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5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 119 1. Princípios fundamentais da dosagem de um concreto asfáltico A dosagem de um concreto betuminoso destina-se a determinar as proporções de agregado graúdo, agregado fino, filler e betume. O cimento asfáltico e os agregados exercem diferentes funções para suportar as cargas impostas pelo tráfego na superfície do pavimento. A função do agregado é basicamente formar um esqueleto ou arcabouço que resista as cargas por roda, e a função do ligante betuminoso é, preliminarmente, manter as partículas de agregado unidas ou cimentadas, aumentando deste modo a resistencia ao movimento, de modo acentuado. O cimento asfáltico também exerce a função de impermeabilizar a mistura e, deste modo, evitar que a água penetre e vá atingir a base, modificando as condições de equilíbrio umidade densidade desta base. No projeto de um concreto betuminoso, considera-se os seguintes pontos: a) Teor de vazios da mistura compactada Quando se tem uma mistura compactada de agregado, as partículas ficam em contacto umas com as outras e entre elas existem espaços vazios, chamados de “teor de vazios do agregado mineral”, figura 1. Quando se junta o betume, para manter unidas as partículas do agregado na estrutura formada, aquele não só envolve as partículas, formando uma espécie de película fina, como também enche parcialmente os espaços vazios entre as partículas, deixando vazios cheios com ar, que são os “vazios da mistura”, ver Figura 2. É de grande importância o teor de vazios da mistura, que é usualmente expresso em porcentagem do volume total da mistura compactada. Quando existe excesso de asfalto em tal volume que as partículas individuais do agregado percam contato entre si, elas passam a “flutuar” no asfalto, e o arcabouço formado pelo agregado é destruído, deste modo o revestimento de concreto asfáltico não irá suportar bem as cargas impostas pelo tráfego. Pode parecer que o ideal fosse que o asfalto enchesse totalmente os vazios do agregado mineral, para que tivesse melhor resultado. Considerando, no entanto, que o asfalto tende a expandir-se com o aumento da temperatura, qualquer aumento de temperatura iria provocar, nesse caso, afluência de asfalto à superfície, ou seja, haveria exsudação prejudicial, com conseqüente redução da resistencia. Desta maneira, é necessário deixar-se na mistura um “teor de vazios”, que varia de 3 a 5% para as camadas de desgaste (revestimento) e 3 a 8% para as camadas de ligação (binder), após compactação. O valor mínimo assegura a condição de não haver a afluência do betume devido a expansão resultante do aumento de temperatura. Por outro lado, a necessidade de fixar o valor máximo resulta do fato de que um valor grande de teor de vazios da Figura 1 Vazios da mistura Figura 2 Vazios do agregado mineral 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 120 mistura compactada pode resultar num rápido endurecimento e oxidação do asfalto, e conseqüente deterioração, quando a mistura estiver exposta às condições ambientes de tempo e uso. Isto trará como conseqüência, uma desintegração do asfalto, permitindo absorção da água que irá paulatinamente destruir a mistura, principalmente em lugares sujeitos a invernos rigorosos. b) Grau de compactação As misturas de concreto asfáltico, para terem boa resistencia, devem ser compactadas convenientemente. O aumento da energia de compactação de uma mistura asfaltica traz como conseqüência a aproximação das partículas, reduzindo deste modo o volume de vazios de ar, e um aumento do peso específico, resultante da diminuição de volume da mistura. Uma compactação leve faz com que a mistura fique com um teor elevado de vazios de ar e pequeno peso específico, refletindo-se na durabilidade e estabilidade da mistura que, deste modo, serão baixas. Vê-se, portanto, que a resistencia de um concreto asfáltico fica ligada diretamente ao grau de compactação que se obtenha. Para que um revestimento de concreto asfáltico seja estável, é necessário que seja bem compactado. No campo, a compactação é obtida por meio de equipamento próprio, como rolos lisos e rolos pneumáticos, até que se atinja o grau de compactação exigida pelas especificações. 2. Grandezas que intervem na caracterização e dosagem da mistura 2.1 - Agregados A) Densidade real dos grãos (D): É a relação entre a massa ao ar de um dado volume de material, a uma dada temperatura, e a massa ao ar de igual volume de água à mesma temperatura. Pode ser determinada pelo processo do Picnômetro e, no caso de agregados, corresponde à densidade dos grãos, sem vazios, não se levando em conta os vazios intersticiais. Na figura abaixo temos: (a) m1 = massa do picnômetro vazio (tara) (b) m2 = massa do picnômetro cheio com água até o menisco (c) m3 = massa do picnômetro contendo a amostra (d) m4 = massa do picnômetro contendo a amostra e cheio de água até o menisco m = massa da amostra = m3 – m1 m2 – m1 = massa de água que preenche o picnômetro, cujo valor equivale ao volume de água ( w = 1,0) m4 – m3 = massa de água (igual volume) não deslocada pela própria amostra; (m2 – m1) – (m4 – m3) = volume da água deslocada pela amostra = volume da amostra. D = densidade real do material D = 3412 13 mmmm mm Figura 3 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 121 B) Massa específica aparente (d) das frações de agregado: É a relação entre a massa de determinada porção de agregado e o volume ocupado pelo mesmo, nas condições de compactação e adensamento em que se encontram. d = V mS mS = massa de sólidos da amostra compactada V = Volume total (medido após compactação do c.pc.) Determinação do volume, V: - Por medida direta com Paquímetro (Vol. Geométrico): V = h 4 2 - Por imersão na água (balança hidrostática): d = d a V m d = ia a mm m Vd = ma – mi = volume de água deslocada ma – massa do agregado ao ar mi – massa do agregado imerso C) Percentagem de vazios dos agregados (porosidade) (%)V = T v V V Vv – Volume de vazios VT – Volume total da porção de agregados (%)V = 100 D dD D – Densidade real dos grãos d – massa especifica aparente Princípio de Arquimedes: Todo corpo imerso em um fluido sofre um empuxo, de baixo para cima, igual ao peso da água deslocada. Figura 4 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 122 2.2 – Misturas compactadas Um corpo de prova compactado contendo agregados, betume e ar apresenta- se separadamente em fases distintas (figura 5). Figura 5 – Fases de uma mistura betuminosa Nomenclatura: mb – massa de betume mf – massa de filler magf – massa de agregado fino magg – massa de agregado grosso mT – massa total da mistura Vv – volume de vazios da mistura VB – volume de betume Vf – volume de filler Vagf – volume de agregado fino Vagg – volume de agregado grosso Vc – volume de cheios VT – volume total da mistura 2.2.1 – Densidade máxima teórica da mistura D = agfaggFB D Agf D Agg D F D B %%%% 100 2.2.2 – Massa específica aparente da mistura d = T T V m d = ia a mm m 2.2.3 – Percentagem de vazios da mistura compactada (vazios não preenchidos) Vv = T V V V .100 ou (%)V = D dD .100 %B – teor de betume %F – percentagem de filler %Agg – percentagem de agregado grosso %Agf – percentagem de agregado fino DB – densidade do betume DF – densidade dofiller Dagg – densidade do agregado grosso Dagf – densidade do agregado fino ma – massa do c.p. da mistura compactada mi – massa do c.p. após imersão ma – mi = volume deslocado (empuxo hidrostático) 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 123 2.2.4 – Percentagem de vazios cheios de betume (VCB) VCB = T b V V . 100 ou (%)VCB = BD Bd % 2.2.5 – Vazios do agregado mineral (%)VAM = (%)V + (%)VCB 2.2.6 - Relação betume x vazios (RBV) (%) RBV = 100 (%) (%) VAM VCB 3. Fluência ou deformação plástica É a deformação que o corpo de prova sofre antes da ruptura. A análise do comportamento da mistura compactada com teores de betume diferentes, mantendo-se a energia de compactação, durante a aplicação da carga pode ser feita através da relação betume x VAM A curva mostra que variando-se o teor de betume é possível avaliar as variações que ocorrem nos vazios do agregado mineral. Assim, podemos destacar três situações ou zonas: ZONA A: Para as primeiras misturas com baixos teores de betume, os vazios do agregado mineral aumentam, porque o betume em pequenas porções não tem condição de “molhar” completamente os grãos, razão porque durante a compressão eles não encontram facilidade para se entrosarem ocupando os vazios existentes. Nesta fase, as partículas se separam e o VAM aumenta até um máximo. ZONA B: Aumentando-se o teor de betume e mantendo-se a energia de compactação, verifica-se que os vazios do agregado mineral diminuem. É que se atingiu os teores de betume que permitem o envolvimento completo dos grãos de agregado facilitando, Valor inicial de vazios Figura 6 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 124 com a compressão, o acomodamento das partículas que vão se entrosando e reduzindo os vazios ocupados pelo ar. Assim, o VAM passa a cair, porque a espessura das películas é tal que passa a servir como lubrificante. O aumento do betume provoca a diminuição do VAM até um mínimo. ZONA C: Continuando a aumentar o teor de betume, mantendo-se a energia de compactação, verifica-se que os vazios do agregado mineral voltam a aumentar. É que já tendo sido empregado betume suficiente para “molhar” todos os agregados, o aumento do teor contribui apenas para aumentar a espessura do filme de ligante entre os grãos, e os separa mais ainda, sem melhorar as condições de entrosamento. Conclusão a) As misturas correspondentes a 1a fase (Zona A) possuem ligantes insuficientes e são consideradas misturas pobres. O revestimento tem pouca durabilidade, é permeável, sujeito a fissuração e sem resistência ao desgaste superficial. A passagem do tráfego deve provocar a desagregação da mistura e a degeneração do pavimento em pouco tempo. b) As misturas correspondentes a 3a fase (Zona C) possuem excesso de ligantes e são consideradas misturas ricas. Devem provocar deformações no revestimento, ocorrendo a exsudação do betume com a passagem do tráfego e, também, pela sua expansão devido o aumento da temperatura ambiente, tornando a superfície de rolamento escorregadia, principalmente nos dias de chuva. Vários aditivos tem sido usados para reduzir este inconveniente, mas os resultados não foram animadores. c) As misturas correspondentes à 2a fase (Zona B) devem satisfazer às especificações e dar à mistura condições de estabilidade e resistência e ainda deixar uma pequena percentagem de vazios, para evitar a exsudação com a passagem do tráfego. Os vazios do agregado mineral atingem, nessa zona B, um valor mínimo, ao redor do qual deverá estar o teor ótimo de betume. 4. MÉTODOS DE ENSAIOS DE MISTURAS BETUMINOSAS Os principais métodos utilizados para a obtenção do teor ótimo de betume, para uma determinada mistura de agregados, são : Marshall Triaxial Smith Compressão Simples (LCPC) Compressão Diametral (DNER) Hveen Hubbard – Field 4.1 – Método de Estabilidade Marshall ou do U.S.Corps of Engineers O U.S. Corps of Engineers adotou o equipamento e o método de projeto de misturas betuminosas concebido por Bruce Marshall, do Mississipi State Highway Departament, para solucionar um importante problema do projeto e construção de aeroportos militares durante a 2a Guerra Mundial. A utilização do método se limita a misturas betuminosas a quente, utilizado cimentos asfálticos de petróleo de penetração compatíveis com as condições ambientais. O agregado utilizado deve ter diâmetro efetivo de pelo menos 1 polegada (25,4 mm). Assim, a não ser que outras condições prevaleçam, os ensaios devem ficar limitados às condições estabelecidas para os produtos resultantes do método desenvolvido pelo U.S. Corps. 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 125 Por exemplo, para haver equilíbrio entre estabilidade e durabilidade foi fixado que os vazios correspondentes ao ar (vazios não preenchidos) na mistura total seriam limitados entre 3% e 5%, em peso. Para os vazios preenchidos de betume, foram fixados os limites entre 75% e 85% dos vazios do agregado mineral. 4.1.1 - Equipamentos a) Aparelho Marshall: máquina para aplicação de carga vertical, cuja capacidade seja de 2.720 kgf (6.000 lb), possui dispositivo (extensômetro) para medir a carga. b) Molde: constituído de duas seções de mesmo diâmetro interno 4” (10,16 cm) e respectiva base; altura 2 ½” (6,35 cm) c) Soquete: Peso igual a 10 lb (4,54 kg); altura de queda 18 pol. (45,72 cm) d) Medidor de fluência: mede as deformações do c.p. cuja escala é dividida em 0,01” (0,254 mm) 4.1.2 - Preparação do corpo de prova Agregados e betume aquecidos na temperatura especificada e misturados em moinho próprio. Mistura colocada no molde aquecido e compactada: - 35 a 50 golpes em cada face: condições normais (tráfego leve) - 50 a 75 golpes em cada face: Tráfego médio - 75 a 100 golpes em cada face: Tráfego pesado e muito pesado Moldam-se 2 c.p. para cada teor de betume Após moldagem, pesa-se e determina-se o volume do c.p. (por medida direta e/ou por imersão) para determinação da massa específica aparente da mistura. Colocam-se os c.p. em banho Maria a 60oC (140oF), por 20 minutos a 1 hora. 4.1.3 – Execução do ensaio À temperatura de 60oC, os c.p. são submetidos a compressão diametral na prensa do Aparelho Marshall. A carga é aplicada com velocidade de 2” (50,8 mm/min) até a ruptura da amostra. A carga máxima que leva a ruptura é chamada de Valor de Estabilidade Marshall. A deformação sofrida pelo c.p. durante a aplicação da carga é medida pelo medidor de fluência Figura 7 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 126 4.1.4 – Resultados Registra-se na ficha de ensaio os valores da carga máxima e fluência, na ruptura do c.p. (Quadro 1) Traçam-se os gráficos das variações das grandezas, em função das variações dos teores de betume : - Estabilidade Marshall P (kgf) - Vazios não preenchidos (%V) - Relação betume x vazios (%RBV) - Densidades máximas teóricas (D) - Fluência (f) Determinação do teor ótimo de Betume. a) Teor para máxima densidade teórica: B1 b) Teor para máxima estabilidade Marshall: B2 c) Teor para a média do intervalo especificado para os vazios não preenchidos: B3 d) Teor para a média do intervalo especificado para os vazios preenchidos: B4 e) Média dos valores: (%) B = 4 4321 BBBB f) Verificar se o valor de (%) B satisfaz as duas condições abaixo: Estabilidade Marshall acima do mínimo especificado Fluência abaixo do máximo especificado h) Satisfeita as duas condiçõesacima, o teor de betume (%) B , em peso, deverá ser comunicado à usina para a respectiva calibração da bomba de betume. Figura 8 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 127 Traço da mistura: Betume + Agregados = 100% Por exemplo: Agregados (54% Pedregulho+ 38%Areia + 8% filler) e Betume = 6% O traço da mistura na Usina, em peso, será: Agregados: 100 – 6 = 94% TRAÇO Pedregulho : 0,94x 54 50,76 % Areia : 0,94 x 38 35,72 % Filler : 0,94 x 8 7,52 % Betume: 6,0 % Total 100,0 % 4.1.6 – Especificações (DNER) Características recomendadas para Estradas e Aeroportos. Determinações Critério - Pressão dos pneus 7 kgf/cm 2 14 kgf/cm 2 Estabilidade Marshall (kgf) 225 450 Deformação plástica (0,01 pol) 20 16 Porcentagem de vazios não preenchidos (%V) a) Concreto asfáltico 3 – 5 3 – 5 b) Areia-asfalto 5 – 7 6 – 8 c) Binder 4 – 6 5 – 7 Percentagem de vazios preenchidos em materiais betuminosos (%RBV) a) Concreto asfáltico 75 - 85 75 –82 b) Areia-asfalto 65 – 75 65 –72 c) Binder 65 - 75 65 - 72 Resultados de ensaios: limites sugeridos para misturas betuminosas Ensaio Marshall Tráfego Pesado e muito pesado Médio Leve Mínimo Máximo Mínimo Máximo Mínimo Máximo N o de golpes em cada face do c.p. 75 50 35 Estabilidade (lb) 750 500 500 Fluência (0,01”) 8 16 8 10 8 20 Vazios (%) 3 5 3 5 3 5 RBV (%) 75 82 75 85 75 85 5 – MATERIAIS BETUMINOSOS 128 Exercício de aplicação : Um c.p. de mistura betuminosa foi submetido ao ensaio de estabilidade Marshall, onde são conhecidos os seguintes dados: Teor de betume = 5% ; densidade do betume = 1,0 Massa específica aparente da mistura = 2,23 g/cm3 Agregado A: 38% ; densidade = 2,66 g/cm3 Agregado B: 62% ; densidade = 2,68 g/cm3 Estabilidade do c.p. = 440 kgf Fluência do c.p. = 8,3 mm Determinar: a) qual o traço da mistura; b) a densidade máxima teórica da mistura; c) o volume de vazios; d) o volume cheio com betume; e) os vazios do agregado mineral; f) a relação betume vazios g) verificar se a mistura atende a especificação; RESOLUÇÃO: - Traço da mistura Mistura betuminosa Agregados + betume = 100% %A + %B + 5% = 100% %A = 0,95 x 38 = 36,1% %B = 0,95 x 62 = 58,9% Traço: Agregado A = 36,1% ; Agregado B = 58,9% ; Teor de betume = 5% - Densidade máxima teórica: D = BAB D BAg D AAg d B .%.%% 100 D = 68,2 9,58 66,2 1,36 0,1 5 100 D = 2,43 g/cm3 - Vol. de vazios da mistura: %VV = 100 D dD = 100 43,2 23,243,2 %VV = 8,2% - Vol. cheio com betume: %VCB = B o o d d B = 0,1 523,2 %VCB = 11,15% - Vazios do agregado mineral: %VAM = %VV + %VCB %VAM = 19,35% - Relação betume vazios: %RBV = 100 % % VAM VCB = 100 35,19 15,11 %RBV = 57,6% - O c.p. não atende a especificação no que se refere a %VV e %RBV. A mistura apresenta muitos vazios e pouco betume. Especificação para a mistura: Estabilidade mínima: 350 kgf Fluência: 6 – 14 mm %Vv = 3 a 6 % %RBV = 75 a 85%
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