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Texto 01 - Desenvolvimento e o Meio Ambiente

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DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (Rubens Pessoa de Barros, publicado em 29 de abril de 
2008) 
 
O consumo desequilibrado dos recursos naturais, sem a preocupação com as futuras gerações 
faz com que cada país lute pela sua sobrevivência e pela prosperidade quase sem levar em consideração 
o impacto que causa sobre os demais. Alguns consomem os recursos da Terra a um tal ritmo que 
provavelmente pouco sobrará para as gerações futuras. Outros em número muito maior, consomem 
pouco demais e vivem na perspectiva da fome, da miséria, da doença e da morte prematura. 
É possível chegar a uma nova era de crescimento econômico, fundamentada em políticas que 
mantenham e ampliem a base de recursos da Terra; o progresso que alguns desfrutaram no século 
passado pode ser vivido por todos nos próximos anos. Mas, para que isso aconteça, temos que 
compreender melhor os sintomas de desgaste que estão diante de nós, identificar suas causas e 
conceber novos métodos de administrar os recursos ambientais e manter o desenvolvimento humano. 
Para nossa surpresa, a própria pobreza polui o meio ambiente também, criando outro tipo de 
desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos muitas vezes destroem seu próprio meio 
ambiente: derrubam florestas, permitem o pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem 
em número cada vez maior para as cidades já congestionadas. O efeito cumulativo dessas mudanças 
chega a ponto de fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do mundo. 
Dentro de alguns países em desenvolvimento, a pobreza foi exacerbada pela distribuição 
desigual da terra e de outros bens. O rápido crescimento populacional prejudicou a capacidade de 
melhorar o padrão de vida. Esses fatores, aliados a uma necessidade cada vez maior de explorar 
comercialmente terras boas, levaram muitos agricultores de subsistência a se transferirem para terras 
ruins, tirando-lhes assim qualquer esperança de participarem da vida econômica de seus países. O 
cultivo extensivo em encostas íngremes está aumentando a erosão do solo em muitas regiões 
montanhosas de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Em muitos vales fluviais, cultivam-se 
agora áreas onde as inundações sempre foram comuns. 
A maioria das vítimas dessas catástrofes é constituída pelos pobres das nações pobres, onde os 
agricultores de subsistência tornam suas terras mais sujeitas a secas e inundações porque matam as 
áreas marginais, e onde os pobres se tornam mais vulneráveis a todas as catástrofes porque vivem em 
encostas íngremes ou em regiões ribeirinhas sem proteção, as únicas áreas que lhes restam para 
construírem seus barracos. Não dispondo de alimentos nem de divisas, os governos economicamente 
vulneráveis desses países têm poucas condições de enfrentar tais catástrofes. 
Os vínculos entre desgaste ambiental e catástrofes que impedem o desenvolvimento 
evidenciam-se melhor na África subsaariana. A produção de alimentos per capita, que vem declinando 
desde os anos 60, entrou em colapso durante a seca dos anos 80 e, no momento em que os alimentos 
eram mais necessários, cerca de 35 milhões de pessoas ficaram em risco. O uso excessivo de terra e a 
seca prolongada ameaçam transformar em deserto os prados do Sahel africano. Nenhuma região sofre 
de modo mais trágico com o círculo vicioso da pobreza que leva à deterioração do meio ambiente, que 
por sua vez à deterioração do meio ambiente, que por sua vez leva a uma pobreza maior. 
Uma vez que aumenta o padrão de vida, aumenta também o desenvolvimento econômico, que 
por sua vez aumenta o impacto ambiental. O homem atua na natureza como se não fosse existir uma 
geração vindoura. Tudo o que interessa é o capitalismo, o crescimento econômico. Porém, há uma 
ameaça iminente, pois se destrói a natureza destrói também a vida. 
O "efeito estufa", e a destruição da camada de ozônio da atmosfera, devido a gases liberados na 
atmosfera, são ameaças aos sistemas que sustentam a vida, e derivam diretamente do maior uso dos 
recursos. A queima de combustíveis fósseis e também a derrubada e a queima de florestas liberam 
dióxido de carbono (CO2). O acúmulo de CO2 e de outros gases na atmosfera retém a radiação solar nas 
proximidades da superfície terrestre, provocando o aquecimento do planeta. Isto pode fazer com que o 
nível do mar, nos próximos 45 anos, se eleve a ponto de inundar muitas cidades situadas em litorais e 
deltas de rios. Também pode causar enormes transtornos à produção agrícola nacional e internacional e 
aos sistemas comerciais. Atualmente cada metro quadrado do solo da Europa Central está recebendo 
mais de um grama de enxofre por ano. A destruição da floresta pode acarretar erosão, formação de 
depósitos sedimentares, inundações e alterações climáticas localizadas. 
A desertificação, o processo pelo qual as terras áridas e semi-áridas se tornam improdutivas do 
ponto de vista econômico, e o desflorestamento em grande escala são também ameaças à integridade de 
ecossistemas regionais. A desertificação envolve interações complexas de seres humanos, terra e clima. 
A destruição das florestas e de outras áreas agrestes causa a extinção de espécies vegetais e 
animais e reduz drasticamente a diversidade genética e ecossistemas do mundo. Esse processo priva as 
gerações atuais e futuras de material genético para aperfeiçoar variedades de cultivos, tornando-as 
menos vulneráveis ao desgaste provocado pelo clima, às pragas e às doenças. O desaparecimento de 
espécies e subespécies, muitas delas ainda não estudadas pela ciência, priva-nos de importantes fontes 
potenciais de remédios e produtos químicos industriais. Destrói para sempre seres de grande beleza e 
partes de nosso patrimônio cultural; e empobrece a biosfera. 
Todos nós corremos riscos, ricos e pobres, tanto para os que se beneficiam de atividades que 
agridem a natureza quanto os que não se beneficiam dela. A busca de um futuro mais viável só tem 
sentido se houver esforços mais vigorosos para deter o desenvolvimento dos meios de aniquilação. 
Meio ambiente e desenvolvimento não constituem desafios separados; estão inevitavelmente 
interligados. O desenvolvimento não se mantém se a base de recursos ambientais se deteriora; o meio 
ambiente não pode ser protegido se o crescimento não leva em conta as conseqüências da destruição 
ambiental. Esses problemas não podem ser tratados separadamente por instituições e políticas 
fragmentadas. Eles fazem parte de um sistema complexo de causa e efeito. 
Os desgastes do meio ambiente estão interligados. Os desgastes ambientais e os padrões de 
desenvolvimento econômico se interligam. Os problemas ambientais e econômicos ligam-se e vários 
fatores sociais e políticos. 
Muitos dos vínculos entre o meio ambiente e a economia também atuam em nível global. Por 
exemplo, a agricultura das economias industriais de mercado, que recebe muitos subsídios e incentivos, 
gera excedentes que baixam os preços e tornam menos viáveis as agriculturas dos países em 
desenvolvimento, com freqüência negligenciadas. Em ambas os sistemas, os solos e outros recursos 
ambientais sofrem. Cada país deve criar políticas agrícolas nacionais para assegurar os ganhos 
econômicos e políticos a curto prazo, mas nenhuma nação pode, sozinha, criar políticas que lidem 
eficientemente com os custos financeiros, econômicos e ecológicos das políticas agrícolas e comerciais 
adotadas pelas demais nações. 
A busca do desenvolvimento sustentável exige mudanças nas políticas internas e internacionais 
de todas as nações. O desenvolvimento sustentávell procura atender às necessidades e aspirações do 
presente sem comprometer a possibilidade de atendê-las no futuro. 
Portanto, sempre existe o risco de que o crescimento econômico prejudique o meio ambiente, 
uma vez que ele aumenta a pressão sobre os recursos ambientais. É fundamental que todas as nações 
se unam para estabelecer políticas públicasque levem para um desenvolvimento sustentável. A 
unificação das necessidades humanas requer um sistema multilateral que respeite o princípio do 
consenso democrático e reconheça que há não apenas uma Terra, mas também um só mundo, 
 
Referências: 
Lehmhaus, J. et.al. Calculated and observed data for 1980 compared at Emep measurement stations. 
Norwegian Meteorological Institute, Emep/MSC-W Report 1 1-86, 1986. 
Nosso Futuro Comum/CMMAD. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991. 
United Nations, General Assembly. The critical economic situation in Africa: report of the Secretary 
General. A/S-13/z. New York, 20 May 1986.

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