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Magistratura e Ministério Público CARREIRAS JURÍDICAS Damásio Educacional MATERIAL DE APOIO Disciplina: Teoria Geral dos Direitos Difusos Professor: Luiz Antônio Aula: 04 | Data: 13/02/2015 ANOTAÇÃO DE AULA SUMÁRIO LEGITIMAÇÃO PASSIVA 1. Denunciação 2. Chamamento ao processo 3. Desconsideração da personalidade jurídica 4. Autoridade pública no polo passivo 5. Legitimado ativo no polo passivo 6. Ação coletiva passiva 7. Migração do polo passivo para o polo ativo CAUSA DE PEDIR E PEDIDO 1. Causa de pedir 2. Pedido 3. Princípio da congruência 4. Pedido de indenização por danos patrimoniais e morais 5. Controle de políticas públicas 1. Denunciação Nos casos de responsabilidade objetiva, não pode o réu denunciar a Lide contra aquele que tem responsabilidade subjetiva. Não se permite a denunciação ou chamamento, mas o Réu (com responsabilidade objetiva) poderá em via regressiva promover demanda contra aquele que tem responsabilidade subjetiva (art. 88, CDC). Art. 88, CDC. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide. O STJ no AgRg no Ag 1.213.458/MG entende que não há possibilidade de denunciação da Lide quando a discussão entre denunciante e denunciado é diferente do objeto do processo. AgRg no Ag 1.213.458/MG EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AGRAVO REGIMENTAL. OFENSA AO ART.535 DO CPC INOCORRÊNCIA. DANO AO MEIO AMBIENTE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DENUNCIAÇAO À LIDE. IMPOSSIBILIDADE. RELAÇAO ENTRE PRETENSOS DENUNCIANTE E DENUNCIADO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. PRINCÍPIOS DA ECONOMIA E CELERIDADE PROCESSUAIS. 1. Em primeiro lugar, não existe a alegada ofensa ao art. 535 do CPC. A contradição que autoriza o manejo dos declaratórios é aquela que ocorre entre a fundamentação e o dispositivo, e não a interna à fundamentação. A obscuridade apontada confunde-se com o inconformismo da parte Página 2 de 10 acerca do julgamento da controvérsia de fundo proferido pelo Tribunal, situação não enquadrada entre os vícios do art. 535 do CPC. 2. Em segundo lugar, pacífico o entendimento desta Corte Superior a respeito da impossibilidade de denunciação à lide quando a relação processual entre o autor e o denunciante é fundada em causa de pedir diversa da relação passível de instauração entre o denunciante e o denunciado, à luz dos princípios da economia e celeridade processuais. Precedentes. 3. Na espécie, a responsabilidade por danos ao meio ambiente é objetiva e a responsabilidade existente entre os pretensos denunciante e denunciado é do tipo subjetiva, razão pela qual inviável a incidência do art. 70, inc. III, do CPC. 4. Agravo regimental não provido. 2. Chamamento ao processo (art. 77) O art. 88 do CDC só veda a denunciação à Lide, mas a doutrina entende que deve ser aplicado também ao chamamento ao processo (AgRg no Resp 1.180.399/SC; TJSP – AI 830.410.5/7-00; TJSP – 2º CRMA AI 0094546- 96.2013.8.26.000000). AgRg no Resp 1.180.399/SC EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. SUSPENSAODO FEITO. NAO CABIMENTO. CHAMAMENTO DA UNIÃO AO PROCESSO.DESNECESSIDADE E INADEQUAÇAO. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMAS QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇAO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A controvérsia objeto do presente recurso não está submetida ao rito dos recursos repetitivos (REsp. 1.144.382/AL), pois o tema ali tratado diz respeito à caracterização ou não da responsabilidade solidária passiva da União, Estados e Municípios para o fornecimento de medicamentos, enquanto que o caso dos autos trata da questão processual relativa à possibilidade de chamamento da União ao processo, nos termos do art. 77, III, do CPC. 2. Ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção firmaram o entendimento de que o chamamento ao processo não é adequado às ações que tratam de fornecimento de medicamentos. 3. Agravo Regimental desprovido. 3. Desconsideração da personalidade jurídica A regra geral está no art. 50, CC. Mas segundo os art. 28, §5º, CDC e art. 4º da Lei 9.605/98, é possível a aplicação da Teoria menor da desconsideração, que é adotado pelo STJ desde 2003 (Resp 279.273/SP). Para a Teoria menor da desconsideração, basta a inadimplência da pessoa jurídica. Resp 279.273/SP EMENTA: Responsabilidade civil e Direito do consumidor. Recurso especial. Shopping Center de Osasco-SP. Explosão. Consumidores. Danos materiais e morais. Ministério Público. Legitimidade ativa. Pessoa jurídica. Desconsideração. Teoria maior e teoria menor. Limite Página 3 de 10 de responsabilização dos sócios. Código de Defesa do Consumidor. Requisitos. Obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Art. 28, 5º. - Considerada a proteção do consumidor um dos pilares da ordem econômica, e incumbindo ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, possui o Órgão Ministerial legitimidade para atuar em defesa de interesses individuais homogêneos de consumidores, decorrentes de origem comum. - A teoria maior da desconsideração, regra geral no sistema jurídico brasileiro, não pode ser aplicada com a mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente para o cumprimento de suas obrigações. Exige-se, aqui, para além da prova de insolvência, ou a demonstração de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração), ou a demonstração de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração). - A teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. - Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa por parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica. - A aplicação da teoria menor da desconsideração às relações de consumo está calcada na exegese autônoma do 5º do art. 28, do CDC, porquanto a incidência desse dispositivo não se subordina à demonstração dos requisitos previstos no caput do artigo indicado, mas apenas à prova de causar, a mera existência da pessoa jurídica, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. - Recursos especiais não conhecidos. 4. Autoridade pública no polo passivo É possível a inclusão de autoridade pública no polo passivo. Em regra quem figura no polo passivo é o ente público (Ex.: Prefeitura que permite loteamento irregular, quem figura no polo passivo é o município), mas se for necessário incluir no polo passivo o agente responsável (Ex.: O prefeito da cidade), deve-se incluir o pedido de improbidade administrativa. Assim a ação terá pedidos em relação ao dano e pedidos em relação à improbidade administrativa. 5. Legitimado ativo no polo passivo É possível a legitimação passiva estar frequentada por um dos legitimados ativos, quando esse legitimado for acusado do dano (Ex.: Município pode ser autor em uma ação civil pública, mas também pode ser réu em outra ação civil pública). Também, é possível que o autor da ação civil pública seja responsabilizado, passando ao polo passivo. Ex.: O réu da ação rescisória oudos embargos pode ser o MP, que foi autor na ação original. Página 4 de 10 6. Ação coletiva passiva Não é possível, não há previsão. Não é possível promover ação civil pública contra qualquer um dos legitimados, na condição de representante da coletividade. Ex.: Não é possível promover ação contra o MP, para que o juiz declare que o autor não tem responsabilidade por eventual dano ambiental. Obs.: Com base no art. 315, paragrafo único do CPC não cabe Reconvenção na ação civil pública (também não há previsão legal na LACP). A legitimidade ativa para propor ação civil pública é restrita, assim não há autorização legal para que o réu vire autor (Ex.: Município promove ação ambiental contra particular causador de dano. Se esse particular oferecer reconvenção, assumirá o polo ativo de ação civil pública – isso é vedado, pois o particular não é um dos legitimados). 7. Migração do polo passivo para o polo ativo A Lei da ação popular (Lei 4.717/65) art. 6º, § 3º, permite que a pessoa jurídica de direito público, que não é ré, mas interessada na ação, possa migrar do polo passivo para o polo ativo, mesmo depois de contestada a ação. A lei de improbidade administrativa (Lei 8.429/92, art. 17) também permite a migração da pessoa jurídica de direito público (AgRg no Resp 1.012.960/PR). Ex.: Município no polo passivo de uma ação de improbidade, pode migrar para o polo ativo. AgRg no Resp 1.012.960/PR RELATÓRIO: O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Trata-se de Agravo Regimental interposto contra decisão (fls. 330-332) que negou seguimento ao Recurso Especial sob o fundamento de que é facultado ao Poder Público ingressar no polo ativo ou passivo da Ação Civil Pública, desde que configurada a utilidade ao interesse público, conforme ocorre no caso concreto. Inconformados, os agravantes sustentam, em síntese: a) omissão em relação à aludida ilegitimidade do Parquet , bem como quanto à ausência de interesse de agir, uma vez que "a posição dos entes políticos em relação aos polos da ação de improbidade é indiferente para o Ministério Público, desde que eles integrem aquela lide" (fl. 359). b) "o entendimento do Tribunal a quo derivou diretamente da avaliação dos fatos levados ao seu conhecimento. Alterá-lo implica considerar o alcance e a interpretação dos fatos alegados, o que é descabido na via do especial" (fl. 360, grifos do original). c) "o precedente tomado por paradigma não se reveste de alcance suficiente para ser tratado como jurisprudência dominante (...). Com o devido acatamento, a matéria não foi suficientemente enfrentada no âmbito dessa Corte (...). Julgá-la singularmente, data venia, é impedir, que essa C. Corte Construa, em conjunto, a jurisprudência que deve orientar toda Judicatura Nacional!" (fl. 362, grifos do original). Pleiteiam a reconsideração do decisum ou a submissão do Recurso à Turma. É o relatório. Página 5 de 10 CAUSA DE PEDIR E PEDIDO 1. Causa de pedir São os fatos e fundamento jurídicos do pedido. 2. Pedidos A regra é que o pedido deve ser certo e determinado (art. 286 do CPC). Pelo novo CPC, art. 320, o pedido deve ser certo e pelo art. 322 do novo o pedido também deve ser determinado. I) Pedido genérico Em regra o pedido individual homogêneo é genérico, tal como no art. 95 do CDC. O inciso II do art. 286 do CPC permite a elaboração de pedido genérico (art. 322 do novo CPC). Ex.: Pedido de reparação de dano ambiental vai depender de perícia, assim não é possível determinar o valor da reparação ou a possibilidade de reparação integral logo no início da demanda. Art. 286, CPC. O pedido deve ser certo ou determinado. É lícito, porém, formular pedido genérico: II. Quando não for possível determinar, de modo definitivo, as consequências do ato ou do fato ilícito; II) Cumulação de pedidos Segundo LACP, art. 3º a ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Hoje o STJ entende que esse “ou” significa “e”, isso com base no CPC e no art. 81 do CDC, pois o sistema passou a ser cumulativo (RESP 605.323/MG). RESP 605.323/MG EMENTA: PROCESSO CIVIL. DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA TUTELA DO MEIO AMBIENTE. OBRIGAÇÕES DE FAZER, DE NÃO FAZER E DE PAGAR QUANTIA. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE PEDIDOS ART. 3º DA LEI 7.347/85. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA. ART. 225, § 3º, DA CF/88, ARTS. 2º E 4º DA LEI 6.938/81, ART. 25, IV, DA LEI 8.625/93 E ART. 83 DO CDC. PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO, DO POLUIDOR-PAGADOR E DA REPARAÇÃO INTEGRAL. 1. O sistema jurídico de proteção ao meio ambiente, disciplinado em normas constitucionais (CF, art. 225, § 3º) e infraconstitucionais (Lei 6.938/81, arts. 2º e 4º), está fundado, entre outros, nos princípios da prevenção, do poluidor-pagador e da reparação integral. Deles decorrem, para os destinatários (Estado e comunidade), deveres e obrigações de variada natureza, comportando prestações pessoais, positivas e negativas (fazer e não fazer), bem como de pagar quantia (indenização dos danos insuscetíveis de recomposição in natura ), prestações essas que não se excluem, mas, pelo contrário, se cumulam, se for o caso. 2. A ação civil pública é o instrumento processual destinado a propiciar a tutela ao meio ambiente (CF, art. 129, III). Como todo instrumento, submete-se ao princípio da adequação, a significar que deve ter aptidão suficiente para Página 6 de 10 operacionalizar, no plano jurisdicional, a devida e integral proteção do direito material. Somente assim será instrumento adequado e útil. 3. É por isso que, na interpretação do art. 3º da Lei 7.347/85 ("A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer "), a conjunção “ou” deve ser considerada com o sentido de adição (permitindo, com a cumulação dos pedidos, a tutela integral do meio ambiente) e não o de alternativa excludente (o que tornaria a ação civil pública instrumento inadequado a seus fins). É conclusão imposta, outrossim, por interpretação sistemática do art. 21 da mesma lei, combinado com o art. 83 do Código de Defesa do Consumidor ("Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela. ") e, ainda, pelo art. 25 da Lei 8.625/1993, segundo o qual incumbe ao Ministério Público “IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei: a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente (...)”. 4. Exigir, para cada espécie de prestação, uma ação civil pública autônoma, além de atentar contra os princípios da instrumentalidade e da economia processual, ensejaria a possibilidade de sentenças contraditórias para demandas semelhantes, entre as mesmas partes, com a mesma causa de pedir e com finalidade comum (medidas de tutela ambiental), cuja única variante seriam os pedidos mediatos, consistentes em prestações de natureza diversa. A proibição de cumular pedidos dessa natureza não existe no procedimento comum, e não teria sentido negar à ação civil pública, criada especialmente como alternativa para melhor viabilizar a tutela dos direitos difusos, o que se permite, pela via ordinária, para a tutela de todo e qualquer outro direito. 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido. 2. Princípio da congruência Tem como objetivo evitar a liberdade do juiz a fim de não ferir o contraditório e a ampla defesa. Os artigos 128 e 460 do CPC (reproduzidos no novo CPC nos art. 141 e 489) visam à segurança jurídica. Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo- lhedefeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte. Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado. Hoje com base na segurança social, esse princípio está mitigado. O juiz deve dar solução a Lide, ainda que diversa da requerida na inicial, mas com resultado equivalente. O juiz tem um amplo espectro para dar efetividade as suas decisões (art. 84, “caput” e § 5º do CDC; art. 461, “caput” e § 5º do CPC (art. 494 do novo CPC)). Página 7 de 10 O CPC, 461 trouxe a mesma ideia que o CDC já havia trazido, dando mais liberdade para o juiz. Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial. RESP 1.107.219/SP – Houve num caso prático a degradação de 680 metros quadrados de uma determinada área, o juiz mandou demolir tudo e recuperar a área, mesmo não estando no pedido. A tutela ambiental é de natureza fungível, a degradação não para e as consequências do dano só aumentam, então agiu certo o juiz. RECURSO ESPECIAL Nº 1.107.219 - SP (2008/0283147-0) EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇAO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. OCUPAÇAO IRREGULAR DE ÁREA DE PRESERVAÇAO PERMANENTE COM DEGRADAÇAO AMBIENTAL. JULGAMENTO EXTRA EULTRA PETITA . INOCORRÊNCIA. 1. A tutela ambiental é de natureza fungível por isso que a área objeto da agressão ao meio ambiente pode ser de extensão maior do que a referida na inicial e, uma vez assim aferida pelo conjunto probatório, não importa em julgamento ultra ou extra petita . 2. A decisão extra petita é aquela inaproveitável por conferir à parte providência diversa da almejada, mercê do deferimento de pedido diverso ou baseado em causa petendi não eleita. Consectariamente, não há decisão extra petita quando o juiz examina o pedido e aplica o direito com fundamentos diversos dos fornecidos na petição inicial ou mesmo na apelação, desde que baseados em fatos ligados ao fato-base . Precedentes do STJ: AgRg no REsp 1164488/DF , SEGUNDA TURMA, DJe 07/06/2010; RMS 26.276/SP , QUINTA TURMA, DJe 19/10/2009; e AgRg no AgRg noREsp 825.954/PR , PRIMEIRA TURMA, DJ de 15/12/2008. 3. Deveras, a análise do pedido dentro dos limites postos pela parte não incide no vício in procedendo do julgamento ultra ou extra petita e, por conseguinte, afasta a suposta ofensa aos arts. 460 e 461, do CPC. 4. Ademais, os pedidos devem ser interpretados, como manifestações de vontade, de forma a tornar o processo efetivo, o acesso à justiça amplo e justa a composição da lide . Precedentes do STJ: AgRg no Ag 1038295/RS , PRIMEIRA TURMA, DJe 03/12/2008; AgRg no Ag 865.880/RJ , PRIMEIRA TURMA, DJ 09/08/2007; AgRg noAg 738.250/GO , QUARTA TURMA, DJ 05/11/2007; e AgRg no Ag 668.909/SP,QUARTA TURMA, DJ 20/11/2006; 5. In casu, o Juízo Página 8 de 10 Singular decidiu a questio iuri s dentro dos limites postos pelas partes, consoante se conclui do excerto do voto condutor do acórdão recorrido, verbis: "(...) A ação diz respeito a ocupação e supressão de vegetação nativa em área de cerca de 180 m2 nos limites do Parque Estadual da Serra do Mar, e a construção de diversas edificações irregulares, que a perícia depois informou ocuparem 650 m2 (fls. 262), sem aprovação dos competentes órgãos do Município e do Estado. Ou seja, o pedido inicial se refere a devastação de área de aproximadamente 180 m2 e também a diversas construções, sem indicação da área que ocupam. Daí o pedido de cessação das agressões com paralisação de desmatamento, de construções e de ocupações, obviamente onde ainda não haviam ocorrido, além do pedido de demolição das edificações e culturas existentes, com restauração da vegetação primitiva, ou indenização. Irrelevante a menção à altitude de 180m, uma vez que os problemas são a situação em área de preservação permanente ou não e a irregularidade da ocupação e das construções, em terreno cuja acentuada declividade e situação de risco podem ser constatadas a olho nu (v. fls. 19, 31, 42, 73 e 131/132). E a perícia deixou clara a localização da área dentro do Parque Estadual com base na Planta Cartográfica Planialtimétrica do Instituto Geográfico e Cartográfico da USP (fls. 211 e 260/261), documento este cuja validade não foi infirmada pelo requerido. Mesmo o levantamento contratado pelo requerido para o PRAD confirmou estar a área construída acima da Cota 100 (v. fls. 288 e 297), porém o perito do Juízo observou que não houve comprovação da altimetria do ponto de referência (fls. 311/312). A contestação mostrou que, além das duas construções apontadas na petição inicial, outras já estavam feitas, com desrespeito aos embargos administrativo e judicial (v. fls. 176/181), não apenas no terreno de 180 m2 de área estimada ocupada por aquelas construções, mas em toda a área de posse do ora apelante, constituída por duas aquisições, uma de 2100 m2 e outra de 6000 m2 aproximadamente (v. fls. 127/132). A alegação de que já havia no local uma construção (fls. 121 e 127) não afasta a responsabilidade do adquirente, que é objetiva e corresponde a obrigação propterrem. A perícia informou ter havido corte do terreno (v. fls. 224 e 232/243), em que nenhuma construção pode haver sem autorização dos órgãos competentes. E a inexistência de curso d"água tampouco pode mudar o desfecho desta ação. Os limites da lide ficaram pois, definidos no pedido inicial e na contestação e não se contém na área de 180 m2 ocupada por duas construções, apenas, mas abrange as outras construções, como já dito. O perito oficial (. fls. 204/243, 259/265 e 310/314) constatou que a ocupação já estava estendida por cerca de 1242 m2 (fls. 211) com duas casas e uma igreja entre as Cotas 110 e 128 metros e verificou a degradação ambiental consumada (v. fls. 213/214 e 218/225) Como se vê, ficou provado que o ora apelante ocupou Página 9 de 10 área de preservação permanente e ali fez várias edificações irregularmente; o fato de já não haver ali vegetação nativa, quando da ocupação, não o libera da responsabilidade objetiva e correspondente a obrigação propter rem de reconstituir essa vegetação. Terceiros eventualmente prejudicados poderão defender seus interesses pelas vias próprias."às fls. 402/404. 6. Recurso Especial desprovido. 4. Pedido de indenização por danos patrimoniais e morais O art. 1º, “caput” da LACP determina que, sem prejuízo da ação popular, é possível ação de responsabilidade por danos morais e patrimoniais (art. 6º, VI, CDC). A lei prevê dano moral difuso. Ex.: Construtora que faz empreendimento numa área contaminada e futuramente aparece o gás metano, sendo necessária a demolição. O dano moral não é somente para quem sente dor, a coletividade também pode sofrer dano moral (RESP 1.269.494/MG; RESP 1.367.923/RJ). RESP 1.269.494/MG EMENTA: AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO PARQUE DO SABIÁ. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC NÃO CONFIGURADA. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÕES DE FAZER COM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. ART. 3º DA LEI7.347⁄1985. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS. CABIMENTO. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535 do CPC, se o Tribunal de origem decide,fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide. 2. Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei7.347⁄1985 permite a cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já consumado. Microssistema de tutela coletiva. 3. O dano ao meio ambiente, por ser bem público, gera repercussão geral, impondo conscientização coletiva à sua reparação, a fim de resguardar o direito das futuras gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. 5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em danos morais coletivos, com a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, no caso, há dano indenizável e fixação do eventual quantum debeatur. Página 10 de 10 5. Controle de políticas públicas Pode haver controle de política pública em ação civil pública (Ex.: Idoso, portadores de deficiência, política pública urbana, habitacional etc) . A atividade é vinculada e o judiciário pode fiscalizar, desde que a política pública esteja em Lei e/ou na CF. Ex.: ECA, artigo 54 diz que: É dever do Estado assegurar à criança e adolescente (é direito), atendimento a creches e escolas para crianças de 0 a 6 anos. Nesse caso, a lei não manda construir creches e escolas (em uma ação civil pública não se deve pedir o que não está em lei) a ação civil pública deve pedir disponibilização de creche e escola, e não construção de creches e escolas, desta forma não haverá invasão de discricionariedade. Reserva do possível Quando se alega reserva do possível se alega escassez de recursos, e quem alega deve provar. Ou seja, o Estado deve demonstrar escassez de recurso, e que os gastos e investimentos em educação com as escolhas estão corretos (RESP 1.185.474/SC). Somente se comprovando a escassez de recursos, e a correta aplicação dos recursos, por prova idônea, pode ser alegada a reserva do possível. Ato de reação impositiva São as situações em que não existem duas possibilidades para administrador. Ex.: Se existe um loteamento irregular a prefeitura tem a obrigação constitucional de impedir esse loteamento. Deve haver intervenção do poder judiciário ainda que envolva politicas públicas. Próxima aula Posso controlar constitucionalidade em ação civil pública?
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