Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Federal do Rio de Janeiro Ciências Sociais (Licenciatura) – 1º período Thaís Alves Oliveira Data: 04/05/2016 Teoria Antropológica – Daniela Manica Comentário sobre o documentário “O Homem Urso” e textos discutidos em sala de aula; Gostaria de iniciar este breve comentário sobre o filme já afirmando ser impossível falar e relatar tudo o que eu desejaria. Começarei pelo óbvio e bem explícito no documentário: o conflito entre os termos Natureza e Cultura. Digo que o paradoxo é explícito pois o próprio diretor, Werner Herzorg, dá uma perspectiva totalmente naturalista á película. Timothy Treadwell, o amante dos ursos, têm esses como amigos, e atribui à eles (e também às raposas) a consciência e alma, a wakan, características humanas. Treadwell, repleto de sentimentalismo, diz se identificar com a vida selvagem e já se considera um urso, a filosofia do protagonista aproxima-se, se não é, do animismo, crê que todas as formas identificáveis da natureza possuem alma. Opondo-se ao animismo encontra-se a concepção do diretor e da maioria dos comentaristas que colaboram para a visão naturalista e moderna que o filme passa. Estes nomeiam Timothy como o “louco por ursos” que não soube respeitar o espaço da vida selvagem, um invasor do território dos ursos. Em um dos depoimentos, o antropólogo Sven Haakanson, curador do museu Alutiiq de Kodiak, critica Treadwell por ter invadido o “território dos ursos”, sem discutir a já invasão que nós, seres humanos, fizemos para com toda a natureza. Haakanson implicitamente critica a domesticação que este achou ter Timothy feito com os animais em contato, controlando a natureza através de sua cultura, quando na verdade, contesto, e digo que aparenta o contrário: a natureza animalizando a cultura do protagonista. E torna-se mais real ainda se os relatos de que Treadwell em contato com pessoas após a volta de seus meses com os ursos, rangesse e tivesse atitudes “selvagens” com elas, forem fatos. Outro comentário bastante interessante foi o do agente de resgate que operou na procura por evidências na morte de Treadwell. Seus comentário podem ser considerados a personificação do paradoxo. Este diz que Timothy não deveria ter se aproximado tanto da vida animal e que sabia dos perigos e suas possíveis conseqüências. Ao mesmo tempo que possui esta linha de pensamento que se assemelha a do diretor e do antropólogo já citado, o mesmo refere-se aos ursos como “pessoas vestidas de ursos”, expondo involuntariamente uma visão animista e totemista; “Os animais são humanos que se disfarçam sob um corpo animal e ,ao mesmo tempo, não são humanos porque deixaram de sê-lo no tempo do mito.” Como aponta Renato Sztutman em “Natureza & Cultura, versão americanista – Um sobrevôo. Não obstante, o agente de resgate diz que Timothy durou muitos anos nesta jornada junto à vida selvagem porque talvez os ursos achassem que ele era mentalmente doente, e o urso que o comeu cansou de tê-lo como “visitante deficiente”, reforçando mais ainda sua aparente perspectiva animista. Apesar de parecer ironia por parte do emissor do comentário, não o é. No momento da fala é perceptível a seriedade do agente. Opondo-se à tais comentários conflitantes encontravam-se os amigos de Timothy, que pareciam partilhar do sentimentalismo do amante dos ursos e entender o por quê de sua aproximação com a natureza. Um exemplo disso é a namorada que morreu junto á ele, e que ao observar nas filmagens pareceu aos poucos aproximar-se mais dos ursos, como se fosse uma aprendiz de Treadwell. Vale ressaltar que no início do documentário Timothy diz que morreria pelos ursos, mas não queria morrer através de suas patas e garras. Seus fim foi exatamente como ele temia, mas permanece um dilema. Treadwell se sentia parte daquele parque que abrigava os ursos, e mais, havia um sentimento de pertencimento à raça dos ursos. Tais mamíferos em tempo de escassez de alimentos, quando não estão hibernando “optam” por comerem até mesmo seus filhotes. Talvez sempre perdure a dúvida: Treadwell morreu reconhecido como um urso pelos mesmos ou como um ser humano?
Compartilhar