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06 INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS

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CURSO DE DIREITO UDC 
DIREITO CIVIL IV – CONTRATOS 
PROFESSOR: ME. LUIS MIGUEL BARUDI DE MATOS 
 
 
BIBLIOGRAFIA: 
- GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: contratos – tomo I e II. Vol. IV. São Paulo: Saraiva 
- GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. Vol. III. São Paulo: Saraiva 
- TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. Vol. 2. São Paulo: Método 
- TARTUCE, Flávio. Direito civil: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. Vol. 3. São Paulo: Método 
O PRESENTE MATERIAL SERVE DE ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO QUE DEVE SER EMBASADO NA 
BIBLIOGRAFIA INDICADA 
INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS 
 
CONCEITO E EXTENSÃO 
 
 Toda manifestação de vontade precisa de interpretação para que se chegue ao 
significado e se determine seu alcance. 
 
 Nem sempre o contrato traduz essencialmente a vontade das partes. 
 
 Muitas vezes a redação que se dá ao instrumento contratual não é clara e objetiva em 
decorrência da complexidade das relações que podem estar envolvidas e das 
dificuldades da própria linguagem. 
 
 Por esse motivo, não apenas a lei deve ser interpretada mas também os negócios 
jurídicos em geral e, em especial, os contratos. 
 
 A execução de um contrato exige a correta interpretação e compreensão da vontade 
(intenção) das partes que é exteriorizada por meios de atos ou sinais (contrato verbal) 
ou por palavras (contrato escrito). 
 
 Interpretar o negócio jurídico é definir o sentido e alcance do conteúdo da declaração 
de vontade na busca pela vontade concreta (conteúdo, normas que nascem da 
declaração) das partes e não da vontade interna (psicológica). 
 
 As regras de interpretação no CC são dirigidas inicialmente às partes, que são os 
interessados diretos no cumprimento exato das obrigações contraídas. 
 
 Não havendo consenso sobre o correto conteúdo do negócio jurídico, a interpretação 
é deixada a cargo do Poder Judiciário. 
 
 A interpretação contratual é declaratória quando objetiva identificar a intenção comum 
dos contratantes e construtiva ou integrativa quando tem por objetivo aproveitar o 
contrato firmado (incompleto) através do suprimento das lacunas e omissões deixados 
pelas partes. 
 
 Integração contratual preenche as lacunas encontradas nos contratos utilizando 
normas referentes à função social, boa-fé objetiva e aos usos e costumes do local, 
sempre observando a verdadeira intenção das partes. 
 
 Utiliza-se a lei, analogia, costumes, princípios gerais do Direito ou a equidade para 
exercer a função integrativa. 
 
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO 
 
 Como regra geral, nos contratos escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) 
leva à descoberta da intenção das partes (interpretação subjetiva). 
 
 Quando determinadas cláusulas são obscuras, omissas ou dúbias e os contratantes 
discordam de sua interpretação ou da correta intenção que delas decorre, alegando 
ser outra a “vontade” no momento da celebração e isso se comprovar, deve o juiz 
considerar esta última determinação como válida. 
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do 
que ao sentido literal da linguagem. 
 
 Parte-se da declaração (exteriorização da vontade) para se chegar à intenção das 
partes. 
 
 A declaração não deve ser considerada no seu sentido psicológico mas no sentido 
mais adequado para uma interpretação que considere a boa-fé e o contexto no qual 
foi realizado o negócio, assim como o fim econômico que se buscou. 
 
 Dois princípios devem ser sempre observados na interpretação dos contratos: boa-fé e 
conservação do contrato. 
 
 Boa-fé: o intérprete deve presumir que os contratantes agem com lealdade e que a 
proposta e a aceitação foram manifestadas em conformidade com a regra da boa-fé 
(art. 422). 
 
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do 
lugar de sua celebração. 
 
 Conservação do contrato (aproveitamento) significa que, se uma cláusula 
contratual permitir duas interpretações, prevalecerá a que possa produzir algum 
efeito jurídico, tendo em vista a utilidade do contrato. 
 
 Gratuidade e renúncia: os contratos gratuitos, que trazem uma liberalidade 
(renúncia) devem ser interpretados de forma estrita. 
 
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. 
 
 
INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
 
 O CDC dedica um capítulo à proteção contratual e parte desse ao contrato de adesão 
que tem a seguinte conceituação: 
 
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade 
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem 
que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 
 
 Quanto à interpretação das cláusulas contratuais, estas devem ser sempre 
interpretadas de forma mais favorável ao consumidor. 
 
Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao 
consumidor. 
 
 Essa posição diferenciada decorre da determinação constitucional de proteção ao 
consumidor (art. 5º, inciso XXXII e art. 170, inciso V). 
 
 O art. 47 aplica-se a todos os contratos que tratem de relações de consumo. 
 
 O CDC impõe ainda o dever de informação com objetivo de dar conhecimento ao 
consumidor do conteúdo do contrato e a obrigação de redação clara e objetiva. 
 
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, 
se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se 
os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu 
sentido e alcance. 
 
 São regras de interpretação e de garantia. 
 
 Relação de consumo: 
 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço 
como destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que 
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou 
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou 
comercialização de produtos ou prestação de serviços. 
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, 
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes 
das relações de caráter trabalhista. 
 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no 
fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; 
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, 
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; 
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com 
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem 
como sobre os riscos que apresentem; 
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou 
desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de 
produtos e serviços; 
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou 
sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e 
difusos; 
VII - o acesso aos órgãos judiciáriose administrativos com vistas à prevenção ou reparação 
de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção 
Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a 
seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando 
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; 
IX - (Vetado); 
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 
 
INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS DE ADESÃO NO CC 
 
 As cláusulas que forem ambíguas ou contraditórias deverão ser interpretadas em favor 
do aderente. 
 
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-
se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. 
 
 Ambígua é a cláusula que, da sua interpretação gramatical, seja possível destacar 
mais de um sentido. 
 
 Contraditória é a cláusula que é incoerente com as demais cláusulas do contrato. 
 
 O CC prevê ainda a nulidade de cláusulas que imponham ao aderente a renúncia 
antecipada de direitos. 
 
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia 
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. 
 
 Ex.: não reparação de danos decorrentes de defeitos da coisa ou do serviço prestado; 
não indenização dos vícios redibitórios ou evicção. 
 
CRITÉRIOS PRÁTICOS DE INTERPRETAÇÃO 
 
 A melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar sua atuação 
consensual na execução do contrato. 
 
 Na dúvida, o contrato deve ser interpretado da forma menos onerosa para o devedor. 
 
 As cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente e sim no conjunto 
de cláusulas e frente ao conteúdo total do contrato. 
 
 As obscuridades são imputadas à parte que redigiu o contrato ou estipulou a cláusula. 
 
 Quando for dúbia a interpretação, deve prevalecer a que for exeqüível e menos 
onerosa ao devedor.

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