Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANA CRISTINA MENDONÇA GEOVANE MORAES OAB XIII Exame Segunda Fase Penal Súmulas importantes sobre Prescrição STF Súmula 146 A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na sentença, quando não há recurso da acusação. STF Súmula 497 Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação. STF Súmula 592 Nos crimes falimentares, aplicam-se as causas interruptivas da prescrição, previstas no código penal. STJ Súmula 191 A pronúncia é causa interruptiva da prescrição, ainda que o tribunal do júri venha a desclassificar o crime. STJ Súmula 220 A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva. STJ Súmula 338 A prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas. STJ Súmula 415 O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada. STJ Súmula 438 É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal. Questões sobre Prescrição 1) Joel, nascido em 20 de fevereiro de 1987, foi condenado, com sentença transitada em julgado em 10 de janeiro de 2009, à pena de 06 anos de reclusão, pela prática de 03 delitos, sendo dois furtos qualificados e um de receptação, em concurso material, sendo a pena para cada um dos delitos, de dois anos de reclusão. Todos os crimes foram praticados em 2007. Em 10 de fevereiro de 2011, foi cumprido o respectivo mandado de prisão. Em abril de 2013, Angela, companheira de Joel, procura por seus préstimos advocatícios, buscando saber se o mesmo poderia receber algum benefício. a) Qual a orientação jurídica e as medidas legais, se cabíveis? b) Quem seria competente para apreciar tal medida? c) Se o juízo competente negar o pedido eventualmente formulado, como deve proceder o advogado? Espelho a) A orientação dada é de que ocorreu a prescrição da pretensão executória, nos termos do art. 110 do Código Penal, já que o prazo prescricional, no caso de concrso material, deve ser analisado individualmente para cada delito, não interessando a pena total imposta, conforme disposto no art. 119 do Código Penal. Além disso, por ser o agente menor de 21 anos na data do fato, a prescrição é contada pela metade, conforme previsto no art. 115 do Código Penal. No caso concreto, a prescrição de cada pena imposta ao agente ocorrerá em 09 de janeiro de 2011, visto que cada crime teve pena isolada de 02 anos de reclusão. Sendo assim, prevê o art. 109, V do Código Penal que nesse caso a prescrição seria de 04 anos. Por ser o agente beneficiado do prazo prescricional pela metade, a prescrição da pretensão executória dar-se-á em 02 anos, ou seja, como dito, na data de 09 de janeiro de 2011. Diante do exposto, caberia a juntada de uma simples petição ao juízo da execução requerendo o reconhecimento da extinção de punibilidade pela prescrição. Caberia ainda o intento Habeas Corpus como medida mais eficaz ao caso concreto, visto que o agente encontra-se preso, fundamentando-se a medida no art. 648, VII do Código de Processo Penal. b) A competência para apreciação da petição é do juízo da execução penal, visto que o réu já se encontra cumprindo pena, com fundamento no art. 66, II da LEP. Em sendo impetrado Habeas Corpus com fundamento no art. 648, VII do Código de Processo Penal, a competência para a apreciação da medida é do Tribunal de Justiça. c) Mais uma vez, havendo o indeferimento da extinção de punibilidade realizada por petição simples, caberia agravo em Execução, com fundamento no art. 197 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7210/84). Embora o recurso cabível fosse o agravo em execução, também seria possível impetrar habeas corpus, como meio mais ágil a buscar a declaração de extinção da punibilidade e expedição do competente alvará de soltura. Caso houvesse sido impetrado Habeas Corpus diretamente ao tribunal, com fundamento no art. 648, VII do Código de Processo Penal, ao invés de ser postulada a extinção da punibilidade junto ao juízo da execução, se denegada a ordem pelo tribunal, caberia, nesse caso, Recurso Ordinário Constitucional ao Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, II, “a” da Constituição Federal. 2) Após processo criminal que tramitou perante a 13a. Vara Criminal da comarca da Capital do Rio de Janeiro, foi Wellington, vulgo Tom, condenado pela prática do crime de extorsão, recebendo do juízo a pena de 5 anos e 7 meses de reclusão. A sentença condenatória transitou em julgado sem qualquer reforma e, exatos dois anos após o trânsito em julgado, em 05/01/2003, o mandado de prisão foi cumprido e iniciado o cumprimento da pena no regime semiaberto. Em 05/03/2005, Tom foge do presídio. No período em que Tom ficou foragido da justiça, o mesmo converteu-se a uma religião, da qual acabou se tornando pastor, em pequena cidade do interior do Tocantins, onde ainda arrumou emprego estável e constituiu família. Porém, apesar da vida aparentemente comum que Tom levava, em 05/01/2014, nove anos após a sua fuga, uma denúncia anônima acabou levando a polícia até Tom, em face de quem ainda havia um mandado de prisão em aberto. Você é procurado pela companheira de Tom para adotar as medidas cabíveis. a) Qual o instituto a ser alegado no caso concreto? b) Qual o instrumento legal a ser utilizado pelo advogado e a quem deve o mesmo endereça- lo? c) Caso a medida adotada pelo advogado não seja deferida pelo juízo, qual o recurso ou medida cabível? Espelho a) Caberia a alegação da prescrição da pretensão executória, nos termos do art. 110 do Código Penal, visto que o Estado demorou demais para fazer com que o agente cumprisse o restante da pena. No caso concreto, Tom foi preso e começou o cumprimento da pena, quando então se evadiu do presídio. Com isso, o prazo de prescrição da pena é regulado pelo tempo que resta para o seu cumprimento, nos exatos moldes do art. 113 do Código Penal. Sendo assim, em virtude de ter o agente cumprido 02 anos e 02 meses, faltariam 03 anos e 05 meses de pena residual a ser cumprida. Nesse caso, verificando o art. 109, IV do Código Penal, a prescrição dar-se-á em 08 anos. Da data da fuga de Tom do presídio até o dia da sua captura, transcorreram 09 anos, estando, portanto, prescrita a pretensão executória. b) Caberá ao advogado o intento de uma petição simples endereçada ao juiz requerendo a extinção de punibilidade pela prescrição, sendo o juiz competente para a apreciação da medida o das execuções penais, visto que o agente já se encontra cumprindo pena, com fundamento no art. 66, III, “b” da LEP. c) Em caso de indeferimento do juiz ao pedido de reconhecimento extinção de punibilidade do condenado, caberá ao advogado o ajuizamento do Agravo em Execução, nos termos do art. 197 da Lei 7210/84. Todavia, também possível impetrar diretamente ao Tribunal de Justiça habeas corpus, como medida mais eficiente e mais rápida com fundamento no art. 648, VII do Código de Processo Penal. 3) Técio, em 02/06/2005, foi preso em flagrante quando tentava subtrair o carro de Alexandre. No curso do inquérito policial foi descoberto que Técio costumava praticar esse tipo de crime reiteradamente no mesmo bairro, sendo recebida a denúncia pelo delito de furto continuado (art. 155, caput, c/c 71 do Código Penal) em 07/06/2005.Em 13/07/2007, foi proferida sentença condenando Técio a uma pena base de 2 anos de reclusão, que, acrescida de 1/3 em razão da continuidade delitiva, alcançou a pena final de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de reclusão, com o pagamento de 20 dias-multa (não houve incidência de agravantes e atenuantes). A sentença foi publicada em 15/07/2013. Interposto recurso pelo Ministério Público requerendo aumento da fração aplicada em virtude da continuidade delitiva, foi contrarrazoado pelo acusado que o delito já estaria prescrito. Julgada a apelação, foi parcialmente provida, aumentando para 2/3 a fração de aumento pela continuidade delitiva, restando a pena privativa de liberdade final de 3 anos e 4 meses. Assiste razão ao advogado de defesa? Fundamente. Espelho Sim, assiste razão ao advogado, visto que em se tratando de crime continuado, o cálculo da prescrição regula-se pela pena base imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuidade, nos exatos termos da Súmula 497 do STF. No caso concreto, o acréscimo pela continuidade delitiva foi de 1/3, ou seja, 8 meses da pena. Sendo assim, sem esse acréscimo, o réu teria a pena de 02 anos, prescrevendo-se o crime em 04 anos, nos termos do art. 109, V do Código Penal. Da data do recebimento da denúncia (07.06.2005), que foi onde decorreu a interrupção do prazo prescricional até a publicação da sentença ocorrida em 15.07.2013, gerou a prescrição intercorrente, visto que passaram-se mais de 04 anos. 4) Carlos, vulgo Peninha, nascido em 10/06/1988, foi denunciado pela prática do crime de roubo simples (art. 157, caput, do Código Penal), na forma tentada, praticado no dia 10/06/2009. A denúncia foi recebida em 13/06/2011, sendo Carlos, posteriormente, condenado, por ser primário, a uma pena privativa de liberdade de 3 anos de reclusão em regime inicial aberto. A sentença condenatória recorrível foi publicada em 19/06/2012. Houve recurso da defesa, mas, não tendo recorrido o MP, a sentença transitou em julgado para a acusação em 01/07/2012. Em 09/04/2013 ocorreu o trânsito em julgado definitivo da sentença condenatória, tendo sido confirmada a pena imposta a Carlos, ou seja, 03 anos de reclusão, em regime inicial aberto. Carlos, até a presente data, não foi encontrado para dar início ao cumprimento de sua pena. Diante desta situação, indique se cabível reconhecer a extinção da punibilidade em favor de Caio. Em caso positivo, qual o instituto aplicável, e a quem deverá ser formulado o pedido. Espelho O crime de roubo simples possui uma pena privativa de liberdade abstratamente cominada de quatro a dez anos de reclusão (art. 157 caput, CP). Ocorre que, no caso indicado na questão, o crime foi praticado na modalidade tentada art. 14, II, do Código Penal), e, nos crimes tentados, o parágrafo único do mesmo art. 14, estabelece que o juiz deverá reduzir a pena de um a dois terços. Como as causas de aumento e diminuição são de aplicação obrigatória e possuem quantum preestabelecido, elas devem ser consideradas para o cálculo da prescrição. Assim, para se conhecer da pena máxima em abstrato para o crime de roubo tentado, deve-se considerar a pena máxima abstrata do crime de roubo, e reduzi-la na redução mínima decorrente da tentativa, ou seja, em 1/3. Assim, no caso em tela, a pena de 10 anos é reduzida em um terço (3,3 anos), ficando a pena abstratamente cominada em 6 anos e 9 meses. Considerando o artigo 109, inciso III, do Código Penal, a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ocorreria em 12 anos, contados do momento em que cessada a atividade criminosa (art. 111, II, do Código Penal). Ressalte-se que Carlos, na data do fato (10/06/2009), já possuía 21 anos completos, não se aplicando ao caso a redução pela metade prevista no artigo 115 do Código Penal. Assim, tendo sido recebida a denúncia em 13/06/2011, não ocorreu a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita. Da mesma forma, entre a data do recebimento da denúncia (13/06/2011) e a publicação da sentença condenatória (19/06/2012) não houve lapso temporal suficiente para a prescrição intercorrente. Com o trânsito em julgado para a acusação (01/07/2012), passa-se a calcular a prescrição pela pena efetivamente aplicada, em face da proibição da reformatio in pejus (art. 617 do CPP e art. 110, parágrafo único, do CP). Em sendo a pena aplicada a Carlos de 3 anos, em face do art. 109, IV, do CP, esta prescreveria em 08 anos, não se verificando também, no caso concreto, a incidência da prescrição retroativa. Da mesma forma, não se verifica ainda, no caso presente, lapso temporal entre o trânsito em julgado para a acusação e a data corrente suficiente para que ocorresse a prescrição da pretensão executória que, no caso concreto, ocorreria após 08 anos contados do trânsito em julgado para a acusação (art. 112, I, do Código Penal). Assim, NÃO há que se falar em extinção da punibilidade em favor de Caio, não tendo ocorrido nenhuma das modalidades de prescrição, nem a prescrição da pretensão punitiva, nem a prescrição da pretensão executória.
Compartilhar