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Unidade III Bauhaus - Introdução A Bauhaus foi o resultado de uma tentativa contínua de reformular a formação nas artes aplicadas na Alemanha, processo que já havia começado desde a virada do século (XIX para o XX); L. Benevolo: “...a experiência coletiva da Bauhaus está aberta às contribuições que venham de qualquer parte do mundo e funciona como centro ideal do movimento moderno”. Bauhaus - Introdução Logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, Walter Gropius (1883-1969) é chamado a dirigir dois destes importantes institutos alemães ligados à pesquisa e ao ensino da arte e do design; Em 1919, ele finalmente unifica as duas instituições em uma só: a Staatliches Bauhaus, uma escola de design, artes plásticas e arquitetura de vanguarda que, enquanto durou (1919-1933), representou uma das mais importantes expressões do Modernismo. Bauhaus - Introdução Programa (1919): “Todos nós arquitetos, escultores, pintores, devemos voltar-nos para nosso ofício. A arte não é uma profissão, não existe nenhuma diferença essencial entre o artista e o artesão. Formamos uma única comunidade de artífices sem a distinção de classe que levanta uma arrogante barreira entre o artesão e o artista. Juntos concebemos e criamos o novo edifício do futuro, que reunirá arquitetura, escultura e pintura numa única unidade, e que um dia será levantado contra o céu pelas mãos de milhões de trabalhadores como o símbolo de cristal de uma nova fé.” O programa de Gropius também alertava para a obsolescência da “academia” tradicional e para as graves consequências da falta de contato desses alunos com as necessidades de uma nova era: “O ensino acadêmico levava à formação de um grande proletariado artístico destinado à miséria social. Estas pessoas, embaladas no sonho da genialidade (...) eram enviadas à “profissão” da arquitetura, da escultura, da pintura (...) sem a bagagem de uma verdadeira educação, que seria a única a lhes assegurar a independência estética e econômica. (...) A falta de qualquer conexão com a vida da comunidade levava inevitavelmente à esterilização da atividade artística.” Bauhaus - Introdução Bauhaus - Introdução Em outras palavras: “Na medida em que a academia dirigia uma miríade de talentos menores para o projeto arquitetônico ou para a pintura, entre os quais talvez apenas 1 em 1000 estava destinado a se tornar um genuíno arquiteto ou pintor, a grande massa destes indivíduos, alimentados por falsas esperanças e providos com uma preparação acadêmica unilateral, estava condenada a uma vida artística estéril. Despreparados para enfrentar com sucesso a luta pela existência, viam-se confusos como parasitas sociais, inúteis para a vida produtiva da nação em virtude da educação que tinham tido”. Porém, enquanto isso acontecia, Gropius alertava para a crescente demanda por artistas/arquitetos em importantes setores da economia alemã (particularmente nas indústrias): “Surgiu uma demanda de produtos formalmente atraentes e ao mesmo tempo tecnicamente corretos e econômicos”. Bauhaus - Introdução Esta demanda, contudo, na visão de Gropius, só poderia ser plenamente atendida pela união dos “técnicos” (das indústrias) com os “artistas”, cada um contribuindo com sua expertise para viabilizar a produção eficiente e economicamente rentável dos inúmeros produtos consumidos pela nova sociedade. Bauhaus - Introdução Por conseguinte, esta carência de “artistas adequadamente instruídos para este trabalho” só poderia ser suprida por uma nova metodologia educacional, compromisso que a Bauhaus assumiria a partir de então: “...uma severa experiência prática e manual em laboratórios ativamente empenhados na Bauhaus - Introdução produção, unida a uma profunda instrução teórica sobre as leis formais”, preparando assim homens e mulheres aptos a “compreender o mundo em que vivem e para criar formas que o simbolizem”. Gropius (1923): “O ensino dos ofícios pretende preparar o design para a produção em série. Partindo dos instrumentos mais simples e das tarefas menos complicadas, ele (...) vai aos poucos adquirindo a capacidade de dominar problemas mais complexos e trabalhar com máquinas, ao mesmo tempo em que se mantém em contato com todo o processo de produção, do começo ao fim. (...) Portanto, a Bauhaus está conscientemente buscando contatos com empresas industriais existentes, com o objetivo de fomentar um estímulo mútuo.” Bauhaus - Introdução Bauhaus – O Ensino Um curso preliminar de 6 meses no qual os alunos passavam a conhecer os diferentes materiais e a lidar “com alguns problemas formais simples” (com o objetivo de “libertar a criatividade individual e permitir que cada aluno pudesse trabalhar com base em sua habilidade específica”). O programa da Bauhaus, portanto, estava originalmente dividido da seguinte forma: Bauhaus – O Ensino Um período de 3 anos de estudos técnicos (nos quais os alunos tinham que frequentar pelo menos um dos sete laboratórios de trabalho com pedra, madeira, metal, terracota, vidro, cor e textura), estudos “formais” (a observação dos efeitos formais dos materiais, estudo dos métodos de representação e a teoria da composição), tudo isso complementado com lições teóricas de contabilidade e orçamentação. Ao final, com um exame, o aluno recebia um diploma de “artesão”. Oficina de Cerâmica (1923) Um curso de aperfeiçoamento, de duração variável, baseado no projeto arquitetônico e no trabalho prático nos laboratórios da escola. No final, após passar num exame, o aluno recebia o diploma de “mestre em artes”. Oficina de Arquitetura, aula de Oskar Schlemmer (1927) Bauhaus – O Ensino Ou seja, Gropius buscou uma formação em que os alunos tivessem um contato direto com a realidade de suas respectivas funções/trabalhos: “...toda a organização da Bauhaus demonstra o valor educativo atribuído aos problemas práticos, que leva os estudantes a superar todos os atritos internos e externos... Por esta Bauhaus – O Ensino razão, dediquei-me a fornecer encargos práticos à Bauhaus, nos quais professores e alunos pudessem pôr à prova sua capacidade”. Oficina de Carpintaria E de fato, a importância atribuída à prática fez com que vários objetos produzidos nos diferentes laboratórios, acabassem atraindo a atenção das indústrias, resultando em diversos contratos de patentes (que aumentavam a renda da Bauhaus à medida em que os trabalhos progrediam e garantia também um sustento melhor àqueles alunos mais talentosos, que tinham seus projetos “vendidos”). Bauhaus – O Ensino Por conseguinte, a presença de “professores criativos” era fundamental na visão de Gropius: “A seleção de bons professores é o fator decisivo para os resultados de uma escola (...). Se se pretende atrair para uma escola homens de eminente talento artístico, é necessário assegurar-lhes amplas possibilidades de desenvolvê-lo posteriormente, abrigando seu trabalho particular. O simples fato de que continuem a fazer seu próprio Bauhaus – O Ensino trabalho, além do mais, produz aquela atmosfera criativa que é essencial numa escola deste tipo, da qual se possam servir os talentos jovens”. Neste espírito, são então convidados vários artistas e arquitetos renomados para compor o quadro docente da Bauhaus em seus primeiros anos de fundação: Johannes Itten (pintor), Lyonel Feininger (pintor), Gerhard Marcks (escultor e gravador), Adolf Meyer (arquiteto), Paul Klee (pintor), Oskar Schlemmer (pintor e cenógrafo), Wassily Kandinsky (pintor), Laszlo Moholy-Nagy (pintor) etc. Bauhaus – O Ensino Detalhe: A grande quantidade de professores da Bauhaus em sua fase inicial – e a variedade de seus ofícios – foi a forma encontrada por Gropius para sanar – pelo menos provisoriamente – um problema prático da formação do quadro docente: “...uma vez que não era possível encontrar nem artistas que possuíssem suficientes conhecimentos técnicos, nem artesão dotados de imaginação suficiente para os problemas artísticos, em cujas mãos colocar a direção dos laboratórios...”;Mais tarde, porém, ex-alunos (com a formação completa, na visão de Gropius), assumiriam a direção dos diferentes laboratórios, “de modo que a separação do corpo docente em professores da forma e da técnica demonstrou-se supérflua”. Bauhaus – O Ensino Bauhaus: Artesanato x Indústria Preocupado com a polêmica teórica envolvendo os conceitos de “artesanato” e “indústria”, Gropius evitou tomar partido de um ou outro lado, esclarecendo: “uma vez que nem o artesanato é pura idealização (pois a ideia sempre deve sofrer a mediação de um expediente técnico), nem a indústria é pura manualidade (pois a própria máquina, enquanto produtora de formas, coloca um problema de criação), não haveria porque serem tratadas como questões opostas...”; Gropius: “...são dois modos diversos de exercer a mesma atividade, ao mesmo tempo espiritual e manual...” Dessa forma, a proposta fundamental da Bauhaus foi justamente a eliminação do “ideal romântico” do artesanato, utilizando-o, porém, como um “meio didático” efetivo e imprescindível para impulsionar a formação dos “projetistas modernos”; E estes (os projetistas), uma vez absorvidos pelo mercado de trabalho, seriam então capazes de “imprimir nos produtos industriais uma nítida orientação formal”. (Benevolo) Bauhaus: Artesanato x Indústria Oficina de Cerâmica Eis aqui a grande importância da educação: o conhecimento de todo o processo produtivo feito pelos alunos faz com que “aqueles que, no futuro, venham a desempenhar as fases isoladas da produção” tenham a visão do quadro total, deixando de assumir aquela postura de “peça indiferente de um mecanismo” para integrar-se num “grupo de operadores responsáveis e conscientes, reinserindo no trabalho técnico aqueles primitivos valores espirituais” típicos do trabalho em grupo. Bauhaus: Artesanato x Indústria Bauhaus - Arquitetura O programa pedagógico da Bauhaus, porém, acarreta uma mudança fundamental na cultura arquitetônica do período; As questões “formais” da arquitetura não são mais discutidas de modo independente ou em separado (isto é, restritas à academia), mas, pelo contrário, “passam a integrar as análises e discussões referentes à própria atividade produtiva”. Gropius: Meisterhauser Bauhaus - Arquitetura Além disso, as experiências em um projeto não são mais consideradas como ações independentes entre si, “mas formam uma continuidade também em sentido histórico e estabelecem uma espécie de colaboração permanente entre todos os projetistas”; Ou seja, toda intervenção arquitetônica deve ser plenamente capaz de ser “transmissível e comunicável aos outros e servir como precedente para outras intervenções”, devendo permanecer sempre “em aberto e verificável por todos”. Bauhaus - Arquitetura E contrariando os “discursos radicais e utópicos de alguns movimentos de vanguarda”, a arquitetura perde, afinal, sua posição anterior de “remédio para resolver todos os males e todos os problemas”, deixando de ser encarada como “espelho dos ideais da sociedade” ou mesmo como “a mítica força” capaz de regenerá-la. Gropius e esposa na sala de estar da Casa do Diretor em Dessau (1927) Bauhaus - Arquitetura Na visão de Gropius, portanto, a tarefa da “nova arquitetura” seria justamente fazer “a adequada mediação entre a qualidade (a idealização das formas) e a quantidade (processos técnicos de execução e reprodução), descobrindo na própria indústria as novas vantagens qualitativas”; Ou seja, com a produção em série (maior quantidade de objetos a um custo menor) os recursos economizados poderiam ser direcionados a uma melhor preparação dos protótipos, gerando-se então um sistema ininterrupto (e autofinanciado) de evolução dos objetos e seus respectivos processos produtivos. A missão dos artistas da Bauhaus, nesse contexto, seria a de “alimentar e renovar continuamente o patrimônio de formas” que os laboratórios e as indústrias depois se encarregariam de produzir e colocar à disposição dos clientes; Diante disso, para que a “renovação” contínua das formas ocorresse sem restrições, estava claro que não poderia existir qualquer regra (ou estilo) dominante e/ou preestabelecido nos laboratórios da instituição, o que fatalmente reduziria o estímulo tanto dos artistas quanto das indústrias (ambos, neste momento, procurando fugir exatamente da “passividade” formal). Bauhaus - Arquitetura Bauhaus - Arquitetura Justamente por causa disso, o movimento surgido na Bauhaus “não constitui um enésimo estilo, que se contrapõe aos anteriores, e não se esgota no repertório formal que eventualmente utiliza, podendo ampliar-se indefinidamente e pôr-se, em relação a outras pesquisas semelhantes e paralelas, na postura de colaboração”. (Benevolo) Concurso do Chicago Tribune (1922) Bauhaus - Arquitetura Justamente por causa disso, o movimento surgido na Bauhaus “não constitui um enésimo estilo, que se contrapõe aos anteriores, e não se esgota no repertório formal que eventualmente utiliza, podendo ampliar-se indefinidamente e pôr-se, em relação a outras pesquisas semelhantes e paralelas, na postura de colaboração”. (Benevolo) Concurso do Chicago Tribune (1922) Neste período da história alemã (início da década de 1920), uma grave crise financeira desestabilizaria a economia e a vida política, acirrando os ânimos e ameaçando o futuro da Bauhaus; A população de Weimar, nesse contexto de instabilidade e insegurança, passou a desconfiar das “excentricidades” e dos reais objetivos da Bauhaus, o que levou a instituição a promover uma grande exposição pública em 1923. Nota de 10 milhões de marcos, lançada em 25/07/1923 (neste dia, ela comprava cerca de 5,5 kg de manteiga) Bauhaus - Arquitetura Nesta exposição, estariam envolvidos todos os departamentos da escola, de maneira a apresentar ao público “a imagem mais completa possível do movimento e de suas orientações culturais”; Fiel aos preceitos da escola, com o objetivo de convencer o público da importância e seriedade da escola, fez-se também uma demonstração prática: a “Haus am Horn”, projetada por G. Muche e Adolf Meyer como uma “casa-experimental”. Exemplo de fonte sans serif que seria lançada pelo laboratório de tipografia da Bauhaus por ocasião da Exposição de 1923 Bauhaus - Arquitetura A Haus am Horn foi concebida com um acabamento “refinado” e mobiliada com os recursos mais modernos, “capazes de poupar trabalho, de modo a tornar-se uma verdadeira Wohnmaschine” (ou “máquina de se viver”). Bauhaus - Arquitetura A Haus am Horn, “de circulação mínima”, foi organizada ao redor de um “átrio” (na verdade, uma sala de estar iluminada por clerestório, cercada em todos os lados por quartos e demais dependências). Bauhaus - Arquitetura Internamente, a casa foi equipada com a maior austeridade, “com radiadores de metal expostos, molduras de janelas e portas de aço, mobília elementar e luminárias tubulares, sem quebra-luz”, a maior parte produzidos nas oficinas e ateliês da própria Bauhaus. (K. Frampton) Bauhaus - Arquitetura Bauhaus - Arquitetura Haus am Horn: construção com materiais e métodos novos, tendo até móveis e acessórios padronizados. A situação política alemã, no entanto, piora bastante e com isso intensificam-se as perseguições aos “liberais”, “esquerdistas” e “comunistas”; Apesar dos esforços de Gropius para manter-se fora dos debates políticos, o conflito foi inevitável e assim, em 1924, as fortes pressões das autoridades de Weimar levam-no a decidir mudar-se da cidade (apesar dos protestos de importantes intelectuais, tais como Peter Behrens, Mies van der Rohe, Albert Einstein etc.) Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Sede da Bauhaus em Weimar (1919-1924) A convite do próprio prefeito, a escola é transferida para a cidade de Dassau no início de 1925; Benevolo: “Este passo revela-se oportuno, e contra as previsões gerais, (...) Gropius e os seus (...) encontram um ambiente mais tranquilo e “normal”, propício à inserção na realidade econômica e produtiva alemã”. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau)Sede da Bauhaus em Dassau (1925-1932) A construção dos novos edifícios em Dessau mobilizou toda a escola que, pela primeira vez, viu-se diante da oportunidade de envolver-se “numa ampla realização concreta”; De fato, a prefeitura de Dessau encomenda a Gropius não apenas o projeto da nova sede do instituto – incluindo as residências dos docentes, uma villa para Gropius e mais 3 edifícios duplos para as oficinas e laboratórios -, como também os projetos de um bairro operário inteiro e a sede do órgão municipal do trabalho. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) O edifício para a Bauhaus foi o único cujo projeto arquitetônico Gropius reservou para si (embora contasse com a colaboração de colegas para a sua decoração), e é também “aquele em que se percebe mais claramente, além do tema didático e do rigor formal, uma atividade comovida de participação na vida que deverá se desenrolar entre aqueles muros”. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) A “nova unidade” entre arte e técnica que Gropius ensinava em sua escola, “verifica-se no edifício da Bauhaus até um ponto dificilmente superável”; Benevolo: “...ele realizou uma construção representativa e até mesmo monumental, a seu modo, sem de modo algum afastar-se da escala humana e aderindo rigorosamente às necessidades utilitárias”. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Benevolo: “É uma construção complexa, como complexa é a vida que dentro dela se desenrola: abrange um corpo para a escola e um para os laboratórios, ligados por uma ponte suspensa onde estão localizados os escritórios administrativos; um corpo baixo com amplos ambientes para a vida comum e uma ala com 5 andares de salas-estúdios para os estudantes”. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Os volumes são “fechados e inteiros”e cada um deles surge “de modo tenso e incompleto até o momento em que se considera o conjunto”, encontrando-se aí então justamente o “equilíbrio” e o “repouso” desejados. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Evitando ressaltar demais a “individualidade” dos diferentes elementos (dispostos de modo assimétrico e com volumes distintos), Gropius volta a reforçar a noção do “conjunto” ao optar pelo uso de apenas dois materiais: o vidro “para os espaços vazios, envolvidos em metal” e o “reboco branco para os espaços cheios.” Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Casa dos Professores (Klee e Kandinsky) Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Casa dos Professores (L. Feininger) Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Casa dos Professores (H. Muche e O. Schlemmer) Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Casa do Diretor (W. Gropius) Em Dassau, o ensino da Bauhaus “completa-se e aprofunda-se”, observando-se uma ênfase maior na “derivação da forma a partir do método de produção, da sujeição do material e da necessidade programática”; Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Neste momento, 5 ex-estudantes da própria escola são escolhidos como diretores dos laboratórios, cumprindo o desejo de Gropius de reunir numa mesma pessoa “o ensino técnico e o formal”, garantindo assim uma maior homogeneidade e melhores resultados práticos. Oficina de tear de Gunta Stolzl (1927), ex-aluna que virou professora da Bauhaus As novidades mais importantes, porém, concentram-se nas atividades dos laboratórios de metais e móveis; No laboratório de metais, o tradicional estudo dos metais preciosos – e suas aplicações - é substituído por uma pesquisa maior das aplicações do ferro niquelado ou cromado (especialmente na produção de luminárias elétricas). Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Produtos desenhados pela aluna Marianne Brandt No laboratório de móveis, Marcel Breuer inventa e constrói os primeiros móveis em tubos de aço, “práticos, fáceis de limpar e econômicos” (que inclusive foram usados para mobiliar os novos prédios da Bauhaus). Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Nos outros laboratórios, de maneira análoga, mais descobertas e criações: simplifica-se e racionaliza-se o trabalho do laboratório tipográfico, surgem novos tecidos e papéis de parede “pintados com grãos e tessitura variáveis”etc.; Como ocorrera em Weimar, parte destes modelos é adquirida pela indústria e assim novos contratos de patente asseguram à escola uma crescente contribuição financeira. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Em 1927, formou-se o departamento de arquitetura, sob a liderança do arquiteto suíço Hannes Meyer (mais tarde demitido por suas ligações comunistas); “alguns projetos de casas pré-fabricadas de Marcel Breuer, criados mais ou menos nessa mesma época, refletem o impacto imediato da influência de Meyer”. (Frampton) M. Breuer: Casas BAMBOS (1927) Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Em 1928, justamente no auge do sucesso, Walter Gropius cede o posto de diretor ao arquiteto Hannes Meyer e abandona a escola junto com um grupo de antigos colaboradores; Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Esta decisão “é a obra-prima didática de Gropius”: depois de dedicar todas as suas energias a este empreendimento, “nele jogando sua autoridade e sua ascendência nos momentos difíceis, mas evitando sempre personalizar o ensino além de um certo limite, ele tem a acuidade e a coragem de retirar-se quando julga assegurada a estabilidade da escola”. (Benevolo) Para muitos historiadores, o maior legado de Gropius teria sido justamente “a superação da vanguarda”; Ou seja, enquanto os artistas de vanguarda acreditavam que a reforma da arquitetura só poderia ocorrer formulando-se uma “linguagem” inteiramente diversa das anteriores (e com isso restringindo sua atuação frequentemente a projetos teóricos ou apenas demonstrativos), o movimento proposto por Gropius, ao contrário, “vai para campo aberto, encarando como campo de trabalho todo o ambiente e toda a gama de produtos que, num momento, servem à sociedade”. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Contudo, a saída de Gropius “transformou radicalmente a Bauhaus, e (...) fez com que ela se voltasse ainda mais para a esquerda”; (Frampton) Livre da influência de Gropius, H. Meyer (de tendências comunistas), de fato, orientou a obra da Bauhaus para um programa de design “socialmente mais responsável”; “Simples, desmontável e barato, o mobiliário em madeira compensada veio para o primeiro plano (...). Os projetos da Bauhaus estavam sendo mais fabricados do que nunca, embora a ênfase agora incidisse sobre o social e não sobre considerações de natureza estética”. (Frampton) Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Em pouco tempo, justamente em função de sua orientação política, Meyer acabou sendo demitido por pressões da direita alemã; Na sequência, esta mesma direita, já firmemente instalada no poder, pressionou pelo fechamento da Bauhaus e, mesmo sob a direção “patriarcal” temporária de Mies van der Rohe, o que restava da escola foi transferida (em 1932) para um velho depósito nos arredores de Berlim, onde finalmente fechou as portas em 1933. Bauhaus – 1925-1933 (Dessau) Galpão em Berlim onde foi instalada a Bauhaus em 1932 Em 1945, faltando pouco para o final da Segunda Guerra Mundial, os prédios da Bauhaus foram seriamente atingidos pelos bombardeios; Com o final da guerra, a cidade de Dassau foi então incorporada à Alemanha Oriental, levando ao abandono e arruinamento das instalações da escola (que só iriam ser reconstruídas em 1976). Bauhaus: Morte & Renascimento Estado do prédio da Bauhaus em 1945 Leonardo Benvolo, visitando as “ruínas” dos prédios da Bauhaus neste intervalo, fez um comovente relato: “...não é uma ruína, como os restos dos edifícios da Antiguidade, e não tem nenhum fascínio físico. A comoção que sua visão suscita é de ordem histórica e de reflexão, tal como a que se sente diante de um objeto que pertenceu a um grande homem”. Estado do prédio da Bauhaus em 1963 Bauhaus: Morte & Renascimento Hoje em dia, contudo, a o prédio principal da Bauhaus em Dassau (incluindo as Meisterhauser) pertence à Fundação Bauhaus Dassau (uma instituição pública); Após ter sido declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1996, passou por uma extensa intervençãode restauro (em 2006), procurando resgatar várias de suas características originais (incluindo o programa original de Gropius); Bauhaus: Morte & Renascimento Desde então, funciona como um dinâmico centro de estudos, ensino e pesquisas na área do design, arquitetura e urbanismo. Referências: BENEVOLO, Leonardo. Historia da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994. FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997. GIEDION, Siegfried. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004. PEVSNER, Nikolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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