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Bursztyn - Olhares interessantes

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Olhares interessantes sobre tempos interessantes:
tributo a visionários como Ignacy Sachs
Marcel Bursztyn*[1: * Socioeconomista, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Social, Professor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.]
Maria Augusta Bursztyn**[2: ** Engenheira Ambiental, Doutora em Ciência da Água, Professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.]
Agosto de 2013
Introdução
Toda sociedade organizada elabora, de algum modo, suas imagens desejadas de futuro. No passado, tais idealizações se davam principalmente por meio de crenças e valores religiosos. Dogmas e mitos serviam para inibir condutas de indivíduos e grupos, que fossem incompatíveis com a busca do bem comum. A boa conduta era, por outro lado, a garantia de um reconhecimento pela sociedade, mesmo que isso só fosse vislumbrado para depois da vida terrena.
Utopias orientam rumos que são inalcançáveis e fazem parte do imaginário social. Isso é positivo, pois dá sentido e coesão às sociedades.
Uma característica da modernidade que começou com as grandes transformações trazidas pela Revolução Industrial foi o surgimento de um projeto de utopia diferente dos que marcaram outras fases da evolução da civilização. No lugar de recompensas etéreas, como o “reino dos céus”, agora o futuro desejado adquire uma dimensão terrena, material e atual. Um termo resume esse processo: desenvolvimento.
O desenvolvimento é a utopia do industrialismo!
O mundo, nos últimos 250 anos, tem sido fortemente marcado pela busca do ideal palpável da construção de um modo de ampliação da produção de riquezas. Essa busca tem como pilares fundamentais os três elementos que, combinados, permitem produzir as coisas de que necessitamos ou que desejamos: os recursos naturais, o trabalho e o capital, num sentido amplo. Isso, em si, não é novidade: desde nossos primórdios civilizatórios, satisfazemos nossas necessidades transformando (pelo trabalho) o que a natureza nos disponibiliza (matérias primas), valendo-se de nossas ferramentas e saberes (capital). A novidade é que a produção (industrial) passa a ser o determinante e não mais um mero ato de subsistência. Ao invés de produzir para satisfazer nossos demandas, passamos a consumir para satisfazer a necessidade de produzir mais e mais.
O industrialismo não foi revolucionário apenas por ter mudado o modo de fazer produtos. Toda a organização da vida social e institucional sofreu alterações. Mudou o regime político, mudaram as relações entre as pessoas, mudaram as instituições, mudaram-se as pessoas, do campo para as cidades. Esse processo atropelou tradições e hierarquias que se cristalizaram em momentos anteriores, impondo um novo modo de vida. No início, o epicentro estava em algumas poucas nações que protagonizavam a industrialização. Mas depois se espalhou pelo mundo. 
Esse artigo tem como foco o papel de alguns visionários que, ao longo do século XX, estavam atentos a fatos importantes que aconteceram e que souberam interpretá-los, advertir para seus efeitos e propor rumos para a busca do desenvolvimento.
Tempos interessantes
Não é por acaso que Eric Hobsbawm (2002, 1995) se referiu ao século XX e seu modo de vida como “tempos interessantes” e, em outro momento, como “a era dos extremos”. Tanta coisa importante aconteceu nesse curto período de tempo, que ele preferiu delimitar o século entre o início da Primeira Guerra Mundial (1914) e a queda da União Soviética (1991).
Várias tendências que já estavam em curso desde o início da Revolução Industrial se intensificaram no último século. Houve notável aceleração no crescimento demográfico, na taxa de urbanização, na produção de riquezas, na apropriação produtiva dos recursos naturais. Como consequência, cresceu bastante o numero de acidentes ambientais, a produção de resíduos, a poluição em suas diversa formas e o nível de emissões de gases de efeito estufa, com efeitos preocupantes sobre a dinâmica climática do Planeta.
A figura 1 apresenta o desempenho de alguns indicadores, com destaque ao fato de que nas últimas décadas os mesmos têm, quase invariavelmente, uma aceleração.
Figura 1: A aceleração de vários indicadores, desde a Revolução Industrial
Fonte: indicadores selecionados de Steffen et al. 2004
Um intenso ciclo de debates acadêmicos e de eventos políticos internacionais marcou os últimos 50 anos, como reflexo das grandes transformações ocorridas e de seus impactos na vida da pessoas, nas perspectivas de vida das futuras gerações e no próprio desempenho da economia. Se, no início dos debates, a produção de riquezas era apontada como causa de problemas, mais adiante esta passa também a sentir efeitos adversos, como a escassez de matérias primas, os custos elevados de acesso a fontes de energia, os entraves normativos e o ônus resultante da degradação do ambiente.
Depois da Segunda Guerra Mundial o Ocidente viveu um ciclo pouco comum de crescimento econômico. Conhecido como os 30 anos gloriosos, não teve interrupções causadas por crises e recessões. As condições de vida das populações das nações industrializadas melhoraram consideravelmente, com a expansão das políticas de bem-estar e a massificação do consumo. É verdade que foi também uma fase de graves conflitos militares (guerras da Coréia e do Vietnam, lutas pela independência no Congo, na Argélia e em muitos outros países africanos) e da guerra fria. Mas foi um momento de avanços científicos e tecnológicos notáveis: a chegada dos humanos na lua e a revolução verde na agricultura são exemplos eloquentes.
 Paralelamente, sinais de efeitos colaterais começavam a surgir. A tragédia da baía de Minamata, o caso da talidomida, a crescente degradação de ambientes e a contaminação de alimentos mobilizaram um pequeno, porem importante contingente de estudiosos e ativistas (Bursztyn & Persegona, 2008). O livro de Rachel Carson (Silent Spring) foi um marco que se tornou best-seller. Mas alertas sobre as conseqüências do industrialismo e das mudanças que esse processo provocava são quase tão antigos quanto o próprio industrialismo.
Os primeiros alertas
Já se passaram mais de dois séculos desde que Malthus (1798) chamou a atenção para o descompasso entre o rápido crescimento da população e o não tão rápido aumento dos meios de subsistência. Naquela época houve uma aceleração do crescimento demográfico na Grã Bretanha, juntamente com um processo de urbanização, característico da Revolução Industrial. As transformações no sistema produtivo, que se davam nas indústrias, não haviam ainda atingido o meio rural. O resultado – e foi isso que levou à advertência de Malthus – foi um desequilíbrio entre aumento da demanda por mantimentos e redução da sua oferta.
Foi preciso esperar cerca de meio século para que novas tecnologias fossem incorporadas à produção do campo, com destaque para a mecanização (máquinas a vapor) e o uso de fertilizantes (salitre). Depois disso, a preocupação com o excessivo crescimento populacional foi eclipsada por um notável otimismo quanto à infinita capacidade da ciência e das técnicas em encontrar soluções para todos os problemas. Abria-se, então, uma era de confiança e triunfalismo, que marca a virada do século XIX para os anos 1900.
O século XX, em seus três primeiros quartos, foi essencialmente um período de expansão: da população, da produção, dos mercados, do consumo de matérias primas, dos conflitos, dos conhecimentos. Parecia que não havia limites. Não por acaso, a pressão das atividades humanas sobre o meio ambiente cresceu muito, atingindo patamares preocupantes (ver Figura 1). Contrariamente ao que ocorrera no século XIX, houve uma fantástica incorporação de grupos sociais ao mercado, implicando maior consumo e aceleração dos ciclos (de fontes energéticas, de tecnologias, de produção de resíduos). Num olhar retrospectivo, era de se esperar que novos alertas surgissem.
Um Século de Aceleração
Importantes avanços em saúde e condições sanitárias permitiram uma aceleração do crescimento demográfico:de menos de 2 bilhões de habitantes, em 1900, passamos a mais de 6 bilhões, em 2000. O aumento da produção de riquezas também foi enorme no período. Paralelamente, passamos a consumir muito mais energia. Junto com a produção energética, aumentamos bastante os riscos e os acidentes com usinas geradoras e transporte de combustível.
A riqueza per capita dobrou desde 1960 e o PIB mundial passou de 8 para 27 trilhões de dólares PPP, ao longo dos 30 anos seguintes. O mesmo padrão de crescimento da riqueza ocorreu durante os 30 anos precedentes.
Fonte: http://www.worldmapper.org/display.php?selected=163 (4/3/2008)
O consumo mundial de energia per capita aumentou de cerca de 818 W em 1800 para 2,435 W em 2006, o que representa em média três vezes mais. Nos EUA, em particular, o consumo per capita atingiu 13.372 naquele ano. 
Fonte: http://msrb.wordpress.com/2007/12/ (29/2/2008)
Os primeiros encontros
A mobilização intelectual, militante e política em torno dos riscos ambientais inerentes ao progresso econômico está na raiz de alguns eventos que serviram de marco de referência ao ambientalismo. No calor da grande polêmica que se seguiu à publicação do relatório Limites ao Crescimento – elaborado por uma equipe do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) coordenada pelo professor Denis Meadows – o Clube de Roma pautou sua reunião de 1971. A tônica da discussão foi o estrangulamento da oferta de matérias primas em geral, no auge do notável período de expansão industrial, os 30 anos gloriosos (1945-1974). O desequilíbrio entre oferta e consumo de energia estava também na agenda dos debates, da mesma forma que as diferentes formas de poluição.[3: O Clube de Roma é uma ONG que reúne cientistas, economistas, empresários, funcionários de organismos internacionais e de governos, dirigentes e ex- dirigentes governamentais de todos os continentes, que estejam convencidos de que o futuro da humanidade não está irreversivelmente determinado e que cada ser humano pode contribuir para a melhoria das sociedades (www.clubofrome.org, acesso em 2/8/2013).]
Logo em seguida, e no mesmo clima de debates, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, no ano de 1972, em Estocolmo. 
Conferência de Estocolmo	 
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano teve lugar em Estocolmo, Suécia, em junho de 1972. Essa conferência chamou a atenção das nações para o fato de que a ação humana estava causando uma grave degradação da natureza e criando severos riscos para o bem estar e para a própria sobrevivência da humanidade. A Conferência foi marcada pelo confronto entre as perspectivas dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento. Os países desenvolvidos estavam preocupados com os efeitos da devastação ambiental sobre a Terra, propondo um programa internacional voltado para a conservação dos recursos naturais e genéticos do planeta, pregando que medidas preventivas teriam que ser encontradas imediatamente, para que se evitasse um grande desastre. Por outro lado, os países em desenvolvimento argumentavam que se encontravam assolados pela miséria, com graves problemas de moradia, saneamento básico, atacados por doenças infecciosas e que necessitavam desenvolver-se economicamente. Questionavam a legitimidade das recomendações dos países ricos que já haviam atingido o poderio industrial com o uso predatório de recursos naturais e que queriam impor a eles complexas exigências de controle ambiental, que poderiam encarecer e retardar a industrialização dos países em desenvolvimento. A Conferência produziu a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, uma declaração de princípios de comportamento e responsabilidade que deveriam governar as decisões relativas a questões ambientais.
A proposta de moratória do crescimento, que constava do estudo de Meadows (Limites ao Crescimento), serviu de pano de fundo aos debates da Conferência de Estocolmo. Era o início de uma complexa fase de negociações e discussões internacionais em torno dos riscos ao meio ambiente, por um lado, e dos papéis dos diferentes países, por outro. Dali em diante, a polêmica em torno da partilha das responsabilidades seria um lugar-comum, tanto no âmbito diplomático quanto na academia. Afinal, se o crescimento da economia provoca degradação ambiental, o entendimento geral era no sentido de frear a economia. Mas seria essa fórmula justa, se concebida de maneira isonômica a todos os países? Seria plausível supor constrangimentos à expansão econômica dos países pobres'? Não seria essa proposta uma condenação fatal dos pobres à pobreza?
Fonte: Le Prestre (2001); McCormick (1992); Bursztyn & Bursztyn (2006)
O fato é que o debate provocou uma mobilização de idéias em torno de formas menos perdulárias de crescimento econômico. O conceito de ecodesenvolvimento e a busca de tecnologias apropriadas são produtos daquele momento.[4: Na verdade, a noção de ecodesenvolvimento há havia sido apresentada na reunião preparatória ao evento de Estocolmo, realizada na cidade Suíça de Founex, em 1971.]
Ecodesenvolvimento
Em 1973 o canadense Maurice Strong lançou o termo ecodesenvolvimento, para caracterizar uma concepção alternativa de política de desenvolvimento, de modo a conciliar os diversos pontos de vista que haviam sido expressos na Conferência de Estocolmo. Ignacy Sachs produz, então, a fundamentação teórica para aquela proposta. Os caminhos do desenvolvimento seriam seis: satisfação das necessidades básicas; solidariedade com as gerações futuras; participação da população envolvida; preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas; programas de educação. 	 
Esta teoria se referia principalmente às regiões subdesenvolvidas, envolvendo uma crítica à sociedade industrial. Os debates em torno do ecodesenvolvimento abriram, na década seguinte, espaço ao conceito de desenvolvimento sustentável.
Bursztyn & Bursztyn (2013)
A crise do petróleo de 1973-1974 ajudou a impulsionar a discussão. O que parecia pessimismo no Relatório Meadows – a falta de energia – se materializara de forma dramática, logo em seguida. Em termos tecnológicos, as consequências daquela crise foram notáveis. Passado o impacto econômico (recessão) e um período de mutação nas tecnologias, aprendeu-se a fazer muito mais, com muito menos consumo energético por unidade de produto.
As primeiras implicações políticas
Na década de 1970, um conjunto de eventos, alguns deles já ocorridos desde o final dos anos 1950, marcaria uma grande convergência de ações mobilizadoras em torno da causa ambiental. O mundo ainda vivia sob o espectro da Guerra Fria (que vai dos anos 1950 ao final da década de 1980). O choque do petróleo de 1973-1974 apontava para a via nuclear como opção energética. O problema ambiental assumia importante dimensão, tanto no contexto energético, quanto em torno de denúncias e conflitos localizados. Na Alemanha, aparecia o movimento verde, que teve na luta contra a construção de nova pista do aeroporto de Frankfurt um importante fato mobilizador. No Japão, algo semelhante acorria, com foco na expansão do aeroporto de Narita. Também no Japão, o desastre da Baia de Minamata (a poluição das águas e contaminação dos peixes com metais pesados), mais de uma década antes, servira de senha para uma tomada de consciência pela sociedade. Nos Estados Unidos, em especial na Califórnia, a sociedade pressionava pela qualidade de vida e por medidas governamentais que mitigassem a poluição.
O ambiente político foi propício ao surgimento de políticas e instituições públicas voltadas à regulação ambiental. A primeira agência governamental de proteção ambiental surge no EUA, em 1970: a EPA (Environmental Protection Agency). Rapidamente, essa iniciativa é reproduzida em outros países, principalmente como resultado das discussões e compromissos internacionais assumidos em 1972, na Conferência de Estocolmo. O Brasil cria a SEMA (Secretaria Especial do MeioAmbiente, em nível federal), em 1973. Mesmo numa época de limitações orçamentárias – resultante da crise fiscal que se seguiu à crise do petróleo – em cerca de uma década as estruturas governamentais passaram a dispor de instrumentos e base institucional para lidar com a crise ambiental. Esse movimento se deu em escala mundial e também ao nível dos países, com o desdobramento do processo em organismos estaduais e municipais.
Na escala internacional, o período ainda expressava uma certa ambigüidade. Se, por um lado, ganhava vulto a pressão ambientalista sobre os governos nacionais, por outro, não se configurava ainda uma convergência de ações globais. Na prática, cada país buscava adotar políticas voltadas à regulação das atividades que degradassem o ambiente em escala nacional, mas ainda não havia uma preocupação com o ambiente fora de suas fronteiras. Não importava muito se os vizinhos não estivessem cuidando de seus próprios territórios. As iniciativas políticas eram, portanto, respostas a demandas locais pela qualidade de vida, muito mais do que ações voltadas à garantia de futuro do Planeta. Num contexto de guerra fria, aliás, prevalecia até uma certa torcida para que as coisas dessem errado para os adversários. Essa foi a tônica até o desastre de Chernobyl, quando ficou claro que poluição não é um problema que se circunscreve às fronteiras nacionais. 
O processo de desenvolvimento
Vale recapitular que, como utopia do industrialismo, o desenvolvimento não é uma condição em si, mas sim um processo. Entre as primeiras análises e prescrições de vias para sua promoção, como foi a obra de Adam Smith, publicada em 1776, e os tempos atuais, o que se entende como desenvolvimento mudou muito. No início, considerava-se que o crescimento econômico, por si só, levaria ao aumento da riqueza das nações e que cada país deveria buscar se especializar naquilo que fosse mais compatível com suas respectivas vantagens comparativas. Assim, uns valorizariam a maior disponibilidade de capital; outros, a abundância de trabalho; e outros, seus recursos naturais. Tratava-se de uma divisão internacional do trabalho que tendia a condenar um amplo grupo de nações a uma posição secundária na hierarquia de um mundo em que o industrialismo ditava as regras das relações entre países e entre pessoas. Ainda que sem apresentar descontinuidades, a noção de desenvolvimento evolui ao longo dos dois séculos e meio de industrialismo, caracterizando quatro fases bem definidas (Bursztyn & Bursztyn, 2013).
Numa primeira fase, o industrialismo se apoiou em políticas e instrumentos essencialmente voltados à promoção e à proteção da esfera econômica. A delimitação de territórios nacionais com sistemas monetários, tributos e barreiras alfandegárias próprios serve de exemplo. A liberação do trabalho (antes atrelado a estruturas rurais herdadas do feudalismo) para que se dirigisse às cidades industriais (no caso britânico), é também um elemento de destaque.
Dura cerca de um século a quase exclusividade da dimensão econômica como vetor da promoção do desenvolvimento. Na segunda metade do século XIX, entretanto, conflitos sociais inerentes às precárias condições dos trabalhadores industriais afloraram e se radicalizaram. O industrialismo sentiu, em sua própria dinâmica de evolução e estabilidade, que seria preciso incorporar mais uma dimensão à noção de desenvolvimento: a esfera social, que dá identidade à segunda fase da evolução da noção de desenvolvimento. A partir dali, o binômio “social-econômico” passa a orientar as estratégias, políticas e instrumentos de regulação. É claro que isso não se dá de modo simultâneo nem com o mesmo grau de abrangência em todos os países, mas vários mecanismos típicos do que passou a se chamar bem-estar (welfare) passaram a ser adotados num numero crescente de países, muitos deles da periferia. 
Por cerca de um século, a busca do desenvolvimento esteve atrelada à imbricação das esferas social e econômica, como objeto de proteção do Estado.
A crise do petróleo, em 1973-1974, serviu de estopim a uma revisão da políticas de bem-estar. Num momento de crise fiscal, o alto custo da proteção social alimentou a tese de que o Estado deveria ser reduzido a dimensões mínimas, concentrando-se na proteção ao capital. Foi a fase neoliberal, que seduziu políticos e acadêmicos, e teve a função muito mais de desconstruir o welfare state do que de fincar os pilares de um novo projeto de desenvolvimento. Importava mais desfazer a proteção social, deixando-a à mercê dos humores do mercado. Essa terceira fase teria sido uma volta à primeira fase da evolução da noção de desenvolvimento, quando o eixo essencial era a proteção ao capital. Mas um fato novo surgia no cenário da regulação pública: a questão ambiental.
Não só pela própria crise energética, mas também pela eclosão de movimentos sociais e de um pensamento acadêmico bem estruturados, o tema ambiental adquiriu rápida influência sobre as esferas política e institucional. Assim, embora pareça paradoxal, ao mesmo tempo em que triunfa um pensamento desestatizante e economicista, a noção de desenvolvimento se reconfigura, passando a refletir a articulação entre proteção ao capital e ao meio ambiente. Essa fase, muito mais um interlúdio do que propriamente um período, tem duração de cerca de um quarto de século. Nela, nasce e ganha importância o conceito de ecodesenvolvimento e, mais adiante o de desenvolvimento sustentável.
A quarta fase, que estamos vivendo, é a da articulação dos três pilares que dão sustentação ao desenvolvimento, nos moldes como entendemos agora: as proteções às esferas do capital, social e ambiental. O quadro 1 sintetiza as características dos quatro períodos, segundo diferentes parâmetros. 
Quadro 1: Sustentabilidade – fase superior do desenvolvimento
			Evolução do conceito de desenvolvimento
4 fases, desde a Revolução Industrial
	
	Fase 1: Crescimento Econômico
Proteção ao capital
	Fase 2:
Estado de bem-estar
Proteção ao capital e ao trabalho
	Fase 3:
Neoliberalismo
Proteção ao capital e ao ambiente
	Fase 4:
Desenvolvimento Sustentável
Tripé de proteção
	Princípios
/doutrina
	Vantagens comparativas,
Imperialismo
	Seguridade, Soberania e direito ao desenvolvimento
	Estado mínimo, Globalização
	Poluidor-pagador, precaução, prevenção e proteção, Responsabilidades comuns mas diferenciadas, soberania relativa
	Políticas e Instrumentos
	Protecionismo econômico, Organização de mercados, Organização de mercados e limites aos cartéis
	Welfare State, Leis trabalhistas, Regulamentação trabalhista e previdenciária, salário mínimo
	Desestatização, Desregulamentação
	Comando e controle, códigos, Internalização de custos ambientais, Econômicos, Normativos (Policy Mix)
	Modo de regulação
	Organização de mercados (de trabalho e de produtos)
	Intervencionismo, planejamento top-down
	mercado
	Intervencionismo e dirigismo (governança, incluindo atores à montante e jusante)
	Percepção do Papel da ciência
	salvacionismo
	salvacionismo
	
	Riscos
	Direitos de propriedade
	Soberania da esfera privada, patentes
	Soberania da esfera privada, patentes
	Direitos de propriedade intelectual
	Limites ao privado, repartição de benefícios da utilização da diversidade biológica
	Escala
	Nacional 
	Nacional 
	Nacional/global
	Global 
	Proteção ambiental
	Parques nacionais
	Parques nacionais, códigos setoriais
	Unidades de conservação
	Políticas públicas integradas, avaliação de impactos ambientais
	Instituciona-lidade ambiental
	Associações filantrópicas
	Políticas ambientais sem organismos ambientais
	Organismos ambientais nacionais
	Organismos ambientais em todas as escalas
	Indicadores
	PIB
	PIB per capita, GINI
	IDH
	Pegada ecológica
	Percepção ambiental
	Elite intelectual
	Elite intelectual e academia
	Movimentos sociais
	Movimentos sociais, empresários e esfera política
	Segurança
	Segurança pública e nacional
	Segurança alimentar e social
	Segurança econômica
	BiossegurançaDireitos
	Econômicos
	Sociais e humanos
	
	Socioambientais
	Teoria econômica / natureza
	Economia dos recursos naturais
	Economia dos recursos naturais
	
	Economia Ecológica, economia verde, Mercado de carbono
	Demografia
	Malthusianismo
	
	Neomalthusianismo
	Neomalthusianismo
	Padrão tecnológico / energia
	Carvão
	Petróleo
	Eficiência
	Fontes alternativas
	Padrão tecnológico / produção
	Máquina a vapor
	Linha de montagem / fordismo
	Toyotismo/ automação
	Economia do conhecimento, produção imaterial
	Informação/ garantia do produto
	
	“Made in”
	
	Certificação
	Acidentes
	
	Dust-bowl, Minamata
	Vazamentos de óleo, Chernobyl
	Vazamentos de óleo, Fukushima
	Beneficiários
	Elites
	+ trabalhadores
	- excluídos
	+ futuras gerações
Vale assinalar que a organização da evolução da noção de desenvolvimento em períodos não significa que tenha havido momentos de ruptura. Observando-se de modo retrospectivo, fica evidente que se trata da evolução de uma noção que é plástica, em constante evolução, e que reflete contingências de momentos específicos.
Cada uma das fase dessa evolução corresponde a um processo de causas e efeitos, marcado pelo encadeamento de cinco momentos:
percepção de um problema estrutural;
análise (estudos);
institucionalização (formalização como objeto de regulação pública);
ações (políticas), mediante diferentes tipos de instrumentos: normativos, econômicos, comportamentais;
percepção e assimilação das mudanças (comportamentos individuais e coletivos).
Merece também referência o fato de que a caracterização das quatro fases deve ser considerada muito mais como identificação dos paradigmas de orientação das estratégias de promoção do desenvolvimento do que como condições absolutas. São, nesse sentido, ideais-tipos. Na prática, entretanto, as quatro fases não são:
Universais (elas não se dão em todos os lugares)
Simultâneas (elas não se acontecem, cada uma, ao mesmo tempo)
Etapas sucessivas (a ocorrência de uma não pressupõe necessariamente a ocorrência e o esgotamento da anterior; não são, portanto, fases de uma evolução linear)
Equitativas (não significam que se dêem de modo equilibrado em diferentes lugares)
Pessoas interessantes
Devemos o entendimento da evolução da noção de desenvolvimento a um conjunto de personalidades, muitas delas vinculadas (direta ou indiretamente) ao mundo acadêmico. Suas obras e, dentro delas, os conceitos que lançaram, são cruciais para elucidar enigmas, questionar paradigmas, advertir quanto a riscos, argumentar sobre incoerências de políticas, dar rumos a expressões de movimentos políticos. 
Alguns autores nos ajudam a entender o século XX, em particular, a partir de uma perspectiva que engloba as dimensões econômica, social e ambiental, integradamente. Contribuíram, assim, para despertar a sociedade para os problemas ambientais e para a necessidade de mudanças de fundamentos e rumos. Dentre aqueles que marcaram profundamente os debates nos meios acadêmicos e nas instituições políticas, nos anos 1960 e 1970, e que formaram a base teórica de um novo movimento social, ligado a diversas causas ambientais, destacam- se:
Rachel Carson, biológa norte-americana que publicou, em 1962, a obra Silent Spring (Primavera Silenciosa). O livro denuncia os danos ambientais resultantes do uso excessivo de pesticidas e prevê um futuro apocalíptico para o planeta, na ausência de medidas contra o emprego abusivo de tais substâncias, notadamente o DDT. É considerada uma das seguidoras mais importantes de Aldo Leopold, referência clássica do pensamento anglo-saxônico sobre ética ambiental e bioética.
Barry Commoner, ecólogo norte-americano, que tratou do impacto destrutivo da tecnologia sobre o meio ambiente e contestou o domínio militar sobre a investigação científica, defendendo a democratização da ciência. Para ele, as relações da sociedade com a ciência e tecnologia colocavam em risco todas as formas de vida. Em 1966, publicou o livro Science and Survival (Ciência e Sobrevivência) em que critica a natureza antiecológica da tecnociência e chama a atenção para o significado político e econômico da ecologia.
Paul Ehrlich, biólogo norte-americano, autor do best-seller The Population Bomb (A Bomba Populacional), publicado em 1968 (em coautoria com Anne Ehrlich). A obra aborda a importância da questão demográfica enquanto indutora da fome e da escassez de recursos naturais e defende que, diante da impossibilidade de se alterar no curto prazo os modos de produção e de consumo, as soluções propostas devem ir no sentido da redução do crescimento populacional.
Garrett Hardin, microbiologista norte-americano, que defendia a tese de que a inevitabilidade da destruição global pré-determinava as escolhas que a humanidade deveria fazer para assegurar sua sobrevivência. Autor do ensaio The Tragedy of the Commons (A Tragédia das Terras Comunais), publicado em 1968, apresentou um modelo de reflexão sobre o problema da gestão dos bens coletivos. A sua obra se tornou o artigo científico mais citado do mundo. Juntamente com o trabalho de Ehrlich, é considerado como fundamento da corrente de pensamento neomalthusiano.
Nicholas Georgescu-Roegen, matemático, estatístico e economista romeno, que se empenhou em evidenciar o esgotamento dos recursos naturais no processo biofísico do desenvolvimento econômico. Para ele, o processo tecnológico e econômico da humanidade está efetivamente inserido na evolução da biosfera. Crítico da epistemologia neomecanicista do modelo científico dominante, construiu uma nova abordagem, denominada de economia ecológica. Publicou os livros The Entropy Law and the Economic Process (1971) e Energy and Economic Myths: Institutional and Analytical Economic Essays (1976).
Ernest Friedrich Schumacher, economista alemão que contribuiu para a formação da economia ecológica. Publicou em 1973, o livro Small is Beautiful, que resgata o princípio da economia budista e serve de referência a todo um movimento de reação ao império das tecnologias sofisticadas e inacessíveis aos povos desfavorecidos. 
Ivan Illich, filósofo austríaco radicado no México, foi pioneiro em temas como a relação entre tecnologias e degradação ambiental, os limites epistemológicos das ciências formais e os impasses tecnológicos. Em sua obra Energia e Equidade: desemprego criador, de 1974, adverte que é necessário que os políticos reconheçam que a energia física, a partir de um certo limite se torna inevitavelmente desagregadora do ambiente social.
André Gorz, filósofo e jornalista francês, nascido na Áustria, que publicou, em 1976, Écologie et Politique, um manifesto contra o consumismo, em defesa de um padrão de vida mais modesto e menos excludente e, sobretudo, menos predador. Surge, nesta obra, o conceito de “gestão do tempo livre”, que iria influenciar toda uma geração de pensadores críticos da razão do industrialismo.
Jan Tinbergen, economista e Prêmio Nobel holandês, tratou do conceito de ecodesenvolvimento como ponto de destaque do terceiro relatório do Clube de Roma (RIO – Reshaping the International Order), editado em 1976 sob sua coordenação. O relatório foi elaborado por uma equipe de especialistas, da qual também participou Ignacy Sachs. Nele, defende-se a ideia de que os Estados abandonariam as suas prerrogativas sobre os recursos naturais, técnicos e científicos, que passariam a ser geridos para o bem da humanidade, de maneira eficaz e equitativa, por instituições internacionais. Enquanto se aguardava tal “soberania planetária descentralizada”, as nações deveriam privilegiar a satisfação das necessidades básicas de suas populações. Tal proposta pode ser considerada como precursora dos debates sobre governança global.
Corneluis Castoriadis, filósofo, economista e psicanalista greco-frances, nascido em Istambul. Em sua obra, assinala a originalidade do movimento ambientalista. “O que o movimento sindical combatia, principalmente, era a dimensão da autoridade. [...] O que o movimento ambientalista desafiou, porseu lado, foi uma outra dimensão: o padrão e a estrutura das necessidades, o modo de vida. [...] O que está em jogo no movimento ambiental, é o conceito, a relação entre a humanidade e o mundo, e, finalmente, a questão central e eterna: que é a vida humana? Para que vivemos?” (Castoriadis & Cohn-Bendit, 1981, 36-37).
Ignacy Sachs, economista polonês que elaborou as bases conceituais do ecodesenvolvimento, uma combinação de crescimento da economia, melhoria do nível de bem-estar social e preservação ambiental. Em 1981 publicou Initiation à l'écodéveloppement. Suas bases são: 
prioridade para o alcance de finalidades sociais (satisfação de necessidades fundamentais das populações e promoção da equidade); 
valorização da autonomia (uso preferencial de recursos locais ou nacionais); 
prudência ecológica (condutas compatíveis com a dinâmica do meio ambiente); 
aceitação voluntária de uma restrição ecológica baseada no princípio sincrônico da busca do desenvolvimento social; e
construção de uma economia negociada e contratual ajustada às aspirações e necessidades dos cidadãos e às potencialidades e limitações ambientais.
Os autores acima citados fazem parte de um seleto grupo de luminares do pensamento sobre o desenvolvimento. Eram pessoas com características bem particulares. Eles perceberam, em seus campos de conhecimento, que a questão ambiental, como pilar da noção de desenvolvimento, transcendia disciplinas delimitadas. Vários deles estiveram presentes em lugares e em momentos cruciais do século XX: a ascensão do nazismo, a guerra fria, o armamentismo, a crise energética, dentre outros. Tiveram, também, o discernimento de entender esses eventos, lançar advertências e elaborar propostas. Cada um deles trouxe novos elementos e conceitos à interpretação do mundo. Quase todos eram cidadãos do mundo: desterrados, poliglotas, polivalentes, muticulturais, interdiciplinares, inconformados, ativistas políticos.[5: Trata-se de uma lista não exaustiva, Não foram mencionados vários outros expoentes como Celso Furtado, Amartya Sen, Arne Naess, Kenneth Boulding, Gunnar Myrdal e muitos outros. Optou-se por uma amostra representativa do rico pensamento que serve de fundamento à noção de sustentabilidade.]
 
Sustentabilidade
Lançado em 1987 com o Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum), o termo sustentável, como atributo da noção de desenvolvimento, adquiriu estatuto de parâmetro não apenas para as políticas públicas, mas também para o ordenamento das ciências. 
De uma adjetivação (“sustentável”) passou também à condição de substantivo (“sustentabilidade”) e de advérbio de modo (“sustentavelmente”). No tecido institucional da Academia, um amplo debate se deu nos anos 1990, sobre o necessário espaço para o tratamento interdisiciplinar do desenvolvimento (sustentável). Entre economistas convertidos à razão ambiental, ecólogos convertidos à lógica humana e sociólogos convertidos ao bem-estar também das futuras gerações, o tema sustentabildade provocou um contraponto em relação à trajetória disciplinarizante e especialista. Surgem programas interdisciplinares, que congregam profissionais oriundos de diversos campos científicos. Uma linguagem comum necessariamente se evidencia e métodos de integração começam a ser lançados. As ciências da sustentabilidade (no plural) fincam raízes (Kates, 2001), paralelamente a propostas metodológicas (Bammer, 2013).
Conceitualmente, o debate sobre a sustentabilidade oscila entre dois enfoques. O primeiro deles parte do pressuposto que a esfera da vida (biosfera) sobredetermina as esferas social (sociosfera) e esta, por sua vez, engloba a economia (econosfera), e resulta na fórmula da sustentabilidade forte. No segundo, que configura a visão do tipo sustentabilidade fraca, os três pilares (econômico, social e ambiental) têm o mesmo peso (Mueller, 2004). Advertências quanto à primazia da economia são freqüentes e caracterizam a fisionomia do tipo “Mickey mouse” (ver figura 2).
Figura 2: Sustentabilidades forte, fraca e do tipo Mickey mouse 
Fonte: Bursztyn & Bursztyn (2013).
Passados mais de 25 anos desde a consagração do termo sustentabilidade, e já devidamente legitimado, o debate se desloca da esfera da institucionalização para a da operacionalização. Afinal, quais os caminhos para o desenvolvimento sustentável?
Alguns elementos podem ajudar a balizar esse debate:
No mundo atual a regulação se dá em grande medida pela via normativa, com mecanismos de comando e controle. Entretanto, como o ritmo das transformações (e seus efeitos) está em constante aceleração, estamos fragilizados, pois as regras geralmente só são estabelecidas a posteriori. A defasagem entre manifestação dos problemas e invenção das soluções é, assim, cada vez maior. Daí, um desafio é buscar modos de regulação que sejam não apenas mais efetivos, como também mais rapidamente reativos. 
Com o mundo cada vez mais populoso, diverso e urbano, as regulações "morais" (pressão de grupos de identidade), se tornam limitadas (o que um grupo entende como certo não é necessariamente o que outro grupo acha). É amplo o espaço para free riders, para lobbies, para transgressões que se diluem ou se perdem na multidão.
No mundo da subordinação da lógica da vida à lógica das técnicas e da rentabilidade de curto prazo (progresso tecnológico, economia de trabalho, dominação da natureza, redução dos ciclos de vida dos produtos, multiplicação dos tipos de produtos, intensificação do uso de recursos naturais e energia etc), alguns princípios devem ser incorporados à cultura (e à lei): 
Responsabilidade, nos moldes propostos por Hans Jonas (1984)
Direitos (de grupos diversos, de gerações futuras, de outras espécies e coisas) a uma vida saudável.
Prevenção (melhor do que corrigir problemas é evitá-los).
Precaução (se não sabemos a dimensão das consequências, então é preciso agir com prudência). 
Participação (quanto maior o envolvimento das pessoas nas decisões, mais provável será o acerto).
Como argumenta Michel Serres (1990) o lógica do Contrato Social (entre pessoas) deve ser estendida a um Contrato Natural (das pessoas com o meio natural). A ética (e não a moral, num sentido dogmático e até conservador) deve ser internalizada na vida cotidiana. Os mecanismos de regulação pública são necessários; mas não são suficientes. A educação tem papel crucial. O exercício da democracia é um valor fundamental do desenvolvimento sustentável (as diversas formas de ditadura conspiram contra a sustentabilidade). Isso implica cidadãos soberanos (inclusive como consumidores e usuários do ambiente natural).
Para concluir:
A noção de sustentabilidade, como atributo necessário à configuração atual da utopia do desenvolvimento, é plástica e permite múltiplas interpretações na teoria e na prática. Isso influencia, evidentemente, as decisões nas diferentes escalas (individual, de empresas, de governos e planetária) e com vista a diferentes momentos (curto, médio e longo prazos). Os debates diplomáticos, por exemplo, refletem subterfúgios e evasivas à responsabilidade sobre como conduzir o mundo para um desenvolvimento que considere os três pilares (econômico, social e ambiental), numa perspectiva de longo prazo. Cabe asseverar, portanto, que só é plausível pensar em sustentabilidade se a busca do desenvolvimento levar em consideração as diferentes escalas territoriais e temporais, ao mesmo tempo em que todos os indivíduos possam usufruir de seus benefícios e sejam responsáveis por seus efeitos negativos. 
Referências:
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