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CAPÍTULO 1 JAUSS

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CAPÍTULO 1
 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E HISTÓRICA 
1.1. Sobre a Estética da Recepção.
A história da literatura é um processo de recepção e produção estética que se realiza na atualização dos textos literários por parte do leitor que os recebe, do escritor, que se faz novamente produtor, e do crítico, que sobre eles reflete.
Hans Robert Jauss�
	
	A década de 1960 foi marcada por várias transformações na sociedade, seja na organização econômica, política e social, seja nas relações entre os países, ou ainda na educação e nas universidades, foi um período que iniciou novos rumos e caminhos. Essas mudanças refletem novos pensamentos que se estabeleciam, indicando uma nova concepção de homem e de sociedade. Diante deste quadro, o rumo da literatura e da teoria literária, como reflexo dessas novas perspectivas, também revelou mudanças, principalmente no que se refere a novos modos de se pensar a análise e crítica literárias. Nesse contexto, em meio às discussões que já se disseminavam há poucos anos, alguns estudiosos, como Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser, começam a propor um novo modo de pensar a literatura, atribuindo mais valor ao leitor, diferentemente das teorias estruturalistas que enfatizavam o texto e desconsideravam o papel do leitor como construtor dos sentidos do texto.
	A partir dessas novas concepções sobre como avaliar a literatura, seu destinatário e outros fatores que a cercam, segundo a leitura de Zappone (2003) sobre este contexto histórico e teórico, surgem novas linhas de teoria literária, a exemplo de o Reader-Response Criticism, a Sociologia da Leitura e a Estética da Recepção. Esta última, objeto de interesse nesta pesquisa, tem em Jauss o autor mais expressivo. Em 1967, ele publicou um livro intitulado de A história da literatura como desafio à teoria literária, por meio do qual defende seus conceitos sobre literatura, história da mesma e seu vínculo com a sociedade, a leitura, o leitor.
	A teoria apresentada por Jauss parte de como ele vê a historicidade da literatura, a qual, para o autor, não poderia ser fundamentada, para a classificação dos livros, na sucessão cronológica, de modo que cada obra pertença a um ou outro período histórico. Jauss (1994) acusa aos que procuravam organizar a história literária de tentarem escamotear o uso do fator cronológico como base e, mais ainda, de desprezar o leitor, ser que mantém a obra viva em uma sociedade: 
Ambos os métodos, o formalista e o marxista, ignoram o leitor em seu papel genuíno, imprescindível tanto para o conhecimento estético quanto para o histórico: o papel do destinatário a quem, primordialmente, a obra literária visa. Considerando-se que, tanto em seu caráter artístico quanto em sua historicidade, a obra literária é condicionada primordialmente pela relação dialógica entre literatura e leitor. (JAUSS, 1994, p. 23)
	Jauss propõe, assim, um novo modo de se pensar a literatura e a sua configuração histórica com base na recepção dos textos literários, conforme o efeito produzido por eles no destinatário. Zilberman (2001), ao dissertar sobre as concepções desse autor, lembra “o leitor que, responsável pela atualização dos textos, garante a historicidade das obras literárias” (p. 88), quando a historicidade de uma obra é garantida pela “circunstância ainda ser lida e apreciada” (Ibidem). Dessa forma, é o leitor que promove a permanência da veiculação de um determinado texto literário ao longo dos anos em uma sociedade, além de, por meio de sua leitura, atualizar a obra, pelos novos sentidos que a atribui. 
	Para explicar suas idéias a respeito da arte literária e sua historicidade, Jauss elabora sete teses (quatro premissas e três sobre sua metodologia), as quais podemos resumir, a partir da leitura feita por Zilberman (1989) e Zappone (2003), da seguinte forma:
A primeira tese diz respeito ao fato de uma obra ser considerada atemporal e viva, na medida em que o leitor a atualiza com a sua leitura e, dessa forma, a muda, por conceder a ela significados diferentes dos que já lhe foram dados anteriormente. Esse processo pode ocorrer a qualquer momento histórico, enquanto a obra for lida pelos membros de uma ou várias sociedades em diferentes épocas. Nesse sentido, a obra literária não tem como existir independente do leitor, mas só existe por conta deste; 
A segunda tese concentra-se na experiência literária do leitor. Para se defender de antemão das críticas que poderia receber, Jauss afirma que a leitura é feita mediante a pressuposição de o leitor ter um saber prévio, tanto de literatura quanto de vida, conhecimento que se constituiria em “sistemas histórico-literários de referência trazidos tanto pelo leitor quanto evocados pelas obras” (ZAPPONE, 2003, p. 141), conseqüentemente, incluiria noções sobre as características do código estético. A leitura, portanto, pode ou confirmar ou romper o horizonte de expectativas criado pelo leitor previamente à leitura da obra;
A terceira tese toma por base a possibilidade de o horizonte de expectativas ser reconstruído, o que seria fundamento para medir a qualidade estética de uma obra mediante a noção de distância estética. Esta é entendida como o afastamento existente entre o horizonte de expectativas prévio e o suscitado pela leitura de uma nova obra. Quanto maior for a distância, ou seja, quanto mais a obra surpreender o leitor, causando rupturas, maior é o valor estético dessa texto literário. Agora, se a distância for muito pequena, Jauss denomina de arte culinária, por ser usual e não acrescentar em nada ao leitor;
A quarta tese está ligada à reconstrução dos sentidos recebidos por uma obra ao longo dos anos, pois essas interpretações variam conforme muda o momento histórico. Jauss atenta para o fato de que a leitura de um texto literário e, conseqüentemente, a história da literatura devem considerar o modo como o público reagiu ao texto, quando este surgiu, e comparar a diferença hermenêutica daquela época com a atual, fazendo, assim, a reconstituição do horizonte de expectativas de uma obra desde seu aparecimento. Dessa forma, faz-se uma história do efeito ocasionado por uma obra, e, para tanto, não se deve considerar unicamente a recepção do passado ou exclusivamente a do presente, mas sim, em uma leitura atual, incorporar as interpretações recebidas durante o processo histórico de sua recepção; 
A quinta tese trata de como Jauss faz uso do aspecto diacrônico no seu modo de formular a história da literatura. Para ele, a diacronia diz respeito ao fato de uma obra de considerável valor estético poder receber novas atribuições, tanto para melhor quanto para pior, no decorrer dos anos, pois existem avanços e recuos na história das recepções de um texto. Assim, Jauss, por observar essa mutabilidade na leitura da obra, recusa a idéia dos formalistas de ponderarem o valor de um determinado texto literário, tendo em consideração somente o efeito produzido na época de seu aparecimento;
A sexta tese discursa sobre o caráter sincrônico do projeto de Jauss, fator que deve ser trabalhado na intersecção com a diacronia. A sincronia lida com as relações entre as várias recepções de um determinado texto literário em um dado momento, para que essa obra não venha a ser vista simplesmente mediante a sucessão cronológica das interpretações concedidas a ela;
A sétima tese explicita a relação entre a sociedade e a literatura, mais especificamente a função desta naquela. Segundo Jauss, o texto literário pode modificar o modo de pensar e o comportamento do leitor, ampliando seus conhecimentos e visão de mundo. Nesse sentido, a obra teria a função de romper com certos dogmas do leitor, o que a concede caráter libertário: “a experiência da leitura logra libertá-lo das opressões e dos dilemas de sua práxis de vida, na medida em que o obriga a uma nova percepção das coisas” (JAUSS, 1994, p. 52).
	Esclarecemos, entretanto, que o leitor, nessa teoria, não é entendido como um ser individual com suas particularidades, mas, conforme Zilberman(2001), na sua reflexão sobre as concepções de Jauss, ele, o leitor, é compreendido como um conjunto social, por representar determinado grupo da sociedade, pois “cada leitor pode reagir individualmente a um texto, mas a recepção é um fato social” (ZILBERMAN, 1989, p. 34). Desse ponto de vista, o processo de recepção de um texto literário é individualizado, porquanto são avaliadas as etapas dessa leitura, enquanto o leitor já não pode ser particularizado, o que tornaria a pesquisa e a historicidade demasiadamente subjetiva.
	Como podemos observar, a Estética da Recepção valoriza o papel do leitor e da interação dialógica entre esse receptor e o texto. Zilberman (1989) ainda ressalta ser essa a perspectiva tomada por Iser no que diz respeito à obra literária, ao defini-la como comunicativa desde sua estrutura básica, constituição que a permite ter sentido unicamente por meio da ação do leitor, quando a lê, concedendo-lhe vida.
Nas teses de Jauss, é interessante notarmos a sua concepção sobre a função da literatura como libertadora e não transmissora de pensamentos e comportamentos reivindicados pelo sistema social, o que significa emancipar o leitor. Assim, “coube à literatura, concorrendo com as outras artes e forças sociais, na emancipação do homem de seus laços naturais, religiosos e sociais” (JAUSS, 1994, p. 57).
	Com base nos pressupostos de Jauss, Zilberman (1982) discorre sobre como a obra pode ser libertária conforme a postura tomada pelo narrador, classificando este como ou autoritário ou emancipador. O narrador se configura como autoritário se limita e manipula a interpretação, ao não dar espaço a imaginação livre do leitor, pois busca reiterar valores vigentes advindos da classe dominante, com intuito de moldar a sociedade. Agora, caso o narrador consinta várias interpretações, bem como visões de mundo, por meio de lacunas e ou estímulos ao leitor, ampliando o olhar deste sobre mundo, o narrador é emancipador. Para gerar essa emancipação, o narrador, na construção de seu texto, conta com aquilo que os fundamentos da Estética da Recepção denominam de leitor implícito, isto é, aquele que é evocado pelas lacunas do texto, pois devem ser preenchidas pela imaginação daquele que lê. O narrado emancipador, portanto, valoriza e espera a interação entre a obra e o leitor, por conceber este não como um ser que absorve passivamente o texto lido, mas age sobre.
	Retomaremos os conceitos aqui explanados, quando formos proceder à leitura do texto literário escolhido, “Cara de Coruja”, de Reinações de Narizinho, e ao apresentarmos as concepções de Monteiro Lobato sobre o leitor. 
� JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994, p.25.

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