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Monografia: Estupro Marital: o Inimigo Silencioso

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UNIRV – UNIVERSIDADE DE RIO VERDE
CAMPUS CAIAPÔNIA
FACULDADE DE DIREITO
ESTUPRO MARITAL: O INIMIGO SILENCIOSO
LAIANE NUNES DO NASCIMENTO
Orientador: Profº. Esp. LEONARDO COUTO VILELA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Direito da UniRV – Universidade de Rio Verde – Campus Caiapônia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
CAIAPÔNIA – GOIÁS
2015�
UNIRV – UNIVERSIDADE DE RIO VERDE
		CAMPUSCAIAPÔNIA
FACULDADE DE DIREITO
ESTUPRO MARITAL: O INIMIGO SILENCIOSO
LAIANE NUNES DO NASCIMENTO
Orientador: Prof.ª Esp. LEONARDO COUTO VILELA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Direito da UniRV – Universidade de Rio Verde – Campus Caiapônia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
CAIAPÔNIA – GOIÁS
2015�
FOLHA DE APROVAÇÃO�
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente а Deus, pelo fato de ser essencial еm minha vida, autor do mеu destino, mеu guia, socorro presente nos momentos de angústia, аоs mеus queridos pais, Natanael Nunes do Nascimento e Terezinha E. Rodrigues Nunes pelo carinho e incentivo e ao meu amado esposo Elmis Alves dos Santos, companheiro de todas as horas.�
AGRADECIMENTOS 
Ao nosso grandioso e bondoso Deus, que é o alfa e o ômega, Supremo, Onipotente, Criador do Universo, ser intangível com personalidade justa e divina, que me concedeu graça, sabedoria e disponibilidade para administrar melhor meu tempo para concluir mais esta graduação.
Ao meu esposo, que sempre me apoiou para concluir esta longa jornada, ele que é um anjo que Deus colocou em minha vida.
Aos meus pais que são os meus maiores exemplos, alicerce e orgulho, pelo incentivo, dedicação, apoio e aos quais devo a minha própria vida e que sempre oram em meu favor. 
Ao meu Orientador Prof.º Esp., Leonardo Couto Vilela, que não economizou esforços ao me orientar, respeitando minhas opiniões a cerca do tema e me amparando no trajeto deste caminho.
Ao Prof.º Esp., João Paulo Lopes Cáceres pelo interesse, disposição e sugestão na elaboração do projeto para este trabalho final.
À Prof.ª Lisle Andrea de Jesus Silva Menezes que com muito carinho esteve-me amparando pelo caminho quando necessário e demonstrando uma grande sabedoria para ensinar de forma espontânea. 
Aos nobres professores que contribuíram com seus ensinamentos para ampliação de meus conhecimentos jurídicos.
Aos meus colegas, e principalmente aqueles que se tornaram meus amigos durante o curso, em especial meus companheiros Andricarlos Moraes, Charlene Brito, Danniela Souza, Enidiene Bueno, Gisely, Jessica Oliveira, Karoline Almeida, Natalia e Thalyta Mayara que se fizeram presentes nos momentos bons e ruins, que sempre me motivaram a fazer o melhor, pela compreensão, pelo incentivo, pelos conselhos e por acreditares que ainda chegarei a ser muito mais do que sonhei.
 A todas as pessoas pelas contribuições direitas e indiretas que materializaram este trabalho monográfico, e se de alguém tenho esquecido faça-se presente a mim para receber os merecidos agradecimentos.
“É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver”.
 Martin Luther King 
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RESUMO
NASCIMENTO, Laiane Nunes. Estupro Marital: O Inimigo Silencioso. 2015. 74 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – UniRV – Universidade de Rio Verde, Caiapônia – GO, 2015�.
Este trabalho de conclusão de curso objetivou analisar sobre o crime de estupro previsto no art. 213 do Código Penal, perpetrado na constância de uma relação conjugal, ou em outras palavras, o chamado estupro marital, existindo como um inimigo silencioso, em que o marido empreende violência sexual contra sua própria esposa. Sendo assim, constata-se a existência de duas correntes doutrinárias que enfatizam a respeito desse tema: uma tradicional onde não admite o estupro no casamento, e quando admitido, será apenas quando, a recusa for resultada por motivos justificáveis, e a contemporânea que aceita a possibilidade do estupro acontecer na relação conjugal. No entanto, também como intuito adjacente enfatizar que o marido pode ser classificado dentro do Direito Penal brasileiro, após a Lei n. 12.015/2009 como sujeito ativo desse crime tão específico, quando para conseguir satisfazer os seus desejos e anseios carnais obriga ou coage a sua esposa a copular contra a sua vontade, entretanto utilizar-se-á amparos jurídicos, artigos, divergências doutrinárias e jurisprudências, com a intenção de alicerçar este trabalho. Almejou-se ainda ponderar se a dignidade da pessoa humana, em especial e, por decorrência desta, a dignidade sexual pode ser considerada violada com a manifestação de tal violência sexual empreendida pelo marido contra a sua própria esposa.
PALAVRAS-CHAVE
Estupro, casamento, relação sexual, dignidade da pessoa humana, liberdade sexual.
ABSTRACT
NASCIMENTO, Laiane Nunes. Marital Rape: The Silent Enemy. 2015. 74 p. Completion of course work ( Law Degree ) - UniRV - University of Rio Verde , Caiapônia - GO, 2015.� .
This course conclusion work aimed to analyze on the crime of rape referred to in art. 213 of the Penal Code, committed in the constancy of a marital relationship, or in other words, the so-called marital rape, existing as a silent enemy, when the husband embarks on sexual violence against his wife. Thus, notes the existence of two doctrinal currents that emphasize on this subject: a traditional which does not allow rape in marriage, and when admitted, will be only when the refusal is resulted for justifiable reasons, and contemporary accepting the possibility of rape happens in the marital relationship. However, also the intention adjacent to emphasize that the husband can be classified within the Brazilian criminal law, after the Law n. 12,015 / 2009 as active subjects such as specific crime, when to get satisfy their desires and carnal desires forces or coerces his wife to copulate against their will, but will be used legal protections, articles, doctrinal differences and jurisprudence, with the intention of supporting this work. Craved is still considering whether the dignity of the human person, in particular, and due to this, the sexual dignity may be considered violated with the manifestation of such sexual violence undertaken by the husband against his own wife.
KEYWORDS
Rape, marriage, sex, human dignity, sexual freedom.
�
LISTA DE SIGLAS
BO: 	Boletim de Ocorrência 
CC: 	Código Civil
CF: 	Constituição Federal 
CP: 	Código Penal 
CPP: 	Código do Processo Penal
DDM: 	Delegacia da Mulher
DEAM: 	Delegacias Especializadas de Atendimento a Mulher
DML: 	Departamento Médico Legal
IML: 	Instituto Médico Legal
LCP: 	Lei das Contravenções Penais
TJ: 	Tribunal de Justiça
TJ-SC:	Tribunal de Justiça de Santa Catarina
TJ-PR:	Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
STF: 	Supremo Tribunal Federal
STJ: 	Supremo Tribunal de Justiça
�
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................	........................................11
2 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O CRIME DE ESTUPRO 	13
3 EVOLUÇÃO NA LEGISLAÇÃO PENAL PÁTRIA 	17
3.1 Ordenações Filipinas	.........................................................................................................17
3.2 Código Criminal do Império 1830	18
3.3 Código Criminal da República 1890	19
3.4 Código Penal Brasileiro de 1940...........................	20
3.5 Modificações Introduzidas pela Lei n. 8.072/1990	20
3.6 Lei n. 11.340/2006 - Lei Maria da Penha	21
3.7 ModificaçõesIntroduzidas pela Lei n. 12.015/2009...	24
4 ANÁLISE DOGMÁTICA TÍPICA DO CRIME DE ESTUPRO	27
4.1 Objeto Jurídico...........................	28
4.2 Sobre o Sujeito Ativo	29
4.3 Configuração do Crime de estupro: marido como sujeito ativo	30
4.4 Sobre o Sujeito Passivo...	31
4.5 Tipo objetivo 	32
4.6 Elemento Subjetivo 	35
4.7 Consumação e Tentativa...........................	35
4.8 Classificação doutrinária	40
4.9 Ação Penal...........................	41
4.10 Causas Especiais de Aumento de Pena	42
5 ESTUPRO MARITAL	45
5.1 Divergências Doutrinárias...	46
5.2 Penalidades Cabíveis	50
5.3 Meios de Provas em relação ao Estupro Marital	52
5.4 Obstáculos para realizarem a Denúncia...	54
5.5 Dignidade da Pessoa Humana e a Dignidade Sexual	60
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS	65
REFERÊNCIAS	67
�
1 INTRODUÇÃO
O presente Trabalho de Conclusão de Curso possui como escopo principal abordar o assunto referente ao crime de estupro (alicerçado no artigo 213 do Código Penal) perpetrado na constância de uma relação conjugal, ou em outras palavras, o chamado estupro marital, existindo como um inimigo silencioso, em que o marido empreende violência sexual contra a sua própria esposa, fazendo-se assim, que a mesma se torne a vítima, desse aludido crime, em circunstância tão específica e com isso violando um bem jurídico tutelado, ou seja, a liberdade sexual do ser humano. Portanto, nesse prisma verifica que o direito da mulher (esposa) é infringindo e não respeitado, ainda que garantido constitucionalmente.
Todavia, o assunto é contemporâneo, o qual demonstra uma grande importância e relevância para o meio social, uma vez que tal delito ainda continua impregnado e insistindo a permanecer alguns resquícios de idéias ancestrais do sistema patriarcal, em que a mulher era vislumbrada como um objeto e, sobretudo, deveria proporcionar prazer ao varão. 
Assim sendo, diante de todas as profundas transformações sociais já vivenciadas ao longo de toda a história da humanidade, o crime de estupro ainda continua fixado no seio da sociedade hodierna, não fazendo distinção de cor, raça, idade, religião e nem de classes sociais, independentemente do mesmo não encontrar nenhum respaldo no círculo social para se manifestar.
Contudo, este estudo somará de forma esclarecedora, principalmente aos futuros militantes do direito, pois expressa o intuito e a necessidade de uma análise aprofundada referente a tal tema, mantendo uma visão mais voltada para a nossa realidade social e suas mudanças atuais. 
Porém, o atual trabalho possui o desígnio adjacente de elucidar que o cônjuge pode ser classificado dentro do Direito Penal como sujeito ativo desse crime hediondo, quando para satisfazer seus desejos carnais obriga ou coage a sua esposa a copular contra a sua vontade, onde para realizar uma abordagem mais esclarecedora de modo a contribuir para o meio social, bem como à comunidade acadêmica, utilizar-se-á argumentos respaldados pelo Direito Penal Brasileiro, divergências doutrinárias e jurisprudenciais.
�
No entanto, almeja-se quanto à problemática enfatizada neste trabalho questionar se a dignidade da pessoa humana, em especial e, por decorrência desta, a dignidade sexual pode ser considerada violada com a manifestação de tal violência sexual empreendida pelo marido contra a sua própria esposa.
Neste contexto para se chegar à solução da demanda levantada cabe frisar, a importância de salientar que o crime de estupro marital é empreendido mediante constrangimento ou grave ameaça, sendo que o cônjuge submete sua esposa contra a sua vontade a copular, com intuito apenas de satisfazer o seu desejo, aproveitando o matrimônio para justificar o ato cometido.
Nesse sentido, em relação à liberdade e dignidade que é um direito garantido por lei a todo ser humano. A mulher não poderá ser obrigada a fazer ou deixar de fazer qualquer ato que esteja contra sua vontade. Entretanto, se por algum pretexto esse crime vier a ocorrer o cônjuge poderá ser considerado sujeito ativo do delito de estupro na constância da relação conjugal, de acordo com o Código Penal Brasileiro. Portanto, na maioria das vezes que tal crime é cometido, o medo, insegurança e a ausência de informações de que o homem casado pode ser sujeito ativo do crime de estupro tendo como vítima sua esposa, faz com que inúmeras mulheres permaneçam inertes e submetidas à violência sexual constantes.�
2 BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O CRIME DE ESTUPRO
Nota-se que o crime de estupro institui um delito grave e considerado insuportável desde os tempos mais antigos, sendo tratado com extremo repúdio por todas as civilizações e reprimido de formas diversas, levando em apreço a cultura, origem, religião, costumes e etnia de cada povo e período.
 Desta forma, segundo Almeida (2012) no período em que a norma máxima predominante se configurava na Lei de Moisés, no que se refere ao ato sexual, o homem que transgredisse, aos preceitos impostos pelo seu povo da época e nutrisse vínculo sexual com mulher designada a outrem com a sua anuência, ambos seriam punidos com a morte por apedrejamento, portanto se essa mulher fosse acometida de violência do lado de fora da cidadela, à punição recaia somente para o homem. No que se refere à questão mulher virgem se o homem deitasse com a mesma, ele seria apenado com o prestação de multa pecuniária ao genitor da donzela e deveria reparar o dano casando-se com a mesma. Sendo assim, tais regulamentos encontram-se também expressos na Bíblia Sagrada, no Livro de Deuteronômio 23 a 28, que diz o seguinte: 
23: Se houver moça virgem, desposada, e um homem a achar na cidade e se deitar com ela,
24: Então trareis ambos à porta daquela cidade e os apedrejareis até que morram; a moça, porque não gritou na cidade, e o homem, porque humilhou a mulher do seu próximo; assim, eliminarás o mal do meio de ti.
25: Porém, se algum homem no campo achar moça desposada, e a forçar, e se deitar com ela, então, morrerá só o homem que se deitou com ela;
26: a moça não farás nada; ela não tem culpa de morte, porque, como o homem que se levanta contra o seu próximo e lhe tira a vida, assim também é este caso.
27: Pois a achou no campo; a moça desposada gritou, e não houve quem a livrasse.
28: Então, o homem que se deitou com ela dará ao pai da moça cinquenta ciclo de prata; e uma vez que a humilhou, lhe será por mulher, não poderá mandá-la embora durante sua vida.
No mais, seguindo a evolução das civilizações, por volta do século XVIII, antes de Cristo, destaca o Código de Hamurabi, valendo ressaltar que essa fase marcante da história a punição para o crime de estupro era a pena de morte. Assim sendo, segundo Prado (2010, p. 636) tal crime encontra elucidado no artigo 130, do Código de Hamurabi, que diz o seguinte: “se alguém viola mulher que ainda não conheceu homem e viva na casa paterna e tem contato com ela e é surpreendido, este homem deverá ser morto e a mulher irá livre”.
Já no Direito Canônico segundo Portinho (2005) para a configuração do crime de estupro era imprescindível que a mulher em questão fosse virgem e que a conjunção carnal tivesse sido acometida mediante emprego de violência, portanto no que se refere à mulher casada, a mesma não se qualificava como sujeito passivo desse crime. Segundo Almeida (2012, p. 67), assevera que “o homem que mediante violência praticasse conjunção carnal com mulher virgem, receberia a maior de todas as penalidades: a pena capital, que consistia na morte por decapitação em praça pública”.
Entretanto, ainda analisando o crime de estupro nos tempos antigos, o mesmo também pode ser verificado em diversas civilizações, por exemplo, na sociedade egípcia, onde o homem que cometesse tal delito era punido com a mutilação. Para os povos gregos, aqueles que infringiam esse crime recebiam inicialmente como punição a pena de multa e, com o transcurso do tempo, a pena se evoluiu para a de morte. Como enfatizam Hungria, Lacerda e Fragoso (1981, p. 103):
Entre os egípcios,infligia-se ao violentador a pena de mutilação. Na antiga Grécia, a princípio, a pena era de simples multa; mas, posteriormente, para conjurar os abusos, foi cominada a pena de morte, que veio a tornar-se invariável, abolindo-se a alternativa (anteriormente consentida) entre ela e o casamento sem dote.
Todavia, seguindo a linha do tempo, em relação a tal crime e sua aplicabilidade da pena, destacam-se também os povos romanos, entretanto segundo Portinho (2005, p. i) enfatiza que o “direito penal romano” é extremamente essencial para se compreender a “evolução do direito penal”. Valendo ressaltar que para essa civilização imperava a pena de morte para aquele que empregasse a violência sexual, portanto, de acordo com os autores Hungria, Lacerda e Fragoso (1981, P. 103), “[...] tendo-se mais em vista o emprego da força do que a finalidade do agente, a posse sexual violenta (equiparada ao rapto violento) constituía modalidade do crimen vis, incidindo sob a Lex Julia de vi publica. [...] e a pena era a de morte”.
Deste modo, fica evidente o rigor com que os povos antigos tratavam o crime de estupro, reprimindo o mesmo com uma imensa rigidez, como esclarece Bitencourt (2012, p. 2326) em relação aos povos romanos, realizando a distinção entre adultério e estupro, vejamos:
Os povos antigos já puniam com grande severidade os crimes sexuais, principalmente os violentos, dentre os quais se destacava o de estupro. Após a Lex Julia de adultério (18 d.C.), no antigo direito romano, procurou-se distinguir adultério de stuprum, significando o primeiro a união sexual com mulher casada, e o segundo, a união sexual ilícita com viúva. Em sentido estrito, no entanto, considerava-se estupro toda sexual ilícita com mulher não casada. Contudo, a conjunção carnal violenta, que ora se denomina estupro, os romanos incluíam no conceito amplo do crimen vis, com a pena de morte.
Entretanto, é importante destacar, que a palavra empregada era stuprum, segundo Portinho (2005, p. i) enfatiza que o termo “stuprum” possui seu berço em Roma. “A palavra ‘stuprum’ na referida lei [...] designava como crime a conjunção carnal ilícita com mulher virgem ou viúva honesta, mas tal conjunção não poderia ter violência”.
 Todavia, ainda ponderando a história dos romanos em relação ao crime de estupro, segundo ressalta Silva (2011, p. 12), que no período marcado pela “invasão dos bárbaros no Império Romano do Ocidente a punição era diferente entre os povos. Os nobres eram punidos com pena de multa e os escravos com pena de morte.”
Porém, já no período da Idade Média, segundo Maia (2014, p. 07) essa fase foi caracterizada e marcada pela grande influência de preceitos religiosos, sendo visto por diversas pessoas como a era da “Idade das Trevas”, pois foi uma época impregnada pelo domínio da Igreja e os pensamentos contrários dos estipulados pela mesma eram severamente punidos. Contudo, na vigência do sistema feudal, “[...] o fim das cidades e a criação de “feudos” fazia com que cada um desses núcleos tivesse seu próprio regimento, criado pelo senhor feudal.” Assim sendo, o autor ainda expõe que nessa fase da história eram punidos os delitos sexuais contra criança e no que se referiam as mulheres em virtude de inúmeros motivos tal violência muitas vezes acabavam guardadas em segredo, e em relação virgindade significava inocência, algo puro, uma santidade, sendo assim Maia (2014, p. 07) enfatiza que: 
Diz-se, nesse período, apenas os delitos de cunho sexual praticados contra crianças eram efetivamente punidos; quanto às mulheres, por vergonha, devido ao status social do agressor ou por medo de sofrer represálias e penalidades, acabavam por manter em segredo tais acontecimentos.
[...]
De outra banda, a virgindade era exaltada, símbolo de autocontrole, pureza e santidade.
No entanto, no século XVII, surgiu destacando a inserção das máquinas, ou seja, inovações para a humanidade, mas também veio trazendo o crime de estupro aprofundado em seu meio social, onde segundo os dizeres de Silva (2011, p. 12) nos esclarece que nesse século, com o advento da “Revolução Industrial na Inglaterra” disseminado por toda a face do planeta e com a chegada do século XIX, no que se refere às mulheres em questão, a situação era delicada nessa fase da história, isso devido à questão dos inúmeros “assédios e estupros de operarias” empreendidos muitas vezes pelos seus empregadores e contramestres. 
Porém, com a chegada do século XX, ainda de acordo com Silva (2011, p. 13) o mesmo, foi marcado por grandes guerras, e o crime de estupro permaneceu a persistir, sendo cometido pelas tropas que participavam desse conflito. Contudo, já na segunda guerra tal delito ainda continuou a se manifestar, sendo cometidos “tanto por soldados do eixo como pelos aliados”.
Entretanto, com todas as evoluções vivenciadas pela a humanidade e suas tentativas de punir os delitos e proteger os mais fracos, não apenas no mundo, mas também em nosso país, ainda existem mulheres sendo vítimas de violências sexuais diariamente. Silva (2011, p. 13) descreve que “[...] no século XXI muitas atrocidades continuaram sendo praticadas, e mulheres continuaram a serem violentadas, até mesmo por seus maridos.”
Todavia, em nosso país o crime de estupro foi enfatizado no período Colonial e regido pelas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e as Filipinas. Entretanto, a nossa Legislação Pátria trilhou um longo caminho em busca da melhor forma de proteger aqueles que necessitam. �
3 EVOLUÇÃO NA LEGISLAÇÃO PENAL PÁTRIA
O crime de estupro é considerado no Brasil um delito grave, portanto com o intuito de alcançar meios para punir e prevenir o mesmo, a legislação pátria percorreu um longo caminho, para conquistar essa evolução.
Contudo, analisando a evolução da legislação penal referente ao crime de estupro e seu processo histórico, destaca-se o discurso de Fayet (2011, p. 24) ao enfatizar que “o berço do direito penal brasileiro encontra respaldo na legislação portuguesa introduzida no Brasil no período da colonização, merecendo destaque as Ordenações”. Nos dizeres de Oliveira (2014, p. 29) as mesmas são:
Peças fundamentais da história do direito em Portugal, as Ordenações são compilações de leis sem caráter sistemático, mas nas quais estão oficialmente registradas as normas jurídicas fixadas nos diversos reinados, constituindo, de uma forma geral, o reflexo da luta do Estado pela centralização e pelo estabelecimento de um ponto de equilíbrio entre as várias forças sociais e políticas.
Entretanto, nesta fase de Brasil Colônia, ressaltaram-se algumas Ordenações, sendo as mesmas, Afonsinas (1500-1514), Manuelinas (1514-1603) e para a Legislação Penal do Brasil, as Filipinas (1603-1916).
3.1 Ordenações Filipinas 
A antiga legislação Penal do Brasil apresentou-se no livro V das ordenações Filipinas, as quais pregavam que no crime de conjunção carnal adquirida mediante força, o criminoso seria sentenciado com a morte, mesmo se o indivíduo viesse a se casar com a vítima. Sobre o assunto Fayet (2011, p. 25) descreve:
Nas Ordenações Filipinas, no Título XVIII, p. 1168 – Do que dorme per força com qualquer mulher, ou trava dela, ou a leva per sua vontade. Todo homem, de qualquer estado e condição que seja que forçosamente dormir com qualquer mulher, será punido com a pena de morte.
Nos dizeres de Hungria, Lacerda e Fragoso (1981, p. 103) enfatizam que as Ordenações Filipinas é a nossa legislação prima, onde a pena no crime de estupro era a morte, “Ordenações Filipinas, nossa primitiva legislação penal: pena de morte contra “o homem, de qualquer estado e condição que seja forçosamente dormir com qualquer mulher”, não se eximirá do casamento com a vítima”. Ficando claro o rigor aferido contra o autor.
3.2 Código Criminal do Império 1830 
Porém, em 1830, foi divulgado o primeiro Código Criminal do Império do Brasil, em que estava caracterizado crime de estupro. Abordava todas as relações carnais ilícitas, sendo expressos na Seção I,“Dos crimes sexuais” e no Capítulo II, “Dos crimes contra a segurança da honra”. Nas palavras de Fayet (2011, p. 29), o artigo 219 a 225 da Lei de Dezembro de 1830 enfatiza o crime de estupro:
Art. 219. Deflorar mulher virgem, menor de dezessete anos. Penas - de desterro para fora da comarca, em que residir a deflorada, por um a três anos, e de dotar a esta. Seguindo-se o casamento, não terão lugar as penas. 
Art. 220. Se o que cometer o estupro, tiver em seu poder ou guarda a deflorada. 
Penas - de desterro para fora da província, em que residir a deflorada, por dois a seis anos, e de dotar esta. 
Art. 221. Se o estupro for cometido por parente da deflorada em grão, que não admita dispensa para casamento. Penas - de degredo por dois a seis anos para a província mais remota da em que residir a deflorada, e de dotar a esta. 
Art. 222. Ter copula carnal por meio de violência, ou ameaças, com qualquer mulher honesta. Penas - de prisão por três a doze anos, e de dotar a ofendida. Se a violentada for prostituta. Penas - de prisão por um mês a dois anos.
Art. 223. Quando houver simples ofensa pessoal para fim libidinoso, causando dor, ou algum mal corpóreo a alguma mulher, sem que se verifique a copula carnal. Penas - de prisão por um a seis meses, e de multa correspondente á metade do tempo, além das em que incorrer o réu pela ofensa
Art. 224. Seduzir mulher honesta, menor dezessete anos, e ter com ela copulam carnais. Penas: de desterro para fora da comarca, em que residir a seduzida, por um a três anos, e de dotar a esta.
Art. 225. Não haverá as penas dos três artigos antecedentes os réus, que casarem com as ofendidas.
Neste contexto, Oliveira (2011) ressalta que o crime de estupro contra mulher honesta era previsto penas de prisão de 03 (três) a 12 (doze) anos ou pagamento de multa, no entanto, se a mulher fosse prostituta a pena de prisão seria reduzida para 01 (um) mês a 02 (dois) anos. 
3.3 Código Criminal da República 1890 
 Em 11 de Outubro de 1890 foi decretado o Código Criminal da República, no mesmo foi acolhido à denominação estupro. Segundo Fayet (2011), apresentaram-se os crimes de atentado violento ao pudor, visto como meio de satisfazer as paixões lascivas e o estupro, abrangido como um anseio de cópula vagínica, ambos expressos sob o título de violência carnal e não mais punidos com a pena de morte. Entretanto, segundo Almeida (2012) elucida que o Código de 1890, trouxe em seu bojo disposições sucintas referentes aos tipos de penas aplicáveis neste período. Sendo verificáveis nos artigos 43 e 44 do Código Criminal da República, vejamos:
Art. 43. As penas estabelecidas neste código são as seguintes: a) prisão celular; b) banimento; c) reclusão; d) prisão com trabalho obrigatório; e) prisão disciplinar; f) interdição; g) suspensão e perda do emprego público, com ou sem inabilitação para exercer outro; h) multa.
Art. 44. Não ha penas infamantes. As penas restritivas da liberdade individual são temporárias e não excederão de 30 anos.
No entanto, segundo Fayet (2011, p. 31) o Decreto n. 847/1890 destinou uma parte notável em seu contexto com intuito de ressaltar os crimes sexuais, sendo o mesmo, “TITULO VIII. Dos crimes contra a segurança da honra das famílias e do ultraje público ao pudor. CAPITULO I. DA VIOLÊNCIA CARNAL”. Portanto, artigos 266 a 269 do Decreto n. 847/1890, proporciona a configuração dos os crimes de atentado violento ao pudor e o crime de estupro e suas penalidades:
Art. 266. Atentar contra o pudor de pessoa de um, ou de outro sexo, por meio de violência ou ameaças, com o fim de saciar paixões lascivas ou depravação moral: Pena: de prisão celular por um a seis anos. Parágrafo único. Na mesma pena incorrerá aquele que corromper pessoa de menor idade, praticando com ela ou contra ela atos de libidinagem.
Art. 267. Deflorar mulher de menor idade, empregando sedução, engano ou fraude: Pena: de prisão celular por um a quatro anos.
Art. 268. Estuprar mulher virgem ou não, mas honesta: Pena de prisão celular por um a seis anos. § 1º. Si a estuprada for mulher publica ou prostituta: Pena: de prisão celular por seis meses a dois anos. § 2º. Si o crime for praticado com o concurso de duas ou mais pessoas, a pena será aumentada da quarta parte.
Art. 269. Chama-se estupro o ato pelo qual o homem abusa com violência de uma mulher, seja virgem ou não. Por violência entende-se não só o emprego da força física, como o de meios que privarem a mulher de suas faculdades físicas, e assim da possibilidade de resistir e defender-se, hipnotismo, o clorofórmio, o ether, e em geral os anestésicos e narcóticos.
Todavia, com o passar dos anos foi instituído um novo Código Penal, trazendo em seu bojo inúmeras inovações e destaques. Sendo assim, vale ressaltar o Código Penal Brasileiro de 1940.
3.4 Código Penal Brasileiro de 1940 
De acordo com Masson (2014), em 1940 entra em vigor o Decreto-lei n. 2.848, estabelecendo o Código Republicano ou Contemporâneo, representando nesse prisma um grande avanço por destacar dois crimes sexuais, empreendidos com o emprego de violência ou graves ameaça, sendo os mesmos o crime de estupro, no qual o dolo deduz na pretensão livre de constranger a vítima à conjunção carnal e atentado violento ao pudor, sendo que a intenção do indivíduo é a prática de ato libidinoso. Portanto, segundo Fayet (2011, p. 36) enfatiza o que venha a ser o ato libidinoso em seu entendimento sendo “qualquer ato que extravase o apetite desenfreado de luxúria do agente, excetuada a relação vagínica. Poderá tratar-se do coito anal ou do oral, masturbação, da apalpação de órgãos genitais, da cópula entre os seios ou axilas etc.” Tais aspectos eram reforçados nos artigos 213 e 214 do Decreto/Lei n. 2.848/40, alterado e revogado, respectivamente, pela Lei n. 12.015/2009:
Art. 213. Constranger mulher a conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena: reclusão de três a oito anos.
Art. 214. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: reclusão de dois a sete ano.
Entretanto, as penas distintas para esses dois crimes estupro e o atentado violento ao pudor, perduraram até a Lei n. 8.072/1990 Lei dos Crimes Hediondos.
3.5 Modificações Introduzidas pela Lei n. 8.072/1990
Nota-se, segundo Fayet (2011) que a distinção de penas diversas para o crime de estupro e o atentado violento ao pudor perdurou até a Lei n. 8.072/1990, onde passou a se considerar como hediondos ambos os crimes, impondo-se a combinação dos mesmos com o artigo 223 caput e parágrafo único CP. Sendo que os artigos 213 e 214 do Código Penal ficaram expressos com uma nova escrita imposta pela Lei n. 8.072/90, sendo posteriormente confirmada pela Lei n. 8.930/94, conferindo-lhe uma nova redação ao artigo I. Segundo Oliveira (2014, p. 37):
Art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena: reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos. 
Art. 214. Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: reclusão de 06 (seis) a 10 (dez) anos.
Por conseguinte, para elucidar a aplicabilidade da Lei n. 8.072/1990 translada-se uma decisão do STJ que prima pela hediondez do crime:
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART. 214, CAPUT, C.C. OS ARTS. 224, A, E 226, INCISO II, TODOS DO CÓDIGO PENAL, NA REDAÇÃO ANTERIOR À LEI N.º 12.015/2009. CRIME PRATICADO MEDIANTE VIOLÊNCIA PRESUMIDA. CARÁTER HEDIONDO RECONHECIDO. PRECEDENTES DESTA CORTE E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA ACOLHIDOS. 1. Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor praticado anteriormente à Lei n.º 12.015/2009, ainda que mediante violência presumida, configuram crimes hediondos. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2. Embargos de divergência acolhidos a fim de reconhecera hediondez do crime praticado pelo Embargado. (STJ - EREsp: 1225387 RS 2012/0047362-2, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 28/08/2013, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 04/09/2013).
Todavia, de acordo com Almeida (2012) com a Lei de Crime Hediondo elevou ambos os crimes de atentado violento ao pudor e estupro nível mais alto de delitos que geram repulsa na sociedade contemporânea.
Assim sendo, segundo Dayane Silva (2011) com o progresso da humanidade ao transcender dos tempos, o século XXI, entra como um basilar norteado para a proteção da mulher, pois mesmo possuindo uma legislação que ampara os mais fracos, ainda existem mulheres que vivem constantemente sendo violentadas, espancadas e sofrendo todos os tipos de agressões, merecendo destaque o surgimento da Lei n. 11.340/2006.
3.6 Lei n. 11.340/2006 - Lei Maria da Penha
Entretanto, no dia 22 de setembro de 2006, com o intuito de atender milhares de mulheres que sofrem algum tipo de violência, entrou em vigor a Lei n. 11.340/2006 conhecida como Lei Maria da Penha. A mesma foi criada fundamentada nos preceitos legais do artigo 226, parágrafo 8º da Constituição Federal de 1988, onde enfatiza que “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.” Marcando assim uma imensa conquista de toda sociedade hodierna e principalmente para todas as mulheres. Portanto, segundo Dayane Silva (2011, p. i) elucida a origem da Lei n. 11.340/2006, vejamos:
A lei nº. 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, foi resultado de tratados internacionais, firmados pelo Brasil, com o propósito de não apenas proteger à mulher, vítima de violência doméstica e familiar, mas também prevenir contra futuras agressões e punir os devidos agressores. Foram duas as convenções firmadas pelo Brasil: Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW), conhecida como a Lei internacional dos Direitos da mulher e a Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, conhecida como “Convenção de Belém do Pará”. 
De acordo com Cunha e Pinto (2009, p. 21), esta lei surgiu com o cunho de conceder proteção à parte mais fraca, que sofreu ou sofre violência doméstica. Esta se consagrou como Lei Maria da Penha, em homenagem a luta de uma mulher, vítima de seu marido, a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes. Acerca disso:
O motivo que levou a lei ser “batizada com esse nome, pelo qual, irreversivelmente, passou a ser conhecida, remonta ao ano de 1983. No dia 29 de Maio desse ano, na cidade de Fortaleza, no Estado do Ceará, a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, enquanto dormia, foi atingida por um tiro de espingarda desferido por seu então marido, o economista M.A.H.V, colombiano de origem e naturalizado brasileiro. Em razão desse tiro, que atingiu a vítima em sua coluna, destruindo a terceira e quarta vértebras, suportou lesões que deixaram-na paraplégica.[...] Mas as agressões não se limitaram ao dia 29 de maio de 1983. Passada pouco mais de uma semana, quando já retornara para sua casa, a vítima sofreu novo ataque do marido.
Entretanto, é importante mencionar que de acordo com Motta (2015, p. 2) em relação à Lei n. 11.340/2006, a mesma nasceu com o intuito de proteger mulheres que sofrem ou sofreram algum tipo de violência doméstica. Sendo assim, a Lei Maria da Penha traz em seu bojo um novo conceito de relacionamento, onde seu objetivo é conceder resguarda para aqueles que necessitam, vejamos: 
Por se tratar de uma lei que trata da violência contra as mulheres, que são vítimas de seus próprios maridos e companheiros, com os quais se relacionam e convive diariamente, a lei trata de um modo novo o conceito de “relacionamento”, incluindo os familiares reconhecidos por lei, o casamento, a união estável, as relações homo afetivas, e os relacionamentos meramente afetivos ou românticos conhecidos como ficar, namorar e noivar.
Todavia, nesse contexto primeiramente vale ressaltar o que venha a ser violência, sendo assim de acordo com o Dicionário Houaiss (2001, p. 713) a mesma pode ser conceituada como uma “ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força.” 
Assim, Carvalho, Ferreira e Santos (2010, p. i), enfatizam que, a Lei Maria da Penha destaca em seu bojo, definições de alguns tipos de violência doméstica, e familiar praticado contra a mulher, sendo as mesmas, violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, vejamos:
Violência física: qualquer ato que agride a integridade física da mulher, como socos, tapas, pontapés, empurrões, entre outros, e também a utilização de armas brancas ou de fogo. 
Violência psicológica: qualquer ato que cause dano emocional, que diminua a auto-estima, limite a liberdade e não deixa marcas visíveis prejudicando a saúde psicológica. 
Violência sexual: qualquer ato que obrigue a mulher a participar, presenciar ou manter relações sexuais não desejadas. 
Violência patrimonial: qualquer ato que cause dano, retenção ou destruição dos objetos e documentos pessoais.
Violência moral: qualquer ato que ofenda, insulte ou que acuse falsamente sua integridade moral.
Sendo assim, vale ressaltar que a maior ênfase será concedida ao tema da violência sexual, ou seja, uma forma de violência doméstica. Entretanto, de acordo com Dayane Silva (2011, p. i) o artigo 7º, inciso III, Lei n. 11.340/2006, esclarece a questão da violência sexual:
 
Art. 7º - São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: 
III- a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação, ou uso da força; que a induza a comercializar ou utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que force ao matrimônio, a gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; 
Neste contexto, se percebe que a violência sexual na maioria das vezes acontece no silêncio dos lares. Todavia, segundo Adesse, (2005, apud Carvalho, Ferreira e Santos 2010, p. i) em relação a tal violência e a denúncia da mesma o autor enfatiza que é “[...] pouca denunciada, dificultando seu registro estatístico e a pesquisa nesta área, uma vez que as vítimas tendem a silenciar e se conformar com o fato”.
Entretanto, ainda segundo os entendimentos de Carvalho, Ferreira e Santos (2010) é notório que a Lei Maria da Penha, conferiu um maior amparo para as mulheres fazendo com que as mesmas venham se sentirem mais seguras para denunciarem qualquer tipo de violência vivenciada, pois com introdução da Lei n. 11.340/2006 algumas medidas protetivas, foram inseridas com objetivo de proteger as mulheres sendo elas casadas ou solteiras, por outro lado, no que se refere ao agressor, também foram inseridas medidas punitivas. Porém, ainda existem mulheres que sofrem algum tipo violências e se sentem atemorizadas sem força para procurarem ajuda ou apoio, principalmente quando essa violência é sexual. No entanto, inúmeras são as justificativas para que essas mulheres permaneçam em silêncio diante da violência sofrida, segundo Carvalho, Ferreira e Santos (2010, p. i) dentre os motivos desse silêncio são: 
[...] os mais comuns são: medo de ameaças de morte; vergonha de procurar ajuda; esperança de que o companheiro mude; dependência econômica; dependência emocional, também pelo descrédito da população no poder judiciário e segurança pública, entre outras. Pelo fato do agressor ser seu companheiro, muitas mulheres não compreendem que o ato sexual forçado é considerado uma violência, umavez que o vêem como um dever conjugal, devido a uma visão conservadora instituindo estereótipos do comportamento feminino que leva a submissão da mulher, interferindo em sua auto-estima causando sentimento de impotência que bloqueia sua personalidade.
De acordo com Suellen Silva (2011) observa que é evidente que existe o intuito direcionado em proteger as vitimas do crime de estupro, onde as leis seguem o progresso da sociedade que procuram elementos de precaver e conter qualquer tipo de violência ou delito. Sendo assim, com o objetivo de consagrar a luta para proteger os mais indefesos surge também a Lei n. 12.015/2009.
3.7 Modificações Introduzidas pela Lei n. 12.015/2009
Segundo Fayet (2011) em agosto de 2009 foram introduzidas importantíssimas modificações trazidas pela Lei n. 12.015 que transformou o Título VI do Código Penal, anteriormente retratado como “dos crimes contra os costumes” para “dos crimes contra a dignidade sexual”, unificando assim os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, revogando o artigo 214 do CP. Nucci (2009, p. 15) descreve que o legislador:
[...] foi além, unificando os crimes similares estupro e atentado violento ao pudor sob uma única denominação e com descrição da conduta típica em único artigo. Denomina-se estupro toda forma de violência sexual para qualquer fim libidinoso, incluindo, por óbvio, a conjunção carnal.
Para Capez (2012), antes da nova Lei de n. 12.015/2009 o artigo 213 abordava apenas como conjunção carnal a cópula vagínica e os outros atos lascivos encontravam respaldo no art. 214. Neste prisma vale ressaltar os dizeres Capez (2012, p. 126) referente a tal questão, vejamos: 
Conjunção carnal: é a cópula vagínica, ou seja, a penetração efetivada membro viril na vagina. A antiga redação do art. 213 do CP somente abarcava esse ato sexual, sendo as demais práticas lascivas abrangidas pelo art. 214 do CP, atualmente revogado pela Lei n. 12.015, de sete de agosto de 2009. 
Ato libidinoso: compreende outras formas de realização do ato sexual, que não a conjunção carnal. São os coitos anormais (por exemplo, a cópula oral e anal), os quais constituíam o crime autônomo de atentado violento ao pudor (CP, antigo art. 214). Pode-se afirmar que ato libidinoso é aquele destinado a satisfazer a lascívia, o apetite. 
Todavia, de acordo com Fayet (2011), destaca que a legislação antecedente conferia particularmente proteção jurídica à liberdade sexual da mulher. No entanto, com o ingresso dessas novas alterações introduzidas pela Lei n. 12.015/2009, apoiadas no princípio da isonomia consagrado na Constituição Federal de 1988, abriu-se espaço para proteção de qualquer indivíduo seja homem ou mulher, solidificando assim, a liberdade de escolha sexual.
Segundo Masson (2014, p. 82) em relação à questão da liberdade de escolha sexual enfatiza que “[...] liberdade sexual é o direito de dispor do próprio corpo. Cada pessoa tem o direito de escolher seu parceiro sexual, e com ele praticar o ato desejado no momento que reputar adequado.” Neste prisma vale ressaltar os dizeres Bitencourt (2012, p. 2328):
[...] homem e mulher têm o direito de negarem-se a submeter-se à prática de atos lascivos ou voluptuosos, sexuais ou eróticos, que não queiram realizar, opondo-se a qualquer possível constrangimento contra quem quer que seja, inclusive contra o próprio cônjuge, namorado (a) ou companheiro (a) (união estável); no exercício dessa liberdade podem, inclusive, escolher o momento, a parceria, o lugar, ou seja, onde, quando, como e com quem lhes interesse compartilhar seus desejos e necessidades sexuais. Em síntese, protege-se, acima de tudo, a dignidade sexual individual, de homem e mulher, indistintamente, consubstanciada na liberdade sexual e direito de escolha.
Nesse sentido, com a nova redação inserida pela Lei n. 12.015/09, o artigo 213 do CP, conceitua o crime de estupro como ato de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos”. Deste modo, para o doutrinador Capez (2011, p. 34) o crime de estupro “passou a abranger a prática de qualquer ato libidinoso, conjunção carnal ou não, ampliando a sua tutela legal para abarcar não só a liberdade sexual da mulher, mas também a do homem”.
Com isso, percebe-se que se vivencia um ciclo de constantes transformações, muitas delas benéficas e eficazes, porém tais mudanças sofridas alteraram as concepções e deixaram os seus reflexos no contexto do Direito. 
No entanto, apesar de todas as transformações já vivenciadas e com a ampliação do espaço adquirido pela mulher na sociedade e direitos consolidados constitucionalmente, com a igualdade de gênero, ainda é possível averiguar alguns resquícios da ideologia patriarcal, sistema esse já vivenciado no país, no qual as mulheres eram criadas e educadas desde crianças com desígnio de se dedicarem unicamente aos seus futuros maridos, a cuidarem do lar, possuindo como sua principal incumbência a procriação e a instrução dos filhos, ou seja, estavam em um ângulo de submissão total aos desejos do varão. Tal prerrogativa pode ser verificada nos dizeres de Garcia (2010, p 1):
Historicamente, a mulher ficou subordinada ao poder masculino, tendo basicamente a função de procriação, de manutenção do lar e de educação dos filhos, numa época em que o valor era a força física. Com o passar do tempo, porém, foram sendo criados e produzidos instrumentos que dispensaram a necessidade da força física, mas ainda assim a mulher içou numa posição de inferioridade, sempre destinada a ser um apêndice do homem, jamais seu semelhante.
Assim sendo, o tipo que passa a se analisar a seguir é o artigo 213 do Código Penal brasileiro Contemporâneo, que ressalta o crime de estupro.
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4 ANÁLISE DOGMÁTICA TÍPICA DO CRIME DE ESTUPRO
De acordo com o atual Código Penal Brasileiro, no Capítulo I – Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual, em seu artigo 213, o crime de estupro apresenta-se da seguinte maneira:
Art. 213 CP. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 
§1° Se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou maior de 14 (quatorze) anos: Pena – reclusão de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§2° Se da conduta resulta morte: Pena – reclusão de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Entretanto, segundo Gonçalves (2011, p. 517) com as alterações proporcionadas pela Lei n. 12.015/2009, foi deixado de realizar a diferença entre os crimes de atentado violento ao pudor e o crime de estupro na qual pela nova lei este último delito existirá mesmo se não houver ocorrido à conjunção carnal, dessa maneira vejamos:
Importantíssima alteração foi trazida pela Lei n. 12.015/2009, que deixou de fazer distinção entre os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, unindo-os sob a nomenclatura única de estupro. Pela legislação antiga, o estupro só se configurava pela prática de conjunção carnal (penetração do pênis na vagina), de modo que só podia ser cometido por homem contra mulher. Já o atentado violento ao pudor se constituía pela prática de qualquer outro ato de libidinagem (sexo anal, oral, introdução do dedo na vagina da vítima etc.) e podia ser cometido por homem ou mulher contra qualquer outra pessoa.
Pela nova lei haverá estupro, quer tenha havido conjunção carnal, quer tenha sido praticado qualquer outro tipo de ato sexual. A conjunção carnal existe com a penetração, ainda que parcial, do pênis na vagina. Em relação a outros atos de libidinagem, o crime existe, quer o agente tenha obrigado a vítima a praticar o ato, tendo um posicionamento ativo na relação (masturbar o agente, nele fazer sexo oral etc.), quer a tenha obrigado a permitir que nela se pratique o ato, tendo posicionamentopassivo na relação (a receber sexo oral, a permitir que o agente introduza o dedo em seu ânus ou vagina, ou o pênis em seu ânus etc.
Todavia, com embasamento no Código Penal Brasileiro atual, o crime de estupro configura-se na ação de constranger alguém, com fundamentos na Lei n. 12.015/2009, homem ou mulher, independentemente de idade ou de classe social, a ter conjunção carnal ou praticar ou permitir ato libidinoso, por meio de violência ou grave ameaça.
Assim sendo, neste prisma para o doutrinador Nucci (2009, p. 15), o crime de estupro pode ser definido como sendo “toda forma de violência sexual para qualquer fim libidinoso, incluindo, por óbvio, a conjunção carnal.” Entretanto, passa-se a analisar o artigo 213 do Código Penal, apontando os bens jurídicos protegidos pela legislação pátria.
4.1 Objeto Jurídico Tutelado
A Legislação Pátria, após a admissão da Lei n. 12.015/2009, concedeu proteção à liberdade sexual da pessoa de ambos os sexos, não aceitando que a mesma venha ser obrigada a manter conjunção carnal ou qualquer outro ato contra a sua vontade. Assim sendo, a legislação confere tutela ao direito de escolha da pessoa de dispor do seu próprio corpo como bem desejar e entender. Nota-se nesse prisma, os dizeres de Bitencourt (2012, p. 2327) vejamos:
O bem jurídico protegido, a partir da redação determinada pela Lei n. 12.015/2009, é a liberdade sexual da mulher e do homem, ou seja, a faculdade que ambos têm de escolher livremente seus parceiros sexuais, podendo recusar inclusive o próprio cônjuge, se assim o desejarem. Na realidade, também nos crimes sexuais, especialmente naqueles praticados sem o consenso da vítima, o bem jurídico protegido continua sendo a liberdade individual, na sua expressão mais elementar: a intimidade e a privacidade, que são aspectos da liberdade individual; estas últimas assumem dimensão superior quando se trata da liberdade sexual, atingindo sua plenitude quando se cuida da inviolabilidade carnal, que deve ser respeitada inclusive pelo próprio cônjuge, que, o nosso juízo, também pode ser sujeito ativo do crime de estupro.
No entanto, para Masson (2014, p. 85) o delito de estupro expresso no artigo 213 do Código Penal é um crime que fere mais de um bem jurídico tutelado, desse modo tal crime pode ser considerado como pluriofensivo. Notemos os seus dizeres:
O estupro é crime pluriofensivo. O art. 213 do Código Penal tutela dois bens jurídicos: a dignidade sexual, mais especificamente, a liberdade sexual, bem como a integridade corporal e a liberdade individual, pois o delito tem como meios de execução a violência à pessoa ou grave ameaça.
Entretanto, o intuito da nossa legislação é certificar e assegurar o direito de cada indivíduo de usufruir de liberdade absoluta para realizar da forma como entender de suas atividades sexuais, ou seja, de sua liberdade sexual.
4.2 Sobre o Sujeito Ativo
Assim, Fayet (2011, p. 51) descreve o que venha a ser um sujeito ativo, realizando uma definição clara do mesmo, enfatizando que “o sujeito ativo é a descrição daquele que prática o verbo do tipo, realizando a conduta descrita, e lesionando o bem jurídico tutelado pela norma”. 
De acordo com Masson (2014) na composição anterior do Código Penal, o delito de estupro era considerado um crime próprio, isso devido ao fato que o mesmo poderia apenas ser praticado pelo indivíduo do sexo masculino. Sendo assim, apenas o homem possuía a capacidade para ser considerado o sujeito ativo desse delito em questão, observemos os dizeres de Masson (2014, p. 94), “[...] pois somente podia ser praticado pelo homem. De fato, a lei falava em “constranger mulher à conjunção carnal”, razão pela qual a execução do delito pela pessoa do sexo masculino sozinho ou com outrem, era obrigatória”.
Todavia, com os dizeres de Gonçalves (2011, p. 518) com o advento da Lei n. 12.015/2009, o crime de estupro elencado no artigo 213 do Código Penal, passou a reconhecer que qualquer pessoa de ambos os sexos, poderá ser considerado como o sujeito ativo do crime de estupro, sendo assim, vejamos:
Com as alterações trazidas pela Lei n. 12.015/2009, o crime de estupro pode ser praticado por qualquer pessoa, homem ou mulher. Trata-se de crime comum. O homem que força uma mulher a uma conjunção carnal (penetração do pênis na vagina) responde por estupro. A mulher que obriga um homem a penetra-​lá também responde por tal crime (hipótese rara). O homem que força outro homem ou uma mulher a nele realizar sexo oral responde por estupro. Da mesma forma, a mulher que força outra mulher ou um homem a nela fazer sexo oral.
Vale ressaltar ainda, segundo os dizeres de Gonçalves (2011, p. 517 e 518) que em relação ao crime de estupro, o mesmo acolhe também a modalidade de coautoria e participação, sendo o seguinte:
[...] Será considerado coautor aquele que empregar violência ou grave ameaça contra a vítima (ato executório), sem, entretanto, realizar conjunção carnal ou qualquer ato libidinoso com ela, porém a fim de viabilizar que o comparsa o faça. Este é autor do crime e aquele é coautor. Ex.: o coautor segura à vítima para que o autor realize a conjunção carnal. Haverá participação por parte de quem concorrer para o crime sem realizar qualquer ato executório. Ex.: amigo que, verbalmente, estimula outro a estuprar a vítima.
Sendo assim, segundo Almeida (2011) entende que o sujeito ativo do crime em questão estudado, em nossos dias atuais pode ser considerado qualquer uma pessoa, seja homem ou mulher, ou seja, sem distinção.
4.3 Configuração do Crime de Estupro: Marido como sujeito ativo
Todavia, é importante salientar que com o advento da Lei n. 12.015/2009, segundo Maggio (2013, p. i) algumas modificações foram inseridas em nosso ordenamento jurídico, merecendo destaque o seguinte:
A Lei n. 12.015/2009 transformou o delito de estupro em crime comum, assim, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (homem ou mulher), uma vez que o tipo penal não mais exige nenhuma qualidade especial do agente. Assim, é possível que haja estupro cometido por homem contra mulher, homem contra homem, mulher contra homem e mulher contra mulher.
No que se refere à violência sexual acometida, na esfera matrimonial, vale ressaltar um fator importante, que merece ser elucidado, sendo o mesmo, o sujeito ativo delituoso.
Todavia, para o doutrinador Fernando Capez (2012, p. 297) o marido que empreende violência ou grave ameaça, obrigando sua própria esposa a manter relação sexual contra sua vontade comete crime de estupro. Portanto, para o mesmo, com intuito de restringir esta violência doméstica surgiu a Lei n. 11.340/2006, trazendo em seu bojo estruturas especiais com objetivo de proteger todas as mulheres que estejam passando por esse tipo de circunstância tão específica, vejamos:
Marido com o autor. A questão da violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei n. 11.340, de sete de agosto de 2006): marido que, mediante o emprego de violência ou grave ameaça, constrange a mulher à prática de relações sexuais comete crime de estupro. A mulher tem direito à inviolabilidade de seu corpo, de forma que jamais poderão ser empregados meios ilícitos, como a violência ou grave ameaça, para constrangê-la à prática de qualquer ato sexual. Isso veio a ser reforçado com a edição da Lei n. 11.340/2006, que criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher; dispôs sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher; estabeleceu medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Entretanto, Tessmann e Barbosa (2014) entendem que tal delito advém da mesma forma que acontece no crime de estupro comum, a diferença incide na questão do sujeito ativo, neste caso configurasse como sendo o próprio marido, onde por meios de abusos físicos ou psicológicos, empreende sua esposa a realizar conjunção carnal malquista, com intuito apenas de chegar ao seu contentamento pessoal.Portanto, inúmeras dessas vítimas, apesar de sofrerem constantemente com essa violência, não chegam a delatarem os seus agressores, muitas vezes por medo das implicações ou talvez por crerem que a conjunção carnal é uma obrigação do matrimônio e por acreditarem nesse fato permanecem inerentes em silêncio.
4.4 Sobre o Sujeito Passivo
De acordo com Fayet (2011, p. 53) o sujeito passivo pode ser considerado aquele indivíduo “[...] que detêm o bem jurídico tutelado pela norma e sofre a ação realizada pelo sujeito ativo”. Entretanto, nota-se que a antiga legislação no que se refere ao crime de estupro, concedia tutela jurídica apenas a vítima mulher, ou seja, apenas ao indivíduo do sexo feminino, sendo que a mesma deveria possuir órgão reprodutor feminino, caso o contrário não acolhia tal crime. Vejamos os dizeres de Fayet (2011, p. 53):
O antigo tipo penal do estupro descrevia um sujeito passivo específico, no caso, a expressão “mulher”, significando que só poderia ser vítima do estupro o ser humano mulher, detentor de órgão reprodutor feminino; o gênero, aqui era tão importante, que não se admitia o estupro quando o sujeito passivo era transexual, ainda que tivesse procedido a cirurgia de transgenitalização.
Todavia, Fayet (2011, p 53-54) descreve que com o advento da Lei n. 12.015/2009 o artigo 213 do Código Penal passou a utilizar em seu bojo a expressão genérica ‘’alguém”, ou seja, referindo-se a qualquer indivíduo desde que não seja vulnerável, “[...] seja homem ou mulher, portador de anomalias sexuais anatômicas ou constitucionais, aqueles que se submetem a cirurgia plástica, portadores de próteses, prostitutas, devassos etc.”
Logo, segundo Suellen Silva (2011, p 17) no que se refere ao sujeito passivo é importante ressaltar que o mesmo não pode ser pessoa vulnerável e se tal ato sobrevier contra esse indivíduo, será considerado crime de estupro de vulnerável, fundamentado no artigo 217 - A do Código Penal que diz o seguinte: “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos”.
Vale frisar, que o homem também pode ser considerado sujeito passivo do crime de estupro quando violentado, ficando perceptível a grande mudança implementada pela Lei n. 12.015 de 2009, onde ampara todos os indivíduos que necessitam de tutela legal. Assim sendo, segundo os dizeres de Bitencourt (2012, p. 88) elucida o seguinte: 
[...] homem, em qualquer circunstância, quando violentado, também é sujeito passivo do crime de estupro, a exemplo do que ocorria com o antigo crime de atentado ou pudor. Em outros termos, o crime de estupro pode ocorrer em relação hetero ou homossexual (homem com homem e mulher com mulher).
Assim sendo, fica evidente que tanto o homem quanto a mulher puderam ser considerados sujeitos passivos do crime de estupro.
4.5 Tipo Objetivo 
Para Gonçalves (2012, p. 19) o tipo objetivo do crime de estupro consiste em “constranger”, entretanto tal expressão translada em “[...] obrigar, coagir alguém a fazer algo contra a vontade”. Portanto, vale ressaltar ainda segundo o doutrinador que se ocorrer a aceitação da vítima, em relação ao ato, não a de se falar em crime de estupro. Sendo assim, em seu entendimento, para que configure tal crime é fundamental que ocorra oposição da vítima. Todavia, seus dizeres elucidam o seguinte: 
[...] Dessa forma, pode-se concluir que o dissenso é pressuposto do crime. Deve ser ainda, um dissenso sério, que demonstre não ter a vítima aderido à conduta do agente. Não se exige, entretanto, uma resistência heróica por parte ‘dela, que lute até as últimas forças, pois estaria correndo risco de morte.
Segundo Bitencourt (2012, p. 2333), devido às mudanças inseridas pela Lei n. 12.015/2009 na qual realizou a fusão do “crime de estupro (art. 213) e atentado violento ao pudor (art. 214)”, não alterou o conceito de conjunção carnal, “[...] que contínua sendo cópula vagínica, diversa de outros atos de libidinagem.” Assim sendo, obtivemos duas classes diferentes de estupros, sendo “constranger à conjunção carnal e constranger à libidinagem”, devendo ser analisados separadamente. Portanto, nesse prisma para Fayet (2011, p. 56) a primeira modalidade se refere à questão da conduta de constranger alguém a ter conjunção carnal, significa algo ilícito, elucidando da seguinte forma:
[...] a ação proibida aqui é a cópula vagínica obtida sem consentimento, sendo indiferente que a penetração seja completa ou que haja ejaculação. Nota-se que os elementos alguém – relativo à descrição do sujeito passivo objeto do delito – e conjunção carnal – classificável como elemento normativo -, são elementos necessários e indispensáveis junto ao verbo constranger para delinear a proibição da conduta.
No entanto, ainda de acordo com os dizeres de Fayet (2011, p. 56) a proteção jurídica não é mais direcionada apenas a pessoa do sexo feminino, apesar de que a lei não modificou o conceito de conjunção carnal, sendo assim o mesmo esclarece que:
[...] a proteção não mais é exclusiva à mulher, em que pese à lei não ter reescrito a definição de conjunção carnal – mantendo a diferenciação que se aprende na doutrina de que conjunção carnal é cópula pela união de órgãos genitais de sexos opostos, e todos os demais atos sexuais imagináveis são atos libidinosos 
Assim sendo, no entendimento de Fayet (2011) qualquer indivíduo sendo do sexo masculino ao feminino, pode sofre o crime de estupro, ou seja, violência sexual e também podem praticar esse delito tão específico.
Todavia, no que diz a respeito da segunda modalidade para Fayet (2011, p. 57) a mesma está relacionada a “constranger alguém a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, portanto, entendendo por tal conduta sendo “ato libidinoso o ato atentatório ao pudor do homem médio, contrastante com o sentimento normal de moralidade.”
Já Delmanto (2011, p. 692), elucida sua censura abordando a questão do legislador não ter realizado o conceito de ato libidinoso, enfatizando o assunto da seguinte maneira: 
Mantemos as críticas que fazíamos nas edições anteriores desta obra à redação do revogado art. 214 (que incriminava, de forma autônoma, o atentado violento ao pudor), por não ter o legislador inserido, quanto ao conceito de ato libidinoso, uma graduação e consequente apenação diferenciada dos diversos tipos de atos, punindo com as mesmas severas penas, por exemplo, um gravíssimo sexo anal e um toque em regiões íntimas.
Para Mirabete (2010, p. 390) no que se refere ao ato libidinoso pode ser entendido como algo carnal e lascivo com intuito de satisfazer os desejos de alguém, sendo abordado da seguinte forma:
	
[...] ato lascivo, voluptuoso, dissoluto, destinado ao desafogo da concupiscência. Alguns são equivalentes ou sucedâneos da conjunção carnal (coito anal, coito oral, coito inter-femora, cunnilingue, anilingue, heteromasturbação). Outros, não sendo, contrastam violentamente com a moralidade sexual, tendo por fim a lascívia, a satisfação da libido.
Neste prisma vale destacar que, em relação aos atos libidinosos, existem algumas divergências doutrinárias. Contudo, o ensejo anal ou oral perpetrado mediante o uso de violência ou grave ameaça, são distintos dos diversos atos libidinosos. Entretanto, em relação ao beijo lascivo, para alguns doutrinadores o mesmo tem que ser punido de forma proporcional, sendo assim Capez (2012, p. 36) descreve o posicionamento de alguns dos mesmos, vejamos:
Cezar Roberto Bitencourt entende que “beijo lascivo, tradicionais ‘ amassos’, toques nas regiões pudendas, ‘ apalpadelas’, sempre integraram os chamados ‘ atos libidinosos diversos de conjunção carnal’. No entanto, a partir da Lei dos Crimes Hediondos, com pena mínima de seis anos de reclusão, falta-lhes a danosidade proporcional, que até pode encontrar no sexo anal ou oral violento”. Continua o autor: “A diferença entre o desvalor e a gravidade entre o sexo anal e orale os demais atos libidinosos é incomensurável. Se naqueles a gravidade da sanção cominada (mínimo de seis anos de reclusão) é razoável, o mesmo não ocorre com os demais, que, confrontados com a gravidade da sanção referida, beiram as raias da insignificância. Nesses casos, quando ocorre em lugar público ou acessível ao público, deve desclassificar-se para a contravenção do art. 61 (LCP) ou deve declarar-se sua inconstitucionalidade, por violar os princípios da proporcionalidade, da razoabilidade e da lesividade do bem jurídico”. 
 Luiz Flávio Gomes, baseando-se na doutrina de Claus Roxin, o qual redescobriu o princípio da insignificância, indaga: “Um beijo lascivo é crime hediondo? Quem interpreta a lei penal de forma literal diz (absurdamente) sim e admite então para esse fato a pena de seis anos de reclusão, que é igual à do homicídio; quem busca a solução justa para cada caso concreto jamais dirá sim (esse beijo poderia no máximo constituir uma contravenção penal — art. 61, LCP: importunação ofensiva ao pudor).
Por outro lado existem aqueles doutrinadores que defendem a questão de que o beijo lascivo pode ser considerado um ato libidinoso, se o mesmo possuir desígnio erótico e acometido com a utilização de violência ou grave ameaça como elucida Capez (2012, p. 37) vejamos:
[...] Da mesma forma, entende o autor Damásio que o beijo lascivo, quando praticado com o emprego de violência ou grave ameaça, igualmente tipifica o crime em tela, mas, “evidentemente, não se pode considerar como ato libidinoso o beijo casto e respeitoso aplicado nas faces, ou mesmo o ‘ beijo roubado’, furtiva e rapidamente dado na pessoa admirada ou desejada. Diversa, porém, é a questão, quando se trata do beijo o lascivo nos lábios aplicado à força, que revela luxúria e desejo o incontido, ou quando se trata de beijo o aplicado nas partes pudendas”.
No mais, segundo Fayet (2011) após a nova redação conferida pela Lei n. 12.015/2009 o delito de estupro incorporou o crime de atentado violento ao pudor, concedendo deste modo, inúmeras alterações nos dispositivos penais anteriores, sobre esse crime específico, admitindo assim, que indivíduo do sexo masculino seja vítima do delito de estupro, encerrando antigas divergências de gêneros, já não plausíveis em nossa sociedade hodierna. 
4.6 Elemento Subjetivo
Masson (2014, p. 99), em relação aos elementos subjetivos, entende que o dolo, a vontade consciente do indivíduo em praticar o ato, não enquadra como elemento subjetivo do crime de estupro, mas com meio especifico de agir, e a forma culposa é inexistente. Vejamos;
[...] É o dolo, acrescido de um especial fim de agir (elemento subjetivo especifico), consistente na intenção de manter conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém. A propósito, essa finalidade específica é o traço distintivo entre os crimes de estupro e de constrangimento ilegal (CP, art. 146).
Entretanto, não se exige o desejo de satisfação da lascíva, do apetite sexual, pois o estupro pode ser cometido com outros propósitos, tais como humilhar o ofendido, ganhar uma aposta de amigos, contar vantagem para outras pessoas etc. Não se admite a modalidade culposa.
Entretanto, neste mesmo prisma Mirabete (2010, p. 391) também preconiza que o elemento subjetivo do crime de estupro configura no dolo, onde o mesmo o define como sendo a vontade de cometer a conduta típica, vejamos: 
O dolo é a vontade de praticar a conduta típica, ou seja, a de constranger a vítima, mediante violência ou ameaça, à prática da conjunção carnal ou de outro ato libidinoso. O fim de manter a conjunção carnal ou praticar o ato libidinoso é o elemento subjetivo do tipo (dolo específico).
Para Fayet (2011) o dolo desse delito específico, expressa na vontade consciente do indivíduo de praticar o ato ilícito, com isso, gerando um risco ao bem jurídico tutelado. Nota-se que dessa forma o dolo do crime de estupro abrange a consciência livre da pessoa em estar causado um risco a liberdade sexual da vítima, pois, deve constrangê-la, por meio de violência ou grave ameaça, ou à obrigação carnal ou a atos libidinosos. 
4.7 Consumação e Tentativa 
De acordo com Gonçalves (2011, p. 15) no que se refere à questão da consumação e tentativa do delito de estupro, posteriormente a Lei n. 12.015/2009 perdeu um pouco do seu efeito, pois a mesma passou a abordar a prática do ato de libidinagem como estupro. Sendo assim, o mesmo enfatiza conjunção carnal como sendo “A conjunção carnal consuma-se com a introdução, ainda que parcial, do pênis na vagina. Contudo, se antes disso o agente já realizou outro ato sexual independente, o crime já está consumado.”
Já no entendimento de Bitencourt (2012, p. 2347) o crime de estupro consuma-se em duas modalidades, sendo a primeira, o ato de constranger à conjunção carnal, e na segunda, o de praticar ou permitir a prática de outro ato libidinoso, da seguinte forma, observemos os seus dizeres:
O crime de estupro, na modalidade constranger à conjunção carnal, consuma-se desde que haja introdução completa ou incompleta do órgão genital masculino na vagina da vítima, mesmo que não tenha havido rompimento da membrana himenial, quando existente; consuma-se, enfim, com a cópula vagínica, sendo desnecessária a ejaculação. 
Na modalidade praticar ou permitir a prática de outro ato libidinoso, consuma-se o crime com a efetiva realização ou execução de ato libidinoso diverso de conjunção carnal; o momento consumativo dessa modalidade coincide com a prática do ato libidinoso.
Para Fayet (2011, p. 73) a consumação do crime de estupro não depende de qual a forma que o indivíduo escolhe, sendo que o ato de libidinagem, cometido utilizando meios de violência ou grave ameaça capaz de constranger a liberdade sexual individual já é o satisfatório para ferir o bem jurídico tutelado. Sendo assim, o mesmo menciona um exemplo que descreve o assunto enfatizado, vejamos: 
Assim, imaginemos o agente que amarra a vítima despida, mediante grave ameaça, de tal sorte que fique exposto o órgão sexual desta, sem, de qualquer sorte, tocar-lhe as partes pudendas ou proferir quaisquer impropérios lascivos, isto é, sem intenções sexuais. Tal conduta inicia a execução do crime de estupro, pois cria o risco para liberdade sexual da vítima, permitindo que o agente desista do feito ou se arrependa dos atos já praticados, respondendo, então, em nosso entender, apenas pelo crime de cárcere privado. Entretanto, caso venha o sujeito ativo a alisar lascivamente, em outro momento, as partes pudendas de sua vítima já constrangida, perfectibilizará o tipo do estupro independentemente se esta conduta é meio para cópula vagínica ou fim libidinoso em si.
Todavia, em relação à questão da tentativa, Fayet (2011, p. 74) elucida que a mesma vem fundamentada no artigo 14, inciso II, do Código Penal brasileiro, onde a conceitua, como sendo uma ação que não se concretiza por motivos adversos a vontade do indivíduo:
[...] execução começada de um crime, que não chega a se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente; é, portanto, o delito imperfeito, no qual não se dá o resultado pretendido pelo agente, por isso, diz-se ser a tentativa um delito incompleto, de uma tipicidade subjetiva completa com um defeito na tipicidade objetiva.
Ainda de acordo com Fayet (2011) a tentativa no crime de estupro, pode ser compreendida pelo princípio da definição do iter criminis, ou seja, o indivíduo começa a efetivação do crime desejado, mas por algum fator não obtém o resultado. Portanto, para Fayet (2011, p. 74-75) o iter criminis pode ser entendido da seguinte maneira:
Iter Criminis ou o caminho do crime é composto por quatro fases. A primeira fase é a da cogitação, ou ideação, na qual o sujeito idealiza, mentaliza, prevê, planeja, deseja a prática do crime, sem, entretanto, sair do plano psicológico, isto é, sem evidentemente, materializar sua idéia. A segunda fase é a da preparação, onde o agente pratica os atos imprescindíveis à execuçãodo crime, como por exemplo, a compra da arma, a vigília da vítima, etc. Pode-se dizer que nessa segunda etapa, o agente materializa o ideado, sem, contudo, ingressar no plano da execução. Estas façam, aliás, não interessa ao direito punitivo e por isso não é punível, salvo as hipóteses em que o legislador tipificou como crime autônomo a preparação de delito futuro. [...] A terceira fase é a da execução, a etapa em que o agente dá início à execução de um tipo, realizando a conduta descrita, por meio da prática do verbo deste, criando risco da lesão ao bem jurídico. Aqui pode-se dizer que o agente realiza a conduta planejada e preparada. Os atos executórios são puníveis, de acordo com o estabelecido no Código Penal, na medida da tentativa, isto é, de acordo com a proximidade da consumação. A quarta e última fase do “iter criminis” é a consumação, onde o agente consegue, de modo efetivo, o resultado almejado, realizando a figura típica descrita no artigo da lei penal e lesionando o bem jurídico. 
Sendo assim, é notório que doutrinariamente, a tentativa no crime de estupro é admissível, neste mesmo prisma Gonçalves (2011, p. 520) enfatiza que tal ato é possível quando o indivíduo utiliza atos de violência ou grave ameaça e não venha a conseguir por algum motivo inerente a sua vontade a realizar o ato sexual pretendido com a vítima. Assim sendo, para melhor esclarecer esse fato o tal doutrinador emprega um exemplo “o agente aborda a vítima na rua com uma arma e a obriga a adentrar em uma casa abandonada onde os atos sexuais ocorrerão, mas ela consegue fugir ou é auxiliada por outras pessoas ou por policiais.”
Todavia, vale destacar uma questão importante em relação à tentativa, ou seja, a tentativa perfeita e imperfeita. Sendo assim, para Fayet (2011) a tentativa perfeita o indivíduo realiza todas as ações a ele acessíveis, mas por alguma causa alheia não se consuma. Sendo assim, ainda de acordo com Fayet (2011, p. 78) no que diz a respeito do delito de estupro:
[...] caso o agente inicie o constrangimento da vítima, obrigando-a a despir-se, e amarrando-a de forma a deixar-lhe exposto o órgão sexual (criando risco para sua liberdade sexual), e a vítima consegue soltar-se e fugir, teremos a tentativa perfeita. Se, ao invés de a vítima fugir, o sujeito apiedar-se da mesma e desamarrá-la, deixando-a escapar, teremos um arrependimento eficaz; e, se antes de amarrá-la, o sujeito abandona a execução do almejado, dá-se a desistência voluntária. 
No entanto, no que diz a respeito da tentativa imperfeita Fayet (2011, p. 78) o indivíduo é impossibilitado de prosseguir com a ação que havia esquematizado, “[...], por exemplo: o agente dispara contra a vítima e é impedido de continuar atirando pela interferência de terceiro, ou o projétil não estoura.”. Portanto, no que refere ao crime de estupro o autor ainda esclarece com o seguinte exemplo “[...] se o agente, após constranger vítima por meio de ameaça, amarrando-a etc., vem a ser impedido de iniciar os atos libidinosos por ser preso por terceiros, teríamos uma tentativa imperfeita”. 
Entretanto, nesse prisma se o indivíduo por vontade própria venha a desistir de continuar com o crime de estupro, tal ato pode ser caracterizado como desistência voluntária. Que segundo Fayet (2011, p. 79) a desistência voluntária configura-se na renúncia da prática, ou seja, o sujeito finda o seu procedimento criminoso. Portanto, tal ação só poderá acontecer antes de exaurir o procedimento executório. Porem, para configuração da mesma é necessário que ocorra duas condições, sendo as mesmas “[...]. 1º) o agente não ter esgotado os atos executórios; 2º) a conduta ter caráter negativo (não continuar a agir).” Porém, vale mencionar ainda segundo o autor Fayet (2011) que o indivíduo respondera pelas as ações já empreendidas, desde que as mesmas sejam puníveis. Entretanto, tais preceitos estão inseridos no artigo 15 do CP. “Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”. Portanto, no que se refere à questão da desistência voluntária o STJ concede o seguinte entendimento, vejamos:
HABEAS CORPUS. ESTUPRO. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. ABSOLVIÇÃO. RESPONSABILIZAÇÃO PELOS DEMAIS ATOS PRATICADOS. CARACTERIZAÇÃO DE CRIME AUTÔNOMO. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. [...]. 1- Entenderam as instâncias ordinárias que, tendo o paciente desistido de consumar a conjunção carnal, após ter ejaculado nas pernas da menina, ficou ele absolvido da tentativa de manter conjunção carnal, tanto que sequer foi apresentada denúncia no tocante a essa conduta. 2- Nos termos da parte final do art. 15 do Código Penal, deve o acusado responder pelos atos até então praticados, que, isoladamente apreciados, caracterizaram o crime previsto no antigo art. 214 do Estatuto Repressor (hoje previsto na parte final do art. 213 do aludido código), motivo pelo qual foi ofertada a denúncia que culminou na condenação do paciente, inexistindo, a meu ver, qualquer constrangimento a ser sanado. 3- As alterações trazidas pela Lei nº 12.015/2009 não modificaram a situação do paciente, [...]. (STJ, Relator: Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), Data de Julgamento: 23/11/2010, T6 - SEXTA TURMA).
Logo, vale destacar um ponto importante o arrependimento eficaz, que para Fayet (2011) possui o seu lugar, quando o indivíduo, tendo já complementado o meio de consumação do delito, desenvolve nova operação impedindo a formação do efeito, ou seja, de algum modo para impede o resultado delituoso. Sendo que o indivíduo respondera somente pelos atos já praticados. Entretanto, para configuração do mesmo são necessárias três condições fundamentais, que segundo Fayet (2011, p. 79) são:
[...] 1º) O esgotamento dos atos executórios; 
2º) Movimento positivo (o agente tem que agir para evitar o resultado); 
3º) Efetivo impedimento do resultado. O indivíduo, por força da troca de dolo, demonstra pelo efetivo momento no sentido de diminuir as conseqüências dos atos já praticados, responderá apenas por estes, se puníveis automaticamente.
Todavia, em relação ao tema do arrependimento eficaz o STJ se posiciona frente ao assunto com a seguinte jurisprudência:
HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. DESCLASSIFICAÇÃO PARA FORMA TENTADA. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIAFÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO WRIT. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADA POR ELEMENTOS IDÔNEOS. DEPOIMENTO DA VÍTIMA E PROVAS TESTEMUNHAIS. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 1. A pretensão de desclassificação para crime tentado é questão que demanda aprofundada análise de provas, o que é vedado na via estreita do remédio constitucional, que possui rito célere e desprovido de dilação probatória. 2. No processo penal brasileiro vigora o princípio do livre convencimento, em que o julgador, desde que de forma fundamentada, pode decidir pela condenação, não cabendo, então, na angústia via do writ, o exame aprofundado de prova no intuito de re-analisar as razões e motivos pelos quais as instâncias anteriores formaram convicção pela prolação de decisão repressiva em desfavor do paciente. 3. Nos crimes contra os costumes a palavra da vítima se torna preponderante, se coerente e em consonância com as demais provas coligidas nos autos, como é o caso da hipótese vertente, em que a ofendida expôs os fatos com riqueza de detalhes, tudo em conformidade com os demais elementos probantes. 4. No caso, as decisões hostilizadas afastaram a tese defensiva inclusive as ora arguidas neste writ -, fazendo, na sequência, cotejo das provas carreadas aos autos, concluindo pela condenação do paciente pela prática do delito de atentado violento ao pudor, com fundamento em contexto fático-probatório válido para demonstrar o crime e sua autoria. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. CONFIGURAÇÃO. AFASTAMENTO DA TENTATIVA. RESPONSABILIDADE PELOS ATOS JÁ PRATICADOS. IMPOSSIBILIDADE DE ACOLHIMENTO

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