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Prova Antropologia 2016.1

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UFRRJ- UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
ICHS – INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA SOCIAL
TAMIRES SURIEL NUNES ARAÚJO
AVALIAÇÃO
SEROPÉDICA
2016
TEXTO BASE: Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação colonial, territorialização e fluxos culturais. De João Pacheco de Oliveira Filho.
SOBRE O AUTOR
 João Pacheco de Oliveira Filho é antropólogo e Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. Fez pesquisa de campo prolongada com os índios Tikuna, do Alto Solimões (Amazônia), da qual resultou sua dissertação de mestrado (UNB, 1977) e sua tese de doutoramento (PPGAS, 1986), publicada em 1988. Realizou também pesquisas sobre políticas públicas, coordenando um amplo projeto de monitoramento das terras indígenas no Brasil (1986-1994), com apoio da Fundação Ford, projeto que resultou em muitos trabalhos analíticos, coletâneas e atlas. Orientou mais de 60 teses e dissertações no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), voltadas sobretudo para povos indígenas da Amazônia e do Nordeste, em programa comparativo de pesquisas em etnicidade e território apoiado pelo CNPq e FINEP. Atuou como professor-visitante em alguns centros de pós-graduação e pesquisa no Brasil (UNICAMP, UFPE, UFBA e Fundação Joaquim Nabuco e UFAM) e no exterior (Universidad Nacional de La Plata/Argentina, Università di Roma ?La Sapienza?, École des Hautes Études en Sciences Sociales/Paris, Universidad Nacional de San Martin/UNSAM/Buenos Aires e Institute des Hautes Études de l`Amérique Latine/;IHEAL/Sorbonne Nouvelle/Paris 3). É pesquisador 1A do Conselho Nacional de Pesquisas/CNPq e bolsista FAPERJ do Programa Cientista do Nosso Estado. Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia/ABA (1994/1996) e por diversas vezes coordenador da Comissão de Assuntos Indígenas. Nos últimos anos vem se dedicando ao estudo de questões ligadas a antropologia do colonialismo e a antropologia histórica, desenvolvendo trabalhos relacionados ao processo de formação nacional, a historiografia, bem como a museus e coleções etnográficas. É curador das coleções etnológicas do Museu Nacional e organizou recentemente a exposição Os Primeiros Brasileiros, relativa aos indígenas do nordeste, exibida em Recife, Fortaleza e Rio de Janeiro, (MN) e em Córdoba, Argentina (no Museo de Bellas Artes Evita). Junto com lideranças indígenas foi um dos fundadores do Maguta: Centro de Documentação e Pesquisa do Alto Solimões, sediado em Benjamin Constant (AM), que deu origem ao Museu Maguta, administrado hoje diretamente pelo movimento indígena.
VOCABULÁRIO
Residual: adj.Relativo a resíduo.Que provém de um resto.
Estiolado: adj (part de estiolar) 1 Que se estiolou. 2 Debilitado, enfraquecido, finado.
Interétnico: adj. Relativo às relações e trocas entre etnias diferentes
Heurística: arte de inventar, de fazer descobertas; ciência que tem por objeto a descoberta dos fatos.
TEXTO
As lacunas etnográficas e os silêncios da historiografia ajudaram a reproduzir um discurso onde os povos indígenas são representados basicamente como primitivos e originários, ignorando suas atuais especificidades e características próprias. Essa atitude traz poucos avanços a escrita etnológica e comparação entre as culturas. Logo uma produção acadêmica historiográfica dialogando com a antropologia, evidenciando reconstruir ao máximo os processos históricos dos povos indígenas , tanto do passado como atuais, poderia contribuir para desmistificar e desconstruir certas atribuições errôneas e conceitos equivocados que a base teórico ocidentalizada, influenciada pelo evolucionismo cultural e a hierarquização social brasileira, ajudou a compor.Contribuiria assim para um melhor esclarecimento a cerca desses povos, o que infelizmente não ocorreu e não ocorre, por serem poucas as obras acadêmicas focadas nesse tópico.[1: GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Revista de Estudos Históricos: O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma História, 1988.]
Por conta da cultura indígena brasileira, principalmente a do nordeste em questão, ser atribuída cada vez mais ao longo do tempo como misturada a cultura ocidental, ela constituiu-se em um objeto de pesquisa com baixa atratividade para os etnólogos, que só possibilitam como objeto de estudo culturas consideradas “puras” e intocadas, distantes de sua própria cultura e realidade. O que Levi Strauss discorre se opondo a tal pureza de cultura, uma vez que para ele o diálogo entre culturas é fundamental pois nenhuma cultura está só e é sempre capaz de fazer coligação com outras culturas, o que ele denomina de a colaboração das culturas. [2: LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e Ciência I: Raça e História. São Paulo: Perspectiva, 1970.]
Apesar disso quando sua narrativa aponta sobre a distintividade cultural que possibilita o distanciamento e a objetividade com a não contemporaneidade entre o nativo e o etnólogo, há uma contribuição para uma persistência negativa quanto às perspectivas de uma etnologia dos povos e culturas indígenas do Nordeste como objeto de estudo, esse soma-se a outros fatores que resultam num impedimento em visualiza-los como perspectivas para pesquisas etnológicas.
As obras antropológicas já formuladas por antropólogos da região Nordeste, no que diz respeito a população indígena da mesma, estão muito mais ligadas ao campo das representações políticas, como as lutas pelo direito de terras, do que propriamente comprometidas em definir suas práticas por diálogos teóricos como deveriam, ao mesmo tempo que os engloba numa classificação muito simplista, por fazerem parte da mesma geografia e história, ignorando ou deixando de lado na etnografia as suas especificidades próprias.
Podemos então perceber no discurso a questão já mencionada da mistura, os índios dos aldeamentos nordestinos são visto cada vez mais como, índios ‘misturados’, atributos negativos que os desqualificam e os opõem aos índios ‘puros’ do passado, idealizados e apresentados como antepassados míticos, além de generaliza-los. Com isso se dá a valorização maior do índio da Amazônia em relação ao indígena do nordeste, aos da Amazônia atribui-se uma importante dimensão ambiental e geopolítica, enquanto no que diz respeito aos do nordeste, as questões se mantém primordialmente nas esferas fundiárias e de intervenção assistencial.
No inicio da colonização portuguesa no Brasil os índios já possuíam milhares de diferenciações entre as próprias tribos, vindo a incorporar-se logo após diversas culturas como por exemplo a portuguesa e a africana. Logo não podemos ver a mudança gradativa dos povos de forma pejorativa como “mistura”, levando em conta que o processo histórico constitui-se como algo inevitável , seguindo o fluxo natural nas relações de trocas entre culturas. Ao que diz respeito a esse aspecto levantou-se um interessante debate na bibliografia etnohistórica das Américas.
Cresce, na bibliografia etnohistórica das Américas, a idéia de que o impacto do contato, da conquistas da história da expansão européia não se resume apenas na dizimação de populações e na destruição de sociedades indígenas. Esse conjunto de choques também produziu novas sociedades e novos tipos de sociedade, como bem apontam Stuart Schwartz e Frank Salomon (1999, 2:443).[3: MONTEIRO, John. Entre o etnocídio e a etnogênese: identidades indígenas coloniais. In:MONTEIRO, John M.; FAUSTO, Carlos. (Orgs.) Tempos índios: histórias e narrativas do Novo Mundo, 2007.]
 	A cerca da etnogênese, termo cada vez mais presente no debate, o qual possuía uma definição tributária da antropologia cultural norte-americana, onde seria a origem histórica de um povo que se auto-define a partir de seu patrimônio sociocultural e linguístico, o antropólogo Jonathan Hill propõe uma abordagem que vai além desta. Afirmando que etnogênese também diz respeito a estratégias culturais e políticas de atores nativos, buscando criar e renovar identidades duradouras num contextomais abrangente de descontinuidades e de mudanças radicais. Logo, para apreender os processos culturais em jogo, não se pode tratar as sociedades indígenas como culturas locais em isolamento, assim o ponto de vista teórico passou a ser o debate sobre a problemática das emergências étnicas e da reconstrução cultural.
Apoiando-se nessa significativa acumulação de dados etnográficos e nas interpretações surgidas, o autor João Pacheco de Oliveira busca uma reflexão mais sistemática e elaborada sobre o lugar e a contribuição que os estudos sobre os povos e culturas indígenas do Nordeste podem fornecer no que diz respeito ao contato interétnico, levando em conta o processo de territorialização , o que define como movimento pelo qual um objeto político-administrativo, que vem a se transformar em uma coletividade organizada, ou seja, agentes sociais que nesse processo formam uma identidade própria, instituindo mecanismos de tomada de decisão e de representação, e reestruturando as suas formas culturais, principalmente com o meio ambiente e com o universo religioso. Logo os indivíduos são levados a criarem e se adaptarem gradativamente as condições sociais e a buscarem afinidades culturais e linguísticas, bem como os vínculos afetivos e históricos.
Apesar das construções e novas perspectivas etnográficas, o autor identifica que antes do final do século XIX, já não se falava mais em povos e culturas indígenas no Nordeste. Além de serem destituídos de seus antigos territórios, não são mais reconhecidos como coletividades, mas referidos individualmente como “remanescentes” ou “descendentes”. Foram denominados os “índios misturados” de tal forma que desde as autoridades, a população regional e eles próprios se identificam dessa forma. Apesar do processo a política indigenista oficial tende a demarcar descontinuidades culturais com relação aos regionais. 
Finalizando o autor aponta como a antropologia brasileira, nas décadas de 50 e 60, registrou preocupações inovadoras e reflexões bastante originais diante de problemáticas e padrões de trabalho científico colocados em prática naquele momento nos centros metropolitanos de produção e consagração da disciplina. E assinala três problemáticas que merecem ser reexaminadas e: a crítica aos estudos de aculturação e ao conceito de assimilação; a ênfase no estudo da situação colonial e suas repercussões sobre os dados e interpretações; e a dimensão da ética e do valor do exercício da ciência. Pontos estes que seriam muito melhor explorados com o diálogo interdisciplinar, principalmente com a história, no que tange a situação colonial e o desenrolar do processo histórico.

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