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UNP – UNIVERSIDADE POTIGUAR MARIA DO CARMO DANTAS GOMES O LEITOR Resenha Crítica MOSSORÓ 2016 Maria do Carmo Dantas Gomes O Leitor Resenha Crítica do filme O Leitor de Stephen Daldry Orientador: Marcus Vinícius Linguagem Profissional Jurídica Mossoró 2016 O Leitor Filme: O Leitor (The Reader) Ano: 2008 Gênero: Drama/ Romance Duração: 2h 4m Direção: Stephen Daldry Elenco Principal: Kate Winslet – Hanna Schmitz Ralph Fiennes – Michael Berg (Adulto) David Kross – Michael Berg (Jovem) Alexandra Maria Lara – Ilana Mather Bruno Ganz – Professor Rohl Janette Hain - Brigitte Resenha Crítica O filme de produção inglesa O Leitor (The Reader) de Stephen Daldry, datado de 2008, inspirado na obra Der Vorleser, de 1995, do escritor alemão Bernhard Schlink relata um romance que teve inicio nos anos 50, entre um jovem estudante alemão chamado Michael Berg vivido por David Kross (em sua juventude), e uma mulher mais velha, trocadora, Hanna Schmitz protagonizada pela experiente e premiada Kate Winslet, os dois são de mundos totalmente diferentes, ele estudante dependente dos pais, ela uma mulher adulta e sozinha que precisa ganhar a vida como trocadora em bondinhos para manter-se. Em duas etapas o diretor descreve detalhadamente a vida do casal durante o filme e seu desfecho trágico, que se inicia em 1995 em que Michael Berg então representado pelo ator Ralph Fiennes, um homem já adulto aparentemente atarefado por sua mesa cheia de processos, telefone e notebook serve-se de um café preto enquanto prepara um ovo cozido para uma jovem mulher com quem passara a noite. Aparentemente é um relacionamento sem vínculos afetivos, onde a mesma não tem muito conhecimento de vida de Michael, com quem ele se envolve ou se tem filhos, o que denota através de um questionamento que a tal mulher o faz: “Alguma mulher fica aqui tempo suficiente para saber o que se passa em sua cabeça?” Enquanto ela sai pela porta, Michael observa pela janela um trem que ali passa e viaja por suas memórias até 1958, onde relembra passagens de sua vida no auge de seus quinze anos. Em um dia chuvoso, no inverno de Neustadt, cidade da Alemanha, após sentir-se mal Michael (David Kross) desce do bonde e vomita à entrada de um prédio, é ajudado por Hanna Schmitz (Kate Winslet), que o leva até próximo a sua casa. À mesa de refeições, junto a sua família eles discutem o fato de Michael precisar ou não de um médico, nesse contexto o diálogo demonstra que a voz feminina não tem vez, pois enquanto a mãe e irmã demonstram-se preocupadas, que ele precisa de um médico, o pai concorda com Michael que ele está bem e que não vão mais discutir sobre isso. Na cena seguinte já de cama, Michael é diagnosticado pelo médico da família com escarlatina, uma doença infectocontagiosa que atinge crianças e adolescentes e que o deixará de cama pelos próximos três meses em completo isolamento. Michael é um adolescente como todos os outros, e durante seus meses de cama coleciona e organiza seu álbum de selos, comenta com sua mãe que uma mulher o ajudara e após sentir-se curado vai visitá-la levando-lhe um buque de flores em forma de agradecimento. Hanna Schmitz é uma mulher “machão”, mora sozinha, trabalha para sustentar-se demonstra pouca importância pela atitude de Michael e pelas flores, fica claro que ela é uma pessoa reservada, solitária, sem família ou amigos. Ao observar-la passar suas peças íntimas com olhar um tanto curioso, coisa de jovens da época, Michael comenta que ficara de cama por três meses, que foi monótono e nem tivera vontade de ler, o que imediatamente desperta a atenção de Hanna. Ao despedir-se Michael agradece novamente, Hanna pede que a espere no corredor enquanto se troca, pois precisa trabalhar, a porta fica entreaberta de modo que a curiosidade de Michael possibilita que ele a veja trocar-se, Hanna percebe que ele a observa, atordoado, o menino sai correndo. Michael passa a observá-la em seu local de trabalho, passa em frente ao prédio em que Hanna mora e decide voltar a vê-la. Em sua porta à espera, Hanna chega de mais um dia cansativo carregando baldes de carvão, pede que o menino a ajude, ele aparentemente nunca havia ajudado em tarefas domésticas antes suja-se todo com fuligem do carvão, Hanna sugere preparar-lhe um banho para Michael e o observa enquanto ele tira suas roupas. Como que em um batismo, ele surge das águas da banheira, despindo-se do menino que até então fora para sua primeira relação intima com uma mulher. “Foi por isso que você voltou?” “Você é tão linda!” Ele demonstra pressa e timidez, ela o acalma enquanto o torna homem. Novamente em sua família, Michael os observa durante a refeição e em sua mente relembra do prazer de degustar o corpo de Hanna, ouve a mastigação, lembra dos gemidos e suspiros, vê seu pai assoprar a sopa quente e relembra o calor e suor dos corpos dos dois, sorri meio sem jeito. Intencionalmente Michael quer ir à escola com o pretexto de encontra-se com Hanna, a mãe orienta que não vá devido ele não está totalmente recuperado, o pai como de costume concorda com o rapaz e permite que ele vá. “O segredo é uma questão fundamental na literatura ocidental, nós podemos afirmar que a trama se desenvolve a partir de personagens que detém determinadas informações as quais, por vários motivos, às vezes cruéis, às vezes nobres, eles decidem não revelar” Menção que o professor durante a aula de Michael faz ao livro A Odisséia de Homero, um poema do século VIII que fala sobre a viagem de regresso de Odisseu (Ulisses) ao lar após a guerra de Tróia que durou 10 anos. “Todos acreditam que o tema de Homero é o regresso ao lar, mas na verdade A Odisséia é um livro sobre uma viagem, o lar é um lugar com que sonhamos.” Esta frase dita por seu professor resumidamente descreve todo o contexto da trama, Michael vive em meio a sonhos, preso ao passado, nunca se liberta do seu “lar”. Após sua aula Michael vai a mais um encontro amoroso com Hanna, os dois conversam sobre o que ele está estudando na escola, latim, grego, Alemão, idioma do contexto geral do filme, Michael diz que estuda Emilia Galotti, uma tragédia burguesa escrita por Gotthold Ephraim Lessing em 1772, apesar da peça se desenvolver na Itália, Emilia Galotti é uma forte crítica a realidade aristocrática na Alemanha à luz do pensamento iluminista, que representa a primeira tragédia política Alemã. “Você pode ler.” “Prefiro que leiam pra mim” Neste diálogo, Hanna demonstra que não tem interesse em ler o livro que Michael descrevera, e ao decorrer da trama fará sentido. Hanna o elogia por ser bom em ler, ele não acreditara ser bom em coisa alguma, mas, após o elogio passa de jovem tímido e temeroso e torna-se diferente, confiante, sorridente e líder entre seus amigos nos jogos da escola. Michael a visita em seu local de trabalho, ingênuo acredita que fariam amor no segundo vagão do bonde, Hanna furiosa vira as costas para o menino e sai. Em casa eles discutem, ela por acreditar que ele fingiu não conhecê-la, ele sem entender os motivos desculpa- se por tê-la aborrecido. “Você não tem o poder de me aborrecer, não é tão importante assim menino!” Nesta cena Hanna demonstra que Michael é apenas um objeto sexual para ela, sem muita importância, ela usa-o para seus prazeres, nada mais que isso. “Vamos mudar a ordem das coisas, leia para mim primeiro, depois faremos amor.” Em mais uma de suas “ordens” a Michael,ele por obedecer passa a ler várias obras literárias para Hanna, que o recompensa com uma relação sexual após cada leitura. Na cena seguinte Michael a convida para uma viagem de bicicleta, vende sua coleção de selos para conseguir pagar a viagem. “Não tenho medo, Não tenho medo de nada... Quanto mais eu sofro, mais eu amo... O perigo só fará crescer o meu amor. Ele o afiará, perdoará o preconceito. Serei o único anjo que você precisa. Você deixará a vida ainda mais bonita do que quando entrou O céu a levará de volta, olhará para você e dirá: Somente uma coisa pode nos completar. E esta coisa é o amor” Ao chegar a um restaurante durante a viagem, Hanna, com o cardápio em mãos diz que o acompanhará em seu pedido. “Sua mãe gostou da comida?” “Obrigado, ela gostou muito da comida!” Diálogo entre a garçonete e o jovem Michael, onde demonstra a diferença de idade entre os dois e a discriminação no olhar por parte da mulher que o atendera. Hanna se banha no lago, Michael escrevendo em seu diário um poema enquanto olha para ela. “O que está escrevendo?” “Um poema, sobre você” “Eu posso ouvir?” “Não está pronto, um dia eu leio pra você.” Nesse dialogo o diretor novamente dá pistas sobre o desfecho trágico da trama, em que preferivelmente ela pergunta se pode “ouvir” o poema. De volta à vida real, Michael dirige seu carro, ouvindo a canção com que Hanna se emocionara ao entrar na Igreja durante a viagem de bicicleta, olha seu diário e perde-se novamente em meio às lembranças. “Desculpa o atraso, eu fiquei preso na escola.” “Trouxe um livro novo?” A Dama do Cachorrinho de Anton Chekhov, o livro conta a história de um branquelo russo e uma jovem, a história é constituída em quatro partes, a primeira descreve o encontro do casal, a segunda o ato de adultério, a terceira o jovem visita a cidade onde sua amada encontra-se e na quarta parte a jovem vai até ele. O diretor utiliza de diversas obras literárias já existentes para descrever a vida das personagens em que o contexto descreve a trama do próprio filme, como em A Dama do Cachorrinho é uma delas, Michael não consegue esquecer o que vivera com Hanna. Hanna tem u ótimo desempenho e é promovida, terá que trabalhar no escritório, frustrada com a idéia que planeja em sua cabeça, eles discutem, só que dessa vez Michael demonstra sua insatisfação com o relacionamento que sempre é ele quem tem que pedir desculpas, que ela não se importa nem com seu aniversário. “Guerra e paz menino!” Mais um famoso romance mencionado durante a trama, Guerra e Paz escrito por Lev Nikolayevich Tolstoi, é uma das obras mais volumosas da literatura onde o autor alinhava suas narrativas a reflexões pessoais o que para seus leitores ficava difícil encontrar um herói, um vilão, os culpados, como no filme, dependendo da análise e da criação cultural do observador um pré-julgamento das atitudes de Michael e Hanna será feito a cada cena, quem o assiste ficará preso na trama, tentando definir o próximo passo das personagens, prevê suas falas, torcer para que coisas boas aconteçam de forma a sentir o que cada um sente no momento, medos, lágrimas, euforia ou até mesmo desespero de uma vida sem amor. Depois de se amarem pela ultima vez, Hanna parte para outra cidade sem que o menino saiba, Michael em uma melancolia só deita sobre a cama em que tantas outras vezes fizeram amor e fica como que anestesiado pela dor da perda. Na cena seguinte em um banho de lago o menino deixa para trás sua vida e de um mergulho, renasce das lembranças para encontrar sua filha que um tanto distante acredita ser a culpada pelo fato do pai haver sido sempre tão frio e perdido em pensamentos. De volta ao “lar” de seus pensamentos, já na faculdade, Michael participará de um seminário organizado pelo professor Rohl (Bruno Ganz) iniciado pela bibliografia de Karl Jasper, filósofo e psiquiatra alemão desligado de seu cargo pelo regime nazista, seu pensamento foi influenciado pelo seu conhecimento em psicopatologia que falava sobre a questão da culpa germânica. Durante o seminário Michael assiste ao julgamento de seis mulheres e descobre que Hanna Schmitz é uma das acusadas pela morte de 300 judias durante um incêndio que ocorrera em uma igreja na chamada “Marcha da Morte” prisioneiras da SS – SCHUTZSTA FFEL, uma organização militar ligada ao partido nazista e a Adolf Hitler, o lema da organização era: “MEINE EHRE HEIBT TREUE” – Minha Honra Chama-se Lealdade. A SS foi responsável por muitos dos crimes contra a humanidade, praticado pelos nazistas durante a segunda guerra mundial. O julgamento foi promovido devido a um livro escrito por Ilana Mather (Alexandra Maria Lara), filha de uma das sobreviventes do incêndio durante a “Marcha da Morte”, enquanto as outras cinco acusadas negavam participação tanto nas mortes como no relatório escrito após o incêndio, Hanna Schmitz admite que foi ela quem escrevera, devido a um segredo que ela não quer revelar, mas que mudaria totalmente o curso do julgamento e a decisão do juiz. Michael revela ao professor Rohl (Bruno Ganz) que sabe uma informação a respeito de uma das rés, mas prefere manter-se em silencio e não revelar ao júri. Enquanto as demais rés pegam penas mais brandas, Hanna é condenada a prisão perpetua. Ela sentia tanta vergonha por ser analfabeta que preferiu a condenação à confissão de seu segredo. Michael que viveu um romance com Hanna poderia ser um ponto essencial em seu julgamento, contudo em seu lado sombrio, no que diz respeito ao abandono e covardia perante o drama da amada, ela a conhecia perfeitamente, sabia de sua incapacidade perante os símbolos grafados (letras) para a formação da palavra escrita ele poderia inocentá-la. Notoriamente o drama de Hanna se torna cada vez mais comovente, ela havia passado mais de dez anos reclusa na penitenciária, Michael decidiu dar outros caminhos a vida dela, iniciou-se então um árduo trabalho, lia os livros que Hanna mais gostava gravando os áudios e fitas e enviando a ela, dessa forma Hanna foi alfabetizada e novamente ele passou a ser o céu na vida dela. Pessoas como Hanna não costumam refletir sobre sua própria vida, vivem o momento decidem o agora, não se preocupam com o futuro desde que tenham o controle sobre a opinião dos outros a seu respeito. Michael ao contrário, é sonhador, vive de lembranças, romântico gosta de detalhes de guardar os melhores momentos, escreve em seu diário e volta ao passado sempre que sente saudade, revive e revive tudo aquilo que um dia foi seu. A visita de Michael após vinte anos sem vê-lo foi decisiva para a ultima ação irrefletida de Hanna, ela talvez tenha sentido o gosto da decepção, da culpa do alívio, porém maior sentimento e causador da loucura de cometer suicídio foi a descrença no amor, para muitos, o correto não é o que sentimos, mas sim o que fazemos. Hanna devido ao seu segredo não revelado condenou-se a uma vida infeliz, um final trágico, condenou-se a morte. Michael julgador de si mesmo condenou-se a uma vida presa em sensações do passado, frustrada no presente e infeliz amorosa e profissionalmente no futuro.
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