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Você é um profissional ético? 
 
Agir corretamente, hoje, não é só uma questão de consciência, mas um dos 
quesitos fundamentais para quem quer ter uma carreira longa, respeitada e sólida 
Por Dalen Jacomino 
Responda com sinceridade: 
– Seu subordinado teve uma idéia brilhante para um novo produto. Dias depois, você está 
sozinho, cara a cara com o diretor da empresa, falando sobre esse projeto. Ele acha a 
idéia excelente e pergunta quem é o autor. O que você responde? 
– Você sonha há anos em conhecer o Caribe com a família, mas nunca sobra dinheiro. 
Eis que um dos seus fornecedores oferece uma semana com tudo pago em Cancún, 
como prêmio por ser um ótimo parceiro nos negócios. Você aceita? 
– Um relatório secreto do banco onde trabalha caiu em suas mãos. Ao ler o material, 
descobre que o valor das ações da empresa X poderá triplicar em pouco tempo em 
função de um novo projeto. O que você faz com a informação? 
As situações acima parecem simples. Talvez, para a maioria de nós, suas respostas 
sejam óbvias. Elas retratam, porém, cenas cotidianas nas empresas, fatos que podem ser 
vividos por qualquer um de nós. E nem sempre, na hora da decisão, escolhemos a saída 
ética: falar a verdade sobre o autor da idéia, recusar o passeio no Caribe e não comprar 
ações da empresa X. Nessas escolhas pequenas, aparentemente simples, muitas 
carreiras brilhantes podem ser jogadas fora. Hoje, mais do que nunca, a atitude dos 
profissionais em relação às questões éticas pode ser a diferença entre o seu sucesso e o 
seu fracasso. Basta um deslize, uma escorregadela, e pronto. A imagem do profissional 
ganha, no mercado, a mancha vermelha da desconfiança. Há, claro, deslizes que entram 
na categoria dos crimes. É o caso que envolve José Ignácio López, ex-diretor da 
Volkswagen. Ele foi acusado pela General Motors, sua antiga empregadora, de fraude e 
furto de documentos quando trocou uma montadora pela outra. O caso ainda está em 
andamento nos tribunais dos Estados Unidos, mas López, que tinha uma carreira 
brilhante, caiu em desgraça no mercado mundial. 
Atuar eticamente, entretanto, vai muito além de não roubar ou não fraudar a empresa. A 
ética nos negócios inclui desde o respeito com que os clientes são tratados ao estilo de 
gestão do líder da equipe. Uma enquete realizada no site da VOCÊ s.a. em meados de 
junho revela que nem sempre as pessoas têm consciência do problema ético nos 
escritórios. Dos participantes, 43% já pediram ao garçom para aumentar a nota do almoço 
ou sabem de alguém que já fez isso. A metade dos votantes disse que já utilizou recursos 
da empresa para serviços particulares. Do total, 49% já mentiram - ou sabem de alguém 
que já mentiu - para um cliente, dizendo que o serviço ficaria pronto na data acertada, 
mesmo sabendo que não poderiam cumprir o prazo (veja resultado da pesquisa no 
rodapé ao longo da matéria). 
A importância da ética nas empresas cresceu a partir da década de 80, com a redução 
das hierarquias e a conseqüente autonomia dada às pessoas. Os chefes, verdadeiros 
xerifes até então, já não tinham tanto poder para controlar a atitude de todos, dizer o que 
era certo ou errado. Por outro lado, o corte nos organogramas deixou menos espaço para 
as promoções. A disputa por cargos cresceu e, com ela, o desejo de “passar a perna nos 
colegas para conseguir sobressair a qualquer custo. Assim, nos últimos anos, os 
escritórios viraram um campo fértil para a desonestidade, a omissão, a má conduta e a 
mentira. No nosso dia-a-dia, os sete pecados capitais (luxúria, ira, inveja, gula, preguiça, 
soberba e avareza) servem como uma espécie de parâmetro para o bom ou mau 
comportamento em sociedade. No universo corporativo, a falta de ética poderia muito 
bem entrar nessa lista. A maioria de nós age com honestidade simplesmente porque quer 
dormir com a consciência tranqüila - ou, então, porque tem medo das conseqüências, que 
podem resultar em atos ilegais ou contrários à ética”. 
O fato, porém, é que cada vez mais essa é uma qualidade fundamental para quem se preocupa em 
ter uma carreira longa, respeitada e sólida. Quem está sempre atento às implicações éticas de 
cada decisão consegue desistir de uma empresa pouco confiável antes de se queimar. 
Pode recusar um projeto que causaria danos a sua imagem futura. Por outro lado, as 
organizações, cada vez mais, estão adotando o saudável hábito de checar e rechecar o 
passado de todos os candidatos ao emprego. Resultado: quem tem a ficha limpa sempre 
terá as portas abertas nas melhores empresas do mercado. 
Um conjunto de valores 
Mas, afinal, o que é ser um profissional ético? 
Ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. "É ser 
altruísta, é estar tranqüilo com a consciência pessoal", afirma o executivo e professor da 
USP Robert Henry Srour, que acaba de lançar o livro Ética Empresarial, pela Editora 
Campus. Ser ético é, também, agir de acordo com os valores morais de uma determinada 
sociedade. Essas regras morais são resultado da própria cultura de uma comunidade. 
Elas variam de acordo com o tempo e sua localização no mapa. A regra ética é uma 
questão de atitude, de escolha. Já a regra jurídica não prescinde de convicção íntima - as 
leis têm de ser cumpridas independentemente da vontade das pessoas. Em alguns casos, 
no entanto, as questões éticas esbarram em princípios jurídicos. "Nessa situação, as 
pessoas devem recorrer às leis que regem a convivência em sociedade antes de tomar a 
decisão", afirma Maria Cecília Arruda, professora de ética da Fundação Getúlio Vargas. 
Além de ser individual, qualquer decisão ética tem por trás um conjunto de valores 
fundamentais. Muitas dessas virtudes nasceram no mundo antigo e continuam válidas até 
hoje. Eis algumas das principais: 
1. Ser honesto em qualquer situação. "A honestidade é a primeira virtude da vida nos 
negócios", afirma Robert Solomon, professor da Universidade do Texas, autor do livro A 
Melhor Maneira de Fazer Negócios, da Negócio Editora. Afinal, a credibilidade é resultado 
de uma relação franca. 
2. Ter coragem para assumir as decisões. Mesmo que seja preciso ir contra a opinião da 
maioria. 
3. Ser tolerante e flexível. Muitas idéias aparentemente absurdas podem ser a solução para 
um problema. Mas para descobrir isso é preciso ouvir as pessoas ou avaliar a situação 
sem julgá-las antes. 
4. Ser íntegro. Significa agir de acordo com os seus princípios, mesmo nos momentos mais 
críticos. 
5. Ser humilde. Só assim a gente consegue ouvir o que os outros têm a dizer e reconhecer 
que o sucesso individual é resultado do trabalho da equipe. 
Ninguém está dizendo que as melhores empresas do mercado resolveram contratar 
Madres Teresa de Calcultá ou Irmãs Dulce. Ou que deixaram de ter o lucro como objetivo. 
O fato é que várias organizações estão se convencendo de que, para o seu negócio 
sobreviver, terão de agir com muito mais atenção em relação à ética - de verdade, sem 
demagogia. Veja por quê: 
• Pesquisa da Harvard University, com duração de 11 anos, mostrou que as companhias 
voltadas para os stakeholders (todos aqueles que têm vínculo com a empresa, como 
fornecedores, consumidores, empregados e comunidade) geram entre quatro e oito vezes 
mais empregos do que as que satisfazem exclusivamente os acionistas. Ou seja, elas 
crescem mais. 
• Em 1999, a Dow Jones criou um novo índice, o Dow Jones Sustainability Index (Índice 
de Sustentabilidade). Organizado por uma empresa suíça especialista em serviços 
financeiros éticos, o índice é composto por 229 empresas, como Honeywell, Unilever e 
Fujitsu. Segundo o índice, elas produzem, em média, maior retorno para os acionistas, em 
cinco anos, do que outrasempresas na mesma região do mundo. E, de forma geral, elas 
também se saíram melhor que o restante das empresas do mesmo setor. 
O inferno de cada um 
Não podemos ser inocentes e pensar que empresas são apenas entidades jurídicas. 
Empresas são formadas por pessoas e só existem por causa delas. Por trás de qualquer 
decisão, de qualquer erro ou imprudência estão seres de carne e osso. E são eles que 
vão viver as glórias ou o fracasso da organização. Por isso, quando falamos de empresa 
ética, estamos falando de pessoas éticas. Uma política interna mal definida por um 
funcionário de qualquer nível pode atingir em cheio dois dos maiores patrimônios de uma 
empresa: a marca e a imagem. Veja o caso da Coca-Cola, acusada, nos Estados Unidos, 
de discriminação racial por ex e atuais funcionários negros. O grupo de descontentes 
chegou a convocar um boicote público aos produtos da companhia. Resultado: o 
presidente da empresa, Douglas Daft, prometeu investir 1 bilhão de dólares nos próximos 
cinco anos para promover a diversidade e amenizar, com isso, os estragos que as 
denúncias provocaram. 
Não são apenas funcionários e consumidores que recriminam políticas antiéticas nas 
empresas. Os investidores também costumam fugir delas. Pegam seu dinheiro e aplicam 
em outro lugar. Um exemplo disso é o episódio vivido recentemente pela Telefónica, a 
espanhola que comprou a Telesp, em São Paulo. Suas ações, na Espanha, caíram 5,5% 
em um dia, após denúncias de que seu presidente mundial, Juan Villalonga, teria usado 
informações privilegiadas em benefício próprio. Tudo começou no dia 2 de janeiro de 
1998, quando Villalonga comprou opções de ações da Telefónica e as revendeu 13 dias 
depois. Seu lucro: 120 000 dólares. Justamente nesse período, descobriu-se depois, 
Villalonga estava negociando em segredo uma aliança com a norte-americana MCI 
WorldCom. Quando o escândalo estourou, em meados de junho, a Telefónica divulgou 
comunicado oficial negando a acusação. Mas isso não impediu a reação negativa do 
mercado. 
Não é preciso ser uma companhia de capital aberto para que decisões erradas tomadas 
por altos diretores façam rombos no caixa da empresa. De acordo com dados divulgados 
pela imprensa, a Schering do Brasil teve um prejuízo de cerca de 18 milhões de reais - 
sem contar o custo na imagem - porque seus diretores foram omissos no episódio da 
pílula anticoncepcional falsa, em 1998. Embora o laboratório nada tivesse falsificado, a 
empresa foi displicente no controle do descarte de comprimidos produzidos sem princípio 
ativo. E, quando soube que o remédio falso estava sendo vendido em farmácias, foi lenta 
para alertar a opinião pública sobre o fato. Os diretores da empresa levaram 15 dias, 
depois de receberem a denúncia de uma senhora grávida, para notificar a Vigilância 
Sanitária. E só o fizeram no dia em que a notícia foi ao ar pelo Jornal Nacional, da Rede 
Globo. De vítima de um roubo, ela passou a ser considerada uma empresa que não 
respeita seus consumidores. O advogado da Schering do Brasil, Cid Flaquer Scartezzini 
Filho, disse a VOCÊ s.a. que os 15 dias eram o prazo necessário para fazer os testes e 
checar se os comprimidos eram realmente falsos. Na sua opinião, a empresa não foi 
omissa. 
Foto: Sergio Duti - Reuter 
Paulo Jares - J. Miranda 
Domingos Peixoto/Ag. O Globo 
Daniela Picoral - Massao Goto Filho

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