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PROJETO URBANO, PAISAGEM E REPRESENTAÇÃO

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PROURB
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Laura Mariana Vescina
 
Projeto urbano, paisagem e representação
Alternativas para o espaço metropolitano
Rio de Janeiro, 2010
Laura Mariana Vescina
Projeto urbano, paisagem e representação
Alternativas para o espaço metropolitano
Tese de Doutorado em Urbanismo
Orientadora: Prof. Dr. Denise Pinheiro Machado
PROURB
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, 2010 
V575 
Vescina, Laura Mariana,
 Projeto urbano, paisagem e representação: alternativas para o espaço 
metropolitano/ Laura Mariana Vescina. – Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 
2010.
 205f. Il., 30 cm. 
 
 Orientador: Denise Pinheiro Machado.
 Tese (Doutorado) – UFRJ/PROURB/Programa de Pós-Graduação em 
Urbanismo, 2010.
 Referências bibliográficas: p.198-205.
 
 1. Urbanismo. 2. Paisagem. 3. Espaço urbano. I. Machado, 
Denise Barcellos Pinheiro. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação 
em Urbanismo. III. Título.
 
 CDD 711
 
Tese submetida ao corpo docente Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal 
do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários para obtenção do grau de Doutor
Aprovada por:
Profa Doctora Denise Barcellos Pinheiro Machado
PROURB/FAU/UFRJ
Profa Doctora Lucia Maria Sá Antunes Costa
PROURB/FAU/UFRJ
Prof. Doctor Pablo Cesar Benetti
PROURB/FAU/UFRJ
Prof. Doctor Pedro da Luz Moreira
Centro Tecnológico, Escola de Arquitetura e Urbanismo/UFF
Prof. Doctor José Almir Farias Filho
Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura e Urbanismo/UFC
Rio de Janeiro, Agosto 2010
3Introdução
Agradecimentos
Mesmo sendo uma tarefa solitária, realizar uma tese de doutorado é um desafio que 
não podemos enfrentar sozinhos. Muitas foram as pessoas que acompanharam a 
trajetória destes quatro anos, de perto e de longe, que deram o suporte acadêmico e 
emocional indispensável para ter chegado, finalmente, ao momento da defesa.
Em primeiro lugar os agradecimentos institucionais: ao PROURB e seu corpo de pro-
fessores, à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) 
e à minha orientadora, professora Denise Pinheiro Machado, pelo apoio recebido.
Ao programa Alfa da Comunidade Europeia pela oportunidade de realizar um inter-
câmbio com a Universidade de Eindhoven, particularmente ao professor Bruno de 
Meulder pelo cálido acolhimento e as pertinentes orientações. 
Mas esta tese não teria sido possível sem o apoio dos seres queridos. Meu agrade-
cimento a Christophe, pela paciência e pelo amparo. À minha família, pelo incentivo 
sempre. Aos meus companheiros de turma que compartilharam as primeiras inquie-
tações e definições do trabalho e, muito especialmente, à Monica Rocio das Neves 
pela hospitalidade e boa companhia. 
Não quero deixar de agradecer também aos colegas da Blac Arquitetura, com os 
quais “andamos” as ruas da Baixada Fluminense. À Serla (Secretaria Estadual de 
Rios e Lagoas) pelo fornecimento de informações e imagens e à Fundação Cide pela 
doação das bases cartográficas. 
4Introdução
O presente trabalho procura investigar caminhos alternativos para a formulação do 
projeto urbano na metrópole. Coloca-se como um convite a repensar a construção da 
cidade e do território a partir de uma lógica diferente, fundada na paisagem. 
Assinala as limitações do projeto urbano, nos moldes em que ele foi concebido até 
hoje, frente aos desafios da cidade contemporânea. A escala e a condição das me-
trópoles no século XXI questionam a forma em que os projetos são formulados, de-
senvolvidos e executados. A mudança de foco do centro para o território mais amplo 
da metrópole pressupõe uma revisão dos conceitos e das ferramentas até agora 
experimentados na cidade consolidada. Uma abordagem paisagística - onde a lógica 
projetual deriva da imbricação complexa entre sistemas naturais e processos de ur-
banização – se apresenta como resposta possível. 
Esta hipótese se fundamenta metodologicamente na descrição e em sua habilidade 
para produzir interpretações de situações destiladas das condições materiais do lu-
gar. O mapeamento se concebe assim como uma exploração, onde potenciais são 
descobertos e possibilidades testadas. A descrição se instala como mediação, como 
ponto de passagem entre o espaço concreto e o projeto (Corboz, 2001). Descrição, 
representação e projeção são entendidas como dialeticamente relacionadas. 
A partir da proposta de quatro categorias/conceitos operacionais, a saber: camadas, 
espaços livres, fronteiras e processos, o trabalho investiga o potencial de uma abor-
dagem paisagística para uma porção da periferia metropolitana do Rio de Janeiro. 
Resumo
5Introdução
Abstract
The present work seeks to investigate alternative ways for the formulation of the ur-
ban project in the metropolis. It is placed as an invitation to rethink the construction of 
the city and the territory from a different logic, founded in the landscape. 
It points out the limitations of the urban project, in the way it has been conceived until 
today, in face of the challenges of the contemporary city. The scale and the condition 
of the XXI century metropolises question the form projects are formulated, developed 
and executed. The change of focus from the center to the expanded territory of the 
metropolis presupposes a revision of the concepts and the tools so far tried in the 
consolidated city. A landscape approach - where the project´s logic derives from the 
complex imbrications between natural systems and processes of urbanization - it is 
presented as possible answer. 
This hypothesis is methodologically based on description and its ability to produce 
interpretations of situations distilled from the material conditions of place. Mapping 
is then conceived as an exploration, where potentials are discovered and possibi-
lities tested. The description is installed as mediation, as passage point, between 
the concrete space and the project (Corboz, 2001). Description, representation and 
projection are understood as dialectically related. 
From the proposal of four operational categories/concepts, namely: layers, open spa-
ces, borders and processes; the work investigates the potential of a landscape appro-
ach for a portion of the metropolitan periphery of Rio de Janeiro.
6Introdução
Lista de Figuras
FI-1: Buenos Aires. Infra-estruturas e novos aparatos da globalização. Fonte: Revista SCA 194 ............................................................................................27
FI-2: A dispersão dos mais ricos. Esquerda: condomínios fechados da periferia de Buenos Aires. Direita: condomínios verticais na Barra da Tijuca, Rio 
de Janeiro. Fonte: flirck .............................................................................................................................................................................................................29
FI-3: América do Sul, cidades com 20.000 habitantes e mais, 1950 e 1990. Fonte: Boletin especial: urbanización y evolución de la población urbana de 
América Latina, 1950 – 1990. Celade - CEPAL.........................................................................................................................................................................32FI-4: A dispersão dos mais pobres. Periferias urbanas Buenos Aires (esquerda) e Rio de Janeiro (direita). Fonte: Revista SCA 194 e flirck. .......................33
FII-1 e 2: Havana, renovação do centro histórico. Plaza de Armas Fonte: Oficina Del Historiador Habana ............................................................................43
FII-3: Plaza de La Muralla, centro histórico de Lima, Peru. Fonte: Autor ..................................................................................................................................44
FII-4: Tambos no centro histórico de Arequipa. Planta: Fonte: Liesbeth Caymax e Esther Jacobs. .........................................................................................45
FII-5: Acessos às moradias renovadas do Tambo Del Matadero, Arequipa. Fonte: Autor........................................................................................................45
FII-6: Malecóm de Guayaquil. Fonte: Diario La Nación .............................................................................................................................................................46
FII-7: Paseo del Caminante, nas “barrancas” do rio Paraná, Rosario. Fonte: Arq. Gerardo Caballero ....................................................................................46
FII-8 e 9: Requalificação do espaço público. Programa Rio Cidade, Leblon, Rio de Janeiro. Autores: Luiz Eduardo Indio da Costa, Guto Indio da Costa, 
Fernando Chacel. Fonte: Alvarenga, Andre (2009) ...................................................................................................................................................................47
FII-10: CEU (Centros Educativos Unificados) Jambeiro, em Guaianazes zona leste de São Paulo, dos arquitetos Alexandre Delijaicov, André Takiya e 
Wanderley Ariza. Fonte: Arcoweb_ ............................................................................................................................................................................................48
FII-11: Biblioteca El Tintal, Bogotá. Fonte: Arq. Daniel Bermudez .............................................................................................................................................49
FII-12: Puerto Madero, o novo cartão postal de Buenos Aires. Fonte: Autor ............................................................................................................................50
FII-13: Perspectiva do Eixo Tamanduatehy, Santo André: Fonte: Municipalidade de Santo Andre. ..........................................................................................51
FII-14: Perspectiva do projeto Ciudad Portal Bi-Centenário, Santiago. Fonte: Ministerio de Urbanismo y Vivienda ................................................................51
FII-15 e 16: Imagem das indústrias cerealíferas desativadas e plano para Puerto Nuevo, Rosario. Fonte: Municipalidad de Rosario ...................................52
FII-17: Transmilenio, ônibus articulados no centro de Bogotá: Fonte: Flirck .............................................................................................................................53
FII-18 e 19: Novos espaços públicos gerados a partir da passagem do metro-cable em Medellín. Fonte: Municipalidad de Medellín ...................................54
FII-20: Corredor Verde del Oeste, Buenos Aires. Fonte: Revista SCA .....................................................................................................................................55
FII-21: Urbanização de assentamentos informais. Morro do Socó e do Portal, em Osasco, São Paulo, dos arquitetos Viglieca & Associados. Fonte: 
Arcoweb .....................................................................................................................................................................................................................................56
FII-22: Favela Novos Alagados em Salvador. Vista da enseada do Cabrito e do Parque São Bartolomeu, antes e depois da intervenção, com o man-
guezal recuperado. Fonte: Cities Alliance. ................................................................................................................................................................................56
FII-23: Programa Favela-Bairro, equipamentos sociais na favela Fubá-Campinho, Rio de Janeiro. Fonte: Arq. Jaurequi ......................................................57
FII-24: A ocupação gradual através dos séculos e o desaparecimento do sistema lacustre na cidade do México. Fonte: Arq. Kalach ...................................60
FII-25: México, Ciudad Futura, fases do projeto. Fonte: Arq. Kalach ........................................................................................................................................61
7Introdução
FII-26: México, Ciudad Futura, o novo litoral recriado albergará serviços, parques e infraestruturas. Fonte: Arq. Kalach .......................................................62
FII-27: Riachos e pântanos, que atravessam a cidade transversalmente, regulam o equilíbrio hidrológico ao mesmo tempo em que se inserem como ..
................................................................................................................................................................................................................................................
peças dentro do sistema de espaços públicos. Fonte: Alcaldía de Bogotá ...............................................................................................................................63
FII-28: Humedal Juan Amarillo, Bogotá. Fonte: Flirck ...............................................................................................................................................................64
FII-29: Redefinir o próprio paradigma do projeto de infraestrutura é a proposta de MMBB. Os piscinões são vistos como oportunidades únicas para 
criar uma rede de vazios urbanos que possam qualificar as periferias paulistanas. Fonte: MMBB Arquitetos .......................................................................65
FII-30: O Projeto La Aguada se insere dentro do plano mestre do Anel metropolitano de Santiago, integrando num novo parque recreativo as infraestr-
turas de mobilidade e de controle das inundações. Fonte: Ministerio de Vivienda y Urbanismo de Chile................................................................................66
FIII-1: Alguns princípios da Ecologia da Paisagem. Fronteiras. A) Fronteiras vegetais com diversidade estrutural são mais ricas em espécies animais. 
B) a largura da fronteira de um fragmento difere segundo a direção dos ventos. C) Quando a fronteira administrativa ou política de uma área protegida 
não coincide com a borda ecológica natural, se distingue e pode atuar como buffer atenuando o efeito do entorno no interior da área protegida. Frag-
mentos. A) Um fragmento ecologicamente ótimo provê várias vantagens ecológicas e geralmente tem uma forma de “nave espacial”, com um core 
arredondado para proteger os recursos e uns dedos para a dispersão das espécies. B) Um fragmento orientado com seu eixo principal de forma para-
lela à rota de dispersão dos indivíduos terá menos possibilidades de ser recolonizado que um com seu eixo vertical. Fonte: Dramstad, Olson e Forman 
(1996) ........................................................................................................................................................................................................................................83
FIII-3: Ian McHarg, método ecológico para a bacia do rio Potomac. Neste mapa, idoneidade para a urbanização. Fonte: McHarg ([1969], 1992) ...............85
FIII-2: Rosa Kliass, inventario dos aspectos da paisagem natural e urbana de São Luis de Maranhão. (Fragmento). Fonte: Kliass (2006) ..........................85FIII-4: Paola Vigano. Água e asfalto. As camadas de hidrologia, figura-fundo e redes de infraestrutura, revelam uma esponja isotrópica densa que 
integra agricultura, indústria e áreas de residência. Fonte: Vigano (2008) ...............................................................................................................................86
FIII-5: Florian Beigel. A leitura e decomposição em camadas do sitio provê os materiais de projeto. Leichterfelde Sud, Plano de infraestrutura urbana, o 
sítio e as arquiteturas. Fonte: Rosell (2001) ..............................................................................................................................................................................86
FIII-6: Fragmento do Plano de Roma de Nolli, 1748. Uma das mais antigas descrições da cidade através de seus espaços públicos. Fonte: http://nolli.
uoregon.edu/ .............................................................................................................................................................................................................................88
FIII-7: Central Park, o vazio que modela a cidade. Fonte: flirck ...............................................................................................................................................88
FIII-8: Frederick Olmsted. Plano do sistema de parques The Emerald Necklace, Boston.Fonte: www.emeralknecklace.org ..................................................88
FIII-9: Rem Koolhaas. Projeto para a ville nouvelle de Melun-Senart. A garantia da qualidade do espaço urbano resulta de seus sistema de espaços 
livres. Em vez de projetar sobre a paisagem, o projeto se deduz dela. A) Preexistências: florestas, povoados, autopistas e a linha de TGV. B) O novo 
vazio desenhado para obter o máximo de situações diversas e complexas. C) O plano síntese. Fonte: Koolhaas (1995) .....................................................90
FIII-10: Emscher Park. Sistema de corredores verdes regionais interliga os terrenos reciclados e conecta povoados existentes. Detalhe Duisburg No-
ord, um novo parque cultural integra as arquiteturas industriais. Projeto de Peter Latz and Partners. Fonte: www.landschaftspark.de .................................92
FIII-11: Rosa Kliass. Parque da Juventude, São Paulo. Fonte: Kliass (2006)...........................................................................................................................92
FIII-12: Michel Desvigne. Planta geral das intervenções paisagísticas propostas para a cidade de Cergy-Pontoise. Detalhe da proposta para a interfase 
com o rio Olsen. Fonte: Desvigne (2009) ..................................................................................................................................................................................96
FIII-13: Parque do Flamengo, Rio de Janeiro. A criação de uma nova interface entre o mar e a cidade. Fonte: Instituto Moreira Salles................................97
FIII-14: Parque nas margens do Rio Gallego em Zuera, Espanha. Uma fronteira flutuante que incorpora os ritmos e variações da natureza. Arq. Iñaki 
Alday. Fonte: Balcells (2002) .....................................................................................................................................................................................................98
FIII-15: Field Operations. Projeto ganhador para Fresh Kills. O projeto concebido como matriz para processos. A estrutura da paisagem provê o supor-
te para que sementes, biota, pessoas e atividades possam colonizar o lugar no tempo. Fonte: www.nyc.gov ....................................................................100
FIII-16: Michel Desvigne. Naturezas intermédias. Projetos que permitem a ocupação flexível em situações de incerteza sobre a ocupação urbana. 
Bordeaux, margem direita. O parque é criado à medida que os terrenos são liberados. Lyon, proposta para a confluência dos rios Rohane e Soane, 
rejeita a ideia de um projeto totalizador e propõe um processo gradual de construção da cidade. Fonte: Desvigne (2009). ................................................103
FIII-17: François Xavier Mousquet. Projeto Lagunage de Harnes. Paisagens que incorporam serviços ambientais, a criação de novas ecologias e no-
vos tipos de espaço público. Fonte: Arq. Mousquet ...............................................................................................................................................................104
FIV-1: Plano de fundação da cidade de S. Felipe de Santiago na ilha de Cuba. Arquivo Geral das Índias, M e P. Sto Domingo, 119. OrdeM e caos. A 
regularidade da grelha inserida no meio da floresta desconhecida do novo mundo. Fonte: de Teran (1997) ........................................................................109
FIV-2: The Naked City. Illustration de l’hipotèse des plaques tournantes de Guy Debord 1957. Decomposição cartográfica e a geografia alternativa da 
deriva. Fonte : Vitruvius ..........................................................................................................................................................................................................109
FIV-3: Upside down map do artista uruguaio Joaquín Torres Garcia, desafiando as convenções cartográficas. “La escuela del sur”, foi um grupo de 
artistas latinoamericanos que proclamaram o seu lugar num mundo dominado pela cultura ocidental. Fonte: Harmon (2004) ............................................ 111
FIV-4: Los Angeles, Mario Gandelsonas. A escala colossal da grelha de uma milha, as montanhas e o oceano fazem o plano de Los Angeles compre-
ensível. Fonte: Gandelsonas (1999) ....................................................................................................................................................................................... 112
8Introdução
FIV-5: Los Angeles, Mario Gandelsonas: As diferentes grelhas urbanas e o bulevar Wilshire como um quebra-cabeças sobre o plano “real” da cidade. 
Fonte: Gandelsonas (1999) ..................................................................................................................................................................................................... 113
FIV-6: Los Angeles, Mario Gandelsonas: Descrição tipológica das diferentes paisagens urbanas ao longo do bulevar. Fonte: Gandelsonas (1999) .......... 113
FIV-7: Boston, Mario Gandelsonas. Num processo de decapagem (delayaring), o plano das ruas reais é abandonado e só os elementos estruturais 
são descritos. Fonte: Gandelsonas (1999) .............................................................................................................................................................................. 114
FIV- 8 e 9: Boston, Mario Gandelsonas. Uma outra decomposição do aparentemente caótico tecido urbano expõe as ruas radiais versus as ruas cir-
cunferenciais. A estrutura radio-concêntrica é a força que organiza os elementos urbanos de Boston. Fonte: Gandelsonas (1999).................................... 115
FIV-10: James Corner, The survey Landscape Accrued. As medidas da terra. A pesar da aplicação mecânica e repetitiva da divisão da terra, uma 
grande variedade na paisagem tem evoluído no tempo. Fonte: Corner e MacLean (1996) ................................................................................................... 116
FIV-11 e 12: James Corner, Long lots along the Mississippi River. Os rios se transformaram nas principais linhas de organização dos assentamentos. 
Democrático e equitativo, cada habitante recebe uma porção igual de frente de rio com solo baixo aluvial, e terra alta onde se recolher durante as 
inundações. Fonte: Corner e MacLean (1996) ........................................................................................................................................................................117
FIV-13: James Corner, Nahavo Spring-Line Fields. As medidas de adaptação. Pequenos canais e barragens captam e distribuem a pouca água que se 
infiltra de entre a escarpa de uma grande meseta. A água, cuidadosamente distribuída junto à parede do barranco que protege das geadas, permite o 
crescimento de um jardim verde no deserto. Fonte: Corner e MacLean (1996) ..................................................................................................................... 118
FIV- 14, 15 e 16: Alan Berger, Chicago. Indicadores entrópicos: geografia de espaços residuais. Gráfico de dispersão: afastandose do centro da cidade 
duas claras depressões na densidade populacional podem ser medidas. Quadro axial: desde 1977 o condado central de Chicago perdeu mais de 
4000 fábricas, o que representa 35%. O maior e sustetado crescimento fabril nesta região está localizado 30 a 50 milhas do centro da cidade. Fonte: 
Berger (2006) ..........................................................................................................................................................................................................................120
FIV-17, 18 e 19: Raoul Bunschoten. Linz, Quadro I The Echo Chamber com atores e agentes (letras) e lugares (números). Quadro II The Loom, e 
Quadro III The Agora. Fonte: Bunschoten (2001)....................................................................................................................................................................122
FIV-20 e 21: Mathur e da Cunha. Triangulating. Milhares de tanques. No território de Bangalore os tanques são uma forma de vida. Discretas linhas de 
montículos com comportas formam a paisagem. Mathur e da Cunha (2006) .........................................................................................................................126
FIV-22 e 23: Mathur e da Cunha. Botanizing. Rosqueadas em cordas, as flores têm uma segunda vida na cidade ao serem distribuídas em mercados, 
templos, casas e ao redor da cidade nos cabelos das mulheres. Produzidas em hectares e vendidas por quilo, as flores são menos para serem apre-
ciadas e mais para serem usadas em festivais e rituais. Fonte: Mathur e da Cunha (2006) ..................................................................................................127
FV-1 e 2: A metropolização do espaço. Rio de Janeiro e São Paulo, sistema integrado de áreas metropolitanas. Fonte: Elaborado pelo autor sobre 
base Google Maps ..................................................................................................................................................................................................................132
FV-3: Recorte de estudo: Baixada Fluminense. Fonte: Autor .................................................................................................................................................135
FV-4: Evolução da região metropolitana de Rio de Janeiro. Fonte: Elaborado pelo autor sobre base da Fundação Cide ....................................................136
FV-5: Relevo. Contrastes. O plano enquadrado e os fundos montanhosos. A planície salpicada por colinas. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base 
cartográfica da Fundação Cide. ..............................................................................................................................................................................................139
FV-6: Condições ambientais. A paisagem foi –e continua sendo- modelada por processos de erosão e deposição. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a 
base cartográfica da Fundação Cide. ......................................................................................................................................................................................141
FV-7: Cobertura vegetal. Um mosaico heterogêneo. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica da Fundação Cide. ........................................143
FV-8: Hidrografia. Descendo com força das serras e inundando a planície até alcançar a Baía. O amplo sistema de rios que atravessa a Baixada Flu-
minense é um dos elementos da paisagem que mais fortemente marcaram a construção de sua identidade. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base 
cartográfica da Fundação Cide. ..............................................................................................................................................................................................145
FV-9: Infra-estrutura e urbanização. Um contínuo urbano seguindo os eixos principais de conexão a São Paulo e Petrópolis. Fonte: Elaborado pelo 
autor sobre a base cartográfica da Fundação Cide. ...............................................................................................................................................................147
FV-10: Durante o século XVIII freguesias, portos e uns poucos caminhos se organizam em função do espaço fluvial. Mapa que compara as vantagens 
de uma saída alternativa do caminho de Minas para a Baía da Guanabara. Fonte: Arquivo Nacional ..................................................................................150
FV-11: Rios e Trilhos, a síntese do território nos finais do século XIX. Planta da Estrada de Ferro Rio d’ Ouro. 1897. Fonte: Arquivo Nacional ..................152
FV-12: Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense. Secagem dos brejais e canalização do rio da Prata. Fonte: Goes (1934) ................................154
FV-13: A malha de infraestruturas nos começos de século XX. Mapa das estradas de rodagem Rio- São Paulo e Rio- Petrópolis. Fonte: Arquivo 
Nacional ...................................................................................................................................................................................................................................156
FV-14: Nova Iguaçu em 1940: “Capital da citricultura do Estado do Rio de Janeiro”. Fonte: Correio de Manhã, Arquivo Nacional.......................................159
FV-15: Bases cartográficas. Nova Iguassu. Serviço Geográfico e Histórico do Exército, 1:10.000, 1939. Fonte: Arquivo Nacional ......................................160
FV-16: Reconstituição da ocupação em 1940. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica do Serviço Geográfico e Histórico do Exército .......161
FV-17: Bases cartográficas. Nova Iguassu e Duque de Caxias. Fundrem, 1:10.000, 1975. Fonte: Fundação Cide ..............................................................162
FV-18: Reconstituição da ocupação em 1975. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica da Fundrem ............................................................163
9Introdução
FV-19: Bases cartográficas. Fundação Cide Ortofoto. 1:10.000. Programa de Despoluição da Baía da Guanabara. Data do voo 2003. Fonte: Fundação 
Cide ........................................................................................................................................................................................................................................164
FV-20: Reconstituição da ocupação em 2003. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica da Fundação Cide ..................................................165
FV-21: Paisagem metropolitana. Vista da Baixada Fluminense desde a serra de Madureira.................................................................................................166
FVI-1: Relevo. O conjunto de morros baixos agrupados formando línguas entre os vales fluviais. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica 
da Fundação Cide. ..................................................................................................................................................................................................................169
FVI-2: Condições ambientais. Ao superpor as camadas das condiçõesgeológicas e da hidrografia os contrastes entre os leques fluviais e os grupos de 
morros se reforçam. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica da Fundação Cide. ..........................................................................................170
FVI-3: As águas reclamam espaços de inundação. Áreas afetadas na grande enchente de 1988. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica 
da Fundação Cide e da COPPE, Laboratorio de Hidrologia UFRJ. ........................................................................................................................................171
FVI-4: Um sistema integrado de infraestruturas duras (rodovias e ferrovias) e brandas (rios) forma a armadura de suporte do território. Como re-pensar 
a relação entre elas nos futuros planes de expansão do sistema rodoviário? 1. Via Expressa Presidente João Goulart, 2. Via Expressa planejada ao 
longo do rio Sarapuí, 3. Futuro Arco Rodoviário. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica da Fundação Cide. .............................................173
FVI-5: Footprint vazios. Fonte: Autor .......................................................................................................................................................................................175
FVI-6: Espaços livres e relevo. Se a lógica rural se distinguia pela divisão entre morar a meia encosta do morro, deixando os vales livres para a produ-
ção agrícola, os usos urbanos alteraram esta lógica dando prioridade à ocupação dos vales –pela facilidade de deitar as infraestruturas- para depois 
colonizar os morrotes de declividade suave. Fonte: Elaborado pelo autor sobre a base cartográfica da Fundação Cide. ....................................................176
FVI-7: Espaços livres e água. As várzeas e bordas de rios, a pesar de proteções legais, são vulneráveis à ocupação urbana. Fonte: Elaborado pelo 
autor sobre a base cartográfica da Fundação Cide. ...............................................................................................................................................................177
FVI-8: Ocupações e resistências. Tecido compacto, os vazios que restam. Campos de futebol (Mesquita), pista de aeroporto (Nova Iguaçu). Tecido em 
processo de consolidação, os vazios expectantes: áreas inundáveis (Belford Roxo), morros baixos (Queimados). Fonte: Serla (Inea) ..............................178
FVI-9: Cheios e vazios. Amostras de tecido urbano. Fonte: Autor ..........................................................................................................................................179
FVI-10: Inundações Belford Roxo 2009. Fonte: Divulgação Governo do Estado. ..................................................................................................................180
FVI-11: Pôlder do rio Outeiro, Belford Roxo. Forma elaborada / forma recebida (matriz). Fonte: Autor .................................................................................181
FVI-12: Comissão Federal de Saneamento da Baixada Fluminense.1a Seção Estudos. Bacia do Rio Sarapuhy. 1914. Fonte: Arquivo Nacional ................182
FVI-13: Ocupações informais nas margens do rio Sarapuí. Fonte: Serla (Inea) .....................................................................................................................182
FVI-14: Rio Sarapuí, 2010. Transformações: Em vermelho, superposto o trajeto segundo o levantamento de 1914. Fonte: Autor ....................................183
FVI-15: Rio Sarapuí, 2010. Oportunidades. Espaços livres remanescentes nas margens do rio. Fonte: Autor .....................................................................184
FVI-16: Barragem de Gericinó, Nilópolis. Fonte: Panoramio ..................................................................................................................................................185
FVI-17: Interfaces urbanas com os dispositivos hidráulicos. Barragem Gericinó. Forma construída / forma recebida (matriz) .............................................186
FVI-18: Mangue degradado na Baía de Guanabara. Fonte: Moscatelli ..................................................................................................................................187
FVI-19: Infraestruturas metropolitanas: BR-040. Fonte: Kamps (2003) ..................................................................................................................................187
FVI-20: Interfaces urbanas com a Baía da Guanabara. Forma construída / forma recebida (matriz) ....................................................................................188
FVI-21: Saibreiras abandonadas, Belford Roxo. Fonte: Katia Mansur ....................................................................................................................................189
FVI-22: Extrações, saibreira em atividade em Nova Iguaçu, na margem do rio Botas. Forma elaborada / forma recebida (matriz). Fonte: Autor ................190
FVI-23: Extrações. Canteira Nova Iguacu, areeiros Seropédica. Fonte: Google Maps ..........................................................................................................191
FVI-24 e 25: Lixão de Gramacho na foz do rio Sarapuí. Fonte: Moscatelli / flirc ....................................................................................................................192
10Introdução
Introdução 12
PARTE I 17
01.Cidade contemporânea 19
Paradoxos contemporâneos: urbanização e capacidades contestadas 19
O paradigma tecnológico ou o fim da cidade 21
A rede global ou a exclusão do local 23
O discurso genérico ou o fim da identidade 24
A forma da cidade contemporânea. Metrópoles, suburbanização e novas periferias 26
O paradigma americano 27
A cidade difusa europeia 29
Megalópoles latino-americanas. Do padrão periférico à dispersão 31
02.Sobre o Projeto Urbano 36
O ressurgimento internacional do projeto urbano 38
Desde o Sul: a experiência latino-americana 39
Taxonomia do projeto urbano na cidade latino-americana. Panorama de uma prática local 41
Projeto urbano: uma experiência. 41
Renovação de centros históricos/ patrimônio: a cidade herdada 41
Espaço Público / Cidadania: a cidade da democracia 43
Equipamentos sociais: a cidade da equidade 45
Vazios urbanos: a cidade pós-industrial 48
Mobilidade: a cidade dos fluxos 52
Urbanização de assentamentos informais: a não-cidade 55
Projeto urbano: o desafio da metrópole 58
Cidade fora, cidade dentro 67
03.Projeto Urbano na metrópole: a alternativa da paisagem 69
Urbanismo e paisagismo: sobreposições 70
A abordagem paisagística 71
Paisagem e cidade contemporânea 71
Sumário
11Introdução
A natureza da cidade 75
A questão ambiental 78
Urbanismo e ecologia 80
A questão operacional. Quatro categorias para a abordagem paisagística 84
Camadas: revelar o lugar. 
Ou como desconstruir a complexidade do território urbanizado 84
Espaços livres: a armadura da cidade 
Ou de como abordar a situação dispersa e fragmentada. 89
Fronteiras: o espaço das trocas 
Ou de como trabalhar entre cidade e natureza 95
Processos: trabalhando no tempo 
Ou como criar as condições para o futuro 101
04.Sobre os mapas 107
Mapas. Para além da representação 111
X-urbanismo e o texto urbano 111
As medidas da paisagem 115
Drosscape. As paisagens residuais 119
Urban Flotsam: agitando a cidade 122
Deccan Traverses 126
Descrever, revelar, uma forma de entender 128
PARTE II 
05.Rio de Janeiro: Explorações no subúrbio fluminense 131
Rio de Janeiro Metrópole 131
Baixada Fluminense, um recorte 134
A forma recebida 137
Relevo 137
Condições ambientais 138
Cobertura vegetal 142
Hidrologia 144
Infraestrutura e urbanização 146
A paisagem elaborada 149
De fluvio-vias, ferro-vias e rodo-vias 150
Do engenho ao subúrbio: a ocupação do solona Baixada Fluminense 157
06.A síntese, paisagem, matriz para urbanismo 167
Infraestruturas “duras” versus infraestruturas “brandas”. Camadas 167
Ocupações e resistências. O desvanecimento das áreas livres 174
Diques, barragens e pôlderes. Fronteiras da água 180
Extração e deposição, a geografia mutante da Baixada. Processos 191
07. Considerações finais 194
Referências 198
12Introdução
Introdução
A expansão rápida e sem limites das metrópoles latino-americanas é um fenômeno 
bem conhecido. No entanto, as grandes áreas espalhadas dos chamados subúrbios 
não têm recebido outra descrição senão aquela que as define segundo as deficiên-
cias em comparação com a cidade central consolidada. Reconhecido como um ter-
ritório caótico, desmembrado, sem estrutura nem qualidade, o espaço metropolitano 
é hoje um espaço dinâmico em permanente transformação, porém só considerado 
pelas suas carências. 
Este trabalho procura colaborar para uma outra leitura do espaço metropolitano, uma 
leitura que possa entender a sua especificidade territorial e espacial e permita for-
mular um outro projeto urbano. A paisagem será a lente através da qual abordar a 
complexidade espacial e as cartografias o instrumento para compreender a forma, 
a identidade e os processos que atravessam o território. O trabalho propõe estudar 
a relação dialética entre “espaço recebido” –a identidade natural- e “espaço cons-
truído” – a forma elaborada- (McHarg, 2000 [1969]) e desemaranhar as lógicas que 
formaram (e continuam formando) a paisagem, analisar a racionalidade e as contra-
dições dos processos que a constroem.
Parte-se da hipótese que a paisagem - algoritmo socioecológico que reflete, seja 
a intangibilidade da matriz biofísica, seja o tipo e grau das transformações que tem 
experimentado por efeito da ação humana1- tem a capacidade de outorgar uma ra-
cionalidade ao espaço metropolitano. Uma racionalidade que possa ser o marco, a 
guia para um projeto urbano renovado para a metrópole. 
As novas práticas que caracterizaram o urbanismo no final do século XX se distin-
guiram pela atenção dada –pelo menos nas cidades latino-americanas- ao espaço 
1_As diferentes abordagens sobre 
a definição do termo paisagem e 
os discursos em relação ao par 
cidade-natureza serão discutidos 
no capitulo 3. Tomamos empres-
tada para o avanço do trabalho a 
definição de paisagem de Ramon 
Folch: Área tal como la perciben los 
humanos, cuyo carácter resulta de 
la acción e interacción de factores 
naturales y antrópicos. Como 
sujeto universal, es el aspecto del 
territorio, un algoritmo sociológico 
que refleja bien sea la intangibilidad 
de la matriz biofísica, bien sea el 
tipo y grado de las transformacio-
nes que ha experimentado por 
efecto de la acción humana. Como 
entidad territorial concreta, es un 
mosaico en el que varios conjuntos 
de ecosistemas locales, o elemen-
tos paisajísticos, se reiteran, refle-
jos de sí mismos, en una escala de 
orden kilométrica. . Folch, Ramón, 
ed. (2003), El territorio como siste-
ma. Conceptos y herramientas de 
ordenación, Barcelona, Diputación 
Barcelona, p. 285
13Introdução
centro. Renovação de centros históricos, requalificação do espaço público, reincor-
poração de vazios urbanos, urbanização de assentamentos informais, entre outras, 
foram empresas iniciadas pelos poderes locais, muitas vezes com participação do 
capital privado. 
No livro “Sobre Urbanismo” (Pinheiro Machado, 2006), Nuno Portas reflete sobre 
a experiência do projeto urbano, tanto no contexto europeu como em países ditos 
periféricos, e discute os novos desafios de pesquisa e projeto. Coloca a questão da 
escala e abrangência dos projetos experimentados até o momento, diferenciando en-
tre uma primeira fase, nos anos 80-90, onde predominam as intervenções com foco 
no espaço público e na regeneração dos tecidos existentes, contra uma geração de 
projetos mais recentes, de maior dimensão e ambição programática, integrando pro-
gramas de acessibilidade, ambientais e paisagísticos de grande extensão. Enquanto 
a primeira geração de projetos funciona como alavanca para novas atividades produ-
tivas, de cultura e lazer, a segunda, atravessada por demandas de sustentabilidade, 
busca integrar as urbanizações e os vazios que erraticamente foram se misturando 
com áreas industriais e infraestruturas de mobilidade e logística nas áreas metropo-
litanas. Portas reclama a ausência de pesquisa e avaliação de projetos deste último 
tipo, tanto na América Latina como em Portugal, projetos que possam recuperar as 
espalhadas periferias, marcadas por conflitos ambientais e carências sociais, de in-
fraestrutura e de transporte [...], cuja prioridade social, mas também econômica pa-
recem indiscutíveis e, em termos de custos públicos, provavelmente tão exequíveis 
quanto os de maior visibilidade externa (Portas, 2006:63).
Na América Latina, depois do fracasso do planejamento normativo que caracterizou 
os anos 70, não voltaram a ocorrer programas de coordenação das ações e projetos 
de escala metropolitana. A herança dos últimos governos militares não logrou con-
trolar a crescente expansão dos tecidos informais nas periferias, mas deixou mar-
cas importantes com o desenvolvimento de infraestruturas de transporte de grande 
impacto. A democratização advogou pela descentralização conferindo primazia aos 
municípios nas decisões e ações sobre a cidade, privilegiando intervenções pontuais 
voltadas para o interior. 
Mas a renovação do projeto urbano para o espaço metropolitano não significa apenas 
um câmbio de escala ou a necessidade de coordenação de ações intermunicipais2. 
O pensamento sobre o urbano, portanto sobre o projeto, exige uma reflexão sobre 
a especificidade do território metropolitano. A gênese deste espaço e as particulares 
transformações que vem sofrendo suscitam questões em relação às ferramentas e 
2_ Um projeto metropolitano não 
necessariamente equivale a um 
projeto de grande escala. O projeto 
deve também compreender inter-
venções menores locais. Partimos 
da hipótese que um projeto metro-
politano articula diferentes escalas 
como ferramentas de investigação 
e desenho.
14Introdução
métodos de desenho urbano como foi entendido até hoje. A pergunta que norteia 
esta tese se articula em função do reconhecimento desta especificidade. Que tipo de 
projeto para esta nova realidade urbana? 
Enquanto abundam as pesquisas com base em dados sociais, sabemos muito pouco 
sobre a materialidade metropolitana. Os discursos acadêmicos sobre a metrópole se 
debruçam ora sobre a exclusão e fragmentação social que caracterizam as cidades 
latino-americanas, ora sobre os efeitos da globalização e suas novas manifestações 
no território - os chamados aparatos da globalização (shoppings, complexos de escri-
tório e bairros fechados) (De Mattos, 2004). A inexistência de uma pesquisa voltada 
para a compreensão de sua espacialidade integrada e de formulação de um projeto 
possível revela um vazio que esta investigação pretende explorar.
A leitura do espaço metropolitano a partir de uma abordagem paisagística não pre-
tende ser setorial nem evadir a complexidade social e política própria às metrópo-
les latino-americanas. Oferece-se como uma alternativa que venha enriquecer e 
complementar as abundantes investigações focadas no conflito e na fratura social. 
Diferencia-se no sentido de ser propositiva e de salientar não só as deficiências, mas 
principalmente as potencialidades. 
Escolheu-se para trabalhar uma porção da área metropolitana do Rio de Janeiro. 
Trata-se do território da Baixada Fluminense, uma região ao norte da capital que se 
espalha entre uma hidrologicamente frágil planície de inundação e pequenos morros. 
Território rural durante o século XIX, a Baixada cresceuexponencialmente com a 
expansão do Rio de Janeiro na segunda metade do século XX, sendo uma área de 
grandes carências sociais e conflitos ambientais. Algumas transformações em curso 
e investimentos planejados trazem novos desafios a este território urbano. 
Metodologicamente o trabalho se aproxima da complexidade do território metropoli-
tano através de uma pesquisa cartográfica. Descrição, representação e projeção são 
entendidas como operações dialeticamente relacionadas. Os mapas são concebidos 
como ferramentas para decompor o território e torná-lo legível. Eles se constituem 
em instrumentos reveladores de projetos possíveis, sendo a descrição mediadora 
entre o espaço substrato –o mileu mesmo- e o espaço projeto. 
Para o seu desenvolvimento utilizaram-se uma variedade de fontes e recursos. Visi-
tas a campo, percursos a pé, em trem ou de carro buscaram combinar as percepções 
“desde baixo” com as “visões panópticas” oferecidas pelas imagens aéreas e os 
15Introdução
mapas tradicionais. As pesquisas históricas de relatos, iconografias e cartografias 
permitiram revelar as forças envolvidas na construção do território no tempo. 
O trabalho se organiza em sete capítulos, agrupados em duas partes. A primeira 
concentra as discussões teóricas e metodológicas enquanto a segunda –predomi-
nantemente gráfica- traz o estudo de caso. 
O primeiro capítulo apresenta a constelação de ideias em torno da cidade contempo-
rânea e a chamada crise urbana, as dificuldades para pensá-la e interpretá-la. Dis-
cute as expressões formais da cidade contemporânea, comparando a cidade difusa 
europeia e edge-cities norte-americanas com as megalópoles latino-americanas.
O segundo capítulo reflete sobre o mundo da ação tecendo um panorama do urba-
nismo contemporâneo como prática. Parte de uma visão retrospectiva -como tem se 
desenvolvido recentemente- para uma análise prospectiva -quais os desafios por en-
frentar. Através da descrição de casos, explora a experiência recente no âmbito das 
intervenções urbanas nas cidades latino-americanas. Busca determinar as famílias 
de projetos, os temas que abordaram os programas dominantes e os locais e escalas 
de intervenção para, em seguida, discutir os desafios da metrópole. 
O terceiro capítulo examina a capacidade da abordagem paisagística como alternati-
va na hora de pensar o projeto urbanístico fora da cidade central consolidada, no es-
paço desarticulado da periferia metropolitana. Discutem-se os fundamentos teórico-
metodológicos que dão sentido a esta hipótese. Procura-se entender as condições 
nas quais esta abordagem surge, as contribuições de outras disciplinas e destilar, 
através de alguns exemplos, o seu vocabulário. Como resultado quatro categorias 
são propostas como dispositivos operacionais. Camadas, ou como desemaranhar a 
complexidade do território urbanizado, supõe decompor o território em capas, isolá-
las, perceber a lógica da cada uma em particular e em relação com outras camadas. 
Vazios aponta para os espaços não construídos e explora o potencial das áreas li-
vres para conferir inteligibilidade à cidade dispersa e fragmentada. Fronteiras implica 
resgatar os espaços de mediação entre cidade e natureza. Por último, Processos 
objetiva instaurar uma visão do lugar e do projeto como processos mais do que como 
objetos, trabalhando no tempo e criando as condições para o futuro.
O quarto capítulo versa sobre aspectos metodológicos que ligam a paisagem a pro-
cessos de descrição do território. Este capítulo se propõe investigar como é que 
descrição, representação e projeção estão dialeticamente relacionadas; e portanto 
como, através da construção e deconstrução de novas cartografias, poderemos en-
16Introdução
tender, descobrir, desemaranhar as lógicas que dão forma ao território. Intentaremos, 
também, demonstrar como essa descoberta contida no processo mesmo de mape-
amento pode revelar a chave de intervenção nele e englobar a possibilidade de um 
outro projeto urbano.
Na segunda parte, e sobre a base dos pressupostos teóricos tratados anteriormente, 
é desenvolvida a pesquisa cartográfica. Antes que impor um projeto idealizado des-
de o topo, o mapeamento visa encontrar e desvelar as forças latentes e complexas 
do território. O mapa é utilizado como meio de “encontrar” e depois “fundar” novos 
projetos, efetivamente, retrabalhando o que já existe (Corner, 2002). Várias escalas 
são exploradas, cada uma revelando coisas diferentes, ao mesmo tempo em que 
vinculadas entre si. 
No capítulo cinco o foco centra-se na relação dialética entre a matriz biofísica, o 
suporte ou campo, -o que McHarg chama de espaço “recebido”- e as transformações 
sofridas no tempo –o espaço construído. São estudadas as condições físicas (relevo, 
hidrografia, geologia, cobertura vegetal, etc.) superpostas e inter-relacionadas com 
as ações do homem. Dois aspectos são destacados: as infraestruturas que serviram 
de ossatura ao território e a mudança dos usos que modificaram a paisagem no tem-
po. Os mapas históricos são entendidos como dispositivos que revelam uma forma 
específica de visão e de representação do território e uma ferramenta de pesquisa.
O sexto capítulo aplica as categorias operacionais discutidas no capitulo três como 
filtros para explorar as possibilidades de uma abordagem paisagística na formulação 
de um projeto urbano para a periferia metropolitana. Um conjunto de amostras de 
tecido evidencia situações específicas nas quais as mediações entre a matriz biofísi-
ca e o tecido construído adquirem expressões particulares. As perguntas levantadas 
convidam a repensar a construção do território sob uma outra racionalidade, que 
surge da lógica da paisagem.
O último capítulo, reservado às conclusões, faz uma síntese dos temas tratados e 
reflete sobre as respostas encontradas para as hipóteses colocadas no início. O tra-
balho não pretende propor um projeto, mas sim demonstrar a sua possibilidade, abrir 
caminho para a agenda de um novo tipo de projeto urbano para a metrópole. 
17Cidade contemporânea
PARTE I
18Cidade contemporânea
“Para el que mira sin ver, la tierra es tierra nomás”
Atahualpa Yupanqui
19Cidade contemporânea
01.Cidade contemporânea
Paradoxos contemporâneos: urbanização e capacidades contestadas 
Vivemos num mundo cada vez mais urbano, o século que acaba de terminar foi o 
grande século da urbanização. No seu início existiam no planeta apenas 16 cidades 
que alcançavam um milhão de habitantes, 7% da população mundial era considerada 
urbana. Hoje, mais de 500 cidades superam um milhão (um número que está cons-
tantemente mudando) e quase a metade da população do planeta vive em zonas 
urbanas (Harvey, 2002).
O processo não tem sido homogêneo, nem temporal nem geograficamente. Na ver-
dade, foi na segunda metade do século, e mais especialmente nos últimos três decê-
nios que os processos de urbanização e as mudanças se aceleraram marcadamente. 
Se, até 1950, os maiores conjuntos urbanos se encontravam no mundo chamado 
“desenvolvido”; sendo Londres e Nova York as únicas metrópoles que alcançavam 
os oito milhões de habitantes; hoje o booming das megalópoles e os mais chamativos 
fenômenos urbanos acontecem mormente em países pobres ou em vias de desen-
volvimento (Boeri, 2000). 
Paradoxalmente, enquanto o planeta se urbaniza, a própria cidade como artefato 
e como ideia parece cada vez mais difícil de ser apreendida. As transformações 
têm se produzido de uma forma e a uma velocidade nunca antes vistas, a ponto de 
colocar em crise o poder de intervenção de arquitetos e urbanistas. 
Rem Koolhaas, um dos mais provocadores arquitetos contemporâneos, não sem 
pouco pessimismo, assinala frente ao rápido crescimento das cidades asiáticas:
Este primeiro capítulobusca inserir a tese no contexto das discussões teóricas em torno da cidade 
contemporânea. Serão discutidos os processos que contestam a forma como a cidade é apreendida, 
conceitualizada e representada, e os resultados e efeitos concretos destes processos novos nas con-
figurações urbanas. 
20Cidade contemporânea
1_A ausência, por um lado, de 
doutrinas plausíveis e universais, 
e a presença por outro, de uma 
intensidade de produção sem pre-
cedentes, têm criado uma condição 
única e chave: o fenômeno urbano 
parece ser cada vez menos com-
preendido à medida que atinge a 
sua apoteose. (Tradução do autor) 
2_ Segundo Ignasi de Sola Mora-
les, a percepção é um fenômeno 
cultural, portanto a representação 
está ligada aos valores culturais de 
uma sociedade. 
3_Em uma situação de contínua 
construção, destruição, de perma-
nente crescimento e renovação, de 
mutação e obsolescência a condi-
ção casual, imprevisível da cidade 
se converte em seu verdadeiro 
modo de exposição. A cidade atual 
se apropria de sua energia, de 
seus conflitos sociais, geológicos e 
ambientais aceitando com fatalismo 
conviver com eles. (Tradução do 
autor)
The absence, on the one hand, of plausible, universal doctrines, 
and the presence, on the other, of an unprecedented intensity of 
new production, create a unique wrenching condition: the urban 
condition seems to be least understood at the moment of of its very 
apotheosis (Koolhaas, 2001:27)1.
Mutações: novas metáforas, novas leituras do espaço urbano
Os instrumentos analíticos e descritivos tradicionais se tornam obsoletos frente a 
uma realidade urbana sem precedentes na história da cidade. As antigas metáforas 
que serviam para compreender e concebê-la, como a metáfora do corpo humano ou 
a da cidade como máquina, derivadas de uma racionalidade euclidiana, já não são 
capazes de abranger e explicar a complexidade da “cidade” contemporânea (Amén-
dola, 2000). Emprestados das ciências naturais, da física e das teorias mais recentes 
em torno do “caos”, conceitos como fractais, entropia, fluxos, entre outros, são trasla-
dados ao âmbito urbano outorgando uma racionalidade diferente às transformações 
de uma paisagem que já não se concebe como unitária senão como um arquipélago 
de fragmentos sem ordem aparente (Garcia Vázques, 2004).
Porém, a crise da representação, e portanto da projeção da cidade, denota mudanças 
não só na estrutura física dela, mas fundamentalmente uma mudança cultural que 
está relacionada com o modo de olhar e projetar os valores que uma sociedade esta-
belece num determinado momento histórico 2. Complexidade, conflito, multiplicidade 
e diversidade são hoje conceitos resgatados e valorizados no espaço urbano em 
oposição ao paradigma moderno de um habitat universal, controlado e homogêneo. 
Em oposição à ideia dos urbanistas da primeira metade do século XX , a cidade atual 
é concebida como ingovernável. Têm-se abandonado os projetos totalizadores e de 
plena confiança na racionalidade técnica da planificação que previa o controle e a 
transformação da cidade no longo prazo. Os câmbios são súbitos, a cidade parece se 
metamorfosear para além de nossa capacidade de controlá-la. A condição mutável 
se transforma em sua própria identidade. 
En una situación de continua construcción y destrucción, de per-
manente crecimiento y renovación, de mutación y obsolescencia 
la condición casual imprevisible de la ciudad se convierte en su 
verdadero modo de exposición. La ciudad actual se apropia de 
su energía pero también de sus conflictos sociales, geológicos 
y ambientales, aceptando con fatalismo convivir con ellos. (Sola 
Morales, 2002:157)3.
21Cidade contemporânea
Cidade global, cidade difusa, cidade em rede, cidade dual, cidade fractal, cidade 
genérica são algumas das categorias que mostram a heterogeneidade das teorias 
que tentam explicar as novas configurações espaciais e sociais do espaço que ha-
bitamos. A diversidade de interpretações retrata a ausência de um metarrelato unifi-
cado, substituído por uma possível coexistência de interpretações diferentes sobre 
o fenômeno urbano. 
 
Não obstante, apesar da diversidade de neologismos para denominar a cidade do 
século XXI, a maioria dos autores contemporâneos parecem coincidir quando apon-
tam os processos ligados à chamada “globalização” como fatores determinantes das 
mudanças no espaço urbano e no território. Estes processos, que não são novos, 
estariam acontecendo de uma nova maneira fundamentalmente por duas causas 
principais: a) o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, b) a liberali-
zação dos mercados e financeirização da economia mundial. 
O paradigma tecnológico ou o fim da cidade
As maiores ondas de inovação que vêm transformando o mundo desde o século XVI 
têm ocorrido ao redor de revoluções nos transportes e nas comunicações (Harvey, 
2002). Não é de surpreender que os grandes câmbios que estamos experimentando 
no seio da sociedade e na sua expressão no espaço e no território estejam vincula-
dos aos avanços nas tecnologias de comunicação. Elas transformaram radicalmente 
a relação entre tempo e espaço. 
Além das posturas, das denominações e discussões a respeito da modernidade/ 
pós-modernidade, o certo é que muitos autores reconhecem que é esta mutação na 
relação entre tempo e espaço que notadamente caracteriza o momento que atra-
vessamos. Zigmunt Bauman encontra na metáfora dos fluidos a via para descrever 
a natureza leve da modernidade presente, onde evidenciamos uma supremacia do 
tempo em detrimento do espaço. 
Segundo o autor, a modernidade é o tempo em que o tempo não tem história. Ela se 
instala quando espaço e tempo são separados e teorizados como categorias diferen-
tes e independentes. Na pré-história do tempo, longe e tarde, perto e cedo significa-
vam o mesmo, havia uma correspondência entre tempo e espaço determinada pelo 
wetware, a força dos músculos do homem ou os animais para percorrer distâncias. 
Continuando seu raciocínio, ele diz que a história do tempo principia quando o ho-
mem cria os dispositivos mecânicos que permitem manipulá-lo. A velocidade do mo-
vimento através do espaço transforma-se numa questão de hardware que o engenho 
22Cidade contemporânea
e a capacidade humana podem superar. A partir desse momento o tempo moderno 
se converte na arma de conquista do espaço. No par espaço-tempo, o espaço é o 
componente sólido, estável e defensivo, enquanto o tempo é o lado dinâmico, ativo 
e ofensivo. Na era da modernidade pesada, da conquista territorial, maior é melhor, 
tamanho é poder, volume é êxito. 
De acordo com Bauman o que está acontecendo neste momento é que o esforço 
para acelerar a velocidade do movimento chegou a seu limite natural: o tempo se 
reduziu à instantaneidade. No universo do software, da viagem à velocidade da luz, o 
espaço pode ser atravessado em tempo nenhum. A quase instantaneidade do tempo 
anuncia a desvalorização do espaço. Agora é o menor, o mais leve e mais portátil que 
representam melhoria e progresso (Bauman, 2001).
A crescente mobilidade, em combinação com o desenvolvimento das tecnologias 
de comunicação, anuncia para alguns a morte da cidade. A possibilidade de estar 
“conectado” em tempo real com qualquer lugar do planeta cancela, em teoria, a de-
pendência entre o sujeito, as atividades e a especificidade do lugar. Trata-se da des-
valorização do espaço assinalada por Bauman. Já não importa a localização senão 
a conexão. A interconectividade entre os lugares modifica os padrões espaciais de 
comportamento em uma rede fluida de intercâmbios que constitui a base para o sur-
gimento de um novo espaço, o espaço de fluxos. 
O desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação tem gerado mudanças 
importantesem nossas atividades cotidianas, em nossa relação com o trabalho, o 
entretenimento, o consumo, o intercâmbio social. 
Entretanto, como vem sendo demonstrado pelas pesquisas de autores como Cas-
tells, as relações entre tecnologia, espaço e sociedade são muito mais complexas 
e escapam aos determinismos tecnológicos. As profecias do fim da cidade não têm 
se cumprido, pelo contrário, intercâmbios mais intensos e a maior mobilidade têm 
forçado a singularidade dos espaços fixos:
pois locais de trabalho, escolas, complexos médicos, postos de 
atendimento ao consumidor, áreas recreativas, ruas comerciais, 
shopping centers, estádios de esportes e parques ainda existem 
e continuarão existindo. E as pessoas deslocar-se-ão entre todos 
esses lugares com mobilidade crescente, exatamente devido a 
flexibilidade recém conquistada pelos sistemas de trabalho e inte-
gração social em redes: como o tempo fica mais flexível os lugares 
23Cidade contemporânea
tornam-se mais singulares à medida que as pessoas circulam entre 
eles em um padrão cada vez mais móvel (Castells, 2002:487). 
Isto não significa, porém, que as cidades não tenham mudado sua configuração. Elas 
estão testemunhando transformações na estrutura física e em seu funcionamento, 
sobretudo nas formas de relacionamento entre cidades conectadas globalmente em 
novas redes. 
A rede global ou a exclusão do local
Dispersão/centralização, territorialização/desterritorialização. Se, por um lado, as no-
vas tecnologias e a mundialização da economia anunciam a quebra das barreiras 
espaciais para dar lugar à dispersão territorial das funções de produção e consumo 
da indústria e de serviços, ao mesmo tempo isto só acontece através do estabeleci-
mento de lugares fixos.
As novas tecnologias de produção modificam a lógica de localização da indústria 
e facultam a sua distribuição geográfica segundo a conveniência econômica ou as 
capacidades da mão de obra de seus componentes produtivos. Mesmo assim, as 
funções de comando são realizadas desde poucas cidades que concentram o poder. 
Essas cidades, que Saskia Sassen (Sassen, 1999) denomina cidades globais, se 
distinguem por abrigar as atividades terciárias de alto padrão, corporações e bancos 
internacionais, como também uma ampla gama de serviços avançados: assessora-
mento legal e financeiro, inovação, desenvolvimento, desenho, administração, tecno-
logia de produção, transportes, comunicações, seguridade, publicidade, marketing, 
etc. Ao mesmo tempo, elas oferecem também os equipamentos culturais, de ócio e 
de consumo para um grupo exigente de elites gerenciais. 
Uma nova configuração espacial mundial estaria definida assim por um sistema de 
cidades globais, onde os centros de comando estão vinculados entre si por redes de 
comunicação e transporte (hubs and networks).
Contudo, como toda inovação, os processos globais de modernização são também 
destrutivos, e a conectividade com a rede global parece acontecer de mãos dadas 
com a exclusão do local e a dualização social. 
Esta parece ser a peculiaridade que distingue as megacidades como nova configura-
ção urbana da globalização. Elas concentram altos níveis de segregação e exclusão. 
Como assinala Castells, o mais significativo é que elas estão conectadas externa-
24Cidade contemporânea
mente a redes globais, embora internamente desconectadas das populações locais 
(Castells 2002).
Cidade dual é o termo criado para descrever essa polarização social crescente na 
metrópole contemporânea. Alguns autores (Castells, 1995; Sassen, 2000) reconhe-
cem esta característica como resultante das mudanças nas estruturas laborais. Por 
um lado, a deterioração do emprego, a ausência de segurança laboral, o trabalho em 
tempo parcial, subcontratado e informal. Por outro, a demanda por profissionais alta-
mente qualificados, remunerados pelas companhias multinacionais (white collar), e 
de um setor de serviços de salário baixo, coberto pelas camadas sociais mais pobres 
e marginais. Nesse sentido esta dependência parece indicar que a declividade social, 
de um indicativo da deterioração, passou a um complemento do desenvolvimento 
(Garcia Vazquez, 2004).
Outros autores consideram que a evolução é para uma cena mais complexa e frag-
mentada que a do esquema bipolar da dualização, e identificam a grande metrópole 
pós-fordista como uma cidade fractal ou como uma cidade organizada em múltiplos 
planos, superpostos no tempo e no espaço (layered city, hypercity) 4.
A tendência predominante é para um horizonte de espaço de fluxos 
a-histórico em rede, visando sua lógica nos lugares segmentados 
e espalhados, cada vez menos relacionados uns com os outros, 
cada vez menos capazes de compartilhar códigos culturais. A me-
nos que, deliberadamente, se construam pontes culturais, políticas 
e físicas entre essas duas formas de espaço, poderemos estar 
rumando para a vida em universos paralelos cujos tempos não 
conseguem encontrar-se porque são trabalhados em diferentes 
dimensões de um hiperespaço social (Castells, 2002:518).
O discurso genérico ou o fim da identidade
Outra das mudanças que estão atravessando as cidades diz respeito à homogenei-
zação da paisagem urbana. Ao mesmo tempo em que as cidades intensificam seus 
intercâmbios globais e as empresas multinacionais se instalam nelas, as arquiteturas 
e as paisagens urbanas tornam-se cada vez mais iguais: shopping malls, torres de 
oficinas anódinas, infraestruturas, vivendas parecem tiradas de um catálogo global 
da cidade pós-moderna.
Marc Augé definiu uma nova categoria para se referir a esses lugares carentes de 
identidade e história que se repetem indistintamente no contexto. Denomina-os “não-
lugares”:
4_ Mattos (2002) resume assim as 
teorias de Edward Soja e Marcuse 
e Van Kempen. 
25Cidade contemporânea
El no-lugar es un espacio sin carácter, sin relación y sin historia, es 
la negación del lugar antropológico tradicional. Los hospitales, los 
aeropuertos, las autopistas, los hoteles, los medios de transporte, 
etc., en todos estos espacios característicos de la ciudad contem-
poránea prima el anonimato, la soledad, lo efímero, en todos ellos 
el relato histórico es inviable, ya que su esencia es el desarraigo. 
(Augé apud Garcia Vazques, 2004:197)5.
Esta se afigura uma realidade que acontece em tal escala, que para alguns autores 
significa não mais um problema, mas uma liberação do “corselete” da identidade. 
Rem Koolhaas tem provocativamente invertido as preocupações do urbanismo com 
a busca do sentido do lugar e a relação com a história. Fazendo quase uma apologia 
do pragmatismo com que a cidade contemporânea é construída, celebra a cidade 
genérica que surge da nova tabula rasa: 
La Ciudad Genérica es la ciudad liberada de la cautividad del cen-
tro, del corsé de la identidad. La Ciudad Genérica rompe con ese 
ciclo destructivo de la dependencia: no es más que un reflejo de la 
necesidad actual y la capacidad actual. Es la ciudad sin historia. Es 
suficientemente grande para todo el mundo. Es fácil. No necesita 
mantenimiento. Si se queda demasiado pequeña, simplemente 
se expande. Si se queda vieja, simplemente se autodestruye y se 
renueva. Es igual de emocionante –o poco emocionante- en todas 
partes. Es superficial: al igual que un estudio de Hollywood, puede 
producir una nueva identidad cada lunes por la mañana (Koolhaas, 
2006:12)6.
5_O não-lugar é um espaço sem 
caráter, sem relação e sem história, 
é a negação do lugar antropológico 
tradicional. Hospitais, aeroportos, 
autopistas, hotéis, meios de 
transporte, etc., em todos esses 
espaços característicos da cidade 
contemporânea prima o anonimato, 
a solidão, o efêmero, em todos 
eles o relato histórico é inviável já 
que sua essênciaé o desarraigo. 
(Tradução do autor)
6_A Cidade Genérica é a cidade 
liberada do cativeiro do centro, da 
camisa-de-força da identidade. A 
Cidade Genérica quebra com esse 
ciclo destrutivo de dependência: 
ela não é nada além de um reflexo 
da necessidade e capacidade 
presentes. É a cidade sem historia. 
É suficientemente grande para 
tudo mundo. É fácil. Não necessita 
manutenção. Se ficar demasiado 
pequena, simplesmente se expan-
de. Se ficar velha, simplesmente 
se autodestrói e se renova. É igual-
mente estimulante e desestimulan-
te em qualquer lugar. É ‘superficial’ 
– como um estúdio hollywoodiano, 
pode produzir uma nova identidade 
a cada manhã de segunda-feira. 
(Tradução do autor)
26Cidade contemporânea
A forma da cidade contemporânea. Metrópoles, suburbanização e novas 
periferias 
Mas qual é a forma dessa cidade emergente que funciona conectada globalmente 
em rede e onde a velocidade dos câmbios parece ser a constante? Quais as carac-
terísticas da nova forma urbana?
A mesma dialética de centralização/dispersão que observamos na dinâmica global 
está presente nos processos contemporâneos que definem a morfologia da metrópo-
le. A passagem para uma economia pós-fordista, mudanças drásticas na produção 
industrial e nas relações comerciais, intensificação dos mercados internacionais, e 
em termos gerais o que tem se chamado de “globalização”, têm se associado às 
transformações espaciais da cidade contemporânea. A crescente mobilidade indi-
vidual e o desenvolvimento de tecnologias de comunicação puseram em xeque o 
conceito de cidade compacta. O resultado é a emergência de novas configurações 
territoriais determinadas pela extensão de um tecido difuso onde já não é possível 
diferenciar campo de cidade.
O modelo parece apontar a consolidação de uma cidade difusa, policêntrica. A 
clássica divisão entre centro/periferia não representa mais a realidade espacial. A 
cidade contemporânea já não tem um centro, mas múltiplos centros espalhados num 
sistema reticular e não- hierárquico. 
Fenómenos de desterritorialización combinados con potentes 
sistemas de flujos forman una estructura espacial inédita en las 
formas urbanas anteriores. La metrópoli se extiende en galaxias 
difusas que habrá que considerar en función del tipo de relaciones 
que queremos detectar. No hay centro sino multiplicidad de cen-
tros. No hay zonificación de funciones sino, a menudo, una alta 
especialización funcional combinada con una permanente mixtura 
de actividades. Los espacios de conexión, vías, transporte, puntos 
de intercambio e intercambio telemático son, en cierto sentido, los 
verdaderos soportes de la identidad metropolitana (Sola Morales, 
2002:71)7.
Ignasi de Sola Morales talvez seja um dos teóricos que mais tem trazido aportes para 
uma compreensão da cidade contemporânea sem cair em nostalgias historicistas ou 
apologias do caos. Em Presente y futuros. Arquitectura en la ciudad8, um texto que 
se transformou em um clássico da cultura arquitetônica, procura ordenar e sintetizar 
os rasgos essenciais da nova situação urbana através de cinco conceitos. Mutações, 
fluxos, habitações, contêineres e terrain vague são as categorias arquitetônicas, 
7_Fenômenos de desterritoriali-
zação combinados com potentes 
sistemas de fluxos formam uma 
estrutura espacial inédita nas 
formas urbanas anteriores. A 
metrópole se estende em galáxias 
difusas que terá que considerar 
em função do tipo de relações que 
queremos detectar. Não há centro, 
mas multiplicidade de centros. Não 
há zonificação de funções mas 
muitas vezes uma alta especializa-
ção funcional combinada com uma 
permanente mistura de atividades. 
Os espaços de conexão, vias, 
transporte, pontos de intercâmbio 
e intercâmbio telemático são os 
verdadeiros suportes da identidade 
metropolitana. (Tradução do autor) 
8_ Foi o texto oficial em torno do 
qual foi organizado o Congresso da 
UIA, União Internacional de Arqui-
tetos, em Barcelona em 1996. 
27Cidade contemporânea
mas também culturais propostas para explorar a nova cena urbana. São concebidas 
como plataformas desde as quais ver, entender, problematizar e julgar a complexa 
rede de inteirações no interior da qual a arquitetura tem que encontrar seu lugar e 
capacidade.
Todas as categorias enunciadas revelam princípios da mudança dos paradigmas mo-
dernos, processos demasiado evidentes, de acordo com Morales, para voltar a vista 
atrás: da transformação evolutiva do planejamento para a mutação repentina; da 
visão funcionalista do movimento para os fluxos como substância mesma do projeto; 
da residência como preocupação pública para a despreocupação pela residência; do 
existenzminimum para os novos templos de rituais de consumo; do museu para a 
ausência e a indefinição como experiência da memória.
Para o crítico catalão, aeroportos, malls comerciais, áreas esportivas, parques temá-
ticos, centros de intercâmbio de transporte, centros de negócios, etc. são os novos 
geradores de atividade urbana, em torno dos quais a forma da cidade parece fazer-
se plástica e maleável (Sola Morales, 2002).
O paradigma americano
Mesmo sendo um fenômeno que se reconhece “globalmente”, as expressões da cida-
de contemporânea têm variações regionais particulares, segundo contextos sociopo-
líticos, diferenças geográficas e tradições urbanas. Uma imensa literatura acadêmica 
tem se produzido em relação à transformação das cidades nos EEUU, com especial 
atenção à cidade de Los Angeles como paradigma dos processos pós-modernos 
FI-1: Buenos Aires. Infra-estruturas 
e novos aparatos da globalização. 
Fonte: Revista SCA 194
28Cidade contemporânea
de urbanização: um manto horizontal de residências sem um centro diferenciado, 
uma extensa rede de rodovias e uma marcada dependência do carro, mas também 
segregação, espaço público vigiado, multirracialidade, conflitos urbanos, etc. (Davis, 
1998; Fulton, 1997; Soja, 2008).
Edge cities, cidades viradas inside-out, pós-subúrbio são termos que apontam para 
uma transformação tanto do centro como do clássico subúrbio americano e anun-
ciam o fim da era da metrópole moderna (Soja, 2008). A configuração dualizada 
distintiva entre um centro concentrador de funções financeiras, governamentais e 
de serviços e uma periferia suburbana, basicamente residencial e habitada por uma 
classe média aburguesada, já não representa a realidade americana. A antiga di-
visão regida por raça e classe é hoje um caleidoscópio mais complexo de grupos 
sociais, e as formas de vida diferenciadas – vida urbana versus suburbana- estariam 
se tornando ubíquas.
Segundo Garreau (1991), a expansão suburbana não tem mais nada de “sub”, já 
que podemos considerar agora, de forma inversa, a cidade tradicional subordina-
da à expansão suburbana. O jornalista americano tem chamado a atenção para as 
urbanizações novas que concentram espaços de trabalho, corporações e comércio 
nas periferias das grandes cidades americanas e que tem batizado como Edge Ci-
ties9. Estas áreas de formação recente (nada existia ali 30 anos atrás) representam 
para Garreau a conquista de uma nova fronteira, seguindo os deslocamentos fora 
da cidade central da residência (sprawl dos anos 50) e do mercado (shopping mall a 
partir dos anos 70). Como contraponto, muitos centros urbanos estariam perdendo 
atratividade e se esvaziando, até o extremo de cidades como Houston, denominada 
de “donat city” por se distinguir formalmente por um core que se desmancha e um 
anel periférico – em torno dos anéis rodoviários- que se densifica. 
Estes processos opostos de descentralização, recentralização, desterritorialização e 
reterritorialização, expansão horizontal e intensa nuclearização estariam modelando 
assim uma nova paisagem (pós)metropolitana. Soja

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