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Esquema de Aula - Evicção no Direito Civil

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ESQUEMA de aula – Direito Civil (Evicção) 
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EVICÇÃO 
Elaborado em 09/07/2013 
 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
1. CONCEITO 
O que é a evicção? 
A evicção ocorre quando: 
- a pessoa que adquiriu um bem 
- perde a posse ou a propriedade desta coisa 
- em razão de uma decisão judicial ou de um ato administrativo 
- que reconhece que um terceiro possuía direitos anteriores sobre este bem 
- de modo que ele não poderia ter sido alienado. 
 
Após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto) deverá ser indenizado pelo alienante 
por conta deste prejuízo. O fundamento desta indenização está no princípio da garantia. Logo, não 
interessa discutir se o alienante estava ou não de boa-fé quando vendeu o bem. Mesmo de boa-fé, ele terá 
a obrigação de indenizar o evicto. 
 
Veja como o Min. Luis Felipe Salomão definiu o instituto: 
“A evicção consiste na perda parcial ou integral da posse ou da propriedade do bem, via de regra, em 
virtude de decisão judicial que atribui o uso, a posse ou a propriedade a outrem, em decorrência de motivo 
jurídico anterior ao contrato de aquisição.” (REsp 1.332.112-GO). 
 
Evicção vem do latim evincere ou evictio, que significa algo como “ser vencido”. Na língua portuguesa existe 
o verbo “evencer”, que significa “promover a evicção de alguém”. 
 
2. PERSONAGENS 
Na evicção, temos os seguintes personagens: 
 Evictor: é o terceiro reivindicante do bem. 
 Evicto: é o adquirente do bem, que perdeu a ação movida pelo evictor. 
 Alienante: é o que transferiu o bem ao evicto, e, por isso, deve responder pela evicção, indenizando-o. 
 
3. REQUISITOS 
A doutrina majoritária aponta os seguintes requisitos para que se configure a responsabilidade do alienante 
pela evicção: 
 
a) Aquisição onerosa do bem 
Em regra, o alienante só responde pela evicção no caso de contratos onerosos (art. 447 do CC). A hipótese 
mais comum é o contrato de compra e venda. No entanto, podem existir outras espécies de contrato 
oneroso, como é o caso da cessão onerosa de crédito, na dação em pagamento e na transação. 
Assim, em regra, para que o evicto seja indenizado pela evicção é necessário que tenha recebido o bem por 
meio de um contrato oneroso. P
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Se a pessoa recebeu o bem por conta de um contrato gratuito (ex: doação), ela não terá direito de ser 
indenizada se ocorrer a evicção, salvo se as partes tiverem estipulado expressamente esta garantia no 
pacto. 
Se a doação for onerosa (também chamada de doação com encargo ou modal), o doador se responsabiliza 
pela evicção até o limite do encargo. 
Obs: existe uma situação em que a evicção pode ocorrer mesmo sem que o evicto tenha adquirido o bem 
por força de um contrato. Trata-se da hipótese na qual a pessoa tornou-se titular da coisa em uma hasta 
pública. 
 
b) Perda, total ou parcial, da propriedade ou da posse da coisa alienada 
Obs: alguns autores mais modernos afirmam que melhor seria falar em “privação do direito do adquirente” 
ao invés de “perda da propriedade ou da posse da coisa”, sendo esta expressão criticável. Nesse sentido: 
Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (Curso de Direito Civil. Contratos. Vol. 4, Salvador: Juspodivm, 2012, p. 
497). Não se trata, ainda, de posição consolidada na doutrina, sendo preferível, para fins de concurso 
público, utilizar a nomenclatura tradicional. 
Exemplos de evicção parcial fornecidos por Rosenvald e Chaves (p. 499): 
Ex1: perda da servidão (João adquire uma fazenda com servidão de passagem sobre o imóvel vizinho; 
tempos depois, este direito real é suprimido pela preexistência de direito de terceiro). 
Ex2: Pedro adquire um prédio de apartamentos, mas 70% das unidades não pertenciam ao alienante. 
 
c) Direito anterior do evictor sobre a coisa (vício na alienação) 
A perda da propriedade ou da posse deve ter decorrido do fato de se reconhecer que o evictor tinha direito 
sobre a coisa antes mesmo de ela ter sido alienada ao evicto. 
Assim, deve ficar demonstrado que houve um vício na alienação por conta de um direito anterior do 
evictor. 
Deve-se analisar o momento em que o terceiro passou a ter direito sobre o bem. Se foi antes da alienação, 
o alienante responderá pela perda da coisa. Se foi depois, o alienante não deverá pagar indenização ao 
adquirente. 
Ex1: João vendeu um imóvel para Rui. Após a aquisição, Rui, que não estava na posse direta do terreno, é 
citado para responder uma ação de usucapião proposta por Francisco. Ao final, a ação é julgada 
procedente, Francisco é reconhecido como proprietário e Rui perde o imóvel. João indenizará Rui pela 
evicção se os requisitos para a usucapião se completaram antes da venda. Se o tempo necessário para a 
usucapião somente se concretizou após a alienação, não há que se falar em evicção. 
Ex2: João vendeu um imóvel para Rui. Após a aquisição, Rui perde o bem para o Estado por conta de uma 
desapropriação. Responde o alienante pela evicção somente se o decreto expropriatório tiver sido 
expedido e publicado antes da realização do negócio. Se foi após a alienação, não há que se falar em 
evicção. 
 
d) Por meio de decisão judicial ou ato administrativo 
Em regra, a perda do bem ocorre por meio de decisão judicial. No entanto, apesar de não ser tão comum, é 
possível que a evicção se dê por força de um ato administrativo (ex: comprador de veículo importado perde 
a propriedade do bem por conta de pendência administrativa junto à Receita Federal, que existia antes da 
alienação). Nesse sentido: REsp 1.047.882-RJ. 
 
No caso de evicção por decisão judicial, para que o alienante indenize o evicto é necessário que tenha 
havido o trânsito em julgado da sentença que fez com que ele perdesse a propriedade ou a posse do bem? 
NÃO. Segundo decidiu o STJ, para que o evicto possa exercer os direitos resultantes da evicção (ou seja, 
para que possa cobrar a indenização), NÃO é necessário o trânsito em julgado da decisão (STJ. 4ª Turma. 
REsp 1.332.112-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/3/2013). 
 
O Min. Luis Felipe Salomão afirmou que o ideal seria que tivesse havido o trânsito em julgado da decisão, 
considerando que haveria maior segurança jurídica. No entanto, o aplicador do direito não pode ignorar a 
 
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realidade comum do trâmite processual nos tribunais que, muitas vezes, faz com que o processo 
permaneça ativo por longos anos, ocasionando prejuízos consideráveis advindos da constrição imediata dos 
bens do evicto, que aguarda, impotente, o trânsito em julgado da decisão que já lhe assegurava o direito. 
 
Assim, como não há no Código Civil nem em outro diploma a exigência expressa do trânsito para conceder 
a indenização ao evicto, a jurisprudência e a doutrina passaram a admitir que ela seja conferida ao lesado 
antes da decisão judicial se tornar definitiva. 
 
 
4. DENUNCIAÇÃO DA LIDE 
 
4.1 A denunciação é obrigatória? 
Na maioria dos casos, a evicção ocorre por meio de uma sentença judicial. Assim, normalmente a evicção 
ocorre da seguinte forma: o evictor propõe uma ação contra o adquirente reivindicando o bem para si. 
Nesta hipótese, o CPC e o CC determinam que o evicto (réu), no prazo da resposta, convoque o alienante 
para que este compareça ao processo. Esta convocação deverá ser feita mediante o instituto da 
“denunciação da lide”. Assim, o evicto (réu) denuncia a lide ao alienante do bem. 
O alienante é convocado ao processo, pelo réu, com dois objetivos: 
 para refutar o direito alegado pelo autor; 
 para ser condenado, neste mesmo processo, a indenizar o adquirente, caso a ação do evictor seja 
julgada procedente. 
 
Veja o que estabelece o CPC: 
Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória: 
I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim deque esta possa exercer o direito que da evicção lhe resulta; 
 
O Código Civil, por sua vez, prevê: 
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o 
alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. 
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da 
evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos. 
 
Diante disso, indaga-se: 
Para que o evicto seja indenizado pelo alienante, é indispensável que ele, ao ser demandado pelo evictor, 
faça a denunciação da lide ao alienante do bem? 
Em outras palavras, é obrigatória a denunciação da lide para que o evicto seja indenizado pela perda do 
bem? 
NÃO. Prevalece no STJ que o direito que o evicto tem de cobrar indenização pela perda do bem NÃO 
depende, para ser exercitado, de ele ter denunciado a lide ao alienante na ação em que terceiro reivindicou 
a coisa (STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.112-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/3/2013). 
 
“A jurisprudência do STJ é no sentido de que o direito do evicto de indenizar-se do pagamento indevido 
diante do anterior alienante, não se condiciona à denunciação da lide em ação de terceiro reivindicante.” 
(AgRg no Ag 1323028/GO, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 16/10/2012). 
 
Apesar da redação do art. 70, I, do CPC e do art. 456 do CC, ainda que o evicto não faça a denunciação da 
lide, ele NÃO perde o direito de ser indenizado. Para o STJ, não se pode fazer uma interpretação literal dos 
dispositivos acima mencionados. 
 
 
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Dessa feita, a falta da denunciação da lide fará apenas com que o réu perca a possibilidade de obter a 
indenização regressiva do alienante no mesmo processo em que perdeu o bem. No entanto, nada impede 
que, mesmo sem ter feito a denunciação da lide, o evicto ajuíze uma demanda autônoma contra o 
vendedor. 
 
Em suma, se o evicto fizer a denunciação, no mesmo processo em que perder o bem, já haverá a 
condenação do alienante para que o indenize. Se ele não fizer a denunciação, perderá esta oportunidade 
de agilizar o recebimento da indenização, mas ainda assim poderá fazê-lo por meio de uma ação autônoma 
de evicção. 
 
Desse modo, NÃO são requisitos indispensáveis à indenização por evicção: 
 O trânsito em julgado da sentença que determina a perda do bem; 
 A denunciação da lide pelo evictor. 
 
 
4.2 Denunciação per saltum 
Imagine a seguinte situação: 
João comprou um terreno de Maria, que o havia comprado de Bartolomeu, que o havia comprado de 
Josefina, que o havia comprado de Manoel. 
De repente, aparece Gilberto ajuizando uma ação reivindicatória contra João e afirmando que Manoel não 
poderia ter vendido o terreno porque não lhe pertencia. 
João decide fazer a denunciação da lide a fim de garantir que seja indenizado caso a ação seja julgada 
procedente. Não há nenhuma dúvida de que João pode denunciar a lide a Maria, considerando que foi ela 
quem lhe vendeu o bem, ou seja, eles possuem uma relação jurídica entre si. Sendo Maria denunciada, ela 
poderá fazer a denunciação a Bartolomeu, que poderá fazer a denunciação a Josefina e esta poderá fazer a 
denunciação a Manoel. Trata-se da chamada “denunciação sucessiva”. 
 
Poderá, no entanto, João denunciar a lide a Manoel mesmo sem que eles tenham qualquer relação jurídica? 
O réu poderá fazer a denunciação da lide “pulando, saltando” todas as demais pessoas da cadeia de 
transmissão? Em outras palavras, o réu poderá fazer a denunciação da lide por salto (per saltum)? 
SIM. Há divergência na doutrina, mas prevalece ser possível a denunciação da lide per saltum, tendo ela 
sido autorizada pelo art. 456 do CC: 
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o 
alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. 
 
Nesse sentido é o enunciado 29 da I Jornada de Direito Civil: 
Enunciado 29-CJF/STJ: Art. 456: a interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a 
denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício. 
 
 
4.3 Se o réu (adquirente) fizer a denunciação e o alienante não comparecer aos autos 
O parágrafo único do art. 456 do CC preconiza: 
Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da 
evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos. 
 
Para a doutrina majoritária, este dispositivo revogou o art. 75, II, do CPC, no que tange à denunciação da 
lide nos casos de evicção. Veja a redação do CPC: 
Art. 75. Feita a denunciação pelo réu: 
II - se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que lhe foi atribuída, cumprirá 
ao denunciante prosseguir na defesa até final; 
 
 
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Assim, se o adquirente fizer a denunciação da lide ao alienante e este decidir não refutar o pedido do 
evictor, o evicto não precisará prosseguir contestando a ação proposta pelo autor. O adquirente poderá até 
mesmo concordar com o pedido feito pelo evictor e buscar apenas a indenização a ser paga pelo alienante. 
 
 
5. RESPONSABILIDADE PELA EVICÇÃO E COISA ADQUIRIDA POR HASTA PÚBLICA 
 
A obrigação do alienante de pagar indenização ao evicto, em caso de evicção, persiste ainda que o bem 
tenha sido adquirido por meio de hasta pública. Isso está previsto no CC: 
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a 
aquisição se tenha realizado em hasta pública. 
 
A hasta pública é a oferta do bem penhorado aos interessados em adquiri-lo em um evento organizado 
pelo Estado-juiz. A hasta pública pode ocorrer por meio de praça (no caso de bem imóvel) ou leilão (bem 
móvel). 
 
Caso o adquirente da coisa em hasta pública venha a perdê-la, a responsabilidade direta pelo pagamento 
da indenização é do executado. Subsidiariamente, caso o evicto não consiga receber deste, poderá 
demandar o credor que se beneficiou com a arrematação (responsável indireto, subsidiário). Esta é a 
solução apresentada por Alexandre de Freitas Câmara, citada por Flávio Tartuce (Direito Civil. São Paulo: 
Método, 2011, p. 229). 
 
Exemplo: 
João estava sendo executado por Pedro. 
Para adimplir o débito, uma sala comercial de João foi vendida em hasta pública e, com os recursos obtidos, 
Pedro foi pago. 
Quem adquiriu o imóvel foi Carlos. 
Ocorre que esta sala pertencia, na verdade, a Marcos, que entrou com uma ação reivindicatória. 
Por conta disso, Carlos (arrematante) perdeu o imóvel que havia adquirido. 
 
De quem Carlos poderá cobrar a indenização pela evicção? 
Em primeiro lugar, de João. Somente se este não tiver como pagar a indenização, a demanda será proposta 
contra Pedro. 
 
 
6. INDENIZAÇÃO DEVIDA EM CASO DE EVICÇÃO: 
 
Como já vimos acima, após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto) deverá ser 
indenizado pelo alienante por conta deste prejuízo. 
O valor da indenização englobará o preço pago pelo evicto na compra do bem e mais as outras despesas 
que ele comprove ter realizado. 
 
Segundo o art. 450 do CC, o evicto possui o direito de receber as seguintes quantias: 
a) Restituição integral do preço que pagou, com juros e correção monetária; 
b) Indenização pelos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao evictor; 
c) Indenização pelas benfeitorias necessárias ou úteis não abonadas (art. 453); 
d) Indenização pelas despesas do contrato; 
e) Reembolso das custas judiciais e honorários advocatícios; 
f) Indenização pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção. 
 
 
 
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Veja o que diz o CC: 
Art. 450. Salvo estipulaçãoem contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das 
quantias que pagou: 
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; 
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; 
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. 
 
Valor do preço do bem é calculado segundo a data da evicção (e não o dia da aquisição): 
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se 
evenceu (no momento da perda e não na data da alienação), e proporcional ao desfalque sofrido, no caso 
de evicção parcial. 
 
Assim, por exemplo, se a pessoa comprou o bem por 200 mil reais, mas na data da evicção (anos mais 
tarde), a coisa valia 300 mil reais, este último valor é que deverá ser devolvido ao evicto. 
 
Indenização deve ser paga ainda que a coisa esteja deteriorada 
Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto 
havendo dolo do adquirente. 
 
Ex: Eduardo vendeu um carro a Paulo. Este veículo foi abalroado e ficou avariado e sem uso. Após este 
acidente, Paulo perde o carro por conta de uma evicção. Mesmo estando deteriorado o automóvel, o 
evicto terá direito de ser indenizado, a não ser que o alienante prove que a coisa está deteriorada por dolo 
(no sentido de má-fé) de Paulo. 
 
Art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a 
indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante. 
 
Utilizando o mesmo exemplo: o carro que foi objeto da evicção já estava todo avariado e sem uso. No 
entanto, o evicto havia conseguido vender algumas peças do motor para uma oficina mecânica. Logo, a 
quantia que ele conseguiu com isso será descontada do valor da indenização que lhe será paga pelo 
alienante. 
 
Indenização no caso de benfeitorias 
O evicto é considerado, em princípio, como possuidor de boa-fé. Logo, as benfeitorias necessárias e úteis 
que tiver feito sobre a coisa, deverão ser pagas. Quem deverá pagá-las? 
Em princípio, o evictor. Caso este não pague, o evicto poderá cobrar o valor do alienante. 
A situação normalmente acontece da seguinte forma: o evictor ajuíza a ação reivindicando o bem que está 
com o evicto. Este, na própria contestação, já deverá pedir que o evictor o reembolse pelas benfeitorias 
úteis e necessárias que fez na coisa. 
Se, por algum motivo, o evictor não abonar (reembolsar) o evicto, ele poderá cobrar o valor do alienante. É 
isso que afirma o art. 453 do CC: 
Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas (não reembolsadas) ao que sofreu a evicção, 
serão pagas pelo alienante. 
 
Veja agora o que diz o art. 454 do CC: 
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor 
delas será levado em conta na restituição devida. 
 
O que este dispositivo está dizendo é o seguinte: o evictor pagou ao evicto o valor das benfeitorias que 
foram realizadas no bem. Ocorre que tais benfeitorias foram feitas ainda pelo alienante (e não pelo evicto). 
 
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Logo, neste caso, o evicto recebeu indevidamente o reembolso das benfeitorias, já que não foi ele quem as 
custeou. Em se verificando esta situação, o alienante, quando for pagar ao evicto a indenização pela 
evicção, poderá descontar do valor a quantia recebida pelas benfeitorias. 
 
 
7. PERDA PARCIAL DO BEM 
 
A evicção pode ser total (quando o evicto perde o bem inteiro) ou parcial (ex: perdeu 50m2 do terreno cuja 
área é de 300m2). 
 
Se a evicção for parcial, em regra, o evicto será indenizado pela parte da coisa que perdeu e a aquisição da 
parte que restou continua em vigor. Valendo-se do exemplo acima, o evicto será indenizado pelos 50m2 
que perdeu, enquanto que os outros 250 m2 continuam com ele normalmente. 
 
Pode acontecer, no entanto, que esta perda parcial seja muito grande, isto é, atinja quase toda a coisa, de 
forma que se torna economicamente desvantajoso que o evicto permaneça somente com aquela diminuta 
fração. Em tais hipóteses, a lei entendeu que seria justo conferir ao evicto a escolha entre continuar com 
esta pequena parte do bem e ser indenizado pelo restante ou, então, ser indenizado pela coisa em sua 
inteireza, devolvendo a pequena fração que sobrar ao alienante. Ex: Renan vendeu um terreno de 300m2 a 
Eduardo, que sofreu evicção parcial e perdeu 250m2 da área para um terceiro. Eduardo poderá pleitear a 
indenização pelos 250m2 perdidos e ficar com os 50m2 que restaram. A lei, porém, confere uma outra 
alternativa a Eduardo: devolver os 50m2 que lhe sobraram, desfazendo a compra e venda, e pedindo 
indenização pelos 300m2. 
 
Toda esta explicação foi para que você entendesse a redação do art. 455 do CC: 
Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a 
restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá 
somente direito a indenização. 
 
 
8. O CONTRATO PODERÁ TRAZER UMA CLÁUSULA DISPONDO SOBRE A EVICÇÃO 
 
A responsabilidade pelo pagamento de indenização no caso de evicção é uma garantia do adquirente que 
decorre da lei. Assim, não é necessário que o contrato de compra e venda preveja esta indenização. As 
partes podem, no entanto, reforçar, diminuir ou excluir esta responsabilidade. Veja: 
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela 
evicção. 
 
Cláusula de irresponsabilidade pela evicção (cláusula de non praestanda evictione) 
Como visto no art. 448 do CC, as partes podem estipular uma cláusula no contrato segundo a qual o 
alienante expressamente afirma que não irá se responsabilizar caso o adquirente sofra uma evicção, ou 
seja, perca a coisa alienada. 
 
Para evitar que houvesse um prejuízo muito grande ao adquirente, o CC estabelece algumas exigências 
para que esta cláusula de irresponsabilidade pela evicção tenha plena eficácia. 
 
Assim, para que o alienante fique totalmente isento de responsabilidade, é necessário o preenchimento 
dos seguintes requisitos cumulativos: 
 Deverá haver cláusula expressa excluindo a responsabilidade do alienante pela evicção; 
 O adquirente deverá ser informado que existe risco de evicção; 
 
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 O adquirente deverá declarar expressamente que aceita correr o risco da evicção que lhe foi 
informado. 
 
O que acontece se houver cláusula de irresponsabilidade, mas o adquirente não tiver sido informado que 
havia risco concreto de evicção ou, se foi informado, não assumiu expressamente este risco? 
Neste caso, haverá pagamento de indenização, mas o valor desta será apenas equivalente ao preço que o 
adquirente pagou pela coisa evicta. Em suma, não abrangerá todas as parcelas previstas no art. 450, mas 
tão somente a restituição do valor pago pelo bem. É o que a doutrina majoritária conclui a partir da 
interpretação do art. 449 do CC: 
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto 
a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o 
assumiu. 
 
Vale ressaltar, mais uma vez, que o valor do preço a ser restituído é calculo na data em que se evenceu, ou 
seja, no momento da perda do bem (e não na data da alienação). É o que afirma o parágrafo único do art. 
450 do CC. 
 
 
9. ADQUIRENTE SABIA QUE O BEM ERA ALHEIO OU LITIGIOSO 
 
Se o adquirente (evicto) sabia que a coisa era alheia ou litigiosa poderá mesmo assim pedir indenização 
em caso de evicção? 
NÃO. Veja o que dispõe o art. 457 do CC: 
Art. 457. Não pode o adquirente demandarpela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa. 
 
 
10. OBRAS CONSULTADAS 
 
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual civil. Vol. 1. 15ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013. 
 
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 3ª ed., São Paulo: Método, 2011. 
 
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil. Contratos. Vol. 4, Salvador: 
Juspodivm, 2012. 
 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil. São Paulo: Método, 2011. 
 
 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) (Cartório PE 2013 FCC) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção, salvo se a aquisição 
se houver realizado em hasta pública. ( ) 
 
2) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Essa 
subsiste garantia ainda que a aquisição tenha se realizado em hasta pública. ( ) 
 
3) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Na hipótese de exclusão contratual da responsabilidade pela evicção, se 
esta se der, o evicto terá direito a receber o preço que tiver pago pela coisa evicta se não sabia do risco da 
evicção, mas, todavia, se dele tiver sido previamente informado, não lhe será albergado o direito de 
receber a quantia paga, mesmo que não tenha assumido o risco quando tomou conhecimento desse. ( ) 
 
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4) (DPE/AC 2012 CESPE) A responsabilidade pela evicção ocorre apenas quando a causa da constrição 
operada sobre a coisa é posterior à relação jurídica entabulada entre o alienante e o evicto, sendo o 
determinante o momento da constrição, a qual será, necessariamente, anterior à alienação. ( ) 
 
5) (DPE/SC 2012 FEPESE) Pode o adquirente demandar pela evicção, mesmo sabendo que a coisa é alheia 
ou litigiosa. ( ) 
 
6) (MP/PI 2012 CESPE) Assinale a opção correta a respeito da evicção. 
A) As partes podem, por cláusula expressa, maximizar a responsabilidade pela evicção, mas não podem 
diminuí-la. 
B) As benfeitorias necessárias ou úteis que não tenham sido reembolsadas ao que sofreu a evicção 
terão de ser pagas pelo alienante. 
C) Será legítima a demanda pela evicção por parte do adquirente que, assumindo o risco, tenha 
conhecimento de que a coisa é alheia ou litigiosa. 
D) De acordo com a lei civil, para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulte, o adquirente 
poderá notificar do litígio apenas o alienante imediato, sendo-lhe defeso fazer a denominada 
denunciação por saltos. 
E) Havendo cláusula excludente da garantia da evicção, se esta ocorrer, o evicto não terá nenhum 
direito a reclamar. 
 
7) (Cartório SP 2012 VUNESP) É cabível a nomeação à autoria do alienante, na ação em que terceiro 
reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercer o direito que da 
evicção lhe resulta. ( ) 
 
8) (Juiz TJAC 2012 CESPE) No que concerne a evicção, assinale a opção correta de acordo com o Código 
Civil. 
A) A responsabilidade decorrente da evicção deriva da lei e prescinde, portanto, de expressa previsão 
contratual; todavia, tal responsabilidade restringe-se à ação petitória, não sendo possível se a causa 
versar sobre posse. 
B) Responde o alienante pela garantia decorrente da evicção caso o comprador sofra a perda do bem 
por desapropriação do poder público, cujo decreto expropriatório seja expedido e publicado 
posteriormente à realização do negócio. 
C) Dá-se a evicção quando o adquirente perde, total ou parcialmente, a coisa por sentença fundada em 
motivo jurídico anterior, e o alienante tem o dever de assistir o adquirente, em sua defesa, ante ações de 
terceiros, sendo, entretanto, tal obrigação jurídica incabível caso o alienante tenha atuado de boa-fé. 
 
D) De acordo com o instituto da evicção, o alienante deve responder pelos riscos da perda da coisa para 
o evicto, por força de decisão judicial em que fique reconhecido que aquele não era o legítimo titular 
do direito que convencionou transmitir ao evictor. 
E) Sendo a evicção uma garantia legal, podem as partes, em reforço ao já previsto em lei, estipular a devolução 
do preço em dobro, ou mesmo minimizar essa garantia, pactuando uma devolução apenas parcial. 
 
9) (Juiz TJMS 2012 PUC/PR) Na denunciação da lide fundada em evicção, pode o denunciante provocar a 
intervenção do alienante imediato ou de qualquer outro sujeito componente da cadeia dominial 
anterior. ( ) 
 
10) (MPRN 2009 CESPE) A aquisição de bem realizada em hasta pública, instituída no bojo do processo de 
execução, não exclui a responsabilidade do executado pela evicção. ( ) 
 
 
Gabarito 
1. E 2. C 3. E 4. E 5. E 6. Letra B 7. E 8. Letra E 9. C 10. C

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