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Legislação Penal Especial Maria da Penha Paulo Henrique Fuher

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Aulas 01 e 02 | 09/06/16
LEI MARIA DA PENHA
Twitter: @ph_prof 
1. Lei Maria da Penha – Lei 11.340/2006
	É lei de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher.
	As situações doméstica e familiar são alternativas ou cumulativas? Trata-se de uma conjunção alternativa, ou seja, basta ser a violência doméstica ou familiar, assim, presentes de forma alternativa já é permitida a incidência da Lei Maria da Penha ao caso concreto.
	Art. 5º, I: para ser violência doméstica, não precisa existir vínculo familiar (pessoas com ou sem vínculo familiar).
	“Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”.
	Exige sujeito passivo determinado, pois basta ser a vítima mulher, não importando quem é o agressor. São crimes próprios quanto ao sujeito passivo.
	Nesse sentido, a lei não exige diferença de gênero entre agressor e ofendido quanto ao sujeito ativo, pois pode ser, por exemplo, uma agressão de mulher contra mulher (filha que agride a mãe, irmã que agride irmã, etc.).
	Portanto, são crimes comuns que podem ser praticados por qualquer pessoa. 
	Na ADC 19, o STF declarou constitucional a tutela penal diferenciada da ofendida mulher, considerando se tratar de uma situação de discriminação positiva ou ação afirmativa: estabelece-se uma desigualdade formal (perante a lei) para alcançar igualdade material ou substancial (plano fático).
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno Julgado em 09/02/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 28-04-2014 PUBLIC 29-04-2014 EMENTA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – GÊNEROS MASCULINO E FEMININO – TRATAMENTO DIFERENCIADO. O artigo 1º da Lei nº 11.340/06 surge, sob o ângulo do tratamento diferenciado entre os gêneros – mulher e homem –, harmônica com a Constituição Federal, no que necessária a proteção ante as peculiaridades física e moral da mulher e a cultura brasileira. COMPETÊNCIA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – LEI Nº 11.340/06 – JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.
	O artigo 33 da Lei nº 11.340/06, no que revela a conveniência de criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, não implica usurpação da competência normativa dos estados quanto à própria organização judiciária. 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI Nº 9.099/95 – AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares. A proteção diferenciada ocorre quando a mulher estiver inserida nos seguintes contextos de vulnerabilidade: violência doméstica, familiar ou afetivo. Inserida nestes contextos, a mulher se torna vulnerável, o que justifica uma proteção diferenciada pela lei. Alguns acórdãos, aplicam para o homem a parte civil da lei, as chamadas medidas protetivas de urgência (cautelares cíveis), com base no poder geral de cautela. Não podem ser aplicadas as restrições penais para o homem. Admite-se a aplicação da parte civil da lei para ofendidos homens, porque muitas das medidas protetivas de urgência, do art. 221 , tem natureza de medida cautelar cível, admitindo-se assim, o exercício do poder geral de cautela. Nesse sentido, o STJ já admitiu a aplicação de tais medidas em ação cautelar cível satisfativa, independentemente de qualquer procedimento criminal – RESp 1.419.421. Por exemplo, no caso de um filho que sustente e agride o pai, poderá ser aplicado o afastamento do agressor do lar e fixar alimentos.DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. 
	Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
	§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público.
	§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
	§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial.
	§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).
REsp 1419421/GO Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA Julgado em 11/02/2014, DJe 07/04/2014 EMENTA MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI N. 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA). INCIDÊNCIA NO ÂMBITO CÍVEL. NATUREZA JURÍDICA. DESNECESSIDADE DE INQUÉRITO POLICIAL, PROCESSO PENAL OU CIVIL EM CURSO. 1. As medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006, observados os requisitos específicos para a concessão de cada uma, podem ser pleiteadas de forma autônoma para fins de cessação ou de acautelamento de violência doméstica contra a mulher, independentemente da existência, presente ou potencial, de processo-crime ou ação principal contra o suposto agressor. 2. Nessa hipótese, as medidas de urgência pleiteadas terão natureza de cautelar cível satisfativa, não se exigindo instrumentalidade a outro processo cível ou criminal, haja vista que não se busca necessariamente garantir a eficácia prática da tutela principal. "O fim das medidas protetivas é proteger direitos fundamentais, evitando a continuidade da violência e das situações que a favorecem. Não são, necessariamente, preparatórias de qualquer ação judicial. Não visam processos, mas pessoas" (DIAS. Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012). 3. Recurso especial não provido.
	A Lei Maria da Penha não prevê tipos penais especiais, mas restrições que incidem ou aderem aos crimes comuns da legislação penal (por exemplo, ameaça e lesão).
	Por exemplo: empregadadoméstica que mora no emprego pode sofrer violência psicológica, o que será uma violência doméstica, uma vez que a lei abrange pessoas ainda que esporadicamente agregadas ao espaço, podendo abranger a diarista, inclusive.
2. Condições de incidência da Lei Maria da Penha
	A incidência da Lei Maria da Penha observa três condições cumulativas:
a) prática de violência: em uma das formas previstas no art. 7º. Na lei penal comum, o termo “violência” denota uma violência física, o que já não ocorre nesta lei;
b) dentro das situações de vulnerabilidade: as situações são previstas no art. 5º (violência doméstica, ou familiar ou afetiva);
c) sujeito passivo mulher;
 3. Violências do art. 7º
	O art. 7º, prevê cinco formas de violência, entre outras (denota ser um rol aberto, admitindo outros que se assemelhem).
	“Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria”.
	a) Art. 7º, I: trata da violência física, a qual coincide com o significado do Código Penal.
	b) Art. 7º, II: trata da violência psicológica, a qual equivale com a ameaça prevista no Código Penal (força exercida sobre a mente)
	 c) Art. 7º, III: violência sexual (exemplo, estupro).
	d) Art. 7º, IV: define a violência patrimonial, a qual abrange condutas como a subtração ou destruição de bens da mulher. A subtração configurará o furto e a destruição, o crime de dano (art. 163, CP2 ). Logo, furtar um bem da mulher, configura violência patrimonial.
	e) Art. 7º, V: define a violência moral, que são os crimes contra a honra: calúnia, difamação e injúria.
	Filho que furta a mãe configura violência patrimonial (mãe familiar e mulher)? Sim, incidindo a Lei Maria da Penha, visto ter sido preenchido os três requisitos. No entanto, é previsto no Código Penal, que nestes casos incide a escusa absolutória (art. 181, II, CP3 ), ficando isento de pena (exclusão de punibilidade).
	A incidência da Lei Maria da Penha faria a escusa não ser aplicável?
“Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural”.
	O STJ entendeu que a Lei Maria da Penha não afasta a incidência das escusas absolutórias, pois ao não dispor de modo diverso, a Lei Maria da Penha, incorporou a aplicação desta regra geral do Código Penal (art. 12, CP).
RHC 42.918, STJ. “Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso” RHC 42.918/RS Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA Julgado em 05/08/2014, DJe 14/08/2014 EMENTA RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE ESTELIONATO (ARTIGO 171, COMBINADO COM O ARTIGO 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL). CRIME PRATICADO POR UM DOS CÔNJUGES CONTRA O OUTRO. SEPARAÇÃO DE CORPOS. EXTINÇÃO DO VÍNCULO MATRIMONIAL. INOCORRÊNCIA. INCIDÊNCIA DA ESCUSA ABSOLUTÓRIA PREVISTA NO ARTIGO 181, INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. IMUNIDADE NÃO REVOGADA PELA LEI MARIA DA PENHA. DERROGAÇÃO QUE IMPLICARIA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. PREVISÃO EXPRESSA DE MEDIDAS CAUTELARES PARA A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO DA MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. INVIABILIDADE DE SE ADOTAR ANALOGIA EM PREJUÍZO DO RÉU. PROVIMENTO DO RECLAMO. 1. O artigo 181, inciso I, do Código Penal estabelece imunidade penal absoluta ao cônjuge que pratica crime patrimonial na constância do casamento. 2. De acordo com o artigo 1.571 do Código Civil, a sociedade conjugal termina pela morte de um dos cônjuges, pela nulidade ou anulação do casamento, pela separação judicial e pelo divórcio, motivo pelo qual a separação de corpos, assim como a separação de fato, que não têm condão de extinguir o vínculo matrimonial, não são capazes de afastar a imunidade prevista no inciso I do artigo 181 do Estatuto Repressivo. 3. O advento da Lei 11.340/2006 não é capaz de alterar tal entendimento, pois embora tenha previsto a violência patrimonial como uma das que pode ser cometida no âmbito doméstico e familiar contra a mulher, não revogou quer expressa, quer tacitamente, o artigo 181 do Código Penal. 4. A se admitir que a Lei Maria da Penha derrogou a referida imunidade, se estaria diante de flagrante hipótese de violação ao princípio da isonomia, já que os crimes patrimoniais praticados pelo marido contra a mulher no âmbito doméstico e familiar poderiam ser processados e julgados, ao passo que a mulher que venha cometer o mesmo tipo de delito contra o marido estaria isenta de pena. 5. Não há falar em ineficácia ou inutilidade da Lei 11.340/2006 ante a persistência da imunidade prevista no artigo 181, inciso I, do Código Penal quando se tratar de violência praticada contra a mulher no âmbito doméstico e familiar, uma vez que na própria legislação vigente existe a previsão de medidas cautelares específicas para a proteção do patrimônio da ofendida. 6. No direito penal não se admite a analogia em prejuízo do réu, razão pela qual a separação de corpos ou mesmo a separação de fato, que não extinguem a sociedade conjugal, não podem ser equiparadas à separação judicial ou o divórcio, que põem fim ao vínculo matrimonial, para fins de afastamento da imunidade disposta no inciso I do artigo 181 do Estatuto Repressivo. 7. Recurso provido para determinar o trancamento da ação penal apenas com relação ao recorrente.
	
	Há definição contrária na doutrina de Berenice Dias.
	Prevalece a proteção do núcleo familiar em detrimento da previsão penal.
	O Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), em seu artigo 95, afastou expressamente a aplicação das imunidades penais absoluta e relativa dos artigos 181 e 182, do Código Penal, reiterando o mesmo afastamento no inciso III, do art. 183, do Código Penal, por se tornar um paradigma para a Lei Maria da Penha, visto que prova que o legislador quando deseja excepcionar, o faz expressamente.
	“Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal”.
	Quanto ao transexual que passou por cirurgia, prevalece na doutrina que importa a condição jurídica e não a morfológica, ou seja, se houve decisão judicial o declarando mulher, ela assim será considerada para a aplicação da Lei Maria da Penha (não importa se foi realizada a cirurgia).
	Em tese não há precedente firmado no tocante a aplicabilidade da insignificância na Lei Maria da Penha.4. Situações de vulnerabilidade do art. 5º
	Fora das situações previstas no art. 5º, da Lei Maria da Penha, a mulher não terá proteção penal diferenciada.
	Tratam-se de condições alternativas, bastando a presença de uma das condições para a aplicação da Lei Maria da Penha. 
	a) Art. 5º, I: define a esfera doméstica. O critério fundamental é o espacial, ou seja, o lugar ou espaço onde foi praticada a violência. Importa “onde” e não “contra quem”. O espaço doméstico abrange o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, ainda que esporadicamente agregadas a este espaço de convívio (por exemplo, empregada doméstica). Abrange para o intercâmbio de mulher? Sim, pois ela estará agregada ao espaço doméstico de modo esporádico.
	b) Art. 5º, II: define a esfera familiar. Não importa onde praticada a violência, mas sim o vínculo que os une. Por exemplo, a violência pode ser praticada na rua, em casa, no shopping, etc. Abrange situações onde agressor e ofendida são unidos por três tipos de laços: naturais: parentesco biológico ou consanguíneo. A natureza os criou. afinidade: é o parentesco entre cônjuge/companheiro e os parentes do outro (por exemplo, cunhada e sogra). laços adquiridos por vontade expressa: adoção, pessoas que são ou se consideram aparentados (vínculo socioafetivo – por exemplo, um afilhado agride sua madrinha, mãe de criação, etc.).
	c) Art. 5º, III: define a relação íntima de afeto, ou seja, onde o agressor e a ofendida convivam ou tenham convivido em relação pretérita (ex-companheiro, ex-namorado, ex-marido), independentemente de coabitação. Abrange união estável e segundo o STJ, relação de namorados (criação de relações de poder e fato). O STJ, no caso de “namoro efêmero ou fugaz” (acabaram de “ficar”), não aplicou a Lei Maria da Penha, por entender não ter sido configurado um convívio mínimo.
	Observa-se que a lei interna dispensa a necessidade de coabitação, no entanto, a Convenção Internacional de Belém do Pará exige coabitação. Prevalece o princípio da maior proteção, pois a lei interna ao dispensar a coabitação, possibilita uma tutela mais ampla.
	Prevalece que, em caso de convívio pretérito, basta que a violência tenha sido praticada em razão da relação rompida (nexo de causalidade), não importando quanto tempo se passou desde a sua cessação (por exemplo, o ciúmes). 
	Importa o elo finalístico.
	Exemplo: cuidador de idosos - idosa mulher e proprietária da casa: caso haja a prática de violência, será dentro do espaço doméstico e em tese se aplicaria a Lei Maria da Penha; esposa que agride amante do marido em um motel: motel, em via de regra, não é espaço de convívio permanente de pessoas, não há espaço doméstico e nem relação familiar com a amante.
	d) Art. 5º, parágrafo único: estas relações independem da orientação sexual dos envolvidos. Aplica-se para relação homoafetiva entre duas mulheres, respeitando os requisitos da lei (vítima mulher). Próxima aula: sujeito passivo mulher e proteção do transexual. 
Aulas 03 e 04 – 21/06/2016
Consequências
1.Competência: de juízo ou de vara.
	Retirar essas infrações da esfera do Juizado Especial Criminal.
	Só por ser violência domestica deixou de ser de menor potencial ofensivo, colocou na vara especializada ou onde não tiver na vara criminal mesmo.
	A Lei Maria da Penha retira qualquer infração penal sujeita a sua incidencia dos juizados especiais criminais. Deslocando a sua competência para uma vara especializada e, na sua falta, para uma vara criminal.
	A preferencia da lei é no art. 14, que tramite essa causa na vara especializada, o problema está no nome que foi dada pela lei, que se chama “juizados de violência domestica e familiar contra a mulher”.
	A lei chamou essa vara, por azar, de juizados, isso remete a jecrim, e o que a lei não quis foi levar para o juizado. Não associar a jecrim, a expressão juizado significa orgão jurisdicional, significa vara. Nada de juizado, pode dar a falsa impressão de que é juizado especial criminal, que é tudo que a lei não quis.
	Onde não houver, será aplicado o art. 33, que foi criado de forma transitória, tramitará na vara criminal.
	Interessante é que a lei colocou na vara especializada ou criminal, e as duas varas cumulam as competências materiais penal e cível. Concentração de matérias em juízo único, qualquer das duas cumularão de competências criminal e cível.
	A lei quis evitar a separação, a lei almejou que o mesmo juizo tivesse conhecimento total da questão e resolvesse as duas questões. Para concentrar, para evitar decisões conflitantes também.
	Se pode muito bem um juiz criminal fixar alimentos provisórios, porque cumula na mesma vara matéria cível e criminal. Então juiz criminal fixará alimentos nos casos de violência domestica. Ele pode ficar junto com medida protetiva de urgência os alimentos provisórios. Art. 22, V, Lei Maria da Penha.
	Art. 14 e 33 empregam a técnica de concentração de competências materiais, criminal e cível, em juízo único, buscando propiciar o conhecimento global da causa e o atendimento pleno de todas as necessidades, em um só juízo.
	Sendo o juiz da vara especializada ou da criminal.
Art. 16 da LMP
	Estabelece que só pode retratar da representação na frente do juiz e não do delegado.
	Permite a vitima a “renúncia” ao direito de representação. Renuncia é dito em lei, mas a natureza juridica não é essa.
	A vítima pode renunciar ao direito de representação. A única ação penal que existe o direito de representação é ação penal publica condicionada a representação. Então o art. 16 pressupõe essa lógica, só nela haveria representação para que houvesse renúncia.
	Pressupõe logicamente crime que seja de ação penal pública condicionada a autorização do ofendido. Ameaça é o melhor exemplo (art. 147, CP).
	Lei maria da penha não muda ação penal dos crimes em geral. Único crime cuja a ação é modificada por ela é a ação penal de lesão. O único crime cuja ação penal fica incondicionada por causa dela é a lesão corporal.
	Ameaça e estupro continuam dependendo de representação. Mas a lesão corporal não precisa mais.
	ADI 4424.
	Art. 16 não se aplica para lesão porque a lesão ficou publica incondicionada, não tem representação, não tem a que renunciar.
	A lesão corporal é o único crime cuja a ação penal é modificada pela lei maria da penha, tornando-se pública incondicionada quando sujeita à Lei 11.340/2006.
	Os demais crimes conservam a mesma ação penal, ainda que sujeitos à Lei Maria da Penha.
	Por isso, na ADI 4424, o STF deu interpretação conforme ao art. 16 da LMP para esclarecer que ele não se aplica ao crime de lesão corporal, pois este passaria a ser de ação penal pública incondicionada quando incidente a lei maria da penha.
	542, STJ reforça a mesma ideia, fala que o crime de lesão corporal é que tem ação pública incondicionada a lei maria da penha.
	Renuncia é abdicar o exercício do direito, o que a vitima faz no dia-dia é ir na delegacia e oferece representação, voltar atrás, retirar o que já foi exercido não é renúncia, renúncia é renunciar o seu direito de ir até lá, só posso renunciar antes de exercer o direito. Só posso me retratar depois de ter representado.
	OBS para provas abertas: prevalece que a natureza jurídica do ato seria de retratação do direito de representação, pois a renúncia significa abdicação ao exercício do direito. (surge antes de ser exercido).
	Lei estabelece quatro formalidade que visam resguardar o direito de retratação da vítima:
Perante o juiz
Em audiência especialmente designada para esse fim.
Ouvido o MP
Antes do recebimento da denúncia.
	No dia-dia o que faria o delegado? Se a vitima quer se retratar? Delegado reduz a termo a vontade dela de se retratar. Ai se marca a audiência do art. 16 LMP.
	MP oferece, depois juiz recebe ou rejeita. Na regra geral é até o oferecimento que a vitima pode se retratar. Aqui é até o recebimento.
	O STJ decidiu que não pode marcar audiência de ofício. Se a vitima disser para o oficial de justiça que não quer o juiz ficou sabendo dessavontade de retratação da vitima. A manifestação da vítima para o oficial de justiça é o suficiente para marcar audiência.
	O STJ entende que a audiência do art. 16 não pode ser designada de ofício, pois isso equivaleria a obrigar a ofendida a confirmar a representação exercida. O que tem que ser confirmado ou ratificado é a retretação e não a representação.
	Assim, o juiz só poderia designar tal audiência quando tiver conhecimento, por qualquer meio, de que a ofendida manifestou interesse em se retratar.
	Delegado colheu a retratação e mandou por oficio ao juiz, ou o oficial de justiça pergunta para vitima. 
Art. 17: são vedadas as penas:
	 I – não pode aplicar a pena de cesta básica: ele quis fazer referência a prestação pecuniária inominada. Pecuniária comum é o pagamento para vitima ou entidade, inominada é trocar a quantia por objeto de mesmo valor. Ele vai entregar bens de valor equivalente àquela quantia.
	II- prestação pecuniária: É uma pena restritiva de direitos.
	III- pena de multa que reste isolada.
	Não pode aplicar essas penas porque elas tem em comum pagamento de quantia pura e simples, para que não haja pecuniarização da violência, dar um preço a violência, quanto custou bater nela.
	A pena prevista para o crime de ameaça é de detenção, que varia de um mês a seis meses ou multa. Não ode aplicar a multa isoladamente, ele é obrigado a aplicar a privativa de detenção de 1 a 6 meses.
	Não quer dizer que não pode aplicar a multa, se for multa cumulada pode aplicar.
	A lei proibiu qualquer pena restritiva ou apenas as que resultem em multa?o artigo não veda restritiva de formas amplas, ele apenas veda as restritivas que se resolvem em pagamento de quantia, a cesta básica e a prestação pecuniária.
	Ele não proibiu prestação de serviço comunitário.
	Exemplo prático: furto do namorado contra a namorada, que não tem escusa absolutória. Violência patrimonial contra mulher. Furto qualificado cuja pena mínima é de dois anos. Posso aplicar as restritivas de direito? Art. 44, CP. CP proibe restritiva com violência física. Nesse caso não houve. Satisfez requisitos do CP.
	Quem não foi vedado e o STJ entendeu que seria aplicável é o serviço comunitário e a limitação de final de semana.
	O STJ entendeu admissível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, desde que satisfeitos os requisitos do art. 44, CP e que não se trate de pena vedada no art. 17 da lei Maria da Penha (podem ser aplicadas por exemplo, as penas de prestação de serviços à comunidade e limitação de fim de semana.
	Art. 41, LMP aos crime praticados com violência doméstica contra a mulher não se aplica a lei 9099/95.
	As duas não convivem jamais. Onde uma se aplica a outra jamais se aplica. Afastou dos crimes praticados com violência doméstica. Onde fala crime abrange ou não contravenção penal?
	STF quis transforma crime na palavra infração penal, aqui o STF errou e obriga todos a seguirem no erro. Ainda que errado, o erro dele é acerto. Fere qualquer logica de legalidade penal, mas é assim, o STF entende que também abrange contravenção.
	Onde se lê crimes leia-se infrações penais que abrange crime e também abrange contravenção penal.
	Art. 21, Decreto Lei 3688/412 : por exemplo, no caso de vias de fato, praticada contra a mulher com violência doméstica ou familiar, é uma contravenção penal, mas não será possível a aplicação da Lei 9.099/95. Não haverá sequer a elaboração de termo circunstanciado, pois será aberto um inquérito civil. Não será aplicada a composição civil com extinção da punibilidade (art. 74, parágrafo único, Lei 9.099/953 ). Não será aplicada a transação penal (art. 76, Lei 9.099/954 ), nem a suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/955 ).
	A Súmula 536 do STJ confirma a inaplicabilidade da Lei 9.099/95 aos crimes cometidos com base na Lei Maria da Penha.
	Súmula 536, STJ A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
3. Lesão corporal leve qualificada – art. 129, §9º, CP 
“(...) § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos”.
O caput do art. 129 prevê a lesão leve simples, enquanto que o §9º, prevê a lesão leve qualificada por violência doméstica, cuja pena é detenção de 3 meses a 3 anos.
Nota-se que já não se tratava de infração penal de menor potencial ofensivo em razão da pena prevista. Esta qualificadora se aplica tanto para homens quanto para mulheres, uma vez que inexiste distinção no Código Penal.
Destaca-se que, por exemplo, na lesão praticada por um filho contra a mãe, será aplicada esta pena mais as restrições da Lei Maria da Penha, tornando-se a ação penal pública incondicionada (devido ao afastamento da aplicação da Lei 9.099/95 aos crimes praticados e sujeitos a Lei Maria da Penha).
Não é possível a aplicação do art. 89, da Lei 9.099/95 (suspensão condicional do processo – Súmula 536, STJ)
Por outro lado, no exemplo acima, caso praticado em face do pai, aplica-se apenas as previsões do §9º, do art. 129, CP, podendo aplicar ainda, no que couber, as normas da Lei 9.099/95, em especial o previsto em seu art. 88 que prevê representação do ofendido em crimes de lesão, logo, será um crime de ação penal pública condicionada à representação.
Devido a pena mínima do crime ser de até 1 ano, também será possível, nos termos do art. 89, da Lei 9.099/95, a suspensão condicional do processo. Súmula 542, STJ: a lesão corporal é de ação penal pública incondicionada quando sujeita a Lei Maria da Penha. Súmula 542, STJ A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

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