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CURSO DE DIREITO UDC DIREITO CIVIL IV – CONTRATOS PROFESSOR: ME. LUIS MIGUEL BARUDI DE MATOS BIBLIOGRAFIA: - GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: contratos – tomo I e II. Vol. IV. São Paulo: Saraiva - GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. Vol. III. São Paulo: Saraiva - TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. Vol. 2. São Paulo: Método - TARTUCE, Flávio. Direito civil: Teoria geral dos contratos e contratos em espécie. Vol. 3. São Paulo: Método O PRESENTE MATERIAL SERVE DE ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO QUE DEVE SER EMBASADO NA BIBLIOGRAFIA INDICADA INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS CONCEITO E EXTENSÃO Toda manifestação de vontade precisa de interpretação para que se chegue ao significado e se determine seu alcance. Nem sempre o contrato traduz essencialmente a vontade das partes. Muitas vezes a redação que se dá ao instrumento contratual não é clara e objetiva em decorrência da complexidade das relações que podem estar envolvidas e das dificuldades da própria linguagem. Por esse motivo, não apenas a lei deve ser interpretada mas também os negócios jurídicos em geral e, em especial, os contratos. A execução de um contrato exige a correta interpretação e compreensão da vontade (intenção) das partes que é exteriorizada por meios de atos ou sinais (contrato verbal) ou por palavras (contrato escrito). Interpretar o negócio jurídico é definir o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade na busca pela vontade concreta (conteúdo, normas que nascem da declaração) das partes e não da vontade interna (psicológica). As regras de interpretação no CC são dirigidas inicialmente às partes, que são os interessados diretos no cumprimento exato das obrigações contraídas. Não havendo consenso sobre o correto conteúdo do negócio jurídico, a interpretação é deixada a cargo do Poder Judiciário. A interpretação contratual é declaratória quando objetiva identificar a intenção comum dos contratantes e construtiva ou integrativa quando tem por objetivo aproveitar o contrato firmado (incompleto) através do suprimento das lacunas e omissões deixados pelas partes. Integração contratual preenche as lacunas encontradas nos contratos utilizando normas referentes à função social, boa-fé objetiva e aos usos e costumes do local, sempre observando a verdadeira intenção das partes. Utiliza-se a lei, analogia, costumes, princípios gerais do Direito ou a equidade para exercer a função integrativa. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO Como regra geral, nos contratos escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) leva à descoberta da intenção das partes (interpretação subjetiva). Quando determinadas cláusulas são obscuras, omissas ou dúbias e os contratantes discordam de sua interpretação ou da correta intenção que delas decorre, alegando ser outra a “vontade” no momento da celebração e isso se comprovar, deve o juiz considerar esta última determinação como válida. Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Parte-se da declaração (exteriorização da vontade) para se chegar à intenção das partes. A declaração não deve ser considerada no seu sentido psicológico mas no sentido mais adequado para uma interpretação que considere a boa-fé e o contexto no qual foi realizado o negócio, assim como o fim econômico que se buscou. Dois princípios devem ser sempre observados na interpretação dos contratos: boa-fé e conservação do contrato. Boa-fé: o intérprete deve presumir que os contratantes agem com lealdade e que a proposta e a aceitação foram manifestadas em conformidade com a regra da boa-fé (art. 422). Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Conservação do contrato (aproveitamento) significa que, se uma cláusula contratual permitir duas interpretações, prevalecerá a que possa produzir algum efeito jurídico, tendo em vista a utilidade do contrato. Gratuidade e renúncia: os contratos gratuitos, que trazem uma liberalidade (renúncia) devem ser interpretados de forma estrita. Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR O CDC dedica um capítulo à proteção contratual e parte desse ao contrato de adesão que tem a seguinte conceituação: Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. Quanto à interpretação das cláusulas contratuais, estas devem ser sempre interpretadas de forma mais favorável ao consumidor. Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor. Essa posição diferenciada decorre da determinação constitucional de proteção ao consumidor (art. 5º, inciso XXXII e art. 170, inciso V). O art. 47 aplica-se a todos os contratos que tratem de relações de consumo. O CDC impõe ainda o dever de informação com objetivo de dar conhecimento ao consumidor do conteúdo do contrato e a obrigação de redação clara e objetiva. Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance. São regras de interpretação e de garantia. Relação de consumo: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciáriose administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS DE ADESÃO NO CC As cláusulas que forem ambíguas ou contraditórias deverão ser interpretadas em favor do aderente. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever- se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Ambígua é a cláusula que, da sua interpretação gramatical, seja possível destacar mais de um sentido. Contraditória é a cláusula que é incoerente com as demais cláusulas do contrato. O CC prevê ainda a nulidade de cláusulas que imponham ao aderente a renúncia antecipada de direitos. Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. Ex.: não reparação de danos decorrentes de defeitos da coisa ou do serviço prestado; não indenização dos vícios redibitórios ou evicção. CRITÉRIOS PRÁTICOS DE INTERPRETAÇÃO A melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar sua atuação consensual na execução do contrato. Na dúvida, o contrato deve ser interpretado da forma menos onerosa para o devedor. As cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente e sim no conjunto de cláusulas e frente ao conteúdo total do contrato. As obscuridades são imputadas à parte que redigiu o contrato ou estipulou a cláusula. Quando for dúbia a interpretação, deve prevalecer a que for exeqüível e menos onerosa ao devedor.
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