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Notas de Aula de F´ısica 1 Da´fni Fernanda Zenedin Marchioro Agosto de 2013 i O que e´ F´ısica?∗ Como todas as outras cieˆncias, a f´ısica e´ baseada em observac¸o˜es experimentais e medidas quantitativas. O principal objetivo da f´ısica e´ encontrar o nu´mero limitado de leis fundamentais que governam os fenoˆmenos naturais, e usa´-las para desenvolver teorias que podem prever os resultados de experimentos futuros. As leis fundamentais usadas nas teorias desenvolvidas sa˜o expressas na linguagem da matema´tica, a ferramenta que fornece a ponte entre teoria e experimento. Quando uma discrepaˆncia entre teoria e experimento surge, novas teorias devem ser formuladas para remover a discrepaˆncia. Muitas vezes uma teoria e´ satisfato´ria apenas sob certas condic¸o˜es limitadas; uma teoria mais geral deve ser satisfato´ria sem tais li- mitac¸o˜es. Por exemplo, as leis de movimento descobertas por Isaac Newton (1642 - 1727) no se´culo 17 descrevem acuradamente o movimento de corpos a velocidades normais, mas na˜o se aplicam a objetos se movendo a velocidades compara´veis com a velocidade da luz. Em contraste, a teoria especial da relatividade desenvolvida por Albert Einstein (1879 - 1955) no in´ıcio dos anos 1900 fornece os mesmos resultados que as leis de Newton a baixas velocidades, mas tambe´m descreve corretamente movimento a velocidades que se aproximam da velocidade da luz. Assim, a teoria de Einstein e´ uma teoria mais geral do movimento. F´ısica Cla´ssica, o que significa toda a f´ısica desenvolvida antes de 1900, inclui as teorias, conceitos, leis e experimentos em mecaˆnica cla´ssica, termodinaˆmica e eletromagnetismo. Contribuic¸o˜es importantes a` f´ısica cla´ssica foram fornecidas por Newton, que desen- volveu a mecaˆnica cla´ssica como uma teoria sistema´tica e foi um dos pioneiros no uso do ca´lculo como uma ferramenta matema´tica. Grandes desenvolvimentos em mecaˆnica ∗traduc¸a˜o das primeiras pa´ginas do livro Fundamentals of Physics, autor Halliday. i ii continuaram no se´culo 18, mas os campos da termodinaˆmica e eletricidade e magnetismo na˜o foram desenvolvidos ate´ a parte final do se´culo 19, principalmente porque antes deste tempo, o aparato para experimentos controlados era ou muito cru ou indispon´ıvel. Uma nova era na f´ısica, geralmente chamada de f´ısica moderna, comec¸ou perto do final do se´culo 19. A f´ısica moderna se desenvolveu principalmente pela descoberta de que muitos fenoˆmenos f´ısicos na˜o poderiam ser explicados pela f´ısica cla´ssica. Os dois mais importantes desenvolvimentos em f´ısica moderna sa˜o as teorias da relatividade e da mecaˆnica quaˆntica. A teoria da relatividade de Einstein revolucionou os tradicio- nais conceitos de espac¸o, tempo e energia; a mecaˆnica quaˆntica, que se aplica ao mundo macrosco´pico e microsco´pico, foi originalmente formulada por um nu´mero de distintos cientistas para fornecer descric¸o˜es de fenoˆmenos f´ısicos a n´ıvel atoˆmico. Cientistas constantemente trabalham na melhora de nosso entendimento dos fenoˆmenos e leis fundamentais, e novas descobertas sa˜o feitas todos os dias. Em muitas a´reas de pes- quisa, uma grande quantidade de superposic¸a˜o existe entre f´ısica, qu´ımica, geologia e biologia, assim como com a engenharia. Alguns dos mais nota´veis desenvolvimentos sa˜o (1) va´rios misso˜es espaciais e a aterrissagem de astronautas na Lua, (2) microcircuitos e computadores de alta velocidade, e (3) te´cnicas sofisticadas de imagem usadas em pes- quisa cient´ıfica e medicina. O impacto que tais desenvolvimentos e descobertas tem tido em nossa sociedade tem sido de fato grande, e e´ muito prova´vel que descobertas e de- senvolvimentos futuros sera˜o tambe´m ta˜o excitantes e desafiadores e de grande benef´ıcio para a humanidade. ii iii Passos para resolver problemas † Ale´m daquilo voceˆ poderia esperar aprender sobre conceitos de f´ısica, uma habilidade muito valiosa que voceˆ deve esperar adquirir do seu curso de f´ısica e´ a capacidade de resolver problemas complicados. A forma como os f´ısicos abordam situac¸o˜es complexas e as quebram em partes gerencia´veis e´ extremamente u´til. Reu´na a informac¸a˜o A primeira coisa a fazer quando abordar um problema e´ entender a situac¸a˜o. Leia cui- dadosamente o enunciado do problema, procurando por frases chaves como “em repouso” ou “cai livremente”. Que informac¸a˜o e´ dada? Qual e´ exatamente a questa˜o pedida? Na˜o esquec¸a de juntar informac¸a˜o de suas pro´prias experieˆncias e senso comum. Como uma resposta razoa´vel deveria se parecer? Voceˆ na˜o esperaria calcular a velocidade de um automo´vel como sendo 5 × 106 m/s. Voceˆ sabe que unidades esperar? Ha´ casos limites que voceˆ pode considerar? O que acontece quando um aˆngulo se aproxima de 0o ou 90o ou quando uma massa se torna grande ou tende a zero? Tambe´m certifique-se de estudar cuidadosamente quaisquer desenhos que acompanham o problema. Organize sua abordagem Uma vez que voceˆ tenha realmente uma boa ideia do que se trata o problema, voceˆ pre- cisa pensar no que fazer a seguir. Voceˆ ja´ tinha visto este tipo de questa˜o anteriormente? Ser capaz de classificar um problema pode tornar muito mais fa´cil estabelecer um plano para resolveˆ-lo. Quase sempre voceˆ deve fazer um desenho ra´pido da situac¸a˜o. Classifique †traduc¸a˜o da pa´gina 47 do livro Fundamentals of Physics, autor Halliday. iii iv eventos importantes com letras circuladas. Indique quaisquer valores conhecidos, talvez numa tabela ou diretamente no esboc¸o do desenho. Analise o problema Porque voceˆ ja´ caracterizou o problema, na˜o deveria ser muito dif´ıcil selecionar equac¸o˜es relevantes que se aplicam a este tipo de situac¸a˜o. Use a´lgebra (e ca´lculo, se necessa´rio) para resolver para a varia´vel desconhecida em termos do que e´ dado. Substitua os nu´meros apropriados, calcule o resultado, e arredonde-o para o nu´mero apropriado de algarismos significativos. Aprenda a partir de seus esforc¸os Esta e´ a parte mais importante. Examine sua resposta nume´rica. Ela corresponde a`s suas expectativas do primeiro passo? E quanto a` forma alge´brica do resultado - antes de voceˆ substituir os valores nume´ricos? Faz sentido? (Tente olhar para as varia´veis nela para ver se a resposta mudaria de forma fisicamente relevante se elas fossem drasticamente aumentadas ou diminu´ıdas ou ainda se tornassem zero). Pense em como este problema se compara com outros que voceˆ tenha feito. Como foi similar? De que maneira cr´ıtica eles diferem? Por que este problema foi proposto? Voceˆ deve ter aprendido alguma coisa ao fazeˆ-lo. Voceˆ consegue entender o queˆ? Quando for resolver problemas complexos, voceˆ pode precisar identificar uma se´rie de sub-problemas e aplicar os passos acima a cada um. Para problemas muito simples, provavelmente voceˆ na˜o precisar· dos passos acima. Mas quando voceˆ olhar para um problema e na˜o souber o que fazer a seguir, lembre-se dos passos acima e use-os como guia. iv Conteu´do 1 F´ısica e Medida 1 1.1 Padro˜es de comprimento, massa e tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.1.1 Comprimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1.1.2 Massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.1.3 Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.1.4 Prefixos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2 Composic¸a˜o da mate´ria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.3 Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.4 Mol e nu´mero de Avogadro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.5 Ana´lise dimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.6 Conversa˜o de unidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.7 Ca´lculo de estimativas e ordens de magnitude . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.8 Algarismos significativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.9 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2 Movimento em uma dimensa˜o 14 2.1 Deslocamento, velocidade e rapidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2 Velocidade instantaˆnea e rapidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.3 Acelerac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.4 Movimento em uma dimensa˜o com acelerac¸a˜o constante . . . . . . . . . . . 22 2.5 Queda livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 i ii Conteu´do 2.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3 Movimento em duas dimenso˜es 31 3.1 Vetores deslocamento, velocidade e acelerac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3.2 Movimento bidimensional com acelerac¸a˜o constante . . . . . . . . . . . . . 35 3.3 Movimento de proje´til . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.3.1 Alcance horizontal e altura ma´xima de um proje´til . . . . . . . . . 41 3.4 Movimento Circular Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.5 Acelerac¸a˜o tangencial e radial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.6 Velocidade relativa e acelerac¸a˜o relativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 3.7 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 4 Leis do Movimento 56 4.1 O conceito de forc¸a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.2 Primeira Lei de Newton e referenciais inerciais . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.2.1 Referenciais inerciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 4.3 Revisitando o conceito de Massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 4.4 Segunda Lei de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 4.5 A forc¸a da gravidade e o peso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 4.6 Terceira Lei de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 4.7 Aplicac¸o˜es das Leis de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 4.8 Forc¸as de atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 4.9 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 5 Movimento Circular e as Leis de Newton 83 5.1 Movimento Circular Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 5.2 Movimento Circular Na˜o Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 5.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 ii Conteu´do iii 6 Trabalho e Energia Cine´tica 89 6.1 Trabalho feito por uma forc¸a constante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 6.2 Trabalho feito por uma forc¸a varia´vel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 6.2.1 Expressa˜o geral do trabalho de uma forc¸a varia´vel . . . . . . . . . . 95 6.3 Energia cine´tica e o teorema trabalho-energia cine´tica . . . . . . . . . . . . 97 6.3.1 Situac¸o˜es envolvendo o atrito cine´tico . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 6.4 Poteˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 6.5 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 7 Energia Potencial e Conservac¸a˜o de Energia 104 7.1 Energia potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 7.1.1 Energia potencial gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 7.1.2 Energia potencial ela´stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 7.2 Forc¸as conservativas e na˜o conservativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 7.3 Conservac¸a˜o de energia mecaˆnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 7.4 Trabalho feito por forc¸as na˜o conservativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 7.4.1 Trabalho feito por uma forc¸a aplicada . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 7.4.2 Situac¸o˜es envolvendo o atrito cine´tico . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 7.5 Energia pode ser perdida? Conservac¸a˜o da energia total . . . . . . . . . . . 113 7.6 Guia para resoluc¸a˜o de problemas de conservac¸a˜o de energia . . . . . . . . 114 7.7 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 8 Sistemas de Part´ıculas e Conservac¸a˜o do Momento Linear 120 8.1 Centro de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 8.2 Movimento do centro de massa de um sistema . . . . . . . . . . . . . . . . 124 8.3 Momento linear e sua conservac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 8.3.1 Centro de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 8.4 Coliso˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 iii iv Conteu´do 8.4.1 Colisa˜o ela´stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 8.4.2 Colisa˜o inela´stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 8.4.3 Coliso˜es em duas dimenso˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 8.5 Impulso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 8.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 9 Rotac¸a˜o de um Corpo Rı´gido ao Redor de um Eixo Fixo 139 9.1 Deslocamento, velocidade e acelerac¸a˜o angulares . . . . . . . . . . . . . . . 139 9.1.1 Direc¸a˜o de ~ω e ~α . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 9.2 Cinema´tica rotacional: movimento rotacional com acelerac¸a˜o angular cons- tante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 9.3 Relac¸a˜o entre as quantidades lineares e angulares . . . . . . . . . . . . . . 144 9.4 Energia rotacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 9.4.1 Ca´lculo de momentos de ine´rcia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 9.5 Torque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 9.5.1 Relac¸a˜o entre torque e acelerac¸a˜o angular . . . . . . . . . . . . . . 151 9.6 Trabalho, poteˆncia e energia no movimento rotacional . . . . . . . . . . . . 153 9.6.1 Trabalho e energia no movimento rotacional . . . . . . . . . . . . . 154 9.7 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 iv Cap´ıtulo 1 F´ısica e Medida 1.1 Padro˜es de comprimento, massa e tempo As leis da f´ısica sa˜o expressas em termos de quantidades ba´sicas que requerem uma de- finic¸a˜o clara. Em mecaˆnica, as treˆs quantidades ba´sicas sa˜o comprimento (L), massa (M) e tempo (T). Todas as outras quantidades em mecaˆnica sa˜o expressas em termos destas treˆs. Para que um experimento possa ser reproduzido em qualquer lugar, e´ necessa´rio que tenhamos um padra˜o de medida, ou seja, saber exatamente a que nos referimos quando dizemos, por exemplo, que um corpo tem massa de 75 kg. Em 1960, um comiteˆ internaci- onal estabeleceu um conjunto de padro˜es para comprimento, massa e outras quantidades. O sistema estabelecido e´ chamado de sistema SI (sistema internacional). Neste sistema, as unidades de comprimento, massa e tempo sa˜o, respectivamente, metro, quilograma e segundo. Outros padro˜es SI estabelecidos pelo comiteˆ sa˜o para temperatura (kelvin), corrente ele´trica (ampere), intensidade luminosa (candela) e quantidade de mate´ria (mol). 1.1.1 Comprimento O metro foi primeiramente definido na Franc¸a, em 1799, como sendo um de´cimo de mi- lione´simo da distaˆncia entre o equador e o Po´lo Norte, ao longo de uma linha longitudinal particular, que passa por Paris. Em 1960, o metro foi definido como sendo a distaˆncia en- 1 2 1.1. Padro˜es de comprimento, massa e tempo tre duas linhas numa barra de platina-ir´ıdio particular, que estava guardada sob condic¸o˜es controladas na Franc¸a. Este padra˜o foi abandonado por va´rias razo˜es, a principal sendo porque a precisa˜o limitada que a separac¸a˜o entre as duas linhas da barra pode ser de- terminada na˜o corresponde aos requerimentos atuais da cieˆncia e tecnologia. Nos anos 60 e 70, o metro foi definido enta˜o como sendo 1650763,73 comprimentos de onda da luz vermelho-alaranjada emitida por uma laˆmpada de criptoˆnio-86. Contudo, em 1983, o metro foi redefinido como a distaˆncia percorrida pela luz no va´cuo durante um tempo de 1/(299792458) segundos. Veja na tabela 1.1 valores aproximados de alguns comprimentos medidos. comprimento (em metros) Distaˆncia da Terra ao quasar conhecido mais remoto = 1, 4× 1026 Distaˆncia da Terra a gala´xias conhecidas mais remotas = 9× 1025 Distaˆncia da Terra a gala´xia mais pro´xima (Androˆmeda) = 2× 1022 Distaˆncia do Sol a` estrela mais pro´xima (Proxima Centauri) = 4× 1016 Um ano-luz = 9, 46× 1015 Raio me´dio da o´rbita da Terra ao redor do Sol = 1, 50× 1011 Distaˆncia me´dia da Terra ate´ a Lua = 3, 84× 108 Distaˆncia do Equador ate´ o Po´lo Norte = 1, 00× 107 Raio me´dio da Terra = 6, 37× 106 Altitude t´ıpica, acima da superf´ıcie, de um sate´lite orbitando a Terra = 2× 105 Comprimento de campo de futebol americano = 9, 1× 101 Comprimento de uma mosca dome´stica = 5× 10−3 Tamanho das menores part´ıculas de poeira ∼ 10−4 Tamanho das ce´lulas da maioria dos organismos vivos ∼ 10−5 Diaˆmetro de um a´tomo de hidrogeˆnio ∼ 10−10 Diaˆmetro de um nu´cleo atoˆmico ∼ 10−14 Diaˆmetro de um pro´ton ∼ 10−15 Tabela 1.1: Valores aproximados de alguns comprimentos medidos. 2 1.1. Padro˜es de comprimento, massa e tempo 3 1.1.2 Massa A unidade ba´sica de massa do SI, o quilograma, e´ definido como a massa de um cilindro espec´ıfico feito da liga platina-ir´ıdio mantido no Bureau Internacional de Pesos e Medidas em Se´vres, Franc¸a. Este padra˜o de massa foi estabelecido em 1887 e na˜o foi mudado desde enta˜o pois a liga platina-ir´ıdio e´ uma liga esta´vel. A tabela 1.2 lista valores aproximados de massas de va´rios objetos. Corpo Massa (em quilogramas) Universo vis´ıvel ∼ 1052 Via La´ctea (nossa gala´xia) = 7× 1041 Sol = 1, 99× 1030 Terra = 5, 98× 1024 Lua = 7, 36× 1022 Cavalo ∼ 103 Humano ∼ 102 Sapo ∼ 10−1 Mosquito ∼ 10−5 Bacte´ria ∼ 10−15 A´tomo de hidrogeˆnio = 1, 67× 10−27 Ele´tron = 9, 11× 10−31 Tabela 1.2: Massas de va´rios corpos (valores aproximados). 1.1.3 Tempo Antes de 1960, o padra˜o de tempo era definido em termos do dia solar me´dio para o ano de 1900. O segundo solar me´dio foi originalmente definido como ( 1 60 )( 1 60 )( 1 24 ) de um dia solar me´dio. Agora sabe-se que a rotac¸a˜o da Terra varia ligeiramente com o tempo, e portanto este movimento na˜o e´ bom para definir um padra˜o. Em 1967, consequentemente, o segundo foi redefinido por um relo´gio atoˆmico. No relo´gio atoˆmico, as frequeˆncias associadas a certas transic¸o˜es atoˆmicas podem ser medidas a uma precisa˜o de uma parte em 1012. Isto equivale a uma incerteza de menos de 1 3 4 1.1. Padro˜es de comprimento, massa e tempo segundo a cada 30.000 anos. Assim, em 1967 o segundo foi redefinido usando a frequeˆncia caracter´ıstica de um tipo particular de a´tomo de ce´sio como sendo o relo´gio padra˜o, ou seja, o segundo e´ definido como 9.192.631.770 vezes o per´ıodo de vibrac¸a˜o do a´tomo de ce´sio-133. Desde a descoberta de Einstein da conexa˜o entre espac¸o e tempo, medidas precisas de intervalos de tempo requerem que saibamos o estado de movimento do relo´gio usado para medir o intervalo e, em alguns casos, a localizac¸a˜o do relo´gio tambe´m. Sena˜o, por exemplo, sate´lites de sistema de posicionamento global podem na˜o ser capazes de apontar sua localizac¸a˜o com precisa˜o suficiente para resgata´-lo de uma emergeˆncia. A tabela 1.3 mostra valores aproximados de intervalos de tempo. Intervalo de tempo (em segundos) Idade do Universo 5× 1017 Idade da Terra = 1, 3× 1017 Idade me´dia de um estudante de faculdade = 6, 3× 108 Um ano = 3, 16× 107 Um dia (tempo para uma rotac¸a˜o da Terra ao redor de seu eixo) = 8, 64× 104 Tempo entre batidas de corac¸a˜o normais 8× 10−1 Per´ıodo de ondas sonoras aud´ıveis ∼ 10−3 Per´ıodo t´ıpico de ondas de ra´dio ∼ 10−6 Per´ıodo de vibrac¸a˜o de um a´tomo num so´lido ∼ 10−13 Per´ıodo das ondas de luz vis´ıveis ∼ 10−15 Durac¸a˜o de uma colisa˜o nuclear = ∼ 10−22 Tempo para a luz cruzar um pro´ton = ∼ 10−24 Tabela 1.3: Valores aproximados de alguns intervalos de tempo. 1.1.4 Prefixos Ale´m das unidades ba´sicas do SI metro, quilograma e segundo, podemos tambe´m usar outras unidades, como mil´ımetros e nanossegundos, onde os prefixos mili- e nano- denotam 4 1.2. Composic¸a˜o da mate´ria 5 va´rias poteˆncias de dez. A tabela 1.4 traz os prefixos mais comumente usados. Poteˆncia Prefixo Abreviac¸a˜o 10−24 yocto y 10−21 zepto z 10−18 atto a 10−15 femto f 10−12 pico p 10−9 nano n 10−6 micro µ 10−3 mili m 10−2 centi c 10−1 deci d 101 deca da 103 quilo k 106 mega M 109 giga G 1012 tera T 1015 peta P 1018 exa E 1021 zeta Z 1024 yota Y Tabela 1.4: Prefixos mais usados. 1.2 Composic¸a˜o da mate´ria Do que e´ feita a mate´ria - por exemplo, um anel de ouro ou no´s mesmos? Se pegarmos o anel de ouro e formos cortando-o em pedac¸os cada vez menores, chegaremos ao que chamamos de a´tomo, que ate´ o comec¸o do se´culo 20 acreditava-se ser a menor quantidade de mate´ria poss´ıvel. No entanto, o pro´prio a´tomo e´ composto por duas partes - part´ıculas chamadas ele´trons e o nu´cleo. Por sua vez, o pro´prio nu´cleo pode ser composto∗ por ∗Nem todo nu´cleo conte´m neˆutrons, mas todos conte´m pro´tons. Exemplo e´ o a´tomo de hidrogeˆnio, que conte´m um pro´ton e nenhum neˆutron. 5 6 1.3. Densidade outras duas part´ıculas - pro´tons e neˆutrons. Essas part´ıculas, por sua vez, sa˜o compostas por part´ıculas menores chamadas quarks, que se apresentam em seis tipos: up, down, charm, strange, bottom e top. O ele´tron, por exemplo, na˜o seria composto por quarks, mas seria ele mesmo a menor divisa˜o poss´ıvel. Ha´ outras part´ıculas como o ele´tron (os pro´prios quarks, neutrinos, etc.) e outras como o pro´ton e o neˆutron, que sa˜o constitu´ıdas de quarks. No entanto, muitos cientistas acreditam que ainda na˜o conhecemos o menor consti- tuinte da mate´ria. Uma das teorias mais conhecidas, que justamente diz que a mate´ria tem ainda mais diviso˜es, e´ a teoria de cordas. No caso da teoria de cordas, todas as part´ıculas que citamos anteriormente seriam, na verdade, cordas muito pequenas que na˜o poderiam ser vistas pelos melhores microsco´picos que possu´ımos hoje em dia (na˜o conseguiriam ser vistas pelo LHC, por exemplo!). Todas as cordas sa˜o iguais, mas dependendo da maneira como elas vibram, elas representam uma part´ıcula diferente - um ele´tron, ou um quark, ou um fo´ton (part´ıculas de luz), por exemplo. Esta teoria na˜o foi provada e nem verificada em laborato´rio ainda, visto que atualmente na˜o possu´ımos meios tecnolo´gicos para tal. 1.3 Densidade Uma propriedade de qualquer substaˆncia e´ sua densidade ρ, definida como a quantidade de massa contida numa unidade de volume, ou seja, massa por unidade de volume: ρ = m V (1.1) Por exemplo, o alumı´nio tem uma densidade de 2,70 g/cm3, e o chumbo tem densidade de 11,3 g/cm3. Portanto, um pedac¸o de alumı´nio de volume 10,0 cm3 tem uma massa de 27,0 g, enquanto que o volume equivalente de chumbo tem uma massa de 113 g. A tabela 1.5 mostra densidades de va´rias substaˆncias. 6 1.4. Mol e nu´mero de Avogadro 7 Substaˆncia Densidade ρ (em kg/m3) Ouro = 19, 3× 103 Uraˆnio = 18, 7× 103 Chumbo = 11, 3× 103 Cobre = 8, 92× 103 Ferro = 7, 86× 103 Alumı´nio = 2, 70× 103 Magne´sio = 1, 75× 103 A´gua = 1, 00× 103 Ar = 0, 0012× 103 Tabela 1.5: Densidades de va´rias substaˆncias. 1.4 Mol e nu´mero de Avogadro Um mol de uma substaˆncia e´ a quantidade daquela substaˆncia que conte´m tantas part´ıculas (a´tomos, mole´culas ou outras part´ıculas) quanto existem a´tomos em 12 g de carbono-12. Um mol de uma substaˆncia A conte´m o mesmo nu´mero de part´ıculas que existem em um mol de qualquer outra substaˆncia B. Por exemplo, um mol de alumı´nio conte´m o mesmo nu´mero de a´tomos que um mol de chumbo. Experimentos mostraram que este nu´mero, conhecido como nu´mero de Avogadro (NA) e´ NA = 6, 022137× 1023 part´ıculas/mol (1.2) O nu´mero de Avogadro e´ definido tal que 1 mol de a´tomos de carbono-12 tem uma massa de exatamente 12 g. Em geral, a massa em 1 mol de qualquer elemento e´ a massa atoˆmica do elemento expressa em gramas. 1.5 Ana´lise dimensional A palavra dimensa˜o tem uma significado especial em f´ısica; geralmente denota a natureza f´ısica da quantidade. Na˜o importa se a distaˆncia e´ medida na unidade de comprimento 7 8 1.5. Ana´lise dimensional milhas ou em metros, ainda assim e´ uma distaˆncia. Dizemos que a dimensa˜o, ou seja, a natureza f´ısica da distaˆncia, e´ comprimento. Usamos os s´ımbolos L, M e T para especificar comprimento, massa e tempo, respecti- vamente. Usamos colchetes [ ] para denotar as dimenso˜es de uma quantidade f´ısica. Por exemplo, usamos v para denotar velocidade, e em nossa notac¸a˜o as dimenso˜es de veloci- dade sa˜o escritas como [v] = L/T . Veja na tabela 1.6 dimenso˜es de algumas quantidades. Quantidade Dimensa˜o Unidade (SI) A´rea L2 m2 Volume L3 m3 Velocidade L/T m/s Acelerac¸a˜o L/T 2 m/s2 Tabela 1.6: Dimensa˜o e unidades no SI de algumas quantidades. Na resoluc¸a˜o de problemas em f´ısica, ha´ um procedimento u´til e poderoso chamado ana´lise dimensional. Ana´lise dimensional faz uso do fato que dimenso˜es podem ser trata- das como quantidades alge´bricas. Isto e´, quantidades podem ser adicionadas ou subtra´ıdas se elas teˆm as mesmas dimenso˜es. Ale´m disso, os termos dos dois lados de uma equac¸a˜o devem ter as mesmas dimenso˜es. Seguindo estas regras simples, voceˆ pode usar ana´lise dimensional para ajudar a determinar se uma expressa˜o esta´ na sua forma correta. Exemplo: digamos que queremos derivar uma fo´rmula para a distaˆncia x percorrida por um carro num tempo t se o carro inicia do repouso e se move com acelerac¸a˜o constante a. Mais adiante, veremos que a expressa˜o correta e´ x = 1 2 at2 (1.3) Vamos usar ana´lise dimensional para checar a validade da expressa˜o. A quantidade x do lado esquerdo da equac¸a˜o tem dimensa˜o de comprimento e, portanto, para a equac¸a˜o ser dimensionalmente correta, a quantidade do lado direito tambe´m tem que ter dimensa˜o de comprimento. Substituindo as dimenso˜es para acelerac¸a˜o e tempo na fo´rmula, ou seja 8 1.5. Ana´lise dimensional 9 L/T 2 para acelerac¸a˜o e T para o tempo, temos: [x] = L = [at2] = [a][t]2 = L T 2 T 2 = L (1.4) Veja que, na ana´lise dimensional da expressa˜o (1.3), o fator de 1/2 na˜o entra pois na˜o tem dimensa˜o - fatores nume´ricos em equac¸o˜es alge´bricas sa˜o adimensionais! Um procedimento mais geral usando ana´lise dimensional e´ construir uma expressa˜o da forma x ∝ antm (1.5) onde n e m sa˜o expoentes a serem determinados e o s´ımbolo ∝ indica a proporcionalidade. Esta relac¸a˜o e´ correta apenas se as dimenso˜es de ambos os lados sa˜o as mesmas. Como a dimensa˜o do lado esquerdo e´ comprimento, do lado direito deve ser tambe´m. Assim, [antm] = L = L1T 0 (1.6) Substituindo as dimenso˜es da acelerac¸a˜o e do tempo, ( L T 2 )n Tm = L1T 0 LnTm−2n = L1T 0 (1.7) Da equac¸a˜o acima, fica claro que, para as dimenso˜es dos dois lados sejam iguais, n = 1 e m−2n = 0→ m−2×1 = 0→ m = 2 (iguale os expoentes de ambos os lados!). Olhando para expressa˜o que t´ınhamos anteriormente em (1.3), vemos que falta um fator de 1/2 para que as expresso˜es sejam iguais. No entanto, fatores nume´ricos, que sa˜o quantidade adimensionais, na˜o podem ser determinados por ana´lise dimensional, por isso usamos o s´ımbolo ∝, que neste caso quer dizer “e´ igual a` expressa˜o a menos de fatores nume´ricos”. 9 10 1.6. Conversa˜o de unidades 1.6 Conversa˜o de unidades A`s vezes e´ necessa´rio converter unidades de um sistema para outro. Alguns fatores de conversa˜o de unidades de comprimento: 1 mi = 1609m = 1, 609 km; 1 ft = 0, 3048m = 30, 48 cm 1m = 39, 37 in = 3, 281 ft; 1 in = 0, 0254m = 2, 54 cm (exatamente) (1.8) sendo que mi = milhas, ft = pe´s, in = polegada. As unidades podem ser tratadas como quantidades alge´bricas que podem se cancelar. Por exemplo, suponha que queiramos converter 15,0 in para cent´ımetros. Da expressa˜o acima, temos 15, 0 in = 15, 0 in× 1 = 15, 0 in× 2, 54 cm 1 in = 38, 1 cm (1.9) Veja que o nu´mero 1, que multiplica a expressa˜o, foi substitu´ıdo por ( 2, 54 cm 1 in ) , pois 1 in = 2, 54 cm. 1.7 Ca´lculo de estimativas e ordens de magnitude Com frequeˆncia e´ u´til calcular uma resposta aproximada para um problema f´ısico mesmo que pouca informac¸a˜o seja dada. Aproximac¸o˜es sa˜o geralmente baseadas em hipo´teses. Assim, vamos nos referir a`s vezes a` ordem de magnitude de uma certa quantidade como a poteˆncia de 10 do nu´mero que descreve a quantidade. Por exemplo, se uma quantidade e´ dada por 3× 103, enta˜o sua ordem de magnitude e´ 103, ou seja, 3× 103 ∼ 103. De forma ana´loga, 8× 107 ∼ 108 (note que aproximamos 8 de 10!). 10 1.8. Algarismos significativos 11 1.8 Algarismos significativos Quando quantidades f´ısicas sa˜o medidas, os valores de medida sa˜o conhecidos apenas dentro dos limites da incerteza experimental. O valor desta incerteza pode depender de va´rios fatores, tais como a qualidade do aparato, a habilidade do experimentador e o nu´mero de medidas realizadas. Suponha que queremos medir a a´rea de uma etiqueta usando uma fita me´trica. Vamos assumir que a precisa˜o que temos para medir com esta fita me´trica seja de ±0, 1 cm. Se o comprimento da etiqueta e´ medido como 5,5 cm, podemos declarar apenas que seu comprimento esta´ em 5,4 cm e 5,6 cm. Neste caso dizemos que o valor medido tem dois algarismos significativos. Da mesma forma, se a largura da etiqueta e´ medida como 6,4 cm, o valor real esta´ entre 6,3 cm e 6,5 cm. Note que os algarismos significativos incluem o primeiro d´ıgito estimado, e assim podemos escrever as medidas acima como (5,5 ± 0,1) cm e (6,4 ± 0,1) cm. Agora queremos achar a a´rea da etiqueta multiplicando os dois valores medidos. Se declara´ssemos que a a´rea e´ de (5,5 cm) × (6,4 cm) = 35,2 cm2, nossa resposta na˜o seria justifica´vel pois ela conte´m treˆs algarismos significativos, que e´ mais do que o nu´mero de algarismos significativos de cada uma das medidas. A regra para ser usada nos casos em que precisamos determinar o nu´mero de algarismos significativos e´ a seguinte: Quando se multiplica va´rias quantidades, o nu´mero de algarismos significativos na resposta final e´ o mesmo que o nu´mero de algarismos significativos da medida menos precisa das quantidades sendo multiplicadas, onde menos precisa significa tendo o menor nu´mero de algarismos significativos. A mesma regra se aplica a` divisa˜o. Portanto, aplicando essa regra para nosso exemplo anterior, a resposta correta da a´rea e´ de 35 cm2, compreendendo que o valor varia entre (5,4 cm) × (6,3 cm) = 34 cm2 e (5,6 cm) × (6,5 cm) = 36 cm2. 11 12 1.9. Exerc´Icios Zeros podem ser ou na˜o algarismos significativos. Os zeros a` esquerda na˜o o sa˜o, como em 0,03 (que tem 1 algarismo significativo) e em 0,0075 (que tem dois algarismos signifi- cativos). Quando os zeros vem apo´s outros d´ıgitos, contudo, pode haver ma´ interpretac¸a˜o, como em 1500, pois na˜o sabemos se os zeros esta˜o ali para indicar o ponto decimal ou se sa˜o de fato algarismos significativos. Aı´ usamos a notac¸a˜o cient´ıfica para eliminar esta ambiguidade, escrevendo, por exemplo, 1, 5 × 103 (se sa˜o dois algarismos significativos), ou 1, 50 × 103 (se sa˜o treˆs algarismos significativos) ou ainda 1, 500 × 103 (se sa˜o quatro algarismos significativos). O mesmo vale quando o nu´mero e´ menor que 1, de tal forma que 2, 3 × 10−4 tem dois algarismos significativos (e pode ser escrito como 0,00023) e 2, 30× 10−4 tem treˆs algarismos significativos (e pode ser escrito como 0,000230). Para adic¸a˜o e subtrac¸a˜o, voceˆ deve considerar o nu´mero de casas decimais quando for determinar quantos algarismos significativos descrever. Quando nu´meros sa˜o adicionados ou subtra´ıdos, o nu´mero de casas decimais deve ser igual ao menor nu´mero de casas decimais de qualquer termo na soma. Exemplo: se queremos calcular 123 + 5,35, a resposta correta dados os algarismos sig- nificativos e´ 128 e na˜o 128,35. Se calcularmos 1,0001 + 0,0003 = 1,0004, o resultado tem cinco algarismos significativos, mesmo que 0,0003 tenha apenas um algarismo signi- ficativo. Da mesma forma, 1,002 - 0,998 = 0,004 tem apenas um algarismo significativo, apesar dos termos envolvidos na subtrac¸a˜o terem mais algarismos significativos. 1.9 Exerc´ıcios 1) Um cubo so´lido de alumı´nio (densidade 2,7 g/cm3) tem um volume de 0,20 cm3. Quantos a´tomos de alumı´nio esta˜o contidos no cubo? 2) Mostre que a expressa˜o v = at e´ correta dimensionalmente, onde v e´ a velocidade, a a acelerac¸a˜o e t o intervalo de tempo. 12 1.9. Exerc´Icios 13 3) Suponha que saibamos que a acelerac¸a˜o a de uma part´ıcula se movendo com velocidade uniforme v num c´ırculo de raio r e´ proporcional a alguma poteˆncia de r, digamos rn, e alguma poteˆncia de v, digamos vm. Como podemos determinar os valores de n e m? 4) A massa de um cubo so´lido e´ 856 g, e cada lado tem um comprimento de 5,35 cm. Determine a densidade ρ do cubo nas unidades SI. 5) Estime o nu´mero de foˆlegos tomados durante um tempo de vida me´dio. 6) Estime o nu´mero de galo˜es de gasolina usados a cada ano por todos os carros nos Estados Unidos. 7) Uma chapa retangular tem um comprimento de (21,3 ± 0,2) cm e uma largura de (9,80 ± 0,1) cm. Encontre a a´rea da placa e a incerteza na a´rea calculada. 8) Um carpete deve ser colocado num coˆmodo cujo comprimento e´ 12,71 m e cuja largura e´ de 3,46 m. Encontre a a´rea do coˆmodo. 13 Cap´ıtulo 2 Movimento em uma dimensa˜o Neste cap´ıtulo, trataremos do movimento em uma dimensa˜o, uma parte da f´ısica chamada de cinema´tica. Na cinema´tica, pensamos no movimento em si e na˜o no que o causou. De- finiremos deslocamento, velocidade e acelerac¸a˜o e, por fim, consideraremos o movimento de um objeto se movendo em uma dimensa˜o com acelerac¸a˜o constante. Da experieˆncia do dia-a-dia, reconhecemos que o movimento e´ uma mudanc¸a cont´ınua da posic¸a˜o de um objeto. Na f´ısica, nos preocupamos com treˆs tipos de movimento: translacional, rotacional e vibracional. Um carro se movendo numa estrada e´ um exemplo de movimento translacional; a Terra girando ao redor de seu eixo, por sua vez, representa um movimento rotacional; ja´ o movimento de um peˆndulo (o vai-e-vem) e´ um exemplo de movimento vibracional. No nosso curso de F´ısica 1, veremos movimento translacional e rotacional; o movimento vibracional e´ assunto do curso de F´ısica 2. No nosso estudo do movimento, descrevemos o objeto que se move como uma part´ıcula, independente do seu tamanho. Em geral, uma part´ıcula e´ uma massa pontual que tem tamanho infinitesimal. 2.1 Deslocamento, velocidade e rapidez Em mecaˆnica cla´ssica, o movimento de uma part´ıcula e´ completamente conhecido se a posic¸a˜o da part´ıcula no espac¸o e´ conhecido para todos os instantes de tempo. Vamos 14 2.1. Deslocamento, velocidade e rapidez 15 considerar o movimento do carro ao longo do eixo x da figura 2.1a, ou seja, anotar a posic¸a˜o do carro em va´rios instantes de tempo. Quando comec¸amos a coletar estes dados, o carro esta´ na posic¸a˜o 30 m a` direita da placa da estrada, que sera´ nosso ”ponto de partida”, ou seja, o ponto que marcamos posic¸a˜o 0 m. Acionamos nosso relo´gio e, a cada 10 s, anotamos a posic¸a˜o do carro relativa a` placa da estrada. Os resultados podem ser vistos na tabela 2.1. A mesma informac¸a˜o pode ser vista no gra´fico da figura 2.1b, que e´ um gra´fico posic¸a˜o × tempo. Posic¸a˜o t(s) x(m) A 0 30 B 10 52 C 20 38 D 30 0 E 40 -37 F 50 -53 Tabela 2.1: Posic¸a˜o do carro em va´rios instantes de tempo. Da tabela 2.1, podemos perceber que o carro se move para a direita da placa nos primeiros 10 segundos, ou seja, quando o carro vai da posic¸a˜o A para a posic¸a˜o B ; apo´s isso, ou seja, da posic¸a˜o B ate´ a posic¸a˜o F , os valores da posic¸a˜o comec¸am a diminuir (e ate´ ficam negativos!), indicando que ele esta´ indo para a esquerda da placa. Se uma part´ıcula esta´ se movendo, podemos facilmente determinar sua mudanc¸a em posic¸a˜o. O deslocamento de uma part´ıcula e´ definido como sua mudanc¸a em posic¸a˜o. A` medida que se move de uma posic¸a˜o inicial xi para uma posic¸a˜o final xf , seu deslocamento e´ dado por xf − xi. Em geral, usamos a letra grega delta (∆) para denotar mudanc¸a em uma quantidade. Portanto, o deslocamento e´ definido como ∆x ≡ xf − xi (2.1) A partir desta definic¸a˜o, podemos ver que ∆x pode ser positivo ou negativo. Sera´ 15 16 2.1. Deslocamento, velocidade e rapidez Figura 2.1: (a) Um carro se move para frente e para tra´s numa linha reta que tomamos como sendo o eixo x. Porque estamos interessados apenas no movimento translacional do carro, podemos trata´-lo como uma part´ıcula. (b) Gra´fico posic¸a˜o × tempo para o movimento da “part´ıcula”. 16 2.1. Deslocamento, velocidade e rapidez 17 positivo se xf > xi (caso em que o carro vai do ponto A ate´ o ponto B ) e negativo se xf < xi (caso em que o carro vai do ponto B ate´ o ponto F ). Precisamos estabelecer corretamente a diferenc¸a entre deslocamento e distaˆncia percorrida. Por exemplo, num maratona o ponto de partida coincide com o ponto de chegada; portanto, o deslocamento de um corredor numa maratona e´ zero. No entanto, a distaˆncia que ele percorreu na˜o e´ zero - corresponde ao trajeto percorrido, que no caso da Sa˜o Silvestre, sa˜o 15 km. Deslocamento e´ uma quantidade vetorial, que precisa ser especificada quanto a` mag- nitude, direc¸a˜o e sentido. Ja´ a distaˆncia percorrida e´ uma quantidade escalar, que e´ completamente definida pela sua magnitude (na˜o existe distaˆncia negativa!). Como neste cap´ıtulo estamos trabalhando em uma dimensa˜o, vamos trabalhar com sinais para indicar o sentido do deslocamento ao inve´s de usar vetores (+∆x esta´ indo para a direita; −∆x para a esquerda). Quando formos trabalhar em duas ou treˆs dimenso˜es, a´ı sera´ necessa´rio o uso de vetores. Uma pequena explanac¸a˜o sobre vetores sera´ dada no pro´ximo cap´ıtulo, mas este assunto e´ mate´ria da disciplina de Geometria Anal´ıtica. Tambe´m devemos mencionar que o gra´fico da figura 2.1 na˜o mostra apenas os seis pontos que coletamos e colocamos na tabela 2.1; ele apresenta todo o intervalo de tempo (os 50 s), que e´ representado por uma curva suave. Fica mais fa´cil ver as mudanc¸as de posic¸a˜o no gra´fico do que descrever todo o movimento por palavras. Do gra´fico podemos tirar, por exemplo, outras informac¸o˜es relevantes, como em que intervalo de tempo o carro andou mais, ou menos. Esta informac¸a˜o costuma ser medida atrave´s do que chamamos de velocidade me´dia: v¯x = ∆x ∆t (2.2) A velocidade me´dia nada mais e´ do que a raza˜o entre o deslocamento da part´ıcula e o intervalo de tempo em que ele ocorreu; portanto, tem dimensa˜o de (L/T), e no sistema SI tem unidade de metros por segundo (m/s). O subscrito na fo´rmula acima se refere em 17 18 2.2. Velocidade instantaˆnea e rapidez que direc¸a˜o e´ o movimento - no caso, do eixo x. Assim como o deslocamento, a velocidade me´dia e´ uma quantidade vetorial, que tem a mesma direc¸a˜o e sentido do deslocamento. Assim, quando ∆x > 0, v¯x > 0 e o carro esta´ indo na direc¸a˜o positiva do eixo x; ja´ quando ∆x < 0, v¯x < 0 e o carro esta´ indo na direc¸a˜o negativa do eixo x. No gra´fico, interpretamos a velocidade me´dia como a inclinac¸a˜o da linha formada ligando os pontos A e B , pois inclinac¸a˜o da reta AB = cateto oposto cateto adjacente = ∆x ∆t (2.3) Nota: lembre-se de triaˆngulo retaˆngulo, senos, cossenos, tangentes... Assim como com deslocamento e distaˆncia percorrida, ha´ uma diferenc¸a entre o que chamamos de velocidade me´dia e rapidez. Vamos voltar ao exemplo da maratona em que o ponto de partida e chegada sa˜o os mesmos. Assim, ∆x = 0, e consequentemente v¯x = 0. No entanto, sabemos que os corredores na˜o ficaram parados, e gostar´ıamos de saber o qua˜o ra´pido correram. A rapidez me´dia, que e´ uma quantidade escalar, e´ que mede o qua˜o ra´pido eles correram, e e´ definida como rapidez me´dia = distaˆncia percorrida tempo total (2.4) 2.2 Velocidade instantaˆnea e rapidez Muitas vezes precisamos saber a velocidade num instante particular do tempo, e na˜o num intervalo de tempo (pense no policial, que acabou de parar seu carro na estrada - voceˆ precisa ter certeza de que estava com uma velocidade dentro do limite de velocidades per- mitido!). Esta e´ uma questa˜o na˜o muito o´bvia de ser resolvida, pois neste caso estar´ıamos pensando na velocidade num instante de tempo (intervalo de tempo = zero), num ponto espec´ıfico do espac¸o (deslocamento = zero). Como definir esta velocidade? Se lembrarmos das aulas de ca´lculo, ja´ saberemos a resposta: derivadas. Caso o 18 2.2. Velocidade instantaˆnea e rapidez 19 Figura 2.2: (a) Gra´fico representando o movimento do carro da Figura 2.1. (b) Um aumento do lado superior esquerdo do gra´fico mostra como a linha azul entre as posic¸o˜es A e B se aproxima da linha tangente verde a` medida que o ponto B fica mais perto do ponto A. professor de Ca´lculo 1 na˜o tenha abordado o tema (mas calma, ele abordara´!), enta˜o vamos olhar para a figura 2.2. Sabemos pela sec¸a˜o anterior que a inclinac¸a˜o da reta que passa pelos pontos A e B e´ a velocidade me´dia naquele intervalo de tempo do carro que saiu de A e chegou em B . Mas e se quisermos saber a velocidade que o carro estava em A ? Bom, vemos que, se fizermos a distaˆncia entre A e B ser pequena, ou seja, se fizermos o ponto B se aproximar de A o ma´ximo poss´ıvel, teremos um valor bem pro´ximo do real para a velocidade em A . Mas fazer B se aproximar de A e´ fazer ∆t tender a zero, ou seja, fazer o intervalo de tempo bem pequeno, ta˜o pequeno quanto se queira. E o que acontece com a reta que passa entre os pontos A e B ? Ela se aproxima da posic¸a˜o da reta tangente no ponto A , certo? Portanto, lembrando novamente das aulas de ca´lculo, mais especificamente da interpretac¸a˜o geome´trica da derivada, sabemos que a derivada num ponto espec´ıfico da curva de uma func¸a˜o e´ a inclinac¸a˜o da reta tangente aquele ponto da curva da func¸a˜o. Assim, colocando matematicamente tudo isso em palavras, temos que a velocidade instantaˆnea e´ definida como 19 20 2.3. Acelerac¸a˜o vx = lim ∆t→0 ∆x ∆t = dx dt (2.5) Assim como o deslocamento, a velocidade instantaˆnea e´ uma grandeza vetorial que, por- tanto, em uma dimensa˜o, pode ser positiva, negativa ou zero. Geometricamente, podemos perceber que a velocidade instantaˆnea entre os pontos A e B e´ positiva (pois a inclinac¸a˜o da reta tangente e´ positiva) e, apo´s o ponto B , ela se torna negativa (inclinac¸a˜o da reta tangente e´ negativa). Ja´ a rapidez instantaˆnea de uma part´ıcula e´ definida como a magnitude da sua veloci- dade instantaˆnea (que, a partir de agora, so´ chamaremos de velocidade). E´ uma grandeza escalar e, portanto, na˜o precisa de direc¸a˜o e sentido para ser definida, e e´ sempre positiva. 2.3 Acelerac¸a˜o Nos exemplos da sec¸a˜o anterior, a velocidade dos objetos mudavam a` medida que esses se moviam. Esta e´ uma situac¸a˜o bastante comum - so´ lembrar do trajeto de oˆnibus ate´ a universidade, em que o mesmo pode estar com uma velocidade em alguns trechos, outra em outros e por va´rias vezes (nos pontos de oˆnibus) tem velocidade zero. Podemos quantificar o quanto muda a velocidade em relac¸a˜o ao tempo assim como fizemos com o deslocamento. Suponha que uma part´ıcula se movendo ao longo do eixo x tem velocidade vxi no tempo ti e velocidade vxf no tempo tf , como na figura 2.3. A acelerac¸a˜o me´dia da part´ıcula e´ definida como a mudanc¸a na velocidade ∆vx dividida pelo intervalo de tempo ∆t durante o qual a mudanc¸a ocorreu: a¯x = ∆vx ∆t = vxf − vxi tf − ti (2.6) Assim como a velocidade e o deslocamento, a acelerac¸a˜o e´ uma grandeza vetorial e, em uma dimensa˜o, ela pode ter sinal positivo ou negativo, que indicara´ o sentido da acelerac¸a˜o. 20 2.3. Acelerac¸a˜o 21 Figura 2.3: (a) Uma “part´ıcula” se movendo ao longo do eixo x do ponto A ao ponto B tem velocidade vxi em t = ti e velocidade vxf em t = tf . (b) Gra´fico velocidade × tempo para a part´ıcula se movendo numa linha reta. A inclinac¸a˜o da linha reta azul conectando os pontos A e B e´ a acelerac¸a˜o me´dia no intervalo de tempo ∆t = tf − ti. Tem dimensa˜o de L/T 2, e no SI a unidade usada e´ m/s2. Em muitas situac¸o˜es, o valor da acelerac¸a˜o pode variar ponto a ponto, e podemos que- rer saber a acelerac¸a˜o instantaˆnea num certo instante de tempo. Olhando para o gra´fico da figura 2.3 e fazendo procedimento ana´logo ao que fizemos para definir a velocidade, temos que ax = lim ∆t→0 ∆vx ∆t = dvx dt = d dt ( dx dt ) = d2x dt2 (2.7) ou seja, a acelerac¸a˜o instantaˆnea (que passaremos a chamar apenas de acelerac¸a˜o) e´ a in- clinac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico velocidade × tempo num instante de tempo espec´ıfico. E mais uma vez lembrando do ca´lculo, isso significa que a acelerac¸a˜o e´ a derivada pri- meira da velocidade pelo tempo, e como a pro´pria velocidade e´ a derivada primeira do deslocamento pelo tempo, enta˜o segue que ela e´ a derivada segunda do deslocamento pelo tempo. 21 22 2.4. Movimento em uma dimensa˜o com acelerac¸a˜o constante 2.4 Movimento em uma dimensa˜o com acelerac¸a˜o cons- tante Um exemplo de movimento acelerado comum e relativamente fa´cil de analisar e´ o movi- mento com acelerac¸a˜o constante. Neste caso, a acelerac¸a˜o e a acelerac¸a˜o me´dia sa˜o iguais, independente do intervalo de tempo que estamos considerando. E´ fa´cil de ver isso nos gra´ficos da figura 2.4, tanto no de velocidade × tempo (onde a reta tangente e a curva sa˜o coincidentes), quanto no de acelerac¸a˜o × tempo (o valor da func¸a˜o acelerac¸a˜o na˜o muda com a passagem do tempo). Figura 2.4: Um objeto se movendo ao longo do eixo x com acelerac¸a˜o constante ax. (a) Gra´fico velocidade × tempo. (b) Gra´fico acelerac¸a˜o × tempo. (c) Gra´fico posic¸a˜o × tempo. Na equac¸a˜o (2.6), substituindo a¯x por ax, ti = 0 e tf = t, temos a¯x = ax = vxf − vxi t axt = vxf − vxi vxf = vxi + axt (para ax constante) (2.8) Esta expressa˜o nos permite encontrar a velocidade de um objeto em qualquer instante de tempo se soubermos sua acelerac¸a˜o constante e sua velocidade inicial. 22 2.4. Movimento em uma dimensa˜o com acelerac¸a˜o constante 23 Como a velocidade varia linearmente com o tempo de acordo com a equac¸a˜o (2.8) (e podemos ver isso tambe´m pelo gra´fico da figura 2.4), podemos escrever a velocidade me´dia em qualquer intervalo de tempo como uma me´dia aritme´tica entre as velocidades final e inicial: v¯x = vxi + vxf 2 (2.9) Lembramos que a expressa˜o acima so´ pode ser escrita para o caso de acelerac¸a˜o constante! Agora, usando as equac¸o˜es (2.1), (2.2) e (2.9), e novamente ti = 0 e tf = t, temos v¯x = ∆x ∆t = xf − xi tf − ti = xf − xi t = vxi + vxf 2 xf − xi = v¯xt = 1 2 (vxi + vxf )t (multiplicou-se por t a expressa˜o acima) (2.10) Agora, substituindo a equac¸a˜o (2.8) na equac¸a˜o acima, temos xf − xi = 1 2 (vxi + vxi + axt)t = vxit+ 1 2 axt 2 (2.11) Com esta u´ltima expressa˜o, podemos analisar os gra´ficos (2.4). Primeiro, sabemos que a acelerac¸a˜o e´ uma func¸a˜o constante no tempo, isso e´, seu valor na˜o depende do instante em que esta´ sendo calculada - e´ sempre o mesmo. Portanto, o gra´fico acelerac¸a˜o × tempo e´ uma reta paralela ao eixo x, indicando que a func¸a˜o ax tem sempre o mesmo valor, na˜o importando que instante de tempo estamos considerando-a. Ja´ a velocidade final e´ uma func¸a˜o linear no tempo, como vemos por (2.8, e comparando esta equac¸a˜o com uma func¸a˜o linear (y(x) = bx + c, b e c constantes). O gra´fico velocidade × tempo e´ uma reta com inclinac¸a˜o b = ax, ou seja, a acelerac¸a˜o. E, finalmente, vemos de (2.11) que o deslocamento e´ uma func¸a˜o quadra´tica no tempo (do tipo y(x) = dx2 + ex + f , d, e e f sendo constantes). Portanto, seu gra´fico tem que ser uma para´bola, pois esta e´ a curva de uma func¸a˜o quadra´tica!!! 23 24 2.5. Queda livre Por fim, isolando t em (2.8), t = vxf − vxi ax (2.12) e substituindo em (3.18), temos xf − xi = v¯xt = 1 2 (vxi + vxf ) ( vxf − vxi ax ) xf − xi = v2xf − v2xi 2ax 2ax(xf − xi) = v2xf − v2xi v2xf = v 2 xi + 2ax(xf − xi) (2.13) As equac¸o˜es (2.8), (3.18), (2.11) e (2.13) sa˜o expresso˜es cine´ticas que podem ser usadas em qualquer problema que envolva movimento unidimensional com acelerac¸a˜o constante. Qual usar em cada problema dependera´ dos dados que o problema fornece e o que ele pede para ser calculado. Algumas vezes, podera´ ser usada mais de uma destas equac¸o˜es para resolver problemas. Observe no entanto que se ax = 0 (movimento sem acelerac¸a˜o), as equac¸o˜es (2.8) e (2.11) se reduzem a vxf = vxi = vx (velocidade constante) (2.14) xf − xi = vxt (2.15) 2.5 Queda livre Sabe-se que, perto da superf´ıcie da Terra e na auseˆncia de resisteˆncia do ar, todos os objetos, independente de sua massa, caem com a mesma acelerac¸a˜o sob a influeˆncia da gravidade da Terra. Voceˆ pode constatar este fato fazendo o seguinte experimento: deixe cair simultaneamente uma moeda e um pedac¸o de papel amassado, os dois a` mesma altura. 24 2.5. Queda livre 25 Se os efeitos da resisteˆncia do ar podem ser desprezados, os dois objetos atingira˜o o cha˜o ao mesmo tempo. De fato, em 2 de agosto de 1971, o astronauta David Scott fez esta experieˆncia na Lua, onde sabemos que na˜o ha´ atmosfera (portanto, na˜o ha´ resisteˆncia do ar). Ele soltou da mesma altura um martelo e uma pena, e os dois atingiram o solo lunar ao mesmo tempo∗. Figura 2.5: Astronauta David Scott solta um martelo e uma pena simultaneamente, e eles caem juntos na superf´ıcie lunar. Quando usamos a expressa˜o objeto em queda livre na˜o necessariamente nos referimos a um objeto que foi largado a partir do repouso. Um objeto em queda livre e´ qualquer objeto que se move livremente apenas sob a influeˆncia da gravidade, indepen- dente de seu movimento inicial. Objetos jogados para cima ou para baixo e aqueles largados a partir do repouso, todos eles caem livremente uma vez que forem largados. Qualquer objeto em queda livre experimenta uma acelerac¸a˜o direcionada para baixo (isto e´, na direc¸a˜o do centro da Terra), independente de seu movimento inicial. Vamos denotar a magnitude da acelerac¸a˜o de queda livre por g. O valor de g perto ∗A primeira pessoa que afirmou este fato foi Galileu Galilei, se´culos antes de se fazer esta experieˆncia na Lua. 25 26 2.6. Exerc´Icios da superf´ıcie da Terra diminui a` medida que a altitude aumenta, e podemos ter variac¸o˜es pequenas de seu valor com mudanc¸as da latitude tambe´m. Perto da superf´ıcie da Terra seu valor e´ de aproximadamente 9,80 m/s2. Convencionaremos chamar de “para cima” a direc¸a˜o +y e usaremos y como a varia´vel de posic¸a˜o nas equac¸o˜es cinema´ticas. Se desprezarmos as mudanc¸as em altitude e latitude de g perto da superf´ıcie da Terra (ou seja, considerarmos g constante perto da superf´ıcie da Terra), temos que o movimento de um objeto em queda livre e´ equivalente ao movimento de um objeto em uma dimensa˜o com acelerac¸a˜o constante, cujas equac¸o˜es no´s vimos na sec¸a˜o anterior. No entanto, duas modificac¸o˜es nas equac¸o˜es da sec¸a˜o anterior sera˜o necessa´rias: primeiro, trocamos x por y (pois o movimento e´ na vertical); segundo, precisamos lembrar que o valor da acelerac¸a˜o e´ ay = −g = −9, 80 m/s2, pois g esta´ sempre para baixo. Assim, vyf = vyi − gt (2.16) yf − yi = 1 2 (vyi + vyf )t (2.17) yf − yi = vyit− 1 2 gt2 (2.18) v2yf = v 2 yi − 2g(yf − yi) (2.19) 2.6 Exerc´ıcios 1) Encontre o deslocamento, velocidade me´dia e rapidez me´dia do carro da figura 2.1 entre os pontos A e F . 2) Uma part´ıcula se ao longo do eixo x. Sua coordenada x varia com o tempo de acordo com a expressa˜o x = −4t + 2t2, onde x esta´ em metros e t em segundos. O gra´fico da posic¸a˜o × tempo para este movimento encontra-se na figura 2.6. Note que a part´ıcula se move na direc¸a˜o negativa do eixo x para o primeiro segundo do movimento, esta´ em repouso no instante t = 1 s, e se move na direc¸a˜o positiva do eixo x para t > 1 s. a) Determine o deslocamento da part´ıcula nos intervalos de tempo t = 0 a t = 1 s e t = 1 26 2.6. Exerc´Icios 27 s a t = 3 s. b) Calcule a velocidade me´dia durante estes dois intervalos de tempo. c) Encontre a velocidade instantaˆnea da part´ıcula em t = 2, 5 s. Figura 2.6: Gra´fico posic¸a˜o × tempo para uma part´ıcula tendo uma coordenada x que varia no tempo de acordo com a expressa˜o x = −4t+ 2t2 (exerc´ıcio 2). 3) A velocidade de uma part´ıcula se movendo ao longo do eixo x varia no tempo de acordo com a expressa˜o vx = (40− 5t2) m/s, onde t esta´ em segundos. a) Encontre a acelerac¸a˜o me´dia no intervalo de tempo t = 0 a t = 2, 0 s. b) Determine a acelerac¸a˜o em t = 2, 0 s. 4) Considere os seguintes movimentos unidimensionais: a) Uma bola arremessada direta- mente para cima chega ao ponto mais alto e cai novamente para as ma˜os do arremessador. b) Um carro de corrida parte do repouso e acelera a 100 m/s. c) Uma espac¸onave viaja no espac¸o a` velocidade constante. Existem pontos no movimento destes objetos nos quais a velocidade instantaˆnea e´ a mesma que a velocidade me´dia sobre todo o movimento? Se sim, identifique esse(s) ponto(s). 5) Um jato aterrissa num porta-avio˜es a 140 mi/h (≈ 63 m/s). a) Qual sua acelerac¸a˜o se ele para em 2,0 s? b) Qual o deslocamento do avia˜o enquanto ele esta´ parando? 6) Um carro andando a` velocidade constante de 45,0 m/s passa por um policial rodovia´rio escondido atra´s de um letreiro. Um segundo apo´s o carro passar o letreiro, o policial sai 27 28 2.6. Exerc´Icios Figura 2.7: Gra´fico velocidade × tempo para uma part´ıcula se movendo ao longo do eixo x de acordo com a expressa˜o vx = (40 − 5t2) m/s. A acelerac¸a˜o em t = 2, 0s e´ igual a` inclinac¸a˜o da reta tangente azul naquele tempo (exerc´ıcio 3). detra´s do letreiro para alcanca´-lo, acelerando a uma taxa constante de 3,00 m/s2. Quanto tempo ele leva para alcanc¸ar o carro? Figura 2.8: Um carro passa o policial escondido (exerc´ıcio 6). 7) Um paraquedista pula de um helico´ptero suspenso no ar. Alguns segundos depois, outro paraquedista pula, e ambos caem ao longo da mesma linha vertical. Ignore a resisteˆncia 28 2.6. Exerc´Icios 29 do ar, tal que ambos os paraquedistas caem com a mesma acelerac¸a˜o. A diferenc¸a entre suas velocidades permanece a mesma enquanto caem? A distaˆncia entre eles permanece a mesma durante a queda? Se os dois paraquedistas esta˜o conectados por uma corda de bungee jump, a tensa˜o da corda aumentaria, diminuiria ou permaneceria a mesma durante a queda? 8) Uma bola e´ lanc¸ada para cima verticalmente com velocidade de 25 m/s. Estime sua velocidade em intervalos de 1 s. 9) Uma pedra jogada do topo de um edif´ıcio tem velocidade inicial de 20,0 m/s para cima verticalmente. O pre´dio tem 50,0 m de altura, e a pedra passa pela borda do telhado na sua queda para baixo, como na figura 2.9. Usando tA = 0 como o instante de tempo em que a pedra deixa a ma˜o do arremessador na posic¸a˜o A , determine a) o tempo que a pedra leva para atingir a altura ma´xima, b) a altura ma´xima, c) o tempo que a pedra leva para retornar a` altura em que foi lanc¸ada, d) a velocidade da pedra naquele instante e e) a velocidade e posic¸a˜o da pedra em t = 5,00 s. 29 30 2.6. Exerc´Icios Figura 2.9: Posic¸a˜o e velocidade versus tempo para uma pedra em queda livre jogada inicialmente para cima com velocidade vyi = 20, 0 m/s (exerc´ıcio 9). 30 Cap´ıtulo 3 Movimento em duas dimenso˜es Neste cap´ıtulo analisaremos o movimento em duas dimenso˜es, que possibilitara´ a descric¸a˜o de uma se´rie de movimentos, como o de um sate´lite em o´rbita ou de um ele´tron num campo ele´trico uniforme. A generalizac¸a˜o para o movimento em treˆs dimenso˜es segue naturalmente. 3.1 Vetores deslocamento, velocidade e acelerac¸a˜o No cap´ıtulo anterior no´s vimos que o movimento de uma part´ıcula ao longo de uma reta e´ completamente conhecido se sua posic¸a˜o e´ conhecida como uma func¸a˜o do tempo. Agora veremos como estender esta ideia para o plano xy. Vamos comec¸ar descrevendo a posic¸a˜o da part´ıcula por seu vetor posic¸a˜o ~r, trac¸ado desde a origem de algum sistema de coordenadas ate´ a part´ıcula localizada no plano xy, como na figura 3.1. No instante de tempo ti, a part´ıcula esta´ no ponto A , e em algum instante de tempo depois tf , ela esta´ no ponto B . A trajeto´ria de A ate´ B na˜o e´ necessariamente uma linha reta. A` medida que a part´ıcula se move de A atE` B no intervalo de tempo ∆t = tf − ti, seu vetor posic¸a˜o muda de ~ri para ~rf . Como o deslocamento de uma part´ıcula e´ a diferenc¸a entre sua posic¸a˜o final e sua posic¸a˜o inicial, definimos o vetor deslocamento ∆~r para a part´ıcula da figura 3.1 como sendo a diferenc¸a entre os vetores posic¸a˜o final e posic¸a˜o inicial: 31 32 3.1. Vetores deslocamento, velocidade e acelerac¸a˜o Figura 3.1: Uma part´ıcula se movendo no plano xy esta´ localizada pelo vetor posic¸a˜o ~r trac¸ado da origem ate´ a part´ıcula. O deslocamento da part´ıcula a` medida em que se move de A ate´ B no intervalo de tempo ∆t = tf − ti e´ igual ao vetor ∆~r = ~rf − ~ri. ∆~r ≡ ~rf − ~ri (3.1) A direc¸a˜o de ∆~r esta´ indicada na figura 3.1, e podemos ver da mesma figura que a magnitude de ∆~r e´ menor que a distaˆncia percorrida ao longo da trajeto´ria curva seguida pela part´ıcula. Definimos a velocidade me´dia de uma part´ıcula durante o intervalo de tempo ∆t como sendo o deslocamento da part´ıcula dividido pelo intervalo de tempo: ~¯v ≡ ∆~r ∆t (3.2) Note que multiplicar ou dividir uma quantidade vetorial por um escalar so´ muda sua mag- nitude; portanto, a vetor velocidade me´dia esta´ na direc¸a˜o e sentido de ∆~r. Agora, como o movimento e´ em duas dimenso˜es, a direc¸a˜o e sentido da velocidade esta´ decodificado em seu vetor, e na˜o em sinais de mais ou menos, como em uma dimensa˜o. Tambe´m e´ impor- tante observarmos que a velocidade me´dia entre dois pontos e´ independente da trajeto´ria percorrida. Isto porque o deslocamento e´ definido como a diferenc¸a entre a posic¸a˜o final e a inicial, independente da trajeto´ria tomada. Assim, se uma part´ıcula sai de uma posic¸a˜o 32 3.1. Vetores deslocamento, velocidade e acelerac¸a˜o 33 e, depois de um intervalo de tempo, retorna a` mesma posic¸a˜o, sua velocidade me´dia sera´ zero pois seu deslocamento e´ zero. Figura 3.2: A` medida que uma part´ıcula se move entre dois pontos, sua velocidade me´dia esta´ na direc¸a˜o do vetor deslocamento ∆~r. A` medida que a posic¸a˜o final da trajeto´ria se move de B para B’ para B”, os deslocamentos respectivos e intervalos de tempo corres- pondentes se tornam menores e menores. No limite em que a posic¸a˜o final se aproxima de A, ∆t se aproxima de zero, e a direc¸a˜o de ∆~r se aproxima da reta tangente a` curva em A. Por definic¸a˜o, a velocidade instantaˆnea em A esta´ na direc¸a˜o desta reta tangente. Considere novamente o movimento de uma part´ıcula entre dois pontos no plano xy, como mostrado na figura 3.2. A` medida que o intervalo de tempo sob o qual se observa o movimento se torna menor e menor, a direc¸a˜o do deslocamento se aproxima da direc¸a˜o da reta tangente a` trajeto´ria em A . A velocidade instantaˆnea ~v e´ definida como o limite da velocidade me´dia ∆~r/∆t a` medida que ∆t se aproxima de zero: ~v ≡ lim ∆t→0 ∆~r ∆t = d~r dt (3.3) Portanto, a velocidade instantaˆnea e´ igual a` derivada do vetor posic¸a˜o com relac¸a˜o ao 33 34 3.1. Vetores deslocamento, velocidade e acelerac¸a˜o tempo, e sua direc¸a˜o e sentido em qualquer ponto da trajeto´ria de uma part´ıcula e´ ao longo da reta tangente a` trajeto´ria naquele ponto e na direc¸a˜o do movimento. Sua magnitude v = |~v| e´ a rapidez, que e´ uma quantidade escalar. A` medida que a part´ıcula se move de um ponto a outro de alguma trajeto´ria, seu vetor velocidade instantaˆnea muda de ~vi no tempo ti para ~vf no tempo tf . Sabendo a velocidade nestes pontos nos permite determinar a acelerac¸a˜o me´dia da part´ıcula. A acelerac¸a˜o me´dia de uma part´ıcula que se move de uma posic¸a˜o para outra e´ definida como a mudanc¸a no vetor velocidade instantaˆnea ∆~v dividido pelo tempo ∆t durante o qual a mudanc¸a ocorreu: ~¯a = ~vf − ~vi tf − ti = ∆~v ∆t (3.4) Novamente, como e´ a raza˜o entre ∆~v e ∆t, conclu´ımos que a acelerac¸a˜o me´dia e´ uma quantidade vetorial direcionada ao longo de ∆~v. Ja´ a acelerac¸a˜o instantaˆnea ~a e´ definida como sendo o valor limite da raza˜o ∆~v/∆t a` medida que ∆t se aproxima de zero: ~a ≡ lim ∆t→0 ∆~v ∆t = d~v dt (3.5) ou seja, a acelerac¸a˜o instantaˆnea e´ a derivada do vetor velocidade em relac¸a˜o ao tempo. Devemos perceber que va´rias mudanc¸as podem ocorrer quando uma part´ıcula acelera. Primeiro, a magnitude do vetor velocidade pode mudar, sem alterar direc¸a˜o e sentido. Ou a direc¸a˜o e sentido mudam, sem que a magnitude do vetor velocidade mude, como veremos no movimento circular uniforme. E por fim, direc¸a˜o, sentido e magnitude do vetor velocidade podem mudar ao mesmo tempo 34 3.2. Movimento bidimensional com acelerac¸a˜o constante 35 3.2 Movimento bidimensional com acelerac¸a˜o cons- tante Vamos considerar movimento em duas dimenso˜es no qual a acelerac¸a˜o permanece cons- tante, ou seja na˜o muda, tanto em magnitude quanto direc¸a˜o e sentido. O vetor posic¸a˜o para uma part´ıcula no plano xy pode ser escrito como ~r = xıˆ+ yˆ (3.6) onde x, y e ~r mudam com o tempo enquanto a part´ıcula se move, mas ıˆ e ˆ permanecem constantes (sa˜o os vetores unita´rios do nosso sistema de coordenadas!). Sabendo o vetor posic¸a˜o, a velocidade da part´ıcula e´ determinada usando as equac¸o˜es (3.3) e (3.6): ~v = vxıˆ+ vy ˆ (3.7) Como ~a e´ constante, suas componentes ax e ay tambe´m sa˜o constantes, e podemos apli- car as equac¸o˜es da cinema´tica (cap´ıtulo anterior) para as componentes x e y do vetor velocidade: vxf = vxi + axt (3.8) vyf = vyi + ayt (3.9) Substituindo as equac¸o˜es acima em (3.7), temos que a velocidade final pode ser determi- nada em qualquer instante de tempo t: ~vf = (vxi + axt)ˆı+ (vyi + ayt)ˆ = (vxiıˆ+ vyiˆ) + (axıˆ+ ay ˆ)t ~vf = ~vi + ~at (3.10) 35 36 3.2. Movimento bidimensional com acelerac¸a˜o constante O resultado acima diz que a velocidade de uma part´ıcula em qualquer instante t e´ igual a` soma vetorial de sua velocidade inicial e o termo ~at, que e´ a velocidade adicional adquirida no tempo t como resultado da acelerac¸a˜o constante. Similarmente, para as coordenadas x e y teremos xf = xi + vxit+ 1 2 axt 2 (3.11) yf = yi + vyit+ 1 2 ayt 2 (3.12) Substituindo as equac¸o˜es acima em (3.6) para ~rf : ~rf = (xi + vxit+ 1 2 axt 2)ˆı+ (yi + vyit+ 1 2 ayt 2)ˆ = (xiıˆ+ yiˆ) + (vxiıˆ+ vyiˆ) + 1 2 (axıˆ+ ay ˆ)t 2 ~rf = ~ri + ~vit+ 1 2 ~at2 (3.13) Na figura 3.3 temos a representac¸a˜o gra´fica dos vetores ~rf e ~vf . Para simplificar o desenho, colocamos ~ri = ~0, ou seja, em t = ti, a part´ıcula esta´ na origem do sistema de coordenadas. Note que geralmente ~rf na˜o esta´ na direc¸a˜o de ~vi ou ~a, visto que a relac¸a˜o entre essas quantidades e´ vetorial; o mesmo podemos dizer de ~vf em relac¸a˜o a ~vi ou ~a. Tambe´m e´ importante observar que, em geral, ~rf e ~vf na˜o esta˜o na mesma direc¸a˜o. Como (3.13) e (3.10) sa˜o expresso˜es vetoriais, sempre podemos escreveˆ-las na forma de componentes: ~vf = ~vi + ~at vxf = vxi + axtvyf = vyi + ayt (3.14) ~rf = ~ri + ~vit+ 1 2 ~at2 xf = xi + vxit+ 1 2 axt 2 yf = yi + vyit+ 1 2 ayt 2 (3.15) 36 3.3. Movimento de proje´til 37 Figura 3.3: Representac¸o˜es vetoriais e componentes de a) deslocamento e b) velocidade de uma part´ıcula se movendo com uma acelerac¸a˜o uniforme ~a. Para simplificar o desenho, colocamos ~ri = ~0. A forma em componente destas equac¸o˜es nos mostra que em duas dimenso˜es com ace- lerac¸a˜o constante temos dois movimentos independentes - um na direc¸a˜o x e outro na direc¸a˜o y, tendo acelerac¸o˜es constantes ax e ay. 3.3 Movimento de proje´til Se voceˆ ja´ observou o movimento de um objeto lanc¸ado no ar, enta˜o ja´ viu um movimento de proje´til. O objeto se move numa trajeto´ria curva, e seu movimento e´ simples se fizermos duas suposic¸o˜es: 1) a acelerac¸a˜o da gravidade ~g e´ constante sob todo o movimento e e´ direcionada para baixo, e 2) o efeito da resisteˆncia do ar e´ desprez´ıvel. Com estas suposic¸o˜es, encontramos que o movimento de um proje´til (ou sua trajeto´ria) e´ sempre uma para´bola. 37 38 3.3. Movimento de proje´til Figura 3.4: A trajeto´ria parabo´lica de um proje´til que deixa a origem com uma velocidade ~vi. O vetor velocidade ~v muda com o tempo tanto em magnitude quanto em direc¸a˜o e sentido. Esta mudanc¸a e´ o resultado da acelerac¸a˜o na direc¸a˜o negativa de y. A componente x da velocidade permanece constante no tempo pois na˜o ha´ acelerac¸a˜o ao longo da direc¸a˜o horizontal. A componente y da velocidade e´ zero no pico da trajeto´ria. Vamos enta˜o analisar a figura 3.4 para mostrar que a trajeto´ria de um proje´til e´ uma para´bola. Escolhemos o sistema de coordenadas de tal forma que o eixo y esta´ na vertical e a parte positiva e´ para cima. Como a resisteˆncia do ar e´ desprez´ıvel, sabemos que ay = −g, como no movimento de queda livre unidimensional, e ax = 0. Vamos assumir que em t = 0, o proje´til deixa a origem do sistema de coordenadas xi = yi = 0 com velocidade vi, como mostra a figura 3.4. Tambe´m da figura temos que o vetor ~vi faz um aˆngulo θi com a horizontal. Das definic¸o˜es de seno e cosseno, temos 38 3.3. Movimento de proje´til 39 cos θi = vxi vi sen θi = vyi vi (3.16) o que nos fornece as componentes x e y da velocidade inicial: vxi = vi cos θi vyi = visen θi (3.17) Substituindo a componente x na equac¸a˜o (3.15), com xi = 0 e ax = 0, temos xf = vxit = (vi cos θi)t (3.18) Fazendo a mesma coisa para a componente y, com yi = 0 e ay = −g, temos yf = vyit+ 1 2 ayt 2 = (visen θi)t− 1 2 gt2 (3.19) Agora, isolamos t na equac¸a˜o (3.18): t = xf (vi cos θi) (3.20) e substituimos em (3.19): yf = (visen θi) xf (vi cos θi) − 1 2 g ( xf (vi cos θi) )2 yf = (tan θi)xf − ( g 2v2i cos 2 θi ) x2f (3.21) e, de forma geral, y = (tan θi)x− ( g 2v2i cos 2 θi ) x2 (3.22) 39 40 3.3. Movimento de proje´til Esta equac¸a˜o e´ va´lida para aˆngulos de lanc¸amento entre 0 e pi/2 (0 < θi < pi/2; o que acontece quando θi = pi/2?). A equac¸a˜o tem a forma y = ax − bx2, que e´ a equac¸a˜o de uma para´bola que passa pela origem (ou seja, quando x = 0, y = 0). Portanto, mostramos que a trajeto´ria de um proje´til e´ uma para´bola. Note que a trajeto´ria fica completamente determinada se conhecermos a velocidade inicial vi e o aˆngulo de lanc¸amento θi. A expressa˜o vetorial para o vetor posic¸a˜o do proje´til segue de (3.15), com ~ri = 0 e ~a = ~g: ~r = ~vit+ 1 2 ~gt2 (3.23) Figura 3.5: O vetor posic¸a˜o ~r de um proje´til cuja velocidade inicial na origem e´ ~vi. O vetor ~vit seria o deslocamento do proje´til se a gravidade estivesse ausente, e o vetor 1/2~gt 2 e´ seu deslocamento vertical devido a` acelerac¸a˜o gravitacional para baixo. O movimento de um proje´til e´, na verdade, a superposic¸a˜o de dois movimentos: 1) movimento de velocidade constante na direc¸a˜o horizontal e 2) movimento de queda livre na direc¸a˜o vertical. As componentes horizontal e vertical do movimento do proje´til sa˜o completamente independentes uma da outra. 40 3.3. Movimento de proje´til 41 3.3.1 Alcance horizontal e altura ma´xima de um proje´til Figura 3.6: Um proje´til atirado a partir da origem em ti = 0 com uma velocidade inicial ~vi. A altura ma´xima do proje´til e´ h, e o alcance horizontal e´ R. Em A, o pico da trajeto´ria, a part´ıcula tem coordenadas (R/2, h). Vamos analisar o movimento do proje´til da figura 3.6. Ele e´ arremessado a partir da origem em ti = 0 com uma componente positiva vyi. Dois pontos sa˜o de nosso interesse: o ponto de pico A , cujas coordenadas cartesianas sa˜o (R/2, h), e o ponto B , no qual as coordenadas sa˜o (R, 0). A distaˆncia R e´ chamada de alcance horizontal do proje´til e a distaˆncia h e´ chamada de altura ma´xima. Queremos encontrar R e h em termos de vi, θi e g. No pico, vyA = 0, como no movimento de queda livre que vimos no cap´ıtulo anterior. Podemos usar a equac¸a˜o (3.14) para encontrar tA, que e´ o tempo que o proje´til leva para chegar ao pico: vyf = vyi + ayt 0 = visen θi − gtA tA = visen θi g (3.24) Na equac¸a˜o (3.15), parte de y, substituimos t por tA e yf = yA = h: 41 42 3.3. Movimento de proje´til yA = vyitA + 1 2 ayt 2 A h = (visen θi) visen θi g − 1 2 g ( visen θi g )2 h = v2i sen 2 θi 2g (3.25) O alcance R e´ a distaˆncia horizontal que o proje´til percorre em duas vezes o tempo que leva para chegar ao pico, isto e´, num tempo tB = 2tA. Usando a parte de x da equac¸a˜o (3.15), notando que vxi = vxB = vi cos θi e colocando R ≡ xB em t = 2tA, encontramos que R = vxitB = (vi cos θi)2tA = (vi cos θi) 2visen θi g = 2v2i sen θi cos θi g (3.26) Usando a identidade trigonome´trica sen 2θ = 2sen θ cos θ, escrevemos R como R = v2i sen 2θi g (3.27) Temos que ter em mente que as equac¸o˜es (3.25) e (3.27) sa˜o u´teis para calcular a altura ma´xima e o alcance se conhecemos vi e θi, e se o proje´til aterrissa a` mesma altura em que foi lanc¸ado. Olhando para a equac¸a˜o (3.27), vemos que o valor ma´ximo que o alcance pode assumir e´ Rmax = v 2 i /g, que ocorre quando sen 2θi = 1, ou seja, 2θi = 90 0, ou melhor, θi = 45 0. A figura 3.7 mostra um proje´til sendo lanc¸ado em diversos aˆngulos iniciais, o que comprova que o alcance ma´ximo e´ atingido quando θi = 45 0. Dicas de resoluc¸a˜o de problemas de movimento de proje´til Sugerimos que voceˆ use a seguinte estrate´gia quando for resolver problemas de movimento de proje´til: 42 3.4. Movimento Circular Uniforme 43 Figura 3.7: Um proje´til atirado a partir da origem com uma velocidade inicial de 50 m/s em va´rios aˆngulos de projec¸a˜o. Note que os valores complementares de θi resultam no mesmo valor de x (alcance do proje´til). • Selecione um sistema de coordenadas e resolva o vetor velocidade inicial nas com- ponentes x e y. • Siga as te´cnicas para resolver problemas de velocidade constante ao analisar o movi- mento horizontal. Siga as te´cnicas de resoluc¸a˜o de problemas de acelerac¸a˜o constante para analisar o movimento vertical. Os movimentos x e y compartilham o mesmo tempo de voˆo t. 3.4 Movimento Circular Uniforme A figura 3.8 mostra um carro se movendo numa trajeto´ria circular com velocidade linear constante v. Tal movimento e´ chamado de movimento circular uniforme. Como a direc¸a˜o do carro muda, o carro tem acelerac¸a˜o, que e´ a causa da mudanc¸a na direc¸a˜o do vetor velocidade. Para qualquer movimento, o vetor velocidade e´ tangente a` trajeto´ria 43 44 3.4. Movimento Circular Uniforme Figura 3.8: a) Um carro se movendo ao longo de uma trajeto´ria curva com velocidade constante experimenta movimento circular uniforme. b) A` medida que a part´ıcula se move de A para B, seu vetor velocidade muda de ~vi para ~vf . c) A construc¸a˜o para determinar a direc¸a˜o da mudanc¸a na velocidade ∆~v, que esta´ na direc¸a˜o do centro do c´ırculo para ∆~r pequeno. e, consequentemente, quando um objeto se move numa trajeto´ria circular, seu vetor ve- locidade e´ perpendicular ao raio do c´ırculo. Mostraremos que o vetor acelerac¸a˜o num movimento circular uniforme e´ sempre perpendicular a` trajeto´ria e sempre aponta na direc¸a˜o do centro do c´ırculo. Uma acelerac¸a˜o desta natureza e´ chamada centr´ıpeta, e sua magnitude e´ ar = v2 r (3.28) sendo r o raio do c´ırculo e a notac¸a˜o ar indica que a acelerac¸a˜o e´ na direc¸a˜o radial. De forma a derivar a expressa˜o (3.28), vamos olhar para a figura 3.8b, que mostra uma part´ıcula primeiro na posic¸a˜o A e enta˜o no ponto B . A part´ıcula esta´ em A no instante de tempo ti e sua velocidade e´ ~vi. Num instante de tempo posterior tf , a part´ıcula encontra-se em B com velocidade ~vf . Assumindo que ~vi e ~vf diferem apenas na direc¸a˜o, tendo as duas a mesma magnitude (vi = vf = v), vamos calcular a acelerac¸a˜o da part´ıcula, primeiro usando a equac¸a˜o da definic¸a˜o da acelerac¸a˜o me´dia: ~¯a = ~vf − ~vi tf − ti = ∆~v ∆t (3.29) 44 3.5. Acelerac¸a˜o tangencial e radial 45 Vemos que precisamos calcular ~vf − ~vi = ∆~v, o que podemos fazer olhando para a figura 3.8b e 3.8c. Agora considere o triaˆngulo que tem lados ∆r e r na figura 3.8b; ele e´ similar ao triaˆngulo da figura 3.8c, de lados ∆v e v, pois ambos sa˜o iso´sceles (dois lados iguais) e teˆm o aˆngulo ∆θ (a mudanc¸a angular nos vetores posic¸a˜o e velocidade deve ser a mesma, pois eles devem permanecer mutuamente perpendiculares!). Assim, podemos escrever ∆v v = ∆r r (3.30) que e´ uma relac¸a˜o de proporcionalidade entre os dois triaˆngulos. Resolvendo a equac¸a˜o para ∆v, ∆v = v ∆r r (3.31) e substituindo a expressa˜o em a¯ = ∆v/∆t, temos a¯ = v∆r r∆t (3.32) Agora imagine que A e B esta˜o muito pro´ximos. Assim, ∆~v fica direcionada para o centro da trajeto´ria. Ale´m disso, por estarem pro´ximos, ∆t → 0, e assim ∆r/∆t tende ao valor da velocidade instantaˆnea v. Portanto, no limite em que ∆t→ 0, ar = v2 r e a direc¸a˜o da acelerac¸a˜o centr´ıpeta e´ radial. 3.5 Acelerac¸a˜o tangencial e radial Vamos considerar o movimento de uma part´ıcula numa trajeto´ria curva onde a velocidade muda tanto em direc¸a˜o quanto em magnitude, como na figura 3.9. Como sempre, o vetor velocidade e´ tangente a` trajeto´ria, mas agora a direc¸a˜o do vetor acelerac¸a˜o muda ponto 45 46 3.5. Acelerac¸a˜o tangencial e radial Figura 3.9: O movimento de uma part´ıcula ao longo de uma trajeto´ria curva arbitra´ria que se encontra no plano xy. Se o vetor velocidade ~v (sempre tangente a` trajeto´ria) muda em direc¸a˜o e magnitude, as componentes vetoriais da acelerac¸a˜o ~a sa˜o uma componente tangencial at e uma componente radial ar. a ponto. Este vetor pode ser decomposto em duas componentes: uma componente radial ~ar (ou seja, com direc¸a˜o ao longo do raio da curva) e uma componente tangencial ~at (ou seja, com direc¸a˜o tangente a` trajeto´ria). Assim, ~a = ~ar + ~at (3.33) A acelerac¸a˜o tangencial e´ responsa´vel por mudar a magnitude da velocidade da part´ıcula, e e´ paralela a` velocidade instantaˆnea. Sua magnitude e´ at = d|~v| dt (3.34) Ja´ a acelerac¸a˜o radial surge por causa da mudanc¸a de direc¸a˜o do vetor velocidade, como vimos na sec¸a˜o anterior. Sua magnitude e´ dada pela equac¸a˜o (3.28), onde r neste caso e´ o raio de curvatura da trajeto´ria no ponto em questa˜o, e sua direc¸a˜o e´ sempre apontando para o centro da curvatura, como mostra a figura 3.9. Temos que, pelo teorema de Pita´goras (ver 3.9), 46 3.5. Acelerac¸a˜o tangencial e radial 47 |~a|2 = |~ar|2 + |~at|2 → |~a| = √ |~ar|2 + |~at|2 (3.35) Temos que, no movimento circular uniforme visto na sec¸a˜o anterior, v e´ constante e, portanto, at = 0, pois na˜o ha´ mudanc¸a de valor na magnitude da velocidade. Portanto, o movimento circular uniforme e´ um caso especial do movimento ao longo de uma trajeto´ria curva. Ale´m disso, se a direc¸a˜o do vetor velocidade na˜o muda, enta˜o na˜o ha´ acelerac¸a˜o radial (ar = 0) e o movimento e´ unidimensional (at pode na˜o ser zero). Figura 3.10: a) Descric¸o˜es dos vetores unita´rios rˆ e θˆ. b) A acelerac¸a˜o total ~a de uma part´ıcula se movendo ao longo de uma trajeto´ria curva (que, a qualquer instante, e´ parte de um c´ırculo de raio r) e´ a soma das componentes radial e tangencial. A componente radial e´ direcionada para o centro da curvatura. Se a componente tangencial da acelerac¸a˜o se torna zero, a part´ıcula segue movimento circular uniforme. Tambe´m podemos escrever a acelerac¸a˜o do movimento de uma part´ıcula num trajeto´ria curva em termos dos vetores unita´rios rˆ e θˆ, como mostra a figura 3.10. Vemos que rˆ e´ um vetor unita´rio (mo´dulo 1) na direc¸a˜o do vetor radial para fora do c´ırculo e que θˆ e´ um vetor unita´rio tangente ao c´ırculo, na direc¸a˜o em que θ aumenta, sendo que θ e´ 47 48 3.6. Velocidade relativa e acelerac¸a˜o relativa medido no sentido anti-hora´rio a partir da parte positiva do eixo x. Ambos rˆ e θˆ variam no tempo, pois se movem junto com a part´ıcula.
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