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INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Ao elaborar o CC/2002, o legislador baseou-se em três princípios basilares, quais sejam: - Operabilidade – o código é operável, de fácil manuseio; voltado para o indivíduo, que deve ser capaz de entender o que consta na lei. Exemplo: separação dos prazos prescricionais e decadenciais (no código de 1916 havia apenas um artigo para todos os prazos – prescricionais e decadenciais). - Eticidade: as relações devem ser éticas; as pessoas devem agir de boa-fé, de maneira ética entre si, especialmente no âmbito contratual. Este princípio aproxima-se bastante do princípio da boa-fé objetiva. - Socialidade: o CC/2002 está profundamente preocupado com a função social. Todo contrato gera obrigações e direitos recíprocos, que devem ser exercidos sob a ótica da função social do contrato e da boa-fé objetiva. Enfim, em atenção ao princípio da socialidade, se o contrato não atender sua função social ele não precisa ser cumprido. De acordo com a boa-fé objetiva, as partes devem cumprir os deveres anexos do contrato, ou seja, aqueles que não estão expressamente escritos, mas que são acessórios ao contrato. Por exemplo: contrato de prestação de serviços advocatícios – o dever principal do devedor é pagar o valor acordado e do credor é prestar o serviço contratado, o dever anexo é o dever de sigilo. De acordo com a função social do contrato, o contrato deve ser bom/razoável para as partes contratantes e para a sociedade, sob pena de ser resolvido/extinto ou adequado a uma realidade mais justa. É a mitigação do pacta sunt servanda ("os pactos devem ser respeitados"; "os acordos devem ser cumpridos"; é a observância do que foi estritamente pactuado). Mais importante que a contratação é que o contrato seja justo. Exemplo: art. 473, parágrafo único do CC – um cidadão aluga um imóvel comercial por um ano, mas faz uma reforma que dura dez meses e após dois meses de funcionamento do estabelecimento o locatário notifica para que o locatário se retire do imóvel – é um direito dele, pois o contrato vencia em 12 meses, mas não é justo, devendo aguardar um prazo para que a outra parte tenha tempo de se recuperar dos investimentos realizados no imóvel. Ver art. 187 do CC (razoabilidade no exercício de direito). Nas palavras de Pablo Stolze, o Direito das Obrigações trata-se de um “conjunto de normas e princípios jurídicos reguladores das relações patrimoniais entre um credor (sujeito ativo) e um devedor (sujeito passivo) a quem incumbe o dever de cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação de dar, fazer ou não fazer”. Portanto, a obrigação é uma relação jurídica transitória existente entre um sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo (devedor) e cujo conteúdo é uma prestação. E, no caso de inadimplemento, poderá o credor satisfazer-se no patrimônio do devedor, cobrando, inclusive multas, juros e correção monetária. Este ramo do direito trata da relação jurídica entre credor e devedor e não entre pessoas e bens. A finalidade da obrigação é o cumprimento da prestação, ou seja, a satisfação do credor. Enfim, o objeto imediato da obrigação é o cumprimento da prestação (atividade do devedor) e não a coisa em si (o dinheiro, o imóvel, etc). Por exemplo, quando duas pessoas firmam um contrato de prestação de serviços, o sujeito realiza a atividade contratada, tornando-se credor da quantia de R$ 100,00 (valor contratado), esse direito não traduz poder sobre a quantia (R$ 100,00), mas sim a pretensão do cumprimento da prestação devida pelo devedor. Nesta linha de raciocínio, é correto dizer que enquanto os direitos reais (afeta a coisa diretamente) são tratados pelo Direito das Coisas/Reais (posse, propriedade, etc), os direitos de crédito (exigir o cumprimento de determinada pessoa) integram o estudo do Direito das Obrigações. Os Direitos Reais e Obrigacionais possuem nítidas distinções e passamos a apontar algumas destas diferenças: a) Em relação ao sujeito de direito: no direito de crédito (pessoal) sempre existirá a dualidade de sujeitos (credor e devedor), enquanto no direito real há apenas um sujeito e sua relação com a coisa. b) Quanto à ação: quando violado um direito pessoal, a pessoa poderá direcionar sua ação apenas contra o indivíduo que figura na relação como sujeito passivo (devedor), enquanto quando um direito real for violado, o titular da ação real poderá ingressar contra quem detiver a coisa. c) Relativamente ao objeto: o objeto do direito pessoal é sempre a prestação do devedor (cumprimento de uma obrigação), enquanto no direito real o objeto pode ser coisa corpórea ou incorpórea. d) Em relação ao limite: o direito pessoal é ilimitado, ou seja, permite-se a criação de figuras contratuais não previstos na lei (contratos inominados e contratos nominados), enquanto o direito real não pode ser objeto de livre convenção, estando limitado e regulado na lei, não havendo a possibilidade de as partes estipularem direitos reais não previstos na lei (imposição de tipos). e) Quanto ao modo de gozar os direitos: o direito pessoal exige a figura de um intermediário, que é aquele que está obrigado à prestação, enquanto no direito real há o exercício direto pelo titular do direito sobre a coisa. f) Em relação à extinção: os direitos de crédito (pessoais) extinguem-se pela inércia do sujeito, enquanto os direitos reais conservam-se até que se constitua uma situação contrária em proveito de outro titular. Fica claro que interessa ao Direito das Obrigações apenas o estudo das relações jurídicas obrigacionais existentes entre um devedor e um credor, enquanto no Direito das Coisas, interessa a relação e direito de natureza real (do bem em si). 1 – Fontes das Obrigações: Fonte da obrigação é a causa geradora desta, é o fato jurídico que desencadeou o dever de prestar. A fonte imediata de qualquer obrigação é a lei, mas sempre haverá situação fática (fonte mediata) entre o comando legal e os efeitos obrigacionais deflagrados. Por exemplo: o dever do pai de prestar alimentos ao filho: a fonte imediata (a previsão legal) e o parentesco entre o pai e o filho é a fonte mediata da obrigação (causa determinante da prestação). As fontes mediatas podem ser classificadas em: a) Atos jurídicos negociais: contratos, testamentos, declarações unilaterais de vontade. O contrato é a maior fonte das obrigações, pois está presente em nossa vida a todo tempo, seja contratos verbais ou escritos. Nasce um contrato, nasce uma obrigação entre devedor e credor. b) Atos jurídicos não negociais: são os atos jurídicos em sentido estrito (os efeitos independem das partes, pois estão previstos na lei – ex: reconhecimento de paternidade), ou seja, o simples comportamento humano produz efeitos na esfera jurídica. c) Atos ilícitos, inclusive o abuso de direito e o enriquecimento ilícito. O ato ilícito é o comportamento humano voluntário contrário ao direito que causa prejuízo material ou moral a alguém. Ver art. 948, II do CC. 2 – Elementos Constitutivos das Relações Obrigacionais: A relação obrigacional é composta por três elementos fundamentais: a) Elemento subjetivo ou pessoal: o sujeito ativo (credor) e o passivo (devedor). Ambos podem ser pessoa física ou jurídica, admitindo-se, inclusive a representação legal ou convencional. Entretanto, é imprescindível que as partes sejam determinadas ou determináveis. O credor é o titular do direito de crédito, portanto, pode exigir o cumprimento da prestação inadimplida, judicialmente. D´outro lado, o devedor é aquele a quem incumbe o dever de cumprir a prestação (de dar, fazer ou não fazer). Portanto, nas relações obrigacionaissimplificadas, o sujeito passivo (devedor) se obriga a cumprir determinada prestação patrimonial (de dar, fazer ou não fazer) em benefício do sujeito ativo (credor). Entretanto, há relações obrigacionais mais complexas, nas quais ambas as partes assumem obrigações recíprocas, tornando-se credor e devedor uma da outra. Exemplo: contrato de compra e venda. b) Elemento Objetivo ou material: a prestação. O objeto da relação obrigacional pode ser direto/imediato ou indireto/mediato. O objeto imediato ou direto é a prestação em si, a atividade positiva (ação – dar ou fazer determinada coisa) ou negativa (omissão – não fazer) do devedor, que irá satisfazer o interesse do credor (dar, fazer ou não fazer). Exemplos: a obrigação de entregar um veículo vendido; obrigação de pintar um quadro contratado; obrigação de não realizar determinada obra que desvalorize o imóvel do vizinho. Já o objeto mediato ou indireto trata-se do objeto da própria prestação de dar, fazer ou não fazer, ou seja, o bem de interesse do credor (o que se dá, o que se faz ou o que não se faz). Exemplo: o caminhão em si. c) Vínculo Jurídico: O vínculo jurídico é o nexo ideal que liga os poderes do credor aos deveres do obrigado. Divide-se em débito e responsabilidade. O débito é a ligação entre o credor e o devedor, enquanto a responsabilidade é o direito subjetivo do credor exigir certo e determinado comportamento do devedor. Em regra, o patrimônio do devedor responderá pelo inadimplemento das obrigações por ele assumidas, mas há uma exceção na legislação brasileira, em que no caso de inadimplemento o devedor responderá com seu próprio corpo: a obrigação de alimentar (prisão civil de devedor de alimentos). Normalmente, as figuras dívida e responsabilidade caminham juntas, ou seja, o devedor sempre será responsável pelo pagamento de seus débitos. Entretanto, há situações em que o débito e a responsabilidade não caminham juntos: - o devedor não estará obrigado a pagar o débito (há débito, mas não há responsabilidade), por exemplo: dívida prescrita; dívida de jogo (art. 814, CC). - terceiro (não devedor) responder pela dívida alheia (não há débito, mas há responsabilidade), por exemplo: fiador; avalista; empregador responde por prejuízos causados por seus empregados (art. 932, III do CC); pai por dívida de filho (art. 932, I, CC). 3 – Objeto da Obrigação – A Prestação. A prestação é o objeto imediato da obrigação e trata-se da atividade do devedor, direcionada à satisfação do crédito, perante o credor. A prestação pode ser positiva (de dar ou fazer) ou negativa (de não fazer). A prestação, obrigatoriamente, deve ter valor patrimonial, pois, como leciona Maria Helena Diniz, “é imprescindível que seja suscetível de estimação econômica, sob pena de não constituir uma obrigação jurídica, uma vez que se for despida de valor pecuniário, inexiste possibilidade de avaliação dos danos”. Portanto, os direitos da personalidade em geral (honra, imagem, vida privada, liberdade, etc), não podem ser objeto de relação obrigacional, pois não possuem cunho patrimonial. 3.1 – Características Fundamentais da Prestação: Para ser considerada válida, a prestação deverá ser lícita, possível e determinável. a) A licitude da prestação implica a observância dos limites impostos pela lei e pela moral. Por exemplo, não terá valide um contrato de prestação de serviços que tenha como objeto imediato o assassinato de uma pessoa. b) A prestação deve ser física e juridicamente possível. A prestação é fisicamente impossível quando for irrealizável segundo a lei das naturezas (ex: contrato para pavimentar o solo da lua). Será juridicamente impossível quando contraria a lei (exemplo: alienação de uma praça pública). A impossibilidade jurídica confunde-se com a ilicitude da prestação, sendo institutos intimamente ligados. c) Quanto à determinabilidade, quer dizer que para a prestação ser válida, deverá conter elementos mínimos de identificação e individualização. A prestação determinada é aquela já individualizada, por exemplo, a obrigação de transferir a propriedade de determinado imóvel situado no endereço tal, com área total de 100 metros quadrados, etc. Vislumbramos aqui a obrigação de dar coisa certa, pois o objeto mediato foi individualizado. Já a prestação determinável é aquela que ainda não foi individualizada, mas que contém elementos mínimos de individualização. Para que seja possível cumprir a prestação, o credor ou o devedor deverão especificar o objeto da obrigação, convertendo a obrigação genérica em obrigação de dar coisa certa e determinada. Exemplo: obrigação de entregar 100 sacas de feijão, sem especificar a qualidade deste (coisa incerta); no momento de cumprir a obrigação, as partes deverão especificar a prestação, individualizando o objeto. Vê-se que a indeterminabilidade do objeto é relativa, pois no momento do cumprimento da obrigação, o objeto sempre será individualizado para possibilitar o cumprimento da prestação. 4 – Classificação das Obrigações: 4.1 – Classificação Quanto à Prestação: As obrigações podem ser divididas em positivas (de dar coisa certa ou incerta ou de fazer) e negativas (de não fazer). Esta é a classificação básica das obrigações. 4.1.1 – Obrigação de Dar: Tem por objeto a prestação de coisas; consiste na atividade de dar (transferir propriedade), entregar (transferir posse ou detenção) ou restituir (quando o credor recupera a posse ou detenção da coisa entregue ao devedor). Subdivide-se em obrigação de dar coisa certa (obrigação específica - arts. 233 a 242 do CC) e de dar coisa incerta (obrigação genérica - arts. 243 a 246 do CC). a) Obrigação de Dar Coisa Certa Na obrigação de dar coisa certa, o devedor obriga-se a dar, entregar ou restituir coisa específica, determinada, certa! O objeto já está definido, não havendo qualquer possibilidade de escolha. Exemplos: o veículo Gol 1.0, chassi 123456789, placa ABC-1234; o reprodutor bovino da raça nelore, registro nº 123456, de propriedade de João de Deus; o imóvel situado na Rua 1, nº 12, registrado no Cartório de Registro de Imóveis de Unaí-MG, matrícula 123-4. Considerando-se a individualização da coisa, o credor não é obrigado a receber coisa diversa daquela pactuada, mesmo que mais valiosa, conforme previsão contida no art. 313 do CC. Além disso, no caso de obrigação de dar coisa certa, o acessório sempre seguirá o principal, ou seja, caso não haja previsão específica ao contrário, o devedor não poderá negar a dar ao credor aqueles bens que, sem integrar o bem principal, secundam-na por acessoriedade. É o que dispõe o art. 233 do CC. Se houver o inadimplemento da obrigação de dar coisa certa em decorrência da perda ou perecimento do objeto antes da tradição (entrega da coisa), pode ocorrer as seguintes hipóteses: Se coisa se perder, SEM culpa do devedor, fica resolvida a obrigação para ambas as partes, suportando o prejuízo o proprietário da coisa que ainda não a havia alienado (art. 234, primeira parte, CC). Exemplo: boi é atingido por raio e morre – a obrigação fica resolvida, ou seja, é extinta e a única obrigação é de devolver eventual valor recebido. Não haverá dever de indenizar por perdas e danos. Se a coisa se perder, POR culpa do devedor, este responderá pelo valor equivalente ao objeto, acrescido de perdas e danos. A perda será suportada pelo causador do dano, que terá que indenizar a outra parte (art. 234, parte final, CC). Exemplo: fico embriagada e atropelo o boi que estava vendido e deveria ser entregue no diaseguinte. Se a coisa se deteriorar, SEM culpa do devedor, o credor poderá, a seu critério, resolver a obrigação ou aceitar a coisa, abatido o preço da deterioração (art. 235, CC). Se a coisa se deteriorar, POR culpa do devedor, o credor poderá exigir o equivalente ou aceitar a coisa no estado em que se encontre. Em ambos os casos o credor terá direito de reclamar indenização por perdas e danos (art. 236, CC). Dentre das obrigações de dar coisa certa encontramos a obrigação de restituir coisa certa (devedor ter que restituir a coisa). Neste caso, se houver a perda do bem, devemos observar o preceito contido no art. 238 do CC. Segundo este dispositivo, se a coisa se perdeu sem culpa do devedor, não haverá nenhuma obrigação por sua parte (nem restituição, nem indenização) e o prejuízo será todo do credor. Por exemplo: empresto meu carro e a pessoa é assaltada. Já se a coisa a ser restituída se perder por culpa do devedor, o credor deverá receber o equivalente e ser indenizado por perdas e danos (art. 239, CC). Se a coisa a ser restituída sofreu deterioração sem culpa do devedor, o credor deverá recebê-la da forma que se encontre, sem direito a indenização por perdas e danos (art. 240, CC). Já se houver culpa do devedor na deterioração do bem, observa-se o disposto no art. 239, CC, ou seja, o devedor deverá ressarcir o credor pelo valor equivalente (valor do objeto) e, ainda, indenizá-lo por perdas e danos. Apesar de o CC não dispor expressamente, nada impede que o credor opte por receber a coisa deteriorada na forma que se encontre e pleitear judicialmente o valor decorrente da depreciação do objeto e indenização por perdas e danos. a.1 – Cômodos na obrigação de dar coisa certa. São as vantagens produzidas pela coisa (melhoramentos, acréscimos e frutos experimentados pela coisa), sem despesas do devedor. Nas obrigações de dar coisa certa, até o momento da tradição do bem, os melhoramentos (modificações que melhoram) e os acréscimos pertencem ao devedor, que poderá exigir aumento no preço ou a resolução da obrigação, se o credor não concordar (art. 237, CC). Exemplo: vendo uma égua e antes da tradição do animal, descubro que ela está prenha; não posso entregar o potro sem receber por ele, portanto, deverá haver um aumento no preço para justificar a valorização do objeto e se o comprador não concordar com o aumento no preço, eu (devedora) poderei resolver a obrigação. Quanto aos frutos (utilidades que a coisa periodicamente produz sem diminuir sua substância), os produzidos até a tradição são do devedor e aqueles pendentes à época da tradição serão do credor (parágrafo único do art. 237, CC) – o acessório segue o principal. b) Obrigação de Dar Coisa Incerta: o objeto da prestação não foi definido, individualizado; o objeto é especificado apenas pela espécie e quantidade. Exemplo: te darei um carro quando você se formar (objeto não foi determinado, apenas seu gênero e quantidade); entregar 100 sacas de café, sem determinar a qualidade deste. O objeto pode ser incerto/indeterminado, mas deve ser determinável, pois se a obrigação dispuser sobre objeto indeterminável, o negócio jurídico é nulo (art. 166, III do CC). A fim de possibilitar a identificação do objeto indeterminado é o que o CC/2002 estabelece que a coisa deve ser indicada, no mínimo, pelo gênero e quantidade (art. 243 do CC). Vê-se que o estado de indeterminação é transitório, pois a indeterminabilidade da coisa é superada no momento do cumprimento da prestação, pois nesta oportunidade o objeto será individualizado pelas partes contratantes. Por exemplo: obrigação de dar 100 sacas de café (coisa incerta/não individualizada) → ao cumprir a obrigação, as partes optam pelo café tipo A (coisa certa/determinada/individualizada). Mas quem fará a escolha da coisa indeterminada, o credor ou o devedor? A questão encontra resposta no art. 244 do CC, que dispõe que a escolha será realizada pelo devedor, salvo quando as partes tiverem pactuado de forma diversa (pactuado que a escolha será feita pelo credor ou por um terceiro especificado). Entretanto, o devedor não terá total liberdade na escolha da coisa ofertada, pois está proibido de dar a coisa pior bem como não está obrigado a dar a coisa melhor. Portanto, o devedor deverá escolher a coisa intermediária entre as que possui. De acordo com o art. 246 do CC, a coisa incerta não perece, não desaparece. Portanto, o devedor não pode alegar o perecimento de coisa incerta para resolver a obrigação antes da tradição. Por exemplo: empresto R$ 10.000,00 para João (dinheiro é coisa incerta) e quando ele está indo me encontrar para pagar ele é assaltado e levam todo o dinheiro que ele utilizaria para me pagar; agricultor assume a obrigação de entregar 100 sacas de soja e perde toda a colheita – a dívida permanece a mesma, a obrigação não se resolve, pois a coisa incerta não perece. A partir do momento que a coisa indeterminada for individualizada, determinando-se a qualidade do objeto da prestação, a obrigação de dar coisa incerta se convola em obrigação de dar coisa certa, aplicando-se àquela as disposições contidas no CC/2002 para esta última. É o que dispõe o art. 245 do CC. Esta operação de especificação da coisa incerta, tornando-a certa e determinada é chamada de concentração do débito ou concentração da prestação devida. 4.1.2 - Obrigação de Fazer: interessa ao credor a própria atividade do devedor e não um objeto em si (contrato de prestação de serviços; contrato de empreitada). A obrigação de fazer pode ser fungível (o serviço pode ser prestado por um terceiro – ex: contratação de pedreiro pra fazer a laje de uma casa) ou infungível (apenas uma pessoa pode cumprí-la de maneira razoável – ex: contrato um show da Ivete Sangalo). De acordo com o art. 249 do CC, quando a obrigação é fungível, havendo o inadimplemento, o credor pode contratar uma terceira pessoa para cumprir a prestação às custas do devedor (outro pedreiro faz a laje e depois eu pleiteio judicialmente a indenização do pedreiro inicialmente contratado e que não prestou o serviço). Já no caso da obrigação infungível, não há a possibilidade de se resolver através de um terceiro, portanto, a solução é a indenização por perdas e danos (art. 247, CC). Ressalte-se que mesmo no caso de obrigações inicialmente fungíveis, se for convencionado entre as partes que o serviço só poderá ser prestado pelo devedor, a obrigação torna-se infungível, pois é uma obrigação personalíssima e, portanto, não poderá ser cumprida por um terceiro como disposto no art. 249 do CC, resolvendo-se apenas com perdas e danos (art. 247, CC). Se a prestação fungível tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação, cabendo apenas a devolução de eventual adiantamento (exemplo: contrato um pintor para pintar um quadro e ele tem um AVC e fica com sequelas motoras que o impossibilitam de pintar). Entretanto, se a prestação não for realizada por culpa do devedor, caberá indenização por perdas e danos (ex: cantor contratado para o casamento se embriaga, envolve-se em acidente no caminho para a festa e não faz o show contratado). É o que dispõe o art. 248 do CC. Apesar de o CC/2002 dispor que a solução para o descumprimento culposo da obrigação de fazer é apenas a indenização por perdas e danos, a melhor doutrina tende a observar o art. 248 do CC em conjunto com o art. 461 do CPC, que dispõe que o juiz poderá determinar o cumprimento da obrigação, sob pena de multa diária a ser aplicada ao devedor, obrigando o adimplemento da prestação pactuada. Portanto, a indenização por perdas e danos somente seria devida no caso de impossibilidadedo cumprimento da obrigação ou quando o credor (autor) não tiver mais interesse na sua realização e assim o pretender na ação. Por óbvio, mesmo que a prestação seja executada após a determinação judicial, o credor ainda fará jus à indenização por perdas e danos. Portanto, se houver inadimplemento de obrigação fungível, com culpa do devedor o credor poderá exigir JUDICIALMENTE: 1) Cumprimento forçado da obrigação por meio de tutela específica (art. 461 CPC), com fixação, por exemplo, de astreintes; 2) Pode exigir que terceiro cumpra a obrigação às custas do devedor. Esse é um mecanismo que está no CPC art. 633 e 634 do CPC; 3) O credor pode exigir a resolução da obrigação, cumulando-a com perdas e danos. É possível uma forma de tutela extrajudicial para cumprimento da obrigação de fazer fungível, prevista no art. 249, parágrafo único do CC. É uma forma de autotutela civil extrajudicial para cumprimento da obrigação. Ex: empreiteiro não quis fazer o muro → contrato outro e cobro daquele. Já se houver inadimplemento de obrigação infungível, com culpa do devedor, o credor poderá exigir JUDICIALMENTE: 1) Cumprimento forçado da obrigação, por meio de tutela específica, como determina o art. 461 do CPC, inclusive com aplicação de multa; 2) Se não interessa mais a obrigação, dar-se-á a resolução cumulada com perdas e danos. No caso de obrigação infungível não há forma de autotutela (contratar terceiro às expensas do contratado). 4.1.3 - Obrigação de Não Fazer: tem por objetivo uma prestação negativa; um comportamento omissivo do devedor; uma abstenção. Exemplo: vizinho se obriga a não construir acima de determinada altura; contrato de locação que prevê que não poderá instalar ponto comercial no imóvel alugado; contrato de sigilo/confidencialidade. Ressalte-se que não serão consideradas lícitas as obrigações que vulnerem as garantias fundamentais do devedor, por exemplo: não casar; não trabalhar; não transitar por determinada rua, etc. Todas atingem os direitos da personalidade e a obrigação será nula (art. 166, II do CC). Se inadimplida uma obrigação de não fazer, sem culpa do devedor, a obrigação será extinta, sem direito a perdas e danos (art. 250, CC). Ex: vizinho que se comprometeu a não construir acima de determinada altura e por determinação do Poder Público viu-se obrigação a realizar a obra que comprometeu de abster-se. Se houver inadimplemento, com culpa do devedor (ex: se obrigou com o vizinho a não construir acima de determinada altura, mas o fez), o credor poderá exigir JUDICIALMENTE (art. 251, CC): 1) Se o desfazimento for possível (ex: muro), requerer que desfaça o ato, sob pena de multa diária (art. 461 do CPC). 2) Indenização por perdas e danos, caso o autor não tenha mais interesse na obrigação de não fazer ou se o desfazimento for impossível (ex: sigilo quebrado). Aqui também há a previsão da autotutela (parágrafo único do art. 251 do CC). 4.2 – Classificação Quanto aos Sujeitos (Partes): Considerando-se o elemento subjetivo da relação obrigacional (os sujeitos), a obrigação poderá ser: fracionária ou solidária (art. 264, CC). Nas obrigações fracionárias há a concorrência de uma pluralidade de credores ou devedores, sendo que cada um responde por uma proporcionalidade da dívida ou do crédito. Tais obrigações, por óbvio, pressupõem a divisibilidade da prestação. De acordo com o art. 257 do CC, se houver mais de um devedor ou credor e a obrigação for divisível, presume-se dividida a obrigação em tantas quantas forem as partes. O CC/2002 adota a fracionariedade e não a solidariedade nas obrigações, portanto, só se admitirá a responsabilização quando expressamente previsto na lei ou convencionado pelas partes (art. 265 do CC). Exemplo: a Lei 8.245/91 prevê a solidariedade entre os locatários. Como dito acima, a solidariedade não se presume, devendo ser expressa (por lei ou por convenção entre as partes - art. 265 do CC). Nas obrigações solidárias há uma pluralidade de credores ou devedores e cada tem o direito de receber (solidariedade ativa) ou a obrigação de pagar (solidariedade passiva) toda a dívida. Enfim, nas obrigações solidárias, um dos co-credores poderá receber integralmente o crédito como se fosse o único credor e, da mesma forma, um dos co-devedores tem a obrigação de pagar integralmente a dívida, como se fosse o único devedor. Nas obrigações solidárias, mesmo que o objeto seja divisível (ex: dinheiro), ele é visto como uma unidade e cada co-obrigado responderá pela dívida integralmente, cabendo-lhe apenas o direito de regresso face aos demais co- obrigados. Por exemplo: se eu empresto R$ 10.000,00 para cinco pessoas, conjuntamente, e estes devedores não quitam a obrigação, poderei cobrar R$ 2.000,00 de cada devedor, pois dinheiro é prestação divisível. Entretanto, se constar no contrato que os devedores são solidários (solidariedade passiva), poderei cobrar R$ 10.000,00 de qualquer um deles, que deverá cumprir a obrigação integralmente e, após, terá direito de regresso contra os demais devedores, proporcionalmente à responsabilidade de cada um (R$ 2.000,00 de cada). No caso da obrigação solidária, a interrupção do prazo prescricional (art. 202, CC) contra um dos devedores solidários prejudica os demais; já se a obrigação for fracionária, a interrupção contra um dos devedores não prejudicará os demais. No caso da prestação ser indivisível, mesmo não sendo expresso na lei ou contrato, a responsabilidade será solidária, pois não é possível dividir o objeto da prestação (ex: um carro). Portanto, qualquer um dos co-devedores que for acionado deverá cumprir integralmente a obrigação. a) Solidariedade Ativa (arts. 267 a 274 do CC): qualquer um dos credores poderá exigir do devedor o cumprimento da obrigação, sendo que este exonera-se perante todos ao cumprí-la a qualquer um dos credores. Por óbvio, aquele que recebeu a prestação, fica responsável perante os co-credores – o devedor deixa de figurar na relação, que passa a existir apenas entre os co-credores. Se algum dos credores solidários falecer, cada herdeiro terá direito a reclamar apenas a parcela correspondente ao seu quinhão hereditário, exceto se a prestação for indivisível, oportunidade em que poderá reclamar a prestação por inteiro, ficando responsável perante todos os demais credores. De acordo com os arts. 273 e 274 do CC as exceções (defesas) pessoais oponíveis contra um dos credores solidários não atinge os demais. Exemplo: se um dos credores solidários, na época da formalização do negócio jurídico ameaçou o devedor para que este o celebrasse, estando os demais credores de boa-fé, o juiz poderá acolher a defesa do devedor, excluindo o coator da relação obrigacional que será declarada inválida com relação a este, mas a obrigação com relação aos demais credores permanece válida, pois a exceção pessoal não pode atingir os demais que agiram de boa-fé. Já se a exceção arguida pelo devedor não for pessoal, sendo acolhida pelo juiz, beneficiará todos os credores solidários. Exemplo: um dos credores solidários ingressa com ação de cobrança e o devedor argui que houve cobrança abusiva de juros, mas juiz não acolhe → decisão beneficiará todos os credores. Portanto, os credores que não participaram do processo nunca poderão ser prejudicados, mas apenas beneficiados. b) Solidariedade Passiva (arts. 275 a 285 do CC): ocorre quando há uma pluralidade de devedores e todos são responsáveis pelo pagamento da dívida, integralmente. Aqui sempre haverá o direito de regresso do devedor que quitou a obrigação com relação aos demais devedores solidários. Neste caso, o devedor que quitar integralmentea dívida terá direito de regresso contra os demais devedores, cada um respondendo por sua quota parte (art. 283, CC). Também aqui há a possibilidade de o devedor opor exceções pessoais e comuns, sendo que somente aproveitará aos demais devedores solidários a exceção comum (art. 281, CC). No caso de falecimento de um dos devedores solidários, poderá ocorrer três situações (art. 276, CC): - dívida indivisível: qualquer dos herdeiros ou demais devedores poderá ser compelido a efetuar o pagamento integral da obrigação. - dívida divisível: cada herdeiro pagará sua quota parte na dívida, até o limite da sua parte na herança, pois seu patrimônio pessoal não pode ser afetado para pagar dívida que não assumiu. Aqui não há a possibilidade de o credor cobrar integralmente a dívida de apenas um herdeiro, pois a cobrança integral somente poderá ser realizada mediante acionamento coletivo dos herdeiros – cada herdeiro é responsável por sua quota parte, não há solidariedade entre os herdeiros, mas tão somente entre estes (herdeiros) e os demais devedores. Da mesma forma, o pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão (perdão) parcial da dívida por ele obtida não aproveita aos demais, que permanecerão solidariamente responsáveis pela obrigação remanescente (art. 277, CC). O art. 282, CC dispõe ainda que o credor poderá renunciar a solidariedade com relação a um dos devedores. Nesta situação, o credor somente poderá exigir do devedor exonerado da solidariedade a sua quota parte na obrigação, perdendo o direito de exigir-lhe o cumprimento integral da prestação; os demais devedores permanecerão solidariamente responsáveis pela prestação, abatendo-se o valor do devedor beneficiado pela renúncia. 4.3 – Quanto ao Objeto: Quanto ao objeto a obrigação pode ser alternativa, facultativa, cumulativa, divisíveis e indivisíveis, líquidas e ilíquidas. a) Na obrigação alternativa (arts. 252 a 256 CC), há duas ou mais prestações e o devedor se desonera cumprindo apenas uma delas. A prestação é devida alternativamente (ou uma ou outra). Exemplo: A é devedor de B e pactuaram que a dívida poderá ser paga mediante a entrega de determinado touro ou cavalo. O direito de escolha quanto ao objeto caberá ao devedor, desde que não haja previsão expressa ao contrário (art. 252, CC). Entretanto, o credor não está obrigado a receber parte em uma prestação e parte em outra (§ 1º). Se a obrigação for de prestação periódica, o direito de escolha poderá ser exercido em cada período (§ 2º). A escolha caberá ao juiz caso haja pluralidade de optantes (devedores) e estes não chegarem a um consenso (§ 3º), da mesma forma que o será quando a escolha couber a um terceiro que não queira ou não possa exercitar a opção (§ 4º). Apesar de o CC/2002 não estabelecer um prazo para que o devedor realize a escolha, aplica-se a previsão contida no art. 571 do CPC → 10 dias. De acordo com o art. 256 do CC, se as prestações se tornarem impossíveis, sem culpa do devedor (exemplo: enchente matou o touro e o cavalo), extinguir-se-á a obrigação. Tornando-se impossível apenas uma das prestações e a escolha não seja do credor, a obrigação concentrar-se-á na prestação remanescente (art. 253, CC), independentemente de haver culpa do devedor. Se houver culpa do devedor e a escolha cabia ao credor, este poderá exigir a prestação remanescente ou o valor da que se impossibilitou, além de perdas e danos (art. 255, primeira parte, CC) D´outro lado, se a impossibilidade de ambas prestações decorrer de culpa do devedor e couber a ele a escolha, ficará obrigado a pagar ao credor o valor da última prestação que se tornou impossível e perdas e danos (art. 254, CC). Já se a impossibilidade decorrer de culpa do devedor e a escolha cabia ao credor, este poderá pleitear o valor de qualquer uma das prestações alternativas (à sua escolha), além das perdas e danos (art. 255, segunda parte, CC). b) Na obrigação facultativa: não há previsão expressa no CC/2002, mas é admitida com base na orientação doutrinária. Neste caso, há apenas um objeto na obrigação, mas ele pode ser substituído por outro de natureza diversa, a critério do devedor. Exemplo: contrato prevê o pagamento da quantia de R$ 10.000,00, mas dispõe que o pagamento em dinheiro poderá ser substituído pela entrega de um determinado veículo usado. Considerando-se que a substituição da prestação fica a critério do devedor, caso o objeto principal se perca sem culpa do devedor, a obrigação fica resolvida, não podendo o credor exigir o objeto facultativo, caso o devedor não queira entregá-lo. c) Na obrigação cumulativa há um credor, um devedor e dois objetos e a prestação somente será cumprida com a entrega de ambos objetos. Há uma pluralidade de prestações que devem ser cumpridas conjuntamente, como se fossem uma só. O devedor somente se desobriga após cumprir todas as prestações cumulativas. Exemplo: contrato prevê pagamento mediante entrega de determinado imóvel, determinado veículo e uma quantia em dinheiro → a obrigação do comprador (devedor) só restará cumprida após o cumprimento de todas as prestações (entrega do imóvel, do carro e do dinheiro). d) Obrigações Divisíveis e Indivisíveis (art. 257 a 263, CC): as obrigações divisíveis são aquelas que admitem o cumprimento fracionado ou parcial da prestação (art. 257, CC – ex: entrega de dinheiro), enquanto as obrigações indivisíveis só podem ser cumpridas por inteiro (art. 258, CC – ex: entrega de um cavalo). Para entender a matéria, é importante lembrarmos de conceitos estudados na Parte Geral do CC: bens divisíveis (art. 87, CC) e bens indivisíveis (art. 88, CC). Importante ressaltar que a indivisibilidade ou divisibilidade da obrigação leva em consideração a prestação em si e não o objeto. Portanto, pode haver uma obrigação indivisível com objeto divisível (ex: art. 314, CC). A obrigação divisível é aquela cuja prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância e de seu valor (divisibilidade econômica). A obrigação será dividida de forma igual entre os credores ou devedores (art. 257, CC). A obrigação indivisível é aquela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, não comportando sua cisão em várias obrigações parceladas distintas, seja por sua natureza (ex: animal), por motivo de ordem econômica (ex: pedra preciosa) ou dada a razão determinante do negócio (ex: reforma de prédio por vários empreiteiros em que há disposição expressa de que o dono da obra pode exigir a obra por inteiro de qualquer um deles). A indivisibilidade da prestação pode ser: - física/material/natural: quando decorre da própria natureza da prestação (ex: entrega de um cavalo; entrega de um imóvel alugado); - legal/jurídica: quando decorre de previsão legal (ex: pequena propriedade agrícola – módulo rural não pode ser fracionado); - convencional/contratual: a indivisibilidade decorre da vontade das partes, que a estipula no título obrigacional. - judicial: quando a indivisibilidade é determinada pelos tribunais (ex: indenização – art. 950, parágrafo único do CC). Se houver pluralidade de devedores na obrigação indivisível, todos os devedores são responsáveis pela dívida em sua integralidade (art. 259, CC), sendo que se um dos devedores cumprir a prestação integralmente, terá direito de regresso contra os demais devedores. D´outro lado, se houver pluralidade de credores, o devedor somente se desonera da obrigação pagando a todos, conjuntamente, ou a um deles, dando este caução de ratificação (documento no qual se inserea garantia de aprovação da quitação unilateral por parte dos outros credores - instrumento escrito, datado e assinado pelos demais credores) dos outros credores (art. 260, CC). O credor que recebeu a prestação deverá repassar aos demais credores a proporcionalidade devida a cada um destes (art. 261, CC), sendo que a doutrina leciona que acaso o objeto da prestação seja indivisível, o credor que recebeu o objeto poderá ficar com este e repassar a parcela devida aos demais credores que permaneceram inertes, em dinheiro. Se um dos credores remir (perdoar) a dívida, a remissão será proporcional à sua quota parte, podendo os demais credores exigir a prestação, descontada a quota parte do credor remitente (art. 262, CC). Sendo o objeto indivisível, far-se-á o desconto da quota parte na prestação com base na proporção em dinheiro. De acordo com o art. 263, CC, a obrigação deixa de ser indivisível se for resolvida em perdas e danos. Portanto, se o objeto perecer por culpa de todos os devedores, deverão indenizar o credor, em partes iguais. Se o objeto perecer por culpa de um dos devedores, apenas ele será civilmente responsável pela indenização. Entretanto, quanto ao valor da prestação, em todos os casos todos os devedores serão responsáveis, proporcionalmente à sua quota parte. Considerando-se a indivisibilidade da prestação, a suspensão ou interrupção do prazo prescricional que favorecer um dos devedores será extensiva aos demais. Por fim, importante ressaltarmos algumas diferenças entre a solidariedade e a indivisibilidade nas obrigações enumeradas por Caio Mário da Silva Pereira, a saber: - a causa da solidariedade é o título e a da indivisibilidade é a natureza da obrigação; - na solidariedade, cada devedor paga por inteiro, porque deve integralmente, enquanto na indivisibilidade paga a totalidade em razão da impossibilidade de repartir a prestação em quotas; - a solidariedade é uma relação subjetiva (visa facilitar a satisfação do crédito) e a indivisibilidade é objetiva (assegura a unidade da prestação); - a indivisibilidade justifica-se com a própria natureza da prestação, quando o objeto é, em si mesmo, insuscetível de fracionamento, enquanto a solidariedade é sempre de origem técnica, resultando da lei ou da vontade das partes; - a solidariedade cessa com a morte dos devedores, enquanto a indivisibilidade subsiste enquanto a prestação suportar; - a indivisibilidade termina quando a obrigação se converter em perdas e danos, enquanto a solidariedade conserva este atributo. e) Obrigações líquidas e ilíquidas: na obrigação líquida a prestação é certa e individualizada (ex: entregar R$ 10.000,00); na obrigação ilíquida a prestação carece de especificação do seu quantum para ser cumprida (ex: condenação trabalhista). 4.4 – Obrigações quanto ao Elemento Acidental: a obrigação poderá ser condicional, modal ou a termo. a) Obrigação Condicional: são obrigações condicionadas a um evento futuro e incerto. Enquanto não implementada a condição, não poderá o credor exigir o cumprimento da obrigação. Ex: te darei um carro quando você se casar. b) Obrigação a termo: sua exigibilidade ou sua resolução está subordinada a evento futuro e certo. Ex: te darei o imóvel quando meu tio que lá reside falecer. c) Obrigação modal: são oneradas com um encargo/modo (ônus) imposto a uma das partes, que experimentará um benefício maior que a outra. Ex: doador impõe ao donatário a obrigação de construir um asilo no terreno doado. Se a obrigação não se enquadra dentre as classificações acima (condicional, a termo ou modal), diz-se que é uma obrigação pura. 4.5 – Obrigações quanto ao Conteúdo: as obrigações podem ser de meio, de resultado ou de garantia. a) As obrigações de meio são aquelas em que o devedor se obriga a empreender sua atividade, sem garantir o resultado esperado. Ex: obrigação do médico, do advogado. b) Nas obrigações de resultado o devedor se obriga a produzir o resultado esperado pelo credor. Ex: contrato de transporte; cirurgião plástico. c) As obrigações de garantia têm por conteúdo a eliminação de um risco que pesa sobre o credor; visa reparar as conseqüências da realização do risco. Ex: contrato de seguro.
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