributários, "cada unidade autônoma será tratada 
como prédio isolado, contribuindo o respectivo condômino, 
diretamente, com as importâncias relativas aos impostos e taxas 
federais, estaduais e municipais, na forma dos respectivos 
lançamentos" (Lei n. 4.591/64, art. 11).
No exato magistério de Silvio Rodrigues, "a natureza 
da unidade autônoma é a de uma propriedade imóvel comum", 
com limitações especiais, que não se estendem ao aspecto 
tributário (Cf. "Direito CIvil, vol. V, 12ª ed., São Paulo: Saraiva, 
1983, n. 125, pág. 215). E assim também se pronuncia Caio Mário 
da Silva Pereira, especialista no tema e autor, aliás, do projeto de 
que se originou a Lei n. 4.591/64: "No regime do condomínio 
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especial dos edifícios coletivos (...) a idéia central reside na 
associação da compropriedade à propriedade exclusiva: o 
condomínio incide no solo, fundações, paredes mestras, saguão de 
entrada, corredores, portas e coisas de uso comum e teto. A 
propriedade exclusiva tem por objeto a unidade, seja esta o 
apartamento residencial, seja o conjunto ou a sala de utilização 
profissional, seja a loja ou o grupo de finalidade comercial (...). 
As unidades autônomas são tratadas objetivamente como tais, 
identificadas por indicação numérica ou alfabética, e respondem 
individualmente pelos tributos" (Cf. "Instituições de Direito 
Civil", vol. IV, 7ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1987, n.319, pág. 
137; sem destaque no original).
(...)"
Ex positis , NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.
É o voto.
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