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1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA MATEMÁTICA FINANCEIRA 1 – Conceito de taxa de juros Taxa de juro é a relação entre o valor do juros pagos (ou recebidos) no final de um determinado período de tempo e o valor do capital inicialmente emprestado (ou aplicado). Representando a taxa de juro pela letra i, o valor dos juros pela letra J e o valor do capital inicial (também conhecido por principal, valor presente ou valor atual) pela letra P, tem-se que: P Ji = O juro, como foi enunciado, é um valor pago (ou recebido) no final de um certo período de tempo, e o capital inicial, um valor colocado à disposição na data do contrato (ou da operação). Assim sendo, é importante enfatizar que, do ponto de vista conceitual, juro antecipado não existe. Ou seja, o juro é sempre postecipado. Para maior clareza, vamos exemplificar: Uma pessoa pede um empréstimo de R$ 1.000,00 pelo prazo de 1 mês. O gerente do banco manda creditar R$ 950,00 na conta do cliente sob a alegação de que os juros de R$ 50,00 foram descontados no ato, isto é, “pagos antecipadamente”. De acordo com o conceito de taxa de juros, temos que: Taxa de juro cobrada pelo banco: %, , , 265 00950 0050 ==i No caso deste exemplo, não houve pagamento antecipado de juros. Apenas o banco emprestou R$ 950,00 para receber R$ 1.000,00 no final de um mês. Portanto, o valor dos juros efetivamente foi recebido pelo banco no final, isto é, no vencimento. Observação importante: A divisão dos juros de R$ 50,00 pelo valor R$ 1.000,00, igual a 5%, corresponde à chamada taxa de desconto, calculada de acordo com o critério de desconto simples (ou bancário ou comercial), cujo conceito não será abordado neste trabalho. 2 2 – Conceito de juros simples (ou capitalização simples) Capitalizar em matemática financeira significa adicionar juros ao capital. E essa adição pode ser feita de forma linear ou exponencial. Quando feita de forma linear dizemos que a capitalização é simples, e quando feita exponencialmente dizemos que ela é composta. Assim, podemos conceituar juros simples como sendo o processo de obtenção dos juros em que a taxa definida para o período unitário (dia, mês ou ano) incide sempre sobre o capital inicial, não incidindo, pois, sobre os juros que vão se acumulando. Exemplo: calcular o valor dos juros correspondente a um empréstimo de $ 1.000,00, contratado a uma taxa de juro de 5% ao mês, pelo prazo de 4 meses. Solução: MÊS JUROS MENSAIS JUROS ACUMULADOS 1 0,05 x 1.000,00 = 50,00 50,00 2 0,05 x 1.000,00 = 50,00 100,00 3 0,05 x 1.000,00 = 50,00 150,00 4 0,05 x 1.000,00 = 50,00 200,00 O valor dos juros a ser pago no final de um certo prazo é determinado com base na fórmula: J = P x i x n , em que P é o capital inicial, i a taxa de juros e n o prazo. No caso do nosso exemplo, tem-se que: J = 1.000,00 x 0,05 x 4 = 200,00 Como o montante, que representamos pela letra S, é igual ao capital mais juros, temos que: S = 1.000,00 + 400,00 = 1.400,00 3 – Conceito de juros compostos (ou capitalização composta) Podemos conceituar juros compostos como sendo o processo de obtenção juros (ou do montante) em que a taxa de juro definida para o período unitário (dia, mês 3 ou ano) incide sobre o capital inicial e também sobre os juros que vão se acumulando periodicamente. Exemplo: calcular o valor dos juros e do montante correspondente a um empréstimo de R$ 1.000,00, contratado a uma taxa de juro de 10% ao mês, pelo prazo de 4 meses. Solução: MÊS JUROS MENSAIS JUROS ACUM. MONTANTE 1 100,00 100,00 1.100,00 2 110,00 210,00 1.210,00 3 121,00 331,00 1.331,00 4 133,10 464,10 1.464,10 O montante é determinado com base na fórmula: S = P(1+i)n No caso do nosso exemplo, tem-se que: S = 1.000,00 x (1,10)4 = 1.464,10 Como o valor dos juros é igual ao montante menos o capital, temos que: J = 1.464,10 – 1000,00 = 464,10 4 – Conceito de séries de pagamentos iguais Trata-se de uma série de pagamentos iguais, periódicos (mensais, bimestrais, trimestrais ou anuais) e sucessivos. Esse sistema de pagamentos é o mais utilizado no mundo, tanto para amortizar dívidas ou empréstimos, quanto para formar uma poupança. Em relação a este sistema é importante saber que: • o montante total formado no final das aplicações é o resultado da soma dos montantes de cada uma das prestações consideradas individualmente; • de forma idêntica, o valor do empréstimo (que é capital inicial ou valor presente na data do contrato) é o resultado da soma dos valores presentes de cada uma das prestações consideradas individualmente; • para o cálculo desses dois modelos utiliza-se juros compostos; não se tem conhecimento de um único país no mundo que faça diferente; também não conheço um único livro de matemática financeira, editado nos últimos 40 anos, 4 de autor nacional ou estrangeiro, que apresente esses modelos desenvolvidos com base em juros simples. 4.1 – Montante de uma série de pagamentos iguais Exemplo: calcular o montante correspondente a aplicação de 4 prestações mensais iguais de R$ 1.000,00 cada, à taxa de juros de 10% ao mês, conforme fluxo abaixo. Solução: O montante total, de acordo com o fluxo acima, corresponde à soma dos montantes de cada uma das parcelas, como segue: • Montante da primeira parcela: S1 = 1000 x 1,103 = 1.331,00 • Montante da segunda parcela: S2 = 1000 x 1,102 = 1.210,00 • Montante da terceira parcela: S3 = 1000 x 1,101 = 1.100,00 • Montante da quarta parcela: S4 = 1000 x 1,100 = 1.000,00 • MONTANTE TOTAL: ST = = 4.641,00 ou escrito de outra forma: 0123 1011000101100010110001011000 ,,,, ×+×+×+×=TS Colocando-se 1000 em evidência, tem-se que: ),,,,( 0123 1011011011011000 +++×=TS 0 1 2 3 4 1.000 1.000 1.000 1.000 S = ? 5 A partir desta última equação, e utilizando a fórmula da soma de uma PG (Progressão Geométrica), deduz-se que: 006414 100 1101 1000 4 ,. , , = − ×=TS Generalizando-se a expressão acima, e fazendo ST = S, chega-se à fórmula para o cálculo do montante de uma série de pagamentos iguais postecipados, de uso generalizado no mundo, a saber: i iRS n 11 −+ ×= )( em que R representa o valor das prestações (ou parcelas ) iguais e n o número de prestações. 4.2 – Valor presente de uma série de pagamentos iguais Exemplo: um empréstimo deverá ser liquidado em 4 prestações mensais iguais de R$ 1.000,00 cada, à taxa de juros de 10% ao mês, conforme fluxo abaixo. Calcular o valor emprestado, ou seja, o valor presente na data do contrato. Solução: O valor presente total, como mencionado, corresponde à soma dos valores presentes de cada uma das parcelas, como segue: • Valor presente da primeira parcela: P1 = 1000 / 1,101 = 909,09 • Valor presente da segunda parcela: P2 = 1000 / 1,102 = 826,45 • Valor presente da terceira parcela: P3 = 1000 / 1,103 = 751,31 • Valor presente da quarta parcela: P4 = 1000 / 1,104 = 683,01 0 1 2 3 4 1.000 1.000 1.000 1.000 P = ? 6 • VALOR PRESENTE TOTAL: PT = = 3.169,86 Assim, sabendo que: 4321 101 1000 101 1000 101 1000 101 1000 ,,,, +++=TP Colocando-se 1000 em evidência, tem-se que: +++×= 4321 101 1 101 1 101 1 101 1 1000 ,,,, TP Utilizando a fórmula da soma de uma PG (Progressão Geométrica), deduz-se que: 100101 1101 1000 4 4 ,, , × − ×=TP Generalizando-se a expressão acima, e fazendo-se PT = P, chega-se a fórmula para o cálculo do valor presente de uma série de pagamentos iguais postecipados, de uso generalizado no mundo, a saber: ii iRP n n ×+ −+ ×= )( )( 1 11 A partir dessa expressão, deduz-se facilmente a fórmula que calcula diretamente o valor das prestações, como segue: 11 1 −+ ×+ ×= n n i iiPR )( )( 7 Essa fórmula serve para determinar o valor das prestações iguais, sendo, no Brasil, conhecida por TABELA PRICE. E como ficou evidenciado através da dedução que fizemos, ela é calculada com base no critério de juros compostos. Primeiro exemplo: Calcular o valor das prestações mensais iguais correspondentes a um empréstimo de R$ 10.000,00, contratado a uma taxa de juro de 3% ao mês, para ser pago em 24 prestações mensais. Solução: 47590 1031 030031 0000010 24 24 , ),( ,),( ,. = − × ×=R Segundo exemplo: Um veículo no valor de R$ 42.000,00 está sendo vendido com 20% de entrada e o restante financiado em 60 prestações iguais, mensais e consecutivas. Sabendo-se que a taxa de juros cobrada é de 1,85% ao mês, calcular o valor das prestações mensais. Solução: Entrada: 20% x 42.000,00 = 8.400,00 Valor financiado: 42.000,00 – 8.400,00 = 33.600,00 82931 101851 0185001851 0060033 60 60 , , ,, ,. = − × ×=R 5 – SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO 8 Um sistema de amortização nada mais é do que um plano de pagamentos para quitação de uma dívida. Ora, de quantas maneiras uma dívida pode ser quitada? Resposta: infinitas! Entretanto, dois são casos mais comuns no mundo, a saber: 1) devolução do capital mais juros de uma só vez no final período contratado; 2) devolução do capital mais juros em prestações mensais e consecutivas. No caso de devolução integral do capital no final do contrato, também é comum o pagamento periódico (mensal, trimestral ou semestral) dos juros. Quanto aos casos de pagamentos mensais envolvendo parcelas de capital e de juros, os dois planos mais conhecidos e utilizados no mundo são os seguintes: • Sistema de prestações iguais ou uniformes; • Sistema de prestações decrescentes em progressão aritmética (PA). Entre esses dois planos, o sistema de prestações mensais iguais é seguramente o mais utilizado nas operações de empréstimos e de financiamentos. No Brasil, e apenas no Brasil, esse plano é conhecido por Sistema PRICE, ou simplesmente Tabela PRICE. Também é conhecido por Sistema Francês de Amortização. Quanto ao sistema de prestações decrescentes em progressão aritmética, conhecido universalmente por SAC – Sistema de Amortização Constante, é muito utilizado em nosso país para financiamentos imobiliários; sua adoção no Brasil tem crescido substancialmente nos últimos anos em função do menor risco de crédito para o agente financeiro, e principalmente pelas restrições legais ao uso da Tabela PRICE. Fora o setor habitacional, o SAC é bastante utilizado nas operações com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em que o FINAME (Financiamento de Máquinas e Equipamentos) é a modalidade mais conhecida. Entre outros infinitos planos que podem ser adotados para a amortização de uma dívida, podemos citar mais dois: o SAM (Sistema de Amortização Misto) e o SACRE (Sistema de Amortização Crescente). O primeiro, o SAM, é um misto do PRICE com o SAC , ou seja, cada prestação corresponde à média aritmética das prestações calculadas com base nesses dois sistemas; foi muito utilizado pelo extinto BNH (Banco Nacional da Habitação) para financiamento de unidades habitacionais; quanto ao SACRE, criado pela Caixa Econômica Federal e utilizado também pelo Banco Nossa Caixa, está caindo em desuso. Neste trabalho não vamos trata desses dois sistemas. 5.1 – Sistema de prestações iguais ou uniformes (PRICE) 9 Esse sistema, também conhecido por Sistema Francês de Amortização, é o mais utilizado nos casos de pagamentos mensais de parcelas de capital e de juros; deve representar cerca de 80 a 90% dos planos de pagamentos utilizados no mundo, servindo de base para o cálculo de prestações nos casos de financiamento de veículos, imóveis, eletrodomésticos, roupas, móveis, empréstimos pessoais, capital de giro e de operações de leasing. Para melhor entendimento e caracterização desse sistema, vamos resolver o seguinte exemplo: Calcular os valores das prestações correspondentes a um empréstimo de R$ 1.000,00 a ser quitado em 4 parcelas mensais, considerando-se uma taxa de juro de 10% ao mês. Mostrar também a decomposição de cada prestação em parcelas de amortização e de juros. Solução: Como se trata de uma série de pagamentos iguais, o valor das prestações é obtido com base na fórmula já conhecida, ou seja: 11 1 −+ ×+ ×= ni iniPR )( )( Substituindo-se as variáveis da fórmula especificada pelos dados do problema, obtém-se o valor das prestações, como segue: 47315 1101 100101 1000 4 4 , ),( ,),( = − × ×=R Decomposição das prestações em parcelas de amortização e juros: MÊS SALDO DEVEDOR AMORTIZAÇÃO JUROS PRESTAÇÃO 0 1.000,00 0,00 0,00 0,00 1 784,53 215,47 100,00 315,47 2 547,51 237,02 78,45 315,47 3 286,79 260,72 54,75 315,47 4 0,00 286,79 28,68 315,47 TOTAL - 1.000,00 261,88 1.261,88 Os valores contidos na coluna “JUROS” foram obtidos através da multiplicação da taxa de juros de 10% pelos valores discriminados na coluna “SALDO DEVEDOR”, correspondentes aos meses imediatamente anteriores; os valores da coluna 10 “AMORTIZAÇÃO” resultam da subtração das parcelas de juros dos valores das prestações; e os valores discriminados na coluna “SALDO DEVEDOR” são obtidos pela dedução das parcelas de amortização dos saldos devedores existentes nos meses imediatamente anteriores. 5.2 – Sistema de amortização constante (SAC) No SAC, como o próprio nome já diz, as amortizações mensais são constantes, ou seja, de mesmo valor. Assim, para se obter o valor da amortização constante basta dividir o valor financiado pelo número de parcelas, como segue: Valor da amortização constante = A = n P = 00250 4 000001 , ,. = Decomposição das prestações em parcelas de amortização e juros: MÊS SALDO DEVEDOR AMORTIZAÇÃO JUROS PRESTAÇÃO 0 1.000,00 0,00 0,00 0,00 1 750,00 250,00 100,00 350,00 2 500,00 250,00 75,00 325,00 3 250,00 250,00 50,00 300,00 4 0,00 250,00 25,00 275,00 TOTAL - 1.000,00 250,00 1.250,00 Como se pode observar, a decomposição das prestações no caso do SAC é bem mais simples. A partir das parcelas de amortização, que são iguais, e seguindo-se a mesma rotina de cálculo mostrada na tabela anterior, obtém-se facilmente os valores contidos nas colunas “SALDO DEVEDOR” e “JUROS”; os valores das prestações contidos na última coluna resultam da soma das parcelas de amortização e de juros. Como se observa na tabela apresentada, os valores das prestaçõesdecrescem mensalmente à razão constante de 25,00, constituindo-se, pois, numa progressão aritmética. E sendo assim, os valores de todas as prestações podem ser facilmente obtidos a partir do conhecimento de apenas dois elementos: o valor da primeira prestação e o valor do decréscimo mensal, calculados como segue: • Valor da primeira prestação = A + i x P • Valor do decréscimo mensal = razão = i x A 11 No caso do nosso exemplo, temos: • Valor da primeira prestação = 250,00 + 0,10 x 1000,00 = 350,00 • Valor do decréscimo mensal = razão = 0,10 x 250,00 = 25,00. O valor da última prestação também é facilmente obtido: ele é dado pela soma da parcela de amortização com a parcela de juros calculada sobre o saldo devedor do mês imediatamente anterior, ou seja: Última prestação = A + i x A = A x (1 + i) Assim, no caso do nosso exemplo, temos: Última prestação = 250,00 x 1,10 = 275,00 Em uma progressão aritmética, quando se conhece o valor da primeira e da última parcela, é possível obter a soma de todas. Para tanto, basta utilizar a fórmula que calcula a soma dos termos de uma PA (progressão aritmética), dada pela seguinte equação: 2 1 naa n PAS ×+ = )( em que: SPA = soma dos termos de uma progressão aritmética; a1 = valor do primeiro termo; an = valor do último termo; n = número de termos Aplicando-se essa fórmula no caso do nosso exemplo, temos: 002501 2 40027500350 ,. ),,( = ×+ =PAS 5.3 – Exemplo de utilização dos sistemas PRICE e SAC Um financiamento no valor de R$ 120.000,00 deverá ser amortizado em 240 prestações (20 anos). Sabendo-se que a taxa de juros é de 1% ao mês, calcular o valor das prestações mensais de acordo com os sistemas PRICE e SAC, bem como a soma das prestações dos respectivos planos. Solução: 12 Sistema PRICE: • Valor das prestações: 303211 1011 010011 00000120 240 240 ,. ),( ,),( ,. = − × ×=R • Valor da primeira prestação = valor da última = 1,321,30 • Soma das prestações = 240 x 1.321,30 = 317.112,00 Sistema SAC: • Valor da parcela de amortização = 120.000,00 / 240 = 500,00 • Valor da primeira prestação = 500,00 + 0,01 x 120.000,00 = 1.700,00 • Valor da última prestação = 500,00 + 0,01 x 500,00 = 505,00 • Soma da prestações: 00600264240 2 00505007001 ,. ),,.( =× + =PAS Prof. José Dutra Vieira Sobrinho São Paulo, janeiro de 2009
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