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1 Teoria Geral do Direito Civil I Direitos da Personalidade Introdução - Com a construção jurídica do conceito de personalidade e da evolução da palavra persona não foram sistematizados, inicialmente, os direitos da personalidade. - Assim é que, em Roma, a personalidade era restrita apenas àqueles que reunissem STATUS - a qualidade em virtude da qual o cidadão romano tem direitos: é a condição civil de capacidade, pois ela era considerada um privilégio. - Exemplificando: o ESCRAVO, os homens que apresentassem alguma DEFORMIDADE FÍSICA, e as MULHERES não eram considerados sujeitos de direito, eram tidos como um simples ser e, não sendo sujeito de direito, ERA EQUIPARADO À COISA ("res") e, da mesma maneira, eram tratados os - Muito se fala que a origem dos direitos da personalidade se deu em ROMA ou então na GRÉCIA, porém, naquela época o que se tinha eram apenas situações PONTUAIS de proteção aos direitos da personalidade. - Não havia uma legislação específica prevendo a proteção dos direitos da personalidade. Somente se protegiam os direitos patrimoniais das pessoas. 2 - INÍCIO DA PROTEÇÃO AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE: • Somente no final do século XIX é que os juristas alemães sistematizaram os direitos da personalidade. • Após a Segunda Guerra Mundial, em decorrência do menosprezo à dignidade humana e à personalidade levado a cabo pelo Estado Nazista, a jurisprudência passou a reconhecer, com base na Constituição, o chamado Direito Geral da Personalidade, um direito à não lesão da pessoa em todas as suas manifestações imediatas dignas de proteção. • Naquela oportunidade, com todas as atrocidades que foram cometidas, os juristas chegaram a conclusão que não mais poderia se permitir a proteção APENAS DA PROPRIEDADE, sendo necessário sistematizar também a proteção aos direitos da personalidade. • Razão de ser do ordenamento jurídico não poderia ser mais o TER, e sim o SER; • A preocupação da legislação anterior a 2ª Guerra Mundial era especificamente com o que o ser humano TINHA – suas posses, suas propriedades (DIREITOS PATRIMONIAIS); • Com a 2ª Guerra Mundial e todas as atrocidades que foram cometidas – a dizimação das minorias (judeus, ciganos), começaram a observar que estava tudo errado: que o principal objetivo da lei não poderia ser o que o ser humano TINHA e sim o que ele ERA. • Assim foi que com a 2ª Guerra se mudou a postura com relação ao objetivo final da lei. Ocorreu o que alguns autores chamam de DESPATRIMONIALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL. • O FOCO, DEPOIS DA 2ª GUERRA MUNDIAL PASSOU A SER A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – situação que não era prevista em quase nenhuma constituição do mundo antes da guerra. • A dignidade da pessoa humana é estudada mais profundamente em Direito Constitucional, pois trata-se de um dos fundamentos 3 da República Federativa do Brasil – tratada no artigo 1º da Constituição; • Mas é importante saber do que se trata a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA porque ela é uma CLÁUSULA GERAL que FUNDAMENTA todos os direitos da personalidade; • Ela GARANTE E EFETIVA todos os direitos da personalidade; - Atualmente, para satisfazer suas necessidades, o homem posiciona-se EM UM DOS PÓLOS DA RELAÇÃO JURÍDICA: compra, vende, empresta, contrai matrimônio, etc... - Por conta disso, a pessoa cria um CONJUNTO DE DIREITOS E OBRIGAÇÕES, o qual é chamado de PATRIMÔNIO – projeção econômica da personalidade. - Porém, existem direitos que afetam DIRETAMENTE A PERSONALIDADE, que não possuem qualquer conteúdo econômico direto e imediato. - Esses direitos são denominados PERSONALÍSSIMOS, ou Direitos da Personalidade, justamente porque incidem sobre bens IMATERIAIS ou INCORPÓREOS. - Com isso, temos duas espécies de direitos: • Os que se destacam da pessoa; • Os que são INERENTES a pessoa, não tendo como separar. - A Constituição Federal enumera, em seu ARTIGO 5º, uma série de direitos e garantias individuais. 4 - Já o Código Civil de 2002 introduziu um capítulo (o Capítulo II – artigos 11 a 21) dedicado somente aos direitos da personalidade. - Pela primeira vez esses direitos são tratados de forma ordenada. A Constituição Federal aponta a BASE dos direitos da personalidade, e o Código Civil os COMPLEMENTA, enunciado-os de forma mais específica. Constituição Federal - BASE Código Civil - ESPECIFICADOS - Com o passar do tempo e com o aumento desenfreado dos meios de comunicação, tem aumentado cada vez mais a discussão em torno da proteção a IMAGEM, à PRIVACIDADE, ao DIREITO AO PRÓPRIO CORPO, sobre TRANSPLANTE E DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS. - Há ainda a discussão – principalmente no campo do direito econômico – acerca do CONTROLE DE NATALIDADE (que está inserido no direito à vida). - Facilmente perceptível então a DIFERENÇA dos direitos patrimoniais e dos direitos da personalidade. - Nos direitos da personalidade o sentido ECONÔMICO é absolutamente SECUNDÁRIO, e somente vai vir a tona quando tais direitos forem TRANSGREDIDOS. - Aí entra em cena o PEDIDO SUBSTITUTIVO: • Reparação pecuniária indenizatória pela violação do direito – que JAMAIS se colocará no mesmo patamar que o direito violado. 5 - Ver julgamentos que condenaram a pagar indenizações de dano moral pela perda de algum ente querido, ou ainda por estupro (ANEXO 1). - Tratam-se todos de VALORES SUBSTITUTIVOS. - O fato é que a lesão a direito da personalidade é de tão elevada gravidade, que não há possibilidade de se QUANTIFICAR, sendo a indenização paga meramente SUBSTITUTIVA DO DANO CAUSADO – mas não que vá revertê-lo. 6 Características dos Direitos da Personalidade 1. INATOS ou ORIGINÁRIOS - São adquiridos ao nascer, independente de qualquer manifestação de vontade; - Surgem com a pessoa, desde o seu nascimento (ou concepção), independente do ordenamento jurídico. - São direitos próprios ao ser humano – anterior ao ordenamento jurídico. - Não se trata de um posicionamento UNÂNIME, pois existem DUAS CORRENTES a respeito do assunto: a corrente dos JUSNATURALISTAS e dos POSITIVISTAS. a) JUSNATURALISTAS: - Os direitos da personalidade tratam-se de atributos INERENTES À CONDIÇÃO HUMANA, independentemente de legislação prevendo a situação. - Correspondem às faculdades exercitadas naturalmente pelo homem. - Por esta corrente, os direitos da personalidade não dependem do ordenamento jurídico. - Ainda que não existissem leis em nosso país prevendo a existência dos direitos da personalidade, haveria a sua proteção. - Direitos ANTERIORES AO ORDENAMENTO JURÍDICO. - A ideia aqui é que onde o objeto da tutela, da proteção é a PESSOA, a perspectiva deve sempre MUDAR; - Nenhuma previsão especial pode ser EXAUSTIVA e se fosse assim, deixaria de fora algumas manifestas exigências da pessoa; - O juiz não pode negar tutela a quem peça garantias sobre um determinado aspecto da sua existência que não tenha previsão legal específica. 7 b) POSITIVISTAS: - Toma por base a ideia de que os direitos da personalidade devem ser somente aqueles reconhecidos pelo Estado, que lhes daria força jurídica; - Assim, os direitos da personalidade SÓ EXISTEM PORQUE EXISTEM LEIS PREVENDO SUA EXISTÊNCIA. - Os direitos do homem, para serem válidos, devem encontrar seu fundamento na norma positivada – na LETRA DA LEI. - O direito positivo é o único fundamento jurídico da tutela da personalidade; - A justificativa dada pelos autores que defendem essa corrente, é que nos países em que não há leis protegendo os direitos da personalidade, eles nãosão respeitados. - Discute-se aqui a UNIVERSALIDADE dos direitos da personalidade – o que os positivistas entendem não haver. - Isso porque existem ainda questões como das meninas mutiladas da África (onde se corta uma parte do órgão sexual da mulher para que ela não sinta prazer), que geram grande polêmica e discussão. - Nesse caso o DIREITO POSITIVO LOCAL PERMITE A VIOLAÇÃO A DIREITOS BÁSICOS DO SER HUMANO, ou seja, nos países onde não TEM LEI PROTEGENDO, não existe direito da personalidade – o que justifica a posição dos positivistas. - No fim, dividem-se opiniões acerca de tal situação se tratar de CULTURA ou AFRONTA À DIREITOS DA PERSONALIDADE. 8 2. ILIMITADOS - O Código Civil de 2002 tratou do assunto em um capítulo exclusivo, abrangendo os artigos 11 ao 21 – observa-se que não se trata de TODOS OS DIREITOS DA PERSONALIDADE; - Observa-se que diante da grandiosidade do assunto, são poucos artigos tratando dele. Claro que deve-se considerar que o assunto sequer existia no Código antigo, mas mesmo assim, tem-se que admitir que a previsão legal constante do Código Civil sobre o assunto é muito limitada. - Então aqui o questionamento é se o rol previsto nos artigo 11 a 21 do Código Civil é um ROL TAXATIVO OU UM ROL EXEMPLIFICATIVO dos Direitos da Personalidade. - Os direitos da personalidade são considerados ilimitados, pois o rol trazido pelos artigos 11 a 21 do Código Civil é apenas um ROL EXEMPLIFICATIVO. - Então não importa a previsão legal do Código Civil, pois nada impede que a doutrina e a jurisprudência construam novos aspectos a respeito dos direitos da personalidade. - Por isso que se tratam de direitos ILIMITADOS. 9 3. VITALÍCIOS (PERENES ou PERPÉTUOS): - Existem enquanto o ser humano exista; - Para a pessoa ter direitos, é necessário que ela tenha PERSONALIDADE. - A questão polêmica no direito civil diz respeito apenas ao INÍCIO DA PERSONALIDADE – teorias do nascituro (nascimento ou concepção). - Porém, com relação ao FIM DA PERSONALIDADE JURÍDICA, não existe qualquer polêmica - é a MORTE. - Assim, a característica de vitaliciedade dos direitos da personalidade é uma característica bastante simples: os direitos perduram por toda a vida; - Alguns são observados até depois da morte (um exemplo é a questão da imagem do morto, ou de sua honra, que em caso de violação pode ser pleiteada a indenização pelos seus familiares). 10 4. IRRENUNCIÁVEIS: - Uma pessoa pode eventualmente não exercer todos os direitos da personalidade, ou pode ainda não invocar a proteção aos direitos da personalidade em juízo; - Porém, não é porque essa pessoa deixou de invocar essa proteção que ela deixará de ter direitos à personalidade. - O exemplo aqui é de alguém que tenha um vizinho que passa a vida proferindo ofensas. Durante todo o tempo que perdura a vizinhança, esse vizinho fica ofendendo e humilhando o outro vizinho. Porque ele está ofendendo já mais de um ano, dois anos, quinze anos, é sinal de que você abdicou dos direitos da personalidade? Não, porque os direitos da personalidade são irrenunciáveis; - NINGUÉM PODE ABDICAR dos seus direitos da personalidade. - A pessoa pode assinar um documento abrindo mão de algum direito da personalidade? Não, porque o interesse é do ESTADO NA PROTEÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. - O Estado concede proteção tão grande aos direitos da personalidade que ele mesmo proíbe que abra mão dos direitos da personalidade - ou considera inválida qualquer cláusula nesse sentido. - O interesse na proteção da integridade é da própria pessoa, mas há também interesse do estado nessa proteção, e é por isso que o Estado não admite que se abra mão desses direitos. 11 5. INEXPROPRIÁVEIS (impenhoráveis) - Não compõe o seu patrimônio, e, portanto não podem ser objeto de execução. - Há muito tempo que a execução de uma dívida não recai sobre o CORPO DA PESSOA, e sim sobre o patrimônio da pessoa. - O Código de Processo Civil prevê que a pessoa responde pelas suas obrigações através de seu patrimônio – atual e futuro. - Não se pode, em razão de uma dívida, pretender EXPROPRIAR os direitos da personalidade de alguém. - Nada impede que se consiga a penhora de valores RECEBIDOS PELA PESSOA EM AÇÃO QUE DISCUTAM OS DIREITOS DA PERSONALIDADE DE ALGUÉM. 12 6. IMPRESCRITÍVEIS: - Não é porque a pessoa deixou de exercer a certo tempo a proteção aos seus direitos da personalidade que ultrapassou qualquer prazo para o exercício da personalidade; - Meu direito a vida, à honra, ao nome é IMPRESCRITÍVEL. Por mais que eu não exerça no momento ou por determinado tempo, eu não tenho prazo para exercer essa proteção. - Porém, tem-se aqui um detalhe. Existem duas formas de proteção a direito da personalidade: • Medidas preventivas: situação para evitar a lesão • Medidas reparatórias: possibilidade de ingressar em juízo requerendo indenização por danos morais a título de indenização por LESÃO A DIREITO DA PERSONALIDADE. - O pedido de indenização por danos morais sofre prazo de prescrição. - Dano moral é LESÃO a direito da personalidade. A dor, tristeza e angústia são CONSEQUENCIAS que podem advir do dano moral; - A ação de dano moral – proposta com a intenção de reparar uma lesão a direito da personalidade – tem prazo de prescrição e deve ser intentada até 3 anos após a lesão sofrida1. - O que é IMPRESCRITÍVEL é o direito da personalidade em si. Estes perduram enquanto durar a personalidade – não tem prazo de validade; 1 Código Civil, Artigo 206, § 3º, IV 13 7. INALIENÁVEIS: - Em princípio não possuem os direitos a personalidade VALOR ECONÔMICO, que permitisse a sua alienação – venda; - São bens que fazem parte da pessoa, estão FORA DO COMÉRCIO. - Mas essa é uma característica RELATIVA, eis que, por exemplo, a imagem, que é um direito a personalidade, pode ser comercializada. - A INTIMIDADE também é um direito que começou a ser comercializado, depois que a televisão começou a exibir programas como o BBB, onde as pessoas ganham prêmios para expor a sua intimidade. - Assim, existe uma RELATIVIZAÇÃO com relação a essa característica. 8. ABSOLUTOS: - Podem ser opostos “erga omnes”, ou seja, POR TODAS AS PESSOAS. - Todos podem opor ou reclamar pelos seus direitos personalíssimos. - Da mesma forma, TODOS tem o dever de RESPEITAR tais direitos. - Como se tratam de direitos INATOS ou ORIGINÁRIOS, pode-se concluir que TODAS as pessoas possuem. 14 9. EXTRAPATRIMONIAIS: - Ausência de conteúdo patrimonial direto, ainda que sua LESÃO gere efeitos econômicos; - Não admitem avaliação pecuniária; - Estão fora do patrimônio econômico; - As indenizações que são pagas quando tais direitos são transgredidos são de cunho SUBSTITUTIVO, não pretendendo JAMAIS indenizar a perda sofrida pela pessoa lesada. 10. INDISPONÍVEIS: - Nem por vontade própria do indivíduo o direito pode mudar de titular. - A exceção a regra aqui é no caso de direitos patrimoniais do autor. - Porém, não cabe LIMITAÇÃO permanente e geral de direito da personalidade. - Um exemplo disso é o CONTRATO DO JOGADOR RONALDO com a empresa de produtos esportivos NIKE. Se fosse realizado no Brasil, não poderia ter validade, pois o jogador fez uma cessão VITALÍCIA de sua imagem à empresa. - O Código Civil, em seu artigo 11, refere-se a apenas TRÊS dessas características: 1. Irrenunciabilidade (absoluto) 2. Intransmissibilidade (absoluto) 3. Indisponibilidade (relativo) 15 Classificação dos Direitos daPersonalidade: - Para melhor distinguir os direitos da PERSONALIDADE costuma-se separá-los em TRÊS CAMPOS (corpo/mente/espírito): 1. INTEGRIDADE FÍSICA: direito à vida, saúde, lesão corporal, abandono de incapaz, direito ao próprio corpo – vivo ou morto. 2. INTEGRIDADE PSÍQUICA: cuida do desenvolvimento MORAL das faculdades mentais, condenando-se a tortura mental, lavagem cerebral e técnicas de indução do comportamento. Exemplo: ALIENAÇÃO PARENTAL e SÍNDROME DAS FALSAS MEMÓRIAS. 3. INTEGRIDADE MORAL - danos morais: honra, educação, emprego, habilitação, produções intelectuais, etc. - No âmbito do Direito Privado, sua evolução tem sido muito LENTA, muito mais lenta do que as necessidades que vão se apresentado. - No Brasil, têm esses direitos sido tutelados por legislação específica, mas principalmente pela JURISPRUDÊNCIA, que tem tratado da INTIMIDADE do ser humano, sua IMAGEM, seu NOME, seu CORPO e sua DIGINIDADE. - O grande passo para os direitos da personalidade foi dado com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 5º, inciso X trata EXPRESSAMENTE dessa categoria de direitos.2 2 Artigo 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. 16 Bens protegidos pelos Direitos da Personalidade: - Na grande maioria das doutrinas, os direitos da personalidade decompõe-se em: 1. Direito a VIDA (Constituição Federal) 1.1 – Direito à SAÚDE 2. Direito à INTEGRIDADE FÍSICA (artigo 15) 2.1 – Direito ao PRÓPRIO CORPO VIVO OU MORTO (artigo 13, 14 do Código Civil e legislação específica sobre doação e transplante de órgãos) 3. Direito a HONRA 4. Direito ao NOME (artigos 16 à 19 do Código Civil) 5. Direito à IMAGEM (artigo 20 do Código Civil) 6. Direito à INTIMIDADE (artigo 21 do Código Civil) 17 Proteção dos Direitos da Personalidade – Artigo 12 Código Civil - A pessoa que se sentir ameaçada ou lesada em seus direitos à personalidade poderá exigir que a ameaça ou lesão CESSE; - Poderá ainda reclamar pelas perdas e danos sofridos em razão dessa lesão ou ameaça – sem o prejuízo de outras sanções. - É justamente quando se fala em “outras sanções” que aparecem as indenizações pelo eventual DANO MORAL sofrido pela pessoa quando lesada em seus direitos à personalidade. - Para que se dê eficácia ao dispositivo, e para que as pessoas realmente sejam protegidas em sua honra, imagem, vida, integridade física, etc., o Código de Processo Civil fornece alguns INSTRUMENTOS EFICAZES. - Ditos instrumentos servirão para que a vítima consiga obter com mais rapidez provimento jurisdicional que faça realmente cessar a ameaça ou lesão ao seu direito da personalidade. - Por conta disso, temos a previsão legal do artigo 461 do Código de Processo Civil: Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. 18 - Dito artigo possibilita que se EVITE que a ameaça ou lesão ao direito a personalidade SE CONCRETIZE. - A previsão do § 3º do Artigo 461 do Código de Processo Civil é a seguinte: § 3º. Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. - Assim, essa “decisão antecipada” do Juiz pode fazer com que cesse a utilização indevida de um nome, paralise a divulgação de um fato desabonador ou impeça que se concretize a invasão de privacidade. - Para melhor eficácia dessa “TUTELA ANTECIPATÓRIA” o Juiz pode ainda fixar MULTA DIÁRIA ao réu PELO DESCUMPRIMENTO DA DECISÃO. - Essa multa deve ser suficientemente CONSTRANGEDORA a fim de evitar o descumprimento da medida – Art. 461, §4º, CPC. - Esses procedimentos foram incorporados ao Código de Processo Civil apenas em 2002, e com eles aumentou-se ainda mais o PODER DISCRICIONÁRIO DO JUIZ. - Considerando que a imposição da multa TRATA-SE DE UMA FACULDADE DO JUIZ, bem como o valor aplicado será decidido por ele, este pode fazê-lo da maneira que melhor entender. - Um exemplo é a previsão do § 6º do Artigo 461, que prevê que o Juiz pode AUMENTAR ou DIMINUIR o valor da multa aplicada se entender que este valor se tornou excessivo ou insuficiente – TUDO A SEU CRITÉRIO. 19 Legitimidade para a Tutela dos Direitos da Personalidade Proteção da Personalidade depois da morte - Deve-se observar a proteção à memória, imagem, obras, ou seja, À PERSONALIDADE da pessoa falecida também. - Assim, temos que merece atenção especial sua moral, honra, passado e suas obras. - Por isso que o artigo 12 do Código Civil estabeleceu a possibilidade de que pode se fazer cessar a ameaça ou lesão aos direitos da personalidade. - Tratamos aqui de DIREITOS PERSONALÍSSIMOS. Então, cada pessoa tem o direito de pleitear a proteção dos seus direitos personalíssimos. - Mas a PESSOA MORTA necessita da previsão legal para que alguém tenha LEGITIMIDADE para postular a cessação das ofensas e inclusive os direitos decorrentes das ofensas se já tiverem se materializado. - Assim é que o parágrafo único prevê que as pessoas legítimas para pleitear indenização decorrente de direito da personalidade de pessoa morta, ou então pleitear que cesse a lesão ou ameaça a tais direitos, podem ser: • Cônjuge sobrevivente (e aqui a doutrina entende que o companheiro que viva em união estável com o morto também tem legitimidade); • Qualquer parente em linha reta • Colateral até quarto grau. 20 Proteção aos Direitos da Personalidade - Pode se dar tanto no âmbito civil quanto pelo âmbito penal; - Nos interessa a PROTEÇÃO CIVIL dos direitos da personalidade, que se verifica: 1. Pela indenização material e moral, pelo DANO CAUSADO (tutela indenizatória); 2. Por medidas PREVENTIVAS visando EVITAR que o dano ocorra (tutela inibitória); - Nos casos de REPARAÇÃO, o dano será: 1. MATERIAL: quando houver uma perda ou prejuízo decorrente de uma lesão a um bem patrimonial, ou seja, se houver a possibilidade de verificar economicamente o dano sofrido. - Danos emergentes: o que a pessoa efetivamente perdeu; - Lucros cessantes: o que a pessoa razoavelmente deixou de ganhar em razão do dano experimentado. 2. MORAL: quando a agressão ocorrer a um direito da personalidade e não houver possibilidade de VERIFICAÇÃO DO CONTÉUDO ECONÔMICO dessa lesão. - Modalidade de dano moral: DANO ESTÉTICO. - O dano estético é conceituado como: toda alteração morfológica do indivíduo que, além do aleijão, abrange as deformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, e que impliquem sob qualquer aspecto um “afeiamento da vítima”, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente motivo de exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não influência sobre sua capacidade laborativa.33 Dados constantes do artigo "DANO MORAL", escrito pelo Juiz do Tribunal de Alçada do Rio de Janeiro, Severiano Aragão, capiturado na internet, em 29 de novembro de 2000, no site www.juridnet.com.br . 21 Bens Tutelados no Direito da Personalidade 1. Direito a Vida - Previsão do Artigo 5º da Constituição Federal; - Maior de todos os direitos, sendo por óbvio o primeiro a ser tratado porque é daí que todos os outros direitos emanam. - Desdobra-se em diversos outros campos, como o direito à SAÚDE, segurança, trabalho, sustento, moradia, integridade física e moral; - Trata ainda da abominação da prática do ABORTO e da EUTANÁSIA e QUALQUER PENA CORPORAL. - Esse direito se inicia com CONCEPÇÃO, prossegue com o nascimento e acompanha toda a existência da pessoa, terminando com a morte. - Importa também no DIREITO A PROCRIAÇÃO: não existe qualquer lei em território nacional que IMPONHA LIMITAÇÃO DE NATALIDADE. - As pessoas podem ter quantos filhos quiserem ou bem entenderem – mesmo em total INCAPACIDADE MATERIAL, CULTURAL E SOCIAL para o sustento de sua prole. - A LEI 9.263/96 trata do PLANEJAMENTO FAMILIAR sem impor qualquer restrição ao número de filhos que cada pessoa pode ter, porém, dando total importância ao planejamento familiar como forma de incentivar uma vida com qualidade para todos. - O que trata a lei quanto a esterilização é que esta é possível apenas em duas situações: Art. 10. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes situações: (Artigo vetado e mantido pelo Congresso Nacional - Mensagem nº 928, de 19.8.1997) I - em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade OU, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de sessenta dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de 22 regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, VISANDO DESENCORAJAR A ESTERILIZAÇÃO PRECOCE; II - risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos. - Em casos especiais, que a mãe possua problemas mentais ou é viciada em drogas, há a possibilidade de se obter a AUTORIZAÇÃO JUDICIAL para que se proceda a esterilização – ARTIGO 10, § 6º da Lei 9.263/96. - Mas isso não há previsão na lei, e vai depender exclusivamente do entendimento do Juiz. ABORTO: - Dentro do assunto ora abordado – DIREITO A VIDA – há ainda grande discussão com relação a proibição do ABORTO. - O aborto pode ser definido como a ação destrutiva do produto da concepção humana. Ou ainda, a interrupção criminosa da vida em formação. - No direito brasileiro, o aborto é considerado crime conforme previsão legal dos artigos 124 a 127 do Código Penal; - Existe ainda no Código Penal DUAS EXCEÇÕES a proibição do aborto: Artigo 128, Código Penal: 1. Aborto terapêutico: se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 2. Aborto sentimental (ético ou humanitário): se a gravidez resultar de ESTUPRO. Nesse caso há que se ter o consentimento da gestante ou de seus representantes legais - caso seja menor. 23 - Outros casos que podem dar interpretação diferente a estes artigos são aqueles em que o feto não possui cérebro e por conseqüência, nenhuma expectativa de vida. - Discussão que teve grande repercussão no país foi na Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada pelo STF, em face do artigo 5º da Lei de Biossegurança.4 - Essa lei permite – para fins de pesquisa e terapêuticos – a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizadas no respectivo procedimento. - Decidiu-se que as pesquisas com células-tronco embrionárias NÃO VIOLAM o direito à vida, tampouco a dignidade da pessoa humana. EUTANÁSIA: - Com relação a EUTANÁSIA, também não há possibilidade nenhuma de sua permissão, tratando-se, a sua proibição, da regra geral contida no ordenamento pátrio. - Trata-se do auxílio ATIVO de alguém para realizar o desejo de uma pessoa, APOIADA EM RAZÕES JUSTIFICÁVEIS, em pôr fim a sua vida. 1. Eutanásia ATIVA: 4 Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 03 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 03 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. § 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. § 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa. § 3º É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. 24 - Por piedade, há deliberação de antecipar a morte de doente irreversível ou terminal, a pedido seu ou de seus familiares, ante o fato da incurabilidade de sua moléstia, da insuportabilidade de seu sofrimento e da inutilidade de seu tratamento; - Emprega-se, em regra, recursos farmacológicos, por set a prática indolor de supressão à vida; - Emprego de recursos químicos ou mecânicos que culminem na supressão da vida do enfermo incurável. 2. Eutanásia PASSIVA (ortotanásia): - Atuação omissiva do médico que deixa de empregar os recursos clínicos disponíveis, objetivando apressar o falecimento do doente incurável. - Parte-se do pressuposto de que a supressão dos mecanismos artificiais que retardam o falecimento do enfermo, além de por fim ao seu martírio, possibilitará a conclusão natural do processo patológico iniciado. - Nos Estados Unidos da América as pessoas usam um cartão que indica que o portador NÃO DESEJA SER REANIMADO ou submetido a manobras para prolongar a vida. 3. Eutanásia SOCIAL: - Frequente em países subdesenvolvidos, nada tem de boa ou indolor. - Morte de doentes ou deficientes que, pela falta de recursos aliada à má vontade política, não conseguem pronto atendimento médico. 3.2 – Direito à Saúde - Trata-se da CONCRETIZAÇÃO do direito à vida; - Não existe qualquer motivo para se colocar o direito à vida em primeiro lugar, se não forem fornecidos MEIOS para que essa vida se efetive de maneira “decente”; 25 - Por isso da legislação garantir o direito à saúde – pensando na vida das pessoas. - Artigos 196, 197 e 198 da Constituição Federal. - Direito à saúde importa no ESTADO conceder meios para sua efetivação. - A Constituição Federal obriga o Estado (Município, Estado e União) que promova a saúde da população.
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