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ANPTECRE 2013 Geov Macumba no imagin rio infantil em uma escola laica

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1 
 
A macumba no imaginário infantil 
Diversidade religiosa no ensino fundamental em uma escola particular laica 
 
Geová Silvério de Paiva Júnior* 
 
Resumo 
 
O trabalho busca refletir sobre os “usos” e representações da categoria “macumba” no 
espaço escolar laico no contexto de uma instituição privada de ensino na cidade de Recife – 
PE. Adotando-se uma abordagem antropológica por meio de metodologia qualitativa foi 
possível compreender como crianças do ensino fundamental, especificamente da 4º série, 
experimentam a diversidade religiosa em seu cotidiano escolar operacionalizando o que 
entendem por “macumba”. Vale salientar que a infância não se configura como uma cultura 
própria à parte do mundo adulto. As crianças constantemente dialogam com as diversas 
esferas sociais ao seu redor: a escola, a família, a igreja, etc. Nota-se, entretanto, ser a escola 
um espaço privilegiado de maior autonomia dos pequenos no qual podem interpretar e mesmo 
resignificar as referências culturais apreendidas. Neste processo, a diversidade religiosa, em 
especial por meio do imaginário infantil no que diz respeito ao conjunto de religiões 
afrobrasileiras, apresenta-se como uma questão a ser pensada dentro de uma pedagogia da 
diferença que leve em conta princípios de respeito e tolerância. O estudo a ser apresentado 
caminha para o entendimento desta questão. 
 
Palavras-chave: Diversidade religiosa. Macumba. Educação. Infância. Escola laica. 
 
Introdução 
 
 Entre os anos de 2007 e 2009, enquanto ainda cursava a graduação de Ciências Sociais 
na Universidade Federal de Pernambuco, tive a oportunidade de participar como bolsista de 
um projeto de pesquisa intitulado “Um estudo comparativo sobre (in) tolerância religiosa e de 
como ‘raça’, ‘classe’ e ‘religião’ se entrecruzam nas falas e práticas de crianças de escolas 
públicas e privadas, em Recife - PE”. O projeto visava um maior entendimento sobre a 
 
* Mestre em antropologia pelo Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de 
Pernambuco. E-mail: geova.spj@hotmail.com. 
2 
 
experiência da diversidade religiosa por estudantes do ensino fundamental em um ambiente 
escolar laico. Sendo a pesquisa de caráter antropológico e sua metodologia qualitativa o 
trabalho de campo consistiu no acompanhamento de duas turmas de ensino fundamental, 
sendo uma em uma escola particular e outra em uma escola pública, durante o ano letivo de 
2008. 
O presente texto será uma etnografia do período de acompanhamento da turma do 5º 
ano (antiga 4ª série) da escola particular estudada na pesquisa. Esse período corresponde mais 
sistematicamente ao primeiro semestre do ano letivo de 2008 no qual a equipe de pesquisa 
acompanhou especialmente as aulas de artes, história, geografia, projeto interdisciplinar, 
dança, além da hora do recreio1. As visitas à escola ocorriam em média de duas a três vezes 
por semana. Além das técnicas de observação através do acompanhamento intenso do campo, 
as crianças foram ouvidas não só nas conversas informais com os pesquisadores, mas também 
nas entrevistas semiestruturadas que buscavam captar seu depoimento a respeito dos temas a 
serem contemplados pela pesquisa. 
No processo de análise dos dados empíricos a categoria “macumba” foi uma das que 
se sobressaíram revelando assim muito do imaginário infantil a respeito das religiões 
afrobrasileiras. As representações que as crianças possuíam da “macumba” além de estarem 
presentes em certas encenações e episódios testemunhados em campo, também se 
apresentavam em seus discursos atestando a diversidade e qualidade do material disponível. 
Complementando este material há de se considerar ainda episódios testemunhados, conversas 
informais e entrevistas com funcionários, professores e coordenadores/diretores da instituição 
escolar pesquisada. 
O que é “macumba”?2 Que palavra é essa que permeia nosso imaginário social e se 
entranha na cultura brasileira? Um primeiro olhar das Ciências Sociais buscaria refletir tais 
questões no mundo dos adultos em diálogo com a lógica das religiões afrobrasileiras. No 
entanto, por incrível que pareça, as crianças também são capazes de responder tais questões e 
 
1 As aulas de projeto interdisciplinar são destinadas a um projeto temático a ser trabalhado pelos alunos em 
variadas disciplinas durante todo o semestre. No caso, o projeto trabalhado pelos alunos no 1º semestre letivo de 
2008, o projeto Brasilis, foi de extrema importância para a pesquisa pela ampla conexão com os objetivos da 
mesma. A escolha das disciplinas mencionadas se deu por parecerem mais propícias ao surgimento das temáticas 
em torno da questão religiosa. 
2 Macumba é uma palavra que historicamente carrega um valor pejorativo no senso comum da sociedade 
brasileira, sendo um termo etnocêntrico para se referir de forma generalizada às religiões de matriz africana 
existentes no país. Ainda assim, no corrente trabalho o termo se mostra adequado na medida em que será 
metodologicamente utilizado como categoria analítica fornecida pelos próprios nativos com os quais se dialogou. 
Dessa forma, optei por manter a palavra “macumba” tal como era expressa em campo, sendo usada aqui entre 
aspas. 
3 
 
nos fornecer interpretações tão plausíveis quanto se as fossemos buscar em outras dimensões 
sociais, adultas por excelência. Portanto, se parte da voz deste novo e pequeno sujeito para se 
explorar novas compreensões acerca dos entendimentos dados às religiões afrobrasileiras, às 
vezes sintetizadas na categoria “macumba”. Sob esta perspectiva, a criança então passa a ser 
encarada como um ator social. É no diálogo e na troca de significados simbólicos entre o 
universo infantil e as instituições sociais adultas que o cercam que as representações da 
“macumba” podem denunciar a reprodução ou resignificação de determinados valores 
transitáveis entre modernidade e tradicionalismo em um movimento que pode indicar maior 
proximidade ou distanciamento com o ideal de tolerância e respeito à diversidade religiosa, 
principalmente quando se pensa isso em relação às religiões de matriz africana. 
É possível agora analisar como as crianças de uma escolar particular laica na cidade de 
Recife – PE pensam “macumba” e sobre quais circunstâncias seus sentidos são acionados 
tendo em vista o panorama religioso brasileiro sem ignorar os mediadores sociais envolvidos 
no processo como escola, família, igreja, etc. Vale ressaltar que a etnografia que se segue 
parte da lógica das próprias crianças, são os seus discursos e práticas que estão sendo 
analisados. 
 
Descrevendo o campo 
 
A turma do 5º ano do turno da manhã de uma escola particular laica situada no bairro 
da Várzea (Recife - PE) era uma turma relativamente pequena de 20 alunos com idades 
próximas aos 10 anos. Sendo os pais dos alunos profissionais liberais, o perfil da escola e das 
crianças sugere um ambiente predominantemente da classe média, média alta. 
No que diz respeito à escola, esta é tida como modelo em sua linha pedagógica 
construtivista seguindo uma política multicultural nas atividades com os alunos. Apesar de 
não ser uma escola muito grande possui uma boa estrutura física, adequada ao 
desenvolvimento das crianças: salas de aulas arejadas, sala de informática, artes, expressão, 
biblioteca, cozinha, quadra poliesportiva, pátios de recreação com areia tratada, horta, sala de 
professores, secretaria, cantina, coordenação, espaço para receber pais de alunos, etc. 
Em relação à turma pesquisada, o 5º ano, ela possui uma peculiaridade – é marcada 
por uma forte divisão de gênero. A própria organizaçãoespacial demonstra isso, a princípio 
os meninos encontravam-se concentrados de um lado da sala, enquanto as meninas situavam-
se do outro. Na hora do recreio eles não se misturavam, existia brincadeira de meninos e 
4 
 
brincadeira de meninas. Nos trabalhos em sala de aula, realizar grupos mistos sempre gerava 
confusão e somado a estes aspectos a de se mencionar a diferença quantitativa: a turma 
possuía 13 meninas e 7 meninos3. Em relação à caracterização racial das crianças, a turma 
reproduzia o padrão da escola, a maioria dos alunos brancos e uns poucos negros. A turma 
contava com 3 meninas e 1 menino negros (de pele escura, variando entre negra e parda). 
O background religioso da classe foi de difícil descoberta ficando apenas evidente 
próximo ao fim da pesquisa através de questionamento direto nas entrevistas 
semiestruturadas. A partir disto foi possível perceber certo nível de diversidade religiosa 
naquela turma, onde se pensava inicialmente existir uma maioria católica em detrimento de 
um evangélico. Ao contrário, descobriu-se para além da religião católica, a existência de 3 
alunos de tradição protestante, 3 que se denominam sem religião, 2 com afinidades espíritas, 
sem contar com a professora da turma que era de denominação protestante. Sob estas 
circunstâncias, a diversidade religiosa existente nesta turma detinha um status de 
invisibilidade o que possibilitava aparentemente um ambiente que indicava à harmonia e à 
“tolerância” religiosa4. 
A inserção em campo foi dada de maneira muito formalizada naquela escola. Fomos 
apresentados à turma pela professora assim como nossos objetivos, ficando claro que não 
éramos alunos, mas também não éramos professores ou funcionários da escola. Os alunos a 
princípio ficaram curiosos e confusos em relação a nossa função, mas de qualquer maneira 
nos agregaram com facilidade em seu cotidiano escolar. No período em que se acompanhou a 
turma em análise, a posição ocupada pelos pesquisadores sempre foi em meio às crianças. Em 
sala de aula, não estávamos separados a parte como observadores imparciais avaliando 
determinados comportamentos. Estávamos sentados nas bancas, prestando atenção nas aulas, 
emprestando lápis e borracha, estabelecendo conversas na hora de aula, trocando desenhos, 
fazendo parte da leitura coletiva, etc. Éramos como “colegas de classe”. Passemos agora aos 
episódios etnográficos que remetem ao imaginário infantil sobre as religiões de matriz 
africana. 
 
 
3 Esta divisão de gênero foi atenuada posteriormente quando a professora da turma obrigatoriamente separou os 
meninos uns dos outros acabando com a concentração espacial dos sexos e fazendo com que meninos e meninas 
se relacionassem mais. 
4 A respeito da invisibilidade da diversidade religiosa nesta escola, explorei o tema no relatório técnico de 
pesquisa destinado a FACEPE (PAIVA JR, 2008). A temática também é aprofundada no artigo escrito pela 
equipe de pesquisa - “Pesquisando o invisível: percursos metodológicos de uma pesquisa sobre sociabilidade 
infantil e diversidade religiosa” (CAMPOS ET ALL, 2009). 
5 
 
As representações da “macumba” na turma do 5º ano de uma escola particular 
 
Episódio I: Uma aula sobre a religião dos africanos5 
 
 Era aula de história e a professora da turma do 5º ano trabalhava assuntos que se 
interligavam com o projeto a ser desenvolvido pelas crianças. Estávamos fazendo uma leitura 
coletiva de uma versão adaptada da Declaração dos Direitos Humanos. O assunto em pauta 
não podia ser outro: direitos iguais para pessoas diferentes. É possível? Já viu né, veio todo 
um debate e os pequenos começaram a falar de preconceito por causa das diferenças e é 
nessas diferenças que o brasileiro foi formado. É índio, é branco, é negro, é toda uma 
mistura! Mas que negro é esse? É africano! Africano tem religião? Eis o que os nossos 
pequenos nativos pensam: 
 
- “Eles [os africanos] acreditam em vários deuses”. 
- “Eles fazem macumba. Macumba é coisa do diabo”. 
- “Macumba tem coisa ruim e coisa boa”. 
- “Deve haver um nome científico [para macumba]”. 
- “Eu não acredito em macumba”. 
- A professora pergunta: “Macumba é religião?” – Algumas crianças dizem que não. “O que 
é religião?”, questiona ela. As crianças respondem: “É a crença”. 
 
O episódio acima relatado diz respeito ao primeiro momento em que a categoria 
“macumba” emergiu espontaneamente em campo. Foi pensando sobre as religiões 
afrobrasileiras, a religião oriunda dos negros escravos, que as crianças do quinto ano fizeram 
uma primeira associação entre “macumba” e estas religiões. Neste primeiro momento temos 
uma clara referência ao significado degradado e degradante expresso pelo senso comum da 
sociedade brasileira. A partir de então, através do projeto interdisciplinar denominado 
“Brasilis” uma pedagógica da diferença reconhecedora da condição da população de cor no 
Brasil atuará dando novos contornos a estas primeiras representações da “macumba” no 
imaginário infantil daquela sala. 
 
5 O episódio diz respeito a uma aula de história assistida por mim. Reconstituo-o em uma linguagem mais 
informal com base no meu diário de campo escrito no momento em que o fato ocorria. As falas entre aspas 
foram professadas pelas crianças tal como foram aqui escritas. 
6 
 
 O projeto “Brasilis” concretiza pedagogicamente a lei de diretrizes e bases 10.639 do 
Ministério da Educação que obriga a inclusão da temática “História e cultura afrobrasileira” 
no currículo oficial da rede de ensino. Assim, o projeto contempla conjuntamente com as 
disciplinas de história, geografia, artes e dança o aprendizado da formação do povo brasileiro 
enfatizando a contribuição da população negra na construção da cultura de nosso país. Sobre 
este contexto, impossível não pensar a respeito da religiosidade desta população. 
 Existiram trabalhos os quais visaram esclarecer as crianças em relação mais 
especificamente ao candomblé. Dentre estes trabalhos destacaram-se a apresentação da 
pesquisa de alguns alunos da sala a respeito das religiões dos orixás com uma maquete que 
apresentava o panorama histórico da religiosidade brasileira no contexto da colonização. 
Também se tem a viajem para comunidade quilombola de Castainho em Garanhuns – PE e a 
visita ao terreiro Santa Bárbara Xambá em Olinda – PE. 
 Mesmo com todo o trabalho do projeto desenvolvido durante o primeiro semestre 
letivo de 2008, as religiões afrobrasileiras ainda permaneceram confinadas ao esquecimento. 
Durante as entrevistas (realizadas já no segundo semestre letivo de 2008), quando 
questionados sobre quais as religiões que sabiam existir, nenhuma criança mencionou 
espontaneamente o candomblé. As respostas ficaram em torno do catolicismo e do 
“evangélico” havendo citações também do espiritismo e do budismo. O candomblé apenas 
surgiu no discurso das crianças de forma estimulada e, em muito dos casos, no tempo 
pretérito como se não existisse mais nos dias atuais, apenas na época da escravidão. 
Explicando melhor: em uma das perguntas dizíamos o nome de algumas religiões não citadas 
pelos alunos para saber se conheciam e o que conheciam da religião. Logo, quando 
questionados se conheciam o candomblé a imensa maioria das crianças, quando não disseram 
que apenas ouviram falar, imediatamente lembraram desta religião. 
 
Geová: Certo. Eu vou te dizer uma outra religião que tu não falasse: o Candomblé? 
Luciano: Ah, me esqueci! A religião que a gente estudou. 
Geová: É... O que é que tú sabe dela? 
Luciano: É... Ela acredita em Deuses negros, fazem rituais só que quando a gente foi lá pra 
Castainho era Candomblé,só que eles não faziam ritual, Xambá fazia uma vez por semana e 
7 
 
cada mês tinha um Deus. O... o Deus era negro, tinha os deuses e cada um representava uma 
cor e um tipo de natureza do mar, de água, de raio, era assim. (Luciano, 10 anos, católico).6 
 
Stephanie: Eu vou te perguntar agora sobre algumas religiões que tú não mencionou. E se tú 
não conhecer tú vai dizer assim: “não conheço” e se tú lembrar aí tú pode me explicar o que 
é que tú acha. A primeira é o candomblé. Conhece o candomblé? Verusca: Conheço. 
Stephanie: Pronto, aí o que é que tú entendes assim por candomblé? 
Verusca: O candomblé eles não adoram a Deus, a santos também não. Eles assim, na 
verdade não é nada assim sobre Deus. São mais sobre os africanos. Tem a mãe de santo, a 
água, o arco-íris, esses negócios. 
Stephanie: Não tem a bíblia? Verusca: Não 
Stephanie: Mas é uma religião? Verusca: É. (Verusca, evangélica: igreja batista). 
 
 As entrevistas acima revelam então o conhecimento estimulado das religiões 
afrobrasileiras, mais especificamente do candomblé. Interessante perceber que tal 
conhecimento é expresso com certo teor didático demonstrando o aprendizado adquirido no 
projeto Brasilis e na maior parte dos casos o conhecimento apreendido não sofreu maiores 
interferências do pertencimento religioso das crianças. Verusca foi a única criança 
entrevistada a demonstrar em suas falas maiores evidências da influência de sua religião na 
forma de uma opinião valorada moralmente de maneira negativa sobre a religião dos orixás. 
 
Verusca: É porque o candomblé assim que é uma religião totalmente diferente. Seria uma 
religião que eu assim, não gosto muito porque isso aí é de... Todo mundo já sabe que faz mal 
assim né e tal, então não seria tão bom assim... Stephanie: Mas assim e sobre isso que tú 
falou de as pessoas acharem que é do mal. Tú acha um pouco isso ou não? 
Verusca: Pra mim assim na minha religião, no caso da minha religião acho que assim é um 
pouco de mal né, porque eles não acreditam em Deus né. Eles acreditam em outros deuses 
que eles assim às vezes inventam e tal, por exemplo, na época dos negros. Pra mim é do mal. 
(Verusca, evangélica: igreja batista). 
 
6 Os fragmentos de entrevistas aqui reproduzidos e durante o restante do trabalho serão acompanhados de um 
nome fictício da criança entrevistada mais a idade e religião nos casos em que estas informações estiverem 
disponíveis. Os entrevistadores permanecem com os nomes inalterados. Quanto à religião, ela segue a 
autopercepção das crianças segundo as entrevistas e não a interpretação dos pesquisadores. 
8 
 
Por meio do projeto Brasilis, o candomblé no imaginário infantil deixa de ser 
“macumba”, aquela nefasta atitude mágico mística (ROSENFELD, 1993), para se tornar 
religião. A religião dos escravos africanos que vieram para o Brasil, a religião daqueles que 
ajudaram a construir nosso país, portanto, a religião que também construiu o Brasil. Diante 
deste quadro, ela é tão digna de respeito quanto as outras religiões. É um construto histórico 
merecedor de respeito e reconhecimento de sua diferença. O sucesso do projeto vai além do 
aprendizado sobre a formação do Brasil e a contribuição da cultura negra no período colonial. 
O projeto Brasilis é um projeto que ensina pelo menos a nível discursivo, um grande passo 
para o nível prático, a tolerância e o respeito. As crianças de maneira geral aprovaram o 
projeto, a maneira como foi conduzido, além de afirmarem ter gostado do que aprenderam. 
Elas dizem, em sua maioria, não ter problemas em fazer e manter amizades com pessoas de 
cor ou religião diferente, mesmo que sejam do candomblé. 
 Todo este processo não anula antigas representações da “macumba”. Soma-se a elas. 
Aprender novas informações, inclusive mais politicamente corretas, não implica 
necessariamente em ignorar o conhecimento anterior, mas atualizá-lo, ampliá-lo, resignificá-
lo. Trata-se de um capital a mais no acervo intelectual das crianças a ser utilizado nos 
contextos que assim o exigir. De qualquer maneira, crianças ainda pensam sobre “macumba” 
ainda que ela não seja mais candomblé. 
 
Episódio II: Cantando macumba lê lê!7 
 
 Nas sextas feiras, próximo do término das aulas, a professora sempre dispensava os 
alunos alguns minutos mais cedo para que pudessem brincar de algum jogo, ler algum livro, 
desenhar, enfim, realizar alguma atividade mais relaxante para extravasar o “stress” da 
semana. O jogo favorito dos meninos era banco imobiliário e eu sempre me juntava a eles no 
momento da brincadeira. Achava incrível a disposição e ânimo deles para jogar um jogo 
extremamente longo em quinze minutos. 
Era a vez de Tarcísio, um menino de 10 anos e simpático ao espiritismo jogar. Antes 
de ele lançar os dados um curioso ritual foi executado sendo acompanhado pelos outros 
jogadores. Tarcísio balançava os dados dentro das palmas das mãos fechadas as 
 
7 Outro episódio reconstituído de maneira mais informal com base em meu diário de campo. O evento diz 
respeito a uma rodada do jogo banco imobiliário com os meninos da qual participei. Ocorreu em uma sexta feira, 
15 minutos antes de a turma largar. 
9 
 
movimentando de um lado para o outro cantarolando “Macumba lê lê, macumba lê lê” 
repetidamente. Os outros meninos iniciaram movimentos de batida nos joelhos com as palmas 
das mãos e alguns outros fizeram uma encenação como se estivessem batendo tambores e 
também cantarolavam “Macumba lê lê”. No final, Tarcísio sopra as mãos e lança os dados 
sobre o tabuleiro de forma semelhante a um pai de santo quando faz o jogo de búzios. A 
“Macumba” estava feita. 
Não lembro se o resultado era o esperado por Tarcísio, todavia também não foi um 
mal resultado. A sorte foi lançada e a “macumba” foi bem sucedida. A encenação de 
tambores acompanhada da música “macumba lê lê”, vez por outra acontecia entre os 
meninos do 5º ano. 
 
 A “macumba” é um ritual mágico que compreende a sorte ou o azar, o bem ou o mal. 
Este conteúdo não pertence à ação em si, mas ao sujeito que a pratica. Em linhas gerais, esta 
parece ser a maneira pela qual a “macumba” é compreendida entre os alunos do 5º ano da 
escola privada e é particularmente encenada pelos meninos. Quando se apropriam do termo 
em beneficio próprio para ganhar o jogo do banco imobiliário ou desejar alguma atitude da 
professora que possa beneficiá-los (como não passar tarefa de casa, por exemplo) a 
“macumba” é boa. Ela é má quando age em prol do malefício do outro. 
 
Tarcísio: Macumba pode ser uma coisa ruim ou uma coisa boa. Uma coisa ruim tipo... 
Araújo e eu nós fazemos futebol. Aí às vezes a gente faz uma macumba pro cara errar a falta 
ou se não o pênalti. Aí uma vez a gente fez e o cara pegou errado na bola e chutou lá pra 
fora. 
Geová: Aí essa macumba funcionou? Tarcísio: Funcionou (risos). 
Geová: Pro bem ou pro mal? Tarcísio: Pro bem, vamos dizer assim. 
Geová: E quando é pro mal? 
Tarcísio: Pro mal? Quando ela é pro mal, alguém pode se machucar ou pior. (Tarcísio, 10 
anos, simpático ao espiritismo). 
 
Geová: E tipo em relação à macumba, por exemplo? 
Luciano: Macumba? (risos). 
Geová: É... Muitas vezes vocês se referiam às vezes a esse termo. 
10 
 
Luciano: Macumba é um tipo de ritual que fazem pra acontecer alguma coisa por meio de 
magia fazendo... É isso. 
Geová: Tú acha que é do bem ou do mal? 
Luciano: Eu acho que às vezes é pro bem, outras vezes pro mal. 
Geová: Mas tú acredita em macumba? 
Luciano: Eu acho que fazem, mas eu fazer, eu não faço não. (Luciano, 10 anos, católico). 
 
 A “macumba” não perde seu significadomágico com fins malignos. Os seus 
significados são relativizados e acionados de acordo com o contexto em que as crianças se 
encontram. A “macumba”, para o bem ou para o mal, atua como operador lógico (MAGGIE, 
1992; BARROS, 2000) a estabelecer relações entre eventos, pessoas e seus desejos 
(conscientes ou inconscientes) tal qual como acontece entre os Azande (EVANS-
PRITCHARD, 1978). 
 As crianças apreendem o mundo de maneira mais pragmática. Atribui-lhe significado 
em relação às evidências concretas e palpáveis. Diante disto todas as crianças afirmam não 
acreditar em magia ou bruxaria. Mesmo consumindo alguns objetos culturais com conteúdos 
relativos à magia como filmes no estilo Harry Potter, revistas Witch, desenhos tipo Naruto ou 
games como Senhor dos Anéis e Warcraft8, elas não creem em poderes sobrenaturais e 
manipulação do mundo por meio destes. A “macumba” é a categoria concreta pela qual a 
crença na magia ganha maior respaldo e evidência. Isso porque a “macumba” circula entre as 
esferas mágica e religiosa. Carrega historicamente um significado e uma referência mágica 
religiosa concreta, está interligada com crenças e rituais legitimados socialmente, ainda que 
hierarquicamente a margem das principais cosmovisões que orientam nosso plural sistema 
religioso9. 
 
8 Os objetos culturais de teor mágico mencionados estão interrelacioandos com os produtos midiáticos da 
indústria cultural destinado ao público infanto-juvenil e que possuem alguma simbologia de caráter mágico. A 
reflexão em torno do conteúdo mágico religioso que tais objetos poderiam oferecer foram ponto de discussão 
levantados nas entrevistas semiestruturadas. As revistas Witch são destinadas às meninas e os personagens que 
alavancam o almanaque são bruxas que controlam elementos da natureza. Naruto é uma animação aos moldes 
orientais (anime) sobre ninjas possuidores de técnicas e poderes sobrenaturais. Warcraft é uma franquia de jogos 
eletrônicos que reproduzem um mundo em guerra povoado por magos, feiticeiros, cavaleiros, criaturas místicas, 
etc. Por fim Harry Potter e Senhor dos Anéis foram grandes sucessos cinematográficos que renderam os mais 
diversos produtos, todos fazendo menção ao conteúdo mágico destes filmes. 
9 A crença na “macumba” e na magia existe e é legitima em nossa sociedade. Opera de diversas maneiras como 
nos demonstra a etnografia (RAFAEL, 2004; BARROS, 2000). Ainda assim, estão hierarquicamente as margens 
de nosso campo religioso, compreendido em sua pluralidade principalmente através do catolicismo, 
protestantismo e até mesmo do campo afrobrasileiro. 
11 
 
Da mesma forma que na teoria antropológica a categoria magia ganhou sentido apenas 
quando pensada em relação à categoria religião, a crença na “macumba” enquanto magia, 
para as crianças do 5º ano da escola particular, só existe como se preenchida de carga 
religiosa africana. Nem todas as crianças acreditam na “macumba”, no entanto, ela parece 
muito mais plausível do que simplesmente a magia ou a bruxaria dos filmes, revistas e games 
infanto-juvenis10. As crianças ainda que não questionem enfaticamente a existência ou não da 
“macumba”, ela pode existir ou ter existido, tem relação com a religião dos negros africanos 
escravos no Brasil. Não é superpoderes inimagináveis, é “um conjunto de diferentes atos que 
emanam de uma atitude mágico mística que remetem à liturgia e ao ritual das religiões 
originalmente africanas praticadas em solo brasileiro” (ROSENFELD, 1993, p. 49). 
Assim como os Zande, as crianças não teorizam demasiadamente sobre “macumba” 
(EVANS-PRITCHARD, 1978). Suas ações, encenações e discursos expressam esta categoria 
a partir dos sentimentos e experiências das situações concretas vivenciadas no cotidiano 
escolar, seja estas situações colocadas pelo projeto Brasilis, pelo jogo de banco imobiliário, 
ou mesmo, por uma partida de futebol como veremos no último episódio a seguir. 
 
Episódio III: Um macumbeiro no jogo de futebol11 
 
 Durante a hora do recreio, a maior parte dos meninos da turma do 5º ano da escola 
particular se encontra na quadra com o pessoal das outras turmas para jogar futebol. Teve-
se conhecimento que em uma das partidas, uma criança invadiu o jogo atrapalhando a 
brincadeira e chutando a bola para longe. O que se seguiu foi que um grupo de crianças 
começou a xingá-lo de macumbeiro. Eis como o aluno Fernando, católico de 10 anos narra o 
caso: 
 
“Eu tava. Foi uma sexta feira, uma sexta feira que foi o filho do governador. A gente tava 
jogando, aí a bola saiu assim, aí ele foi chutou a bola lá para cima. Aí eu fale: ‘tio vem aqui 
vê tio’. Aí só que ele tava lá dentro pegando a bola para os meninos pequenininhos. Aí 
 
10 Note-se que o tipo de magia ou bruxaria ilustrado por estes tipos de objetos culturais remete a um modelo mais 
ocidental. 
11 Este episódio foi acompanhado e relatado pela pesquisadora Juliana Cíntia. Fizemos uso dele nas entrevistas 
semiestruturada para se trabalhar sobre o xingamento e a acusação de macumbeiro. No relato de Fernando, todos 
os nomes foram alterados e é apenas uma versão. De fato, o evento ocorreu como confirmado com os meninos 
através das entrevistas, mas não se sabe dos detalhes, pois há várias versões da história. O importante aqui, 
independente dos detalhes, é analisar a circunstância em que a acusação surgiu e as representações da 
“macumba” suscitadas pelo evento. 
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Sérgio, Sérgio tava no jogo também. Sérgio falou, não sei se foi ele que falou, chamou 
macumbeiro. Aí George né, ele joga sabe, ele já é uma pessoa que qualquer coisa ele ri... Aí: 
‘macumbeiro!’, ficou rindo. Agora eu não lembro desse jogo não, macumbeiro, não... não sei 
se chamei, ou coisa assim... Sei não... 
 
 O jogo de futebol emergiu tensões e conflitos entre os meninos as quais permitiram 
que a categoria “macumba” surgisse na lógica da ofensa e da desqualificação do indivíduo, 
reproduzindo assim velhos significados da categoria, atestando a sobrevivência destes no 
imaginário infantil. A respeito disto observemos a reflexão de Fernando. 
 
Geová: Mas por que tú acha que chamaram ele de macumbeiro? 
Fernando: Porque depois que os meninos souberam o que é macumbeiro, o que é macumba, 
disseram que é coisa ruim. Aí ficar chamando a pessoa de macumba não é coisa ruim? Aí, 
por exemplo, Luciano, ele desenha a pessoa. Aí com o corpo bem pequenininho assim e a 
cabeça bem grandão, aí ele fala queremos abusar essa pessoa aqui, aí é tanta coisa, 
macumbeiro aí é coisa ruim né, quer dizer coisa ruim macumbeiro. Aí eu acho que é isso. 
(Fernando, 10 anos, católico). 
 
 Em momentos de irritação, parece que a uma das primeiras palavras que vêm à cabeça 
para o xingamento é o termo “macumbeiro”. O novo termo apreendido e ressignificado pelo 
projeto Brasilis ainda guarda sua lógica do desrespeito e da ofensa. Para corroborar com isso, 
Tarcísio nos diz: 
 
Tarcísio: Lembro... lembro, disso aí eu lembro. É que agente usa macumbeiro ou 
maconheiro pra ofender. 
Geová: Aí no caso dele... Como foi esse episódio? Relata aí porque eu não tô muito 
lembrado. 
Tarcísio: É que a gente ia bater uma falta aí chegou o cara lá e... tá chutou a bola. A gente 
começou a chamar ele de macumbeiro, maconheiro é... Aqueles negócios todos lá... 
Geová: Há entendi então o macumbeiro seria também uma forma de dizer, de ofender o 
outro... Tarcísio: É 
Geová: No sentido de coisa ruim. Mas surgiu do nada assim? Tarcísio: É. (Tarcísio, 10 
anos, simpático ao espiritismo). 
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Macumbeiro e maconheiro são categorias enquadradas em uma mesma lógica pelas 
crianças. Por meio delas,acusam e ofendem o outro. Em ampla correspondência, ambas 
remetem a práticas não oficiais, degradantes e marginais. 
 Diante disto, pelo o que já foi exposto até o presente momento, as crianças da escola 
particular contam com um acervo diversificado de representações da categoria “macumba” 
acionando os diferentes significados desta de acordo com aquilo que é exigido pelo contexto 
social. A vinculação religiosa delas, de maneira geral, parece pouco influir sobre suas 
percepções a respeito da “macumba”. Em contraposição, a escola e a política multicultural de 
suas atividades empreendida através de uma pedagógica da diferença parecem fornecer um 
capital sociocultural aos pequenos de modo a torná-los capazes de relativizar a “macumba” de 
maneira que ora manuseiem como magia boa ou má, ora como referência a religiosidade 
afrobrasileira. 
 
Considerações finais 
 
O caminho da “macumba” entre magia e religião é uma via de mão dupla. As crianças 
são atores sociais legítimos capazes de transitar entre uma esfera e outra através dos mais 
diversos mediadores sociais. As representações que fazem e operacionalizam da “macumba” 
são oriundas desses mediadores e (re) interpretadas de acordo com os espaços que estes 
pequenos sujeitos ocupam na sociedade. Mais do que teorizar, as crianças experimentam 
sentimentos e vivências concretas a respeito da “macumba”. As representações que constroem 
emergem a partir de elementos dispostos em seu cotidiano, sejam eles de ordem estética, 
sejam eles de ordem simbólica. O mundo é apreendido por elas de maneira pragmática. A 
“macumba” é o operador lógico pelo qual relações e posições sociais são expressas e julgadas 
pelas crianças. Por meio dela revelam tensões e conflitos nas redes de amizades, afastam e 
excluem os “outros” ou até mesmo fazem uso dela para explicar a sorte no alcance de 
objetivos almejados. 
As crianças da escola particular contam com um acervo mais diversificado e 
relativizador de suas representações da “macumba”. A escola parece ser um mediador 
importante neste sentido, pois por meio de uma política multicultural e de um projeto 
pedagógico de reconhecimento e respeito às diferenças, as crianças são capazes de 
desmistificar a religiosidade dos negros africanos escravos no Brasil. O projeto “Brasilis” 
concretiza a lei 10.639 de diretrizes e bases do Ministério da Educação na qual atesta a 
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obrigatoriedade do ensino de história e cultura afrobrasileira. Por meio deste projeto o 
candomblé deixa de ser uma nefasta atitude mágico mística intitulada de “macumba” para ser 
a religião africana de fundamental importância na formação de nosso país. Diante então do 
conjunto de informações apreendidas na escola, as crianças repensam a categoria “macumba” 
de modo a relativizá-la mais. Mesmo quando situada na esfera da magia, ela pode tanto fazer o 
mal quanto fazer o bem, é acionada de acordo com aquilo que é exigido pelo contexto social. 
A LDB 10.639 do MEC, se implementada por meio de um projeto pedagógico 
multidisciplinar, parece ser uma intervenção de extrema importância no intuito de se evitar 
práticas preconceituosas e de intolerância para com as religiões de matriz africana. A 
existência de uma pedagogia da diferença que desmistifique a relação entre “macumba” e 
religiões afrobrasileiras é essencial para a transformação da representação dessas religiões no 
imaginário infantil, tornando possível que as futuras gerações pelo menos sejam capazes de 
livremente executar um exercício de relativização da categoria “macumba”. Tal exercício 
parece ser a saída mais plausível para desmistificação da “macumba” na qualidade de magia 
destinada a fazer o mal, uma vez que, não acredito ser possível dissociar completamente este 
sentido da categoria no imaginário infantil e também no imaginário adulto. O presente 
trabalhou buscou, portanto, elucidar algumas das maneiras diversas pelas quais crianças de 
uma escola particular laica na cidade de Recife – PE trazem a tona as representações que 
possuem em seu imaginário das religiões de matriz africana, reproduzindo ou resignificando 
percepções mais usais da sociedade mais ampla. 
 
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